A crítica da sociedade à discriminação racial no Brasil
1. Atividade1 inicial de Filosofia 2014 – Escola Estadual Cidade de Hiroshima
Texto I - Retrato falado do Brasil
Sérgio Abranches
Comecei a aula com uma pergunta: "O que diferencia a questão social no
Brasil e nos EUA?". Silêncio geral. Imaginei que os alunos não tivessem lido o
capítulo. Afirmaram que sim. Foi só então que eu, imaturo, sem o olhar treinado
para capturar atitudes e comportamentos em pequenos gestos, percebi o
constrangimento da turma. O sinal, característico, que retive como lição das
formas sutis do preconceito era o olhar coletivo de soslaio para o único negro
na sala. Dirigi-me a ele e denunciei: "Seus colegas estão constrangidos em
falar de racismo na sua frente".
Esta cena se repete toda vez que falo em público sobre a desigualdade
racial no Brasil e há aquela pessoa negra, solitária, na platéia. Recentemente,
numa palestra para gerentes de um banco, havia uma jovem gerente negra.
Uma das raras mulheres e a única pessoa negra. Enfrentou duas correntes
discriminatórias para estar ali: ser negra e ser mulher. Os colegas se sentiam
desconfortáveis porque eu falava do "problema dela".
"Ela" não tinha problema, claro. Era uma pessoa natural, do gênero
feminino e negra. Nascemos assim. O problema é os outros não quererem ver
a discriminação. Essa inversão típica é que caracteriza a questão racial no
Brasil. É como se os negros tivessem um problema de cor, e não a sociedade o
problema do preconceito.
(ABRANCHES, Sérgio. Retrato falado do Brasil. Veja, São Paulo, ano 36, n. 46,
p. 27, nov. 2003.Adaptação.). Fonte: SARESP/2004.
1) A sociedade não quer enxergar a discriminação racial por achar que:
A) esse problema pertence ao negro.
B) essa questão é idêntica nos EUA e no Brasil.
C) muitos gerentes de banco são homens negros.
D) a mulher negra tem oportunidades na carreira.
2) Em “Ela não tinha problema, claro". o termo destacado foi empregado
para demonstrar o preconceito:
A) do autor do texto.
B) dos colegas da negra.
C) da gerente negra.
D) dos colegas negros.
03) Observe a citação retirada do texto acima: “O problema é os outros não
quererem ver a discriminação. Essa inversão típica é que caracteriza a questão
racial no Brasil. É como se os negros tivessem um problema de cor, e não a
sociedade o problema do preconceito”. Agora responda:
Qual a crítica apresentada pelo autor?
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A atividade abaixo pode ser dirigida à todas as séries de Filosofia do ensino médio. Professora Cida.
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Texto II - A linguagem politicamente correta
A expressão “politicamente correto” (ou incorreto) aplica-se não apenas à
linguagem, embora esta seja a candidata mais constante àquela qualificação,
mas a variados campos. Por exemplo, num recente dia dos namorados, um
jornal afirma que “casais entram na era do politicamente correto, são fiéis,
trocam anéis e fazem sexo responsável”. Uma revista de variedades informou
há pouco tempo, que as redes inglesas de TV BBC e Channel 4 tiraram do ar
algumas mímicas (p. ex. o dedo em forma de gancho para significar “judeu”,
puxar os cantos dos olhos para representar um chinês), que eram utilizadas em
programas para surdos-mudos, por julgá-las politicamente incorretas.
O movimento em defesa de um comportamento, inclusive lingüístico, que
seja politicamente correto inclui em especial o combate ao racismo e ao
machismo, à pretensa superioridade do homem branco ocidental e a sua
cultura pretensamente racional. Estas são, digamos, as grandes questões. Mas
o movimento vai além, tentando tornar não marcado o vocabulário (e o
comportamento) relativo a qualquer grupo discriminado, dos velhos aos
canhotos, dos carecas aos baixinhos, dos fanhos aos gagos, passando por
diversos tipos de “doenças” (lepra, Aids etc.). As formas lingüísticas estão entre
os elementos de combate que mais se destacam, na medida que o movimento
acredita (com muita justiça, em princípio) que reproduzem uma ideologia que
segrega em termos de classe, sexo, raça e outras características físicas e
sociais que são objeto de discriminação, o que equivale a afirmar que há
formas lingüísticas que veiculam sentidos que evidentemente discriminam
(preto, gata, bicha), ao lado de outros que talvez discriminem, mas menos
claramente (mulato, denegrir, judiar etc.).
Para alguns, este movimento é basicamente um efeito do relativismo e da
crise da racionalidade, em especial quando ele ataca valores ligados à cultura
clássica. Para outros, é um dos resultados da organização das minorias. É um
movimento confuso, com altos e baixos, e comporta algumas teses relevantes,
outras extremamente discutíveis e outras francamente risíveis.
O exemplo seguinte é interessante para discutir os limites do movimento.
Veja-se a carta abaixo, publicada na revista ISTOÉ 1208, de 25.11.92, e a
resposta da revista:
Sr. Diretor,
Sou assíduo leitor desta revista, sempre a tive como grande veículo de
comunicação sério e de grande responsabilidade. Porém, na edição 1206,
assunto religião, onde vocês comentam a grande importância de Galileu Galilei
na história, há um trecho onde lê-se “um dos períodos mais negro (sic) da
história”. Devido a essa frase, venho expor meu repúdio e questionamento. No
momento em que isso é referido, não há afirmação de que negro é sinônimo de
desgraça histórica? (Robson Carlos Almeida, Salvador-BA)
ISTOÉ explica: No sentido em que a palavra negro foi usada, ela é tão ofensiva
quanto dizer que houve um golpe branco em um determinado país, por
exemplo.
3. (Adaptado de POSSENTI, Sírio. Os limites do discurso. Curitiba: Criar, 2002, p.
37-48.). Fonte: Processo seletivo da UFPR/02/07/2006.
04) Qual a ideia principal do texto acima ?
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05) Para Sírio Possenti (o autor), o movimento em defesa de um
comportamento, inclusive lingüístico, que seja politicamente correto é:
A) basicamente um efeito do relativismo.
B) controverso.
C) extremamente discutível.
D) resultado da organização das minorias.
06) Em outra passagem do mesmo texto, Sírio Possenti reproduz alguns
comentários veiculados na imprensa em 1994, a propósito de uma
afirmação do então candidato à presidência da República Fernando
Henrique Cardoso, que se declarou “mulato”:
“Só se ele é filho de mula. Mulatinho é cruzamento com mula, não com negro.”
(militante negro)
“... atribuir a todo uso da palavra ‘mulato’ um sentido ofensivo ou
discriminatório, como tantos estão fazendo, é negar a natureza dinâmica da
linguagem, com sua permanente modificação de formas e sentidos. Mesmo
que a procedência etimológica de ‘mulato’ tenha a incomprovada relação com
‘mula’, seu sentido não guarda sequer vestígio desta suposta origem”. (Jânio
de Freitas)
Com base nas citações acima, faça um comentário crítico relacionando tanto a
citação do militante negro e do Jânio de Freitas.
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Texto III – A sociedade vista do abismo
Uma indicação de consciência estamental (…) está nos crimes de
adolescentes. (…) A gangue de adolescentes que numa madrugada de abril de
1997 queimou vivo o índio pataxó Hã-hã-hãe que dormia num banco de um
ponto de ônibus, em Brasília, agiu orientado por motivações estamentais. Isso
ficou claro quando alegaram ter cometido o crime (bestial, aliás) porque
4. pensaram que se tratava de um mendigo. Isto é, para eles há duas
humanidades qualitativamente distintas, uma mais humana (a deles) e outra
menos humana (a do mendigo).
Eles invocam, portanto, distinções baseadas na ideia de que as diferenças
sociais não são apenas diferenças de riqueza, mas diferenças de qualidade
social das pessoas, como é próprio de uma sociedade “estratificada”.
MARTINS, José de Souza. A sociedade vista do abismo: novos estudos sobre
exclusão, pobreza e classes sociais. Petrópolis: Vozes, 2002. P. 132
(adaptado)
07) a) Que tipo de reflexão (Filosófica) o texto acima nos proporciona?
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b) No texto III, porque o autor relaciona a questão da violência (dos
adolescentes) com a questão social? Explique:
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