O documento descreve vários encontros entre o contraventor Carlinhos Cachoeira, políticos e o jornalista Policarpo Júnior da revista Veja. Cachoeira e seus comparsas forneciam regularmente informações e gravações comprometedoras a Policarpo em troca de cobertura favorável na imprensa.
1. “É o seguinte: eu vou lá no Policarpo amanhã, que ele me ligou de novo, aí na
hora que eu chegar eu te procuro.”
No dia 27 de abril, Cachoeira anunciou ao diretor da construtora Delta no
Centro-Oeste, Cláudio Abreu, outro encontro com o jornalista. Sobre a ligação,
interceptada às 07:19, o inquérito da PF relata:
“Carlinhos diz que vai almoçar com a prefeita de Valparaíso e com Policarpo
da revista Veja”.
Às 09:02, o contraventor avisa a Demóstenes do almoço com Policarpo:
“Eu vou almoçar com o Policarpo aí. Se terminar o almoço e você estiver lá no
apartamento eu passo lá.”
O senador respondeu:
“Ok... o Policarpo me ligou,tava procurando um trem aí. Queria que eu olhasse
pra ele algumas coisas. Pediu até pra eu ligar para ele mais tarde, não quis falar
pelo telefone”.
Nesta mesma conversa, Demóstenes pediu conselhos a Cachoeira sobre sua
mudança de partido. Cachoeira afirmou que “esse DEM já naufragou” e disse:
“Tem que ir pro PMDB, até pra virar do STF né?”
O terceiro encontro: o alvo é Zé Dirceu, não a Delta
A partir do dia 7 de maio de 2011, aparecem conversas da quadrilha de
Cachoeira sobre a reportagem “O segredo do sucesso”, assinada por Hugo
Marques e publicada pela revista Veja na edição 2216, daquele mesmo fim de
semana. A matéria relaciona o crescimento da empresa Delta com os serviços de
consultoria de José Dirceu.
Em ligação do dia 8 de maio, às 19:58, Cachoeira diz a Cláudio Abreu que
Demóstenes vai trabalhar nos bastidores do Senado para abafar a reportagem.
No dia 9, às 23:07, Cláudio pergunta ao bicheiro se ele irá “no almoço com
aquele Policarpo” no dia seguinte. Cachoeira responde:
“Ah o Policarpo eu encontro com ele em vinte minutos lá no prédio, é
rapidinho”.
No dia 10, às 14:43, Cachoeira conversa com Cláudio. O resumo da ligação feito
pela PF diz: “Carlinhos conta a Cláudio sobre a conversa que teve com
Policarpo, da Veja, a respeito da reportagem que saiu na revista no último final
de semana”.
2. Em outra ligação, no dia 11, às 09:59, Idalberto Matias de Araujo, o Dadá, tido
pela PF como braço direito de Cachoeira, conta ao bicheiro que conversou com o
repórter da Veja, Hugo Marques, que lhe revelou que o alvo de sua reportagem
era “Zé Dirceu e não a Delta”.
O quarto encontro foi com Cláudio Abreu. No dia 29 de junho de 2011, às 19:43,
Cláudio disse a Cachoeira que esteve com Policarpo e passou informações sobre
licitação da BR 280. As informações foram parar na reportagem “O mensalão do
PR”, publicada na edição 2224 da revista Veja, dando origem as demissões no
Ministério dos Transportes.
No dia 7 de julho, às 09:12, Cláudio conta a Cachoeira que “o JR” quer falar com
ele.
Cachoeira: “Que que é JR?”
Cláudio: “PJ, né amigo.”
Cachoeira: “PJ?”
Cláudio: “Pole.”
Cachoeira: “O que?”.
Cláudio: “Engraçado lá, Carlinhos. Policarpo, porra.”
No dia 26 de julho de 2011, Policarpo perguntou a Cachoeira, em telefonema às
19:07, como fazer para levantar umas ligações entre o deputado Jovair Arantes
(PTB-GO) e “gente da Conab”.
No dia 28, às 17:19, uma ligação interceptada pela PF entre Jairo Martins, o
araponga de Cachoeira, e uma pessoa identificada apenas como “Editora Abril” é
sucintamente resumida pela palavra “encontro”.
No fim de semana seguinte a revista é publicada com a reportagem “Dinheiro por
fora”, trazendo informações sobre o financiamento de campanha de Jovair e de
outros políticos de Goiás por empresa favorecida pela Conab.
Invadindo o hotel Naoum
No dia 2 de agosto de 2011, às 10:46, Jairo Martins, marca encontro por telefone
“no Gibão do Parque da Cidade” com “Caneta”, identificado inicialmente pela
PF como alguém da Editora Abril. Às 12:04, Jairo informa a Cachoeira que irá
almoçar com “Caneta” às “15 pra uma” para tratar “daquela matéria lá (...) que ta
pronta”.
Às 14:30, o araponga informa ao bicheiro que “Caneta” quer usar imagens do
hotel “pra daqui a duas semanas, que naquele período que ele me pediu, o cara
3. recebeu 25 pessoas lá, sendo que 5 pessoas assim importantíssimas” (sic). Ele
também se mostra preocupado e diz que o combinado era não usar as imagens.
Cachoeira diz:
“Põe ele pra pedir pra mim”.
Às 21:03, Cachoeira revela a identidade de “Caneta”. O contraventor conta a
Demóstenes:
“...o Policarpo vai estourar aí, o Jairo arrumou uma fita pra ele lá do hotel lá,
onde o Dirceu, Dirceu, é, recebia o pessoal na época do tombo do Palocci”.
Segundo Cachoeira, Policarpo pediu para “por a fita na Veja online”.
No dia 4, às 17:18, Cachoeira fala com Policarpo ao telefone e pede para ele ir
encontrar Cláudio Abreu, da Delta, que está esperando. Às 17:31, Cachoeira
diz para Claudio mandar Policarpo soltar nota de Carlos Costa.
Às 17:47, Cláudio pergunta onde a nota deve ser publicada. Cachoeira diz que no
“on-line já ta bom”, mas “se for na revista melhor”. Às 18:37, o bicheiro informa
ao diretor da Delta que Policarpo “está com um problema sério na revista”, pediu
para desmarcar o encontro e receber a nota por email.
No dia 10 de agosto, às 19:11, Cláudio conta ao chefe da quadrilha que estará em
Brasília no dia seguinte para falar com “PJ”. No mesmo dia, às 19:22, Jairo e
Policarpo combinam por telefone um “encontro no churrasquinho”. Às 20:41,
Jairo e Cachoeira falam sobre liberação das imagens.
No dia 11, às 08:58, Carlinhos fala a Demóstenes que almoçará com Policarpo. O
resumo de uma ligação às 14:09, entre Cachoeira e Cláudio, afirma que
“Carlinhos está no Churchill, possivelmente com Policarpo Júnior”. Às 20:05,
em conversa com Demóstenes, Cachoeira conta que encontro com Policarpo foi
para ele “pedir permissão para o trem lá do Zé”.
No dia 15, às 10:12, Cachoeira orienta Jairo para “matar a conversa com
Policarpo”:
“Nós temos que pedir aquele assunto para ele.”
Às 19:04, Policarpo marca encontro com Jairo “em 10 minutos no espetinho”. O
resumo de uma ligação entre os dois às 19:26 diz “encontro”.
O resumo de uma ligação às 12:45 do dia 16 descreve:
“Carlinhos diz que liberou, que só falta ele liberar. Jairo diz que falta pouca
coisa. Acha que hoje ele libera.”