1. TEMPO DE PROCESSAMENTO DAS ANÁFORAS NOMINAIS EM
PORTUGUÊS BRASILEIRO: EXPERIMENTO 1
Luciano Alves Lima – IC
Maria Luiza Cunha Lima - Orientadora
1. Introdução: 4. Discussão
Apesar dos resultados do experimento piloto terem mostrado que a anáfora
Neste trabalho, investigamos processos de referenciação do ponto de vista associativa é o tipo com o processamento mais rápido, sendo
cognitivo, particularmente as ocorrências de expressões anafóricas nominais. significativamente diferente dos outros dois tipos, o mesmo não ocorreu no
Para isso realizamos um experimento de leitura (em duas etapas) que experimento 1, de escala maior, onde não se pode observar diferenças
permite o registro do tempo de leitura transcorrido a cada palavra lida numa significativas entre os elementos testados, conforme as tabelas abaixo:
determinada oração.O conhecimento dos tempos médios de processamento
de anáforas em português brasileiro são atualmente muito deficientes, o
Tipo; LS Means
preenchimento dessa lacuna cumpre a função de servir como referencial Current effect: F(2, 348)=.99163, p=.37202
básico para outros experimentos em psicolingüística, especialmente, Effective hypothesis decomposition
Vertical bars denote 0.95 confidence intervals
processamento de orações. Até hoje, utiliza-se no Brasil referenciais de 0.75
língua inglesa (Gernsbacher, 1994; Mitchell, 1994; Haberlandt, 1994), que
0.70
não são aplicáveis a uma descrição do português por duas razões principais:
1) O inglês é predominantemente monossilábico, e portanto, os tempos de 0.65
leitura tendem a ser menores e 2) O sistema de determinação do inglês
0.60
difere bastante do português, sobretudo na morfologia.
Z-score
0.55
Para comparar o tempo de leitura entre tipos de elementos anafóricos
0.50
escolhidos montamos um conjunto de 12 trios de orações. Cada trio era
composto de uma oração com uma anáfora nominal em relação de 0.45
sinonímia, uma oração com uma anáfora associativa em relação meronímica 0.40
e uma oração com a introdução de um elemento novo como elemento novo asso anom
controle para o experimento, conforme o exemplo abaixo: Tipo
Dados normalizados utilizando-se o z-score e submetidos a análise de variância
O táxi chegou rápido. O carro era muito pequeno, no entanto. (ANOVA).
Descriptive Statistics (Scripts.Finais.resultados)
O táxi chegou rápido. A placa era de outra cidade. Level of N Z-score Z-score Z-score Z-score Z-score
Effect Factor Mean Std.Dev. Std.Err -95.00% +95.00%
Total 351 0.583745 0.489759 0.026141 0.532331 0.635159
O táxi chegou rápido. A chuva já estava para cair. Tipo novo 115 0.601127 0.517631 0.048269 0.505506 0.696748
Tipo asso 115 0.618757 0.477667 0.044543 0.530518 0.706995
Tipo anom 121 0.533950 0.473643 0.043058 0.448697 0.619203
Pretendíamos com esse conjunto, além de medir o tempo de processamento,
responder as seguintes questões: • Todos os itens experimentais apresentaram tanto antecedente quanto termo
anafórico em posição de sujeito. Haveria, assim, uma contaminação
• Há diferença de tempo de reação para tipos de anáforas? (cruzamento) do tempo de processamento desta posição (que é apontado maior
• Qual o tipo de anáfora, nominal ou associativa, apresenta maior custo de na literatura, Bath tube effect) que está mascarando os efeitos das diferenças?
processamento cognitivo?
• Existem relações diferentes, lexicais, que foram comparadas no experimento e
que precisam ser refinadas (separadas) para que se tenha uma visão mais
2. Metodologia: detalhada.
Para fazermos esse levantamento, montamos ambos os experimentos, piloto 5. Investigações Futuras:
e experimento 1, através do software DMDX1, com o modelo de leitura auto-
cadenciada (self-paced reading) que consiste na apresentação de orações Como o tempo de processamento dos itens testados não apresentou diferenças
na tela de um computador, palavra por palavra. Para ler a palavra seguinte o significativas abre-se caminho à algumas propostas, entre elas:
sujeito pressiona um botão em um joystick e assim o faz até o término de
cada oração, conforme o exemplo abaixo: • Realizar testes com posições alternativas (posição de sujeito e/ou acrescentar
material lingüístico)
Lara ------- -- -----. - ----- --- ------ -- ---. • Variar a função sintática de algum dos termos testados e verificar se o
---- comprou -- -----. - ----- --- ------ -- ---. comportamento observado se manteria?
---- ------- um -----. - ----- --- ------ -- ---.
• Realizar um teste de livre associação entre os termos utilizados, para garantir
---- ------- -- carro. - ----- --- ------ -- ---. uma uniformização das associações.
---- ------- -- -----. A ----- --- ------ -- ---. • Pretendemos ainda, futuramente, realizar variações experimentais que
---- ------- -- -----. - moça --- ------ -- ---. estabeleçam comparações entre as anáforas nominais estudadas neste
experimento e anáforas pronominais.
6. NOTAS:
O tempo que os sujeitos levam para ler cada palavra e requisitar a seguinte é
medido em milésimos de segundo, gravado e posteriormente analisado 1
DMDX 1.00 (display system) www.u.arizona.edu/~kforster/dmdx/dmdx.htm
estatisticamente utilizando-se para isso o software Statistica2. Foram testados
6 trios de orações no experimento piloto e acrescentados mais 6 trios no 2
StatSoft, Inc. (2001). STATISTICA (data analysis software system), v.6.
experimento 1. Na primeira oração de cada trio, há a introdução de um www.statsoft.com.
referente que pode vir a ser retomado anaforicamente na oração seguinte.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Ambas as ocorrências (antecedente e anafórico) aparecem na posição de
sujeito. Além desse controle sintático, controlamos a distância entre o
GERNSBACHER, M. A. (Org.). Handbook of Psycholinguistics. San Diego: Academic
antecedente e o anafórico em número de sílabas, e o tamanho das
Press, 1994.
expressões nominais (sempre dissílabas). Além dos itens experimentais,
foram apresentados elementos distratores para que os sujeitos não HABERLANDT, K. 1994. Methods in Reading Research. In GERNSBACHER, M. A.
conseguissem determinar qual é a tarefa de interesse para o experimento. (Org.). Handbook of Psycholinguistics. San Diego: Academic Press, 1994. p. 1-31.
Ressaltamos ainda que os elementos antecedentes nos 6 primeiros trios
(Piloto) foram sempre nomes próprios enquanto nos 6 trios adicionais foram MITCHELL, D. C. Sentence parsing. In GERNSBACHER, M. A. (Org.) 1994, Handbook
nomes comuns. Todos os sujeitos voluntários eram estudantes de of psycholinguistics. San Diego: Academic Press, 1994. p. 375–409.
graduação, falantes nativos de português brasileiro e ingênuos à respeito do
experimento. AGRADECIMENTOS:
Aos sujeitos que participaram voluntariamente do experimento e a Pablo Arantes por seu
auxílio com o tratamento estatístico