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18                                                                           PAÍS_ SOCIEDADE_SEGURANÇA_CIDADES
                                                                                             SEGURANÇA                                                   Domingo _20 de janeiro de 2013. Diário de Notícias




                                                                                                                                                                         BALANÇO

                                                                                                                                                                         ‘Tudo corre bem’,
                                                                                                                                                                         diz diretor da PSP
                                                                                                                                                                         › Do outro lado, da PSP já se
                                                                                                                                                                                                 ,
                                                                                                                                                                         habituaram aos “estorni-
                                                                                                                                                                         nhos” (passarinhos ruidosos
                                                                                                                                                                         e irrequietos), como são cari-
                                                                                                                                                                         nhosamente chamados os
                                                                                                                                                                         alunos. O superintendente
                                                                                                                                                                         chefe PintoVieira, diretor da
                                                                                                                                                                         Escola Prática de Polícia, des-
                                                                                                                                                                         taca a“dinâmica diferente”
                                                                                                                                                                         que o projeto trouxe. Neste
                                                                                                                                                                         momento está a decorrer um
                                                                                                                                                                         curso para agentes, com
                                                                                                                                                                         299 alunos.“Havia espaço
                                                                                                                                                                         disponível e acabámos tam-
                                                                                                                                                                         bém por, com o apoio da câ-
                                                                                                                                                                         mara, fazer algumas obras
                                                                                                                                                                         necessárias”, salienta. A repa-
                                                                                                                                                                         vimentação total da zona da
                                                                                                                                                                         parada foi uma delas. Aulas
                                                                                                                                                                         práticas têm uma assistência
                                                                                                                                                                         diferente, tendo a polícia or-
                                                                                                                                                                         ganizado uma demonstração
                                                                                                                                                                         de cães e atividades de segu-
                                                                                                                                FOTOS DE PEDRO ROCHA / GLOBAL IMAGENS    rança rodoviária.
Crianças e agentes convivem no pátio, onde, para desgosto dos rapazes, é proibido jogar para que não se partam vidros



A escola primária “mais
segura do mundo”
funciona dentro da PSP
Torres Novas. Edifício da Escola Prática da Polícia recebe, há um ano,
278 alunos do ensino básico. Experiência tem funcionado muito bem
                                        semcomadireçãodaEPPecomos            rança” que podem ir observando
VALENTINA MARCELINO
                                        responsáveis daautarquia”, conta     na sua rotina. O professor Paulo
                                        Paulo Renato.“Viramsalas de aula     Renato também tem lá o filho e
Usaratradicional ameaça“se não          melhores, um grande recreio, um      contaqueeste“sesenteimportan-
comeres a sopa chamo o polícia          pavilhãogimnodesportivoeumre-        teporestarnaescoladapolícia,pa-        Pais gostam da segurança que a escola da polícia fornece
mau” é escusado com estes miú-          feitórioacimadaprevisãomaisoti-      raele foi como umapromoção”. O
dos. O mais provável é responde-        mistaeissoajudou-osacompreen-        professor não tem dúvida de que
rem: “Então chama que ele man-
da-te embora!” No último ano ha-
                                        dere aaceitaramudança, pois era
                                        paramelhor”, acrescentao profes-
                                                                             “este grupo de alunos vai ter uma
                                                                             visão muito diferente dos polícias
                                                                                                                    Requalificação
bituaram-se a conviver diaria-
mente com eles, não porque se
tenhamportadomalousejamalvo
                                        sor.Quaseumanodepoisninguém
                                        searrependeu.
                                           Essa satisfação é comprovável
                                                                             e perceberão que o seu trabalho
                                                                             nos ajudano diaadia”.
                                                                                Numadas salas de aula, aturma
                                                                                                                    motivou a mudança
de alguma experiência pedagó-           emconversacomalgunsdospaise          do 4.º ano da professora Anabela       ALTERNATIVA Em vez de colo-                         tral, entre o agrupamento escolar,
gica. Simplesmente porque todos         avós que, logo pelamanhã, vão ali    Fernandes, hámuitos braços no ar       car os alunos em contento-                          aCâmaraMunicipal e aPSP      .
os dias vão para as aulas que           deixar os filhos. Recebidos por      a pedir para responder à nossa         res, escolaVisconde de São                             “Eraumdesafio, mas comtodas
decorrem nas instalações dapró-         agentesdaPSP   ,queestãonaporta-     perguntasobre se gostamde estar                                                            as condições paradarcerto”, subli-
priaPSP aEscolaPráticade Polícia
        ,                               ria,quejásehabituaramàantesin-       naquelaescola. Aline, André, Ma-
                                                                                                                    Gião preferiu outrasolução                          nha Paulo Renato. O soberbo edi-
(EPP), em Torres Novas. São 278         vulgar algazarra infantil na zona,   ria, João, Diogo, Bernardo, Eva, Jo-   e encontrou aPSP                                    fício da escola da polícia, com di-
alunos, entre os 6e os 10 anos, e di-   confessam-se tranquilos.“Naver-      sé ganham avez. Porém, os gene-                                                            versas salas de aula disponíveis,
zemque andamnaescolamais se-            dade,odiaadiaescolarnãosealte-       ralizados “gosto muito de estar        Arequalificação da escola básica                    áreas de recreio e até umrefeitório
gurado mundo. Reclamações, há           rou,masemtermosdeinstalações         aqui” ou o“sentimo-nos mais se-        Visconde de São Gião obrigou a                      espaçoso tornaram-se apelativos
uma grande: não podem jogar à           estão muito melhores”, diz o casal   guros” vêm quase todos com um          pensar num espaço alternativo                       para quem vinha de uma escola
bolaparanão partiros vidros!            Margaridae Paulo Rosário, pais de    “mas…” logo a seguir. O descon-        para alojar as 12 turmas. “Não                      antiga, já bastante degradada e
   Olhando o edifício da EPP de         um menino de oito anos. O fator      tentamento vai, por exemplo, pa-       queríamos a habitual, neste tipo                    com um pátio de poeira e pedras.
frente,aescolaprimáriaficadolado        “segurança” é também mais um         ra o chão do recreio de alcatrão,      de casos, alternativa dos conten-                   “Fomos muito bemrecebidos”, su-
esquerdoeapolíciadoladodireito.         ponto positivo e não veem qual-      “que magoa mais quando se cai”,        tores”, explica o professor Paulo                   blinha a coordenadora da escola
Emvésperadamudança, emabril             querproblemanoconvíviocomos          ou“não poderfazerpinos e rodas”,       Renato, responsável pelo agrupa-                    básica, professora Helena Rosa,
de 2012, havia no ar um misto de        polícias.“Ficam mais informados      ou“a sopa não é grande coisa” ou       mento escolar. Foram pensadas                       “fizeram tudo o que puderam pa-
expectativaemrelaçãoànovaexpe-          e despertos para esta profissão”,    ainda“não podemos dartiros com         “várias hipóteses juntamente com                    ra ficarmos bem instalados, in-
riência, aliada a um, nos dias de       consideraMargarida.Omesmogé-         eles (os polícias)”. No entanto, há    aautarquiae surgiu apossibilida-                    cluindo algumas obras de adapta-
hoje, enorme conforto pelasegu-         nerodeapreciaçãotemamãeSan-          umacoisaaindamais“grave”, que          de daEPP”.                                          ção originais, como usarem os es-
rançaquerepresentariaterosfilhos        draEstêvão,quecontaqueoseufi-        nasuasinceridade politicamente            O pioneirismo da opção – ter                     trados que antes estavam junto
naescoladapolícia.“No primeiro          lho, tambémde oito anos,“dizque      incorreta,confessampublicamen-         crianças apartilhar um espaço de                    aos quadros das salas de aula, pa-
diade aulas trouxemos cáos pais         andanaescoladapolíciaequetem         te: “Não nos deixam jogar à bola       formação e treino de futuros polí-                  ra elevar o piso nas casas de ba-
paraveras instalações. Quisemos         muitos amigos polícias”. O avô de    paranão partiros vidros”, desaba-      cias –não crioureceio nos respon-                   nho”. Os pais foram atempada-
que se identificassemcomo espa-         Carolina de 7 anos, Luís Alcobia,    fao inconformado André que, por        sáveis escolares e foram iniciadas                  mente informados e não houve
çoequeconhecessemeconversas-            gostada“ideiadedisciplinaesegu-      acaso, querserfutebolista.             conversações, a nível local e cen-                  notade oposição. V.M.

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Escola_Primária_Segura_Dentro_PSP

  • 1. 18 PAÍS_ SOCIEDADE_SEGURANÇA_CIDADES SEGURANÇA Domingo _20 de janeiro de 2013. Diário de Notícias BALANÇO ‘Tudo corre bem’, diz diretor da PSP › Do outro lado, da PSP já se , habituaram aos “estorni- nhos” (passarinhos ruidosos e irrequietos), como são cari- nhosamente chamados os alunos. O superintendente chefe PintoVieira, diretor da Escola Prática de Polícia, des- taca a“dinâmica diferente” que o projeto trouxe. Neste momento está a decorrer um curso para agentes, com 299 alunos.“Havia espaço disponível e acabámos tam- bém por, com o apoio da câ- mara, fazer algumas obras necessárias”, salienta. A repa- vimentação total da zona da parada foi uma delas. Aulas práticas têm uma assistência diferente, tendo a polícia or- ganizado uma demonstração de cães e atividades de segu- FOTOS DE PEDRO ROCHA / GLOBAL IMAGENS rança rodoviária. Crianças e agentes convivem no pátio, onde, para desgosto dos rapazes, é proibido jogar para que não se partam vidros A escola primária “mais segura do mundo” funciona dentro da PSP Torres Novas. Edifício da Escola Prática da Polícia recebe, há um ano, 278 alunos do ensino básico. Experiência tem funcionado muito bem semcomadireçãodaEPPecomos rança” que podem ir observando VALENTINA MARCELINO responsáveis daautarquia”, conta na sua rotina. O professor Paulo Paulo Renato.“Viramsalas de aula Renato também tem lá o filho e Usaratradicional ameaça“se não melhores, um grande recreio, um contaqueeste“sesenteimportan- comeres a sopa chamo o polícia pavilhãogimnodesportivoeumre- teporestarnaescoladapolícia,pa- Pais gostam da segurança que a escola da polícia fornece mau” é escusado com estes miú- feitórioacimadaprevisãomaisoti- raele foi como umapromoção”. O dos. O mais provável é responde- mistaeissoajudou-osacompreen- professor não tem dúvida de que rem: “Então chama que ele man- da-te embora!” No último ano ha- dere aaceitaramudança, pois era paramelhor”, acrescentao profes- “este grupo de alunos vai ter uma visão muito diferente dos polícias Requalificação bituaram-se a conviver diaria- mente com eles, não porque se tenhamportadomalousejamalvo sor.Quaseumanodepoisninguém searrependeu. Essa satisfação é comprovável e perceberão que o seu trabalho nos ajudano diaadia”. Numadas salas de aula, aturma motivou a mudança de alguma experiência pedagó- emconversacomalgunsdospaise do 4.º ano da professora Anabela ALTERNATIVA Em vez de colo- tral, entre o agrupamento escolar, gica. Simplesmente porque todos avós que, logo pelamanhã, vão ali Fernandes, hámuitos braços no ar car os alunos em contento- aCâmaraMunicipal e aPSP . os dias vão para as aulas que deixar os filhos. Recebidos por a pedir para responder à nossa res, escolaVisconde de São “Eraumdesafio, mas comtodas decorrem nas instalações dapró- agentesdaPSP ,queestãonaporta- perguntasobre se gostamde estar as condições paradarcerto”, subli- priaPSP aEscolaPráticade Polícia , ria,quejásehabituaramàantesin- naquelaescola. Aline, André, Ma- Gião preferiu outrasolução nha Paulo Renato. O soberbo edi- (EPP), em Torres Novas. São 278 vulgar algazarra infantil na zona, ria, João, Diogo, Bernardo, Eva, Jo- e encontrou aPSP fício da escola da polícia, com di- alunos, entre os 6e os 10 anos, e di- confessam-se tranquilos.“Naver- sé ganham avez. Porém, os gene- versas salas de aula disponíveis, zemque andamnaescolamais se- dade,odiaadiaescolarnãosealte- ralizados “gosto muito de estar Arequalificação da escola básica áreas de recreio e até umrefeitório gurado mundo. Reclamações, há rou,masemtermosdeinstalações aqui” ou o“sentimo-nos mais se- Visconde de São Gião obrigou a espaçoso tornaram-se apelativos uma grande: não podem jogar à estão muito melhores”, diz o casal guros” vêm quase todos com um pensar num espaço alternativo para quem vinha de uma escola bolaparanão partiros vidros! Margaridae Paulo Rosário, pais de “mas…” logo a seguir. O descon- para alojar as 12 turmas. “Não antiga, já bastante degradada e Olhando o edifício da EPP de um menino de oito anos. O fator tentamento vai, por exemplo, pa- queríamos a habitual, neste tipo com um pátio de poeira e pedras. frente,aescolaprimáriaficadolado “segurança” é também mais um ra o chão do recreio de alcatrão, de casos, alternativa dos conten- “Fomos muito bemrecebidos”, su- esquerdoeapolíciadoladodireito. ponto positivo e não veem qual- “que magoa mais quando se cai”, tores”, explica o professor Paulo blinha a coordenadora da escola Emvésperadamudança, emabril querproblemanoconvíviocomos ou“não poderfazerpinos e rodas”, Renato, responsável pelo agrupa- básica, professora Helena Rosa, de 2012, havia no ar um misto de polícias.“Ficam mais informados ou“a sopa não é grande coisa” ou mento escolar. Foram pensadas “fizeram tudo o que puderam pa- expectativaemrelaçãoànovaexpe- e despertos para esta profissão”, ainda“não podemos dartiros com “várias hipóteses juntamente com ra ficarmos bem instalados, in- riência, aliada a um, nos dias de consideraMargarida.Omesmogé- eles (os polícias)”. No entanto, há aautarquiae surgiu apossibilida- cluindo algumas obras de adapta- hoje, enorme conforto pelasegu- nerodeapreciaçãotemamãeSan- umacoisaaindamais“grave”, que de daEPP”. ção originais, como usarem os es- rançaquerepresentariaterosfilhos draEstêvão,quecontaqueoseufi- nasuasinceridade politicamente O pioneirismo da opção – ter trados que antes estavam junto naescoladapolícia.“No primeiro lho, tambémde oito anos,“dizque incorreta,confessampublicamen- crianças apartilhar um espaço de aos quadros das salas de aula, pa- diade aulas trouxemos cáos pais andanaescoladapolíciaequetem te: “Não nos deixam jogar à bola formação e treino de futuros polí- ra elevar o piso nas casas de ba- paraveras instalações. Quisemos muitos amigos polícias”. O avô de paranão partiros vidros”, desaba- cias –não crioureceio nos respon- nho”. Os pais foram atempada- que se identificassemcomo espa- Carolina de 7 anos, Luís Alcobia, fao inconformado André que, por sáveis escolares e foram iniciadas mente informados e não houve çoequeconhecessemeconversas- gostada“ideiadedisciplinaesegu- acaso, querserfutebolista. conversações, a nível local e cen- notade oposição. V.M.