1. Revista Acadêmica de Ciência Equina v. 01, n. 1, p. 1-6 (2017)
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Grupo de Pesquisa e Ensino em Equideocultura
www.gege.agrarias.ufpr.br/racequi
Revista Acadêmica de Ciência Equina v. 01, n. 1 (2017)
ALTERAÇÕES RADIOGRÁFICAS E HISTOPATOLÓGICA EM
EQUINO COM LAMINITE CRÔNICA – RELATO DE CASO
Carolina Parisotto de Almeida 1
; Sérgio Siqueira de Queiroz 2
; Janaína Socolovski Biava; 3
¹ Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz – FAG
2
Professor do Departamento de Medicina Veterinária do Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais –
CESCAGE
3
Professora do Departamento de Zootecnia da Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG e Professora do
Departamento de Medicina Veterinária do Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais – CESCAGE.
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi relatar o caso de um equino, sem raça definida, com 6 anos de
idade, macho, utilizado para tração, o qual apresentou sinais de claudicação e dor,
permanecendo em decúbito esternal em grande parte do dia. Durante o exame físico,
constatou-se lesão acentuada na coroa do casco e claudicação severa. O tratamento adotado
foi antibioticoterapia sistêmica. Não ocorreu a recuperação completa do animal e, dada a
severidade das lesões o animal foi eutanasiado. Exames clínicos, pos morten, foram realizados
por meio de necropsia e exames complementares. Como exame complementar, foram
realizadas radiografias nas projeções latero-lateral direito (LL) e dorso plantar (DPL), a partir
das quais se pode observar rotação e reabsorção óssea da terceira falange no membro pélvico
direito e osteomielite. A radiografia confirmou o diagnóstico de laminite crônica sem
perspectivas de recuperação devido à extensão da osteomielite.
PALAVRA-CHAVE: cavalos, casco, inflamação, rotação.
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INTRODUÇÃO
Os equinos desde a antiguidade possuem grande importância para o homem, sendo
utilizado para trabalho, esporte, laser e/ou locomoção (Ribeiro, 2013). O aparelho locomotor
dos equinos é fundamental para sua sustentação. Por sua vez, os cavalos estão sendo
utilizados com maior frequência para o trabalho de tração em cidades urbanas, com a
finalidade de recolhimento de lixos e entulhos, tendo como prioridade a observação da saúde
e manejo dos animais, contudo respeitando seu bem-estar (Rezende, 2004). Grande parte das
doenças que acometem os equinos estão relacionadas a problemas locomotores e afecções
respiratórias (Moraes et al., 2009).
A doença mais comum e grave do aparelho locomotor dos equinos é a laminite (Hunt
& Wharton, 2010). É uma inflamação vascular nas lâminas internas do casco, causada por
múltiplos fatores como: sepse bacteriana, associada a distúrbios metabólicos ou endócrinos, e
aquelas associadas com concussão excessiva ou peso excessivo. Segundo Thomassian et al.
(2000) é comum a incidência nos membros torácicos.
O processo da laminite ocorre pela baixa perfusão capilar, decorrente de isquemia, o
que desencadeia a abertura artério-venoso desviando o fluxo sanguíneo para a circulação
venosa. Com a baixa pressão desenvolve-se a estase, coagulação e aumento da
permeabilidade, consequentemente gerando edema e congestão. Estes fenômenos causam
necrose isquêmica, diminuindo a nutrição e sustentação do casco, ocasionando afundamento e
rotação da falange (Thomassian et al., 2000).
A laminite pode ser encontrada como doença aguda ou crônica. Dependendo da
evolução e agravamento do problema na doença aguda, se desenvolve a doença crônica.
Observa-se com facilidade no estágio da doença aguda a claudicação, rotação e dor. O
principal sinal clínico da laminite crônica é a exposição da terceira falange, a qual pode ser
observada também através das radiografias (Hood, 1999) (Figura 1A). A consequência da
laminite é o deslocamento e deformação do casco e claudicação variável (Belknap & Parks,
2011). Muitos equinos são submetidos a eutanásia devido a dor crônica no casco, objetivando
o bem-estar animal (Swanson, 1999; Hunt & Wharton, 2010).
O objetivo deste trabalho foi relatar o caso de um equino de tração com laminite
crônica.
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MATERIAL E MÉTODOS
Um equino, macho, sem raça definida, com idade aproximadamente de seis anos,
utilizado para tração (“cavalo carroceiro”), pesando aproximadamente 350 kg foi atendido
clinicamente com histórico de lesão do membro pélvico direito na região da coroa do casco. O
animal encontrava-se em condições de saúde debilitada, abandonado em um terreno urbano
vazio, com uma corda amarrada em seu membro pélvico direito. Os moradores relataram que
há 15 dias o animal encontrava-se claudicando e ficava muito tempo deitado. A corda no
membro pélvico direita foi removida e as lesões foram tratadas com limpeza diária da ferida,
pomada cicatrizante (unguento) e aplicação de anti-inflamatório Flunixina Meglumina e
antibiótico Dihidroestreptomicina; Piroxican; Benzilpenicilina g Procaína. As doses utilizadas
e periodicidade não foram informadas, mas relatou-se a melhora do animal inicialmente. O
animal era alimentado com milho e pasto nativo, tendo acesso ad libitum a água. O exame
clínico foi realizado no local, assim como o exame do aparelho locomotor. Após a avaliação
clínica e prognóstico desfavorável, o animal foi eutanasiado pela equipe de Médicos
Veterinários da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa/PR. O equino após a eutanásia foi
encaminhado para a fazenda escola do Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais
(CESCAGE) em Ponta Grossa/PR, onde o cadáver foi submetido a necropsia, a qual foi
realizada com o animal em decúbito lateral direito. Todos os órgãos foram avaliados de forma
pormenorizada. Observou-se líquido no pericárdio, de coloração anormal, do qual retirou-se
uma amostra que foi encaminhado para a citologia no Hospital Veterinário do CESCAGE. O
membro pélvico direito foi encaminhado para o raio-X, foram realizadas duas projeções,
sendo a latero-lateral direito (LL) e dorso plantar (DPL). Foi coletado tecido da área do casco
com ulcerações, necrose e encaminhado para o histopatológico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No exame físico, o animal apresentou frequência cardíaca aumentada (60 bpm) e
frequência respiratória de 35 mpm e, temperatura dentro da normalidade. Observou-se que o
animal não se movia muito, permanecendo em decúbito boa parte do tempo ou parado na
mesma posição. Ao exame específico do sistema locomotor, observou-se no membro pélvico
direito dor a palpação na região acima da coroa do casco, aumento da temperatura, presença
de secreção purulenta e descolamento do casco e da terceira falange no membro pélvico
direito (perfuração da sola). O animal relutava ao movimentar-se, andava arqueado com
cabeça baixa e claudicação severa, grau IV. Os sinais clínicos evidentes em animais com
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laminite são dificuldade de locomoção, aumento da frequência cardíaca e dispnéia,
sensibilidade no casco e aumento de temperatura local (Thomassian et al., 2000).
Na necropsia realizou-se a avaliação externa, onde observou-se subnutrição, escore
corporal baixo, coloração pálida das mucosas e presença de parasitas externos (carrapatos).
Os órgãos que apresentaram alterações macroscópicas foram: coração que se apresentava
hipertrófico (concêntrico) com presença de líquido sanguinolento no saco pericárdio; pulmões
com enfisema pulmonar (presença de gases) e rins direito e esquerdo pálidos e, membro
pélvico direito, casco com áreas de ulcerações, colorações escuras, odor pútrido e perfuração
de sola.
O líquido do saco pericárdio foi submetido a exame físico-químico, onde obteve
resultados do físico: cor avermelhada; odor pútrico; aspecto turvo e, resultados do químico:
glicose +; proteína +++; Ph 6,5; sangue +++; leucócitos +++; sedimento. Na citologia
observou-se células epiteliais e mesenquimais, presença de neutrófilos e bactérias, transudato
modificada.
Como exame complementar foi realizado radiografia nas projeções latero-lateral
direito (LL) e dorso plantar (DPL), as quais se pode avaliar na incidência LL e DPL do
membro pélvico direito. A partir desta avaliação, observou-se: presença de irregularidade
difusa nas bordas da 1, 2 e 3 falanges e no terço distal do metacarpo; sequestro ósseo
envolvendo o córtex dorsal e ventral da 1, 2 e 3 falanges, áreas proliferativas estendendo da
epífise distal da 1 falange até a metáfise distal do metacarpo; aumento de tecidos moles
adjacentes, sugestivos de osteomielite crônica (Figuras 1B e 1C). A partir destes achados foi
possível confirmar o diagnóstico de laminite crônica e osteomielite. No exame
histopatológico observou-se osteomielite supurativa, infiltrado inflamatório perivascular e
núcleo de células picnóticos.
Segundo Jones et al. (2000) o enfisema pulmonar é encontrado com frequência em
grande parte dos animais, é uma inflamação que faz com que haja acúmulo de ar nos tecidos
(pulmões), tendo uma coloração pálida, sem flexibilidade. O enfisema se expande até áreas
com atelectasias que causam colapso parcial ou total do pulmão, aumento a frequência
respiratória devido à dificuldade de passagem de ar.
A hipertrofia concêntrica do coração é descrita pelo aumento da espessura dos
ventrículos e dimensões da câmara cardíaca, causada pelo excesso de esforço para bombear
sangue até o membro afetado. Em equinos essa anomalia é comum nos casos de laminite
(Jones et al., 2000).
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A deficiência nutricional e o edema cardíaco, fazem com que haja presença de
líquidos com ausência de variáveis células infamatórias no saco pericárdio, sendo conhecida
como hidropericárdio (Jones et al., 2000).
Nos diagnósticos radiográficos as posições mais frequentes são a latero-medial e
dorso-plantar, sendo observado a rotação e afundamento da terceira falange, causando a
separação do tecido mole da banda coronária, sugestivo de um diagnóstico presuntivo de
laminite crônica (Lindford et al., 1993). Na projeção dorso-plantar pode-se determinar
sequestros ósseos espessura da margem da falange distal (Parks, 2003).
As infecções de osteomielite afetam a medula óssea, comum em decorrência de
processos traumáticos no membro, ocorre frequentemente nas metáfises, fise e epífise
(Radostits et al., 2002). Os sinais clínicos mais presentes são edema no tecido mole, dor a
palpação e na radiografia pode se observar sequestro ósseo e necrose, proliferação óssea
(Radostits et al., 2002; Thomassian, 2005).
CONCLUSÃO
Pode-se concluir que o tratamento utilizado com antibióticos e anti-inflamatórios
reduziram a dor e o desconforto local. O diagnóstico baseou-se inicialmente na presença de
sinais clínicos. A laminite crônica e osteomielite assumiu caráter grave, de difícil tratamento
e prognóstico reservado. A necropsia evidenciou a severidade das lesões. E os achados
radiográficos nas projeções latero-lateral direito (LL) e dorso plantar (DPL), auxiliaram de
maneira satisfatória o diagnóstico e o exame histolopatógico confirmou a gravidade da lesão.
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Fonte: Arquivo pessoal.
Figura 1A. Primeira falange (1), segunda falange (2), terceira falange necrosada (3), osso
sesamóide distal (4). 1B. Radiografia projeção dorso-plantar do membro pélvico direito com
alterações na topografia óssea, apresenta áreas proliferativas em terceira falange com sequestro
ósseo no córtex do osso, possível fratura patológica. Proliferação óssea em primeira falange da
epífise proximal até a epífise distal do córtex do osso. Edema de tecidos moles nas regiões de
terceira e primeira falange (sugestivo de osteomietlite crônica). 1C. Radiografia em projeção
latero-lateral do membro pélvico direito apresenta aumento de radiopacidade óssea em terceira
falange, presença de áreas proliferativas em toda a topografia óssea, sequestro ósseo em epífise
distal. Áreas proliferativas em epífise proximal até a epífise distal da primeira falange. Edema de
tecidos moles nas regiões da primeira e terceira falange (sugestivo de osteomielite crônica).
A B C