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12016 Janeiro Ed. 32
36 2016 Janeiro Ed. 32
Check-up
situacional
(SEGUNDA ETAPA)
E hoje é dia de check-up - de novo!
A segunda e última etapa.
Como sempre, o hall de entrada do laboratório está bem cheio.
Dez minutinhos de espera e finalmente chega sua vez.
O porteiro pergunta seu nome, pede seu RG, e fala pra você olhar pra câmera.
Você passa a mão pelos cabelos, disfarçadamente leva o indicador à língua,
e, fingindo que está jogando a franja pra trás, passa o dedo úmido na so-
brancelha. Independente da ocasião, você quer sair bem na foto. Mesmo
que seja a do cadastro do edifício Adolpho Helbert II.
Ele pede prá você dar um sorrisinho. 
Com dificuldade de encontrar um motivo prá sorrir, por estar com aquele
gosto amargo de jejum na boca, típico de cliente-que-resolveu-seus-proble-
mas-na-sessão-bônus-agradeceu-e-sumiu, você saca o celular do bolso e,
sorrateiramente, abre o App “GratPlus” para dar uma “colada” no seu diário
de gratidão. Lê logo na primeira linha: “sou grato por viver a minha missão
de ajudar pessoas.”
Você esboça um sorriso amarelo. Afinal, não anda conseguindo encontrar
pessoas que queiram ser ajudadas nem de graça. 
Ele clica, e te entrega o crachá de visitante.
Com seu crachá-passaporte em mãos, faz sua caminhada ao estilo Lulu (a
passos de formiga e sem vontade).
Já no andar do laboratório, uma enfermeira com cara de poucos amigos o
recebe e o encaminha à sala de espera.
Há muitas pessoas esperando por ali. Algumas até já sem esperança.
Eu, cada vez melhor
Ana Paula Barros
Coach de Autoconhecimento Criativo
Para nos mantermos sãos, devemos
ceder às nossas loucuras de vez em
quando!
ana@i9coaching.com
Não é sinal de saúde estar bem
adaptado a uma sociedade doente.
Jiddu Krishnamurti
372016 Janeiro Ed. 32
Você se segura para não começar a fazer uma pa-
lestra motivacional ou uma sessão levanta-astral
ali no meio de todos. Graças aos céus, seu crítico
interno estava de plantão, pois logo em seguida,
chega a sua vez e seu nome é chamado.
Na sala do doutor André Ógenos, há uma química
diferente no ar.
Ele é endocrinologista, e parece ter uma fixação
pela tabela periódica - há várias delas espalhadas
pelas paredes de seu consultório.
O doutor logo se antecipa: temos recebido aqui
muitos pacientes com disfunções químicas.
Alguns estão demonstrando excesso de potássio.
Demoramos um pouco para perceber o proble-
ma, mas após alguns testes isto foi facilmente de-
tectado em sua escrita: eles escondem algumas
decepções, colocando doses maciças de potássio
no final de suas frases. Percebemos que essas al-
tas doses do elemento K podem estar mascaran-
do sua verdadeira opinião sobre determinados
assuntos.
É o seu caso? Ele questiona.
Você então se lembra que, de vez em quando, faz
exatamente isso: enche o final das suas frases
com kkkk! E agora, admite ou não?
Não tem problema, ele diz. A maioria das pesso-
as age assim no mundo moderno. O problema
maior, diz, é quando o indivíduo usa o potássio
por não conseguir se posicionar, e acaba inserin-
do por tabela o elemento cobre, altamente noci-
vo, em suas expressões.
Como assim? Você questiona.
Dr André Ógenos, com sua cara de bonachão,
gentilmente explica: quando não vivemos por
nossos valores, não temos autoconfiança sufi-
ciente e nem segurança em nossas escolhas, al-
gumas pessoas tentam nos envenenar, com co-
mentários maldosos e críticas destrutivas, por
exemplo, e nós inconsciente e instantaneamente
expressamos nossa insatisfação, porém não nos
posicionamos como deveríamos. Deixamos trans-
parecer em nossos semblantes o símbolo do co-
bre. Na medicina contemporânea chamamos isto
de SCSC: Síndrome da Cara de Símbolo de Cobre.
Você tem apresentado este sintoma? Ou conse-
gue expor suas opiniões de maneira clara, polida
e assertiva?
38 2016 Janeiro Ed. 32
Neste exato momento, você automaticamente esboça uma cara genuína de símbolo de
cobre. Então ele grita, extasiado, apontando para o seu nariz: é exatamente disto aí que
estou falando! Acho que matei a charada! Você está com todos os sintomas de quem tem
complexo de Golgi. Vou te encaminhar para um terapeuta agora mesmo, aproveitando
que você está aqui.
A doutora Liz. O. Soma já está com seu prontuário em mãos, quando você chega à sua sala.
Ela informa que você passará por um exame de consciência para detectar se tem ou não
complexo de Golgi, e explica que segue a linha freudiana em seus atendimentos.
Estica a mão até uma bandeja de inox que repousa sobre sua mesa, e lhe oferece uma
espécie de bolinho de chuva, recheado com um creme fresco, amarelo suave.
São sonhos? Você pergunta.
Sim, ela responde. Assados! Sua presença é sempre marcante e imprescindível nos meus
atendimentos. Pode se servir à vontade. 
- Irei fazer algumas perguntas a você agora, ok? Responda sem pensar muito, com a pri-
meira coisa que lhe vier à cabeça.
Você concorda prontamente.
- Com o que você costuma sonhar?
Imediatamente o mais lindo RoadMap se abre em sua mente. E você, com um sorriso gigan-
te no rosto, responde: eu sonho com 7 dígitos em 7 dias, autoridade e reconhecimento.
Ao que ela replica: 7 em 7 é bem ambicioso, você faz uso de alguma fórmula?
392016 Janeiro Ed. 32
Você admite que no momento não, e
pensa que esta resposta poderia mui-
to bem lhe garantir uma amostra grá-
tis do produto. Mas volta a se focar no
agora.
- E você tem o hábito de anotar os
seus sonhos? - ela questiona.
Nossa, esta é fácil, você pensa. Claro,
os de curto, médio e longo prazos.
Sempre!
Ótimo, ela diz. Lembre-se de colocar
sempre data neles todos. Porque eis
uma grande lição da sabedoria orien-
tal que aprendi com uma colega de
trabalho: data marcada chega.
Agora vamos iniciar o exame de cons-
ciência.
Ela abre a porta do que parecia ser
um armário velho.
E o conduz a atravessá-la. 
A Dra Liz informa que o exame de
consciência ocorrerá ali dentro, e que
o avisará quando este tiver terminado.
Do outro lado da porta, você se vê
num cubículo de 3 metros quadrados,
revestido de espelhos diversos, um
em cada parede, que o remetem à in-
fância e o fazem se sentir numa casa
maluca.
Um deles deixa você com a cabeça bem
grande e desproporcional, e você co-
meça a refletir sobre quantas vezes se
preocupou demais com determinado
assunto ou problema, esquecendo-se
de colocar seu foco na solução.
O segundo espelho deixa seu corpo
meio ondulado, o que o lembra da sua
capacidade de ter a flexibilidade de
surfar em qualquer tipo de onda, de
mares calmos aos mais agitados. No fi-
nal das contas, você sempre acaba con-
seguindo se equilibrar, ainda que na
maioria das vezes, tenso demais, acabe
se esquecendo de curtir a aventura.
Na parede oposta, um terceiro espe-
lho o deixa bem pequenininho, e o
remete à maneira como você se sente
quando se agarra a velhas crenças e
medos e se diminui, quando não acre-
dita no seu potencial, e se esquece de
que seus talentos e dons não são seus,
são do mundo.
O quarto e último espelho amplia exa-
geradamente seu tórax, deixando a
região do seu coração gigante, e você
recorda às vezes em que optou por
enxergar a vida, e todas as coisas, pelo
prisma do amor, e como foi mais fácil,
leve e divertido encontrar as respos-
tas desta maneira.
A esta altura, você já perdeu total-
mente a noção de tempo e espaço,
quando ouve a voz da Dra Liz avisando
que o exame terminou.
Ao sair da sala, todas aquelas refle-
xões o acompanham. Afinal de contas,
a experiência do exame de consciência
se mostrou bem completa e profunda.
A Dra Liz se despede e o encaminha de
volta ao pessoal do atendimento.
Na recepção, uma moça amável e sor-
ridente entrega um protocolo a você,
junto com uma receita de Praticato de
Teoril, para você começar a fazer uso
já saindo dali.
Então, ela o olha bem nos olhos, colo-
ca as mãos nos seus ombros, e como
se fosse lhe contar um segredo, aler-
ta: “Dentro deste processo, o seu re-
sultado será proporcional à sua de-
dicação. A parte mais importante do
check-up situacional é o uso da sua
própria reflexão, o controle da sua
reação diante dos acontecimentos, e
sua capacidade para aplicar na prática
os conhecimentos adquiridos”. 
39eiro Ed. 32

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  • 2. 36 2016 Janeiro Ed. 32 Check-up situacional (SEGUNDA ETAPA) E hoje é dia de check-up - de novo! A segunda e última etapa. Como sempre, o hall de entrada do laboratório está bem cheio. Dez minutinhos de espera e finalmente chega sua vez. O porteiro pergunta seu nome, pede seu RG, e fala pra você olhar pra câmera. Você passa a mão pelos cabelos, disfarçadamente leva o indicador à língua, e, fingindo que está jogando a franja pra trás, passa o dedo úmido na so- brancelha. Independente da ocasião, você quer sair bem na foto. Mesmo que seja a do cadastro do edifício Adolpho Helbert II. Ele pede prá você dar um sorrisinho.  Com dificuldade de encontrar um motivo prá sorrir, por estar com aquele gosto amargo de jejum na boca, típico de cliente-que-resolveu-seus-proble- mas-na-sessão-bônus-agradeceu-e-sumiu, você saca o celular do bolso e, sorrateiramente, abre o App “GratPlus” para dar uma “colada” no seu diário de gratidão. Lê logo na primeira linha: “sou grato por viver a minha missão de ajudar pessoas.” Você esboça um sorriso amarelo. Afinal, não anda conseguindo encontrar pessoas que queiram ser ajudadas nem de graça.  Ele clica, e te entrega o crachá de visitante. Com seu crachá-passaporte em mãos, faz sua caminhada ao estilo Lulu (a passos de formiga e sem vontade). Já no andar do laboratório, uma enfermeira com cara de poucos amigos o recebe e o encaminha à sala de espera. Há muitas pessoas esperando por ali. Algumas até já sem esperança. Eu, cada vez melhor Ana Paula Barros Coach de Autoconhecimento Criativo Para nos mantermos sãos, devemos ceder às nossas loucuras de vez em quando! ana@i9coaching.com Não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente. Jiddu Krishnamurti
  • 3. 372016 Janeiro Ed. 32 Você se segura para não começar a fazer uma pa- lestra motivacional ou uma sessão levanta-astral ali no meio de todos. Graças aos céus, seu crítico interno estava de plantão, pois logo em seguida, chega a sua vez e seu nome é chamado. Na sala do doutor André Ógenos, há uma química diferente no ar. Ele é endocrinologista, e parece ter uma fixação pela tabela periódica - há várias delas espalhadas pelas paredes de seu consultório. O doutor logo se antecipa: temos recebido aqui muitos pacientes com disfunções químicas. Alguns estão demonstrando excesso de potássio. Demoramos um pouco para perceber o proble- ma, mas após alguns testes isto foi facilmente de- tectado em sua escrita: eles escondem algumas decepções, colocando doses maciças de potássio no final de suas frases. Percebemos que essas al- tas doses do elemento K podem estar mascaran- do sua verdadeira opinião sobre determinados assuntos. É o seu caso? Ele questiona. Você então se lembra que, de vez em quando, faz exatamente isso: enche o final das suas frases com kkkk! E agora, admite ou não? Não tem problema, ele diz. A maioria das pesso- as age assim no mundo moderno. O problema maior, diz, é quando o indivíduo usa o potássio por não conseguir se posicionar, e acaba inserin- do por tabela o elemento cobre, altamente noci- vo, em suas expressões. Como assim? Você questiona. Dr André Ógenos, com sua cara de bonachão, gentilmente explica: quando não vivemos por nossos valores, não temos autoconfiança sufi- ciente e nem segurança em nossas escolhas, al- gumas pessoas tentam nos envenenar, com co- mentários maldosos e críticas destrutivas, por exemplo, e nós inconsciente e instantaneamente expressamos nossa insatisfação, porém não nos posicionamos como deveríamos. Deixamos trans- parecer em nossos semblantes o símbolo do co- bre. Na medicina contemporânea chamamos isto de SCSC: Síndrome da Cara de Símbolo de Cobre. Você tem apresentado este sintoma? Ou conse- gue expor suas opiniões de maneira clara, polida e assertiva?
  • 4. 38 2016 Janeiro Ed. 32 Neste exato momento, você automaticamente esboça uma cara genuína de símbolo de cobre. Então ele grita, extasiado, apontando para o seu nariz: é exatamente disto aí que estou falando! Acho que matei a charada! Você está com todos os sintomas de quem tem complexo de Golgi. Vou te encaminhar para um terapeuta agora mesmo, aproveitando que você está aqui. A doutora Liz. O. Soma já está com seu prontuário em mãos, quando você chega à sua sala. Ela informa que você passará por um exame de consciência para detectar se tem ou não complexo de Golgi, e explica que segue a linha freudiana em seus atendimentos. Estica a mão até uma bandeja de inox que repousa sobre sua mesa, e lhe oferece uma espécie de bolinho de chuva, recheado com um creme fresco, amarelo suave. São sonhos? Você pergunta. Sim, ela responde. Assados! Sua presença é sempre marcante e imprescindível nos meus atendimentos. Pode se servir à vontade.  - Irei fazer algumas perguntas a você agora, ok? Responda sem pensar muito, com a pri- meira coisa que lhe vier à cabeça. Você concorda prontamente. - Com o que você costuma sonhar? Imediatamente o mais lindo RoadMap se abre em sua mente. E você, com um sorriso gigan- te no rosto, responde: eu sonho com 7 dígitos em 7 dias, autoridade e reconhecimento. Ao que ela replica: 7 em 7 é bem ambicioso, você faz uso de alguma fórmula?
  • 5. 392016 Janeiro Ed. 32 Você admite que no momento não, e pensa que esta resposta poderia mui- to bem lhe garantir uma amostra grá- tis do produto. Mas volta a se focar no agora. - E você tem o hábito de anotar os seus sonhos? - ela questiona. Nossa, esta é fácil, você pensa. Claro, os de curto, médio e longo prazos. Sempre! Ótimo, ela diz. Lembre-se de colocar sempre data neles todos. Porque eis uma grande lição da sabedoria orien- tal que aprendi com uma colega de trabalho: data marcada chega. Agora vamos iniciar o exame de cons- ciência. Ela abre a porta do que parecia ser um armário velho. E o conduz a atravessá-la.  A Dra Liz informa que o exame de consciência ocorrerá ali dentro, e que o avisará quando este tiver terminado. Do outro lado da porta, você se vê num cubículo de 3 metros quadrados, revestido de espelhos diversos, um em cada parede, que o remetem à in- fância e o fazem se sentir numa casa maluca. Um deles deixa você com a cabeça bem grande e desproporcional, e você co- meça a refletir sobre quantas vezes se preocupou demais com determinado assunto ou problema, esquecendo-se de colocar seu foco na solução. O segundo espelho deixa seu corpo meio ondulado, o que o lembra da sua capacidade de ter a flexibilidade de surfar em qualquer tipo de onda, de mares calmos aos mais agitados. No fi- nal das contas, você sempre acaba con- seguindo se equilibrar, ainda que na maioria das vezes, tenso demais, acabe se esquecendo de curtir a aventura. Na parede oposta, um terceiro espe- lho o deixa bem pequenininho, e o remete à maneira como você se sente quando se agarra a velhas crenças e medos e se diminui, quando não acre- dita no seu potencial, e se esquece de que seus talentos e dons não são seus, são do mundo. O quarto e último espelho amplia exa- geradamente seu tórax, deixando a região do seu coração gigante, e você recorda às vezes em que optou por enxergar a vida, e todas as coisas, pelo prisma do amor, e como foi mais fácil, leve e divertido encontrar as respos- tas desta maneira. A esta altura, você já perdeu total- mente a noção de tempo e espaço, quando ouve a voz da Dra Liz avisando que o exame terminou. Ao sair da sala, todas aquelas refle- xões o acompanham. Afinal de contas, a experiência do exame de consciência se mostrou bem completa e profunda. A Dra Liz se despede e o encaminha de volta ao pessoal do atendimento. Na recepção, uma moça amável e sor- ridente entrega um protocolo a você, junto com uma receita de Praticato de Teoril, para você começar a fazer uso já saindo dali. Então, ela o olha bem nos olhos, colo- ca as mãos nos seus ombros, e como se fosse lhe contar um segredo, aler- ta: “Dentro deste processo, o seu re- sultado será proporcional à sua de- dicação. A parte mais importante do check-up situacional é o uso da sua própria reflexão, o controle da sua reação diante dos acontecimentos, e sua capacidade para aplicar na prática os conhecimentos adquiridos”.  39eiro Ed. 32