A propagação do Coronavirus pelo mundo vai contribuir para que ocorram mudanças significativas no futuro próximo e a longo prazo nos sistemas de saúde, nas cidades, no mundo do trabalho, no sistema de educação, no transporte público, nas relações sociais, no turismo, na sociedade, no processo de globalização e na ação dos governos em todo o mundo. O mundo não será mais o mesmo. Precisamos nos preparar para o futuro que virá. As 11 principais mudanças que impactarão o presente e o futuro estão apresentadas neste artigo.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
O mundo depois do coronavirus
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O MUNDO DEPOIS DO CORONAVIRUS
Fernando Alcoforado*
A propagação do Coronavirus pelo mundo vai contribuir para que ocorram mudanças
significativas no futuro próximo e a longo prazo nos sistemas de saúde, nas cidades, no
mundo do trabalho, no sistema de educação, no transporte público, nas relações sociais,
no turismo, na sociedade, no processo de globalização e na ação dos governos em todo o
mundo. O mundo não será mais o mesmo. Precisamos nos preparar para o futuro que virá.
As 11 principais mudanças que impactarão o presente e o futuro estão descritas a seguir:
1) Mudanças nos sistemas de saúde
A pandemia do Coronavirus deixou evidenciada a fragilidade da infraestrutura de saúde
com a insuficiência na capacidade hospitalar e de postos de saúde e de recursos humanos
especializados em vários países do mundo. Além disso, ficou evidenciada, também, a
incapacidade das instituições de pesquisa médica em preverem o surgimento de vírus
novos como o Coronavirus visando a preparação dos sistemas de saúde com novos
medicamentos e vacinas voltados para este fim. Vacinas movimentam fortunas. Sua
descoberta, porém, não é imediata. No hiato de tempo entre a expansão do contágio por
um novo vírus e sua profilaxia completa as consequências podem ser devastadoras. Para
piorar, não há garantia de que surjam drogas capazes de imunizar a humanidade de todas
as doenças causadas por vírus. Tal incerteza pode se converter rapidamente em pânico. É
o que vem ocorrendo com o recente surto do novo Coronavírus (2019-nCoV ou Covid-
19). Para mudar esta realidade e a humanidade não ser surpreendida com novos vírus,
como foi agora pelo Coronavirus, é preciso implantar infraestruturas de saúde com
capacidade suficiente em todos os países com hospitais e postos de saúde, bem como
investir maciçamente em pesquisa e desenvolvimento visando a fabricação de
medicamentos e vacinas capazes de combater os vírus atuais e futuros.
2) Mudanças nas cidades
A população mundial corresponde atualmente a 7,7 bilhões de habitantes e a que vive nas
cidades totaliza hoje 4 bilhões de habitantes com a grande maioria delas vivendo em
péssimas condições sociais caracterizadas pelo elevado desemprego, existência de favelas
populosas, cortiços e moradores de rua, ausência de adequado saneamento básico,
precário serviço de coleta, transporte e destinação final dos resíduos sólidos, péssimos
serviços de transporte público, incontrolável poluição das águas, do solo e do ar, o
despreparo da infraestrutura urbana para enfrentar enchentes e a insuficiência da
infraestrutura de saúde. A grande maioria das cidades do mundo é o espaço propício à
propagação em larga escala de vírus, como o Coronavirus, devido à concentração
populacional e às péssimas condições sanitárias da maioria de sua população. Para mudar
radicalmente esta realidade, terá que ser adotado, em todo o mundo, a política de renda
básica universal para os desempregados e pobres que residem em favelas e cortiços e
moradores de rua, de reurbanização de favelas e/ou relocação de populações de áreas
críticas e de investimento maciço em saneamento básico, na coleta, transporte e
disposição final de resíduos sólidos, na infraestrutura de transporte público, na
infraestrutura urbana para enfrentar enchentes e na infraestrutura de saúde. Em outras
palavras, é preciso que haja uma revolução urbana em escala global para proteger as
populações das cidades da atual e futuras pandemias.
3) Mudanças no mundo do trabalho
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O mundo do trabalho já vinha sendo bastante impactado pelo avanço tecnológico,
sobretudo pela inteligência artificial, com a robotização da atividade produtiva. Com a
propagação do Coronavirus, há a tendência de muitos trabalhos que eram realizados
presencialmente sejam realizados pelos trabalhadores em suas residências com o uso da
internet e seus inúmeros aplicativos e as pessoas não se deslocarem para locais de
compras de mercadorias passando a fazer pedidos de produtos e serviços através da
internet e seus inúmeros aplicativos junto aos fornecedores que os entregarão em suas
residências. A consequência disso tudo, será o uso de robôs em substituição aos
trabalhadores na indústria, no comércio e nos serviços da qual resultará o crescimento
exponencial do desemprego, a realização de trabalhos em suas próprias residências (home
working) por alguns trabalhadores e a entrega de produtos e serviços em residências por
parte de fornecedores (delivery). Tudo isto gerará como impacto a redução de veículos
automotores individuais e na demanda de transporte público nas cidades, mas aumentará
a circulação de motociclistas e drones para entrega de produtos e serviços nas cidades.
Para atenuar o terrível impacto do desemprego tecnológico e o agravado pelo
Coronavirus, é preciso que seja adotada pelos governos a política de economia social e
solidária e de economia criativa e de distribuição de renda básica universal para toda a
população.
4) Mudanças no sistema de educação
O anúncio da suspensão das aulas por conta da pandemia do Coronavírus (COVID-19)
deixa toda a sociedade preocupada em relação ao futuro dos estudantes e, claro, em
relação aos prejuízos de aprendizagem. Mais rápido do que imaginávamos, gestores
públicos, organizações da sociedade civil e comunidade de profissionais em educação
ofereceram a primeira resposta ao fechamento das escolas: educação a distância com o
uso das tecnologias digitais. A velocidade em propor que a tecnologia nos ajude em
cenários de fechamento de escolas tem a ver com a experiência de outros países onde a
pandemia chegou primeiro, como China, Itália e Coreia do Sul. O ensino presencial é
muito importante, mas em situações de pandemia como a atual a educação a distância é
absolutamente necessária. A educação é, sem dúvidas, uma das experiências humanas
mais sociais. Fechar escolas e desenhar plano de atividades para crianças e professores a
distância é, portanto, algo completamente diferente de planejar atividades escolares
presenciais. Umas das principais preocupações em torno de aulas online tem a ver com
equidade e qualidade do ensino. O ensino a distância pode ser utilizado como
complementação da aprendizagem ou em situações emergenciais no ensino fundamental,
médio, na educação profissional, de jovens e adultos e especial e no ensino superior. Essas
atividades não presenciais podem ser organizadas oficialmente e validadas como
conteúdo acadêmico aplicado. Para adotar essa modalidade, as redes de ensino precisam
adequar metodologia de ensino aos recursos tecnológicos necessários. Os estudantes
devem receber o aprendizado adequado e correto. As escolas devem zelar pelo
acompanhamento, avaliações e a participação correta dos alunos. Muitas escolas terão
muito mais condições de suportar experiências digitais do que outras. Tecnologia não
funciona da mesma forma para todas as faixas etárias. Não faz sentido aulas online para
alunos de educação infantil que deve ser realizada por suas famílias com orientação das
atividades online pela escola. Deve-se utilizar tecnologia digital de acordo com cada
segmento para fortalecer o trabalho pedagógico de acordo com as necessidades de
desenvolvimento de cada idade. Muito provavelmente, a crise do Coronavirus fará com
que a educação a distância se expanda como alternativa à educação presencial tradicional.
5) Mudanças no transporte público
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O transporte público é uma forma de locomoção existente em cidades de médio e grande
porte. Na maioria das cidades, o principal tipo de veículo utilizado é o ônibus, mas
existem também os metrôs, os trens e, em algumas cidades, balsas, barcos, lanchas, entre
outros. Se bem utilizado, o transporte coletivo pode ser a principal solução para problemas
de mobilidade urbana, como os congestionamentos. Recentemente, a OMS (Organização
Mundial da Saúde) afirmou que a questão do transporte coletivo é também uma questão
de saúde pública, uma vez que um sistema de transporte eficiente diminuiria o número de
carros nas cidades, diminuindo também os índices de poluição, acidentes, inatividade
física, entre outros. Na grande maioria dos países do mundo, são precárias as condições
do transporte público. A propagação do Coronavirus colocou em evidência a necessidade
de as pessoas serem transportada sentadas pelo transporte público, fato este que torna uma
exigência o aumento da capacidade do sistema de transporte. É necessário, portanto, que
haja política de investimentos em transporte público para aumentar sua capacidade,
modernizá-lo e garantir o seu acesso à população, pluralizando os meios de transporte
para além do ônibus, com a instalação de veículos como trens, metrôs e ciclovias. Além
do aumento da capacidade do sistema de transporte público para impedir a propagação de
novos vírus no futuro viabilizando o distanciamento social com os passageiros sentados,
outra exigência é a higienização dos veículos do transporte público para salvaguardar a
saúde da população.
6) Mudanças na produção de alimentos
Coronavírus ameaça provocar crise alimentar mundial, segundo a ONU. Em uma declaração
conjunta, os líderes de três organizações multilaterais de alimentação, comércio e saúde
– FAO, OMC e OMS – alertaram para o risco de uma crise alimentar causada pela nova
pandemia de Coronavírus. Existe o risco de “escassez de alimentos” no mercado mundial,
devido a perturbações derivadas da COVID-19 no comércio internacional e nas cadeias
de suprimentos. Ao proteger a saúde e o bem-estar dos cidadãos, os países devem garantir
que todas as medidas comerciais não perturbem a cadeia de suprimento de alimentos,
acrescentaram os responsáveis da FAO, OMS e OMC. As incertezas geradas sobre a
disponibilidade de alimentos podem desencadear uma onda de restrições à exportação, o
que, por sua vez, causaria sua escassez no mercado mundial. Alguns países exportadores
de grãos podem reter suas colheitas por medo de escassez, enquanto no outro extremo da
cadeia alimentar globalizada outros países mais frágeis correm o risco de padecer graves
penúrias. Para as três organizações multilaterais, é importante garantir o comércio,
principalmente para evitar a escassez de alimentos, especialmente nos países mais pobres.
As três organizações também destacam a necessidade de proteção dos trabalhadores no
campo, a fim de minimizar a propagação do vírus no setor e manter as cadeias de
suprimento de alimentos.
7) Mudanças nas relações sociais
A atual epidemia do Coronavírus pode estar não só tornando o aperto de mãos obsoleto,
como fazendo nascer novos códigos e cumprimentos, alterando a maneira com que
diretamente nos relacionamos. No lugar do apertar das mãos, entram em cena saudações
tocando os pés, os cotovelos, ou mesmo somente com acenos ou gestos ao longe sem que
as mãos se encostem. Com o avanço da epidemia, além da recomendação de se lavar as
mãos por 20 segundos, alguns hábitos costumeiros e calorosos passam a ter de ser
evitados. As mãos, afinal, podem carregar restos de tudo que tocamos entre uma e outra
lavagem, inclusive o vírus. Evitar encostar uma mão em outra passou a ser recomendação
da Organização Mundial de Saúde, mas nem por isso devemos perder as boas maneiras e
as demonstrações de afeto e felicidade ao encontrar alguém. Pois uma turbulência de tal
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forma global e ameaçadora como o Coronavírus pode deixar marcas culturais profundas,
e até alterar nossas noções de etiqueta no futuro. Se as relações individuais estão sendo
impedidas para combater o Coronavirus, maior é a exigência de que não ocorra multidões
em eventos esportivos, de música e cinema, entre outros. Muito provavelmente, haverá
no futuro a política de redução da capacidade de público em eventos, além da higienização
dos locais de eventos para não propagar vírus atuais e futuros.
8) Mudanças no turismo
A indústria do turismo promove um constante fluxo de pessoas pelo globo (e até fora
dele, com as viagens espaciais capitaneadas por Virgin Galactic, de Richard Branson, e
SpaceX, de Elon Musk). Dentro ou fora da órbita terrestre, o turismo gera oportunidades
de negócio tanto para grandes conglomerados (companhias aéreas, redes hoteleiras,
empresas de cruzeiros) quanto para pequenos empreendimentos, sejam agências de
viagem locais, pousadas, restaurantes ou guias turísticos que atuam em suas comunidades.
O setor de turismo respondeu, em 2018, por 10,4% de toda a atividade econômica do
planeta, gerando 319 milhões de novos empregos (um em cada cinco dos que foram
criados desde 2014). O valor total movimentado por essa indústria é calculado em US$
8,8 trilhões ao ano — quase o dobro do PIB japonês, que é o quarto do mundo (US$ 4,9
trilhões em 2018). Se fosse um país, o turismo só ficaria atrás dos Estados Unidos (US$
20,6 trilhões) e da China (US$ 11,5 trilhões). Coronavírus pode causar prejuízo de US$
1 trilhão ao turismo global. A crise atual é considerada a pior de todos os tempos para
o turismo. Pânico com o Coronavírus deixa Cidades desertas, esvazia hotéis, obriga
empresas aéreas a cancelarem rotas e impede que navios de cruzeiro desembarquem
passageiros. Hotéis vazios, cruzeiros em quarentena. A preocupação do setor hoteleiro é
grande ganhando proporções ainda maiores para os operadores de cruzeiros. O drama dos
passageiros e tripulantes a bordo do navio Diamond Princess, que ficaram impedidos de
desembarcar no porto de Yokohama, no Japão, acendeu o primeiro alerta sobre o destino
de quem está atualmente em viagem no mar. O futuro do setor turístico global depende
do sucesso na luta contra o Coronavirus e do soerguimento da economia global.
9) Mudanças na sociedade
A desigualdade econômica e social é um problema social presente em todos os países
do mundo. Ela decorre, principalmente, da má distribuição de renda e da falta de
investimento na área social, como educação e saúde. Má distribuição de renda e
concentração do poder, má administração de recursos principalmente públicos, lógica de
mercado do sistema capitalista (quanto mais lucro para as empresas e os donos de
empresa, melhor), falta de investimento nas áreas sociais, em cultura, em assistência a
populações mais carentes, em saúde e educação são as principais causas da desigualdade
econômica e social. Coronavirus tende a aumentar as desigualdades econômicas e sociais
em todo o mundo agravando as condições sociais da grande maioria da população. A
fome pode grassar em inúmeros países que não adotem políticas de apoio às populações
vulneráveis que pode levá-las a praticar saques e outros atentados na luta pela sua
sobrevivência. Para evitar este cenário, os governos precisam adotar as políticas de
economia social e solidária e de economia criativa para combater o desemprego e de renda
básica universal para atender as necessidades das populações pobres visando reduzir as
desigualdades sociais e atenuar a piora das condições sociais da população. Onde for
possível, deve ser implantada a social democracia nos moldes escandinavos para
combater as desigualdades econômicas e sociais e exercer a democracia no seu mais alto
grau.
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10) Mudanças no processo de globalização
Nas últimas três décadas, a globalização econômica e financeira foi um retumbante
sucesso porque o PIB global passou de 22 trilhões para cerca de 90 trilhões de dólares. É
fato também que as perdas sociais provocadas por um mundo mais globalizado foram
imensas. O desemprego afeta milhões de trabalhadores em todo o mundo. A globalização
já estava sob ataque de populistas, terroristas, guerreiros comerciais e ativistas climáticos.
Agora, chegou o Coronavírus. A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento prevê redução de 5% a 15% nos investimentos estrangeiros diretos no
mundo em 2020 devido ao Coronavirus. A OCDE projeta que o impacto mundial do
Coronavírus deve gerar prejuízo de 0,5 a 1,5 ponto percentual do PIB global. Trata-se de
um valor de 500 bilhões a 1,4 trilhão de dólares em geração de riqueza que simplesmente
deixará de existir. Coronavirus não tem passaporte, ignora fronteiras, mas também
alimenta o protecionismo e o nacionalismo. O primeiro impacto do novo Coronavírus na
economia global foi a paralisação das indústrias chinesas. De carros a iPhones, as cadeias
de produção mais variadas espalhadas pelo planeta passaram a sofrer um choque
inesperado, provocado pelo organismo microscópico que escapou do mercado de animais
na cidade chinesa de Wuhan. A visão do novo vírus como um “invasor estrangeiro” ou
um “perigo chinês” serve de alimento a ideologias nacionalistas e até ao racismo puro e
simples. A pandemia também revelou o risco da confiança nas cadeias globais de
produção e fez ressurgir o protecionismo. À medida que o vírus se espalha para a Europa
e pelo mundo, torna a China um pouco mais frágil e a dependência mundial dela como ‘a
fábrica do mundo’ mais duvidosa. A globalização da doença acontece com navios e
aviões que a espalha muito rapidamente pelo planeta. Para se proteger, o impulso imediato
dos países é recuar e erguer barreiras. Já vemos os números de voos caindo drasticamente.
De certa forma, esse vírus ressalta o desequilíbrio na globalização. Mais do que fábricas
voltando para seu país de origem, vemos empresas diversificando a cadeia de suprimentos
para que não sejam mais tão dependentes de um país, como a China. Nesse sentido, o
Coronavírus pode mudar o curso da história. Sua disseminação pode ser um momento
decisivo nos debates sobre quanto o mundo poderia se integrar ou se separar. Mesmo
antes da chegada do vírus à Europa, as mudanças climáticas, as preocupações com a
segurança e as queixas sobre o comércio injusto haviam intensificado as ansiedades sobre
viagens aéreas globais e cadeias de suprimentos industriais globalizadas, além de terem
reforçado as dúvidas sobre a confiabilidade da China como parceira. Junto com o número
de infectados e mortos, o impacto econômico é redimensionado a cada novo sinal de que
esta crise é mais profunda do que se imaginava. Para atenuar o impacto negativo do
Coronavirus sobre a globalização, é preciso que haja a celebração de um pacto
internacional através da ONU e dos organismos globais visando reconstrução da
economia mundial em novas bases porque a globalização que operava até o advento do
Coronavirus chegou ao fim.
11) Mudanças na ação dos governos
Os governos têm que atuar com o objetivo de minimizar o número de mortos pelo
Coronavirus adotando o isolamento social total da população, evitar o colapso do sistema
de saúde, manter as atividades econômicas essenciais e adotar medidas em benefício dos
desempregados e das populações pobres para não morrerem de fome e das pequenas e
médias empresas para não sucumbirem à crise. Estas são medidas indispensáveis a serem
adotadas durante o avanço do Coronavirus. No combate imediato ao Coronavirus, os
governos devem abandonar o neoliberalismo como modelo econômico implantado desde
1990 e adotar o Keynesianismo como política econômica com investimentos públicos
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maciços para evitar a fome das populações pobres, salvar as empresas da debacle
econômica e manter a operação do sistema econômico.
As medidas imediatas para evitar a fome das populações pobres durante a disseminação
do Coronavirus consiste na adoção de um programa de renda básica ou renda mínima
universal para a população. Dar dinheiro de graça para todos, ou seja, um programa de
renda mínima universal possibilitaria atenuar ou eliminar a pobreza. Entre as razões para
que esta ideia vire realidade, reside no fato de que distribuir dinheiro diminui a
criminalidade, melhora a saúde da população e permite a todos investir em si mesmos. A
adoção da política de renda básica ou renda mínima universal para a população pobre é
uma das soluções para atenuar a pobreza haja vista que ela permitiria fazer com que os
pobres passassem a dispor de dinheiro para fazer frente às suas necessidades básicas em
termos de alimentação, saúde, moradia, etc. É importante observar que pobreza é a
condição de quem é pobre, ou seja, daquele que não tem as condições básicas para garantir
a sua sobrevivência com qualidade de vida e dignidade. Ao dispor de uma renda básica,
a população pobre terá condições de suprir suas necessidades básicas. Para salvar as
empresas da debacle econômica, os governos deveriam sustar o pagamento de impostos
e conceder crédito com juros baixos a empresas com a condição de manter os empregos
durante a propagação do Coronavirus.
Logo após esta etapa, o governo deve flexibilizar racionalmente o isolamento social da
população por localidades de acordo com o estágio da epidemia em que se encontram e
investir maciçamente em obras de infraestrutura em todo o território nacional para
reerguer o sistema econômico para gerar emprego e renda para a população mantendo
ainda o apoio aos desempregados e às populações pobres para não morrerem de fome e
às pequenas e médias empresas para sobreviverem à crise. Superado o Coronavirus, viria
a etapa de reconstrução ou soerguimento do sistema econômico nacional com a adoção
das medidas seguintes:
Construção de uma grande quantidade de obras públicas, com destaque para a
infraestrutura econômica (energia, transporte e comunicações) e social (educação,
saúde, habitação e saneamento básico);
Desenvolvimento da economia social e solidária para combater o desemprego;
Concessão da renda básica ou universal às populações de extrema pobreza.
Sobre a Economia Social e Solidária, é importante observar que é uma das soluções para
atenuar o problema do desemprego e abrir os caminhos para inventar no futuro outras
maneiras de produzir e consumir contribuindo para maior coesão social. A Economia
Social e Solidária é um novo modelo de desenvolvimento econômico, social, político e
ambiental que tem uma forma diferente de gerar trabalho e renda, em diversos setores,
seja nos bancos comunitários, nas cooperativas de crédito, nas cooperativas da agricultura
familiar, na questão do comércio justo, nos clubes de troca, etc. A Economia Social e
Solidária constitui uma nova forma de organização do trabalho e das atividades
econômicas em geral emergindo como uma importante alternativa para a inclusão de
trabalhadores no mercado de trabalho, dando uma nova oportunidade aos mesmos,
através da autogestão. Com base na Economia Social e Solidária, existe a possibilidade
de recuperar empresas de massa falida, e dar continuidade às mesmas, com um novo
modo de produção, em que a maximização do lucro deixa de ser o principal objetivo,
dando lugar à maximização da quantidade e da qualidade do trabalho.
A Economia Social e Solidária se coloca como uma alternativa possível para gerar
emprego para os trabalhadores que estão em sua maioria excluídos do mercado de
trabalho formal e do consumo. A Economia Social e Solidária surgiu em várias partes do
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mundo com práticas de relações econômicas e sociais que estão a propiciar a
sobrevivência e a melhoria da qualidade de vida de milhões de pessoas. Essas práticas
são baseadas em relações de colaboração solidária, inspiradas por valores culturais que
colocam o ser humano como sujeito e finalidade da atividade econômica, em vez da
acumulação privada de riqueza em geral e de capital em particular. Pode-se afirmar que
a adoção da Economia Social e Solidária é, sem sombra de dúvidas, a solução que
permitiria fazer frente ao desemprego em massa que crescerá de forma vertiginosa no
mundo. Por sua vez, a política de renda básica ou renda mínima universal para a
população é uma das soluções para atenuar a pobreza.
* Fernando Alcoforado, 80, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema
CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor
nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de
sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC-
O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora
Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado.
Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e
Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século
XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions
of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o
progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo,
São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV,
Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI
(Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o
Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017),
Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria)
e Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019).