Famílias das vítimas de um acidente aéreo estão indignadas com o inquérito policial que apontou apenas os pilotos mortos como culpados. Duas investigações diferentes chegaram a conclusões opostas, e as famílias esperam que o Ministério Público mude o curso do inquérito e aponte os verdadeiros culpados vivos.
1. FAMILIARES DAS VÍTIMAS DO VOO TAM JJ3054 ESTÃO INDIGNADOS
A AFAVITAM (Associação dos familiares e amigos das vítimas do voo TAM JJ 3054) estarrecida e
indignada recebeu ontem a notícia que o inquérito que corria na Polícia Federal foi concluído,
apontando como culpados somente os dois pilotos mortos, que infelizmente, assim como nossos
familiares, não estão mais entre nós para se defenderem.
A surpresa foi total, tendo em vista que, como o inquérito corria em segredo de justiça, não nos
foi possível acompanhar e fiscalizar o seu andamento. Em muitas oportunidades a quebra do sigilo
foi solicitada por nós, e sempre negada, e aí está o resultado.
A investigação da Polícia Federal corria em paralelo com a da Polícia Civil do Estado de São Paulo
que diferentemente daquela, NÃO CORRIA EM SIGILO. Mensalmente tínhamos notícia de seu
andamento. Tal inquérito findou em dezembro de 2008 e apontou 11 pessoas como responsáveis
pela “tragédia anunciada”, dentre elas membros da TAM, da Infraero e da ANAC, além
de mencionar a AIRBUS.
Nós da AFAVITAM já fomos surpreendidos em julho deste ano com a mudança do Delegado da
Polícia Federal Pedro Sarzi Júnior, que presidia o inquérito desde a sua fase inicial, pelo Delegado
Ricardo Sancovich. Não tivemos a possibilidade de conhecê-lo pessoalmente, porque em que pese
convidado mensalmente pela Associação para participar de nossas reuniões, jamais atendeu ao
nosso chamado. A mudança de Delegado causou muita apreensão, já que o Delegado Pedro Sarzi
Junior acompanhou a investigação do Delegado Barbosa, que corria na esfera estadual.
O Dr. Ricardo Sancovich, menos de quatro meses após tomar conhecimento do processo, que deve
contar hoje com mais de 20000 (vinte mi) laudas, e que corre há mais de dois anos, parece ter
ignorado todo o trabalho já realizado pela Polícia de São Paulo: deu fim ao inquérito sem
apontar sequer uma pessoa “viva” como responsável.
Nós estamos nesta longa caminhada em busca de VERDADE E JUSTIÇA, lutando por mais
segurança no setor aéreo. Há mais de dois anos, fazemos passeatas, manifestações, reuniões,
sempre exigindo a responsabilização dos culpados e mudanças no setor aéreo. Mesmo diante da
dificuldade que é para nós relembrar a cada dia, e a cada reunião toda esta tragédia que resultou na
perda de nossos amados, nos mantemos unidos porque, acima de tudo, não queremos que outras
famílias brasileiras passem pelo que estamos passando. A impunidade nesse caso, que todo o
Brasil tem acompanhado, pode levar a outras transgressões de segurança e a outras mortes.
Os dois inquéritos analisaram o mesmo crime, ouviram as mesmas pessoas, tiveram acesso aos
mesmos laudos, e, curiosamente, tiveram desfechos totalmente opostos. Em um deles, 11 pessoas
foram apontadas como responsáveis e no outro, apenas os pilotos mortos. O inquérito
Federal, sigiloso, agora surpreende a todos. A verdade é que, dia após dia estamos sendo
surpreendidos com notícias de impunidade, mas não vamos desistir, as nossas vozes não vão se
calar e esperamos contar com o apoio da sociedade. Esta luta não é só nossa!
Os familiares das vítimas continuam depositando suas esperanças no Ministério Público Federal,
com o Procurador Dr. Rodrigo de Grandis, em responder aos anseios dos familiares e de todos os
brasileiros, mudar o curso deste inquérito e apontar os culpados “vivos”, pelo que foi
uma “tragédia anunciada”.
Nós estamos solidários com os familiares dos pilotos mortos, indignados com esse desfecho. Mas,
mandamos um recado: não se sintam sós, vamos continuar lutando por VERDADE, JUSTIÇA e,
acima de tudo pela valorização da VIDA.
Por fim, convidamos o Dr. Ricardo Sancovich a vir encontrar os familiares em nossa próxima
reunião, em 17 de outubro de 2009, em Porto Alegre e apresentar a sua conclusão sobre o relatório
emitido.