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Para além dos elementos obje-
tivos que fazem do fechamen-
to/transferência do herbário
do Instituto Agronômico de
Campinas (IAC) um despropó-
sito, o que pretendo com este
artigo é dar a você, leitor, uma
versão pessoal da qual com
certeza, seria endossado por
muitos outros que, como eu,
foram estagiários dessa sec-
ção. Aspectos estes que para
muitos podem ser considera-
dos subjetivos, mas que para
mim, é realidade deste e, fatal-
mente, de muitos outros insti-
tutos de pesquisa — a forma-
ção para a vida! Gostaria, pois,
de dar a minha pequena con-
tribuição em forma de agrade-
cimento diante das inúmeras
outras que o capital material,
mas, sobretudo, humano des-
te local me concedeu durante
meus quatro anos de estágio.
Hoje, estimado leitor, um
pouco mais experiente, perce-
bo que são diferentes os tem-
pos que envolvem a formação
para a vida, pois bem, afirmo
que para a pesquisa também.
Basta lembrar que as habilida-
des que os tornam competen-
tes para ler este artigo foram
forjadas por vocês, com muito
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ção de seus professores! Pare-
ce algo óbvio de ser lembrado,
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minantemente colaborativa e
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go de 56 mil espécies de plan-
tas desidratadas, o herbário
IAC é um ambiente de ensino
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ção de pessoas. Posso afirmar
isso com veemência já que
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ma linha de pesquisa do IAC,
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qual for. De fato, hoje cada vez
me é mais claro que a vida é
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plantas desidratadas e, agora,
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rio IAC que resultaram, por
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bre a bacia do ribeirão das
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porção da Região Metropolita-
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tes que saem do muro da insti-
tuição de pesquisa e da univer-
sidade rumo ao atendimento
direto da comunidade, proje-
tos outros, voluntários ou mes-
mo envolvendo a área museo-
lógica. Como pode notar, no-
bre leitor, não faço uso de pala-
vras de ordem ou mesmo críti-
cas diretas e manifestações po-
líticas enviesadas. Contudo,
me cabe lamentar e clamar pa-
ra que haja uma sensibilização
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cos campineiros. Dessa forma,
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ma sorte que tive, considero
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Se os gestores das finanças pú-
blicas brasileira analisassem os
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mento base–zero. Trata-se de
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ções canalizadas, total ou par-
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pública.
Será que alguém analisa de
modo criterioso, por exemplo,
os programas do Fundo de Am-
paro ao Trabalhador (FAT),
cujo orçamento para 2016 su-
pera R$ 75 bilhões, para averi-
guar se são eficazes? E os bene-
fícios fiscais (gastos tributá-
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mo de desenvolvimento regio-
nal, são justificáveis à luz de pa-
râmetros técnicos que possam
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áreas como a da saúde pública
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mero de ministérios, como
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mera enganação. Apenas se
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Estamos no limite do ônus
tributário suportado pelos bra-
sileiros. Cada vez mais a socie-
dade vai rejeitar aumento de
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ciedade viciada em subsídios,
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teresseira conceituação do pa-
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mia.
Nesse cenário o orçamento
base-zero é uma inovação que
imporia a racionalidade que
falta na gestão das contas pú-
blicas no Brasil. Além disso,
sua adoção seria um importan-
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ponsabilidade Fiscal.
Opinião
Os estudiosos da ciências hu-
manas coincidem no mesmo
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tou um longo salto para a pro-
moção da ciência e da tecno-
logia. Contudo, foi pouco ca-
paz de proporcionar um cres-
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mano como pessoa.
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se estrutural está na polariza-
ção que a modernidade criou
entre indivíduo e Estado. Cer-
tamente, a vida humana é
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lética entre sua dimensão pes-
soal e sua dimensão social,
mas tensão não significa ne-
cessariamente alienação ou
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sos semelhantes a pessoa de-
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Com efeito, um novo para-
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tologias de um individualis-
mo institucionalizado, que
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ca. Resulta urgente promover
iniciativas que fortaleçam o te-
cido social e impeçam o impé-
rio da mercantilização das in-
terações sociais ou mesmo de
uma vazia politização social.
O indivíduo é hoje muitas
vezes sufocado entre os dois
polos, do Estado e do merca-
do. De fato, às vezes, parece
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produtor e consumidor de
mercadorias ou como objeto
da administração do Estado,
esquecendo que a coexistên-
cia dos homens não tem co-
mo fim nem o mercado nem
o Estado, já que a pessoa tem
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lar, a cujo serviço devem estar
o Estado e o mercado.
O banimento das esferas
de sentido humano, fruto pró-
prio da extremada racionaliza-
ção da vida contemporânea,
aumenta a entropia do siste-
ma social, cuja legitimidade
vai sendo constantemente
questionada, em razão do es-
facelamento do consenso so-
cial (con-senso: sentir com os
outros) nas áreas vitais. Como
reação, esses âmbitos tendem
a dobrar sobre si mesmos e a
autorreferencialidade dos sis-
temas sociais passa a refletir a
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divíduos.
Daí a oportunidade de as-
segurar contínuos e flexíveis
intercâmbios entre as esferas
do sistema (político e econô-
mico) e do mundo da vida. O
desengate havido entre siste-
ma e mundo da vida criou
uma falsa contraposição en-
tre a tese pública do bem co-
mum e a antítese privada do
bem pessoal que, na prática,
resulta numa confusa síntese
entre conformidade estática e
alienação hedonista.
Creio que o “reacoplamen-
to” de ambas as esferas pode-
ria ser feito pela adoção da ór-
bita social como espaço para
uma gestão livre e solidária,
fruto da criatividade das orga-
nizações intermediárias autô-
nomas e com reconhecimen-
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tatal. Logo, o sistema deve fa-
vorecer, na prática, tais gru-
pos sociais, pois estão em con-
dições de alcançar iniciativas
que transcendem os interes-
ses setoriais e de desenvolver
objetivos comunitários de en-
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O núcleo dessas iniciativas
repousa sobre o conceito clás-
sico de amizade social e sua
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cação familiar, ajudando no
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dariedade secundárias, como
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mília. Porque a pessoa é um
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mília, por estar constituída
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Além disso, a família prece-
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tividade peculiar na medida
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soas e de suas famílias. E não
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ção é tão totalitário quanto
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GESTÃO ORÇAMENTÁRIA
Editor: Rui Motta rui@rac.com.br - Editora-assistente: Milene Moreto milene@rac.com.br - Correio do Leitor leitor@rac.com.br
André
fernandes
Centro de formação para a vida
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■ ■ Paulo Bussab Lemos de Castro é
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da Educação, pesquisador,
professor, coordenador do IFE Campinas e
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Vargas
(www.facebook.com/marcoscintraalbuquer-
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Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, pedindo às nações apoio à negociação sobre o acordo mundial para o clima.
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Campinas, quarta-feira, 21 de outubro de 2015

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Herbário IAC forma pessoas

  • 1. Para além dos elementos obje- tivos que fazem do fechamen- to/transferência do herbário do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) um despropó- sito, o que pretendo com este artigo é dar a você, leitor, uma versão pessoal da qual com certeza, seria endossado por muitos outros que, como eu, foram estagiários dessa sec- ção. Aspectos estes que para muitos podem ser considera- dos subjetivos, mas que para mim, é realidade deste e, fatal- mente, de muitos outros insti- tutos de pesquisa — a forma- ção para a vida! Gostaria, pois, de dar a minha pequena con- tribuição em forma de agrade- cimento diante das inúmeras outras que o capital material, mas, sobretudo, humano des- te local me concedeu durante meus quatro anos de estágio. Hoje, estimado leitor, um pouco mais experiente, perce- bo que são diferentes os tem- pos que envolvem a formação para a vida, pois bem, afirmo que para a pesquisa também. Basta lembrar que as habilida- des que os tornam competen- tes para ler este artigo foram forjadas por vocês, com muito esforço, esmero, mas também com muita paciência e orienta- ção de seus professores! Pare- ce algo óbvio de ser lembrado, mas a aprendizagem é predo- minantemente colaborativa e de duas vias — daquele que apreende e daquele que ensi- na. Por isso, mais do que abri- go de 56 mil espécies de plan- tas desidratadas, o herbário IAC é um ambiente de ensino e aprendizagem, de formação de capital humano, de forma- ção de pessoas. Posso afirmar isso com veemência já que mesmo não atuando na mes- ma linha de pesquisa do IAC, ainda faço uso dos ensinamen- tos e vivências que lá adquiri. E quem disse que é fácil, não é mesmo? Não muito diferente de uma criança, que se torna jo- vem e depois adulto, ocorre com a iniciação à ciência. Se, por um lado, as motivações que levam uma pessoa en- quanto ser inserido na socieda- de são orientadas por inúme- ros fatores que as rodeiam, por outro, a opção pela qual cami- nha a sua ambição ou desejos, sejam eles quais forem, tam- bém é permeada de obstácu- los, infortúnios, superações, glórias etc. Bom, o mesmo acontece com a iniciação à ciência, trabalho ou qualquer outra atividade inserida em um contexto social, seja ele qual for. De fato, hoje cada vez me é mais claro que a vida é permeada por um conjunto de tomadas de decisões mediadas e influenciadas pelo contexto de minha formação – minha in- fância, família, bairro, vizi- nhos, amigos, amores, colegas de trabalho, política, minha universidade, o IAC, dentre muitos outros. Sendo assim, hoje só estou onde estou tam- bém por conta desse herbário. Até porque foram as vivên- cias e os ensinamentos desta instituição que me trouxeram o background e os contatos pa- ra trocar a minha linha de pes- quisa. Isso porque, mais do que, novamente, as 56 mil plantas desidratadas e, agora, um local de ensino e aprendi- zagem, o herbário IAC traba- lha multidisciplinarmente. Muitos dos leitores não sa- bem, mas são projetos do e com a participação do herbá- rio IAC que resultaram, por exemplo, nos inventários so- bre a bacia do ribeirão das Anhumas (site do IAC) e proje- tos que envolveram as esferas políticas e educacionais na mesma bacia, ou seja, grande porção da Região Metropolita- na de Campinas. Projetos es- tes que saem do muro da insti- tuição de pesquisa e da univer- sidade rumo ao atendimento direto da comunidade, proje- tos outros, voluntários ou mes- mo envolvendo a área museo- lógica. Como pode notar, no- bre leitor, não faço uso de pala- vras de ordem ou mesmo críti- cas diretas e manifestações po- líticas enviesadas. Contudo, me cabe lamentar e clamar pa- ra que haja uma sensibilização a respeito dos espaços públi- cos campineiros. Dessa forma, desejando para outros a mes- ma sorte que tive, considero uma lástima o que estão fazen- do com o IAC, com a nossa Campinas. Se os gestores das finanças pú- blicas brasileira analisassem os orçamentos com uma lupa pa- ra aferir a racionalidade dos gastos, eles certamente chega- riam à conclusão de que há in- contáveis dispêndios injustifi- cáveis. Inúmeros programas se mantêm por inércia sem que ninguém os questione em ter- mos de sua eficácia e eficiên- cia. Se fossem avaliados a fun- do, segundo critérios de análi- se social de projetos, muitos deles com certeza seriam ime- diatamente descontinuados. A manutenção inercial de gastos é um aspecto relaciona- do ao modelo orçamentário praticado no País, que se ba- seia no orçamento incremen- tal. Cria-se uma despesa e de- pois ela se perpetua ano após ano sem que haja avaliação pe- riódica em termos de seu retor- no social. E vão se adicionan- do novos programas sem que os que estão vigentes sejam analisados em termos de seus custos e benefícios. Daí a necessidade de se ava- liar a adoção do chamado orça- mento base–zero. Trata-se de uma técnica orçamentária on- de anualmente, ao se preparar a proposta de orçamento para o ano seguinte, os programas em andamento seriam avalia- dos no tocante à sua eficiência e eficácia. Programa que não atendesse essa exigência bási- ca seria extinto. Vale notar que a adoção de critérios orçamentários seme- lhantes a este seria inerente- mente incompatível com vin- culações orçamentárias e com- bateriam de forma decisiva a ri- gidez que atualmente inviabili- za no curto prazo qualquer ajuste fiscal pelo lado dos gas- tos. A adoção do orçamento ba- se-zero tornaria rotineira a sau- dável prática de avaliar e identi- ficar programas ou atividades que poderiam ser extintos ou redimensionados, e suas dota- ções canalizadas, total ou par- cialmente, para promover o equilíbrio fiscal, custear outras despesas ou reduzir a dívida pública. Será que alguém analisa de modo criterioso, por exemplo, os programas do Fundo de Am- paro ao Trabalhador (FAT), cujo orçamento para 2016 su- pera R$ 75 bilhões, para averi- guar se são eficazes? E os bene- fícios fiscais (gastos tributá- rios) de R$ 35 bilhões concedi- dos para as empresas localiza- das em áreas classificadas co- mo de desenvolvimento regio- nal, são justificáveis à luz de pa- râmetros técnicos que possam definir se devem ser mantidos? Recursos demandados em áreas como a da saúde pública não poderiam ser obtidos com a revisão desses programas? Simplesmente reduzir nú- mero de ministérios, como vem sendo feito, sem acabar com a função orçamentária é mera enganação. Apenas se muda a dotação do gasto sem sua efetiva redução. Estamos no limite do ônus tributário suportado pelos bra- sileiros. Cada vez mais a socie- dade vai rejeitar aumento de impostos, tornando necessário discutir gastos, mesmo com to- das as dificuldades que terão de ser enfrentadas em uma so- ciedade viciada em subsídios, transferências, rent-seeking e que acalenta uma utópica e in- teresseira conceituação do pa- pel do setor público na econo- mia. Nesse cenário o orçamento base-zero é uma inovação que imporia a racionalidade que falta na gestão das contas pú- blicas no Brasil. Além disso, sua adoção seria um importan- te complemento à Lei de Res- ponsabilidade Fiscal. Opinião Os estudiosos da ciências hu- manas coincidem no mesmo diagnóstico atual da socieda- de: um paciente que passa por uma crise de sentido e que reflete, em parte, o mal do homem moderno, a de- pressão. O discurso da moder- nidade esclarecida represen- tou um longo salto para a pro- moção da ciência e da tecno- logia. Contudo, foi pouco ca- paz de proporcionar um cres- cimento profundo do ser hu- mano como pessoa. Uma das razões dessa cri- se estrutural está na polariza- ção que a modernidade criou entre indivíduo e Estado. Cer- tamente, a vida humana é marcada por uma tensão dia- lética entre sua dimensão pes- soal e sua dimensão social, mas tensão não significa ne- cessariamente alienação ou mesmo oposição. Supõe uma harmonia íntima reforçada mutuamente, pois somente por meio da relação com os outros, a reciprocidade e o exercício do diálogo com nos- sos semelhantes a pessoa de- senvolve todas as suas poten- cialidades e pode responder à sua vocação natural. Com efeito, um novo para- digma social deve evitar as pa- tologias de um individualis- mo institucionalizado, que tende a reduzir a pessoa nas dimensões econômica e políti- ca. Resulta urgente promover iniciativas que fortaleçam o te- cido social e impeçam o impé- rio da mercantilização das in- terações sociais ou mesmo de uma vazia politização social. O indivíduo é hoje muitas vezes sufocado entre os dois polos, do Estado e do merca- do. De fato, às vezes, parece que ele existe apenas como produtor e consumidor de mercadorias ou como objeto da administração do Estado, esquecendo que a coexistên- cia dos homens não tem co- mo fim nem o mercado nem o Estado, já que a pessoa tem em si mesma um valor singu- lar, a cujo serviço devem estar o Estado e o mercado. O banimento das esferas de sentido humano, fruto pró- prio da extremada racionaliza- ção da vida contemporânea, aumenta a entropia do siste- ma social, cuja legitimidade vai sendo constantemente questionada, em razão do es- facelamento do consenso so- cial (con-senso: sentir com os outros) nas áreas vitais. Como reação, esses âmbitos tendem a dobrar sobre si mesmos e a autorreferencialidade dos sis- temas sociais passa a refletir a autorreferencialidade dos in- divíduos. Daí a oportunidade de as- segurar contínuos e flexíveis intercâmbios entre as esferas do sistema (político e econô- mico) e do mundo da vida. O desengate havido entre siste- ma e mundo da vida criou uma falsa contraposição en- tre a tese pública do bem co- mum e a antítese privada do bem pessoal que, na prática, resulta numa confusa síntese entre conformidade estática e alienação hedonista. Creio que o “reacoplamen- to” de ambas as esferas pode- ria ser feito pela adoção da ór- bita social como espaço para uma gestão livre e solidária, fruto da criatividade das orga- nizações intermediárias autô- nomas e com reconhecimen- to público pela burocracia es- tatal. Logo, o sistema deve fa- vorecer, na prática, tais gru- pos sociais, pois estão em con- dições de alcançar iniciativas que transcendem os interes- ses setoriais e de desenvolver objetivos comunitários de en- vergadura universal. O núcleo dessas iniciativas repousa sobre o conceito clás- sico de amizade social e sua importância reside na aten- ção conferida aos dados pré- políticos e pré-econômicos da vida cotidiana, como a edu- cação familiar, ajudando no resgate das fibras do esfacela- do tecido social. Além das agências de soli- dariedade secundárias, como as organizações não governa- mentais, mais importante ain- da, para o fomento da amiza- de social, são os grupos de so- lidariedade primários, onde a família, notória vítima das ideologias modernas, tem o principal destaque: é fonte ra- dical de sociabilidade e de me- diação humana cheia de senti- do. É necessário, assim, subli- nhar a “subjetividade” da fa- mília. Porque a pessoa é um sujeito e assim também é a fa- mília, por estar constituída por pessoas que, unidas por um laço profundo de comu- nhão, formam um único sujei- to comunitário. Além disso, a família prece- de outras instituições, como a própria sociedade e o Estado, os quais gozam de uma subje- tividade peculiar na medida em que a recebem das pes- soas e de suas famílias. E não o oposto: perverter essa rela- ção é tão totalitário quanto acomodar o indivíduo à som- bra do Estado ou do merca- do. Com respeito à divergên- cia, é o que penso. Lupa nos gastos públicos Família, Estado e mercado GESTÃO ORÇAMENTÁRIA Editor: Rui Motta rui@rac.com.br - Editora-assistente: Milene Moreto milene@rac.com.br - Correio do Leitor leitor@rac.com.br André fernandes Centro de formação para a vida PAULO BUSSAB ■ ■ Paulo Bussab Lemos de Castro é doutorando do Programa Multiunidades de Ensino de Ciências e Matemática (Pecim/Unicamp) MARCOS CINTRA ■ ■ André Gonçalves Fernandes é juiz de Direito, doutorando em Filosofia e História da Educação, pesquisador, professor, coordenador do IFE Campinas e membro da Academia Campinense de Letras (fernandes.agf@hotmail.com) PESQUISA IAC ■ ■ Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA) e professor titular de Economia na Fundação Getulio Vargas (www.facebook.com/marcoscintraalbuquer- que) “Não temos plano B porque não temos planeta B” Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, pedindo às nações apoio à negociação sobre o acordo mundial para o clima. dalcio opiniao@rac.com.br A2 CORREIO POPULARA2 Campinas, quarta-feira, 21 de outubro de 2015