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Instituto Superior T´cnico
                    e
Departamento de Matem´tica
                         a
   c˜      ´
Sec¸ao de Algebra e An´lise
                       a




                                               ´
            Apontamentos das Aulas Te´ricas de Algebra Linear
                                     o
                                     1o Semestre 2007/2008

                          LEAmb, LEMat, LQ, MEBiol, MEQ

                                         Paulo Pinto
                              http://www.math.ist.utl.pt/˜ ppinto/




  Conte´ do
       u
  1 Sistemas de Equa¸oes Lineares e
                       c˜                    C´lculo
                                               a         Matricial                                                            2
    1.1 Matrizes . . . . . . . . . . . . .   . . . . .   . . . . . . .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .    2
    1.2 Sistemas de Equa¸oes Lineares .
                          c˜                 . . . . .   . . . . . . .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .    6
    1.3 Matrizes Elementares . . . . . .     . . . . .   . . . . . . .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   13
    1.4 A matriz inversa . . . . . . . .     . . . . .   . . . . . . .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   .   15

  2 Determinante                                                                                                             19

  3 Espa¸os Lineares (Vectoriais)
        c                                                                                                        23
    3.1 Subespa¸os lineares – exemplos: n´ cleo, espa¸o colunas e linhas de
                c                         u           c                                              uma matriz 26
    3.2 Independencia linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .                       . . . . . . 31
    3.3 Bases e dimens˜o de Espa¸os Lineares . . . . . . . . . . . . . . .
                       a         c                                                                   . . . . . . 33
    3.4 Coordenadas de um vector numa base . . . . . . . . . . . . . . . .                           . . . . . . 39

  4 Valores Pr´prios, Vectores Pr´prios e diagonaliza¸˜o de Matrizes
              o                  o                   ca                                                                      40

  5 Produtos Internos                                                                                                        47

  6 Transforma¸oes Lineares
                c˜                                                                                                           59
    6.1 Matriz mudan¸a de base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
                       c                                                                                     .   .   .   .   61
    6.2 Representa¸ao matricial de uma transforma¸ao linear . . . . . . . . .
                   c˜                                c˜                                                      .   .   .   .   62
    6.3 Transforma¸oes injectivas, sobrejectiva e bijectivas – equa¸oes lineares
                    c˜                                             c˜                                        .   .   .   .   66
    6.4 Valores e vectores pr´prios de transforma¸oes lineares . . . . . . . . .
                             o                    c˜                                                         .   .   .   .   70

  7 Algumas Aplica¸oes
                    c˜                                                                                                       71
    7.1 Formas quadr´ticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
                     a                                                                                                       71
    7.2 M´ınimos quadrados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .                                   71
    7.3 Equa¸oes diferenciais ordin´rias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
             c˜                    a                                                                                         71


                                                1
1     Sistemas de Equa¸oes Lineares e C´lculo Matricial
                      c˜               a
1.1    Matrizes
Defini¸˜o 1 Uma matriz A, do tipo m
       ca                                     × n (m por n), ´ uma tabela de mn n´ meros
                                                             e                   u
dispostos em m linhas e n colunas:
                                                                
                                     a11      a12    ···   a1n
                                    a21      a22    ···   a2n   
                                                                
                              A= .            .            .    .
                                    ..        .
                                               .  ···       .
                                                            .    
                                     am1      am2 · · · amn

A linha i de A ´:
               e
                                     ai1 ai2 · · · ain       ,
para cada i = 1, ..., m. A coluna j de A ´:
                                         e
                                                    
                                               a1j
                                          
                                              a2j   
                                                     
                                               .
                                                .    
                                               .    
                                              amj

para cada j = 1, ..., n. Usa-se tamb´m a nota¸ao A = (aij )m×n na qual aij ´ a entrada (i, j)
                                    e        c˜                            e
da matriz A.
   Se m = n, diz-se que A ´ uma matriz quadrada do tipo n × n e as entradas a11 , a22 , ...,
                             e
ann formam a chamada diagonal principal de A.



Exemplo 1 As matrizes
                                                                               
                                                                              4
                 1 −1               1 2 3 4                                  3 
         A=               , B=                           , C=    0 0 7   eD= 
                −2 2                2 0 −2 0                                 2 
                                                                              1

s˜o dos seguintes tipos: A ´ 2 × 2, B ´ 2 × 4, C ´ 1 × 3, A ´ 4 × 1. Tem-se, por exemplo,
 a                          e         e          e          e
a21 = −2, b13 = 3, c12 = 0 e d41 = 1.



Observa¸˜o 1 Uma matriz (real) A do tipo m × n ´ uma aplica¸ao:
       ca                                      e           c˜

                              A : {1, ..., m} × {1, ..., n} −→ R
                                            (i, j) −→ aij



Nota¸˜o 1 O conjunto de todas as matrizes reais do tipo m×n ´ denotado por Matm×n (R).
    ca                                                      e

                                               2
Defini¸˜o 2 Duas matrizes s˜o iguais se forem do mesmo tipo e se as entradas corres-
       ca                           a
pondentes forem iguais, isto ´, A = (aij )m×n e B = (bij )p×q s˜o iguais se m = p, n = q e
                                  e                            a
aij = bij , para i = 1, ..., m e j = 1, ..., n.


Defini¸˜o 3 A soma de duas matrizes do mesmo tipo A = (aij )m×n e B = (bij )m×n ´ a
       ca                                                                      e
matriz
                           A + B = (aij + bij )m×n .


Exemplo 2 Sejam
                                                               
                                                            −1                                        √
              1 4 −1               0 −3 2
     A=                   ,B=                      , C =  −1/2  e D =                      −2        3 .
             −3 2 6                4 −1 −5
                                                            2
                   1 1 1
Tem-se A + B =               e n˜o ´ poss´ somar C com D.
                                a e      ıvel
                   1 1 1


Defini¸˜o 4 O produto de um escalar (n´ mero) α por uma matriz A = (aij )m×n ´ a
       ca                            u                                      e
matriz:
                             αA = (αaij )m×n .


Nota¸˜o 2 A matriz (−1)A ser´ denotada por −A.
    ca                      a


                          1 4 −1
Exemplo 3 Seja A =               . Tem-se, por exemplo,
                         −3 2 6
                                          −2 −8 2
                                 −2A =                              .
                                          6 −4 −12


Defini¸˜o 5 O produto AB de duas matrizes A e B s´ pode ser efectuado se o n´ mero
       ca                                               o                          u
de colunas da 1a matriz, A, fˆr igual ao n´ mero de linhas da 2a matriz, B. Nesse caso, o
                             o            u
produto AB de A = (aij )m×p por B = (bij )p×n ´ definido por:
                                              e
                                           p
                                  AB =          aik bkj         ,
                                          k=1             m×n

isto ´,
      e
                                                                     p                              p
                                                                                                                   
   a11 a12   ···   a1p                                                    a1k bk1        ···              a1k bkn 
 .                 .  b11      · · · b1j · · · b1n   
 .  .       ···    . 
                    .                                             k=1                               k=1           
                        b21   · · · b2j · · · b2n  
                                                                            ···
                                                                                       p
                                                                                            aik bkj         ···
                                                                                                                    
 ai1 ai2    ···   aip   .            .         . =                                                             
                    .  .       ··· . ··· .  
 .                         .           .         .                                   k=1
                                                                                                                    
 .  .       ···    . 
                    .
                                                       
                                                                    p                                 p
                                                                                                                    
                                                                                                                    
                           bp1   · · · bpj · · · bpn                        amk bk1        ···              amk bkn
   am1 am2   ···   amp                                              k=1                               k=1


                                               3
Exemplo 4 Sejam A, B, C e D as matrizes do exemplo 2. N˜o ´ poss´ efectuar, por
                                                        a e     ıvel
exemplo, AB. No entanto, tem-se:
                                                    √ 
                                               2   − 3
                                                    √
                            −5
                    AC =         e CD =  1 − √       3/2  .
                            14
                                              −4 2 3



Observa¸˜o 2 O produto de matrizes n˜o ´ comutativo. Por exemplo, para
       ca                           a e

             0 1             0 −1                      1 0               −1 0
      A=            eB=               tem-se AB =              e BA =             .
             1 0             1 0                       0 −1               0 1

Logo AB = BA.



Defini¸˜o 6 A transposta de uma matriz A = (aij )m×n ´ a matriz
     ca                                             e

                                     AT = (aji )n×m

que se obtem trocando as linhas com as colunas de A.



Exemplo 5 Sejam A e C as matrizes do exemplo 2. Tem-se
                               
                         1 −3
                                                       1
                AT =  4     2       e   C T = −1 −     2           .
                        −1 6                           2



Teorema 1 Sejam A, B, C e D matrizes de tipos apropriados, α e β escalares. S˜o v´lidas
                                                                             a a
as seguintes propriedades para as opera¸oes matriciais.
                                       c˜

   (a) (Comutatividade da soma) A + B = B + A.

   (b) (Associatividade da soma) A + (B + C) = (A + B) + C.

   (c) (Elemento neutro da soma) Existe uma unica matriz 0 do tipo m×n tal que A+0 = A,
                                            ´
para toda a matriz A do tipo m × n. A ` matriz 0, cujas entradas s˜o todas iguais a zero,
                                                                   a
chama-se matriz nula.

  (d) (Sim´trico) Para cada matriz A existe uma unica matriz B tal que A + B = 0. Esta
           e                                    ´
matriz B denota-se por −A.

   (e) (Associatividade do produto por escalares) α (βA) = (αβ) A.

   (f ) (Distributividade) (α + β) A = αA + βA.

                                           4
(g) (Distributividade) α (A + B) = αA + αB.

   (h) (Associatividade do produto de matrizes) A (BC) = (AB) C.

   (i) (Distributividade) A (B + C) = AB + AC         e (B + C) D = BD + CD.

   (j) α (AB) = (αA) B = A (αB).
             T
   (k) AT        = A.

   (l) (A + B)T = AT + B T .

   (m) (αA)T = αAT .

   (n) (AB)T = B T AT .

   (o) (A1 A2 ...An )T = AT ...AT AT , com A1 , A2 , ..., An matrizes de tipos apropriados.
                          n     2 1

       `
   (p) A matriz, do tipo n × n,
                                                        
                                               1 0 ··· 0
                                           
                                              0 1 ··· 0 
                                                         
                                         I=   .
                                               .   .. . 
                                                       . 
                                              .     . .
                                               0 0 ··· 1

chama-se matriz identidade (de ordem n) e ´ tal que
                                          e

                                    AI = A       e   IB = B,

para todas as matrizes A = (aij )m×n e B = (bij )n×m .


Defini¸˜o 7 (i) A diferen¸a entre duas matrizes A e B do mesmo tipo ´ definida por
     ca                 c                                          e

                                         A − B = A + (−B),

ou seja, ´ a soma de A com o sim´trico de B.
         e                      e

   (ii) Sejam A uma matriz do tipo n × n e p ∈ N. A potˆncia p de A ´ definida por
                                                       e            e

                        Ap = A...A e para p = 0 define-se A0 = I.
                               p vezes

         `
   (iii) A matriz do tipo n × n
                                                          
                                         a11 0 · · · 0
                                     
                                         0 a22 · · · 0    
                                                           
                                         .
                                          .      ..   .
                                                      .    ,
                                         .         . .    
                                          0  0 · · · ann

cujas entradas fora da diagonal principal s˜o nulas, chama-se matriz diagonal.
                                           a

                                                 5
Observa¸˜o 3 Tem-se: 1A = A, 0A = 0, A + A = 2A, A + . . . + A = nA.
       ca
                                                                       n vezes




Defini¸˜o 8 (i) Seja A = (aij )n×n uma matriz do tipo n × n. Diz-se que A ´ sim´trica se
        ca                                                                        e     e
A = A , isto ´, se aij = aji , para i, j = 1, ..., n. Diz-se que A ´ anti-sim´trica se A = −AT ,
        T
               e                                                   e         e
isto ´, se aij = −aji , para i, j = 1, ..., n.
     e



1.2      Sistemas de Equa¸oes Lineares
                         c˜
Defini¸˜o 9 Uma equa¸˜o linear com n inc´gnitas x1 , x2 , ..., xn ´ uma equa¸ao da forma
     ca            ca                  o                         e         c˜

                                  a1 x1 + a2 x2 + ... + an xn = b,

em que a1 , a2 , ..., an e b s˜o constantes (reais ou complexos).
                              a


Defini¸˜o 10 Um sistema de m equa¸oes lineares com n inc´gnitas ´ um conjunto de
       ca                           c˜                         o e
equa¸oes da forma
    c˜                  
                         a11 x1 + a12 x2 + ... + a1n xn = b1
                        
                        
                           a21 x1 + a22 x2 + ... + a2n xn = b2
                    (∗)
                        
                                          ...
                        
                          am1 x1 + am2 x2 + ... + amn xn = bm
em que aij e bk s˜o constantes (reais ou complexos), para i, k = 1, ..., m e j = 1, ..., n.
                 a


Observa¸˜o 4 Usando o produto de matrizes definido na sec¸ao anterior, o sistema linear
        ca                                              c˜
acima pode ser escrito como uma equa¸ao matricial
                                    c˜

                                                AX = B,

em que
                                                                                       
                    a11   a12   ···   a1n                     x1                       b1
             
                   a21   a22   ···   a2n   
                                            
                                                     
                                                             x2   
                                                                   
                                                                                   
                                                                                      b2   
                                                                                            
           A=       .
                     .     .
                           .           .
                                       .    ,     X=         .
                                                               .       e        B=    .
                                                                                        .   .
                    .     .···        .                     .                      .   
                    am1 am2 · · · amn                         xn                       bm

A matriz A ´ a matriz dos coeficientes do sistema, X ´ a matriz coluna das inc´gnitas
           e                                            e                        o
e B ´ a matriz coluna dos termos independentes. Uma solu¸ao do sistema linear (∗) ´ uma
    e                                                    c˜                       e
matriz                                         
                                             s1
                                           s2 
                                               
                                      S= .  . 
                                           .
                                            sn

                                                   6
tal que as equa¸oes do sistema s˜o satisfeitas quando substitu´
               c˜               a                             ımos
                               x1 = s1 , x2 = s2 , ..., xn = sn .
Ao conjunto de todas as solu¸oes do sistema chama-se conjunto solu¸ao ou solu¸ao geral do
                            c˜                                    c˜         c˜
sistema.


Exemplo 6 O sistema linear de duas equa¸oes e duas inc´gnitas
                                       c˜             o
                                           x + 2y = 1
                                           2x + y = 0
pode ser escrito do seguinte modo:
                                     1 2      x          1
                                                   =          .
                                     2 1      y          0

                                                                                   −1/3
A solu¸ao (geral) do sistema acima ´ x = −1/3 e y = 2/3 (verifique!), isto ´, X =
      c˜                           e                                      e             .
                                                                                    2/3


Observa¸˜o 5 De modo a facilitar a resolu¸ao de um sistema linear, este pode ser sempre
         ca                                c˜
substitu´ por outro que tenha o mesmo conjunto solu¸ao. Esse outro ´ obtido depois
        ıdo                                              c˜                e
de aplicar sucessivamente opera¸oes sobre as equa¸oes do sistema inicial que n˜o alterem a
                               c˜                c˜                           a
solu¸ao do mesmo. As opera¸oes s˜o:
    c˜                      c˜    a

   - Trocar a posi¸ao de duas equa¸oes do sistema;
                  c˜               c˜
   - Multiplicar uma equa¸ao por um escalar diferente de zero;
                          c˜
   - Somar a uma equa¸ao um m´ ltiplo escalar de outra equa¸ao.
                       c˜        u                          c˜

   Estas s˜o as chamadas opera¸oes elementares. Quando aplicamos opera¸oes elementares
           a                    c˜                                      c˜
as equa¸oes de um sistema linear, s´ os coeficientes e os termos independentes do sistema
`       c˜                          o
s˜o alterados. Assim, podemos aplicar as opera¸oes a matriz
 a                                            c˜ `
                                                              
                                     a11 a12 · · · a1n | b1
                                   a21 a22 · · · a2n | b2 
                                                              
                        [A | B] =  .     .          .    . . ,
                                   . .   . ···
                                          .          .
                                                     .    . . 
                                                          . .
                                    am1 am2 · · · amn | bm
a qual se d´ o nome de matriz aumentada do sistema.
`          a

Defini¸˜o 11 As opera¸oes elementares que podem ser aplicadas as linhas de uma matriz
       ca           c˜                                       `
s˜o as seguintes:
 a

   (i) Trocar a posi¸ao de duas linhas da matriz;
                    c˜

   (ii) Multiplicar uma linha da matriz por um escalar diferente de zero;

   (iii) Somar a uma linha da matriz um m´ ltiplo escalar de outra linha.
                                         u

                                               7
Teorema 2 Se dois sistemas lineares AX = B e CX = D s˜o tais que a matriz aumentada
                                                          a
[C | D] ´ obtida de [A | B] atrav´s de uma opera¸ao elementar, ent˜o os dois sistemas tˆm
        e                        e              c˜                a                    e
o mesmo conjunto solu¸ao, isto ´, s˜o equivalentes.
                       c˜       e a



Observa¸˜o 6 O m´todo que iremos usar para resolver sistemas lineares consiste na aplica¸ao
         ca        e                                                                      c˜
de opera¸oes elementares as linhas da matriz aumentada do sistema de modo a obter uma
        c˜               `
matriz em escada de linhas em rela¸ao a qual o sistema associado seja de f´cil resolu¸ao.
                                  c˜ `                                    a          c˜



Defini¸˜o 12 Uma matriz A = (aij )m×n diz-se em escada de linhas se:
     ca

   (i) Todas as linhas nulas (formadas inteiramente por zeros) est˜o por baixo das linhas
                                                                  a
n˜o nulas;
 a

   (ii) Por baixo (e na mesma coluna) do primeiro elemento n˜o nulo de cada linha e por
                                                            a
baixo dos elementos nulos anteriores da mesma linha, todas as entradas s˜o nulas. Esse
                                                                        a
primeiro elemento n˜o nulo de cada linha tem o nome de pivot.
                    a



Defini¸˜o 13 Seja A uma matriz em escada de linhas. Ao no de pivots de A matriz, isto
       ca
       o
´, ao n de linhas n˜o nulas de A, d´-se o nome de caracter´
e                  a               a                       ıstica de A, car A. Se A fˆr a
                                                                                      o
matriz em escada de linhas obtida de C atrav´s de opera¸oes elementares ent˜o diz-se que a
                                            e          c˜                  a
caracter´ıstica de C ´ car A, tendo-se car C = car A. Temos que carA =carA T .
                      e



Exemplo 7 As seguintes matrizes est˜o em escada de linhas:
                                   a
                                                                    
                                                    2 −1 2 1/2 0 √0
                                                  0 0 −3 1 0      2 
           4 −1             0 1 3 0                                 
     A=            , B=                    , C= 0 0       0 0 0 −5  .
           0 0              0 0 −5 1             
                                                  0 0
                                                                     
                                                           0 0 0 0 
                                                    0 0    0 0 0 0

Pivot de A: 4. Pivots de B: 1, −5. Pivots de C: 2, −3, −5.
   car A = 1, car B = 2 e car C = 3.



Defini¸˜o 14 O m´todo de resolver sistemas lineares que consiste em aplicar opera¸oes
      ca            e                                                               c˜
elementares as linhas da matriz aumentada do respectivo sistema de modo a que essa matriz
            `
fique em escada de linhas, chama-se m´todo de elimina¸˜o de Gauss1 .
                                      e                  ca


  1
      Johann Carl Friedrich Gauss 1777-1855

                                              8
Exemplo 8 O sistema linear         
                                    x+z =3
                                   
                                   
                                   
                                   
                                     x + 2y + 2z = 6
                                   
                                   
                                   
                                   
                                   
                                     3y + 3z = 6
na forma matricial ´
                   e                    
                                1 0 1    x       3
                               1 2 2  y  =  6 .
                                0 3 3    z       6
Consideremos   ent˜o a matriz aumentada e
                  a                          o consequente m´todo de elimina¸ao de Gauss:
                                                               e              c˜
                                                                              
        1 0    1 | 3                   1 0    1 | 3                     1 0 1 | 3
      1 2     2 | 6       −→        0 2    1 | 3  3 −→             0 2 1 | 3 .
                         −L1 +L2 →L2                   − 2 L2 +L3 →L3       3    3
        0 3    3 | 6                   0 3    3 | 6                     0 0 2 | 2
Logo,                                        
                                x+z =3
                                              x=2
                                              
                               
                                             
                                              
                                             
                                 2y + z = 3 ⇔   y=1
                               
                                             
                                              
                               
                                3            
                                              
                                       3     
                                   2
                                     z=2        z = 1.

   Neste exemplo o sistema tem solu¸˜o unica e diz-se poss´
                                   ca ´                   ıvel e determinado.


Exemplo 9 O sistema linear
                         
                          3z − 9w = 6
                         
                         
                         
                         
                           5x + 15y − 10z + 40w = −45
                         
                         
                         
                         
                         
                           x + 3y − z + 5w = −7
´ equivalente a
e                                                
                                         x         
                          0 0   3 −9               6
                         5 15 −10 40   y  =  −45  .
                                            
                                         z 
                          1 3 −1 5                 −7
                                          w
Consideremos ent˜o a matriz aumentada e o consequente m´todo de elimina¸ao de Gauss:
                a                                      e                c˜
                                                                   
            0 0      3 −9 | 6                     1 3 −1 5 | −7
           5 15 −10 40 | −45  −→  1 3 −2 8 | −9                        −→
                                         L1 ↔L3                         −L1 +L2 →L2
            1 3 −1 5 | −7               1
                                          L →L2
                                                  0 0 3 −9 | 6
                                        5 2
                                                                
            1 3 −1 5 | −7                         1 3 −1 5 | −7
     −→  0 0 −1 3 | −2               −→        0 0 −1 3 | −2  .
                                   3L2 +L3 →L3
            0 0 3 −9 | 6                          0 0 0 0 | 0

                                              9
Logo,                                              
                     x + 3y − z + 5w = −7           x = −3y − 2w − 5
                                                ⇔
                                                   
                           −z + 3w = −2                   z = 3w + 2.
As inc´gnitas y e w s˜o livres e as inc´gnitas x e z s˜o n˜o livres. A solu¸ao geral do sistema
      o              a                 o              a a                  c˜
´:
e                                                            
                                      x         −3y − 2w − 5
                                    y               y        
                             X=         =
                                    z  
                                                                ,
                                                    3w + 2      
                                      w                w
para quaisquer y, w ∈ R, isto ´, o conjunto solu¸ao ´ dado por:
                              e                 c˜ e

                        S = {(−3y − 2w − 5, y, 3w + 2, w) : y, w ∈ R} .

Neste exemplo o sistema tem infinitas solu¸oes e diz-se poss´
                                         c˜                ıvel e indeterminado.



Exemplo 10 Seja a ∈ R. O sistema linear
                             
                              x + 2y + z = 3
                             
                             
                             
                             
                               x+y−z =2
                             
                             
                             
                             
                             
                               x + y + (a2 − 5) z = a

´ equivalente a
e                                            
                                1 2    1     x      3
                               1 1  −1   y  =  2  .
                                1 1 a2 − 5   z      a
Consideremos ent˜o a matriz aumentada e o consequente m´todo de elimina¸ao de Gauss:
                a                                       e               c˜
                                                                                 
  1 2     1    3                  1 2     1      3                   1 2     1      3
 1 1    −1    2      −→        0 −1   −2     −1       −→        0 −1   −2     −1  .
                    −L1 +L2 →L2                        −L2 +L3 →L3
  1 1 a2 − 5 a −L1 +L3 →L3 0 −1 a2 − 6 a − 3                         0 0 a2 − 4 a − 2

Se a = 2, ent˜o o sistema ´ poss´ e indeterminado:
             a            e     ıvel
                                             
                           x + 2y + z = 3     x = 3z + 1
                                           ⇔
                                             
                             −y − 2z = −1       y = −2z + 1,

a inc´gnita z ´ livre, as inc´gnitas x e y s˜o n˜o livres e a solu¸ao geral do sistema ´
     o        e              o              a a                   c˜                   e
                                                          
                                         x          3z + 1
                                 X =  y  =  −2z + 1  ,
                                         z             z


                                              10
para qualquer z ∈ R, isto ´, o conjunto solu¸ao ´ dado por:
                          e                 c˜ e

                            S = {(3z + 1, −2z + 1, z) : z ∈ R} .

Assim, se a = 2, o sistema tem infinitas solu¸oes e diz-se poss´
                                             c˜                 ıvel e indeterminado.
   Se a = −2, o sistema n˜o tem solu¸˜o e diz-se imposs´
                           a          ca                   ıvel.
   Se a = −2 e a = 2, o sistema tem a solu¸˜o unica:
                                          ca ´
                                                         
                                   x        (a + 5)/(a + 2)
                             X = y =        a/(a + 2)    
                                   z           1/(a + 2)

e diz-se poss´
             ıvel e determinado.




Observa¸˜o 7 Seja [A | B] a matriz aumentada associada a um sistema linear com n
         ca
inc´gnitas.
   o

   (i) Se car A = car [A | B] = n ent˜o o sistema ´ poss´
                                     a            e     ıvel e determinado (tem uma
unica solu¸ao).
´         c˜

    (ii) Se car A = car [A | B] < n ent˜o o sistema ´ poss´
                                       a            e     ıvel e indeterminado (tem um
no infinito de solu¸oes).
                  c˜

   (iii) Se car A < car [A | B] ent˜o o sistema ´ imposs´
                                   a            e       ıvel (n˜o tem solu¸ao).
                                                               a          c˜

    (iv) Podemos escolher como inc´gnitas livres (podem tomar valores arbitr´rios) do
                                    o                                       a
sistema aquelas que correspondem as colunas, que n˜o contenham pivots, da matriz em
                                    `                a
escada de linhas obtida de A atrav´s de opera¸oes elementares.
                                  e          c˜

   (v) As inc´gnitas n˜o livres do sistema s˜o aquelas que correspondem as colunas,
             o         a                    a                             `
que contenham pivots, da matriz em escada de linhas obtida de A atrav´s de opera¸oes
                                                                     e          c˜
elementares.

   (vi) car A = no de linhas n˜o nulas da matriz em escada de linhas obtida de A = no de
                              a
          o
pivots = n de inc´gnitas n˜o livres.
                 o        a



Teorema 3 Sejam A uma matriz do tipo m × n e B uma matriz do tipo m × 1. Se o sistema
linear AX = B tem duas solu¸oes distintas X0 e X1 (X0 = X1 ), ent˜o ter´ infinitas solu¸oes.
                           c˜                                    a     a              c˜


   Dem. Basta verificar que Xλ = (1 − λ) X0 + λX1 ´ solu¸ao do sistema AX = B, para
                                                 e     c˜
qualquer λ ∈ R.




                                            11
Defini¸˜o 15 Um sistema linear da forma
     ca
                       
                        a11 x1 + a12 x2 + ... + a1n xn = 0
                       
                       
                           a21 x1 + a22 x2 + ... + a2n xn = 0
                       
                                          ...
                       
                          am1 x1 + am2 x2 + ... + amn xn = 0
tem o nome de sistema linear homog´neo. Este sistema poder ser escrito na forma
                                  e
AX = 0.
   Todo o sistema linear homog´neo admite
                              e             pelo menos a solu¸˜o trivial:
                                                             ca
                                             
                                       x1          0
                                      x2     0 
                                             
                                X = .       =  . .
                                      ..     . .
                                       xn          0
Assim, todo o sistema linear homog´neo tem solu¸ao. Al´m disso, ou tem apenas a solu¸ao
                                  e            c˜     e                             c˜
trivial ou tem infinitas solu¸oes.
                            c˜

Teorema 4 Se A = (aij )m×n ´ tal que m < n, ent˜o o sistema linear homog´neo AX = 0
                           e                   a                        e
tem infinitas solu¸oes.
                 c˜

    Dem. Como o sistema tem menos equa¸oes do que inc´gnitas (m < n), o no de linhas
                                            c˜              o
n˜o nulas r da matriz em escada de linhas obtida da matriz aumentada do sistema tamb´m
  a                                                                                    e
´ tal que r < n. Assim, r pivots e n − r inc´gnitas livres as quais podem assumir qualquer
e                                           o
valor real. Logo, o sistema linear homog´neo AX = 0 tem infinitas solu¸oes.
                                        e                               c˜

Teorema 5 Sejam A = (aij )m×n e α, β ∈ R.

   (i) Se X e Y s˜o solu¸oes do sistema AX = 0, ent˜o X + Y tamb´m o ´.
                 a      c˜                         a            e    e

   (ii) Se X ´ solu¸ao do sistema AX = 0, ent˜o αX tamb´m o ´.
             e     c˜                        a         e    e

   (iii) Se X e Y s˜o solu¸oes do sistema AX = 0, ent˜o αX + βY tamb´m o ´.
                   a      c˜                         a              e    e

Teorema 6 Seja A uma matriz do tipo m × n e B = 0 uma matriz do tipo m × 1. Qualquer
solu¸ao X do sistema AX = B escreve-se na forma X = X0 + Y onde X0 ´ uma solu¸ao
    c˜                                                                e          c˜
particular do sistema AX = B e Y ´ uma solu¸ao do sistema homog´neo AX = 0. Assim:
                                 e         c˜                  e
          solu¸ao geral de
              c˜                  solu¸ao particular de
                                      c˜                        solu¸ao geral de
                                                                    c˜
                             =                            +                        .
              AX = B                     AX = B                     AX = 0

   Dem. Sendo X0 uma solu¸ao particular do sistema AX = B, basta escrever
                         c˜
                                   X = X0 + (X − X0 )
e mostrar que X − X0 ´ solu¸ao do sistema homog´neo AX = 0.
                     e     c˜                  e


                                            12
1.3    Matrizes Elementares
Defini¸˜o 16 Uma matriz elementar do tipo n × n ´ uma matriz obtida da matriz iden-
       ca                                         e
tidade I atrav´s de uma unica opera¸ao elementar.
              e         ´          c˜

   (i) A matriz Pij , chamada matriz de permuta¸˜o, ´ a matriz elementar obtida por
                                                    ca e
troca da linha i com a linha j da matriz I. Tem-se:
                                                                   
                          1 0 ···                   ··· 0
                       0 ... ...                        .
                                                         .          
                                                        .          
                       . .                                         
                       . .. 1
                       .
                                                                    
                                                                    
                      
                                 0          1                      
                                                                     ←i
                      
                                   1                               
                                                                    
                      
                Pij =                ..                            
                                                                         .
                                         .                          
                                                                   
                      
                                          1                        
                                                                    
                                 1          0                       ←j
                                                                   
                                                    .. .
                                                       . .
                                                                   
                                               1        .          
                       .                      ..   ..              
                       .
                        .                         .    . 0          
                        0 ···                  ··· 0 1


   (ii) A matriz Ei (α) ´ a matriz elementar obtida da matriz I atrav´s do produto do escalar
                        e                                            e
α = 0 pela linha i da matriz I. Tem-se:
                                                              
                                  1 0 ···               ··· 0
                                                             . 
                                0 ... ...                   . 
                               
                                .                           . 
                                . ...                         
                                .         1                   
                                                              
                      Ei (α) =                α                ←i .
                                                       .. . 
                               
                                                   1      . . 
                                                             . 
                                .                 ..   ..     
                                ..                   .    . 0 
                                  0 ···           ··· 0 1


  (iii) A matriz Eij (α) ´ a matriz elementar obtida da matriz I por soma da linha j com
                           e
um m´ ltiplo α da linha i. Tem-se:
     u
                                                             
                                 1 0 ···               ··· 0
                                0 ... ...                  . 
                                                            . 
                                                           .
                                . .                          
                                . .. 1
                                 .                             ←i
                                                             
                               
                     Eij (α) =              ..               
                                                                     .
                                                .             
                                                             
                                                       .. . 
                                                          . .  ←j
                               
                                       α          1        .
                                .                ..   ..     
                                .
                                 .                   .    . 0 
                                 0 ···            ··· 0 1


                                             13
Exemplo 11 As matrizes elementares do tipo 2 × 2 s˜o:
                                                  a


                              0 1                   α 0                    1 0
               P12 = P21 =          , E1 (α) =            , E2 (α) =             ,
                              1 0                   0 1                    0 α
com α = 0,

                                    1 0                      1 α
                        E12 (α) =              e E21 (α) =             .
                                    α 1                      0 1



Teorema 7 Sejam E uma matriz elementar do tipo m × m e A uma matriz qualquer do
tipo m × n. Ent˜o, EA ´ a matriz obtida de A atrav´s da mesma opera¸ao elementar que
                 a        e                          e                 c˜
originou E. Isto ´, aplicar uma opera¸ao elementar a uma matriz corresponde a multiplicar
                 e                   c˜
essa matriz a esquerda por uma matriz elementar.
            `



Exemplo 12 Consideremos a matriz aumentada          do exemplo 9:
                                                          
                           0 0     3 −9              | 6
                          5 15 −10 40               | −45  .
                           1 3 −1 5                  | −7

A opera¸ao elementar:
       c˜
                                                     
              0 0     3 −9 | 6            1 3 −1 5 | −7
            5 15 −10 40 | −45  −→  5 15 −10 40 | −45  ,
                                 L1 ↔L3
              1 3 −1 5 | −7               0 0  3 −9 | 6

corresponde   a seguinte multiplica¸ao (`
              `                    c˜ a     esquerda):
                                                                      
         0    0 1       0 0      3 −9        | 6         1 3 −1 5 | −7
        0    1 0   5 15 −10 40            | −45  =  5 15 −10 40 | −45  .
         1    0 0       1 3 −1 5             | −7        0 0   3 −9 | 6

A opera¸ao elementar:
       c˜
                                                       
              1 3 −1 5 | −7                 1 3 −1 5 | −7
             5 15 −10 40 | −45  −→  1 3 −2 8 | −9  ,
                                  1
                                    L →L2
              0 0     3 −9 | 6    5 2       0 0 3 −9 | 6

corresponde a seguinte multiplica¸ao (` esquerda):
            `                    c˜ a
                                                                
          1 0 0         1 3 −1 5 | −7                  1 3 −1 5 | −7
         0 1/5 0   5 15 −10 40 | −45  =  1 3 −2 8 | −9  .
          0 0 1         0 0       3 −9 | 6             0 0 3 −9 | 6



                                               14
A opera¸ao elementar:
       c˜
                                                       
              1 3 −1 5 | −7                 1 3 −1 5 | −7
             1 3 −2 8 | −9     −→        0 0 −1 3 | −2  ,
                              −L1 +L2 →L2
              0 0 3 −9 | 6                  0 0 3 −9 | 6

corresponde a seguinte multiplica¸ao
            `                    c˜    (` esquerda):
                                        a
                                                                
            1 0 0         1 3 −1        5 | −7         1 3 −1 5 | −7
          −1 1 0   1 3 −2            8 | −9  =  0 0 −1 3 | −2  .
            0 0 1         0 0 3         −9 | 6         0 0 3 −9 | 6

Finalmente, a opera¸ao elementar:
                   c˜
                                                             
                1 3 −1 5 | −7                     1 3 −1 5 | −7
              0 0 −1 3 | −2           −→       0 0 −1 3 | −2  ,
                                    3L2 +L3 →L3
                0 0 3 −9 | 6                      0 0 0 0 | 0

corresponde a seguinte multiplica¸ao
            `                    c˜    (` esquerda):
                                        a
                                                                
              1 0 0       1 3 −1        5 | −7         1 3 −1 5 | −7
            0 1 0   0 0 −1           3 | −2  =  0 0 −1 3 | −2  .
              0 3 1       0 0 3         −9 | 6         0 0 0 0 | 0

Tem-se ent˜o:
          a
                                                                      
                                   0 0   3 −9 | 6          1 3 −1 5 | −7
                        1
  E23 (3) E12 (−1) E2        P13  5 15 −10 40 | −45  =  0 0 −1 3 | −2  .
                        5
                                   1 3 −1 5 | −7           0 0 0 0 | 0

1.4    A matriz inversa
Defini¸˜o 17 Uma matriz A (do tipo n × n) diz-se invert´ se existir uma matriz B (do
       ca                                             ıvel
tipo n × n) tal que
                                  AB = BA = I.
`
A matriz B chama-se matriz inversa de A e denota-se por A−1 .



Observa¸˜o 8 Obviamente que resulta da defini¸ao de matriz inversa o seguinte facto:
          ca                                 c˜
         −1                           −1
sendo A a matriz inversa de A, ent˜o A ´ invert´ e a sua inversa ´ a pr´pria matriz
                                  a      e      ıvel             e     o
             −1 −1
A, isto ´, (A ) = A.
        e



Exemplo 13 As seguintes matrizes s˜o a inversa uma da outra:
                                  a

                                 −2 1             −1/2 1/6
                            A=            e B=                 .
                                  0 3              0   1/3

                                            15
Teorema 8 A inversa de uma matriz ´ unica.
                                  e´


   Dem. Sejam B e C as inversas de A. Ent˜o,
                                         a

                          B = BI = B (AC) = (BA) C = IC = C.



Teorema 9 (i) Se A = (aij )n×n e B = (bij )n×n s˜o duas matrizes invert´
                                                a                      ıveis, ent˜o AB ´
                                                                                 a     e
invert´ e
      ıvel
                                 (AB)−1 = B −1 A−1 .

                                 ıvel, ent˜o AT ´ invert´ e
   (ii) Se A = (aij )n×n ´ invert´
                         e                a     e       ıvel
                                             −1           T
                                      AT          = A−1       .



Defini¸˜o 18 Uma matriz A = (aij )n×n diz-se n˜o singular se ap´s o m´todo de elimina¸ao
       ca                                       a                 o     e                c˜
de Gauss esta fˆr transformada numa matriz triangular superior (matriz cujas entradas
               o
por baixo da diagonal principal s˜o todas nulas) cujas entradas da diagonal principal sejam
                                 a
todas n˜o nulas. Uma matriz A = (aij )n×n diz-se singular se ap´s o m´todo de elimina¸ao
        a                                                        o     e                 c˜
de Gauss existir (pelo menos) uma linha nula na matriz obtida de A.



Teorema 10 Uma matriz A = (aij )n×n ´ invert´ se e s´ se ´ n˜o singular.
                                    e       ıvel    o e a



Teorema 11 Toda a matriz elementar ´ invert´
                                   e       ıvel e a respectiva inversa ´ tamb´m uma
                                                                       e     e
matriz elementar. Tem-se:

   (i) (Pij )−1 = Pij .

   (ii) (Ei (α))−1 = Ei (1/α), para α = 0.

   (iii) (Eij (α))−1 = Eij (−α).



Teorema 12 (Factoriza¸˜o triangular). Seja A uma matriz n˜o singular do tipo n × n.
                           ca                                     a
Ent˜o ou A admite a factoriza¸ao unica A = LDU ou existe uma matriz de permuta¸ao P
    a                           c˜ ´                                                  c˜
tal que P A admite a factoriza¸ao unica P A = LDU , onde L e U s˜o respectivamente uma
                                c˜ ´                                a
matriz triangular inferior e uma matriz triangular superior com as entradas das diagonais
principais todas iguais a 1, e D ´ uma matriz diagonal com as entradas da diagonal principal
                                 e
todas n˜o nulas.
        a



                                                  16
Observa¸˜o 9 As entradas da diagonal principal da matriz D do teorema 12 s˜o os pivots
         ca                                                               a
que resultam da aplica¸ao do m´todo de elimina¸ao de Gauss a matriz A.
                      c˜      e               c˜           `


                               
                          1 1 1
Exemplo 14 Seja A =  2 1 4 . Tem-se:
                          2 3 5
                                                             
                                   1 1 1        1 0 0      1 1 1
      E23 (1)E13 (−2)E12 (−2)A =  0 −1 2  =  0 −1 0   0 1 −2  .
                                   0 0 5        0 0 5      0 0 1

Logo,                                                                  
                                                        1 0 0      1 1 1
            A = (E12 (−2))−1 (E13 (−2))−1 (E23 (1))−1  0 −1 0   0 1 −2  .
                                                        0 0 5      0 0 1
Isto ´,
     e                                                        
                                               1 0 0      1 1 1
                  A = E12 (2)E13 (2)E23 (−1)  0 −1 0   0 1 −2  ,
                                               0 0 5      0 0 1
ou ainda,
                                       A = LDU ,
com
                                                               
                                                     1      0 0
                      L = E12 (2)E13 (2)E23 (−1) =  2      1 0 ,
                                                     2     −1 1
                                                              
                            1 0 0                     1     1 1
                      D =  0 −1 0  e U =  0              1 −2  .
                            0 0 5                     0     0 1



Observa¸˜o 10 Uma matriz A ´ invert´
        ca                 e       ıvel se e s´ se fˆr igual ao produto de matrizes
                                              o     o
elementares.



Teorema 13 Seja A uma matriz do tipo n × n.

   (i) O sistema associado a AX = B tem solu¸ao unica se e s´ se A fˆr invert´
                                            c˜ ´            o       o        ıvel. Neste
                       −1
caso a solu¸ao ´ X = A B.
           c˜ e

   (ii) O sistema homog´neo AX = 0 tem solu¸ao n˜o trivial se e s´ se A fˆr singular (n˜o
                       e                   c˜ a                  o       o             a
invert´
      ıvel).



                                           17
Teorema 14 Sejam A e B duas matrizes do tipo n × n. Se AB ´ invert´
                                                          e       ıvel, ent˜o A e B
                                                                           a
s˜o invert´
 a        ıveis.


   Dem. Considere o sistema (AB) X = 0. Se B n˜o fosse invert´
                                                    a             ıvel, ent˜o pelo teorema
                                                                           a
13 existiria X = 0 tal que BX = 0. Logo, X = 0 seria solu¸ao n˜o trivial de ABX = 0, o
                                                          c˜ a
que contraria o teorema 13 uma vez que por hip´tese AB ´ invert´
                                              o        e       ıvel. Assim, B ´ invert´
                                                                               e       ıvel.
                                                                                       −1
Finalmente, A ´ invert´ por ser o produto de duas matrizes invert´
               e       ıvel                                        ıveis: A = (AB) B .


Observa¸˜o 11 (Como inverter matrizes do tipo n × n). Seja A uma matriz do tipo
         ca
n × n e consideremos a equa¸ao AX = B. Se A fˆr invert´
                           c˜                o        ıvel temos

                                    AX = B ⇔ X = A−1 B,

isto ´,
     e
                                    AX = IB ⇔ IX = A−1 B.
Assim, para determinar a inversa de A, iremos transformar a matriz aumentada [A | I] na
matriz [I | A−1 ], por meio de opera¸oes elementares aplicadas as linhas de [A | I]. Este
                                    c˜                         `
m´todo tem o nome de m´todo de elimina¸˜o de Gauss-Jordan2 e consistir´ na conti-
  e                       e                  ca                                a
nua¸ao do m´todo de elimina¸ao de Gauss agora aplicado a [matriz triangular superior | ∗],
    c˜       e               c˜
efectuando-se as elimina¸oes de baixo para cima de modo a obter-se [I | A−1 ].
                        c˜


                                  
                          1 1 1
Exemplo 15 (i) Seja A =  2 1 4 . Tem-se
                          2 3 5
                                                                       
              1 1 1 | 1 0 0                       1 1 1 | 1 0 0
  [A | I] =  2 1 4 | 0 1 0          −→        0 −1 2 | −2 1 0               −→
                                 −2L1 +L2 −→L2                              L2 +L3 −→L3
              2 3 5 | 0 0 1 −2L1 +L3 −→L3 0 1 3 | −2 0 1
                                                                       
        1 1 1 | 1 0 0                      1 1 1 |        1       0     0
 −→  0 −1 2 | −2 1 0  1 −→  0 −1 2 | −2                        1     0       −→
                               L3 −→L3                                      −2L3 +L2 −→L2
        0 0 5 | −4 1 1       5             0 0 1 | −4/5 1/5 1/5             −L3 +L1 −→L1
                                                        
                      1 1 0 | 9/5 −1/5 −1/5
                 −→  0 −1 0 | −2/5 3/5 −2/5                   −→
                                                            L2 +L1 −→L1
                      0 0 1 | −4/5 1/5              1/5
                                                        
                        1 0 0 | 7/5 2/5 −3/5
                  −→  0 −1 0 | −2/5 3/5 −2/5  −→
                                                            −L2 −→L2
                        0 0 1 | −4/5 1/5 1/5
                                                             
                           1 0 0 | 7/5           2/5 −3/5
                     −→  0 1 0 | 2/5 −3/5 2/5  .
                           0 0 1 | −4/5 1/5             1/5
   2
       Wilhelm Jordan 1842 – 1899

                                             18
           
                     1 2 3
     (ii) Seja A =  1 1 2         . Tem-se
                     0 1 1
                                                                       
                1 2 3 | 1           0 0                  1 2   3 | 1 0 0
    [A | I] =  1 1 2 | 0           1 0      −→        0 −1 −1 | −1 1 0      −→
                                          −L1 +L2 −→L2                      L2 +L3 −→L3
                0 1 1 | 0           0 1                  0 1   1 | 0 0 1
                                                        
                                        1 2   3 | 1 0 0
                                   −→  0 −1 −1 | −1 1 0  .
                                        0 0   0 | −1 1 1
Logo, A ´ singular e como tal n˜o ´ invert´
        e                      a e        ıvel.




2         Determinante

Defini¸˜o 19 Dados os n´ meros naturais 1, 2, ..., n chama-se permuta¸˜o desses n n´ meros
       ca                u                                          ca            u
a qualquer lista em em que os mesmos sejam apresentados por ordem arbitr´ria.
                                                                         a



Defini¸˜o 20 Seja (i1 i2 ...in ) uma permuta¸ao dos n´ meros naturais 1, 2, ..., n. Diz-se que
      ca                                    c˜          u
um par (ij ik ) ´ uma invers˜o quando (j − k) (ij − ik ) < 0 (isto ´, quando ij e ik aparecerem
                e           a                                      e
na permuta¸ao por ordem decrescente).
            c˜



       ca                     c˜                      ımpar) quando o no m´ximo de in-
Defini¸˜o 21 Uma permuta¸ao (i1 i2 ...in ) diz-se par (´                   a
vers˜es inclu´
    o        ıdas fˆr par (´
                   o       ımpar).




Exemplo 16 A permuta¸ao (21453) ´ ´
                    c˜          e ımpar pois contem as invers˜es (21), (43) e (53).
                                                             o



Defini¸˜o 22 Seja A ∈ Matn×n (R). Chama-se determinante3 de A, e escreve-se |A| ou
       ca
det A, o n´ mero que se obtem do seguinte modo:
          u

   (i) Formam-se todos os produtos poss´ıveis de n factores em que intervenha um elemento
de cada linha e, simultaneamente, um elemento de cada coluna de A.
    3
        O Determinante de uma matriz foi pela primeira vez considerado por Talakazu Seki 1642–1708




                                                     19
(ii) Afecta-se cada produto do sinal + ou do sinal − conforme as permuta¸oes (dos
                                                                                  c˜
n´ meros naturais 1, 2, ..., n) que figuram nos ´
 u                                             ındices de linha e de coluna tenham a mesma
paridade ou n˜o.
             a

   (iii) Somam-se as parcelas obtidas.

   Em resumo:
                        |A| =                            (−1)σ a1j1 a2j2 ...anjn ,
                                      (j1 j2 ...jn )
                                 permuta¸ao de 1,2,...,n
                                        c˜
em que                              
                                     0 se (j1 j2 ...jn ) ´ par
                                                          e
                              σ=
                                    
                                         1 se (j1 j2 ...jn ) ´ ´
                                                             e ımpar.



Observa¸˜o 12 Podemos ainda escrever de modo equivalente:
       ca


                         |A| =                             (−1)σ ai1 1 ai2 2 ...ain n ,
                                      (i1 i2 ...in )
                                 permuta¸ao de 1,2,...,n
                                        c˜
em que
                                     
                                      0 se (i1 i2 ...in ) ´ par
                                                           e
                              σ=
                                     
                                         1 se (i1 i2 ...in ) ´ ´
                                                             e ımpar.



Teorema 15 Seja A ∈ Mat2×2 (R). Ent˜o
                                   a

                                        a11 a12
                            |A| =                     = a11 a22 − a12 a21 .
                                        a21 a22

   (ii) Seja A ∈ Mat3×3 (R). Ent˜o
                                a


         a11 a12 a13
|A| =    a21 a22 a23   = a11 a22 a33 + a12 a23 a31 + a21 a32 a13 − a13 a22 a31 − a12 a21 a33 − a11 a23 a32 .
         a31 a32 a33



Observa¸˜o 13 Se A ∈ Matn×n (R) ent˜o |A| tem n! parcelas, pelo que p.ex. se aplicarmos
         ca                          a
a defini¸ao de determinante a uma matriz 4 × 4, teremos 4! = 24 parcelas.
       c˜



                                                    20
Exemplo 17 (i)
                                 1 −1
                                         = 1(−2) − (−1)2 = 0.
                                 2 −2
   (ii)
               1 2  1
               3 −1 2         = 1(−1)(−3) + 3 + 8 − 1(−1)2 − 6(−3) − 2 = 32.
               2 1 −3



Teorema 16 Sejam A, B ∈ Matn×n (R). Seja λ ∈ R.

   (i) det (AB) = det A det B.

   (ii) Se A fˆr uma matriz triangular superior ou triangular inferior ent˜o det A = produto
              o                                                           a
dos elementos da diagonal principal de A.

   (iii) Se A tiver uma linha nula ent˜o det A = 0.
                                      a

    (iv) Se B fˆr obtida de A multiplicando uma linha de A por um n´ mero real λ ent˜o
               o                                                   u                a
det B = λ det A.

    (v) Se B fˆr obtida de A somando a uma linha de A um m´ ltiplo real λ de uma outra
              o                                           u
linha de A ent˜o det B = det A.
              a

   (vi) Se duas linhas de A forem iguais ent˜o det A = 0.
                                            a

   (vii) Se B fˆr obtida de A trocando duas linhas de A ent˜o det B = − det A.
               o                                           a

   (viii) det AT = det A.

                                           1
   (ix) Se A fˆr invert´ det (A−1 ) =
              o        ıvel                    .
                                         det A
   (x) det (λA) = λn det A.

   (xi) det (AB) = 0 ⇒ det A = 0 ou det B = 0.

   (xii) det (AB) = det (BA).

   (xiii) det(A) = 0 se e s´ se A invert´
                           o            ıvel.

Observa¸˜o 14 Em geral, det(A + B) = det(A) + det(B).
       ca

Defini¸˜o 23 Seja A = (aij ) ∈ Matn×n (R), com n > 1. Seja Aij a matriz do tipo (n −
       ca
1) × (n − 1) que se obtem de A suprimindo a linha i e a coluna j de A. Chama-se a Aij o
menor-ij da matriz A.



                                                21
Teorema 17 (F´rmula de Laplace4 .) Seja A ∈ Matn×n (R), com n > 1. Tem-se
             o
                                                    n
                                      det A =            aij (−1)i+j det Aij .
                                                j=1

Observa¸˜o 15 Seja A ∈ Matn×n (R), com n > 1. Tem-se
       ca
                                                    n
                                      det A =            aij (−1)i+j det Aij .
                                                i=1

Exemplo 18
         1 0 −2 3
                                                        1 −2 3                1 0 −2
         2 1 −1 4                             3+2                         3+4
                             = (−1)(−1)                 2 −1 4 + (−2)(−1)     2 1 −1           =
         0 −1 0 −2
                                                        1 −2 −3               1 0 −2
         1 0 −2 −3
  = (−1)(−3) + (−2)4 + 2(−2)3 − (−1)3 − (−2)2(−3) − 4(−2) + 2 [(−2) − (−2)] = −18


Defini¸˜o 24 Seja A = (aij ) ∈ Matn×n (R), com n > 1. Seja aij = (−1)i+j det Aij onde
       ca
Aij ´ o menor-ij da matriz A. Chama-se a aij o cofactor-ij da matriz A e a matriz
     e                                                                      `
cof A = (aij ) ∈ Matn×n (R), com n > 1, a matriz dos cofactores de A.


Teorema 18 Para qualquer matriz A ∈ Matn×n (R), com n > 1, tem-se
                                           A (cof A)T = (det A) I.
Se det A = 0 ent˜o A ´ invert´ e
                a    e       ıvel
                                                          1
                                           A−1 =              (cof A)T .
                                                        det A

                              a b
Exemplo 19 Seja A =                        ∈ Mat2×2 (R) tal que det A = 0. Ent˜o A ´ invert´ e
                                                                              a    e       ıvel
                              c d
                                                   1            d −b
                                       A−1 =                                .
                                                ad − bc         −c a
(Veja por exemplo o exo 10 da ficha 2.) Note que ad − bc = det A.
    (ii) Podemos usar o teorema 18 para calcular n˜o s´ a inversa de uma matriz (n˜o
                                                    a o                           a
singular) mas tamb´m entradas concretas dessa inversa. Seja
                  e
                                                 
                                         1 0 0
                                  A =  4 5 6 .
                                         7 8 9
A entrada (2, 3) da matriz A−1 ´ dada por
                               e
                 1                           1                      1                    1 0
 (A−1 )23 =          (cof A)T          =         (−1)3+2 det A32 =               − det             = 2.
               det A             23        det A                   −3                    4 6
  4
      Pierre-Simon Laplace 1749–1827

                                                          22
Teorema 19 (Regra de Cramer5 .) Seja A ∈ Matn×n (R) tal que A ´ n˜o singular. Ent˜o
                                                                  e a            a
a unica solu¸ao do sistema de equa¸oes lineares AX = B ´ dada por
  ´         c˜                    c˜                   e
                                                            1
                                      X = A−1 B =               (cof A)T B.
                                                          det A
                                           T                             T
Isto ´, sendo X =
     e                      x1 . . . x n       eB=        b1 . . . bn        tem-se
                                                      n
                                             1                        det Bj
                                      xj =                 akj bk =          ,
                                           det A     k=1
                                                                      det A

onde Bj ´ a matriz obtida de A substituindo a coluna j de A pela matriz coluna B dos
         e
termos independentes.


Exemplo 20 O sistema de equa¸oes lineares
                            c˜
                              
                               2x + y = 8
                              
                              
                              
                              
                                 −x + 2y + 4z = 7
                              
                              
                              
                              
                              
                                 −x + z = 1
pode ser resolvido usando a regra de Cramer:
              8   1    0                        2    8     0                            2   1   8
              7   2    4                       −1    7     4                           −1   2   7
              1   0    1                       −1    1     1                           −1   0   1
        x=                   = 13,     y=                      = −18         e    z=                = 14.
              2    1    0                       2    1     0                            2   1   0
             −1    2    4                      −1    2     4                           −1   2   4
             −1    0    1                      −1    0     1                           −1   0   1



3        Espa¸os Lineares (Vectoriais)
             c

No final do s´culo XIX e no come¸o do s´culo XX tornou-se claro – gra¸as a Grassmann 6 ,
              e                  c     e                              c
      7          8
Peano e a Weyl – que o desenvolvimento axiom´tico da geometria Euclideana podia ser feito
                                             a
apelando a estruturas matem´ticas — Espa¸os Vectoriais e Euclidianos — que desempanham
                            a            c
um papel determinante noutras areas da matem´tica e de outras ciˆncias. O estudo das
                                ´               a                   e
estruturas matem´ticas independente quer dos contextos que lhes deram origem quer dos
                   a
contextos em que aplicam constitui uma das ideias mais ricas da matem´tica do s´culo XX
                                                                      a        e
             a            a                        ´
e ´ indissoci´vel da matem´tica Emmy Noether9 . A Algebra linear ´ basicamente o estuda
  e                                                               e
dessas estruturas.

    5
      Gabriel Cramer 1704–1752
    6
      Hermann Grassmann 1809–1877
    7
      Giuseppe Peano 1858–1932
    8
      Hermanm Weyl 1885–1955
    9
      Emmy Noether 1882–1935

                                                          23
Defini¸˜o 25 Um conjunto n˜o vazio V ´ um espa¸o linear (real) se existirem duas
       ca                      a            e          c
opera¸oes associadas a V , uma soma de elementos de V e um produto de escalares (n´ meros
      c˜                                                                          u
reais) por elementos de V , com as seguintes propriedades:

   (a) (Fecho da soma). Para quaisquer u, v ∈ V tem-se u + v ∈ V .

   (b) (Fecho do produto por escalares). Para quaisquer α ∈ R e u ∈ V tem-se αu ∈ V .

   (c) (Comutatividade da soma). Para quaisquer u, v ∈ V , u + v = v + u.

   (d) (Associatividade da soma). Para quaisquer u, v, w ∈ V , u + (v + w) = (u + v) + w.

   (e) (Elemento neutro da soma). Existe um elemento de V designado por 0 tal que, para
qualquer u ∈ V , u + 0 = u.

   (f ) (Sim´trico). Para cada (qualquer) u ∈ V existe v ∈ V tal que u + v = 0. A v
            e
chama-se o sim´trico de u e denota-se por −u.
                e

   (g) (Associatividade do produto por escalares). Para quaisquer α, β ∈ R e u ∈ V ,
α (βu) = (αβ) u.

    (h) (Distributividade em rela¸ao a soma de vectores). Para quaisquer α ∈ R e u, v ∈ V ,
                                 c˜ `
α (u + v) = αu + αv.

   (i) (Distributividade em rela¸ao a soma de escalares). Para quaisquer α, β ∈ R e u ∈ V ,
                                c˜ `
(α + β) u = αu + βu.

   (j) Para qualquer u ∈ V , 1u = u.



Observa¸˜o 16 Aos elementos de V chamaremos vectores.
       ca



Exemplo 21 Exemplos de espa¸os lineares:
                           c

   (i) Rn , com as opera¸oes usuais:
                        c˜

              (u1 , u2 , ..., un ) + (v1 , v2 , ..., vn ) = (u1 + v1 , u2 + v2 , ..., un + vn ),

                              α(u1 , u2 , ..., un ) = (αu1 , αu2 , ..., αun ).

   (ii) Matm×n (R) (conjunto de todas as matrizes reais do tipo m × n), com as opera¸oes
                                                                                    c˜
(usuais): A + B e αA.

   (iii) O conjunto de todas as fun¸oes reais de vari´vel real definidas num conjunto n˜o
                                   c˜                a                                a
vazio S ⊆ R, com as opera¸oes usuais:
                         c˜

                                      (f + g)(x) = f (x) + g(x),

                                                     24
(αf )(x) = αf (x).

   (iv) O conjunto P de todos os polin´mios reais, com as opera¸oes usuais.
                                      o                        c˜

   (v) O conjunto Pn de todos os polin´mios reais de grau menor ou igual a n, com as
                                      o
opera¸oes usuais.
     c˜


Observa¸˜o 17 Um mesmo conjunto pode servir para formar espa¸os lineares diferentes:
       ca                                                   c

   (i) O conjunto dos n´ meros reais R, com a soma definida por
                       u

                                       u    v = u + v + 1,

e o produto por escalares definido por

                                       α · u = αu + α − 1,

´ um espa¸o linear. (Neste caso o elemento neutro ´ −1.)
e        c                                        e

   (ii) O conjunto dos n´ meros reais maiores do que zero, com a soma definida por
                        u

                                           u   v = uv,

e o produto por escalares definido por

                                           α · u = uα ,

´ um espa¸o linear. (Neste caso o elemento neutro ´ 1.)
e        c                                        e


Observa¸˜o 18 Altera¸oes nos conjuntos considerados anteriormente podem resultar em
         ca            c˜
conjuntos que n˜o s˜o espa¸os lineares.
               a a        c

    (i) O conjunto {(x, y) ∈ R2 : x ≥ 0 e y ≥ 0}, com as opera¸oes usuais, n˜o ´ um espa¸o
                                                              c˜            a e         c
linear. Por exemplo, os sim´tricos n˜o est˜o no conjunto.
                            e        a     a

   (ii) O conjunto V = {a0 + a1 t + ... + an tn : a0 , a1 , ..., an ∈ R e an = 0}, com as opera¸oes
                                                                                               c˜
usuais, n˜o ´ um espa¸o linear. Por exemplo:
         a e         c

                       tn , −tn + t ∈ V , mas tn + (−tn + t) = t ∈ V .
                                                                 /

  (iii) O conjunto U = {f : R −→ R tais que f (1) = 2}, com as opera¸oes usuais, n˜o ´
                                                                    c˜            a e
um espa¸o linear. Por exemplo, se f1 , f2 ∈ U ,
        c

                         (f1 + f2 ) (1) = f1 (1) + f2 (1) = 2 + 2 = 4 = 2.

Logo, f1 + f2 ∈ U .
              /



                                                25
3.1    Subespa¸os lineares – exemplos: n´ cleo, espa¸o colunas e li-
               c                        u           c
       nhas de uma matriz

Defini¸˜o 26 Seja V um espa¸o linear. Diz-se que S ´ um subespa¸o de V se S ´ um
      ca                      c                        e               c   e
subconjunto de V e se S, com as opera¸oes de V , fˆr um espa¸o linear.
                                     c˜           o         c



Observa¸˜o 19 No entanto, para mostrar que um certo conjunto S ⊂ V ´ um subespa¸o
         ca                                                                 e             c
do espa¸o linear V , n˜o ser´ necess´rio verificar as 10 propriedades da defini¸ao 25, como se
       c              a     a       a                                        c˜
pode ver no seguinte teorema.



Teorema 20 Um subconjunto n˜o vazio S de um espa¸o linear V ´ um subespa¸o de V se
                           a                    c           e           c
e s´ se:
   o

   (i) Para quaisquer u, v ∈ S tem-se u + v ∈ S.

   (ii) Para quaisquer α ∈ R e u ∈ S tem-se αu ∈ S.



Exemplo 22 Exemplos de subespa¸os:
                              c

   (i) Os unicos subespa¸os do espa¸o linear R, com as opera¸oes usuais, s˜o {0} e R.
          ´             c          c                        c˜            a

   (ii) Os subespa¸os do espa¸o linear R3 , com as opera¸oes usuais, s˜o: {(0, 0, 0)}, R3 ,
                   c          c                           c˜          a
todas as rectas que passam pela origem e todos os planos que passam pela origem.

   (iii) O conjunto de todas as matrizes (reais) triangulares superiores (do tipo n × n) ´ um
                                                                                         e
subespa¸o do espa¸o linear Matn×n (R), com as opera¸oes usuais.
        c         c                                    c˜

    (iv) O conjunto de todas as fun¸oes reais definidas e cont´
                                      c˜                          ınuas em I ⊂ R (I ´ um
                                                                                      e
intervalo) ´ um subespa¸o do espa¸o linear de todas as fun¸oes f : I −→ R, com as opera¸oes
           e           c         c                        c˜                            c˜
usuais.

   (v) Seja A uma matriz (real) do tipo m × n. O conjunto

                 C(A) = {b ∈ Rm : Au = b tem pelo menos uma solu¸ao u}
                                                                c˜

   ´ um subespa¸o do espa¸o linear Rm , com as opera¸oes usuais, ao qual se d´ o nome de
   e           c         c                          c˜                       a
espa¸o das colunas de A.
     c

   (vi) Seja A uma matriz (real) do tipo m × n. O conjunto

                               Nuc(A) = {u ∈ Rn : Au = 0}

´ um subespa¸o do espa¸o linear Rn , com as opera¸oes usuais, ao qual se d´ o nome de
e           c         c                          c˜                       a
espa¸o nulo ou n´cleo de A.
    c            u

                                             26
Observa¸˜o 20 (i) Se A ´ invert´ ent˜o Nuc(A) = {0}.
       ca              e       ıvel a

   (ii) Se Nuc(A) = {0} ent˜o A ´ invert´
                           a    e       ıvel.

   (iii) Poderemos obter subespa¸os de um espa¸o linear atrav´s de combina¸oes lineares
                                c             c              e            c˜
de vectores desse espa¸o.
                      c



Defini¸˜o 27 Seja S um subconjunto n˜o vazio de um espa¸o linear V . Diz-se que um vector
         ca                                       a    c
u ´ combina¸˜o linear finita dos elementos de S, se existir um no finito de elementos de
  e                ca
S, u1 , ..., uk , e de escalares λ1 , ..., λk tais que
                                                             k
                             u = λ1 u1 + ... + λk uk =            λ i ui .
                                                            i=1

Ao cojunto de todas as combina¸oes lineares finitas de elementos de S chama-se expans˜o
                               c˜                                                    a
linear de S e designa-se por L(S). Se S ´ o conjunto vazio ∅, escreve-se L(∅) = {0}.
                                        e



Teorema 21 Seja S um subconjunto n˜o vazio de um espa¸o linear V . A expans˜o linear
                                     a                  c                  a
L(S) de S ´ o menor subespa¸o de V que cont´m S. Deste modo, a L(S) tamb´m se chama
          e                c               e                            e
o subespa¸o gerado por S, e diz-se que S gera L(S).
          c



Observa¸˜o 21 Seja S e T dois subconjuntos n˜o vazios de um espa¸o linear V , com S ⊂ T .
        ca                                  a                   c
Se L(S) = V ent˜o L(T ) = V .
               a



Exemplo 23 (i) O espa¸o linear R2 ´ gerado por qualquer dos seguintes conjuntos de vec-
                      c             e
tores:
               {(1, 0), (0, 1)}, {(1, 2), (−1, 11)} e {(23, 8), (6, 14)}.
   (ii) O subespa¸o {(x, y) ∈ R2 : y = 2x} do espa¸o linear R2 ´ gerado por qualquer dos
                  c                               c            e
seguintes conjuntos de vectores:

                          {(1, 2)}, {(−2, −4)} e {(77, 154)}.

   (iii) O espa¸o linear Pn de todos os polin´mios de grau menor ou igual a n, ´ gerado
               c                             o                                 e
por qualquer dos seguintes conjuntos de vectores:

                2     n                      2               n          t t2     tn
          {1, t, t , ..., t }, {1, 1 + t, (1 + t) , ..., (1 + t) } e {1, , , ..., }.
                                                                        1! 2!    n!
   (iv) O espa¸o linear P de todos os polin´mios, ´ gerado pelo conjunto infinito de vectores:
              c                            o      e

                                        {1, t, t2 , ...}.

                                                 27
(v) O espa¸o linear V de todas as fun¸oes f : R → R diferenci´veis tais que f (x) = af (x)
              c                          c˜                     a
                               ax
´ gerado pela fun¸ao f1 (x) = e , i.e. V = L({f1 }).
e                c˜
   (vi) Seja A uma matriz (real) do tipo m × n. O espa¸o das colunas de A,
                                                        c
                  C(A) = {b ∈ Rm : Au = b tem pelo menos uma solu¸ao u} ,
                                                                 c˜
´ o subespa¸o (do
e          c        espa¸o linear Rm ) gerado pelas colunas de A, uma vez que:
                        c
                                                                                     
   b1        a11     a12 · · · a1n      u1            a11          a12           a1n
 b2   a21         a22 · · · a2n  
                                     u2          a21        a22          a2n            
                                                                                       
 . = .
    .   .           .
                      . ···      .   .  = u1  .  + u2  .  + ... + un  .
                                 .  .               .           .                          .
 .           .       .          .       .          .           .             ..             
   bm        am1    am2 · · · amn       un           am1           am2           amn
    (vii) Seja A uma matriz (real) do tipo m × n. Ao subespa¸o linear de Rn gerado pelas
                                                            c
linhas de A d´-se o nome de espa¸o das linhas de A e designa-se por L(A).
              a                  c

   (viii) Sejam
                                                
                              1 −3 1          −1 2
            0 0 0                                                                  2 0
    A=                , B =  0 0 7  , C =  2 −4                     e D=                .
            0 0 0                                                                  0 −1
                              0 0 0           −2 4
Tem-se
                    C(A) = {(0, 0)}, Nuc(A) = R3        e L(A) = {(0, 0, 0)}.
C(B) = L ({(1, 0, 0) , (1, 7, 0)}) , Nuc(B) = L ({(3, 1, 0)}) e L(B) = L ({(1, −3, 1) , (0, 0, 7)}) .
         C(C) = L ({(−1, 2, −2)}) , Nuc(C) = L ({(2, 1)}) e L(C) = L ({(−1, 2)}) .
     C(D) = L ({(2, 0) , (0, −1)}) , Nuc(D) = {(0, 0)} e L(D) = L ({(2, 0) , (0, −1)}) .

   (ix) Seja U = {A ∈ Mat3×2 (R) : a12       = a21 = a32 = 0 e a11 + 2a31 = 0}. Tem-se, para
A ∈ U,
                                                                      
                a11 a12       −2a31           0            −2 0          0 0
          A=   a21 a22  =  0              a22  = a31  0 0  + a22  0 1  ,
                a31 a32         a31           0             1 0          0 0
com a31 , a22 ∈ R. Logo,
                                             
                                    −2 0     0 0 
                             U = L  0 0 , 0 1  .
                                                  
                                      1 0     0 0
   (x) Seja U = {p(t) = a0 + a1 t + a2 t2 ∈ P2 : p(1) = p(0)}. Tem-se, para p(t) ∈ U ,
             p(1) = p(0) ⇐⇒ a0 + a1 + a2 = a0 ⇐⇒ a1 + a2 = 0 ⇐⇒ a1 = −a2 .
Logo,

                           p(t) = a0 − a2 t + a2 t2 = a0 1 + a2 −t + t2 ,
com a0 , a2 ∈ R. Assim,
                                      U =L      1, −t + t2   .

                                                28
Teorema 22 Se U e V s˜o subespa¸os do espa¸o linear W , ent˜o:
                     a         c          c                a

   (i) O conjunto U ∩ V ´ um subespa¸o linear de W .
                        e           c

                                                     e             c         ´
   (ii) O conjunto U + V = {u + v : u ∈ U e v ∈ V } ´ um subespa¸o de W . E o menor
subespa¸o de W que cont´m U ∪ V . O conjunto U ∪ V em geral n˜o ´ um subespa¸o. Tem-se
        c              e                                     a e            c
U + V = L(U ∪ V ).



Exemplo 24 (i) Em R3 , considere os subespa¸os:
                                           c

         U = {(x, y, z) ∈ R3 : x + y − 2z = 0} e V = L ({(1, 1, −1), (1, 2, 1)}) .

Seja v ∈ V , ent˜o
                a

                     v = α(1, 1, −1) + β(1, 2, 1) = (α + β, α + 2β, −α + β),

com α, β ∈ R. Para que v esteja tamb´m em U ´ preciso que:
                                    e       e

                             (α + β) + (α + 2β) − 2 (−α + β) = 0.

A ultima equa¸ao ´ equivalente a 4α + β = 0 ⇐⇒ β = −4α. Logo,
  ´          c˜ e

     U ∩ V = {(−3α, −7α, −5α) : α ∈ R} = {α(−3, −7, −5) : α ∈ R} = L ({(3, 7, 5)}) .

   (ii) Em R3 , considere os subespa¸os:
                                    c

              U = L ({(1, −1, 1), (1, 2, 2)})   e V = L ({(2, 1, 1), (−1, 1, 3)}) .

Seja v ∈ U , ent˜o
                a

                     v = α(1, −1, 1) + β(1, 2, 2) = (α + β, −α + 2β, α + 2β),

com α, β ∈ R. Para que v esteja tamb´m em V ´ preciso que:
                                    e       e

                     (α + β, −α + 2β, α + 2β) = λ(2, 1, 1) + µ(−1, 1, 3) =
                                              = (2λ − µ, λ + µ, λ + 3µ) ,

com λ, µ ∈ R. Deste modo,             
                                       α + β = 2λ − µ
                                      
                                      
                                      
                                      
                                        −α + 2β = λ + µ
                                      
                                      
                                      
                                      
                                      
                                        α + 2β = λ + 3µ.
Considerando a matriz aumentada tem-se
                                                                             
   1 1 | 2λ − µ                    1 1 | 2λ − µ                    1 1 | 2λ − µ
 −1 2 | λ + µ          −→       0 3 |   3λ         −→         0 3 |   3λ     
                      L1 +L2 →L2                  − 1 L2 +L3 →L3
   1 2 | λ + 3µ −L1 +L3 →L3 0 1 | −λ + 4µ           3              0 0 | −2λ + 4µ

                                                29
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  • 1. Instituto Superior T´cnico e Departamento de Matem´tica a c˜ ´ Sec¸ao de Algebra e An´lise a ´ Apontamentos das Aulas Te´ricas de Algebra Linear o 1o Semestre 2007/2008 LEAmb, LEMat, LQ, MEBiol, MEQ Paulo Pinto http://www.math.ist.utl.pt/˜ ppinto/ Conte´ do u 1 Sistemas de Equa¸oes Lineares e c˜ C´lculo a Matricial 2 1.1 Matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 1.2 Sistemas de Equa¸oes Lineares . c˜ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 1.3 Matrizes Elementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 1.4 A matriz inversa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 2 Determinante 19 3 Espa¸os Lineares (Vectoriais) c 23 3.1 Subespa¸os lineares – exemplos: n´ cleo, espa¸o colunas e linhas de c u c uma matriz 26 3.2 Independencia linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 3.3 Bases e dimens˜o de Espa¸os Lineares . . . . . . . . . . . . . . . a c . . . . . . 33 3.4 Coordenadas de um vector numa base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 4 Valores Pr´prios, Vectores Pr´prios e diagonaliza¸˜o de Matrizes o o ca 40 5 Produtos Internos 47 6 Transforma¸oes Lineares c˜ 59 6.1 Matriz mudan¸a de base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . c . . . . 61 6.2 Representa¸ao matricial de uma transforma¸ao linear . . . . . . . . . c˜ c˜ . . . . 62 6.3 Transforma¸oes injectivas, sobrejectiva e bijectivas – equa¸oes lineares c˜ c˜ . . . . 66 6.4 Valores e vectores pr´prios de transforma¸oes lineares . . . . . . . . . o c˜ . . . . 70 7 Algumas Aplica¸oes c˜ 71 7.1 Formas quadr´ticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . a 71 7.2 M´ınimos quadrados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 7.3 Equa¸oes diferenciais ordin´rias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . c˜ a 71 1
  • 2. 1 Sistemas de Equa¸oes Lineares e C´lculo Matricial c˜ a 1.1 Matrizes Defini¸˜o 1 Uma matriz A, do tipo m ca × n (m por n), ´ uma tabela de mn n´ meros e u dispostos em m linhas e n colunas:   a11 a12 ··· a1n  a21 a22 ··· a2n    A= . . . .  .. . . ··· . .  am1 am2 · · · amn A linha i de A ´: e ai1 ai2 · · · ain , para cada i = 1, ..., m. A coluna j de A ´: e   a1j   a2j    . .   .  amj para cada j = 1, ..., n. Usa-se tamb´m a nota¸ao A = (aij )m×n na qual aij ´ a entrada (i, j) e c˜ e da matriz A. Se m = n, diz-se que A ´ uma matriz quadrada do tipo n × n e as entradas a11 , a22 , ..., e ann formam a chamada diagonal principal de A. Exemplo 1 As matrizes   4 1 −1 1 2 3 4  3  A= , B= , C= 0 0 7 eD=  −2 2 2 0 −2 0  2  1 s˜o dos seguintes tipos: A ´ 2 × 2, B ´ 2 × 4, C ´ 1 × 3, A ´ 4 × 1. Tem-se, por exemplo, a e e e e a21 = −2, b13 = 3, c12 = 0 e d41 = 1. Observa¸˜o 1 Uma matriz (real) A do tipo m × n ´ uma aplica¸ao: ca e c˜ A : {1, ..., m} × {1, ..., n} −→ R (i, j) −→ aij Nota¸˜o 1 O conjunto de todas as matrizes reais do tipo m×n ´ denotado por Matm×n (R). ca e 2
  • 3. Defini¸˜o 2 Duas matrizes s˜o iguais se forem do mesmo tipo e se as entradas corres- ca a pondentes forem iguais, isto ´, A = (aij )m×n e B = (bij )p×q s˜o iguais se m = p, n = q e e a aij = bij , para i = 1, ..., m e j = 1, ..., n. Defini¸˜o 3 A soma de duas matrizes do mesmo tipo A = (aij )m×n e B = (bij )m×n ´ a ca e matriz A + B = (aij + bij )m×n . Exemplo 2 Sejam   −1 √ 1 4 −1 0 −3 2 A= ,B= , C =  −1/2  e D = −2 3 . −3 2 6 4 −1 −5 2 1 1 1 Tem-se A + B = e n˜o ´ poss´ somar C com D. a e ıvel 1 1 1 Defini¸˜o 4 O produto de um escalar (n´ mero) α por uma matriz A = (aij )m×n ´ a ca u e matriz: αA = (αaij )m×n . Nota¸˜o 2 A matriz (−1)A ser´ denotada por −A. ca a 1 4 −1 Exemplo 3 Seja A = . Tem-se, por exemplo, −3 2 6 −2 −8 2 −2A = . 6 −4 −12 Defini¸˜o 5 O produto AB de duas matrizes A e B s´ pode ser efectuado se o n´ mero ca o u de colunas da 1a matriz, A, fˆr igual ao n´ mero de linhas da 2a matriz, B. Nesse caso, o o u produto AB de A = (aij )m×p por B = (bij )p×n ´ definido por: e p AB = aik bkj , k=1 m×n isto ´, e    p p  a11 a12 ··· a1p   a1k bk1 ··· a1k bkn   . .  b11 · · · b1j · · · b1n   . . ··· .  .   k=1 k=1     b21 · · · b2j · · · b2n   ··· p aik bkj ···   ai1 ai2 ··· aip   . . . =  .  . ··· . ··· .    . . . . k=1   . . ··· .  .   p p   bp1 · · · bpj · · · bpn amk bk1 ··· amk bkn am1 am2 ··· amp k=1 k=1 3
  • 4. Exemplo 4 Sejam A, B, C e D as matrizes do exemplo 2. N˜o ´ poss´ efectuar, por a e ıvel exemplo, AB. No entanto, tem-se:  √  2 − 3 √ −5 AC = e CD =  1 − √ 3/2  . 14 −4 2 3 Observa¸˜o 2 O produto de matrizes n˜o ´ comutativo. Por exemplo, para ca a e 0 1 0 −1 1 0 −1 0 A= eB= tem-se AB = e BA = . 1 0 1 0 0 −1 0 1 Logo AB = BA. Defini¸˜o 6 A transposta de uma matriz A = (aij )m×n ´ a matriz ca e AT = (aji )n×m que se obtem trocando as linhas com as colunas de A. Exemplo 5 Sejam A e C as matrizes do exemplo 2. Tem-se   1 −3 1 AT =  4 2  e C T = −1 − 2 . −1 6 2 Teorema 1 Sejam A, B, C e D matrizes de tipos apropriados, α e β escalares. S˜o v´lidas a a as seguintes propriedades para as opera¸oes matriciais. c˜ (a) (Comutatividade da soma) A + B = B + A. (b) (Associatividade da soma) A + (B + C) = (A + B) + C. (c) (Elemento neutro da soma) Existe uma unica matriz 0 do tipo m×n tal que A+0 = A, ´ para toda a matriz A do tipo m × n. A ` matriz 0, cujas entradas s˜o todas iguais a zero, a chama-se matriz nula. (d) (Sim´trico) Para cada matriz A existe uma unica matriz B tal que A + B = 0. Esta e ´ matriz B denota-se por −A. (e) (Associatividade do produto por escalares) α (βA) = (αβ) A. (f ) (Distributividade) (α + β) A = αA + βA. 4
  • 5. (g) (Distributividade) α (A + B) = αA + αB. (h) (Associatividade do produto de matrizes) A (BC) = (AB) C. (i) (Distributividade) A (B + C) = AB + AC e (B + C) D = BD + CD. (j) α (AB) = (αA) B = A (αB). T (k) AT = A. (l) (A + B)T = AT + B T . (m) (αA)T = αAT . (n) (AB)T = B T AT . (o) (A1 A2 ...An )T = AT ...AT AT , com A1 , A2 , ..., An matrizes de tipos apropriados. n 2 1 ` (p) A matriz, do tipo n × n,   1 0 ··· 0   0 1 ··· 0   I= . . .. .  .   . . . 0 0 ··· 1 chama-se matriz identidade (de ordem n) e ´ tal que e AI = A e IB = B, para todas as matrizes A = (aij )m×n e B = (bij )n×m . Defini¸˜o 7 (i) A diferen¸a entre duas matrizes A e B do mesmo tipo ´ definida por ca c e A − B = A + (−B), ou seja, ´ a soma de A com o sim´trico de B. e e (ii) Sejam A uma matriz do tipo n × n e p ∈ N. A potˆncia p de A ´ definida por e e Ap = A...A e para p = 0 define-se A0 = I. p vezes ` (iii) A matriz do tipo n × n   a11 0 · · · 0   0 a22 · · · 0    . . .. . . ,  . . .  0 0 · · · ann cujas entradas fora da diagonal principal s˜o nulas, chama-se matriz diagonal. a 5
  • 6. Observa¸˜o 3 Tem-se: 1A = A, 0A = 0, A + A = 2A, A + . . . + A = nA. ca n vezes Defini¸˜o 8 (i) Seja A = (aij )n×n uma matriz do tipo n × n. Diz-se que A ´ sim´trica se ca e e A = A , isto ´, se aij = aji , para i, j = 1, ..., n. Diz-se que A ´ anti-sim´trica se A = −AT , T e e e isto ´, se aij = −aji , para i, j = 1, ..., n. e 1.2 Sistemas de Equa¸oes Lineares c˜ Defini¸˜o 9 Uma equa¸˜o linear com n inc´gnitas x1 , x2 , ..., xn ´ uma equa¸ao da forma ca ca o e c˜ a1 x1 + a2 x2 + ... + an xn = b, em que a1 , a2 , ..., an e b s˜o constantes (reais ou complexos). a Defini¸˜o 10 Um sistema de m equa¸oes lineares com n inc´gnitas ´ um conjunto de ca c˜ o e equa¸oes da forma c˜   a11 x1 + a12 x2 + ... + a1n xn = b1   a21 x1 + a22 x2 + ... + a2n xn = b2 (∗)   ...  am1 x1 + am2 x2 + ... + amn xn = bm em que aij e bk s˜o constantes (reais ou complexos), para i, k = 1, ..., m e j = 1, ..., n. a Observa¸˜o 4 Usando o produto de matrizes definido na sec¸ao anterior, o sistema linear ca c˜ acima pode ser escrito como uma equa¸ao matricial c˜ AX = B, em que       a11 a12 ··· a1n x1 b1   a21 a22 ··· a2n     x2     b2   A= . . . . . . , X= . .  e B= . . .  . .··· .   .   .  am1 am2 · · · amn xn bm A matriz A ´ a matriz dos coeficientes do sistema, X ´ a matriz coluna das inc´gnitas e e o e B ´ a matriz coluna dos termos independentes. Uma solu¸ao do sistema linear (∗) ´ uma e c˜ e matriz   s1  s2    S= .  .   . sn 6
  • 7. tal que as equa¸oes do sistema s˜o satisfeitas quando substitu´ c˜ a ımos x1 = s1 , x2 = s2 , ..., xn = sn . Ao conjunto de todas as solu¸oes do sistema chama-se conjunto solu¸ao ou solu¸ao geral do c˜ c˜ c˜ sistema. Exemplo 6 O sistema linear de duas equa¸oes e duas inc´gnitas c˜ o x + 2y = 1 2x + y = 0 pode ser escrito do seguinte modo: 1 2 x 1 = . 2 1 y 0 −1/3 A solu¸ao (geral) do sistema acima ´ x = −1/3 e y = 2/3 (verifique!), isto ´, X = c˜ e e . 2/3 Observa¸˜o 5 De modo a facilitar a resolu¸ao de um sistema linear, este pode ser sempre ca c˜ substitu´ por outro que tenha o mesmo conjunto solu¸ao. Esse outro ´ obtido depois ıdo c˜ e de aplicar sucessivamente opera¸oes sobre as equa¸oes do sistema inicial que n˜o alterem a c˜ c˜ a solu¸ao do mesmo. As opera¸oes s˜o: c˜ c˜ a - Trocar a posi¸ao de duas equa¸oes do sistema; c˜ c˜ - Multiplicar uma equa¸ao por um escalar diferente de zero; c˜ - Somar a uma equa¸ao um m´ ltiplo escalar de outra equa¸ao. c˜ u c˜ Estas s˜o as chamadas opera¸oes elementares. Quando aplicamos opera¸oes elementares a c˜ c˜ as equa¸oes de um sistema linear, s´ os coeficientes e os termos independentes do sistema ` c˜ o s˜o alterados. Assim, podemos aplicar as opera¸oes a matriz a c˜ `   a11 a12 · · · a1n | b1  a21 a22 · · · a2n | b2    [A | B] =  . . . . . ,  . . . ··· . . . . .  . . am1 am2 · · · amn | bm a qual se d´ o nome de matriz aumentada do sistema. ` a Defini¸˜o 11 As opera¸oes elementares que podem ser aplicadas as linhas de uma matriz ca c˜ ` s˜o as seguintes: a (i) Trocar a posi¸ao de duas linhas da matriz; c˜ (ii) Multiplicar uma linha da matriz por um escalar diferente de zero; (iii) Somar a uma linha da matriz um m´ ltiplo escalar de outra linha. u 7
  • 8. Teorema 2 Se dois sistemas lineares AX = B e CX = D s˜o tais que a matriz aumentada a [C | D] ´ obtida de [A | B] atrav´s de uma opera¸ao elementar, ent˜o os dois sistemas tˆm e e c˜ a e o mesmo conjunto solu¸ao, isto ´, s˜o equivalentes. c˜ e a Observa¸˜o 6 O m´todo que iremos usar para resolver sistemas lineares consiste na aplica¸ao ca e c˜ de opera¸oes elementares as linhas da matriz aumentada do sistema de modo a obter uma c˜ ` matriz em escada de linhas em rela¸ao a qual o sistema associado seja de f´cil resolu¸ao. c˜ ` a c˜ Defini¸˜o 12 Uma matriz A = (aij )m×n diz-se em escada de linhas se: ca (i) Todas as linhas nulas (formadas inteiramente por zeros) est˜o por baixo das linhas a n˜o nulas; a (ii) Por baixo (e na mesma coluna) do primeiro elemento n˜o nulo de cada linha e por a baixo dos elementos nulos anteriores da mesma linha, todas as entradas s˜o nulas. Esse a primeiro elemento n˜o nulo de cada linha tem o nome de pivot. a Defini¸˜o 13 Seja A uma matriz em escada de linhas. Ao no de pivots de A matriz, isto ca o ´, ao n de linhas n˜o nulas de A, d´-se o nome de caracter´ e a a ıstica de A, car A. Se A fˆr a o matriz em escada de linhas obtida de C atrav´s de opera¸oes elementares ent˜o diz-se que a e c˜ a caracter´ıstica de C ´ car A, tendo-se car C = car A. Temos que carA =carA T . e Exemplo 7 As seguintes matrizes est˜o em escada de linhas: a   2 −1 2 1/2 0 √0  0 0 −3 1 0 2  4 −1 0 1 3 0   A= , B= , C= 0 0 0 0 0 −5  . 0 0 0 0 −5 1   0 0  0 0 0 0  0 0 0 0 0 0 Pivot de A: 4. Pivots de B: 1, −5. Pivots de C: 2, −3, −5. car A = 1, car B = 2 e car C = 3. Defini¸˜o 14 O m´todo de resolver sistemas lineares que consiste em aplicar opera¸oes ca e c˜ elementares as linhas da matriz aumentada do respectivo sistema de modo a que essa matriz ` fique em escada de linhas, chama-se m´todo de elimina¸˜o de Gauss1 . e ca 1 Johann Carl Friedrich Gauss 1777-1855 8
  • 9. Exemplo 8 O sistema linear   x+z =3     x + 2y + 2z = 6      3y + 3z = 6 na forma matricial ´ e      1 0 1 x 3  1 2 2  y  =  6 . 0 3 3 z 6 Consideremos ent˜o a matriz aumentada e a o consequente m´todo de elimina¸ao de Gauss: e c˜       1 0 1 | 3 1 0 1 | 3 1 0 1 | 3  1 2 2 | 6  −→  0 2 1 | 3  3 −→  0 2 1 | 3 . −L1 +L2 →L2 − 2 L2 +L3 →L3 3 3 0 3 3 | 6 0 3 3 | 6 0 0 2 | 2 Logo,    x+z =3   x=2        2y + z = 3 ⇔ y=1       3    3  2 z=2 z = 1. Neste exemplo o sistema tem solu¸˜o unica e diz-se poss´ ca ´ ıvel e determinado. Exemplo 9 O sistema linear   3z − 9w = 6     5x + 15y − 10z + 40w = −45      x + 3y − z + 5w = −7 ´ equivalente a e    x    0 0 3 −9  6  5 15 −10 40   y  =  −45  .   z  1 3 −1 5 −7 w Consideremos ent˜o a matriz aumentada e o consequente m´todo de elimina¸ao de Gauss: a e c˜     0 0 3 −9 | 6 1 3 −1 5 | −7  5 15 −10 40 | −45  −→  1 3 −2 8 | −9  −→ L1 ↔L3 −L1 +L2 →L2 1 3 −1 5 | −7 1 L →L2 0 0 3 −9 | 6 5 2     1 3 −1 5 | −7 1 3 −1 5 | −7 −→  0 0 −1 3 | −2  −→  0 0 −1 3 | −2  . 3L2 +L3 →L3 0 0 3 −9 | 6 0 0 0 0 | 0 9
  • 10. Logo,    x + 3y − z + 5w = −7  x = −3y − 2w − 5 ⇔   −z + 3w = −2 z = 3w + 2. As inc´gnitas y e w s˜o livres e as inc´gnitas x e z s˜o n˜o livres. A solu¸ao geral do sistema o a o a a c˜ ´: e     x −3y − 2w − 5  y   y  X= =  z   , 3w + 2  w w para quaisquer y, w ∈ R, isto ´, o conjunto solu¸ao ´ dado por: e c˜ e S = {(−3y − 2w − 5, y, 3w + 2, w) : y, w ∈ R} . Neste exemplo o sistema tem infinitas solu¸oes e diz-se poss´ c˜ ıvel e indeterminado. Exemplo 10 Seja a ∈ R. O sistema linear   x + 2y + z = 3     x+y−z =2      x + y + (a2 − 5) z = a ´ equivalente a e      1 2 1 x 3  1 1 −1   y  =  2  . 1 1 a2 − 5 z a Consideremos ent˜o a matriz aumentada e o consequente m´todo de elimina¸ao de Gauss: a e c˜       1 2 1 3 1 2 1 3 1 2 1 3  1 1 −1 2  −→  0 −1 −2 −1  −→  0 −1 −2 −1  . −L1 +L2 →L2 −L2 +L3 →L3 1 1 a2 − 5 a −L1 +L3 →L3 0 −1 a2 − 6 a − 3 0 0 a2 − 4 a − 2 Se a = 2, ent˜o o sistema ´ poss´ e indeterminado: a e ıvel    x + 2y + z = 3  x = 3z + 1 ⇔   −y − 2z = −1 y = −2z + 1, a inc´gnita z ´ livre, as inc´gnitas x e y s˜o n˜o livres e a solu¸ao geral do sistema ´ o e o a a c˜ e     x 3z + 1 X =  y  =  −2z + 1  , z z 10
  • 11. para qualquer z ∈ R, isto ´, o conjunto solu¸ao ´ dado por: e c˜ e S = {(3z + 1, −2z + 1, z) : z ∈ R} . Assim, se a = 2, o sistema tem infinitas solu¸oes e diz-se poss´ c˜ ıvel e indeterminado. Se a = −2, o sistema n˜o tem solu¸˜o e diz-se imposs´ a ca ıvel. Se a = −2 e a = 2, o sistema tem a solu¸˜o unica: ca ´     x (a + 5)/(a + 2) X = y = a/(a + 2)  z 1/(a + 2) e diz-se poss´ ıvel e determinado. Observa¸˜o 7 Seja [A | B] a matriz aumentada associada a um sistema linear com n ca inc´gnitas. o (i) Se car A = car [A | B] = n ent˜o o sistema ´ poss´ a e ıvel e determinado (tem uma unica solu¸ao). ´ c˜ (ii) Se car A = car [A | B] < n ent˜o o sistema ´ poss´ a e ıvel e indeterminado (tem um no infinito de solu¸oes). c˜ (iii) Se car A < car [A | B] ent˜o o sistema ´ imposs´ a e ıvel (n˜o tem solu¸ao). a c˜ (iv) Podemos escolher como inc´gnitas livres (podem tomar valores arbitr´rios) do o a sistema aquelas que correspondem as colunas, que n˜o contenham pivots, da matriz em ` a escada de linhas obtida de A atrav´s de opera¸oes elementares. e c˜ (v) As inc´gnitas n˜o livres do sistema s˜o aquelas que correspondem as colunas, o a a ` que contenham pivots, da matriz em escada de linhas obtida de A atrav´s de opera¸oes e c˜ elementares. (vi) car A = no de linhas n˜o nulas da matriz em escada de linhas obtida de A = no de a o pivots = n de inc´gnitas n˜o livres. o a Teorema 3 Sejam A uma matriz do tipo m × n e B uma matriz do tipo m × 1. Se o sistema linear AX = B tem duas solu¸oes distintas X0 e X1 (X0 = X1 ), ent˜o ter´ infinitas solu¸oes. c˜ a a c˜ Dem. Basta verificar que Xλ = (1 − λ) X0 + λX1 ´ solu¸ao do sistema AX = B, para e c˜ qualquer λ ∈ R. 11
  • 12. Defini¸˜o 15 Um sistema linear da forma ca   a11 x1 + a12 x2 + ... + a1n xn = 0   a21 x1 + a22 x2 + ... + a2n xn = 0   ...  am1 x1 + am2 x2 + ... + amn xn = 0 tem o nome de sistema linear homog´neo. Este sistema poder ser escrito na forma e AX = 0. Todo o sistema linear homog´neo admite e pelo menos a solu¸˜o trivial: ca     x1 0  x2   0      X = .  =  . .  ..   . . xn 0 Assim, todo o sistema linear homog´neo tem solu¸ao. Al´m disso, ou tem apenas a solu¸ao e c˜ e c˜ trivial ou tem infinitas solu¸oes. c˜ Teorema 4 Se A = (aij )m×n ´ tal que m < n, ent˜o o sistema linear homog´neo AX = 0 e a e tem infinitas solu¸oes. c˜ Dem. Como o sistema tem menos equa¸oes do que inc´gnitas (m < n), o no de linhas c˜ o n˜o nulas r da matriz em escada de linhas obtida da matriz aumentada do sistema tamb´m a e ´ tal que r < n. Assim, r pivots e n − r inc´gnitas livres as quais podem assumir qualquer e o valor real. Logo, o sistema linear homog´neo AX = 0 tem infinitas solu¸oes. e c˜ Teorema 5 Sejam A = (aij )m×n e α, β ∈ R. (i) Se X e Y s˜o solu¸oes do sistema AX = 0, ent˜o X + Y tamb´m o ´. a c˜ a e e (ii) Se X ´ solu¸ao do sistema AX = 0, ent˜o αX tamb´m o ´. e c˜ a e e (iii) Se X e Y s˜o solu¸oes do sistema AX = 0, ent˜o αX + βY tamb´m o ´. a c˜ a e e Teorema 6 Seja A uma matriz do tipo m × n e B = 0 uma matriz do tipo m × 1. Qualquer solu¸ao X do sistema AX = B escreve-se na forma X = X0 + Y onde X0 ´ uma solu¸ao c˜ e c˜ particular do sistema AX = B e Y ´ uma solu¸ao do sistema homog´neo AX = 0. Assim: e c˜ e solu¸ao geral de c˜ solu¸ao particular de c˜ solu¸ao geral de c˜ = + . AX = B AX = B AX = 0 Dem. Sendo X0 uma solu¸ao particular do sistema AX = B, basta escrever c˜ X = X0 + (X − X0 ) e mostrar que X − X0 ´ solu¸ao do sistema homog´neo AX = 0. e c˜ e 12
  • 13. 1.3 Matrizes Elementares Defini¸˜o 16 Uma matriz elementar do tipo n × n ´ uma matriz obtida da matriz iden- ca e tidade I atrav´s de uma unica opera¸ao elementar. e ´ c˜ (i) A matriz Pij , chamada matriz de permuta¸˜o, ´ a matriz elementar obtida por ca e troca da linha i com a linha j da matriz I. Tem-se:   1 0 ··· ··· 0  0 ... ... . .   .   . .   . .. 1  .     0 1   ←i   1    Pij =  ..  . .      1    1 0  ←j   .. . . .    1 .   . .. ..   . . . . 0  0 ··· ··· 0 1 (ii) A matriz Ei (α) ´ a matriz elementar obtida da matriz I atrav´s do produto do escalar e e α = 0 pela linha i da matriz I. Tem-se:   1 0 ··· ··· 0 .   0 ... ... .    . .   . ...   . 1    Ei (α) =  α  ←i .  .. .    1 . .  .   . .. ..   .. . . 0  0 ··· ··· 0 1 (iii) A matriz Eij (α) ´ a matriz elementar obtida da matriz I por soma da linha j com e um m´ ltiplo α da linha i. Tem-se: u   1 0 ··· ··· 0  0 ... ... .  .   .  . .   . .. 1 .  ←i    Eij (α) =  ..  . .    .. .  . .  ←j   α 1 .  . .. ..   . . . . 0  0 ··· ··· 0 1 13
  • 14. Exemplo 11 As matrizes elementares do tipo 2 × 2 s˜o: a 0 1 α 0 1 0 P12 = P21 = , E1 (α) = , E2 (α) = , 1 0 0 1 0 α com α = 0, 1 0 1 α E12 (α) = e E21 (α) = . α 1 0 1 Teorema 7 Sejam E uma matriz elementar do tipo m × m e A uma matriz qualquer do tipo m × n. Ent˜o, EA ´ a matriz obtida de A atrav´s da mesma opera¸ao elementar que a e e c˜ originou E. Isto ´, aplicar uma opera¸ao elementar a uma matriz corresponde a multiplicar e c˜ essa matriz a esquerda por uma matriz elementar. ` Exemplo 12 Consideremos a matriz aumentada do exemplo 9:   0 0 3 −9 | 6  5 15 −10 40 | −45  . 1 3 −1 5 | −7 A opera¸ao elementar: c˜     0 0 3 −9 | 6 1 3 −1 5 | −7  5 15 −10 40 | −45  −→  5 15 −10 40 | −45  , L1 ↔L3 1 3 −1 5 | −7 0 0 3 −9 | 6 corresponde a seguinte multiplica¸ao (` ` c˜ a esquerda):      0 0 1 0 0 3 −9 | 6 1 3 −1 5 | −7  0 1 0   5 15 −10 40 | −45  =  5 15 −10 40 | −45  . 1 0 0 1 3 −1 5 | −7 0 0 3 −9 | 6 A opera¸ao elementar: c˜     1 3 −1 5 | −7 1 3 −1 5 | −7  5 15 −10 40 | −45  −→  1 3 −2 8 | −9  , 1 L →L2 0 0 3 −9 | 6 5 2 0 0 3 −9 | 6 corresponde a seguinte multiplica¸ao (` esquerda): ` c˜ a      1 0 0 1 3 −1 5 | −7 1 3 −1 5 | −7  0 1/5 0   5 15 −10 40 | −45  =  1 3 −2 8 | −9  . 0 0 1 0 0 3 −9 | 6 0 0 3 −9 | 6 14
  • 15. A opera¸ao elementar: c˜     1 3 −1 5 | −7 1 3 −1 5 | −7  1 3 −2 8 | −9  −→  0 0 −1 3 | −2  , −L1 +L2 →L2 0 0 3 −9 | 6 0 0 3 −9 | 6 corresponde a seguinte multiplica¸ao ` c˜ (` esquerda): a      1 0 0 1 3 −1 5 | −7 1 3 −1 5 | −7  −1 1 0   1 3 −2 8 | −9  =  0 0 −1 3 | −2  . 0 0 1 0 0 3 −9 | 6 0 0 3 −9 | 6 Finalmente, a opera¸ao elementar: c˜     1 3 −1 5 | −7 1 3 −1 5 | −7  0 0 −1 3 | −2  −→  0 0 −1 3 | −2  , 3L2 +L3 →L3 0 0 3 −9 | 6 0 0 0 0 | 0 corresponde a seguinte multiplica¸ao ` c˜ (` esquerda): a      1 0 0 1 3 −1 5 | −7 1 3 −1 5 | −7  0 1 0   0 0 −1 3 | −2  =  0 0 −1 3 | −2  . 0 3 1 0 0 3 −9 | 6 0 0 0 0 | 0 Tem-se ent˜o: a     0 0 3 −9 | 6 1 3 −1 5 | −7 1 E23 (3) E12 (−1) E2 P13  5 15 −10 40 | −45  =  0 0 −1 3 | −2  . 5 1 3 −1 5 | −7 0 0 0 0 | 0 1.4 A matriz inversa Defini¸˜o 17 Uma matriz A (do tipo n × n) diz-se invert´ se existir uma matriz B (do ca ıvel tipo n × n) tal que AB = BA = I. ` A matriz B chama-se matriz inversa de A e denota-se por A−1 . Observa¸˜o 8 Obviamente que resulta da defini¸ao de matriz inversa o seguinte facto: ca c˜ −1 −1 sendo A a matriz inversa de A, ent˜o A ´ invert´ e a sua inversa ´ a pr´pria matriz a e ıvel e o −1 −1 A, isto ´, (A ) = A. e Exemplo 13 As seguintes matrizes s˜o a inversa uma da outra: a −2 1 −1/2 1/6 A= e B= . 0 3 0 1/3 15
  • 16. Teorema 8 A inversa de uma matriz ´ unica. e´ Dem. Sejam B e C as inversas de A. Ent˜o, a B = BI = B (AC) = (BA) C = IC = C. Teorema 9 (i) Se A = (aij )n×n e B = (bij )n×n s˜o duas matrizes invert´ a ıveis, ent˜o AB ´ a e invert´ e ıvel (AB)−1 = B −1 A−1 . ıvel, ent˜o AT ´ invert´ e (ii) Se A = (aij )n×n ´ invert´ e a e ıvel −1 T AT = A−1 . Defini¸˜o 18 Uma matriz A = (aij )n×n diz-se n˜o singular se ap´s o m´todo de elimina¸ao ca a o e c˜ de Gauss esta fˆr transformada numa matriz triangular superior (matriz cujas entradas o por baixo da diagonal principal s˜o todas nulas) cujas entradas da diagonal principal sejam a todas n˜o nulas. Uma matriz A = (aij )n×n diz-se singular se ap´s o m´todo de elimina¸ao a o e c˜ de Gauss existir (pelo menos) uma linha nula na matriz obtida de A. Teorema 10 Uma matriz A = (aij )n×n ´ invert´ se e s´ se ´ n˜o singular. e ıvel o e a Teorema 11 Toda a matriz elementar ´ invert´ e ıvel e a respectiva inversa ´ tamb´m uma e e matriz elementar. Tem-se: (i) (Pij )−1 = Pij . (ii) (Ei (α))−1 = Ei (1/α), para α = 0. (iii) (Eij (α))−1 = Eij (−α). Teorema 12 (Factoriza¸˜o triangular). Seja A uma matriz n˜o singular do tipo n × n. ca a Ent˜o ou A admite a factoriza¸ao unica A = LDU ou existe uma matriz de permuta¸ao P a c˜ ´ c˜ tal que P A admite a factoriza¸ao unica P A = LDU , onde L e U s˜o respectivamente uma c˜ ´ a matriz triangular inferior e uma matriz triangular superior com as entradas das diagonais principais todas iguais a 1, e D ´ uma matriz diagonal com as entradas da diagonal principal e todas n˜o nulas. a 16
  • 17. Observa¸˜o 9 As entradas da diagonal principal da matriz D do teorema 12 s˜o os pivots ca a que resultam da aplica¸ao do m´todo de elimina¸ao de Gauss a matriz A. c˜ e c˜ `   1 1 1 Exemplo 14 Seja A =  2 1 4 . Tem-se: 2 3 5      1 1 1 1 0 0 1 1 1 E23 (1)E13 (−2)E12 (−2)A =  0 −1 2  =  0 −1 0   0 1 −2  . 0 0 5 0 0 5 0 0 1 Logo,    1 0 0 1 1 1 A = (E12 (−2))−1 (E13 (−2))−1 (E23 (1))−1  0 −1 0   0 1 −2  . 0 0 5 0 0 1 Isto ´, e    1 0 0 1 1 1 A = E12 (2)E13 (2)E23 (−1)  0 −1 0   0 1 −2  , 0 0 5 0 0 1 ou ainda, A = LDU , com   1 0 0 L = E12 (2)E13 (2)E23 (−1) =  2 1 0 , 2 −1 1     1 0 0 1 1 1 D =  0 −1 0  e U =  0 1 −2  . 0 0 5 0 0 1 Observa¸˜o 10 Uma matriz A ´ invert´ ca e ıvel se e s´ se fˆr igual ao produto de matrizes o o elementares. Teorema 13 Seja A uma matriz do tipo n × n. (i) O sistema associado a AX = B tem solu¸ao unica se e s´ se A fˆr invert´ c˜ ´ o o ıvel. Neste −1 caso a solu¸ao ´ X = A B. c˜ e (ii) O sistema homog´neo AX = 0 tem solu¸ao n˜o trivial se e s´ se A fˆr singular (n˜o e c˜ a o o a invert´ ıvel). 17
  • 18. Teorema 14 Sejam A e B duas matrizes do tipo n × n. Se AB ´ invert´ e ıvel, ent˜o A e B a s˜o invert´ a ıveis. Dem. Considere o sistema (AB) X = 0. Se B n˜o fosse invert´ a ıvel, ent˜o pelo teorema a 13 existiria X = 0 tal que BX = 0. Logo, X = 0 seria solu¸ao n˜o trivial de ABX = 0, o c˜ a que contraria o teorema 13 uma vez que por hip´tese AB ´ invert´ o e ıvel. Assim, B ´ invert´ e ıvel. −1 Finalmente, A ´ invert´ por ser o produto de duas matrizes invert´ e ıvel ıveis: A = (AB) B . Observa¸˜o 11 (Como inverter matrizes do tipo n × n). Seja A uma matriz do tipo ca n × n e consideremos a equa¸ao AX = B. Se A fˆr invert´ c˜ o ıvel temos AX = B ⇔ X = A−1 B, isto ´, e AX = IB ⇔ IX = A−1 B. Assim, para determinar a inversa de A, iremos transformar a matriz aumentada [A | I] na matriz [I | A−1 ], por meio de opera¸oes elementares aplicadas as linhas de [A | I]. Este c˜ ` m´todo tem o nome de m´todo de elimina¸˜o de Gauss-Jordan2 e consistir´ na conti- e e ca a nua¸ao do m´todo de elimina¸ao de Gauss agora aplicado a [matriz triangular superior | ∗], c˜ e c˜ efectuando-se as elimina¸oes de baixo para cima de modo a obter-se [I | A−1 ]. c˜   1 1 1 Exemplo 15 (i) Seja A =  2 1 4 . Tem-se 2 3 5     1 1 1 | 1 0 0 1 1 1 | 1 0 0 [A | I] =  2 1 4 | 0 1 0  −→  0 −1 2 | −2 1 0  −→ −2L1 +L2 −→L2 L2 +L3 −→L3 2 3 5 | 0 0 1 −2L1 +L3 −→L3 0 1 3 | −2 0 1     1 1 1 | 1 0 0 1 1 1 | 1 0 0 −→  0 −1 2 | −2 1 0  1 −→  0 −1 2 | −2 1 0  −→ L3 −→L3 −2L3 +L2 −→L2 0 0 5 | −4 1 1 5 0 0 1 | −4/5 1/5 1/5 −L3 +L1 −→L1   1 1 0 | 9/5 −1/5 −1/5 −→  0 −1 0 | −2/5 3/5 −2/5  −→ L2 +L1 −→L1 0 0 1 | −4/5 1/5 1/5   1 0 0 | 7/5 2/5 −3/5 −→  0 −1 0 | −2/5 3/5 −2/5  −→ −L2 −→L2 0 0 1 | −4/5 1/5 1/5   1 0 0 | 7/5 2/5 −3/5 −→  0 1 0 | 2/5 −3/5 2/5  . 0 0 1 | −4/5 1/5 1/5 2 Wilhelm Jordan 1842 – 1899 18
  • 19.  1 2 3 (ii) Seja A =  1 1 2 . Tem-se 0 1 1     1 2 3 | 1 0 0 1 2 3 | 1 0 0 [A | I] =  1 1 2 | 0 1 0  −→  0 −1 −1 | −1 1 0  −→ −L1 +L2 −→L2 L2 +L3 −→L3 0 1 1 | 0 0 1 0 1 1 | 0 0 1   1 2 3 | 1 0 0 −→  0 −1 −1 | −1 1 0  . 0 0 0 | −1 1 1 Logo, A ´ singular e como tal n˜o ´ invert´ e a e ıvel. 2 Determinante Defini¸˜o 19 Dados os n´ meros naturais 1, 2, ..., n chama-se permuta¸˜o desses n n´ meros ca u ca u a qualquer lista em em que os mesmos sejam apresentados por ordem arbitr´ria. a Defini¸˜o 20 Seja (i1 i2 ...in ) uma permuta¸ao dos n´ meros naturais 1, 2, ..., n. Diz-se que ca c˜ u um par (ij ik ) ´ uma invers˜o quando (j − k) (ij − ik ) < 0 (isto ´, quando ij e ik aparecerem e a e na permuta¸ao por ordem decrescente). c˜ ca c˜ ımpar) quando o no m´ximo de in- Defini¸˜o 21 Uma permuta¸ao (i1 i2 ...in ) diz-se par (´ a vers˜es inclu´ o ıdas fˆr par (´ o ımpar). Exemplo 16 A permuta¸ao (21453) ´ ´ c˜ e ımpar pois contem as invers˜es (21), (43) e (53). o Defini¸˜o 22 Seja A ∈ Matn×n (R). Chama-se determinante3 de A, e escreve-se |A| ou ca det A, o n´ mero que se obtem do seguinte modo: u (i) Formam-se todos os produtos poss´ıveis de n factores em que intervenha um elemento de cada linha e, simultaneamente, um elemento de cada coluna de A. 3 O Determinante de uma matriz foi pela primeira vez considerado por Talakazu Seki 1642–1708 19
  • 20. (ii) Afecta-se cada produto do sinal + ou do sinal − conforme as permuta¸oes (dos c˜ n´ meros naturais 1, 2, ..., n) que figuram nos ´ u ındices de linha e de coluna tenham a mesma paridade ou n˜o. a (iii) Somam-se as parcelas obtidas. Em resumo: |A| = (−1)σ a1j1 a2j2 ...anjn , (j1 j2 ...jn ) permuta¸ao de 1,2,...,n c˜ em que   0 se (j1 j2 ...jn ) ´ par e σ=  1 se (j1 j2 ...jn ) ´ ´ e ımpar. Observa¸˜o 12 Podemos ainda escrever de modo equivalente: ca |A| = (−1)σ ai1 1 ai2 2 ...ain n , (i1 i2 ...in ) permuta¸ao de 1,2,...,n c˜ em que   0 se (i1 i2 ...in ) ´ par e σ=  1 se (i1 i2 ...in ) ´ ´ e ımpar. Teorema 15 Seja A ∈ Mat2×2 (R). Ent˜o a a11 a12 |A| = = a11 a22 − a12 a21 . a21 a22 (ii) Seja A ∈ Mat3×3 (R). Ent˜o a a11 a12 a13 |A| = a21 a22 a23 = a11 a22 a33 + a12 a23 a31 + a21 a32 a13 − a13 a22 a31 − a12 a21 a33 − a11 a23 a32 . a31 a32 a33 Observa¸˜o 13 Se A ∈ Matn×n (R) ent˜o |A| tem n! parcelas, pelo que p.ex. se aplicarmos ca a a defini¸ao de determinante a uma matriz 4 × 4, teremos 4! = 24 parcelas. c˜ 20
  • 21. Exemplo 17 (i) 1 −1 = 1(−2) − (−1)2 = 0. 2 −2 (ii) 1 2 1 3 −1 2 = 1(−1)(−3) + 3 + 8 − 1(−1)2 − 6(−3) − 2 = 32. 2 1 −3 Teorema 16 Sejam A, B ∈ Matn×n (R). Seja λ ∈ R. (i) det (AB) = det A det B. (ii) Se A fˆr uma matriz triangular superior ou triangular inferior ent˜o det A = produto o a dos elementos da diagonal principal de A. (iii) Se A tiver uma linha nula ent˜o det A = 0. a (iv) Se B fˆr obtida de A multiplicando uma linha de A por um n´ mero real λ ent˜o o u a det B = λ det A. (v) Se B fˆr obtida de A somando a uma linha de A um m´ ltiplo real λ de uma outra o u linha de A ent˜o det B = det A. a (vi) Se duas linhas de A forem iguais ent˜o det A = 0. a (vii) Se B fˆr obtida de A trocando duas linhas de A ent˜o det B = − det A. o a (viii) det AT = det A. 1 (ix) Se A fˆr invert´ det (A−1 ) = o ıvel . det A (x) det (λA) = λn det A. (xi) det (AB) = 0 ⇒ det A = 0 ou det B = 0. (xii) det (AB) = det (BA). (xiii) det(A) = 0 se e s´ se A invert´ o ıvel. Observa¸˜o 14 Em geral, det(A + B) = det(A) + det(B). ca Defini¸˜o 23 Seja A = (aij ) ∈ Matn×n (R), com n > 1. Seja Aij a matriz do tipo (n − ca 1) × (n − 1) que se obtem de A suprimindo a linha i e a coluna j de A. Chama-se a Aij o menor-ij da matriz A. 21
  • 22. Teorema 17 (F´rmula de Laplace4 .) Seja A ∈ Matn×n (R), com n > 1. Tem-se o n det A = aij (−1)i+j det Aij . j=1 Observa¸˜o 15 Seja A ∈ Matn×n (R), com n > 1. Tem-se ca n det A = aij (−1)i+j det Aij . i=1 Exemplo 18 1 0 −2 3 1 −2 3 1 0 −2 2 1 −1 4 3+2 3+4 = (−1)(−1) 2 −1 4 + (−2)(−1) 2 1 −1 = 0 −1 0 −2 1 −2 −3 1 0 −2 1 0 −2 −3 = (−1)(−3) + (−2)4 + 2(−2)3 − (−1)3 − (−2)2(−3) − 4(−2) + 2 [(−2) − (−2)] = −18 Defini¸˜o 24 Seja A = (aij ) ∈ Matn×n (R), com n > 1. Seja aij = (−1)i+j det Aij onde ca Aij ´ o menor-ij da matriz A. Chama-se a aij o cofactor-ij da matriz A e a matriz e ` cof A = (aij ) ∈ Matn×n (R), com n > 1, a matriz dos cofactores de A. Teorema 18 Para qualquer matriz A ∈ Matn×n (R), com n > 1, tem-se A (cof A)T = (det A) I. Se det A = 0 ent˜o A ´ invert´ e a e ıvel 1 A−1 = (cof A)T . det A a b Exemplo 19 Seja A = ∈ Mat2×2 (R) tal que det A = 0. Ent˜o A ´ invert´ e a e ıvel c d 1 d −b A−1 = . ad − bc −c a (Veja por exemplo o exo 10 da ficha 2.) Note que ad − bc = det A. (ii) Podemos usar o teorema 18 para calcular n˜o s´ a inversa de uma matriz (n˜o a o a singular) mas tamb´m entradas concretas dessa inversa. Seja e   1 0 0 A =  4 5 6 . 7 8 9 A entrada (2, 3) da matriz A−1 ´ dada por e 1 1 1 1 0 (A−1 )23 = (cof A)T = (−1)3+2 det A32 = − det = 2. det A 23 det A −3 4 6 4 Pierre-Simon Laplace 1749–1827 22
  • 23. Teorema 19 (Regra de Cramer5 .) Seja A ∈ Matn×n (R) tal que A ´ n˜o singular. Ent˜o e a a a unica solu¸ao do sistema de equa¸oes lineares AX = B ´ dada por ´ c˜ c˜ e 1 X = A−1 B = (cof A)T B. det A T T Isto ´, sendo X = e x1 . . . x n eB= b1 . . . bn tem-se n 1 det Bj xj = akj bk = , det A k=1 det A onde Bj ´ a matriz obtida de A substituindo a coluna j de A pela matriz coluna B dos e termos independentes. Exemplo 20 O sistema de equa¸oes lineares c˜   2x + y = 8     −x + 2y + 4z = 7      −x + z = 1 pode ser resolvido usando a regra de Cramer: 8 1 0 2 8 0 2 1 8 7 2 4 −1 7 4 −1 2 7 1 0 1 −1 1 1 −1 0 1 x= = 13, y= = −18 e z= = 14. 2 1 0 2 1 0 2 1 0 −1 2 4 −1 2 4 −1 2 4 −1 0 1 −1 0 1 −1 0 1 3 Espa¸os Lineares (Vectoriais) c No final do s´culo XIX e no come¸o do s´culo XX tornou-se claro – gra¸as a Grassmann 6 , e c e c 7 8 Peano e a Weyl – que o desenvolvimento axiom´tico da geometria Euclideana podia ser feito a apelando a estruturas matem´ticas — Espa¸os Vectoriais e Euclidianos — que desempanham a c um papel determinante noutras areas da matem´tica e de outras ciˆncias. O estudo das ´ a e estruturas matem´ticas independente quer dos contextos que lhes deram origem quer dos a contextos em que aplicam constitui uma das ideias mais ricas da matem´tica do s´culo XX a e a a ´ e ´ indissoci´vel da matem´tica Emmy Noether9 . A Algebra linear ´ basicamente o estuda e e dessas estruturas. 5 Gabriel Cramer 1704–1752 6 Hermann Grassmann 1809–1877 7 Giuseppe Peano 1858–1932 8 Hermanm Weyl 1885–1955 9 Emmy Noether 1882–1935 23
  • 24. Defini¸˜o 25 Um conjunto n˜o vazio V ´ um espa¸o linear (real) se existirem duas ca a e c opera¸oes associadas a V , uma soma de elementos de V e um produto de escalares (n´ meros c˜ u reais) por elementos de V , com as seguintes propriedades: (a) (Fecho da soma). Para quaisquer u, v ∈ V tem-se u + v ∈ V . (b) (Fecho do produto por escalares). Para quaisquer α ∈ R e u ∈ V tem-se αu ∈ V . (c) (Comutatividade da soma). Para quaisquer u, v ∈ V , u + v = v + u. (d) (Associatividade da soma). Para quaisquer u, v, w ∈ V , u + (v + w) = (u + v) + w. (e) (Elemento neutro da soma). Existe um elemento de V designado por 0 tal que, para qualquer u ∈ V , u + 0 = u. (f ) (Sim´trico). Para cada (qualquer) u ∈ V existe v ∈ V tal que u + v = 0. A v e chama-se o sim´trico de u e denota-se por −u. e (g) (Associatividade do produto por escalares). Para quaisquer α, β ∈ R e u ∈ V , α (βu) = (αβ) u. (h) (Distributividade em rela¸ao a soma de vectores). Para quaisquer α ∈ R e u, v ∈ V , c˜ ` α (u + v) = αu + αv. (i) (Distributividade em rela¸ao a soma de escalares). Para quaisquer α, β ∈ R e u ∈ V , c˜ ` (α + β) u = αu + βu. (j) Para qualquer u ∈ V , 1u = u. Observa¸˜o 16 Aos elementos de V chamaremos vectores. ca Exemplo 21 Exemplos de espa¸os lineares: c (i) Rn , com as opera¸oes usuais: c˜ (u1 , u2 , ..., un ) + (v1 , v2 , ..., vn ) = (u1 + v1 , u2 + v2 , ..., un + vn ), α(u1 , u2 , ..., un ) = (αu1 , αu2 , ..., αun ). (ii) Matm×n (R) (conjunto de todas as matrizes reais do tipo m × n), com as opera¸oes c˜ (usuais): A + B e αA. (iii) O conjunto de todas as fun¸oes reais de vari´vel real definidas num conjunto n˜o c˜ a a vazio S ⊆ R, com as opera¸oes usuais: c˜ (f + g)(x) = f (x) + g(x), 24
  • 25. (αf )(x) = αf (x). (iv) O conjunto P de todos os polin´mios reais, com as opera¸oes usuais. o c˜ (v) O conjunto Pn de todos os polin´mios reais de grau menor ou igual a n, com as o opera¸oes usuais. c˜ Observa¸˜o 17 Um mesmo conjunto pode servir para formar espa¸os lineares diferentes: ca c (i) O conjunto dos n´ meros reais R, com a soma definida por u u v = u + v + 1, e o produto por escalares definido por α · u = αu + α − 1, ´ um espa¸o linear. (Neste caso o elemento neutro ´ −1.) e c e (ii) O conjunto dos n´ meros reais maiores do que zero, com a soma definida por u u v = uv, e o produto por escalares definido por α · u = uα , ´ um espa¸o linear. (Neste caso o elemento neutro ´ 1.) e c e Observa¸˜o 18 Altera¸oes nos conjuntos considerados anteriormente podem resultar em ca c˜ conjuntos que n˜o s˜o espa¸os lineares. a a c (i) O conjunto {(x, y) ∈ R2 : x ≥ 0 e y ≥ 0}, com as opera¸oes usuais, n˜o ´ um espa¸o c˜ a e c linear. Por exemplo, os sim´tricos n˜o est˜o no conjunto. e a a (ii) O conjunto V = {a0 + a1 t + ... + an tn : a0 , a1 , ..., an ∈ R e an = 0}, com as opera¸oes c˜ usuais, n˜o ´ um espa¸o linear. Por exemplo: a e c tn , −tn + t ∈ V , mas tn + (−tn + t) = t ∈ V . / (iii) O conjunto U = {f : R −→ R tais que f (1) = 2}, com as opera¸oes usuais, n˜o ´ c˜ a e um espa¸o linear. Por exemplo, se f1 , f2 ∈ U , c (f1 + f2 ) (1) = f1 (1) + f2 (1) = 2 + 2 = 4 = 2. Logo, f1 + f2 ∈ U . / 25
  • 26. 3.1 Subespa¸os lineares – exemplos: n´ cleo, espa¸o colunas e li- c u c nhas de uma matriz Defini¸˜o 26 Seja V um espa¸o linear. Diz-se que S ´ um subespa¸o de V se S ´ um ca c e c e subconjunto de V e se S, com as opera¸oes de V , fˆr um espa¸o linear. c˜ o c Observa¸˜o 19 No entanto, para mostrar que um certo conjunto S ⊂ V ´ um subespa¸o ca e c do espa¸o linear V , n˜o ser´ necess´rio verificar as 10 propriedades da defini¸ao 25, como se c a a a c˜ pode ver no seguinte teorema. Teorema 20 Um subconjunto n˜o vazio S de um espa¸o linear V ´ um subespa¸o de V se a c e c e s´ se: o (i) Para quaisquer u, v ∈ S tem-se u + v ∈ S. (ii) Para quaisquer α ∈ R e u ∈ S tem-se αu ∈ S. Exemplo 22 Exemplos de subespa¸os: c (i) Os unicos subespa¸os do espa¸o linear R, com as opera¸oes usuais, s˜o {0} e R. ´ c c c˜ a (ii) Os subespa¸os do espa¸o linear R3 , com as opera¸oes usuais, s˜o: {(0, 0, 0)}, R3 , c c c˜ a todas as rectas que passam pela origem e todos os planos que passam pela origem. (iii) O conjunto de todas as matrizes (reais) triangulares superiores (do tipo n × n) ´ um e subespa¸o do espa¸o linear Matn×n (R), com as opera¸oes usuais. c c c˜ (iv) O conjunto de todas as fun¸oes reais definidas e cont´ c˜ ınuas em I ⊂ R (I ´ um e intervalo) ´ um subespa¸o do espa¸o linear de todas as fun¸oes f : I −→ R, com as opera¸oes e c c c˜ c˜ usuais. (v) Seja A uma matriz (real) do tipo m × n. O conjunto C(A) = {b ∈ Rm : Au = b tem pelo menos uma solu¸ao u} c˜ ´ um subespa¸o do espa¸o linear Rm , com as opera¸oes usuais, ao qual se d´ o nome de e c c c˜ a espa¸o das colunas de A. c (vi) Seja A uma matriz (real) do tipo m × n. O conjunto Nuc(A) = {u ∈ Rn : Au = 0} ´ um subespa¸o do espa¸o linear Rn , com as opera¸oes usuais, ao qual se d´ o nome de e c c c˜ a espa¸o nulo ou n´cleo de A. c u 26
  • 27. Observa¸˜o 20 (i) Se A ´ invert´ ent˜o Nuc(A) = {0}. ca e ıvel a (ii) Se Nuc(A) = {0} ent˜o A ´ invert´ a e ıvel. (iii) Poderemos obter subespa¸os de um espa¸o linear atrav´s de combina¸oes lineares c c e c˜ de vectores desse espa¸o. c Defini¸˜o 27 Seja S um subconjunto n˜o vazio de um espa¸o linear V . Diz-se que um vector ca a c u ´ combina¸˜o linear finita dos elementos de S, se existir um no finito de elementos de e ca S, u1 , ..., uk , e de escalares λ1 , ..., λk tais que k u = λ1 u1 + ... + λk uk = λ i ui . i=1 Ao cojunto de todas as combina¸oes lineares finitas de elementos de S chama-se expans˜o c˜ a linear de S e designa-se por L(S). Se S ´ o conjunto vazio ∅, escreve-se L(∅) = {0}. e Teorema 21 Seja S um subconjunto n˜o vazio de um espa¸o linear V . A expans˜o linear a c a L(S) de S ´ o menor subespa¸o de V que cont´m S. Deste modo, a L(S) tamb´m se chama e c e e o subespa¸o gerado por S, e diz-se que S gera L(S). c Observa¸˜o 21 Seja S e T dois subconjuntos n˜o vazios de um espa¸o linear V , com S ⊂ T . ca a c Se L(S) = V ent˜o L(T ) = V . a Exemplo 23 (i) O espa¸o linear R2 ´ gerado por qualquer dos seguintes conjuntos de vec- c e tores: {(1, 0), (0, 1)}, {(1, 2), (−1, 11)} e {(23, 8), (6, 14)}. (ii) O subespa¸o {(x, y) ∈ R2 : y = 2x} do espa¸o linear R2 ´ gerado por qualquer dos c c e seguintes conjuntos de vectores: {(1, 2)}, {(−2, −4)} e {(77, 154)}. (iii) O espa¸o linear Pn de todos os polin´mios de grau menor ou igual a n, ´ gerado c o e por qualquer dos seguintes conjuntos de vectores: 2 n 2 n t t2 tn {1, t, t , ..., t }, {1, 1 + t, (1 + t) , ..., (1 + t) } e {1, , , ..., }. 1! 2! n! (iv) O espa¸o linear P de todos os polin´mios, ´ gerado pelo conjunto infinito de vectores: c o e {1, t, t2 , ...}. 27
  • 28. (v) O espa¸o linear V de todas as fun¸oes f : R → R diferenci´veis tais que f (x) = af (x) c c˜ a ax ´ gerado pela fun¸ao f1 (x) = e , i.e. V = L({f1 }). e c˜ (vi) Seja A uma matriz (real) do tipo m × n. O espa¸o das colunas de A, c C(A) = {b ∈ Rm : Au = b tem pelo menos uma solu¸ao u} , c˜ ´ o subespa¸o (do e c espa¸o linear Rm ) gerado pelas colunas de A, uma vez que: c            b1 a11 a12 · · · a1n u1 a11 a12 a1n  b2   a21 a22 · · · a2n     u2   a21   a22   a2n             . = . .   . . . ··· .   .  = u1  .  + u2  .  + ... + un  . .  .  .  .  .  . . . . .  .  .  ..  bm am1 am2 · · · amn un am1 am2 amn (vii) Seja A uma matriz (real) do tipo m × n. Ao subespa¸o linear de Rn gerado pelas c linhas de A d´-se o nome de espa¸o das linhas de A e designa-se por L(A). a c (viii) Sejam     1 −3 1 −1 2 0 0 0 2 0 A= , B =  0 0 7  , C =  2 −4  e D= . 0 0 0 0 −1 0 0 0 −2 4 Tem-se C(A) = {(0, 0)}, Nuc(A) = R3 e L(A) = {(0, 0, 0)}. C(B) = L ({(1, 0, 0) , (1, 7, 0)}) , Nuc(B) = L ({(3, 1, 0)}) e L(B) = L ({(1, −3, 1) , (0, 0, 7)}) . C(C) = L ({(−1, 2, −2)}) , Nuc(C) = L ({(2, 1)}) e L(C) = L ({(−1, 2)}) . C(D) = L ({(2, 0) , (0, −1)}) , Nuc(D) = {(0, 0)} e L(D) = L ({(2, 0) , (0, −1)}) . (ix) Seja U = {A ∈ Mat3×2 (R) : a12 = a21 = a32 = 0 e a11 + 2a31 = 0}. Tem-se, para A ∈ U,         a11 a12 −2a31 0 −2 0 0 0 A=  a21 a22  =  0 a22  = a31  0 0  + a22  0 1  , a31 a32 a31 0 1 0 0 0 com a31 , a22 ∈ R. Logo,      −2 0 0 0  U = L  0 0 , 0 1  .   1 0 0 0 (x) Seja U = {p(t) = a0 + a1 t + a2 t2 ∈ P2 : p(1) = p(0)}. Tem-se, para p(t) ∈ U , p(1) = p(0) ⇐⇒ a0 + a1 + a2 = a0 ⇐⇒ a1 + a2 = 0 ⇐⇒ a1 = −a2 . Logo, p(t) = a0 − a2 t + a2 t2 = a0 1 + a2 −t + t2 , com a0 , a2 ∈ R. Assim, U =L 1, −t + t2 . 28
  • 29. Teorema 22 Se U e V s˜o subespa¸os do espa¸o linear W , ent˜o: a c c a (i) O conjunto U ∩ V ´ um subespa¸o linear de W . e c e c ´ (ii) O conjunto U + V = {u + v : u ∈ U e v ∈ V } ´ um subespa¸o de W . E o menor subespa¸o de W que cont´m U ∪ V . O conjunto U ∪ V em geral n˜o ´ um subespa¸o. Tem-se c e a e c U + V = L(U ∪ V ). Exemplo 24 (i) Em R3 , considere os subespa¸os: c U = {(x, y, z) ∈ R3 : x + y − 2z = 0} e V = L ({(1, 1, −1), (1, 2, 1)}) . Seja v ∈ V , ent˜o a v = α(1, 1, −1) + β(1, 2, 1) = (α + β, α + 2β, −α + β), com α, β ∈ R. Para que v esteja tamb´m em U ´ preciso que: e e (α + β) + (α + 2β) − 2 (−α + β) = 0. A ultima equa¸ao ´ equivalente a 4α + β = 0 ⇐⇒ β = −4α. Logo, ´ c˜ e U ∩ V = {(−3α, −7α, −5α) : α ∈ R} = {α(−3, −7, −5) : α ∈ R} = L ({(3, 7, 5)}) . (ii) Em R3 , considere os subespa¸os: c U = L ({(1, −1, 1), (1, 2, 2)}) e V = L ({(2, 1, 1), (−1, 1, 3)}) . Seja v ∈ U , ent˜o a v = α(1, −1, 1) + β(1, 2, 2) = (α + β, −α + 2β, α + 2β), com α, β ∈ R. Para que v esteja tamb´m em V ´ preciso que: e e (α + β, −α + 2β, α + 2β) = λ(2, 1, 1) + µ(−1, 1, 3) = = (2λ − µ, λ + µ, λ + 3µ) , com λ, µ ∈ R. Deste modo,   α + β = 2λ − µ     −α + 2β = λ + µ      α + 2β = λ + 3µ. Considerando a matriz aumentada tem-se       1 1 | 2λ − µ 1 1 | 2λ − µ 1 1 | 2λ − µ  −1 2 | λ + µ  −→  0 3 | 3λ  −→  0 3 | 3λ  L1 +L2 →L2 − 1 L2 +L3 →L3 1 2 | λ + 3µ −L1 +L3 →L3 0 1 | −λ + 4µ 3 0 0 | −2λ + 4µ 29