O documento descreve a experiência da autora em criar três máscaras usando argila após anos sem contato com a arte. A autora passou por dificuldades no início, mas foi se apropriando da técnica ao longo do processo. As máscaras representaram culturas indígena, asiática e egípcia. A autora refletiu sobre como a atividade contribuiu para seu autoconhecimento e desejo de continuar explorando a arte.
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Criar máscaras com argila
1. Criar três máscaras: A partir das expressões do
nosso rosto utilizando um espelho.
Suely Godoy
proposta veio de uma forma fechada, não
que haja problemas em termos tais
encaminhamentos. O fato ocorreu que,
não sendo da área das artes, mas sim da educação e não
havendo na infância e nem em outro momento da vida
manuseado com a argila, mesmo enquanto professor de
educação infantil, pois a proposta pedagógica da escola onde
leciono não me permitia tal experiência, fiquei um tanto
ansiosa com a proposta de confeccionar três máscaras a
partir da observação do nosso rosto através do auxilio de um
espelho, e transpondo as várias expressões em um suporte,
outra habilidade em mim ainda não desenvolvida.
A princípio fiquei como uma criança de três ou
quatro anos, emburrada. Olhei para os materiais, me
mantive inerte. Essa postura durou em torno de duas horas
da aula, depois comecei a observar como os outros colegas
estavam procedendo e a atenção que davam à artista que nos
assistia. Confesso que pulei algumas etapas na primeira
máscara, no entanto, o manuseio com a argila foi dando uma
satisfação enorme, que comecei a buscar informações para
que a máscara fosse tomando forma.
Como assumi, algumas etapas iniciais foram
subtraídas, escolhi então formatar a máscara com feições
indígenas, por ter diretamente essa descendência, juntamente
com a portuguesa. À medida que o processo de criação
ficava mais visível o prazer tornava-se mais intenso.
A
As três máscaras.
Fig. 1 – Fazendo o estudo das
feições e expressão.
Fig. 2 e 3 – Moldando os detalhes.
Primeira Máscara
2. Quando a mascar foi finalizada no suporte de jornal e
retirada e era necessário “biscoitar” a argila, começamos os
passos iniciais da segunda máscara da qual falaremos mais
adiante. Quando a máscara saiu do forno fomos entender o
que era “biscoitar” a argila, que há todo um processo para a
queima da argila. Então, escolhemos a técnica do raku para a
finalização. Em seguida fizemos a pintura na máscara em um
lado só para dar o efeito negativo e positivo, duplamente,
através da queima, do “engobe” no lugar da tinta.
Confesso que, embora tenha sido um percurso com
algumas etapas suprimidas, gostamos do processo final.
A segunda máscara percorreu quase o mesmo processo,
utilizando o espelho, mas sem fazer o desenho, porque tenho
uma grande dificuldade e também resistência para o desenho,
que preciso desconstruir, mas em outro momento. Voltando ao
relato, no percurso da segunda máscara, resolvi utilizar feições
asiáticas, já que os povos indígenas sul-americanos têm
aspectos semelhantes.
O domínio para fazer o percurso inicial da máscara
ocorreu sem interrupções, quanto ao aspecto da insegurança.
Todas às vezes que necessita de alguma informação buscava
com a artista orientadora da disciplina, ou, com os colegas que
já trabalhavam com argila. Esse espaço de interações
contribuiu para que conhecêssemos todos os aspectos do
processo histórico do homem com a argila.
A máscara não foi concluída porque houve um
problema técnico com o forno, além de um período de recesso,
devido a um feriado, que atrapalhou a sequência e finalização
da segunda máscara. Mas, em determinado momento percebi
que estava reproduzindo com os polegares movimentos
repetitivos, vistos no antigo Matadouro, Ateliê do artista
Figuras 4, 5 e 6 – Término da
modelação; pintura; após a
queima.
Fig. 7, 8 e 9 – Etapas da
modelagem.
Segunda Máscara.
3. português Alberto Cidraes, quando estivemos em Cunha, em
um curso de extensão da UNESP, com a Professora Lalada.
Nesse momento percebi que esse banco de imagens e
conhecimento armazenados no nosso cérebro é acionado.
Mesmo assim, foi um momento reflexivo importante para a
apropriação do ato criador.
O processo de criação da terceira máscara continuou
com a mesma proposta estabelecida pela artista orientadora
do curso e por nós. Estudamos sobre a cultura egípcia,
lembramo-nos das esfinges, dos grandes faraós, então
comecei a formatar a argila na região dos os olhos com o
formato daquele povo. A máscara ficou com poucos detalhes,
com a expressão de uma figura embalsamada. Pintei os olhos
com a cor azul, diversas vezes, para destacar bem a expressão
do olhar.
Gostei do resultado, percebi que em cada etapa do
processo de confecção das três mascaras fui me apropriando
desse universo da modelagem.
Em síntese, sobre a disciplina, cheguei há algumas
considerações importantes: que podemos nos apropriar de
qualquer conhecimento se não houver resistência e que é
necessário buscar os conhecimentos formais e teóricos
necessários para desenvolver um trabalho significativo, mas
principalmente “colocar a mão na argila sem medo”.
Sob uma nova perspectiva, conclui que ao participar
dessa disciplina, que nos introduziu ao conhecimento teórico
histórico e a prática das técnicas de modelagem em argila, nos
deu condições para prosseguir na exploração dessa arte. Com
essa experiência, e a partir de uma reflexão, nós que
haviamos acompanhado a Professora Lalada até o Vale do
Jequitinhonha e em Cunha, para ver o processo de criação das
Fig. 10 – Finalização da
segunda máscara.
Terceira Máscara.
Fig. 11, 12 e 13 – Máscara
modelada. Início da pintura
Máscara finalizada.
4. Argila e Lágrima *
Moldei um novo rosto
no barro fresco do incerto
e reescrevi meu antigo jeito de
caminhar:
trôpego e feliz.
Mergulhei de novo
no antigo rosto pra resgatar
o bom rosto quase esquecido no
incesto.
Descobri num quase surto
que de novo em meu rosto
só residem as marcas do cansaço,
as surras da enciumada realidade,
a este barro que me inunda
até a alma.
* Série de Poemas manuscritos nos anos 70,
períododa ditadura militar no Brasil, por
um jovem poeta Anônimo.
Disponível em:
http://www.poesias.omelhordaweb.cm.br/pagina_
textos_autor.php?cdPoesia=60724&cdEscritor=27
15&rdBusca=&tbTxBusca= Acessado: 27/10/2012
mulheres desses lugares, nos inscrevemos em um grupo de
pesquisa sobre cerâmica.
Finalizando, agradeço o período que estivemos sobre a
orientação da artista ceramista Máry Koffler, pois adquirimos
conhecimentos que nos acompanhará para sempre. Assim
como, compreendi que o manuseio com a argila é um processo
de autoconhecimento, pois o barro tem vida própria, e não é
manipulado como desejamos.
Autora: Suely Godoy/ 2012