A atriz Meg Ryan deixa de lado suas comédias românticas e aceita um papel mais denso e desafiador no filme "Em Carne Viva", onde interpreta uma professora solitária que se envolve com um possível assassino. No longa, ela aparece em cenas de nudez e sexo explícito, algo inédito em sua carreira. A atriz fala sobre os desafios de interpretar esse novo tipo de personagem e como lida com a mudança em sua imagem.
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DEPOIS DE CONSOLIDAR SUA CARREIRA EM COMÉ-
DIAS ROMÂNTICAS, COMO “HARRY & SALLY –
FEITOS UM PARA O OUTRO”, A ATRIZ PARTE PARA
UM PAPEL MAIS DENSO NO POLÊMICO LONGA-
METRAGEM “EM CARNE VIVA”, DE JANE CAMPION
NOVA
MEG
A
RYAN
STEPHENDANELIAN/CORBISOUTLINE
VANESSA MAEL, ESPECIAL PARA A MONET, DE NOVA YORK
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eg Ryan, a namoradinha da Améri-
ca a partir dos anos 80, resolveu mu-
dar de papel. Aos 41 anos, a atriz
deixa de lado a imagem da mocinha
das comédias românticas, como "Sintonia de Amor"
(1993), "Surpresas do Coração" (1995) e "Men-
sagem para Você" (1998), para viver uma mulher
complexa e em conflito no filme "Em Carne Viva"
("In The Cut"), com estréia nos cinemas brasilei-
ros prevista para novembro.
No papel da solitária professora de poesia
Frannie Avery, que coleciona versos escritos nas
paredes do metrô e se envolve sexualmente com
um possível assassino, Meg trilha um caminho
que a maioria dos seus fãs jamais imaginariam.
"Frannie não está interessada em agradar as ou-
tras pessoas, quer apenas viver a própria vida,
tentando ser o mais autêntica possível, mas é
extremamente fechada. O curioso é que a lin-
guagem é sua grande paixão e, ao mesmo tem-
po, ela não fala muito. Foi quase como fazer um
filme mudo para mim", descreve Meg.
No filme dirigido pela cineasta australiana Ja-
ne Campion, vencedora do Oscar de melhor ro-
teiro por "O Piano", a atriz aparece em um iné-
dito e, para ela, ousado nu. Os excelentes coad-
juvantes, interpretados por Mark Ruffalo ("A Últi-
ma Fortaleza"), Jennifer Jason Leigh ("Mulher
Solteira Procura") e Kevin Bacon ("Garotas Sel-
vagens") também dão peso à trama que envol-
ve suspense e sexualidade.
"Em Carne Viva" é baseado no livro homôni-
mo de Susanna Moore, um thriller montado sob
a perspectiva de uma mulher que expõe seus
impulsos a um policial (Ruffalo), mesmo quan-
do passa a desconfiar que ele é um assassino.
A história enfoca alguns dos mais reais senti-
mentos da sociedade moderna, como a morte
do romance e a solidão.
Na entrevista a seguir, Meg Ryan contou como
lidou com o desafio de ficar nua na frente das câ-
meras, reflete sobre as experiências de seu per-
sonagem e fala dessa surpreendente metamorfose
de sua carreira. Confira os melhores momentos.
Como você lida com esta imagem de "namora-
dinha da América"?
MEG RYAN: Não me sinto dessa forma e não cons-
truí isso. Já fiz mais de 30 filmes e apenas seis ou
sete deles eram comédias românticas. As pessoas
tendem a simplificar isso, escolhendo um persona-
gem, mas eu não tenho essa imagem única.
Você se assustou ou se sentiu insegura em al-
gum momento ao ler o roteiro de "Em Carne Vi-
va", escrito pela própria Campion?
Não. Quando li o script, me senti como se esti-
vesse sonhando. Mais tarde, acordei para a rea-
lidade. "Onde eu me meti?", pensei. Nesse mo-
mento, fiquei assustada, mas trabalhar com Ja-
ne Campion alivia isso. Prestei atenção na forma
como ela trabalha, o que ela já fez, a forma co-
mo promove a arte ou lida com a sexualidade nos
outros filmes... Então, posso dizer que não me
senti insegura sobre o que faria.
Como você se preparou para o personagem?
Bem, na verdade, não tive muito tempo para tra-
balhar com a preparação. Foram apenas três se-
manas corridas. E isso é de fato raro. Geralmen-
te, são meses e meses me preparando para um
novo trabalho. Dessa vez, não tive essa disponi-
bilidade de tempo, o que acabou se tornando par-
te do processo de composição de Franie. Foi uma
forma de apenas tentar liberar o personagem, na-
turalmente. Eu pensei "ok, eu tenho este tempo
para me preparar" e assim fui apresentada a pro-
fessores de poesia da Universidade de Nova York
e improvisei muito também.
A solidão é um tema fortemente retratado nes-
te filme. Como você encara a solidão?
Solidão faz parte da vida de todos. E é a pior par-
te. Mas pode ser também algo cinematográfico.
Lembro de ter assistido a um filme da Sandra Bul-
lock chamado "Enquanto Você Dormia" e me sen-
ti muito tocada pela solidão do personagem de
Sandra. Acredito que você pode se sentir sozinho
mesmo dentro de um grupo e isso faz parte das
M
MEG RYANENtREVIStA
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pessoas. Quanto à minha solidão, bem... eu sei
que minha solidão está lá. E é apenas isso.
Você aparece muito bonita e confortável duran-
te as cenas de sexo com o ator Mark Ruffalo. Em
algum momento se sentiu envergonhada a res-
peito dessas cenas?
Em nenhum momento me senti envergonhada.
Não associo o trabalho com o sentimento vergo-
nha, de nenhuma maneira. Eu achei as cenas fan-
tásticas. É exatamente o que o filme pede.
Como foi o trabalho neste tipo de cena?
No início das filmagens, nós negociamos quais
partes do corpo apareceriam. Eu sempre dizia
"você pode mostrar esta parte, mas esta não...".
Jane tinha muito mais cenas do meu corpo que
ela poderia ter usado e apenas não o fez. E, no
final, essas cenas são muito comoventes, a par-
te do filme em que duas pessoas estão se conhe-
cendo intimamente.
Você se sente pressionada em relação ao seu cor-
po por aparecer nua no filme, com 40 anos?
Não me exercitei durante cerca de um ano antes
de rodar "Em Carne Viva", pois estava trabalhando
em outro projeto. Esta foi a pior forma física de to-
da a minha vida. Mas o que eu posso fazer? É o que
vocês estão vendo.
A segurança a respeito do corpo que Franie
demonstra é uma mensagem para as mulheres?
Acredito que Franie é muito confortável com o
corpo que tem. Me sinto dessa forma também,
mas Franie tem essa característica realmente des-
tacada. Uma das concepções erradas sobre o fil-
me é que ela está acordando para sua sexualida-
de. Ela tem uma vida sexual normal, é sensual e
procura sexo. A coisa mais simples, como andar
nua pelo quarto segurando um copo de água e
conversando com seu par é algo corajoso. Não
como as cenas de sexo, estou falando da liber-
DIVULGAÇÃO
"EU ME ACHO
SENSUAL, SÓ NÃO ME
VEJO COMO UMA MULHER VULGARMENTE SENSUAL.
É, EU TENHO MEUS MOMENTOS..."
Visual reciclado
Meg Ryan
em cena de
“Em Carne Viva”
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Assista a Meg Ryan em “Mensagem para Você”
O • Warner • segunda, dia 24, 21h
dade do personagem ao fazer aquilo. Isso de-
monstra o quanto Jane Campion é brilhante.
Aquela cena diz "essas pessoas não são reca-
tadas ou tímidas".
Meg Ryan é tão sexy quanto Franie?
Não, não sei. Bem, eu me acho sensual, só não
me vejo como uma mulher vulgarmente sensual.
É, eu tenho meus momentos...
Você posaria nua?
Não, de forma nenhuma. Acredito que isso é uma
coisa completamente diferente da concepção des-
te filme. "Em Carne Viva" refere-se a exploração da
intimidade e o respeito pela mulher. A forma co-
mo o detetive Malloy (Mark Ruffalo) faz amor com
ela no filme é linda, ele está interessado em dar
prazer, em observá-la, em conhecê-la... Não se
trata de nada além de intimidade.
Por que Frannie parece sempre procurar o perigo?
O que eu amo em relação a este personagem é
que Frannie caminha ao encontro do que ela tem
medo e faz isso o tempo todo. Frannie não quer
deixar nada pendente, nada para trás, sem reso-
lução, então ela vai até este homem e existem
muitas dúvidas em relação a ele. Ele é um assas-
sino, ou não? Ir ao encontro com do que teme-
mos é o que nos faz viver.
Quais são seus próximos projetos?
Eu filmei no Canadá, antes de "Em Carne Viva", um
longa chamado "Against the Ropes" (algo como
"Contra as Cordas") em que eu interpreto uma mu-
lher realmente sexy e espalhafatosa [a promotora
de boxe Jackie Kallen]. Este tipo de personagem é
difícil. Da mesma forma que Frannie gostaria de es-
tar camuflada entre a decoração, para não ser no-
tada, em "Against the Ropes", Jackie queria apare-
cer. Isso realmente me tirou muita energia. q
Em “Viagem
Insólita”, Meg
aparece como a garota da
cobaia de um projeto
secreto (Dennis Quaid). Eles
se casariam na vida real,
quatro anos depois. No
filme, ela ainda flerta com o
atrapalhado Martin Short.
1987
A atriz formou
um confuso e
divertido casal com Billy
Crystal em “Harry & Sally -
Feitos Um Para o Outro”,
de Rob Reiner. Para muitos,
a comédia romântica foi o
seu melhor trabalho.
1989
Russell
Crowe faz
par com Meg em “Prova
de Vida”. O romance
ultrapassou as fronteiras
do set e colocou um
ponto final no casamento
de nove anos com o ator
Dennis Quaid.
2000
Na pele de
uma cirurgiã,
Meg desperta a paixão em
um ser puro e celestial,
interpretado por Nicolas
Cage, em “Cidade dos
Anjos”, um remake de
sucesso do cult
“Asas do Desejo”.
1998
A parceria comTom
Hanks reviveu os anos
de ouro.Eles parecem feitos um
para o outro em filmes como
“Sintonia deAmor” e “Mensagem
paraVocê” (foto), de 1998.
1993
OS
DEPARES
M E GR YA N
MEG RYANENtREVIStA
FOTOS:DIVULGAÇÃO
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