1. Presente de Deus
Quando o Homem nasce, Deus presenteia-o com uma vida vazia.
Cada indivíduo no decorrer da sua existência, deve-a encher, momento
a momento.
O que angustia o Homem é o facto de a vida nos ser dada vazia e para a
enchermos só dispormos de uma incerta medida de tempo.
O animal não se depara com este problema, porque a vida é-lhe dada
cheia; está dominada pelo instinto.
É o instinto que o leva a evitar os perigos, a procurar o bem-estar, ou
seja, tem um comportamento constante.
Mas o Homem não!
Ao aperceber-se, conscientemente, da existência, verifica o abismo que
se abre diante dos seus pés.
Inquieta-lhe a alma um problema premente.
A minha vida está vazia e tenho que a preencher!
Se o Homem dispusesse de uma porção de anos ilimitada, isto não
representaria um problema. Sempre que se enganasse, recuava e
rectificava o caminho.
Mas não!
A vida é breve e por tempo indeterminado. Os minutos sucedem-se
dando lugar às horas, aos dias, aos anos e a morte segue-nos de perto
como se fosse a nossa própria sombra, da qual ninguém consegue
fugir. Por isso, não temos outro remédio senão escolher um projecto de
vida – único e exclusivo.
A decisão impõe-se; ou enchemos a nossa vida ou a desperdiçamos.
Não há meio-termo.
É necessário decidir, porque a vida passa e a morte chega quando
menos se espera e sem se fazer anunciar.
Surpreende-nos sempre!
A.C. 21-04-09
2. E quando chega pergunta:
“ - Que fizeste da tua vida? Mostra lá essas mãos…”.
Abundam tanto, diante de Deus, as mãos vazias!
São tão frequentes, à última hora, as vidas puras, mas estupidamente
vazias!
Sim, porque não basta não fazer o mal!
Quando muito, o Homem terá uma vida pura, mas se não fizer o bem,
esse facto (não fazer o bem) já é um mal.
A isto chama-se levar uma vida branca, mas estupidamente vazia!
Quantas almas de mãos vazias por esse mundo!
Quantas almas de vida imaculadamente branca e estupidamente vazia!
Como se não praticar o mal, fizesse de alguém uma boa pessoa…!
A vida é como uma taça vazia que devemos encher de boas obras, de
amor ao próximo e respeito pelo nosso semelhante.
Porque no fim dos nossos dias, deve ser terrível apresentar-se diante
de Deus com as mãos vazias!
Nos últimos tempos, circunstâncias pessoais têm-me feito reflectir
sobre este assunto.
Apesar de nunca ter tido uma atitude de indiferença face ao sofrimento
alheio, hoje, cada vez mais, sinto necessidade de ajudar a aliviar o peso
da cruz que faz sofrer algumas pessoas muito importantes para mim.
Esta minha atitude perante o sofrimento dos outros provoca-me uma
angústia difícil de suportar, mas o sorriso ou o abraço que recebo em
troca de uma palavra de consolo, caracterizam a maior recompensa.
Estas situações fizeram-me rever as minhas prioridades.
Hoje, a família e os amigos estão sempre em primeiro lugar.
Aprendi o que quero e o que não quero.
E, sei que, quando me encontrar com o Criador, não quero que Ele me
diga:
“Tiveste uma vida imaculadamente branca, mas estupidamente vazia!”
A.C. 21-04-09