SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 2
Baixar para ler offline
“Dor no parto? Dor não, parto.”1 – Ignacio Spina 

   Só na sala de espera do ginecologista é que eu resolveria ler uma matéria tão absurda e de 
tão pouco valor. Sabe aqueles artefatos antigos para guardar revistas que jamais faltam na sala 
de qualquer médico? Bom, foi de lá que eu tirei a revistinha em questão... 

  É engraçado como esse tipo de revistas só se encontra em salas de espera. Essas revistas de 
mulheres são antes revistas de consultórios e de salão de beleza. Não só não conheço ninguém 
que  compre,  como  também  não  saberia  onde  conseguir  se  eu  resolvesse  um  dia  dar  uma 
oportunidade àquele tipo de jornalismo tão comercial. 

   O fato é que o título da matéria era algo como “Como controlar a dor no parto”. É verdade 
que  as  dicas  –  que  recomendavam  métodos  de  relaxamento  impossíveis  de  lembrar  em 
momentos  desses  ou  até  a  anestesia  peridural,  que  bem  sabemos  nem  todo  o  mundo  pode 
usar – eram absurdas, mas o que mais me chamou a atenção era o nome do autor: Wagner 
Araújo. Wagner? Em toda a minha vida tenho conhecido milhares de pessoas e poderia jurar – 
se necessário assinando um papel em troca da minha alma – que Wagner é nome de homem. 

    O problema não é apenas o conteúdo, mas quem pode falar do assunto. Teve uma vez que 
ouvi, num documentário, um treinador de elefantes de um circo dizer que o animal não sofria 
por ter de fazer as provas do show. O rapaz que perguntava chamou poderosamente a minha 
atenção.  Dava  para  perceber  que  ele  não  concordava  com  o  sacana,  pois  era  impossível  ele 
fazer tal afirmação. O jornalista tentou não demonstrar que discordava, mas eu percebi bem 
rápido. Se a ironia tivesse existência física, seria a cara daquele sujeito ao escutar isso. Sim... 
É... Claro... falava para o entrevistado enquanto seus olhos delatavam o “Não concordo, esse 
cara  está  mentindo”.  Para  o  moço  era  obvio  que  o  outro  mentia.  Olhava  para  ele  e  ficava 
pensando  como  podia  fazer  aquela  afirmação.  Ele  teria  sido  elefante  em  outras  vidas?  Com 
certeza não. E foi assim que troquei de canal. 

   A leitura dessa matéria me fez lembrar aquela anedota que eu considerava esquecida faz 
tempo.  Pois  é,  Wagner,  você  acha  que  sabe  mesmo  o  quanto  dói?  Não,  você  não  sabe,  pois 
somente nós sabemos.  

    Vou te explicar: na verdade o substantivo “dor” não é realmente muito exato para definir o 
que a gente sente nesse momento. “Dor” não é suficiente. Dor é o que você sente quando a 
faca  bate  por  engano  em  alguma  parte  do  seu  corpo.  Ai!  (seguido,  na  maioria  dos  casos,  de 
palavras  que  na  TV  costumam  ser  proibidas  até  as  dez  da  noite).  Dor  é  o  que  você  sente 
quando apanha uma porrada de outrem (e aí a palavra chula não precisa de “ai” nenhum para 
sair livremente). Dor é o que aparece na barriga ao você beber do leite uma semana depois da 
data  que  diz  na  garrafa.  Dor  é  o  que  você  tem  na  cabeça  quando  alguém  não  pára  de  fazer 
alguma coisa que te atrapalha. Mas o parto não é isso não. É, de fato, tudo isso e mais. 

   Se  pudesse  ter  uma  foto  que  demonstrasse  a  frialdade  da  sala,  qualquer  um  acharia 
impossível  o  quanto  a  gente  se  cobre  de  suor  naquele  momento.  É,  porém,  apenas  uma 
aparência estética, pois todo o mundo sabe que não há lugar mais caloroso do que uma sala 
                                                            
1
  SPINA, Ignacio. "Dor no parto? Dor não, parto." em Encontro Literário Cronicando II. Instituto Camões. Centro de 
Línuga Portuguesa, Buenos Aires, 7 de Junho de 2012. 
de partos. Se a gente tivesse um espelho nesse momento, seria ainda pior poder perceber a 
situação  com  três  ou  quatro  pessoas  olhando  as  nossas  misérias  enquanto  nos  exibimos  ao 
mundo da maneira mais desarrumada possível.  Mas se fosse realmente dor, como você acha, 
nada teria a ver o clima ou com a nossa aparência física. 

    Primeiro é dor, sim. Ela desce lentamente dos pulmões à base da barriga como se fosse um 
litro de bromo tentando percorrer um  canudinho apenas inclinado. E assim, o que antes  era 
uma  opressão  interna,  acrescenta  um  profundo  sentimento  de  ardor  até  virar,  finalmente, 
uma  queimação  insuportável.  Só  depois  de  perceber  que  será  impossível  fazer  mais  força  é 
que você ativa os ouvidos para escutar os sons que provêm do exterior. Alguém impossível de 
identificar pretende interagir: 

– Força! 

   É lá que a gente não se furta da irritação. Força? Tô fazendo o quê? A expulsão de palavras 
chulas não se faz esperar.  

– Força! 

        E continua do mesmo jeito, mas agora sentindo aquela queimação um pouquinho mais 
abaixo. Pois é, no lugar que você está imaginando.  

– Força, mais uma vez! 

   Mais uma vez? Caramba! Se, nesse momento, alguém me informasse que eu morreria nos 
próximos cinco minutos, com certeza eu choraria só por ter que esperar todo aquele tempão. 

 – Força, meu bem, força! Já tá saindo, já! 

        Mas  a  situação,  mesmo  acabando,  só  acrescenta  o  pranto  –  tranqüilizador  por 
natureza  –  de  um  bebê.  Pranto  que  a  gente  ouve  com  muito  amor  e  gostaria  de  ouvir  pelo 
resto da vida. Só dura, porém, uns cinco minutos, quando os médicos resolvem levar a criança 
para continuar com a rotina.  

         Tá  vendo,  Wagner?  Não  é  dor.  É  parto...  parto  é  a  palavra.  E  para  provar  que  dor  é 
apenas  uma  mínima  parte  do  que  a  gente  sente,  basta  entender  o  pranto  da  recém‐mamãe 
nesse  preciso  momento:  de  dor,  pela  opressão  que  se  transformou  em  queimação;  de 
emoção,  por  ter  conhecido  aquele  anjinho  com  quem  conversou  durante  nove  meses;  e  de 
tristeza, por ter que esperar até os médicos terminarem de prepará‐lo para poder ficar em paz 
com o bebezinho. 

        E aí, Wagner, tá com vontade de escrever mais uma matéria de partos? Com certeza 
deve ter um monte de revistas ansiosas de publicá‐la. Quando estiver pronta, me avise para eu 
marcar hora no médico para poder ler. 

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados (14)

A mente humana
A mente humanaA mente humana
A mente humana
 
A mente humana
A mente humanaA mente humana
A mente humana
 
A mente humana
A mente humanaA mente humana
A mente humana
 
66171 a-mente-humana
66171 a-mente-humana66171 a-mente-humana
66171 a-mente-humana
 
A Mente Humana
A Mente Humana   A Mente Humana
A Mente Humana
 
A mente-humana-8639
A mente-humana-8639A mente-humana-8639
A mente-humana-8639
 
A mente humana
A mente humanaA mente humana
A mente humana
 
a mente humana
a mente humanaa mente humana
a mente humana
 
A mente humana
A mente humanaA mente humana
A mente humana
 
Amentehumana
AmentehumanaAmentehumana
Amentehumana
 
Amentehumana
AmentehumanaAmentehumana
Amentehumana
 
A mente humana
A mente humanaA mente humana
A mente humana
 
A mente humana
A mente humanaA mente humana
A mente humana
 
O poder da mente humana
O poder da mente humanaO poder da mente humana
O poder da mente humana
 

Destaque

Linhas chilenas mais perigosas que cerol - pág. 2
Linhas chilenas mais perigosas que cerol - pág. 2Linhas chilenas mais perigosas que cerol - pág. 2
Linhas chilenas mais perigosas que cerol - pág. 2CleideeAndrey Pais Do Eros
 
Hemiplejía en el adulto mayor
Hemiplejía en el adulto mayorHemiplejía en el adulto mayor
Hemiplejía en el adulto mayorJuanita Garrey
 
Mujer emprendedora1
Mujer emprendedora1Mujer emprendedora1
Mujer emprendedora1fundemas
 
Num de tareas 2 e
Num de tareas  2 eNum de tareas  2 e
Num de tareas 2 eSEP
 
Break carta Agosto 2015
Break carta Agosto 2015Break carta Agosto 2015
Break carta Agosto 2015grupooig
 
Sedf1 questionário soc. egípcia 1ºs anos 2015
Sedf1 questionário soc. egípcia 1ºs anos 2015Sedf1 questionário soc. egípcia 1ºs anos 2015
Sedf1 questionário soc. egípcia 1ºs anos 2015Rosimeiry da Silva
 
Casa no campo arcadismo alunos
Casa no campo arcadismo alunosCasa no campo arcadismo alunos
Casa no campo arcadismo alunosprofessoranadia
 
4 cartaz caça ao tesouro da diferença 2.º e 3.º ciclos
4 cartaz caça ao tesouro da diferença 2.º e 3.º ciclos4 cartaz caça ao tesouro da diferença 2.º e 3.º ciclos
4 cartaz caça ao tesouro da diferença 2.º e 3.º ciclosCarina Araújo
 
Diplomacia & protocolo
Diplomacia & protocoloDiplomacia & protocolo
Diplomacia & protocoloMarcos Limoli
 
Proinf2015 orcamento veiculos
Proinf2015 orcamento veiculosProinf2015 orcamento veiculos
Proinf2015 orcamento veiculosJosete Sampaio
 

Destaque (20)

g15veprof
g15veprofg15veprof
g15veprof
 
União artistica vilarealense. convívio santo antónio 12 junho 2012
União artistica vilarealense. convívio santo antónio 12 junho 2012União artistica vilarealense. convívio santo antónio 12 junho 2012
União artistica vilarealense. convívio santo antónio 12 junho 2012
 
virus y vacunas informaticas
virus y vacunas informaticasvirus y vacunas informaticas
virus y vacunas informaticas
 
Linhas chilenas mais perigosas que cerol - pág. 2
Linhas chilenas mais perigosas que cerol - pág. 2Linhas chilenas mais perigosas que cerol - pág. 2
Linhas chilenas mais perigosas que cerol - pág. 2
 
Resultados da ativ lab densidade_q3
Resultados da ativ lab densidade_q3Resultados da ativ lab densidade_q3
Resultados da ativ lab densidade_q3
 
Universia Brasil - Prêmio Empreendedorismo
Universia Brasil - Prêmio EmpreendedorismoUniversia Brasil - Prêmio Empreendedorismo
Universia Brasil - Prêmio Empreendedorismo
 
Hemiplejía en el adulto mayor
Hemiplejía en el adulto mayorHemiplejía en el adulto mayor
Hemiplejía en el adulto mayor
 
Shailja Prakash Profile
Shailja Prakash ProfileShailja Prakash Profile
Shailja Prakash Profile
 
Mujer emprendedora1
Mujer emprendedora1Mujer emprendedora1
Mujer emprendedora1
 
Num de tareas 2 e
Num de tareas  2 eNum de tareas  2 e
Num de tareas 2 e
 
Projeto Escola Alimenta
Projeto Escola AlimentaProjeto Escola Alimenta
Projeto Escola Alimenta
 
Break carta Agosto 2015
Break carta Agosto 2015Break carta Agosto 2015
Break carta Agosto 2015
 
Sedf1 questionário soc. egípcia 1ºs anos 2015
Sedf1 questionário soc. egípcia 1ºs anos 2015Sedf1 questionário soc. egípcia 1ºs anos 2015
Sedf1 questionário soc. egípcia 1ºs anos 2015
 
01
0101
01
 
Casa no campo arcadismo alunos
Casa no campo arcadismo alunosCasa no campo arcadismo alunos
Casa no campo arcadismo alunos
 
Ano 2300 x atual
Ano 2300 x atualAno 2300 x atual
Ano 2300 x atual
 
relatorio_niveis_disciplina6d
relatorio_niveis_disciplina6drelatorio_niveis_disciplina6d
relatorio_niveis_disciplina6d
 
4 cartaz caça ao tesouro da diferença 2.º e 3.º ciclos
4 cartaz caça ao tesouro da diferença 2.º e 3.º ciclos4 cartaz caça ao tesouro da diferença 2.º e 3.º ciclos
4 cartaz caça ao tesouro da diferença 2.º e 3.º ciclos
 
Diplomacia & protocolo
Diplomacia & protocoloDiplomacia & protocolo
Diplomacia & protocolo
 
Proinf2015 orcamento veiculos
Proinf2015 orcamento veiculosProinf2015 orcamento veiculos
Proinf2015 orcamento veiculos
 

Semelhante a O parto não é dor

49428423 a-auto-sugestao-e-um-poderoso-metodo-de-mudancas
49428423 a-auto-sugestao-e-um-poderoso-metodo-de-mudancas49428423 a-auto-sugestao-e-um-poderoso-metodo-de-mudancas
49428423 a-auto-sugestao-e-um-poderoso-metodo-de-mudancasValentina Silva
 
Pariremos com prazer_EBOOK.pdf
Pariremos com prazer_EBOOK.pdfPariremos com prazer_EBOOK.pdf
Pariremos com prazer_EBOOK.pdfssuserad1d5f
 
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NO BRASIL - A tortura obstétrica em mulheres mães brasi...
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NO BRASIL - A tortura obstétrica  em mulheres mães brasi...VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NO BRASIL - A tortura obstétrica  em mulheres mães brasi...
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NO BRASIL - A tortura obstétrica em mulheres mães brasi...mallkuchanez
 
A Morte É Um Dia que Vale a Pena Viver - Ana Claudia.pdf
A Morte É Um Dia que Vale a Pena Viver - Ana Claudia.pdfA Morte É Um Dia que Vale a Pena Viver - Ana Claudia.pdf
A Morte É Um Dia que Vale a Pena Viver - Ana Claudia.pdfPauloCesarSilva45
 
Apresentação Mulheres (e Homens) Contam o Parto
Apresentação Mulheres (e Homens) Contam o PartoApresentação Mulheres (e Homens) Contam o Parto
Apresentação Mulheres (e Homens) Contam o PartoAdriana Tanese Nogueira
 
Shantala uma arte tradicional
Shantala   uma arte tradicionalShantala   uma arte tradicional
Shantala uma arte tradicionalprojetacursosba
 
Boletim informativo nov2014
Boletim informativo nov2014Boletim informativo nov2014
Boletim informativo nov2014fespiritacrista
 
A força das ideias richard simonetti
A força das ideias   richard simonettiA força das ideias   richard simonetti
A força das ideias richard simonettiHelio Cruz
 
Aborto: INRI CRISTO responde
Aborto: INRI CRISTO respondeAborto: INRI CRISTO responde
Aborto: INRI CRISTO respondeAssinoê Oliveira
 
Apresentação A Alma do Parto. Um novo paradigma para a humanização do parto
Apresentação A Alma do Parto. Um novo paradigma para a humanização do partoApresentação A Alma do Parto. Um novo paradigma para a humanização do parto
Apresentação A Alma do Parto. Um novo paradigma para a humanização do partoAdriana Tanese Nogueira
 
Heimlich: Manobra que salva vidas
Heimlich: Manobra que salva vidasHeimlich: Manobra que salva vidas
Heimlich: Manobra que salva vidasNuno Cunha da Silva
 
APO - Educação das Emoções
APO - Educação das EmoçõesAPO - Educação das Emoções
APO - Educação das EmoçõesIuri Guedes
 
Sono haruki murakami
Sono   haruki murakamiSono   haruki murakami
Sono haruki murakamiAna Claudia
 

Semelhante a O parto não é dor (20)

49428423 a-auto-sugestao-e-um-poderoso-metodo-de-mudancas
49428423 a-auto-sugestao-e-um-poderoso-metodo-de-mudancas49428423 a-auto-sugestao-e-um-poderoso-metodo-de-mudancas
49428423 a-auto-sugestao-e-um-poderoso-metodo-de-mudancas
 
Pariremos com prazer_EBOOK.pdf
Pariremos com prazer_EBOOK.pdfPariremos com prazer_EBOOK.pdf
Pariremos com prazer_EBOOK.pdf
 
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NO BRASIL - A tortura obstétrica em mulheres mães brasi...
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NO BRASIL - A tortura obstétrica  em mulheres mães brasi...VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NO BRASIL - A tortura obstétrica  em mulheres mães brasi...
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA NO BRASIL - A tortura obstétrica em mulheres mães brasi...
 
Menopausa
MenopausaMenopausa
Menopausa
 
A Morte É Um Dia que Vale a Pena Viver - Ana Claudia.pdf
A Morte É Um Dia que Vale a Pena Viver - Ana Claudia.pdfA Morte É Um Dia que Vale a Pena Viver - Ana Claudia.pdf
A Morte É Um Dia que Vale a Pena Viver - Ana Claudia.pdf
 
Menopausa
MenopausaMenopausa
Menopausa
 
Apresentação Mulheres (e Homens) Contam o Parto
Apresentação Mulheres (e Homens) Contam o PartoApresentação Mulheres (e Homens) Contam o Parto
Apresentação Mulheres (e Homens) Contam o Parto
 
UMA DEFESA DO ABORTO
UMA DEFESA DO ABORTOUMA DEFESA DO ABORTO
UMA DEFESA DO ABORTO
 
Shantala uma arte tradicional massagens para bebês
Shantala   uma arte tradicional massagens para bebêsShantala   uma arte tradicional massagens para bebês
Shantala uma arte tradicional massagens para bebês
 
Shantala uma arte tradicional
Shantala   uma arte tradicionalShantala   uma arte tradicional
Shantala uma arte tradicional
 
Boletim informativo nov2014
Boletim informativo nov2014Boletim informativo nov2014
Boletim informativo nov2014
 
Aborto
AbortoAborto
Aborto
 
A força das ideias richard simonetti
A força das ideias   richard simonettiA força das ideias   richard simonetti
A força das ideias richard simonetti
 
Aborto: INRI CRISTO responde
Aborto: INRI CRISTO respondeAborto: INRI CRISTO responde
Aborto: INRI CRISTO responde
 
Rubem alves
Rubem alvesRubem alves
Rubem alves
 
Apresentação A Alma do Parto. Um novo paradigma para a humanização do parto
Apresentação A Alma do Parto. Um novo paradigma para a humanização do partoApresentação A Alma do Parto. Um novo paradigma para a humanização do parto
Apresentação A Alma do Parto. Um novo paradigma para a humanização do parto
 
# Carlos roberto - por que dizer não ao aborto - [ espiritismo]
#   Carlos roberto - por que dizer não ao aborto - [ espiritismo]#   Carlos roberto - por que dizer não ao aborto - [ espiritismo]
# Carlos roberto - por que dizer não ao aborto - [ espiritismo]
 
Heimlich: Manobra que salva vidas
Heimlich: Manobra que salva vidasHeimlich: Manobra que salva vidas
Heimlich: Manobra que salva vidas
 
APO - Educação das Emoções
APO - Educação das EmoçõesAPO - Educação das Emoções
APO - Educação das Emoções
 
Sono haruki murakami
Sono   haruki murakamiSono   haruki murakami
Sono haruki murakami
 

Mais de Ignacio Spina

Textos digitais no ensino de PLE: dos vícios às oportunidades didáticas
Textos digitais no ensino de PLE: dos vícios às oportunidades didáticasTextos digitais no ensino de PLE: dos vícios às oportunidades didáticas
Textos digitais no ensino de PLE: dos vícios às oportunidades didáticasIgnacio Spina
 
Leyenda del Oso Hormiguero
Leyenda del Oso HormigueroLeyenda del Oso Hormiguero
Leyenda del Oso HormigueroIgnacio Spina
 
Leyenda de la yerba mate
Leyenda de la yerba mateLeyenda de la yerba mate
Leyenda de la yerba mateIgnacio Spina
 
Leyenda de la vicuña
Leyenda de la vicuñaLeyenda de la vicuña
Leyenda de la vicuñaIgnacio Spina
 
Reunion inicial 2016
Reunion inicial 2016Reunion inicial 2016
Reunion inicial 2016Ignacio Spina
 
Sala de aula invertida no ensino de PLE: Considerações, experiências e recurs...
Sala de aula invertida no ensino de PLE: Considerações, experiências e recurs...Sala de aula invertida no ensino de PLE: Considerações, experiências e recurs...
Sala de aula invertida no ensino de PLE: Considerações, experiências e recurs...Ignacio Spina
 
Reunion de inicio - NIVEL PRIMARIO 2015
Reunion de inicio - NIVEL PRIMARIO 2015 Reunion de inicio - NIVEL PRIMARIO 2015
Reunion de inicio - NIVEL PRIMARIO 2015 Ignacio Spina
 
MALENA, MICAELA, MATIAS, AXEL
MALENA, MICAELA, MATIAS, AXELMALENA, MICAELA, MATIAS, AXEL
MALENA, MICAELA, MATIAS, AXELIgnacio Spina
 
Sofía, Catalina, Maite, Silli
Sofía, Catalina, Maite, SilliSofía, Catalina, Maite, Silli
Sofía, Catalina, Maite, SilliIgnacio Spina
 
Angelina, Sofía, Lola, Bianca, Delfina
Angelina, Sofía, Lola, Bianca, DelfinaAngelina, Sofía, Lola, Bianca, Delfina
Angelina, Sofía, Lola, Bianca, DelfinaIgnacio Spina
 
Guillermo, Franco, Lola and Priscila
Guillermo, Franco, Lola and PriscilaGuillermo, Franco, Lola and Priscila
Guillermo, Franco, Lola and PriscilaIgnacio Spina
 
Delfi, Valen, Nacho, Mati and Nicolás
Delfi, Valen, Nacho, Mati and NicolásDelfi, Valen, Nacho, Mati and Nicolás
Delfi, Valen, Nacho, Mati and NicolásIgnacio Spina
 
Isabella, Ivan, Felipe and Yamila
Isabella, Ivan, Felipe and YamilaIsabella, Ivan, Felipe and Yamila
Isabella, Ivan, Felipe and YamilaIgnacio Spina
 
Jazmín, Abril, Valentín and Gonzalo
Jazmín, Abril, Valentín and GonzaloJazmín, Abril, Valentín and Gonzalo
Jazmín, Abril, Valentín and GonzaloIgnacio Spina
 
Giuli, Valentino, Elias and Franco
Giuli, Valentino, Elias and FrancoGiuli, Valentino, Elias and Franco
Giuli, Valentino, Elias and FrancoIgnacio Spina
 
Emi, Adri, Juana and Rena
Emi, Adri, Juana and RenaEmi, Adri, Juana and Rena
Emi, Adri, Juana and RenaIgnacio Spina
 

Mais de Ignacio Spina (20)

Textos digitais no ensino de PLE: dos vícios às oportunidades didáticas
Textos digitais no ensino de PLE: dos vícios às oportunidades didáticasTextos digitais no ensino de PLE: dos vícios às oportunidades didáticas
Textos digitais no ensino de PLE: dos vícios às oportunidades didáticas
 
Leyenda del Oso Hormiguero
Leyenda del Oso HormigueroLeyenda del Oso Hormiguero
Leyenda del Oso Hormiguero
 
Leyenda del Ceibo
Leyenda del CeiboLeyenda del Ceibo
Leyenda del Ceibo
 
Leyenda de Coquena
Leyenda de CoquenaLeyenda de Coquena
Leyenda de Coquena
 
Leyenda del hornero
Leyenda del horneroLeyenda del hornero
Leyenda del hornero
 
Leyenda de la yerba mate
Leyenda de la yerba mateLeyenda de la yerba mate
Leyenda de la yerba mate
 
Leyenda de la vicuña
Leyenda de la vicuñaLeyenda de la vicuña
Leyenda de la vicuña
 
Reunion inicial 2016
Reunion inicial 2016Reunion inicial 2016
Reunion inicial 2016
 
Sala de aula invertida no ensino de PLE: Considerações, experiências e recurs...
Sala de aula invertida no ensino de PLE: Considerações, experiências e recurs...Sala de aula invertida no ensino de PLE: Considerações, experiências e recurs...
Sala de aula invertida no ensino de PLE: Considerações, experiências e recurs...
 
Reunion de inicio - NIVEL PRIMARIO 2015
Reunion de inicio - NIVEL PRIMARIO 2015 Reunion de inicio - NIVEL PRIMARIO 2015
Reunion de inicio - NIVEL PRIMARIO 2015
 
MALENA, MICAELA, MATIAS, AXEL
MALENA, MICAELA, MATIAS, AXELMALENA, MICAELA, MATIAS, AXEL
MALENA, MICAELA, MATIAS, AXEL
 
Sofía, Catalina, Maite, Silli
Sofía, Catalina, Maite, SilliSofía, Catalina, Maite, Silli
Sofía, Catalina, Maite, Silli
 
Angelina, Sofía, Lola, Bianca, Delfina
Angelina, Sofía, Lola, Bianca, DelfinaAngelina, Sofía, Lola, Bianca, Delfina
Angelina, Sofía, Lola, Bianca, Delfina
 
Guillermo, Franco, Lola and Priscila
Guillermo, Franco, Lola and PriscilaGuillermo, Franco, Lola and Priscila
Guillermo, Franco, Lola and Priscila
 
Delfi, Valen, Nacho, Mati and Nicolás
Delfi, Valen, Nacho, Mati and NicolásDelfi, Valen, Nacho, Mati and Nicolás
Delfi, Valen, Nacho, Mati and Nicolás
 
Isabella, Ivan, Felipe and Yamila
Isabella, Ivan, Felipe and YamilaIsabella, Ivan, Felipe and Yamila
Isabella, Ivan, Felipe and Yamila
 
Jazmín, Abril, Valentín and Gonzalo
Jazmín, Abril, Valentín and GonzaloJazmín, Abril, Valentín and Gonzalo
Jazmín, Abril, Valentín and Gonzalo
 
Giuli, Valentino, Elias and Franco
Giuli, Valentino, Elias and FrancoGiuli, Valentino, Elias and Franco
Giuli, Valentino, Elias and Franco
 
Ary, Agus and Anto
Ary, Agus and AntoAry, Agus and Anto
Ary, Agus and Anto
 
Emi, Adri, Juana and Rena
Emi, Adri, Juana and RenaEmi, Adri, Juana and Rena
Emi, Adri, Juana and Rena
 

O parto não é dor

  • 1. “Dor no parto? Dor não, parto.”1 – Ignacio Spina  Só na sala de espera do ginecologista é que eu resolveria ler uma matéria tão absurda e de  tão pouco valor. Sabe aqueles artefatos antigos para guardar revistas que jamais faltam na sala  de qualquer médico? Bom, foi de lá que eu tirei a revistinha em questão...  É engraçado como esse tipo de revistas só se encontra em salas de espera. Essas revistas de  mulheres são antes revistas de consultórios e de salão de beleza. Não só não conheço ninguém  que  compre,  como  também  não  saberia  onde  conseguir  se  eu  resolvesse  um  dia  dar  uma  oportunidade àquele tipo de jornalismo tão comercial.  O fato é que o título da matéria era algo como “Como controlar a dor no parto”. É verdade  que  as  dicas  –  que  recomendavam  métodos  de  relaxamento  impossíveis  de  lembrar  em  momentos  desses  ou  até  a  anestesia  peridural,  que  bem  sabemos  nem  todo  o  mundo  pode  usar – eram absurdas, mas o que mais me chamou a atenção era o nome do autor: Wagner  Araújo. Wagner? Em toda a minha vida tenho conhecido milhares de pessoas e poderia jurar –  se necessário assinando um papel em troca da minha alma – que Wagner é nome de homem.  O problema não é apenas o conteúdo, mas quem pode falar do assunto. Teve uma vez que  ouvi, num documentário, um treinador de elefantes de um circo dizer que o animal não sofria  por ter de fazer as provas do show. O rapaz que perguntava chamou poderosamente a minha  atenção.  Dava  para  perceber  que  ele  não  concordava  com  o  sacana,  pois  era  impossível  ele  fazer tal afirmação. O jornalista tentou não demonstrar que discordava, mas eu percebi bem  rápido. Se a ironia tivesse existência física, seria a cara daquele sujeito ao escutar isso. Sim...  É... Claro... falava para o entrevistado enquanto seus olhos delatavam o “Não concordo, esse  cara  está  mentindo”.  Para  o  moço  era  obvio  que  o  outro  mentia.  Olhava  para  ele  e  ficava  pensando  como  podia  fazer  aquela  afirmação.  Ele  teria  sido  elefante  em  outras  vidas?  Com  certeza não. E foi assim que troquei de canal.  A leitura dessa matéria me fez lembrar aquela anedota que eu considerava esquecida faz  tempo.  Pois  é,  Wagner,  você  acha  que  sabe  mesmo  o  quanto  dói?  Não,  você  não  sabe,  pois  somente nós sabemos.   Vou te explicar: na verdade o substantivo “dor” não é realmente muito exato para definir o  que a gente sente nesse momento. “Dor” não é suficiente. Dor é o que você sente quando a  faca  bate  por  engano  em  alguma  parte  do  seu  corpo.  Ai!  (seguido,  na  maioria  dos  casos,  de  palavras  que  na  TV  costumam  ser  proibidas  até  as  dez  da  noite).  Dor  é  o  que  você  sente  quando apanha uma porrada de outrem (e aí a palavra chula não precisa de “ai” nenhum para  sair livremente). Dor é o que aparece na barriga ao você beber do leite uma semana depois da  data  que  diz  na  garrafa.  Dor  é  o  que  você  tem  na  cabeça  quando  alguém  não  pára  de  fazer  alguma coisa que te atrapalha. Mas o parto não é isso não. É, de fato, tudo isso e mais.  Se  pudesse  ter  uma  foto  que  demonstrasse  a  frialdade  da  sala,  qualquer  um  acharia  impossível  o  quanto  a  gente  se  cobre  de  suor  naquele  momento.  É,  porém,  apenas  uma  aparência estética, pois todo o mundo sabe que não há lugar mais caloroso do que uma sala                                                               1  SPINA, Ignacio. "Dor no parto? Dor não, parto." em Encontro Literário Cronicando II. Instituto Camões. Centro de  Línuga Portuguesa, Buenos Aires, 7 de Junho de 2012. 
  • 2. de partos. Se a gente tivesse um espelho nesse momento, seria ainda pior poder perceber a  situação  com  três  ou  quatro  pessoas  olhando  as  nossas  misérias  enquanto  nos  exibimos  ao  mundo da maneira mais desarrumada possível.  Mas se fosse realmente dor, como você acha,  nada teria a ver o clima ou com a nossa aparência física.  Primeiro é dor, sim. Ela desce lentamente dos pulmões à base da barriga como se fosse um  litro de bromo tentando percorrer um  canudinho apenas inclinado. E assim, o que antes  era  uma  opressão  interna,  acrescenta  um  profundo  sentimento  de  ardor  até  virar,  finalmente,  uma  queimação  insuportável.  Só  depois  de  perceber  que  será  impossível  fazer  mais  força  é  que você ativa os ouvidos para escutar os sons que provêm do exterior. Alguém impossível de  identificar pretende interagir:  – Força!  É lá que a gente não se furta da irritação. Força? Tô fazendo o quê? A expulsão de palavras  chulas não se faz esperar.   – Força!    E continua do mesmo jeito, mas agora sentindo aquela queimação um pouquinho mais  abaixo. Pois é, no lugar que você está imaginando.   – Força, mais uma vez!  Mais uma vez? Caramba! Se, nesse momento, alguém me informasse que eu morreria nos  próximos cinco minutos, com certeza eu choraria só por ter que esperar todo aquele tempão.   – Força, meu bem, força! Já tá saindo, já!    Mas  a  situação,  mesmo  acabando,  só  acrescenta  o  pranto  –  tranqüilizador  por  natureza  –  de  um  bebê.  Pranto  que  a  gente  ouve  com  muito  amor  e  gostaria  de  ouvir  pelo  resto da vida. Só dura, porém, uns cinco minutos, quando os médicos resolvem levar a criança  para continuar com a rotina.     Tá  vendo,  Wagner?  Não  é  dor.  É  parto...  parto  é  a  palavra.  E  para  provar  que  dor  é  apenas  uma  mínima  parte  do  que  a  gente  sente,  basta  entender  o  pranto  da  recém‐mamãe  nesse  preciso  momento:  de  dor,  pela  opressão  que  se  transformou  em  queimação;  de  emoção,  por  ter  conhecido  aquele  anjinho  com  quem  conversou  durante  nove  meses;  e  de  tristeza, por ter que esperar até os médicos terminarem de prepará‐lo para poder ficar em paz  com o bebezinho.    E aí, Wagner, tá com vontade de escrever mais uma matéria de partos? Com certeza  deve ter um monte de revistas ansiosas de publicá‐la. Quando estiver pronta, me avise para eu  marcar hora no médico para poder ler.