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CAPÍTULO 7 - 1
2a
edição
2022
FIXA!
RENDA FIXA
Nord Research ©
Todos os direitos reservados
Rua Joaquim Floriano, 100 - Itaim Bibi,
São Paulo - SP, 04534-000
contato@nordresearch.com.br
Renda Fixa Não é Fixa!
Nord Research
2022
Marilia Fontes | Autoria
Victor Weiler | Coordenação do projeto,
organização e edição
Glenda Donadio | Preparação e revisão
Marina Fiorese | Diagramação
Bernardo Coelho Studio | Fotografia de Capa
Mariana Lima | Tratamento de imagens
MARILIA FONTES
RENDA FIXA NÃO É FIXA!
2a
edição
Ao meu marido, Marcio,
e minhas paixões, Carol, Dani, Sofia,
Luisa e Gabriel.
A todos os meus leitores cujas perguntas e
feedbacks apuraram os capítulos deste livro.
A wealthy person is simply
someone who has learned
how to make money when
they’re not working”
Robert Kiyosaki
“O rico é simplesmente aquela pessoa que aprendeu
a fazer dinheiro quando não está trabalhando”
Sumário
Prefácio...........................................................................................10
Introdução......................................................................................14
1 | O Poder dos Juros Compostos.......................................... 18
2 | Os tipos de títulos................................................................ 26
3 | Títulos públicos..................................................................... 36
3.1 Passo a passo para investir no Tesouro Direto........47
3.2 Prefixados .......................................................................52
3.3 Pós-fixados......................................................................64
3.4 Indexados à inflação......................................................77
4 | Títulos bancários................................................................... 88
4.1 O FGC...............................................................................92
4.2 CDBs.................................................................................96
4.3 LCI e LCA..........................................................................99
4.4 Poupança.........................................................................102
4.5 Outros...............................................................................109
5 | Títulos de empresas............................................................. 112
5.1 Debêntures......................................................................114
5.2 CRAs e CRIs.....................................................................119
6 | As agências de rating............................................................ 122
7 | A análise de crédito............................................................... 128
8 | Como operar renda fixa – a gestão ativa......................... 136
8.1 A curva de mercado........................................................142
8.2 Exemplo I – 2012............................................................148
8.3 Exemplo II – 2013...........................................................154
8.4 Exemplo III – 2016..........................................................157
8.5 Exemplo IV – Prefixados x Indexados........................160
9 | A renda fixa não é fixa!......................................................... 164
CAPÍTULO 1 - 9
Prefácio
A Renda Fixa no Brasil tem passado por transformações
importantes ao longo dos últimos anos. Essas mudanças
ocorrem no bojo do desenvolvimento do mercado de
títulos privados, alicerçado pelos avanços no mercado de
títulos públicos federais que o precedeu. Soma-se a isso
o aparecimento de novos produtos financeiros e plata-
formas de negociação, o aumento da transparência, além
do aprimoramento normativo e autorregulatório criado
pelos participantes de mercado. Finalmente, deu-se o
alargamento e a diversificação da base de investidores,
elemento central no aumento da dispersão dos instru-
mentos de renda fixa.
O ajuste macroeconômico realizado na segunda
metade da década de 90 estava calcado em três
aspectos fundamentais: o ajuste nas contas externas,
o controle das finanças públicas com a adoção de uma
política fiscal austera e o controle da inflação. A esta-
bilização dos preços foi condição necessária para o
desenvolvimento da renda fixa no Brasil pelo simples fato
de dar maior previsibilidade ao valor do dinheiro no tempo.
10 - Renda Fixa não é Fixa!
A inflação tem esse extraordinário poder de encurtamento
dos horizontes de tempo pela incerteza que impõe sobre o
valor dos ativos. Quando se verifica o descontrole, o poder
de compra do consumidor é corroído rapidamente, assim
como a riqueza do investidor enquanto poupador nato,
dependendo do instrumento financeiro que escolheu para
rentabilizar seu dinheiro.
Investimentos em renda fixa são aqueles em que o inves-
tidor sabe de antemão exatamente como será remunerado.
Isso não significa necessariamente saber o resultado final
do investimento daqui a um ano, por exemplo. Por conta
do contexto inflacionário que o Brasil viveu no passado,
criou-se uma cultura de indexar todo investimento a
alguma taxa de juros para evitar perdas. Quando a inflação
chegou a menos de 10% ao ano, o cenário mudou.
Foi assim que a renda fixa ganhou uma nova cara
no Brasil, começando pela melhora do perfil da dívida
pública federal, especialmente entre 2003 e 2008,
quando foram lançados vários instrumentos diferentes
daqueles aos quais os investidores estavam habituados.
O Tesouro Nacional foi capaz de alongar os prazos de
seus títulos, além de oferecer consistentemente títulos
com taxas prefixadas, aqueles em que o investidor sabe
exatamente quanto receberá entre a data do investi-
mento e do resgate. Também ofertou títulos com prazo
de 40 anos atrelados à inflação, excelente alternativa para
quem deseja uma aposentadoria tranquila, com liquidez
e segurança. É importante dizer que o Tesouro Nacional
ofereceu essas alternativas tanto em seus leilões sema-
nais, nos quais há a participação de diversas instituições
financeiras, quanto no Tesouro Direto, programa essen-
cialmente dedicado à pessoa física e que tem crescido
rapidamente nos últimos anos.
PREFÁCIO - 10
CAPÍTULO 1 - 11
Esses avanços no mercado de títulos do Tesouro
Nacional foram vitais para o desenvolvimento do
mercado de títulos privados, seja corporativo ou ban-
cário, na medida em que criou referências de preços
bem definidos em diversos pontos do tempo. Essas
mudanças ajudam a responder qual é o preço justo
de um investimento daqui a três, cinco ou dez anos.
Em abril de 20171
, o mercado de renda fixa compreendia
um total de R$ 5,6 trilhões, dos quais 56,3% são repre-
sentados por títulos públicos, 11,5% e 10,6% por CDBs
e Letras Financeiras, 13,55% por debêntures e 8% por
títulos de créditos e outros títulos privados.
A evolução significativa desses mercados promovida
por esses diversos instrumentos não estaria completa se
não houvesse enormes esforços para simplificar o enten-
dimento do investidor não profissional. Nesse sentido,
este livro preenche uma lacuna importante, explicando
de maneira simples e didática as características de cada
mercado, a atenção e os cuidados que o investidor pre-
cisa ter, ao mesmo tempo que demonstra que investir em
renda fixa não é tão difícil quanto parece no imaginário das
pessoas. Na renda fixa, os preços variam, mas o investidor
pode proteger seus recursos de oscilações momentâneas
se realizar um planejamento correto e souber claramente
qual é seu objetivo, seu horizonte e seu prazo para resgate.
É com muita satisfação que apresento este livro, que
busca descrever como é possível obter excelentes rentabi-
lidades na renda fixa, num momento especial da indústria.
O investidor pode ter acesso a diferentes alternativas
de investimento de maneira descentralizada, tomando
suas próprias decisões sobre onde e como investir, seja
em seu aplicativo móvel ou pelo computador de casa.
Mesmo diante dessa liberdade de escolha, nem todos
12 - Renda Fixa não é Fixa!
1
Boletim de Renda Fixa da Anbima.
*André Proite foi gerente de Relacionamento com Investidores da
Dívida Pública e atuou como Coordenador-Geral de Controle e
Pagamento da Dívida Pública na Secretaria do Tesouro Nacional.
No entanto, este prefácio foi escrito de maneira dissociada de suas
atribuições, no intuito de incentivar iniciativas voltadas à edu-
cação financeira. Além disso, o Código de Ética da instituição foi
observado, e a opinião aqui descrita se refere exclusivamente ao
autor, não se confundindo com um posicionamento institucional.
se sentem à vontade ou seguros para seguir adiante, e é
nesta linha que o livro contribui fortemente para tornar as
escolhas individuais mais fáceis e ajudar os investidores a
realizar essa travessia.
André Proite*
PREFÁCIO - 12
CAPÍTULO 1 - 13
Nos primeiros 8 anos de minha carreira, trabalhei como
gestora de fundos de investimento do tipo multimercado.
A estratégia desses fundos é basicamente efetuar inves-
timentos principalmente em ações, moedas e juros para
obter uma rentabilidade acima do CDI. Eu trabalhava com
renda fixa e câmbio.
Dentre os investimentos que eu operava, estavam
contratos de juros no mercado futuro, títulos públicos e
opções. Com esses instrumentos, era possível obter ren-
tabilidades bastante agressivas e concorríamos no mesmo
patamar que a equipe de ações. Ora ganhando, em termos
de rentabilidade, ora perdendo.
Na maioria dos casos, a renda fixa era considerada
o “carro chefe” desses fundos, de onde advinham as
maiores rentabilidades. Até porque as ações eram
muito voláteis, e os juros no Brasil sempre foram altos
o suficiente para desencorajar qualquer investimento
de risco.
Introdução
14 - Renda Fixa não é Fixa! INTRODUÇÃO - 14
Os fundos eram destinados principalmente aos grandes inves-
tidores. Muitas vezes, a única comunicação que tínhamos com os
clientes era indireta e mediada por um distribuidor (que aloca os
recursos dos clientes “private” dos grandes bancos).
Em janeiro de 2016, me chamaram para integrar o time
de uma casa de análise como analista de renda fixa. A casa
era destinada a fazer recomendações de investimentos para
pequenos investidores. Grande parte dos investimentos desse
grupo ia para a poupança ou para outros investimentos de
baixa rentabilidade ou alto custo, sugeridos por gerentes de
banco. A ideia de se criar uma casa de análise era dar acesso ao
mesmo tipo de conhecimento fornecido aos mais sofisticados
investidores institucionais.
Eu me recordo de ter pensado que a única mudança, em termos
de carreira, seria que em vez de comprar os investimentos para
meus clientes, iria sugerir a eles o que comprar.
No entanto, sentada na minha cadeira de analista de renda
fixa, percebi logo no começo que não seria somente isso.
O pequeno investidor estava tão desamparado, tão repleto de
informações falaciosas e tendenciosas, tão cercado de conflitos
de interesses, que simplesmente, sabendo do que eu sei e tendo
aprendido tudo o que eu aprendi, não poderia deixar de trans-
mitir o conhecimento.
Em 2018, fundei a Nord Research com mais 4 sócios, uma casa
de análise que além de dar o peixe – as valiosas recomendações
de investimento –, também ensinava a pescar, com muito con-
teúdo educativo.
O trabalho passou a ser não só de sugerir e recomendar, mas
também de treinar e educar financeiramente o investidor. Sempre
digo que é totalmente razoável o pequeno investidor correr altos
CAPÍTULO 1 - 15
riscos, desde que ele esteja 100% ciente desses riscos que
ele corre.
O pequeno investidor é acostumado a encarar renda
fixa como aquele investimento que rende pouco, mas
sempre rende, e a renda fixa pode ser completamente
diferente disso. Pode ser um investimento que gera perdas
relevantes, assim como ganhos agressivos.
Renda Fixa pode ser muito segura ou pode ser extrema-
mente arriscada.
Eu não entendia por que nossos leitores preferiam
ações à renda fixa; por que nossos relatórios de ações
eram mais procurados como fontes de retorno subs-
tancial. Durante toda a minha carreira no mercado
financeiro, vi a renda fixa ser, na maioria das vezes,
priorizada como fonte de rentabilidade pelos investi-
dores profissionais.
Neste livro, vou explicar para você, leitor, como operar
renda fixa de forma agressiva.
Vou te explicar como obter retornos de 40% ou 50%
no ano apenas com renda fixa. Vou falar também sobre
como preservar seu capital com renda fixa, operando de
forma cautelosa.
Muitas vezes, os pequenos investidores utilizam
CDBs de bancos altamente arriscados, achando
que estão fazendo um investimento conservador.
Na verdade, essa operação é extremamente arriscada.
Da mesma forma, muitos deles investem em títulos
públicos prefixados longos achando que estão fazendo
um investimento conservador. Se tiverem que vender
16 - Renda Fixa não é Fixa! INTRODUÇÃO - 16
antecipadamente o papel, é possível incorrer até mesmo
em prejuízos.
É preciso entender exatamente como funciona cada
título e como se beneficiar das diversas características de
cada um.
Estando ciente de seu funcionamento, resta a você,
sabendo qual é o seu perfil de risco e sua necessidade de
capital, escolher o mais adequado.
Então vamos entender exatamente como funciona o
mercado de renda fixa, qual é o real risco que corremos
com cada título, as ciladas e as oportunidades.
O PODER DOS
JUROS COMPOSTOS
1
18 - Renda Fixa não é Fixa!
Chamamos de renda fixa tudo aquilo que representa uma
dívida. Quando você compra um título do governo, na verdade
está emprestando dinheiro para ele. Quando compra o CDB de
um banco, está emprestando dinheiro para o banco. Quando
compra uma debênture de uma empresa, está emprestando
dinheiro para ela.
Como todo empréstimo, combinamos uma data para o
vencimento do empréstimo, quando se tem que pagar o valor
emprestado e mais um juro acordado.
Por exemplo, nos títulos públicos, o pagamento de juros, amor-
tização e vencimento é padronizado. Todo pagamento de juros
é feito semestralmente (para os títulos que pagam juros). Todo
valor nominal é pago apenas no final, e os prazos de vencimento
são escolhidos pelo Tesouro, de tal forma que cada tipo de título
tem aproximadamente uns 15 prazos disponíveis.
Os CDBs, LCIs e LCAs são menos padronizados e podem variar
bastante em vencimento. O pagamento dos juros e principal
geralmente só é feito ao final do vencimento do título, a não ser
para CDBs com liquidez diária, nos quais é possível sacar o prin-
cipal e juros a qualquer momento.
CAPÍTULO 1 - 19
Nas debêntures, tudo pode mudar. Cada título tem seu
esquema de pagamento de juros, principal e vencimento, e é
necessário analisar caso a caso.
Não se preocupe em gravar esses detalhes, falaremos
mais sobre cada título nas próximas seções. Estou apenas
exemplificando.
Como todo empréstimo também, temos que analisar crite-
riosamente a saúde financeira de quem estamos emprestando
o dinheiro. A resposta principal é saber se essa instituição terá
capacidade de nos devolver o principal e juros.
Se o nosso devedor é mais arriscado, então devemos exigir um
juro maior para realizar o empréstimo. Emprestar para um banco
pela mesma taxa que emprestamos para o governo não faz sen-
tido. Também vamos falar mais sobre isso adiante.
Existe uma característica importantíssima dos juros que
faz dos títulos de renda fixa seus maiores aliados quando se
pensa em construção de patrimônio e aposentadoria: os juros
são compostos!
O que isso significa?
Juros compostos são aqueles em que os juros de cada
período são somados ao valor inicial para o cálculo dos juros
do próximo período.
Por exemplo, suponha um investimento inicial de R$ 100 a
uma taxa de 10% ao ano.
Depois de 1 ano, terei R$ 110,00
[ 100*(1+10%) ]
Depois de 2 anos, não vou ter R$ 120,00, mas sim R$ 121,00
[ 100*(1+10%)ˆ2 ]
20 - Renda Fixa não é Fixa!
Esse 1 real a mais foi o efeito dos juros do segundo período em
cima dos juros obtidos no primeiro período.
Esse efeito de composição faz com que o seu patrimônio
cresça de forma exponencial.
Na tabela ao lado, temos o
resultado desse investimento
nos períodos seguintes:
O investimento inicial, que
era de apenas R$ 100, acabou
virando R$ 670 depois de 20
anos, simplesmente pela com-
posição de juros.
Isso significa dizer que,
durante esse tempo, você
não teve que aportar mais
dinheiro ou conseguir
retornos melhores.
Você apenas aplicou seu
dinheiro a uma taxa de 10% e
ele começou a se multiplicar.
Simples assim!
No curto prazo, não
conseguimos perceber a
diferença, mas ao longo do
tempo, vemos o bolo crescer
consistentemente.
Essa é a melhor previdência
que você pode ter.
Anos Patrimônio
0 100,00
1 110,00
2 121,00
3 133,10
4 146,41
5 161,05
6 177,16
7 194,87
8 214,36
9 235,79
10 259,37
11 285,31
12 313,84
13 345,23
14 379,75
15 417,72
16 459,50
17 505,45
18 555,99
19 611,59
20 672,75
CAPÍTULO 1 - 21
Esqueça as discussões do governo sobre o envelhecimento da
população, a idade mínima de aposentadoria, o valor do teto…
Você pode se aposentar depois de 30 anos de trabalho, inde-
pendentemente do que o governo quer que você faça, apenas
sendo previdente e investindo em renda fixa.
Veja o que acontece com os seus investimentos se, além de
investir com um juro de 10%, você decide poupar 100 reais por mês:
Depois de 10 anos: R$ 19.985,00
Depois de 20 anos: R$ 71.825,00
Depois de 30 anos: R$ 206.284,00
Parece bom, não é mesmo? Mas estamos só esquentando.
Agora, vamos imaginar a mesma situação, mas com um inves-
timento de 500 reais por mês:
Depois de 10 anos: R$ 99.930,00
Depois de 20 anos: R$ 359.130,00
Depois de 30 anos: R$ 1.031.420,00
Uau! Você virou um milionário. Como você queria ter pensado
nisso 30 anos atrás, não é mesmo?
Não se martirize, a maioria das pessoas não poupa de
forma consistente.
22 - Renda Fixa não é Fixa!
A ideia da criação do sistema de previdência era exata-
mente essa. O governo percebeu que o cidadão comum era
um ser não previdente e que se dependesse somente dele
para acumular o valor necessário para que pudesse ter uma
aposentadoria tranquila, ele não o faria (gerando problemas
sociais posteriores).
Em vista disso, o governo tornou a cobrança mensal compul-
sória, sendo ela um percentual do salário. Mas o fato é que, se
você tiver a consciência de um ser previdente, independente-
mente da situação fiscal do governo, você poderá contar com
uma aposentadoria e criação de riquezas consistente.
Quanto mais cedo você começar, mais rápido terá a sua liber-
dade financeira graças ao efeito dos juros compostos.
Uma excelente notícia para você, que pensa em começar
agora, é que você mora no país com a maior taxa de juros do
mundo. Isso significa que demora muito menos para você poder
se aposentar do que todo o resto do globo!
Enquanto nossas contas são feitas com 10%, o resto do mundo
tem que usar 2 ou 3% ao ano. Então aproveite! Isso não deve
durar para sempre.
Eu me lembro de ter lido um livro na adolescência que me
fez mudar a forma como eu encarava o dinheiro. É um livro bem
básico e fácil de ler. Li em um dia porque não conseguia parar.
Não tem nada de sofisticado, mas na simplicidade dele aprendi
algo que levo até hoje.
O livro se chama Pai rico, Pai pobre, de Robert Kiyosaki. Vocês
devem ter ouvido falar. Ele fala sobre educação financeira e sobre
como encarar o dinheiro.
CAPÍTULO 1 - 23
A lição mais importante é:
A maioria das pessoas trabalha pelo dinheiro. Ou seja, tem
uma série de gastos (a maioria bem fundamentados) e, para
honrar seus compromissos, trabalha exaustivamente a vida toda;
o livro dá o nome de “corrida de ratos” a isso.
Muitas dessas pessoas, quando recebem um aumento de salário,
sentem-se confortáveis para aumentar ainda mais os seus gastos,
o que as torna ainda mais dependentes do trabalho, e não menos.
O objetivo do autor é fazer você perceber que você tem
que sair da corrida de ratos e começar a fazer o DINHEIRO
TRABALHAR POR VOCÊ, e não você trabalhar pelo dinheiro.
O que isso quer dizer?
Quer dizer, em outras palavras, FAZER OS JUROS
TRABALHAREM POR VOCÊ.
Quanto mais você conseguir economizar hoje, mais rápido
poderá parar de trabalhar, pois os juros do seu patrimônio vão
gerar renda o suficiente para você honrar seus gastos mensais.
Eles ficam trabalhando e você fica curtindo.
No livro O valor do amanhã, de Eduardo Gianetti (que eu tive
o prazer de ter como professor durante minha graduação em
economia), ele discute exatamente a dificuldade das pessoas
em segurar a ansiedade e consumir menos hoje em troca de um
maior consumo amanhã.
Quanto menor a nossa maturidade financeira, menos conse-
guimos ter a paciência de esperar a troca de mais no futuro em
relação a menos hoje.
A nossa sobrevaloração do hoje, depois de 30 anos de tra-
balho, nos faz olhar para trás com arrependimento, pensando
24 - Renda Fixa não é Fixa!
que já poderíamos ter nos aposentado. Poderíamos ter um
trabalho mais tranquilo ou nos dedicarmos a um hobby. Mas
a maioria das pessoas se mantém presa na “corrida de ratos”.
Ganhando e gastando.
Espero que eu tenha conseguido te estimular a pensar na
importância da renda fixa e dos juros compostos.
Além disso, há outro fator que pode acelerar sua aposenta-
doria. Como eu mostrei anteriormente, com 500 reais, você teria
1 milhão depois de 30 anos. Isso considerando uma taxa de juros
de 10%.
Agora, quanto tempo demoraria para eu ter esse mesmo
1 milhão investindo a uma taxa de 20%?
Resposta: 20 anos!
Ou seja, se essa fosse a sua meta de patrimônio, você poderia
se aposentar 10 anos mais cedo se conseguisse um retorno maior.
Nos próximos capítulos, vou explicar como funciona cada
título de renda fixa e como podemos usar cada um deles para ora
preservar nosso patrimônio (em momentos de crise), ora obter
retornos agressivos (em épocas de otimismo).
Com esses dois vetores trabalhando por você, restará apenas
que o tempo passe para que você alcance o patrimônio desejado.
Lembrando que tudo isso se dará utilizando a classe de ativos
tida como a mais conservadora de todas: a renda fixa.
OS TIPOS
DE TÍTULOS
2
26 - Renda Fixa não é Fixa!
Quando falamos em renda fixa, parece que estamos falando
sobre um tipo de ativo, mas na verdade a renda fixa engloba
diversos tipos diferentes de ativos.
Todos representam uma dívida de alguém com alguém. Em
todos os casos, você, investidor, estará emprestando dinheiro
para alguma instituição (governo, banco ou empresa) e em troca
receberá o dinheiro que emprestou mais juros.
Esses empréstimos diferem nas seguintes características:
 indexador da dívida;
 emissor da dívida;
 vencimento/prazo do empréstimo;
 lastro ou garantia do empréstimo;
 tipo de marcação do preço ou negociação.
O indexador da dívida é sobre qual índice que servirá de refe-
rência para os juros do meu empréstimo.
Por exemplo, o CDI é a referência de alguns títulos pós-fixados
como CDBs, LCIs, LCAs, debêntures.
A Selic efetiva é a referência do Tesouro Selic. O IPCA é a refe-
rência do IPCA+, e assim vai…
O indexador serve para estabelecermos desde o início como
será pago o juro do nosso empréstimo. Não podemos mudar a
regra do contrato e, se um indexador é escolhido, ele deverá ser
utilizado até o vencimento do título.
O emissor da dívida é para quem você vai emprestar o
dinheiro. É o devedor do empréstimo. Ele vai emitir o título que
o investidor vai comprar.
CAPÍTULO 2 - 27
Os emissores podem ser:
o governo;
os bancos;
as empresas.
Quando o governo emite um título, chamamos de Título
Público. Os mais conhecidos e disponíveis no Tesouro Direto são
Tesouro Selic (ou LFT), Tesouro Prefixado sem cupom (ou LTN),
Tesouro Prefixado com juros semestrais (ou NTN-F), Tesouro
IPCA+ com juros semestrais (ou NTN-B) e Tesouro IPCA+ (ou
NTN-B Principal).
Os títulos emitidos por bancos são os CDBs, LCA, LCI,
Poupança, LC, LF, RDB.
Os títulos emitidos por empresas são as Debêntures, CRIs e CRAs.
Ou seja, se eu te falo que tenho uma LCA para te recomendar,
você já sabe que é um produto de banco. Se eu te falo sobre
uma Debênture, você já vai saber que se trata de uma dívida de
empresa. Se eu falo do Tesouro Selic, será do governo.
Por que é importante sabermos quem é o emissor da dívida?
Como eu disse na introdução, é importantíssimo sabermos
para quem estamos emprestando o nosso dinheiro. É preciso
analisar se o emissor é um bom pagador e se ele terá condição de
nos pagar o empréstimo de volta.
Se o emissor for uma instituição com sérios problemas
de dívida e falta de dinheiro, não vamos querer emprestar.
Ou, então, se aceitarmos correr esse risco, vamos exigir uma taxa
de juros muito maior para que compense o risco de calote.
1
2
3
28 - Renda Fixa não é Fixa!
Vejo que o erro mais comum do pequeno investidor é aceitar
financiar bancos médios que geram prejuízo por taxas levemente
acima da Selic. O investidor compara as taxas do Tesouro Selic
(100% da Selic Efetiva) com as dos CDBs desses bancos (110%
do CDI) e acha que está fazendo um ótimo negócio rentabili-
zando 110%.
Na verdade, o nível de risco que esse investidor está correndo
pode ser 20 vezes maior. Ele está sendo remunerado a mais
porque o investimento é muito mais arriscado, mas na maioria
das vezes ele não está ciente do risco que corre e não está sendo
remunerado condizentemente com o risco incorrido.
Depois que o banco quebra, resta torcer para que o FGC tenha
recursos disponíveis para resgatar os detentores do título.
Torcer? Mas o FGC não é obrigado a me pagar? Não! E vou
falar mais sobre isso adiante.
Temos uma hierarquia dos emissores em relação ao seu nível
de risco.
O emissor menos arriscado, ou mais seguro, é o governo.
Os títulos do governo são chamados em finanças como “livres de
risco”. Não que eles sejam de fato livres de risco, mas são os mais
seguros da economia.
Isso porque o Governo Federal, através do Tesouro Nacional,
consegue se financiar com mais tranquilidade mesmo em épocas
de crise. Ele tem uma série de instrumentos que podem ser uti-
lizados para que o pagamento da dívida aconteça. Um desses
instrumentos, por exemplo, é simplesmente imprimir dinheiro,
outro é aumentar a tributação.
Bancos e empresas não conseguem emitir dinheiro ou tributar.
Por esse motivo, em épocas de crise, eles são mais suscetíveis ao
calote do que o governo.
CAPÍTULO 2 - 29
É claro que essa hierarquia não é estática. O nosso governo
já passou por épocas em que era melhor ter uma dívida de
um grande banco do que um título público. Em 1987, o então
presidente José Sarney decretou a moratória de dívida externa,
causando pânico entre seus credores.
Os efeitos colaterais foram tão brutais que desde então
nenhum governo ousou repetir o feito.
Os credores sumiram, o país teve saída de capital, não conse-
guia financiar suas exportações, a economia afundou, os salários
foram amassados, a inflação comeu solta.
Desde 1987, não temos moratória da dívida pública.
Em compensação, todo ano temos empresas e bancos decre-
tando falência.
Assim, quando se empresta para o governo, a taxa de juros
cobrada é menor mesmo. Por outro lado, a probabilidade de ele
te pagar é muito maior.
O tamanho dos juros pagos é diretamente proporcional ao
risco daquele emissor.
Juros mais altos = Risco maior
Então, quando um banco estiver pagando 115% do CDI em um
CDB de curto prazo, saiba que muito provavelmente o balanço
desse banco deve mostrar uma série de prejuízos ou necessidade
de capitalização.
Não se engane!
O Vencimento ou Prazo do empréstimo também é uma carac-
terística importante para diferenciar os papéis.
30 - Renda Fixa não é Fixa!
Títulos públicos têm vencimentos padronizados e procuram
seguir referências internacionais como 2, 5 ou 10 anos. Passado
esse tempo, o Tesouro emite novos vencimentos, rolando as
emissões para manter as referências. Ele para de disponibilizar
o título de vencimento menor para passar a oferecer o de venci-
mento maior.
Apesar de o Tesouro Direto parar de oferecer alguns venci-
mentos mais curtos, ele sempre recompra qualquer título que
você tenha comprado dele a qualquer momento que você queira
vender. Então não se preocupe se ele parou de oferecer o título
que você comprou no passado. Se você quiser vender de volta,
terá um preço justo para realizar essa devolução.
Os juros dos títulos públicos que pagam juros semestrais são
padronizados e todos os títulos pagam as mesmas taxas perió-
dicas, predeterminadas na emissão.
Enquanto os títulos IPCA+ pagam 6% ao ano de forma semes-
tral, os Prefixados pagam 10% ao ano semestralmente.
Temos títulos bancários que não pagam cupom, acumulando
o pagamento para o vencimento do título ou para o momento
do resgate (no caso de produtos de liquidez diária). Além disso,
temos títulos bancários que pagam cupom.
Títulos de empresas são completamente flexíveis, e cada título
tem seu cronograma de pagamento e vencimento diferente.
É preciso ler o prospecto para saber a agenda.
Lastro ou garantia do empréstimo é importante, principal-
mente nos dias de hoje, porque dependendo do lastro, alguns
títulos são isentos de IR.
O Governo Federal, visando estimular alguns setores da
economia, estabeleceu que todos os empréstimos que fossem
CAPÍTULO 2 - 31
lastreados em atividades do setor imobiliário, agropecuário ou
infraestrutura seriam isentos de IR para o investidor.
Assim, o banco que empresta para empresas ou pessoas
adquirirem imóveis pode emitir LCIs (e financiar assim seus
empréstimos). O investidor dessas LCIs não precisa pagar imposto
de renda sobre os rendimentos desse investimento.
O mesmo acontece para bancos que emprestam para
empresas do agronegócio. Eles emitem LCAs e nós, investidores,
não pagamos impostos.
Empresas que querem financiar projetos de infraestrutura
também podem emitir debêntures (lembre-se de que empresas
emitem debêntures), e os investidores destas não pagam IR.
Empresas também podem emitir CRIs e CRAs, para projetos
imobiliários ou do agronegócio.
TodosessesinvestimentossãoisentosdeIRparaosinvestidores.
É importante ressaltar que a qualquer momento o governo
pode retirar essa isenção. Nesse caso, há uma polêmica sobre o
que aconteceria com o estoque de investimentos já emitidos, se
eles teriam a isenção ou não.
Eu entendo que teriam. Afinal, se não fosse a isenção, os
investidores não fariam o investimento. Seria uma mudança de
regras do jogo no meio do jogo. Alguns advogados consultados
concordam com a minha posição. Mas em se tratando de justiça,
nunca sabemos o que pode acontecer. É bom deixar essa ressalva.
Temos também o tipo de marcação do preço ou negociação.
Alguns títulos são marcados na curva, outros são marcados
a mercado.
32 - Renda Fixa não é Fixa!
A marcação na curva é quando todo dia o título rende o equiva-
lente à rentabilidade contratada. Ou seja, para um CDB que rende
10% a.a., todo dia ele vai render 0,0378% [1,10ˆ(1/252)].
Não há uma situação em que ele vai render menos ou mais do
que isso. Conforme vão passando os dias, a rentabilidade vai se
acumulando até chegar aos 10% no ano (no final do ano).
Esse tipo de título é mais conservador, no sentido que você
sabe exatamente quanto vai ganhar e quando.
Os únicos títulos que sofrem marcação na curva obrigatoria-
mente são os títulos de bancos (CDB, LCA, LCI, Poupança etc.).
A marcação a mercado já funciona bem diferente. Ela muda
o preço do título todo dia, de forma a refletir exatamente a taxa
atual negociada, assim como as ações.
Por exemplo, suponha que eu compre um Prefixado por
R$ 100, que vai me pagar 10% ao ano por 2 anos (ou seja, depois
de 2 anos, eu teria R$ 121). Ao final do primeiro ano, se o título
fosse marcado na curva, deveria valer R$ 110.
Porém, na marcação a mercado, eu tenho que ver a que taxa
eu consigo comprar o mesmo título hoje em dia.
Se a taxa de mercado mudar para 7%, então o valor do meu
título tem que ser tal que, daqui para frente, eu renda apenas 7%.
Ou seja, em vez de valer R$ 110, ele vai passar a valer R$ 113,08.
[ 121/1,07 ].
Assim, o novo investidor que comprar esse título ao final do
primeiro ano por R$ 113,08 terá uma rentabilidade final de 7%,
chegando a R$ 121, que é o que você imaginou que teria depois
de 2 anos.
CAPÍTULO 2 - 33
Por conta da marcação a mercado, eu posso ter variações
negativas de rentabilidade por um período.
Se a taxa negociada no mercado subir, o preço do meu título
vai cair. No final, se você segurar o título, a rentabilidade será
sempre positiva e será exatamente a acordada. Afinal, você
comprou por R$ 100 um título que valerá R$ 121 no final.
Mas no meio do caminho é possível ter solavancos se vender
antecipadamente, a depender da taxa negociada no mercado
no momento da venda.
Esses tipos de títulos são considerados mais arriscados, pois
você nunca sabe ao certo quanto vai ganhar em um determi-
nado período. Você só sabe a rentabilidade que vai ter se levá-lo
a vencimento.
Isso pode ser ruim ou pode ser muito bom. Ou melhor, pode
ser excepcional!
Se você sabe que quando a taxa de mercado cai o título se
valoriza e quando a taxa de mercado sobe o título se desvaloriza,
você pode atuar no mercado de títulos, comprando e vendendo,
de forma a lucrar com esses movimentos.
Se você usar a marcação a mercado a seu favor, pode se bene-
ficiar de rentabilidades de até 50% em um ano.
Ou seja, aqui, a RENDA FIXA NÃO É FIXA!
Vou explicar melhor como executar essas operações adiante.
O que quero mostrar neste capítulo é que os diversos tipos de
títulos funcionam diferentemente e, para se beneficiar disso, é
preciso conhecer bem as 4 características de cada um.
TÍTULOS PÚBLICOS
3
CAPÍTULO 3 - 35
Os títulos públicos, como eu disse no capítulo anterior, são con-
siderados os títulos mais seguros para se investir.
Ogovernotemumasériedeinstrumentosparaevitarumcalote,
como imprimir dinheiro, aumentar impostos, pegar emprestado
de entidades internacionais (como o FMI). As empresas e bancos
não possuem esses recursos, portanto falências são muito mais
corriqueiras para esses emissores.
Não por outro motivo, as taxas de juros pagas pelo governo
tendem a ser as menores entre os investimentos. Afinal, não
se esqueçam: retorno = risco. Se há um risco menor, a taxa é
menor também.
Dessa forma, se algum dos investimentos privados da sua
carteira paga uma taxa menor que a dos títulos públicos, saia
desse investimento agora mesmo! Não tem nenhum motivo que
justifique um título privado pagar menos que o título público da
mesma natureza. Só ressaltando que para títulos isentos devemos
ver o valor equivalente ao imposto economizado.
Por exemplo, se o título indexado do governo (IPCA+) estiver
pagando IPCA + 4,5%, não há motivo para investir em um título
privado que pague IPCA + 4,2% (para títulos não isentos de IR).
Como o título privado tem risco maior, ele deveria pagar um
juro maior. Caso contrário, é um péssimo investimento.
Há situações em que isso pode se inverter? Sim. Se o governo
estiver aumentando brutalmente seus gastos, com aumento de
dívida em relação ao PIB, teríamos uma situação em que poderí-
amos considerar investir em empresas sólidas em vez do governo.
36 - Renda Fixa não é Fixa!
Porém, mesmo nessa situação, é difícil escolher qual empresa
ou banco seria selecionado, uma vez que o calote do governo
contagiaria toda a economia. Via de regra, é melhor ficar com os
títulos públicos mesmo.
A acessibilidade dos títulos também é um ponto forte para
essa modalidade de investimento.
Antes de 2002, os títulos públicos só podiam ser adquiridos
via corretoras e eram destinados principalmente a clientes ins-
titucionais (como fundos e empresas) que possuíam volumes de
investimento maiores.
Os pequenos investidores tinham que entrar nos fundos dos
bancos para ter acesso aos títulos. Eu não preciso nem dizer que
os bancos cobravam taxas de administração caríssimas para esse
acesso, preciso?
Pensando em democratizar os investimentos em títulos
públicos, o Tesouro Nacional criou o TESOURO DIRETO em 2002.
Pelo Tesouro Direto, é possível o pequeno investidor comprar
diretamente os títulos, sem o intermédio de um fundo e através
da internet.
O valor mínimo para adquirir um título gira em torno de R$ 40.
Todos os títulos possuem liquidez diária, ou seja, podem ser
vendidos a qualquer dia útil, e têm liquidação em D+0 se ven-
didos antes das 13h, ou D+1 se vendidos após esse horário (o
valor cai na conta no dia seguinte ao pedido de resgate).
O custo do TD é de apenas 0,20% ao ano, cobrado pro rata
(proporcional ao tempo que você ficou investido) e pago uma vez
por semestre. Para investimentos de até 10 mil reais, a taxa para
investimentos no Tesouro Selic é zero, independentemente de
quantas corretoras você usa para chegar até esse valor.
CAPÍTULO 3 - 37
O site do Tesouro Direto é o https://www.
tesourodireto.com.br/
Nele, podemos conferir todo dia útil (das 9h às 17h) o preço
e taxa que o Tesouro cobra e paga para a compra e a venda de
todos os títulos disponíveis.
A página específica para ver os preços e taxas
é a https://www.tesourodireto.com.br/titulos/
precos-e-taxas.htm.
Para ter acesso aos títulos do Tesouro Direto, basta você se
cadastrar em uma corretora. As corretoras podem ser ligadas a
um banco, por exemplo, o Banco Itaú tem a Itaú Corretora, ou
as corretoras podem ser independentes, por exemplo, XP ou
BTG Pactual.
Mas a hora de escolher a melhor corretora é importante, pois
ela pode querer te cobrar alguma outra taxa além dos 0,20% a.a.
da custódia da B3. Tente fugir desse tipo de corretora! Há uma
série de instituições que não cobram absolutamente nada a mais
para investimentos no Tesouro Direto, além de não cobrar nada
por abertura de conta ou transações.
No site do TD, você pode encontrar uma lista
das corretoras cadastradas, assim como as taxas
cobradas por cada uma: https:/
/www.tesouro-
direto.com.br/conheca/bancos-e-corretoras.htm
A seguir, eu copiei a primeira página do dia 15/07/22.
Perceba que há uma grande quantidade de corretoras que não
cobram absolutamente nada.
38 - Renda Fixa não é Fixa!
Por outro lado, corretoras como a Daycoval, por exemplo,
cobram incríveis 0,10%.
Na maioria dessas corretoras que não cobram nada para
investir no TD, abrir uma conta é totalmente grátis e online, assim
como mantê-la.
Ou seja, o custo de investir no TD será somente 0,20% a.a. de
taxa de custódia mesmo.
O TD também tem a grande vantagem da liquidez diária, o
que o coloca à frente da poupança (que tem data de aniversário).
Se você quiser resgatar seus investimentos em um dia diferente
da data de aniversário mensal do investimento, você perderia
CAPÍTULO 3 - 39
toda a rentabilidade daquele mês, enquanto no TD você ganha
exatamente o equivalente ao tempo que ficou.
Se você investir no Tesouro no dia X e quiser resgatar no dia
X+35, você receberá o retorno equivalente aos 35 dias que car-
regou o título, enquanto na Poupança só receberia o retorno de
30 dias.
Além disso, o resgate antecipado do investimento pode ser feito
a qualquer momento, mesmo que o título que você comprou tenha
vencimento mais longo, ao contrário dos CDBs e outros pós-fi-
xados de bancos (LCI, LCA) com data de vencimento específica.
Outro grande diferencial do TD é a regra de que ele promete
recomprar seus títulos a qualquer momento que você quiser ven-
dê-los e a preço justo de mercado.
Isso parece óbvio, mas não é. Os títulos públicos são emi-
tidos de tal forma que o Tesouro Nacional forme vencimentos
de referência, como 5, 10 ou 20 anos. Então, no ano 2022, ele
provavelmente emitirá títulos para 2027, 2032 e 2042. Os títulos
momentaneamente emitidos no leilão são os de maior liquidez,
pois serão os mais oferecidos e negociados pelo mercado.
No entanto, conforme o tempo passa e o ano muda, o Tesouro
passa a emitir novos títulos de vencimentos nos anos seguintes.
Por exemplo, em 2023, passa a emitir títulos para 2028, 2033
e 2043.
Essa mudança faz com que os títulos antigos percam liquidez
e passem a ser muito pouco operados. Quem deseja comprar ou
vender esses títulos terá dificuldade de achar bons preços.
Quando você opera via mercado secundário, ou seja, a compra
e a venda é feita de investidor com investidor por intermédio de
40 - Renda Fixa não é Fixa!
uma corretora (e não diretamente com o Tesouro), você corre o
risco de não conseguir bons preços se precisar vender o título.
Já no Tesouro Direto, não há esse problema, porque mesmo
para os títulos que não são mais emitidos ou disponíveis para a
venda, é possível vendê-los a qualquer momento e pelo preço
justo do mercado, que pode inclusive ser acompanhado diaria-
mente no site.
Muitas corretoras colocavam, nas suas plataformas online,
uma aba de “Títulos Públicos” e os vendiam como se fossem
TD. Os desavisados compravam por ali, achando que estavam
negociando com o Tesouro. Mas esses títulos eram na verdade
do mercado secundário, e suas taxas eram cerca de 0,50% abaixo
das taxas do TD. Esse spread era exatamente a taxa obscura
cobrada pela corretora (que dizia a seus clientes que não cobrava
taxa nenhuma e eles não precisariam pagar os 0,20% a.a. do TD).
Além disso, as corretoras não se obrigavam a recomprar os
títulos sem liquidez pelo preço justo, mas sim pelo preço que elas
conseguiriam no mercado. Para um pequeno investidor, os preços
de mercado para lotes pequenos podem ser ruins e descontados.
O regulador proibiu essa prática e obrigou as corretoras a
separarem a aba do Tesouro Direto com a dos Títulos Públicos,
dando maior transparência para o investidor.
Outro ponto negativo de operar no mercado secundário das
corretoras é que o spread das taxas é pago no primeiro dia,
quando se compra o título. Ou seja, no momento da compra,
você já sofre uma marcação a mercado negativa, pois comprou a
uma taxa, digamos, 0,50% menor (e preço maior) para um título
que valia uma taxa 0,50% maior (e um preço menor).
Se dali a esses mesmos 45 dias você quiservender o papel, teria
um custo enorme, enquanto no TD você só teria os 0,20% a.a.
equivalentes aos 45 dias que você se manteve com o papel.
Ou seja, o cálculo no TD é pro rata.
CAPÍTULO 3 - 41
Um ponto negativo do TD é que ele desestimula as operações
de curtíssimo prazo.
Para você vender um título de forma antecipada, eles estabe-
lecem que a taxa de venda (venda do título para você) será cerca
de 0,01% abaixo da taxa de compra (recompra do título por ele),
no caso do Tesouro Selic, e 0,12% no caso de Prefixados e IPCA+.
(Dá para você conferir esse spread entre compra e venda na
página “Preços e Taxas” mostrada acima.)
Ou seja, um IPCA+ de vencimento X, que pode ser comprado a
uma taxa de 4,12%, só poderá ser vendido pela taxa de 4%.
Se você comprar o título pensando em 6 meses ou 1 ano, a
diferença terá pouquíssimo impacto na sua rentabilidade, porém
se você comprar um dia para vender 15 dias depois, o pequeno
spread fará diferença na sua rentabilidade.
Com isso, o TD evita que investidores usem os subsídios dados
pela instituição para ganhar dinheiro no curto prazo.
Vale notar também que esse spread na taxa muda com o tempo.
Então é interessante conferir a magnitude dessa diferença no
momento da compra, olhando para ambas as taxas, de compra e
venda, e medindo a distância.
Sobre o imposto de renda, os investimentos nos títulos
públicos sofrem a tributação de IOF e IR regressivo. A tributação
é retida na fonte e não é necessário pagar via Darf. Apenas é
necessário declarar os títulos em sua posse na declaração do
início do ano seguinte.
A tabela do IOF é regressiva, e a partir de 30 dias vira zero.
A alíquota é incidente em cima dos rendimentos, e não do
valor investido.
42 - Renda Fixa não é Fixa!
Tabela Regressiva IOF
Números de dias
corridos da aplicação
Limite tributáveis
do rendimento (%)
1 96
2 93
3 90
4 86
5 83
6 80
7 76
8 73
9 70
10 66
11 63
12 60
13 56
14 53
15 50
16 46
17 43
18 40
19 36
20 33
21 30
22 23
24 20
25 16
26 13
27 10
28 6
29 3
30 0
CAPÍTULO 3 - 43
Muitas pessoas acreditam que, por haver IOF, o TD seria pior
do que a Poupança. Esse argumento não faz sentido, uma vez
que, na Poupança, antes de 30 dias (aniversário do mês do inves-
timento) não rende nada, e o IOF de títulos públicos vira zero
depois de 30 dias.
As alternativas ao TD (como CDBs e fundos) também pagam
IR e IOF no curtíssimo prazo. Não podemos esquecer que LCAs
e LCIs têm um prazo mínimo de 3 meses, portanto não seriam
alternativas de curtíssimo prazo.
A tabela de imposto de renda é também regressiva e incidente
em cima apenas no rendimento.
Tabela Regressiva IR
De Até (%)
1 dia 180 dias 22,5
181 dias 360 dias 20
361 dias 720 dias 17,5
721 dias - 15
Ela é cobrada em cima dos pagamentos de cupom periódicos,
para os títulos que os pagam, ou na data de vencimento ou venda
antecipada do título.
Se você comprou o mesmo título em mais de uma data, no
momento da venda, o TD sempre optará por vender o seu título
mais antigo primeiro, mantendo o seu benefício do IR regressivo.
Falando agora sobre os tipos de títulos disponíveis para a
negociação, temos atualmente 3 tipos diferentes disponíveis
para a venda.
44 - Renda Fixa não é Fixa!
Vamos falar sobre cada um deles nos próximos 3 capítulos.
Entender como cada um funciona é crucial para o investidor
do TD. Cada um se comporta de uma maneira e é indicado
para um certo período do ciclo econômico.
A economia se dá em ciclos de crescimento e recessão.
No meio desses ciclos, temos alta e queda das taxas de juros.
Temos títulos que ganham com alta de juros e títulos que perdem
com alta de juros. Assim como títulos que ganham com queda de
juros e títulos que perdem com queda de juros.
O Tesouro Selic é pós-fixado e não perde nunca. Isso significa
que ele é geralmente indicado para momentos de alta de juros
de mercado.
Os prefixados aumentam de valor quando as taxas de juros
caem e são geralmente indicados para ciclos de baixa nas taxas
de juros ou períodos recessivos.
O Tesouro IPCA+ é indexado à inflação e oferece proteção
contra choques de preço.
Se você investir no título que ganha com queda de juros em
época de alta de juros, você pode amargar grandes prejuízos.
Parece simples, mas não é.
É possível também ganhar com prefixados em ciclo de alta da
Selic, e isso ninguém te fala. Ainda, é possível ganhar com NTNB
em períodos de inflação cadente.
Adiante, vou explicar como.
CAPÍTULO 3 - 45
PASSO A PASSO PARA INVESTIR
NO TESOURO DIRETO
Investir nos títulos do Tesouro Direto é muito fácil. Mas para
quem ainda tem medo, vou dar aqui o passo a passo se você
estiver perdido.
Escolha uma corretora
Eu prefiro as independentes. Além de não cobrarem taxas de
abertura de conta, elas possuem uma maior variedade de pro-
dutos. As corretoras de banco tendem a mostrar apenas produtos
do banco, que nem sempre são os melhores.
Escolha uma corretora que possui o selo da B3. Com ele, você
não corre o risco de a corretora quebrar e você perder seu ativo.
O ativo fica ligado ao seu CPF e, em caso de falência da corretora,
você apenas deve transferir a custódia.
Para saber quais corretoras possuem o B3, basta
entrar neste site:
https://www.b3.com.br/pt_br/b3/qualifica-
cao-e-governanca/certificacoes/selos-pqo/
corretoras-certificadas.htm
A corretora deverá, preferencialmente, ser
daquelas que cobram zero para investimentos
em Tesouro Direto. Olhar quais são em:
https://www.tesourodireto.com.br/conheca/
bancos-e-corretoras.htm
Prefira uma corretora grande e sólida. Procure um ranking com
o tamanho das corretoras (prefira as 10 maiores) e os maiores
lucros (prefira os 10 maiores).
3.1
1
46 - Renda Fixa não é Fixa!
Casando todas essas características, fica fácil escolher a melhor
corretora para se investir.
Escolhida a corretora, entre no site dela e clique em “Abra
sua conta”
Todas as corretoras terão esse botão caso seja possível abrir uma
conta de investimento online.
Clicando no botão, você terá que preencher um formulário com
seus dados e terá também que enviar documentos como RG, CPF,
comprovante de residência, comprovante de salário, entre outros.
Os comprovantes podem ser anexados de forma eletrônica.
Depois de algumas horas ou dias, a sua conta será aprovada e
você receberá o número da conta, assim como senhas e afins.
Aí, basta transferir os recursos para investir via TED.
É importante frisar que os recursos só poderão ser retirados da
corretora e transferidos se forem depositados em uma conta de
mesma titularidade (mesmo CPF). Isso aumenta a segurança dos
seus investimentos.
Na sua nova corretora, habilite sua conta para poder
operar o Tesouro Direto
Cada corretora tem um procedimento diferente para isso, mas
geralmente podemos encontrar um botão que pede autorização
deixando sua assinatura eletrônica. Pode ser na aba “Produtos”
ou na própria aba “Tesouro Direto”.
A corretora vai te cadastrar junto ao Tesouro Direto.
2
3
CAPÍTULO 3 - 47
4 Você terá automaticamente um cadastro no site do
Tesouro Direto
É possível realizar as compras e vendas direto no site do Tesouro
Direto por este link:
https://portalinvestidor.tesourodireto.com.br/
O site terá sua posição consolidada, somando
inclusive várias corretoras se você tiver títulos
em mais de uma.
Além disso, o site terá todos os títulos disponíveis, com taxas
e preços.
Na parte superior da página, teremos os seguintes comandos:
No botão “Investir”, você pode realizar suas compras, enquanto
no botão “acompanhar”, você pode clicar na sua posição em um
determinado título e realizar a venda deste.
Em “Investir”, você vai selecionar uma das corretoras em que tem
cadastro e a quantidade de títulos que deseja comprar (mínimo
de 30 reais):
48 - Renda Fixa não é Fixa!
Aperte o botão “Investir” ao final da página.
CAPÍTULO 3 - 49
Se quiser vender algum título, basta ir em “Acompanhar”,
clicarnotítuloquevocêdesejavendereclicarem“Resgatar”
Você escolherá novamente a instituição em que estão custo-
diados os seus títulos e ele vai te mostrar quanto você tem de
cada título lá.
Basta escolher o valor desejado a servendido e apertar “Resgatar”
no final da página.
Lembrando que o Tesouro venderá sempre os títulos mais antigos
primeiro, para você poder aproveitar o benefício do IR regressivo.
Os recursos estarão na sua conta no dia seguinte.
Na aba “acompanhar”, você poderá conferir a sua posição
consolidada.
Lá, estarão descritos todos os títulos que você tem. Ao clicar no
título, você também pode conferir os detalhes dessa sua posição
na parte inferior da página, como a rentabilidade, data da apli-
cação, valor líquido e bruto de IR e outros detalhes.
Lembrando que todos esses passos podem ser feitos na sua corre-
tora escolhida. Você decide o que considera mais fácil e amigável.
Eu gosto de fazer via Tesouro Direto porque, para algumas cor-
retoras, se eu opero diretamente nele é permitido comprar e
vender um título no mesmo dia. Como ambos liquidam no dia
seguinte, acaba sendo possível vender um e com o valor recebido
trocar pela compra de outro.
Agora só resta saber quais títulos comprar, não é mesmo?
Vamos então falar sobre cada um deles nas próximas seções.
5
6
50 - Renda Fixa não é Fixa!
PREFIXADOS
O que são e por que gostamos deles?
Aposto que você vive ouvindo de especialistas financeiros que
“prefixados são recomendados para ciclo de queda da Selic”!
Você olha para eles com aquela cara de admiração, não é?
Afinal, o “economês" é uma língua difícil de entender.
Mas eles estão corretos nessa afirmação?
3.2
NÃO
NECESSARIAMENTE!
Prefixados podem “performar" bem tanto em ciclos de alta
quanto em ciclos de queda da Selic, e vou explicar o porquê
disso adiante.
Depois de ler esta seção, você saberá melhor do que os ana-
listas a respeito do momento exato de investir em prefixados!
Não se impressione com o paletó e a gravata que o mercado
usa. Você pode saber muito mais do que eles, sim! Você tomou a
decisão correta quando decidiu aprender por conta própria como
funciona esse tal de “mercado".
Mas o que são Prefixados, afinal?
CAPÍTULO 3 - 51
A característica principal desse instrumento é que, no
momento da emissão, será estabelecido exatamente quanto o
título valerá no vencimento.
Como assim?
Vamos a um exemplo:
Eu, governo, decidi emitir um título de dois anos prefixado.
Então, hoje, eu estabeleço que esse título valerá exatamente
1.000 reais daqui a dois anos.
Quando eu estabeleço esse valor, ele não muda nunca mais!
Não importa o que aconteça com a taxa de juros Selic, ele sempre
valerá 1.000,00 reais no vencimento.
Se eu sei que ele vale 1.000 reais no vencimento, restam duas
coisas a saber: (1) o juro que ele paga e (2) o valor dele hoje
(quanto eu tenho de pagar para comprá-lo).
R$ 1.000,00
1 ano
Juros?
x% a.a
2 anos
Preço hoje?
52 - Renda Fixa não é Fixa!
O juro que o meu título vai pagar é uma informação exógena,
ou seja, não sou eu (emissor) quem decido. É o mercado que me
diz quanto ele vai cobrar para me emprestar dinheiro.
Ao contrário do que normalmente se pensa, o Banco Central
só decide os juros de curto prazo (Taxa Selic). Os juros para um
vencimento no futuro são decididos pelo “mercado”, baseado
na expectativa dos agentes sobre a trajetória da Selic e mais um
prêmio de risco.
Não se engane, o “mercado” não é uma pessoa, ou um cartel
de pessoas que decide de acordo com o próprio interesse… Não!
O “mercado” é a soma de todas as negociações do dia, de milhares
e milhares de investidores, grandes e pequenos, de todos os
tipos, nacionalidades e interesses. “O mercado” somos todos nós.
Exemplo: imagine que a taxa de juros de dois anos negociada
hoje no mercado futuro está em 12,31%.
O investidor que achar que esse nível de 12,31% é baixo em
relação à sua expectativa de trajetória da Selic, vai achar que
observou uma oportunidade de ganho financeiro e vai entrar
comprando taxa, até que ela suba e fique em um nível conside-
rado adequado por ele.
Por outro lado, o investidor que achar que esse juro é alto em
relação à sua expectativa de trajetória da Selic vai entrar vendendo
taxa e continuará vendendo até que ela caia a índices adequados.
Ou seja, a taxa atual negociada é o equilíbrio de mercado entre
compradores e vendedores. De modo que, a esse preço, as forças
compradoras e vendedoras se anulam e o preço estabiliza.
O Banco Central influencia os juros, pois estabelece qual
será a taxa Selic de hoje, que vai remunerar os depósitos à vista.
No entanto, para o futuro, há uma incerteza em relação à trajetória
da Selic e, pela incerteza, o mercado “cobra” um prêmio de risco.
CAPÍTULO 3 - 53
Quanto mais longo for o empréstimo que eu fizer a alguém,
maior será minha incerteza (pelo risco de crédito e pelo risco de
variação na taxa de juros) e, por isso, maior será o prêmio cobrado
por fazer esse empréstimo.
Voltando ao ponto inicial, a taxa de juros futura é exógena e
decidida pelo mercado. Assim, quando o governo quiser emitir, ele
utilizará a taxa de mercado negociada para o vencimento do título.
Ok! Entendido!
1) Eu sei que o título vale 1.000 reais no futuro.
2) Eu olho para a taxa de mercado para dois anos negociada
no dia da emissão. Digamos que seja 12,31%.
Opa! Mas então eu já sei calcular quanto o título tem de valer
hoje, correto?
Exatamente, meu caro leitor!
Se eu sei que ele vale 1.000 reais no futuro e os juros de mer-
cado são 12,31%, é só eu trazer esses 1.000 reais a valor presente
por esse juro e eu tenho quanto o título deveria valer hoje:
Preço de hoje = 1.000,00
(1+0,1231)2
O resultado dessa conta é um PU atual de R$ 792,79.
Ou seja, para eu comprar um título que vai valer 1.000 reais
daqui a dois anos, em um ambiente de taxa de juros de 12,31%,
eu preciso investir 792,79 reais hoje.
54 - Renda Fixa não é Fixa!
Falando de outra forma, se eu investir 792,79 reais hoje, com
um juro de 12,31%, eu terei 1.000 reais daqui a dois anos.
Entendida essa parte, vamos passar ao:
PULO
DO GATO!
Preste muita atenção agora…
Eu sei que o título vale 1.000 reais no futuro e isso não vai
mudar nunca!
No entanto, eu sei também que a taxa de mercado varia todo
dia, a cada notícia nova. Os agentes de mercado vão mudando suas
expectativas em relação à trajetória da Selic, conforme notícias
sobre inflação, atividade e setor externo vão sendo publicadas.
Então os juros até o vencimento do meu título podem variar
também, não podem?
SIM!
Se eu mudo a taxa de juros de mercado, o que muda nele, uma
vez que não será o valor futuro?
O que muda é o valor atual! Ou o chamado Valor Presente.
CAPÍTULO 3 - 55
Afinal, quem comprar o mesmo título agora terá que pagar um
valor que, investindo à nova taxa de mercado, dará os mesmos
1.000 reais no futuro.
Vamos fixar com um exemplo:
O mercado negociava juros para dois anos a 12,31% na data T.
Então eu comprei um Prefixado a 792,79 reais.
No dia seguinte (T+1), os juros caem para 12% no mercado,
por conta de um dado de inflação mais baixa que o esperado.
O novo investidor que decidir comprar esse título agora terá
que pagar um valor X, para que de X até 1.000 reais, ele tenha
essa nova rentabilidade de 12%.
Fazendo a conta do valor presente:
1.000/(1+0,12)^(2*) = 797,19
*Aqui eu coloquei os dois anos, mas se você quiser simular
que a taxa de juros caiu para 12% depois de 6 meses da compra,
basta você elevar pelo período que ainda falta para o vencimento,
nesse caso, 1,5 (em vez de 2).
Ou seja, com a queda da taxa de juros de mercado, o meu
título, que valia 792,79 reais, passou a valer 797,19 reais de um
dia para o outro.
Como você já tinha esse papel, acabou tendo um ganho ime-
diato de 4,39 reais (797,19 – 792,79).
Quanto significa isso em termos de rentabilidade?
[797,19/792,79 -1] = 0,00555 ou 0,55%.
Quanto seria sua rentabilidade se a taxa de juros tivesse se
mantido constante?
56 - Renda Fixa não é Fixa!
Resposta: 0,36 real (792,79*[(1+0,1231)^(1/252)])
Se a taxa não tivesse variado, você ganharia o retorno dos
12,31% equivalentes a 1 dia. Como a taxa caiu, o PU foi repre-
cificado, e agora você passará a render daqui para frente uma
taxa de juros menor (de apenas 12%), porém sobre um volume
de investimento muito maior (4,03 reais maior do que o que
você teria).
Da mesma forma, se a taxa de juros do mercado subisse, você
poderia perder os 0,55%.
Lembrando que, nos dois casos, eu só concretizo a perda ou o
ganho se euvender o título antecipadamente. Caso carregue o
título até o final, terei exatamente os 1.000 reais prometidos,
pois isso não muda nunca, não é mesmo? E acabarei tendo a
rentabilidade inicialmente contratada (pois terei comprado a
792,79 e vencerá nos 1000 reais).
Como o título é marcado a mercado, eu só conseguirei ven-
dê-lo na taxa de mercado. Não tem como vender um título na
mesma taxa que eu comprei, dado que o mercado mudou.
Entendida essa parte, temos agora um pulo do gato ainda maior!
PULO
DO GATO!
Venha comigo:
CAPÍTULO 3 - 57
Eu sei que o meu título varia de preço conforme a variação
da taxa de mercado.
Eu sei que, se a taxa cair, meu PU sobe, e eu ganho se já
tiver o título. E se a taxa subir eu perco, pois meu PU cai.
Sabendo isso, eu vou ganhar dinheiro se a taxa DE MERCADO
cair! E não a Selic!
Mas pode acontecer de a Selic subir e a taxa de mercado cair?
É claro!
Temos inúmeros exemplos na história de que isso já aconteceu
e acontecerá de novo!
Se o mercado precificar que o Banco Central vai subir a taxa de
juros em 500 bps (5%), e o Banco Central sobe apenas 200 bps,
o que acontece com a taxa de mercado?
Ela cai!
E o que acontece com o preço dos prefixados?
Sobe!
Ou seja, eu ganhei dinheiro com prefixados mesmo em um
ciclo de alta da Selic!
Você, que nos acompanhou até aqui, já deve ter percebido que
a variável-chave para entender se os prefixados são bons ou não
é quanto o mercado precifica de queda ou de alta da taxa Selic
(em relação a quanto eu acredito que de fato será).
Se eu acredito que o Banco Central fará um ciclo de queda da
Selic de 250 bps, mas o mercado já está precificando esses 250 bps,
1
2
58 - Renda Fixa não é Fixa!
No ciclo de alta da Selic:
o BC acaba subindo menos a Selic do que o
mercado precifica que ele vai subir;
o BC acaba não subindo nada, e o mercado
precifica que ele vai subir.
No ciclo de queda da Selic:
o BC acaba cortando mais a Selic do que o
mercado precifica que ele vai cortar;
o BC acaba cortando a Selic quando o mercado
não precifica que ele vai cortar.
então não tem como eu ter ganhos maiores do que a LFT estando
aplicado em prefixados.
(Obs.: 1 bps = 0,01%. 100 bps = 1%)
Então, da próxima vez que o seu analista financeiro te indicar pre-
fixados, agora que você é um investidor consciente, pergunte a ele:
“Mas quanto o mercado precifica de queda/alta de juros?”
Tenho certeza de que 99% deles não vão saber responder a
essa pergunta.
Se o seu estiver entre o 1% restante e responder algum
número, continue perguntando:
“E quanto você acha que de fato será a queda/alta? Por quê?”
Lembre-se: no prefixado, eu ganho dinheiro quando:
CAPÍTULO 3 - 59
Os títulos prefixados oferecidos pelo TD são:
 Tesouro Prefixado (ou LTNs);
 Tesouro Prefixado com juros semestrais (ou NTN-Fs).
Os Prefixados não pagam cupom, e todo o juro é acumulado
e pago no vencimento (ou os juros equivalentes são pagos na
venda antecipada). Os Prefixados com juros semestrais pagam
cupom de 10% a.a. semestralmente (aproximadamente 4,88%).
O fato de o título pagar cupom o altera de duas formas:
Você terá que pagar imposto de renda em cima de cada
cupom pago, enquanto na LTN o imposto que você pagaria
estará rendendo juros sobre juros para você. O resultado
disso, no final de alguns anos, é que a rentabilidade total
da LTN de mesma duration é maior que a da NTN-F.
O cupom reduz a duration.
Agora, você deve estar se perguntando: mas o que é duration?
Duration é o prazo médio de recebimento dos fluxos. Se você tem
um título que vale 100 reais no final de 3 anos, mas que cada ano
paga 10 reais de cupom, a duration dele não será 3, mas sim 2,76:
1
2
10
1 2 3 anos
10 110 10*1 + 10*2 + 110*3 = 2,7692
(10 + 10 + 110)
60 - Renda Fixa não é Fixa!
Quanto maior a duration do seu papel, maior é a variação do
seu preço em relação à variação na taxa de juros.
Uma queda de 0,50% em um papel de 1 ano vai gerar uma
valorização pequena do título, de aproximadamente 0,50%,
enquanto uma variação de 0,50% em um título de 45 anos cau-
sará uma variação brutal no preço do título, aproximadamente
45*0,50% = 22,5%.
Retomando a NTN-F, o fato de ela pagar cupom reduz sua
duration e sua rentabilidade quando comparada com uma LTN de
mesmo vencimento.
Também é importante mencionar que quando você for esco-
lher seu título prefixado, além de decidir se quer ou não cupons,
terá que decidir o vencimento do título.
Taxas de juros de curto prazo se comportam de modo dife-
rente de taxas de juros de longo prazo. Saber que a Selic Meta vai
cair não é toda a informação que você precisa saber para ganhar
com prefixados.
É preciso entender como o mercado vai interpretar a queda
da Selic.
Se ficar entendido que a queda é propícia e sustentável, a
curva inteira de mercado deverá se deslocar para baixo. Quando
eu digo “curva inteira”, quero dizer “os juros para todos os ven-
cimentos disponíveis” (desde os mais curtos, 1 ou 2 anos, até os
mais longos, 10 ou 30 anos).
Agora, se o mercado acreditar que é uma “forçada de barra”, vai
reduzir os juros de curto prazo, porém vai aumentar os juros de
longo prazo já imaginando que a política tem risco de gerar alta da
inflação futura, fazendo-se necessário alta da Selic novamente.
CAPÍTULO 3 - 61
Ou seja, a escolha do vencimento não é trivial e demanda uma
boa leitura de interpretação da política e do mercado.
Caso este capítulo tenha ficado um pouco confuso para você,
não deixe de assistir ao meu vídeo explicativo sobre os prefi-
xados, no qual eu desenho na lousa essas contas. Certamente
será bem mais fácil de ser compreendido.
Link do vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=BUnpkmVIwgo
62 - Renda Fixa não é Fixa!
PÓS-FIXADOS
O que são e por que gostamos deles?
O que precisamos sabersobre oTesouro Selic e ninguém te conta:
3.3
Não tem como
perder dinheiro!
Sim, é aquele título que, independentemente da variação da
taxa Selic ou da variação da taxa de mercado, simplesmente não
tem como perder dinheiro!
(Vou ser mais honesta intelectualmente mais à frente e te explicar
as situações que você pode de fato perder alguma merreca de
dinheiro, mas acredite em mim por enquanto).
Como assim? Não vou perder dinheiro nunca? NÃO!
Te explico por quê.
Lembra que o único fato consumado nos prefixados é que
sabemos exatamente quanto aquele título vai valer no futuro?
Pois bem, o pós-fixado é exatamente o inverso. Ou seja, não
temos ideia do quanto ele vai valer no futuro. Por outro lado,
sabemos exatamente quanto ele vale hoje! E isso não muda nunca!
Em outras palavras: nos prefixados, travamos o valor futuro e
o valor de hoje oscila. Nos pós-fixados, travamos o valor de hoje
e o valor futuro oscila.
CAPÍTULO 3 - 63
É hora do exemplo para fixar…
Sou o governo e quero emitir um título pós-fixado,
então decido quanto ele vale hoje (supondo que hoje é o
1º dia do mês): 1.000 reais.
Pronto. Está decidido e isso não vai mudar. Se eu quiser investir
nele hoje (dia 1º), vou pagar 1.000 reais.
Posto isso, quanto ele vai valer amanhã (dia 2)?
Preciso saber a taxa pela qual ele é remunerado, correto?
A taxa é a Selic efetiva, que é mais ou menos 0,10% menor que
a Selic Meta (depois falaremos mais sobre ela). Se a Selic meta for
14,25%, a efetiva será aproximadamente 14,15%.
Assim, de hoje (dia 1º) para amanhã (dia 2), meu título vai valer:
1.000 * (1 + 0,1415) = 1.000,52
(1/252)
<
Ou seja, é 1000 atualizado pela taxa diária equivalente de
14,15% ao ano.
Perceba que, no dia 2, meu título vai valer necessariamente
1.000,52 reais, independentemente do que ocorrer no mercado
futuro aquele dia, pois meu preço só varia com a Selic efetiva.
Se no dia 2 tiver uma reunião do Copom e o BC optar por
reduzir a taxa Selic meta para 14%, o que acontece?
Hoje não acontece absolutamente nada. A Selic meta come-
çará a valer a partir do dia seguinte. Dessa forma, no dia 3, o meu
título vai valer:
64 - Renda Fixa não é Fixa!
Oras, mas a Selic caiu e ele continuou valendo mais no dia 3
do que no dia 2? Sim!
E se a Selic meta subisse para 15%? Vamos testar.
1.000,52 * (1 + 0,1390) =1.001,03
(1/252)
<
1.000,52 * (1 + 0,1490) = 1.001,07
(1/252)
<
Olha só, o dia 3 está maior do que o dia 2 também.
Note que, quando a Selic Meta sobe, você rentabiliza mais,
e quando ela cai, você rentabiliza menos, MAS AINDA TEM
RENTABILIDADE POSITIVA!
Aí vem o seu analista financeiro dizer que pós-fixados são
ruins para momentos de queda na Selic!
Ele está correto?
Não!
O pós-fixado ganha sempre! Caem os juros, sobem os juros,
ele ganha. É sempre positivo, pois não tem como você render
um investimento por uma taxa de juros positiva e ele dar um
valor menor que o inicial, correto?
Quando daria uma rentabilidade negativa? Se a taxa de juros
(Selic Meta) fosse negativa – como alguns países fizeram ao redor
do mundo –, mas definitivamente não é o nosso caso!
No pós-fixado, nós travamos o valor de hoje e o ganho que
eu tive de um dia para o outro nunca é perdido ou “volta” com
CAPÍTULO 3 - 65
O Tesouro Selic é a poupança emitida pelo governo. O Tesouro
Selic é o CDB emitido pelo governo.
Além disso, ele tem uma série de benefícios em relação à pou-
pança e ao CDB.
Em relação à poupança:
Você corre o risco do governo, e não do banco (sim, a pou-
pança tem o risco do banco e por isso que quem garante
ela é o FGC – se ele tiver dinheiro, senão você perde tudo).
Ela rende quase o dobro, a depender da taxa Selic, mas
paga IR por outro lado. No conjunto, o Tesouro Selic
ganhará da poupança sempre.
alteração na Selic ou na taxa de mercado. Ele sempre aumenta.
Pode aumentar mais rápido se a Selic for maior e mais devagar se
ela for menor.
Pergunta: O que diferencia a rentabilidade do Tesouro Selic
em relação à da poupança e à do CDB em % do CDI?
Resposta: absolutamente nada!
Repetindo:
1
2
Absolutamente
NADA!
66 - Renda Fixa não é Fixa!
Para fazer a prova da superioridade do Tesouro Selic em
relação à poupança, faça o seguinte procedimento:
Vá ao site do Banco Central na “Calculadora do Cidadão”.
Digite "Calculadora do Cidadão Banco Central" no site de busca
e abra o primeiro link.
Clique em “Poupança" e digite a data inicial sendo 06/09/2015
e a data final sendo 06/09/2016 e, no valor a ser corrigido, digite
os nossos 1.000 reais (clique em regra de correção “Nova”).
Resultado: 1.083,52
Ou seja, um rendimento de 8,35%.
Agora, vamos à Selic: clique em “Selic” e refaça a pesquisa com
as mesmas datas.
Resultado: 1.140,90
Ou seja, um rendimento de 14,09%.
Tirando o IR de 1 ano (17,50%), ficamos com 11,62%. Tirando
a taxa de 0,20% do Tesouro Direto, fica 11,42%.
Fazendo 11,42/8,35 = 1,3676
Ou seja, é como se o Tesouro Selic rendesse 136% da pou-
pança, mesmo depois do IR e da taxa de custódia. Ou seja,
investindo 1.000 reais na poupança, você deixaria de ganhar 30
reais por ano!
Por que existe Poupança então? Por que alguém ainda
investe nela?
Eu não sei! Mas ninguém deveria fazer isso!
CAPÍTULO 3 - 67
Tá bom, chega de drama. Vamos aos fatos…
 Liquidez
GOOD: na poupança, basta você falar para o gerente ou para
o aplicativo que quer investir e tudo acontece automatica-
mente. No momento do resgate, basta você retirar e cai no
mesmo dia. No Tesouro Selic, você tem que abrir conta em
corretora (de preferência uma que cobre 0 taxas no Tesouro
Direto) e tem que pedir o resgate no site – o que, honesta-
mente, é muito fácil.
BAD: você tem que esperar a poupança “fazer aniversário
mensal” para ter o rendimento, senão perde ele todo.
No Tesouro Selic, você ganha pro rata, proporcional a quanto
ficou(lembrandoquenosprimeiros30diastemIOFregressivo).
Ou seja, entre o Tesouro Selic e a Poupança, prefira mil vezes
o Tesouro Selic!
É garantido!
 Em relação ao CDB:
O CDB é emitido por um
Banco, e você corre o risco
dele. Ou seja, tem mais risco
do que o governo.
Você: Ah, mas tem o FGC,
que me garante até 250 mil.
Tenho até palpitação quando
alguém me fala isso…
Adivinha quem adora
falar isso?
68 - Renda Fixa não é Fixa!
O FGC te garante até 250 mil SE E SOMENTE SE ele tiver dinheiro.
Ele não é um seguro que, no caso de sinistro, é obrigado a te
pagar. Não! Ele te paga SE ele tiver dinheiro.
Quanto ele tem de dinheiro? Até o final de 2021, ele tinha
2,11% do total do sistema em disponibilidade. Ou seja, se mais de
2,11% do sistema bancário falir, ele não teria dinheiro para garantir
os empréstimos.
Fonte: Demonstrações Financeiras 2021 – Site do FGC
Mas 2% é muito ou é pouco? Depende também! Se estivermos
em um cenário tranquilo, esse valor seria mais que suficiente.
Mas se entrarmos em uma crise financeira, certamente terí-
amos problemas. Vamos lembrar que os EUA tiveram uma crise
financeira em 2008 em que mais de 6% do sistema quebrou, e o
FIDC (FGC Americano) quebrou!
Para a sorte deles, o FDIC é uma instituição do governo e foi
resgatado pelo Tesouro. No entanto, no Brasil, o FGC é privado.
Patrimônio e disponibilidades
R$ 93,3 bilhões em dezembro de 2021, dos quais R$71,5 bilhões
correspondem a caixa ou ativos que podem ser convertidos em caixa.
CAPÍTULO 3 - 69
Vou deixar você à vontade para decidir o quanto isso é seguro
e o quanto você quer depender de uma ausência de crise para
investir bem o seu dinheiro.
Ou seja, o Tesouro Selic é mais seguro e te paga 100% da
Selic efetiva.
Posto isso, por que investir em um CDB que te paga menos do
que 100% do CDI?
(Obs.: o CDI é praticamente igual à Selic efetiva, coisa de 1 ou
2 pontos base de diferença).
Não tem motivo! Não faça isso nunca!
Se seu banco quer te pagar menos do que 100% do CDI,
invista em Tesouro Selic!
Para ser mais precisa, como o Tesouro Selic tem os 0,20%
de taxa da B3 e o CDB às vezes não tem, a conta exata seria
98%. Ou seja, se seu banco quer te pagar menos de 98% do CDI,
invista em Tesouro Selic!
“E no caso de LCI e LCA (que não pagam IR)?”
Ótima pergunta!
Nesse caso, a LCI/LCA deveria te pagar no mínimo:
Vencimento (%)
em menos de 6 meses 77%
de 6 meses até menos de 1 ano 79,5%
de 1 ano até menos de 2 anos 82,5%
acima de 2 anos 85,8%
70 - Renda Fixa não é Fixa!
Ou seja, podemos ver que esses títulos já são um bom negócio,
não é mesmo?
Cuidado apenas com o risco de crédito do banco e com a
extrema confiança no FGC.
Agora, vamos para outra dúvida que deve estar rondando a
sua mente:
“Então por que eu não coloco tudo em Tesouro Selic sempre?
Já que nunca perco.”
Agora vem o:
PULO
DO GATO!
Vem comigo:
Eu sei que o pós-fixado tem um preço hoje que não varia e
vem rendendo de acordo com a taxa de juros do dia.
Eu sei que a taxa de juros que ele rende é a Selic efetiva,
que é controlada pelo Banco Central.
Eu sei que a taxa do mercado futuro é a expectativa que
o mercado tem a respeito da trajetória toda da Selic Meta,
de hoje até aquela data futura (caso tenha esquecido esse
conceito, revise o capítulo passado).
Por último, eu já sei que os títulos prefixados são precifi-
cados de acordo com essa taxa de mercado.
1
2
3
4
CAPÍTULO 3 - 71
Ou seja, você concorda que se o mercado estiver correto e a
trajetória da Selic que ele espera for de fato igual à trajetória que
de fato ocorrer, os títulos prefixados e os pós-fixados vão ter a
mesma rentabilidade?
Opa, isso é importante!
Isso quer dizer que se o mercado errar e a trajetória da Selic for
mais alta, o pós-fixado terá rendido melhor do que o prefixado.
Afinal, ele se aproveitou dessa média mais alta que aconteceu dia
após dia, enquanto o prefixado já tinha se travado.
Por outro lado, se o mercado errar e a Selic média acabar
sendo menor do que o mercado esperava, o pós-fixado terá tido
uma rentabilidade positiva, porém menor do que o prefixado.
É por isso que não colocamos apenas Tesouro Selic na carteira,
pois o prefixado pode acabar rendendo mais em épocas de queda
nas taxas.
Mas o Tesouro Selic, como sempre, ganha, e serve como um
porto seguro para os momentos de aversão ao risco.
Por fim, só quero fazer uma consideração, muito mais por força
da meticulosidade do que por ser importante.
O Tesouro Selic pode ter variação negativa de preço, sim!
Se você já entrou no Tesouro, deve ter percebido que o Tesouro
Selic tem uma taxa atrelada a ele.
72 - Renda Fixa não é Fixa!
Essa taxa de 0,09% ou 0,16% é chamada de ágio ou deságio
do título.
Ela adiciona rentabilidade ao título quando é positiva e retira
rentabilidade do título quando é negativa.
Por exemplo, o Tesouro Selic 2025 está com uma taxa de
0,09% + Selic, portanto, se a Selic for 10%, o investidor renderá
10,09% no total.
Acontece que essa taxa pode mudar ao longo do tempo.
Não por alterações na taxa Selic ou nas taxas de mercado, mas
por alterações na oferta ou na demanda do título.
Se muitos investidores demandam o Tesouro Selic, essa taxa
vai cair, podendo inclusive ser levemente negativa. Se a oferta do
título passa a ser muito grande, essa taxa pode subir.
As mudanças geralmente são pequenas, quase marginais.
Mas é possível, sim, em algum evento de crise, que haja uma
mudança um pouco maior, que provoque uma alteração mais
significativa no preço do título, mesmo que de forma temporária.
Fonte: Tesouro Direto 15/07/2022
CAPÍTULO 3 - 73
Podemos ver que, de 2006 a 2020, tivemos praticamente 14
anos de prêmio estável, com oscilações marginais. Mas em 2020,
a taxa subiu de 0,02% para 0,40% em poucos meses.
O resultado disso foi uma queda nos preços dos títulos
Tesouro Selic.
Fonte: Corretora Renascença
74 - Renda Fixa não é Fixa!
Sobre o vencimento do título, diferentemente dos prefixados
e indexados, não fará diferença você comprar um título de 2 ou
5 anos. Como todos rendem a Selic Efetiva, independentemente
do vencimento, todos terão a mesma rentabilidade.
Mas as alterações nessas taxas terão um impacto maior quanto
maior for o vencimento do título, como podemos ver no gráfico.
Por exemplo, em 2020, devido à alta da taxa do Tesouro Selic
de 0,02% para 0,40%, os títulos de curto prazo perderam 0,007%,
enquanto os títulos de longo prazo chegaram a perder 1,32%.
Ou seja, quanto mais longo o título, maior o efeito de mar-
cação a mercado e maior o risco. Por outro lado, quanto mais
longo, maior benefício possível com o IR regressivo.
Ou seja, se você está investindo em Tesouro Selic para reserva
de emergência, pode usar o vencimento mais curto. Mas se você
não tem pressa ou não precisará dos recursos, pode usar o ven-
cimento mais longo.
CAPÍTULO 3 - 75
3.4 INDEXADOS À INFLAÇÃO
Já falamos nas últimas seções sobre os prefixados e pós-fixados.
Você já entendeu a fundo como eles funcionam, no que se atentar
e como agir para não ser enganado.
Agora vamos falar sobre o título mais complicado de se
entender, que mistura características dos dois títulos anteriores,
mas que é um dos mais interessantes para se investir.
Vamos falar, então, do famoso Tesouro IPCA+!
O IPCA+ é um título que simula um “juro real”. Você já ouviu
falar disso, correto? E tem uma certa noção do que é juro real.
Mas, para fixar, vamos a um exemplo:
 Digamos que investi 1.000 reais em um prefixado de um
ano e a taxa da compra foi de 12%.
 Ao final de um ano, recebi 1.120,00 reais.
 Digamos que a inflação do período tenha sido 6%. Quanto
eu recebi líquido de inflação? Ou seja, quanto eu recebi de
juros reais?
Conta rápida: (1 + 0,12)/(1 + 0,06) -1 = 0,0566 ou 5,66%.
Conta passo a passo:
 Os meus 1.000 reais viraram equivalentes a 1.060 reais
depois de um ano por causa do efeito da inflação.
 Recebi 1.120 reais com meu investimento.
 1.120,00/1.060,00 -1 = 0,0566 ou 5,66%.
76 - Renda Fixa não é Fixa!
Mas temos um sério problema aí…
Não sabemos, hoje, quanto será a inflação de um ano.
Conseguimos estimar, mas não sabemos ao certo.
No meu exemplo, se a inflação do ano subir para 10%, meu
juro real no final será de apenas 1,81%. Se a inflação do período
cair para 4,5%, terei um juro real de 7,17%.
Ou seja, investindo em um prefixado, eu consigo travar minha
rentabilidade nominal, mas não tenho ideia de quanto será a
minha rentabilidade real.
E se eu disser que, não importa qual seja a inflação, há um
título que garante a você receber 5,66% de juros reais?
Essa é a principal característica do IPCA+. Ele “trava" os juros
reais e vai repondo a inflação, conforme ela se apresentar.
Você reparou que eu disse que ela pagará a inflação con-
forme ela se apresentar? Ou seja, na parte indexada ao IPCA,
se a inflação for menor, você atualizará o valor dos seus inves-
timentos por uma rentabilidade positiva, mas menor. Se a
inflação for maior, você receberá uma rentabilidade positiva, e
maior ainda.
Isso te faz lembrar algum título que eu já expliquei?
Os pós-fixados! Lembra que eles rendiam a Selic de um dia,
nunca perdendo, sempre aumentando de valor mais ou menos
de acordo com a Selic?
A parte da inflação do IPCA+ é a mesma coisa. Ela atualizará os
seus investimentos sempre por um valor positivo, aumentando
mais ou menos, conforme a inflação.
CAPÍTULO 3 - 77
Parte técnica: para corrigir o valor de seus investimentos,
eles inventaram um índice que se chama VNA, que começou em
1.000, em 15/07/2000, e em 2022 já está perto de 4.000.
Esse valor pode ser conferido diariamente no
site da Anbima: https://www.anbima.com.br/
pt_br/informar/valor-nominal-atualizado.htm
Todos os dias, esse índice é corrigido pela inflação do dia.
Quando o IPCA do mês ainda não foi divulgado, a Anbima estima
um valor e, depois da divulgação, corrige o histórico do mês.
Digamos que você investiu um valor equivalente a 60% do
VNA de hoje – 1.760,71 reais. Daqui a um mês, é só você pegar
os mesmos 60% do VNA do dia. Você terá seus 1.760,71 reais
atualizados pela inflação.
Agora, vamos para outro componente do IPCA+: a taxa real.
Acima, eu afirmei que a principal característica do IPCA+ é que
ele “trava" uma rentabilidade real.
Se eu “travo" a rentabilidade real, é como se eu estivesse tra-
vando um valor mínimo no futuro que não irá mexer, não importa
o que aconteça.
No caso do exemplo acima, é como se eu estivesse travando
um PU mínimo de 1.056,60 reais depois de um ano.
Você deve lembrar que já vimos essa característica antes nos
prefixados.
Essa rentabilidade real se baseia na expectativa de mercado
dos juros reais da economia.
Como é uma inferência a respeito do futuro, há uma incerteza
em relação ao resultado final dessa trajetória.
78 - Renda Fixa não é Fixa!
Assim, essa expectativa muda todo dia com novas informações
a respeito da economia.
Todo dia, o mercado negocia também essa taxa de juro real
e vai mudando para melhor refletir sua expectativa acerca
do futuro.
O investidor, porém, já travou no momento da compra um
valor futuro.
A mudança dessa taxa, portanto, muda todo o fluxo futuro real
trazido a valor presente.
Isso, por sua vez, muda o preço de hoje do papel. Exatamente
igual ao prefixado.
Parece complicado, mas vamos explorar mais esses detalhes.
Apergunta que fica é: então, como eu junto minha rentabilidade
real, que altera o preço do papel hoje, com minha rentabilidade
da inflação, que nunca perde?
A metodologia que inventaram é tratar o valor presente dos
fluxos futuros (ou seja, a parte prefixada) como percentual do PU.
Vamos ao exemplo:
Vamos pegar o mesmo título prefixado do exemplo acima:
Prefixado de um ano com taxa de 12%.
Lembra que o valor futuro dele é sempre 1.000 reais?
Como eu calculo o valor presente?
1.000/[(1 + 0,12)^1] = 892,85 reais
CAPÍTULO 3 - 79
Agora, vamos fazer a mesma coisa, mas fazendo o valor pre-
sente em % do PU.
Nesse caso, os 1.000 reais viram 100% (porque receberei
100% do meu fluxo no futuro):
100%/[(1 + 0,12)^1] = 89,28%
Perceba que é a mesma coisa, mas em percentual.
Ou seja, se eu multiplicar esse % pelos 1.000 reais futuros,
terei meu PU.
Agora, vamos ao caso do IPCA+:
Vejo qual é a minha taxa real e trago os 100% a valor pre-
sente por ela. Digamos que ela é 5,66%:
100%/[(1 + 0,0566)^1] = 94,64%
Agora, eu junto esse percentual com o VNA, que todo dia
vai me dar a inflação atualizada:
VNA = 2.934,52
% do PU * VNA = PU do IPCA+
ou seja:
94,64% x 2.934,52 = 2.777,22
Voilà!
E o que acontece se minha taxa de juros reais cair para 3%?
Resposta = 100%/[(1 + 0,03)^1] = 97,08%
97,08% x 2.934,52 = 2.849,04
1
2
80 - Renda Fixa não é Fixa!
Ou seja, eu ganhei 71,82 reais.
E o que acontece se minha taxa de juros reais subir para 8%?
Resposta = 100%/[(1 + 0,08)^1] = 92,59%
92,59% x 2.934,52 = 2.717,14
Ou seja, eu perdi 60 reais.
Reparou que o impacto de uma alta ou queda na taxa é igual
ao do prefixado?
Resumindo:
 No IPCA+, eu travo meu juro real e vou sendo atualizado
pela inflação, independentemente de qual seja.
 No componente de inflação, eu não tenho nunca como
perder, tendo sempre uma correção positiva (a não ser que
a inflação seja negativa).
 No componente juros reais, eu posso ter ganho ou perda
na marcação a mercado (e vencimento antecipado) de
acordo com os movimentos de juros reais do mercado. Da
mesma forma que os prefixados.
Entendida essa parte, vamos ao:
PULO
DO GATO!
CAPÍTULO 3 - 81
Vai você, um belo dia, chegar no seu analista de investimentos
para pedir “conselhos”…
…ele percebe genialmente que a inflação está subindo e diz a
você:
“O senhor deveria investir em títulos indexados à inflação, pois
está em todos os jornais que ela irá subir! Veja aqui o Valor, a
Folha e o Estadão!” – diz ele com cara de propriedade.
Essa dica foi valiosa?
Não!
Perceba que, assim como os prefixados, os indexados têm um
componente de exposição aos juros. A diferença é que nos inde-
xados temos uma previsão de juros REAIS!
Para prevermos os juros REAIS, pegamos nossa expectativa
de juros NOMINAIS e tiramos a nossa expectativa de inflação.
Exemplo:
 Expectativa de juros NOMINAIS para um ano: 12%.
 Expectativa de inflação para um ano: 5%.
 Expectativa de juros reais para um ano:
(1 + 0,12)/(1 + 0,05) -1 = 0,0666 ou 6,66%.
Aí, vamos ao mercado futuro e negociamos essa taxa todo dia,
comprando ou vendendo.
Os juros NOMINAIS, pegamos dos títulos Prefixados.
Os juros REAIS, pegamos dos indexados (IPCA+).
82 - Renda Fixa não é Fixa!
Mas se eu tenho os juros reais e os juros nominais, então eu
posso calcular a inflação esperada pelo mercado.
Sabe como chamamos essa inflação que calculamos a partir
desses dois títulos?
INFLAÇÃO IMPLÍCITA
Sim! Ela é a famosa "inflação implícita”, que você sempre ouviu
falar, mas nunca soube o que é. Ela é crucial para a nossa decisão
de investimento.
Venha comigo, falta pouco!
Digamos que, depois que seu analista genial falou aquilo, você
ficou intrigado e decidiu pesquisar…
… ele falou que, segundo os economistas do banco, a inflação
para daqui a dois anos iria subir de 5% para 6%, por isso você
deveria comprar IPCA+.
Como você leu este livro e sabe o modo de confirmar se as
informações que recebe estão corretas, você abriu o site da
Anbima e viu as seguintes taxas:
 Prefixado para dois anos: 12%.
 IPCA+ para dois anos: 4,5%.
Então você fez a conta:
(1 + 0,12)/(1 + 0,045) -1 = 0,0717 ou 7,17%.
Uau! Nessa, você percebeu que o mercado já está com expec-
tativa de inflação de 7,17%.
CAPÍTULO 3 - 83
Então será que o IPCA+ ainda vale a pena se a inflação for
igual a 6%?
Percebe que no momento que você vai comprar o IPCA+ ele já
embute uma estimativa alta para a inflação futura?
Vamos fazer a conta inversa, considerando juros reais + inflação:
 Inflação prevista pelo analista: 6%
 Juros reais travados no IPCA+: 4,5%
Rentabilidade total do período se a projeção do analista se
concretizar:
(1 + 0,06)*(1 + 0,045) -1 = 10,77%
Veja só: seu analista pediu para você investir em algo que irá
render 10,77% – se ele estiver correto na projeção de inflação.
Mas você poderia ter comprado, no mesmo dia, um prefixado e
“travado" uma rentabilidade de 12%.
Essa dica faz sentido? Não!
Quando as notícias estão nos jornais, é porque muito prova-
velmente elas já foram 100% precificadas!
Então, temos de fixar que:
 O que importa não é quanto você acha que será a inflação
ou se ela ficará acima da meta ou não, mas sim quanto
o MERCADO está precificando que será a inflação e se
você concorda com ele ou não.
 Se você achar que a inflação DE FATO será maior do que
a INFLAÇÃO IMPLÍCITA, vale a pena ter IPCA+ em vez
de prefixados.
84 - Renda Fixa não é Fixa!
 Se você achar que a inflação DE FATO será menor do
que a INFLAÇÃO IMPLÍCITA, então NÃO vale a pena ter
IPCA+. Os prefixados "performarão" melhor.
Da próxima vez que seu analista sugerir que compre um IPCA+
porque a inflação vai subir, pergunte a ele:
“Mas quanto está a inflação implícita? E quanto você
acha que será de fato?”
Outro detalhe muito importante é que quando a inflação ainda
não está precificada pelo mercado e de repente ela surpreende,
isso é sempre acompanhado de uma revisão para cima nas taxas
de juros.
Ou seja, se o mercado achava que a inflação seria 3% e de
repente ela começa a acelerar para 7%, o Banco Central terá
que subir rapidamente a taxa Selic, muito mais do que o mer-
cado esperava.
Isso fará com que as taxas dos títulos prefixados e indexados à
inflação subam também.
Ou seja, se a inflação for de 3 para 7, provavelmente os juros
reais do seu título vão de 5% para 6 ou 7% e, embora você tenha um
ganho maior do que o esperado na parte pós-fixada do seu IPCA+
(que é a inflação), você terá um prejuízo de marcação a mercado na
parte prefixada do seu IPCA+ (que é o aumento do juro real).
Nesse caso, quanto maior o vencimento do título, maior será
o impacto do prejuízo com a alta das taxas de juros frente ao
impacto positivo da alta da inflação.
Em 2021, por exemplo, o IPCA surpreendeu o mercado,
acelerando para 10,06%. Com isso, as taxas dos títulos IPCA+
também subiram.
CAPÍTULO 3 - 85
A taxa do IPCA+ 2024 foi de 1,61% para 5,21%. Com isso,
seu retorno no ano foi de 2,30% no total (mesmo com a inflação
sendo 10,06%).
A taxa do IPCA+ 2045 foi de 3,38% para 5,18%. Com isso, seu
retorno no ano foi de -23% no total (mesmo com a inflação sendo
10,06%).
Ou seja, no ano em que a inflação mais surpreendeu o mer-
cado, os títulos IPCA+ deram retorno baixo ou negativo!
Isso aconteceu por conta da reprecificação dos juros para cima
e do efeito de marcação a mercado.
Então, se você quiser se proteger da inflação, utilize um
IPCA+ de curtíssimo prazo, como 1 ano, para que você consiga
levar o título a vencimento e não sofra os efeitos negativos da
alta nas taxas.
TÍTULOS BANCÁRIOS
4
CAPÍTULO 4 - 87
Como expliquei acima, os títulos de renda fixa também podem se
diferenciar pelo tipo de emissor.
O emissor é aquele que garante o empréstimo e deverá ser
cobrado no caso de inadimplência. Nos títulos públicos, o emissor
é o governo.
O governo é responsável pela maioria dos títulos de renda fixa
comprados por investidores.
Na segunda posição, temos os bancos.
Os bancos funcionam como intermediadores de recursos finan-
ceiros. Eles captam recursos dos poupadores, via seus produtos
(CDB, Poupança, LCI, LCA, Depósitos à vista), e emprestam esse
dinheiro aos que precisam, via empréstimos e financiamentos.
A diferença entre os juros que eles emprestam e os juros que
eles pagam nas aplicações é chamada de spread. Esse spread é
a remuneração básica dos bancos. Os bancos também ganham
dinheiro com produtos e serviços (seguros, cartão de crédito,
antecipações, transações etc).
Por exemplo, digamos que um fazendeiro pegue 1 milhão de
reais em recursos com o Banco para viabilizar a sua produção.
O banco cobrou 120% do CDI para esse empréstimo.
Para ter recursos para emprestar para o fazendeiro, o Banco emite,
por exemplo, 1 milhão de reais em LCAs, que pagam 100% do CDI.
Nessa situação, simplificando o processo, o banco ficaria com
20%, que é o spread entre a taxa emprestada e a captada.
88 - Renda Fixa não é Fixa!
Quando investimos em produtos de bancos, mesmo que esses
recursos sejam repassados para terceiros, não corremos o risco
de calote dos terceiros.
Ou seja, se o fazendeiro não pagar o empréstimo, o banco
ainda assim é obrigado a nos pagar. O nosso devedor é o banco,
independentemente da pessoa ou empresa que ele emprestou.
Corremos o risco de inadimplência do banco.
Podemos perceber, facilmente, que apesar de não corrermos o
risco direto da pessoa ou empresa para qual o banco emprestou,
corremos um grande risco indireto.
No limite, se nenhum devedor pagar o banco, não tem como
ele nos pagar. Então, em épocas de crise econômica, em que a
inadimplência sobe, investir em bancos pode ser arriscado.
A estrutura de capital de um banco é altamente alavancada.
Ele só precisa ter 11% de capital próprio sobre ativo hoje, mas
que vai cair até 9% ao longo dos anos. Essa razão é chamada de
índice de Basileia.
No site Banco Data, podemos conferir qual o índice de Basileia
(e várias outras informações) do banco que pretendemos investir.
Se estiver muito próximo de 11%, é preciso tomar cuidado.
CAPÍTULO 4 - 89
Abaixo disso, o BC obriga o banco a aumentar o capital. Se não
houver nenhuma forma de capitalização disponível, o banco quebra.
Ou seja, prefira bancos com Basileia alta. Acima de 17%.
Além disso, prefira bancos que dão lucros consistentes. Parece
trivial, mas não é. Cerca de 90% dos bancos que pagam acima de
120% do CDI estão dando prejuízos consecutivos.
Na dúvida se o banco é seguro ou não, não invista. Prefira a
segurança do Tesouro Selic.
Melhor ganhar um retorno menor do que perder o dinheiro
investido.
Um outro problema do banco, que é acompanhado muito de
perto pelo BC, é o diferencial de prazo entre os recursos que ele
capta e os que ele empresta.
Enquanto os depósitos e CDBs são recursos de curto prazo
e podem ser sacados a qualquer momento, os empréstimos
geralmente têm vencimento em uma série de anos. Para imóveis,
podem chegar a 30 anos.
Isso significa que se os correntistas e investidores decidirem
retirar seus recursos do banco ao mesmo tempo, o banco quebra.
Em épocas normais, isso certamente não acontece. Mas se há
alguma dúvida em relação à solvência da instituição ou em meio
a uma crise econômica, isso pode acontecer.
Os primeiros a sacar o dinheiro terão o valor honrado.
Os últimos não receberão nada.
Para evitar esse tipo de problema e dar maior solidez ao
sistema, os bancos se juntaram em 1995 e criaram o Fundo
Garantidor de Crédito.
90 - Renda Fixa não é Fixa!
O FGC
O FGC é uma instituição privada, que nasceu da união dos
bancos e faz o papel de estabilizador do sistema financeiro em
momentos de crise.
Todos os bancos contribuem com 0,0125% do valor garantido
para um fundo de disponibilidades do FGC.
Em contrapartida, quando uma instituição quebra, o FGC pro-
mete ressarcir os depositantes e investidores da instituição.
O valor da restituição vai até 250 mil, incluindo os juros dos
investimentos.
O valor é por CPF (ou conta conjunta) e por conglomerado,
além disso, tem um limite máximo de 1 milhão por CPF.
Ou seja, se você possui 200 mil no Banco A e 250 mil no Banco
B, está 100% garantido, desde que o Banco A e B não sejam do
mesmo conglomerado. No site do BC, você consegue conferir
quais são os bancos do mesmo conglomerado.
A garantia inclui recursos que estão em depósitos à vista, pou-
pança, CDB, LCI, LCA, LC.
As corretoras costumam dizer que o FGC garante 99% do total
das contas. Isso é uma grande mentira.
Olhando para o demonstrativo de resultados do FGC do pri-
meiro trimestre de 2020, nos deparamos com a seguinte tabela:
4.1
CAPÍTULO 4 - 91
Garantia Ordinária I até R$258 mil Jun/21 Dez/20 Var.%
Valor dos depósitos elegíveis (em R$ milhões) 3.204.536 3.162.167 1,34%
Valor dos depósitos cobertos (em R$ milhões) 1.681.278 1.672.649 0,52%
% Depósitos cobertos 52,47% 52,90%
Quantidade total declientes 403.742.597 380.633.179 6,07%
Clientes com 100% de cobertura do valor depositado 402.548.648 379.485.811 6,08%
% Clientes com 100% de cobertura 99,70% 99,70%
Aqui, podemos ver que, em 2020, o valor dos depósitos
cobertos pelo FGC é 52,90% dos depósitos elegíveis.
Ou seja, o resto são depósitos que provavelmente ultrapassam
o valor máximo de 250 mil e, embora sejam elegíveis, acabam
não sendo garantidos.
Além disso, 99,7% dos clientes possuem 100% de cobertura.
Ou seja, 99,7% dos clientes possuem até 250 mil por CPF por
instituição.
Note que isso não quer dizer absolutamente NADA sobre a
capacidade do FGC em pagar os clientes cobertos pela garantia.
Apenas diz que a maioria está dentro do limite (e que a renda é
muito concentrada, afinal, 0,3% do sistema possui o excesso de
47,1% dos valores não cobertos).
Onde então encontramos informações sobre a capacidade do
FGC em pagar eventuais sinistros?
Fonte: FGC
92 - Renda Fixa não é Fixa!
Acima, temos o gráfico de disponibilidades. Podemos ver, nas
barras verticais, o percentual das disponibilidades do FGC em
relação ao TOTAL DOS DEPÓSITOS ELEGÍVEIS.
Esse valor era de 2,04% em junho de 2021.
Em outras palavras, se mais de 2,04% do sistema financeiro
quebrar, o FGC não vai ter recursos disponíveis para honrar com
a garantia.
Se ele não tiver recursos disponíveis, ele NÃO precisa garantir.
Ao contrário do que muita gente pensa, ele NÃO é um seguro
e só reembolsa o depositante ou investidor se houver recursos.
A pergunta então é: 2,04% é o suficiente?
Em épocas de crescimento econômico, sim. Mas em épocas de
crise, pode não ser.
Fonte: FGC
2,30%
49.944
45.932
51.063
54.573
62.116
65.828
55.153
59.110
79.666 80.802
2017
% Liquidez em relação ao total de depósitos elegíveis
Meta de liquidez (2,5% do total de depósitos elegíveis)*
Liquidez do FGC
2018 2019 2020 jun/2021
2,31% 2,31%
1,95% 2,04%
Liquidez do FGC e volume do sistema (valores em R$ milhões)
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  • 3. Nord Research © Todos os direitos reservados Rua Joaquim Floriano, 100 - Itaim Bibi, São Paulo - SP, 04534-000 contato@nordresearch.com.br Renda Fixa Não é Fixa! Nord Research 2022 Marilia Fontes | Autoria Victor Weiler | Coordenação do projeto, organização e edição Glenda Donadio | Preparação e revisão Marina Fiorese | Diagramação Bernardo Coelho Studio | Fotografia de Capa Mariana Lima | Tratamento de imagens
  • 4. MARILIA FONTES RENDA FIXA NÃO É FIXA! 2a edição
  • 5. Ao meu marido, Marcio, e minhas paixões, Carol, Dani, Sofia, Luisa e Gabriel. A todos os meus leitores cujas perguntas e feedbacks apuraram os capítulos deste livro.
  • 6. A wealthy person is simply someone who has learned how to make money when they’re not working” Robert Kiyosaki “O rico é simplesmente aquela pessoa que aprendeu a fazer dinheiro quando não está trabalhando”
  • 7. Sumário Prefácio...........................................................................................10 Introdução......................................................................................14 1 | O Poder dos Juros Compostos.......................................... 18 2 | Os tipos de títulos................................................................ 26 3 | Títulos públicos..................................................................... 36 3.1 Passo a passo para investir no Tesouro Direto........47 3.2 Prefixados .......................................................................52 3.3 Pós-fixados......................................................................64 3.4 Indexados à inflação......................................................77 4 | Títulos bancários................................................................... 88 4.1 O FGC...............................................................................92 4.2 CDBs.................................................................................96 4.3 LCI e LCA..........................................................................99 4.4 Poupança.........................................................................102 4.5 Outros...............................................................................109 5 | Títulos de empresas............................................................. 112 5.1 Debêntures......................................................................114 5.2 CRAs e CRIs.....................................................................119
  • 8. 6 | As agências de rating............................................................ 122 7 | A análise de crédito............................................................... 128 8 | Como operar renda fixa – a gestão ativa......................... 136 8.1 A curva de mercado........................................................142 8.2 Exemplo I – 2012............................................................148 8.3 Exemplo II – 2013...........................................................154 8.4 Exemplo III – 2016..........................................................157 8.5 Exemplo IV – Prefixados x Indexados........................160 9 | A renda fixa não é fixa!......................................................... 164
  • 9. CAPÍTULO 1 - 9 Prefácio A Renda Fixa no Brasil tem passado por transformações importantes ao longo dos últimos anos. Essas mudanças ocorrem no bojo do desenvolvimento do mercado de títulos privados, alicerçado pelos avanços no mercado de títulos públicos federais que o precedeu. Soma-se a isso o aparecimento de novos produtos financeiros e plata- formas de negociação, o aumento da transparência, além do aprimoramento normativo e autorregulatório criado pelos participantes de mercado. Finalmente, deu-se o alargamento e a diversificação da base de investidores, elemento central no aumento da dispersão dos instru- mentos de renda fixa. O ajuste macroeconômico realizado na segunda metade da década de 90 estava calcado em três aspectos fundamentais: o ajuste nas contas externas, o controle das finanças públicas com a adoção de uma política fiscal austera e o controle da inflação. A esta- bilização dos preços foi condição necessária para o desenvolvimento da renda fixa no Brasil pelo simples fato de dar maior previsibilidade ao valor do dinheiro no tempo.
  • 10. 10 - Renda Fixa não é Fixa! A inflação tem esse extraordinário poder de encurtamento dos horizontes de tempo pela incerteza que impõe sobre o valor dos ativos. Quando se verifica o descontrole, o poder de compra do consumidor é corroído rapidamente, assim como a riqueza do investidor enquanto poupador nato, dependendo do instrumento financeiro que escolheu para rentabilizar seu dinheiro. Investimentos em renda fixa são aqueles em que o inves- tidor sabe de antemão exatamente como será remunerado. Isso não significa necessariamente saber o resultado final do investimento daqui a um ano, por exemplo. Por conta do contexto inflacionário que o Brasil viveu no passado, criou-se uma cultura de indexar todo investimento a alguma taxa de juros para evitar perdas. Quando a inflação chegou a menos de 10% ao ano, o cenário mudou. Foi assim que a renda fixa ganhou uma nova cara no Brasil, começando pela melhora do perfil da dívida pública federal, especialmente entre 2003 e 2008, quando foram lançados vários instrumentos diferentes daqueles aos quais os investidores estavam habituados. O Tesouro Nacional foi capaz de alongar os prazos de seus títulos, além de oferecer consistentemente títulos com taxas prefixadas, aqueles em que o investidor sabe exatamente quanto receberá entre a data do investi- mento e do resgate. Também ofertou títulos com prazo de 40 anos atrelados à inflação, excelente alternativa para quem deseja uma aposentadoria tranquila, com liquidez e segurança. É importante dizer que o Tesouro Nacional ofereceu essas alternativas tanto em seus leilões sema- nais, nos quais há a participação de diversas instituições financeiras, quanto no Tesouro Direto, programa essen- cialmente dedicado à pessoa física e que tem crescido rapidamente nos últimos anos. PREFÁCIO - 10
  • 11. CAPÍTULO 1 - 11 Esses avanços no mercado de títulos do Tesouro Nacional foram vitais para o desenvolvimento do mercado de títulos privados, seja corporativo ou ban- cário, na medida em que criou referências de preços bem definidos em diversos pontos do tempo. Essas mudanças ajudam a responder qual é o preço justo de um investimento daqui a três, cinco ou dez anos. Em abril de 20171 , o mercado de renda fixa compreendia um total de R$ 5,6 trilhões, dos quais 56,3% são repre- sentados por títulos públicos, 11,5% e 10,6% por CDBs e Letras Financeiras, 13,55% por debêntures e 8% por títulos de créditos e outros títulos privados. A evolução significativa desses mercados promovida por esses diversos instrumentos não estaria completa se não houvesse enormes esforços para simplificar o enten- dimento do investidor não profissional. Nesse sentido, este livro preenche uma lacuna importante, explicando de maneira simples e didática as características de cada mercado, a atenção e os cuidados que o investidor pre- cisa ter, ao mesmo tempo que demonstra que investir em renda fixa não é tão difícil quanto parece no imaginário das pessoas. Na renda fixa, os preços variam, mas o investidor pode proteger seus recursos de oscilações momentâneas se realizar um planejamento correto e souber claramente qual é seu objetivo, seu horizonte e seu prazo para resgate. É com muita satisfação que apresento este livro, que busca descrever como é possível obter excelentes rentabi- lidades na renda fixa, num momento especial da indústria. O investidor pode ter acesso a diferentes alternativas de investimento de maneira descentralizada, tomando suas próprias decisões sobre onde e como investir, seja em seu aplicativo móvel ou pelo computador de casa. Mesmo diante dessa liberdade de escolha, nem todos
  • 12. 12 - Renda Fixa não é Fixa! 1 Boletim de Renda Fixa da Anbima. *André Proite foi gerente de Relacionamento com Investidores da Dívida Pública e atuou como Coordenador-Geral de Controle e Pagamento da Dívida Pública na Secretaria do Tesouro Nacional. No entanto, este prefácio foi escrito de maneira dissociada de suas atribuições, no intuito de incentivar iniciativas voltadas à edu- cação financeira. Além disso, o Código de Ética da instituição foi observado, e a opinião aqui descrita se refere exclusivamente ao autor, não se confundindo com um posicionamento institucional. se sentem à vontade ou seguros para seguir adiante, e é nesta linha que o livro contribui fortemente para tornar as escolhas individuais mais fáceis e ajudar os investidores a realizar essa travessia. André Proite* PREFÁCIO - 12
  • 13. CAPÍTULO 1 - 13 Nos primeiros 8 anos de minha carreira, trabalhei como gestora de fundos de investimento do tipo multimercado. A estratégia desses fundos é basicamente efetuar inves- timentos principalmente em ações, moedas e juros para obter uma rentabilidade acima do CDI. Eu trabalhava com renda fixa e câmbio. Dentre os investimentos que eu operava, estavam contratos de juros no mercado futuro, títulos públicos e opções. Com esses instrumentos, era possível obter ren- tabilidades bastante agressivas e concorríamos no mesmo patamar que a equipe de ações. Ora ganhando, em termos de rentabilidade, ora perdendo. Na maioria dos casos, a renda fixa era considerada o “carro chefe” desses fundos, de onde advinham as maiores rentabilidades. Até porque as ações eram muito voláteis, e os juros no Brasil sempre foram altos o suficiente para desencorajar qualquer investimento de risco. Introdução
  • 14. 14 - Renda Fixa não é Fixa! INTRODUÇÃO - 14 Os fundos eram destinados principalmente aos grandes inves- tidores. Muitas vezes, a única comunicação que tínhamos com os clientes era indireta e mediada por um distribuidor (que aloca os recursos dos clientes “private” dos grandes bancos). Em janeiro de 2016, me chamaram para integrar o time de uma casa de análise como analista de renda fixa. A casa era destinada a fazer recomendações de investimentos para pequenos investidores. Grande parte dos investimentos desse grupo ia para a poupança ou para outros investimentos de baixa rentabilidade ou alto custo, sugeridos por gerentes de banco. A ideia de se criar uma casa de análise era dar acesso ao mesmo tipo de conhecimento fornecido aos mais sofisticados investidores institucionais. Eu me recordo de ter pensado que a única mudança, em termos de carreira, seria que em vez de comprar os investimentos para meus clientes, iria sugerir a eles o que comprar. No entanto, sentada na minha cadeira de analista de renda fixa, percebi logo no começo que não seria somente isso. O pequeno investidor estava tão desamparado, tão repleto de informações falaciosas e tendenciosas, tão cercado de conflitos de interesses, que simplesmente, sabendo do que eu sei e tendo aprendido tudo o que eu aprendi, não poderia deixar de trans- mitir o conhecimento. Em 2018, fundei a Nord Research com mais 4 sócios, uma casa de análise que além de dar o peixe – as valiosas recomendações de investimento –, também ensinava a pescar, com muito con- teúdo educativo. O trabalho passou a ser não só de sugerir e recomendar, mas também de treinar e educar financeiramente o investidor. Sempre digo que é totalmente razoável o pequeno investidor correr altos
  • 15. CAPÍTULO 1 - 15 riscos, desde que ele esteja 100% ciente desses riscos que ele corre. O pequeno investidor é acostumado a encarar renda fixa como aquele investimento que rende pouco, mas sempre rende, e a renda fixa pode ser completamente diferente disso. Pode ser um investimento que gera perdas relevantes, assim como ganhos agressivos. Renda Fixa pode ser muito segura ou pode ser extrema- mente arriscada. Eu não entendia por que nossos leitores preferiam ações à renda fixa; por que nossos relatórios de ações eram mais procurados como fontes de retorno subs- tancial. Durante toda a minha carreira no mercado financeiro, vi a renda fixa ser, na maioria das vezes, priorizada como fonte de rentabilidade pelos investi- dores profissionais. Neste livro, vou explicar para você, leitor, como operar renda fixa de forma agressiva. Vou te explicar como obter retornos de 40% ou 50% no ano apenas com renda fixa. Vou falar também sobre como preservar seu capital com renda fixa, operando de forma cautelosa. Muitas vezes, os pequenos investidores utilizam CDBs de bancos altamente arriscados, achando que estão fazendo um investimento conservador. Na verdade, essa operação é extremamente arriscada. Da mesma forma, muitos deles investem em títulos públicos prefixados longos achando que estão fazendo um investimento conservador. Se tiverem que vender
  • 16. 16 - Renda Fixa não é Fixa! INTRODUÇÃO - 16 antecipadamente o papel, é possível incorrer até mesmo em prejuízos. É preciso entender exatamente como funciona cada título e como se beneficiar das diversas características de cada um. Estando ciente de seu funcionamento, resta a você, sabendo qual é o seu perfil de risco e sua necessidade de capital, escolher o mais adequado. Então vamos entender exatamente como funciona o mercado de renda fixa, qual é o real risco que corremos com cada título, as ciladas e as oportunidades.
  • 17. O PODER DOS JUROS COMPOSTOS 1
  • 18. 18 - Renda Fixa não é Fixa! Chamamos de renda fixa tudo aquilo que representa uma dívida. Quando você compra um título do governo, na verdade está emprestando dinheiro para ele. Quando compra o CDB de um banco, está emprestando dinheiro para o banco. Quando compra uma debênture de uma empresa, está emprestando dinheiro para ela. Como todo empréstimo, combinamos uma data para o vencimento do empréstimo, quando se tem que pagar o valor emprestado e mais um juro acordado. Por exemplo, nos títulos públicos, o pagamento de juros, amor- tização e vencimento é padronizado. Todo pagamento de juros é feito semestralmente (para os títulos que pagam juros). Todo valor nominal é pago apenas no final, e os prazos de vencimento são escolhidos pelo Tesouro, de tal forma que cada tipo de título tem aproximadamente uns 15 prazos disponíveis. Os CDBs, LCIs e LCAs são menos padronizados e podem variar bastante em vencimento. O pagamento dos juros e principal geralmente só é feito ao final do vencimento do título, a não ser para CDBs com liquidez diária, nos quais é possível sacar o prin- cipal e juros a qualquer momento.
  • 19. CAPÍTULO 1 - 19 Nas debêntures, tudo pode mudar. Cada título tem seu esquema de pagamento de juros, principal e vencimento, e é necessário analisar caso a caso. Não se preocupe em gravar esses detalhes, falaremos mais sobre cada título nas próximas seções. Estou apenas exemplificando. Como todo empréstimo também, temos que analisar crite- riosamente a saúde financeira de quem estamos emprestando o dinheiro. A resposta principal é saber se essa instituição terá capacidade de nos devolver o principal e juros. Se o nosso devedor é mais arriscado, então devemos exigir um juro maior para realizar o empréstimo. Emprestar para um banco pela mesma taxa que emprestamos para o governo não faz sen- tido. Também vamos falar mais sobre isso adiante. Existe uma característica importantíssima dos juros que faz dos títulos de renda fixa seus maiores aliados quando se pensa em construção de patrimônio e aposentadoria: os juros são compostos! O que isso significa? Juros compostos são aqueles em que os juros de cada período são somados ao valor inicial para o cálculo dos juros do próximo período. Por exemplo, suponha um investimento inicial de R$ 100 a uma taxa de 10% ao ano. Depois de 1 ano, terei R$ 110,00 [ 100*(1+10%) ] Depois de 2 anos, não vou ter R$ 120,00, mas sim R$ 121,00 [ 100*(1+10%)ˆ2 ]
  • 20. 20 - Renda Fixa não é Fixa! Esse 1 real a mais foi o efeito dos juros do segundo período em cima dos juros obtidos no primeiro período. Esse efeito de composição faz com que o seu patrimônio cresça de forma exponencial. Na tabela ao lado, temos o resultado desse investimento nos períodos seguintes: O investimento inicial, que era de apenas R$ 100, acabou virando R$ 670 depois de 20 anos, simplesmente pela com- posição de juros. Isso significa dizer que, durante esse tempo, você não teve que aportar mais dinheiro ou conseguir retornos melhores. Você apenas aplicou seu dinheiro a uma taxa de 10% e ele começou a se multiplicar. Simples assim! No curto prazo, não conseguimos perceber a diferença, mas ao longo do tempo, vemos o bolo crescer consistentemente. Essa é a melhor previdência que você pode ter. Anos Patrimônio 0 100,00 1 110,00 2 121,00 3 133,10 4 146,41 5 161,05 6 177,16 7 194,87 8 214,36 9 235,79 10 259,37 11 285,31 12 313,84 13 345,23 14 379,75 15 417,72 16 459,50 17 505,45 18 555,99 19 611,59 20 672,75
  • 21. CAPÍTULO 1 - 21 Esqueça as discussões do governo sobre o envelhecimento da população, a idade mínima de aposentadoria, o valor do teto… Você pode se aposentar depois de 30 anos de trabalho, inde- pendentemente do que o governo quer que você faça, apenas sendo previdente e investindo em renda fixa. Veja o que acontece com os seus investimentos se, além de investir com um juro de 10%, você decide poupar 100 reais por mês: Depois de 10 anos: R$ 19.985,00 Depois de 20 anos: R$ 71.825,00 Depois de 30 anos: R$ 206.284,00 Parece bom, não é mesmo? Mas estamos só esquentando. Agora, vamos imaginar a mesma situação, mas com um inves- timento de 500 reais por mês: Depois de 10 anos: R$ 99.930,00 Depois de 20 anos: R$ 359.130,00 Depois de 30 anos: R$ 1.031.420,00 Uau! Você virou um milionário. Como você queria ter pensado nisso 30 anos atrás, não é mesmo? Não se martirize, a maioria das pessoas não poupa de forma consistente.
  • 22. 22 - Renda Fixa não é Fixa! A ideia da criação do sistema de previdência era exata- mente essa. O governo percebeu que o cidadão comum era um ser não previdente e que se dependesse somente dele para acumular o valor necessário para que pudesse ter uma aposentadoria tranquila, ele não o faria (gerando problemas sociais posteriores). Em vista disso, o governo tornou a cobrança mensal compul- sória, sendo ela um percentual do salário. Mas o fato é que, se você tiver a consciência de um ser previdente, independente- mente da situação fiscal do governo, você poderá contar com uma aposentadoria e criação de riquezas consistente. Quanto mais cedo você começar, mais rápido terá a sua liber- dade financeira graças ao efeito dos juros compostos. Uma excelente notícia para você, que pensa em começar agora, é que você mora no país com a maior taxa de juros do mundo. Isso significa que demora muito menos para você poder se aposentar do que todo o resto do globo! Enquanto nossas contas são feitas com 10%, o resto do mundo tem que usar 2 ou 3% ao ano. Então aproveite! Isso não deve durar para sempre. Eu me lembro de ter lido um livro na adolescência que me fez mudar a forma como eu encarava o dinheiro. É um livro bem básico e fácil de ler. Li em um dia porque não conseguia parar. Não tem nada de sofisticado, mas na simplicidade dele aprendi algo que levo até hoje. O livro se chama Pai rico, Pai pobre, de Robert Kiyosaki. Vocês devem ter ouvido falar. Ele fala sobre educação financeira e sobre como encarar o dinheiro.
  • 23. CAPÍTULO 1 - 23 A lição mais importante é: A maioria das pessoas trabalha pelo dinheiro. Ou seja, tem uma série de gastos (a maioria bem fundamentados) e, para honrar seus compromissos, trabalha exaustivamente a vida toda; o livro dá o nome de “corrida de ratos” a isso. Muitas dessas pessoas, quando recebem um aumento de salário, sentem-se confortáveis para aumentar ainda mais os seus gastos, o que as torna ainda mais dependentes do trabalho, e não menos. O objetivo do autor é fazer você perceber que você tem que sair da corrida de ratos e começar a fazer o DINHEIRO TRABALHAR POR VOCÊ, e não você trabalhar pelo dinheiro. O que isso quer dizer? Quer dizer, em outras palavras, FAZER OS JUROS TRABALHAREM POR VOCÊ. Quanto mais você conseguir economizar hoje, mais rápido poderá parar de trabalhar, pois os juros do seu patrimônio vão gerar renda o suficiente para você honrar seus gastos mensais. Eles ficam trabalhando e você fica curtindo. No livro O valor do amanhã, de Eduardo Gianetti (que eu tive o prazer de ter como professor durante minha graduação em economia), ele discute exatamente a dificuldade das pessoas em segurar a ansiedade e consumir menos hoje em troca de um maior consumo amanhã. Quanto menor a nossa maturidade financeira, menos conse- guimos ter a paciência de esperar a troca de mais no futuro em relação a menos hoje. A nossa sobrevaloração do hoje, depois de 30 anos de tra- balho, nos faz olhar para trás com arrependimento, pensando
  • 24. 24 - Renda Fixa não é Fixa! que já poderíamos ter nos aposentado. Poderíamos ter um trabalho mais tranquilo ou nos dedicarmos a um hobby. Mas a maioria das pessoas se mantém presa na “corrida de ratos”. Ganhando e gastando. Espero que eu tenha conseguido te estimular a pensar na importância da renda fixa e dos juros compostos. Além disso, há outro fator que pode acelerar sua aposenta- doria. Como eu mostrei anteriormente, com 500 reais, você teria 1 milhão depois de 30 anos. Isso considerando uma taxa de juros de 10%. Agora, quanto tempo demoraria para eu ter esse mesmo 1 milhão investindo a uma taxa de 20%? Resposta: 20 anos! Ou seja, se essa fosse a sua meta de patrimônio, você poderia se aposentar 10 anos mais cedo se conseguisse um retorno maior. Nos próximos capítulos, vou explicar como funciona cada título de renda fixa e como podemos usar cada um deles para ora preservar nosso patrimônio (em momentos de crise), ora obter retornos agressivos (em épocas de otimismo). Com esses dois vetores trabalhando por você, restará apenas que o tempo passe para que você alcance o patrimônio desejado. Lembrando que tudo isso se dará utilizando a classe de ativos tida como a mais conservadora de todas: a renda fixa.
  • 26. 26 - Renda Fixa não é Fixa! Quando falamos em renda fixa, parece que estamos falando sobre um tipo de ativo, mas na verdade a renda fixa engloba diversos tipos diferentes de ativos. Todos representam uma dívida de alguém com alguém. Em todos os casos, você, investidor, estará emprestando dinheiro para alguma instituição (governo, banco ou empresa) e em troca receberá o dinheiro que emprestou mais juros. Esses empréstimos diferem nas seguintes características:  indexador da dívida;  emissor da dívida;  vencimento/prazo do empréstimo;  lastro ou garantia do empréstimo;  tipo de marcação do preço ou negociação. O indexador da dívida é sobre qual índice que servirá de refe- rência para os juros do meu empréstimo. Por exemplo, o CDI é a referência de alguns títulos pós-fixados como CDBs, LCIs, LCAs, debêntures. A Selic efetiva é a referência do Tesouro Selic. O IPCA é a refe- rência do IPCA+, e assim vai… O indexador serve para estabelecermos desde o início como será pago o juro do nosso empréstimo. Não podemos mudar a regra do contrato e, se um indexador é escolhido, ele deverá ser utilizado até o vencimento do título. O emissor da dívida é para quem você vai emprestar o dinheiro. É o devedor do empréstimo. Ele vai emitir o título que o investidor vai comprar.
  • 27. CAPÍTULO 2 - 27 Os emissores podem ser: o governo; os bancos; as empresas. Quando o governo emite um título, chamamos de Título Público. Os mais conhecidos e disponíveis no Tesouro Direto são Tesouro Selic (ou LFT), Tesouro Prefixado sem cupom (ou LTN), Tesouro Prefixado com juros semestrais (ou NTN-F), Tesouro IPCA+ com juros semestrais (ou NTN-B) e Tesouro IPCA+ (ou NTN-B Principal). Os títulos emitidos por bancos são os CDBs, LCA, LCI, Poupança, LC, LF, RDB. Os títulos emitidos por empresas são as Debêntures, CRIs e CRAs. Ou seja, se eu te falo que tenho uma LCA para te recomendar, você já sabe que é um produto de banco. Se eu te falo sobre uma Debênture, você já vai saber que se trata de uma dívida de empresa. Se eu falo do Tesouro Selic, será do governo. Por que é importante sabermos quem é o emissor da dívida? Como eu disse na introdução, é importantíssimo sabermos para quem estamos emprestando o nosso dinheiro. É preciso analisar se o emissor é um bom pagador e se ele terá condição de nos pagar o empréstimo de volta. Se o emissor for uma instituição com sérios problemas de dívida e falta de dinheiro, não vamos querer emprestar. Ou, então, se aceitarmos correr esse risco, vamos exigir uma taxa de juros muito maior para que compense o risco de calote. 1 2 3
  • 28. 28 - Renda Fixa não é Fixa! Vejo que o erro mais comum do pequeno investidor é aceitar financiar bancos médios que geram prejuízo por taxas levemente acima da Selic. O investidor compara as taxas do Tesouro Selic (100% da Selic Efetiva) com as dos CDBs desses bancos (110% do CDI) e acha que está fazendo um ótimo negócio rentabili- zando 110%. Na verdade, o nível de risco que esse investidor está correndo pode ser 20 vezes maior. Ele está sendo remunerado a mais porque o investimento é muito mais arriscado, mas na maioria das vezes ele não está ciente do risco que corre e não está sendo remunerado condizentemente com o risco incorrido. Depois que o banco quebra, resta torcer para que o FGC tenha recursos disponíveis para resgatar os detentores do título. Torcer? Mas o FGC não é obrigado a me pagar? Não! E vou falar mais sobre isso adiante. Temos uma hierarquia dos emissores em relação ao seu nível de risco. O emissor menos arriscado, ou mais seguro, é o governo. Os títulos do governo são chamados em finanças como “livres de risco”. Não que eles sejam de fato livres de risco, mas são os mais seguros da economia. Isso porque o Governo Federal, através do Tesouro Nacional, consegue se financiar com mais tranquilidade mesmo em épocas de crise. Ele tem uma série de instrumentos que podem ser uti- lizados para que o pagamento da dívida aconteça. Um desses instrumentos, por exemplo, é simplesmente imprimir dinheiro, outro é aumentar a tributação. Bancos e empresas não conseguem emitir dinheiro ou tributar. Por esse motivo, em épocas de crise, eles são mais suscetíveis ao calote do que o governo.
  • 29. CAPÍTULO 2 - 29 É claro que essa hierarquia não é estática. O nosso governo já passou por épocas em que era melhor ter uma dívida de um grande banco do que um título público. Em 1987, o então presidente José Sarney decretou a moratória de dívida externa, causando pânico entre seus credores. Os efeitos colaterais foram tão brutais que desde então nenhum governo ousou repetir o feito. Os credores sumiram, o país teve saída de capital, não conse- guia financiar suas exportações, a economia afundou, os salários foram amassados, a inflação comeu solta. Desde 1987, não temos moratória da dívida pública. Em compensação, todo ano temos empresas e bancos decre- tando falência. Assim, quando se empresta para o governo, a taxa de juros cobrada é menor mesmo. Por outro lado, a probabilidade de ele te pagar é muito maior. O tamanho dos juros pagos é diretamente proporcional ao risco daquele emissor. Juros mais altos = Risco maior Então, quando um banco estiver pagando 115% do CDI em um CDB de curto prazo, saiba que muito provavelmente o balanço desse banco deve mostrar uma série de prejuízos ou necessidade de capitalização. Não se engane! O Vencimento ou Prazo do empréstimo também é uma carac- terística importante para diferenciar os papéis.
  • 30. 30 - Renda Fixa não é Fixa! Títulos públicos têm vencimentos padronizados e procuram seguir referências internacionais como 2, 5 ou 10 anos. Passado esse tempo, o Tesouro emite novos vencimentos, rolando as emissões para manter as referências. Ele para de disponibilizar o título de vencimento menor para passar a oferecer o de venci- mento maior. Apesar de o Tesouro Direto parar de oferecer alguns venci- mentos mais curtos, ele sempre recompra qualquer título que você tenha comprado dele a qualquer momento que você queira vender. Então não se preocupe se ele parou de oferecer o título que você comprou no passado. Se você quiser vender de volta, terá um preço justo para realizar essa devolução. Os juros dos títulos públicos que pagam juros semestrais são padronizados e todos os títulos pagam as mesmas taxas perió- dicas, predeterminadas na emissão. Enquanto os títulos IPCA+ pagam 6% ao ano de forma semes- tral, os Prefixados pagam 10% ao ano semestralmente. Temos títulos bancários que não pagam cupom, acumulando o pagamento para o vencimento do título ou para o momento do resgate (no caso de produtos de liquidez diária). Além disso, temos títulos bancários que pagam cupom. Títulos de empresas são completamente flexíveis, e cada título tem seu cronograma de pagamento e vencimento diferente. É preciso ler o prospecto para saber a agenda. Lastro ou garantia do empréstimo é importante, principal- mente nos dias de hoje, porque dependendo do lastro, alguns títulos são isentos de IR. O Governo Federal, visando estimular alguns setores da economia, estabeleceu que todos os empréstimos que fossem
  • 31. CAPÍTULO 2 - 31 lastreados em atividades do setor imobiliário, agropecuário ou infraestrutura seriam isentos de IR para o investidor. Assim, o banco que empresta para empresas ou pessoas adquirirem imóveis pode emitir LCIs (e financiar assim seus empréstimos). O investidor dessas LCIs não precisa pagar imposto de renda sobre os rendimentos desse investimento. O mesmo acontece para bancos que emprestam para empresas do agronegócio. Eles emitem LCAs e nós, investidores, não pagamos impostos. Empresas que querem financiar projetos de infraestrutura também podem emitir debêntures (lembre-se de que empresas emitem debêntures), e os investidores destas não pagam IR. Empresas também podem emitir CRIs e CRAs, para projetos imobiliários ou do agronegócio. TodosessesinvestimentossãoisentosdeIRparaosinvestidores. É importante ressaltar que a qualquer momento o governo pode retirar essa isenção. Nesse caso, há uma polêmica sobre o que aconteceria com o estoque de investimentos já emitidos, se eles teriam a isenção ou não. Eu entendo que teriam. Afinal, se não fosse a isenção, os investidores não fariam o investimento. Seria uma mudança de regras do jogo no meio do jogo. Alguns advogados consultados concordam com a minha posição. Mas em se tratando de justiça, nunca sabemos o que pode acontecer. É bom deixar essa ressalva. Temos também o tipo de marcação do preço ou negociação. Alguns títulos são marcados na curva, outros são marcados a mercado.
  • 32. 32 - Renda Fixa não é Fixa! A marcação na curva é quando todo dia o título rende o equiva- lente à rentabilidade contratada. Ou seja, para um CDB que rende 10% a.a., todo dia ele vai render 0,0378% [1,10ˆ(1/252)]. Não há uma situação em que ele vai render menos ou mais do que isso. Conforme vão passando os dias, a rentabilidade vai se acumulando até chegar aos 10% no ano (no final do ano). Esse tipo de título é mais conservador, no sentido que você sabe exatamente quanto vai ganhar e quando. Os únicos títulos que sofrem marcação na curva obrigatoria- mente são os títulos de bancos (CDB, LCA, LCI, Poupança etc.). A marcação a mercado já funciona bem diferente. Ela muda o preço do título todo dia, de forma a refletir exatamente a taxa atual negociada, assim como as ações. Por exemplo, suponha que eu compre um Prefixado por R$ 100, que vai me pagar 10% ao ano por 2 anos (ou seja, depois de 2 anos, eu teria R$ 121). Ao final do primeiro ano, se o título fosse marcado na curva, deveria valer R$ 110. Porém, na marcação a mercado, eu tenho que ver a que taxa eu consigo comprar o mesmo título hoje em dia. Se a taxa de mercado mudar para 7%, então o valor do meu título tem que ser tal que, daqui para frente, eu renda apenas 7%. Ou seja, em vez de valer R$ 110, ele vai passar a valer R$ 113,08. [ 121/1,07 ]. Assim, o novo investidor que comprar esse título ao final do primeiro ano por R$ 113,08 terá uma rentabilidade final de 7%, chegando a R$ 121, que é o que você imaginou que teria depois de 2 anos.
  • 33. CAPÍTULO 2 - 33 Por conta da marcação a mercado, eu posso ter variações negativas de rentabilidade por um período. Se a taxa negociada no mercado subir, o preço do meu título vai cair. No final, se você segurar o título, a rentabilidade será sempre positiva e será exatamente a acordada. Afinal, você comprou por R$ 100 um título que valerá R$ 121 no final. Mas no meio do caminho é possível ter solavancos se vender antecipadamente, a depender da taxa negociada no mercado no momento da venda. Esses tipos de títulos são considerados mais arriscados, pois você nunca sabe ao certo quanto vai ganhar em um determi- nado período. Você só sabe a rentabilidade que vai ter se levá-lo a vencimento. Isso pode ser ruim ou pode ser muito bom. Ou melhor, pode ser excepcional! Se você sabe que quando a taxa de mercado cai o título se valoriza e quando a taxa de mercado sobe o título se desvaloriza, você pode atuar no mercado de títulos, comprando e vendendo, de forma a lucrar com esses movimentos. Se você usar a marcação a mercado a seu favor, pode se bene- ficiar de rentabilidades de até 50% em um ano. Ou seja, aqui, a RENDA FIXA NÃO É FIXA! Vou explicar melhor como executar essas operações adiante. O que quero mostrar neste capítulo é que os diversos tipos de títulos funcionam diferentemente e, para se beneficiar disso, é preciso conhecer bem as 4 características de cada um.
  • 35. CAPÍTULO 3 - 35 Os títulos públicos, como eu disse no capítulo anterior, são con- siderados os títulos mais seguros para se investir. Ogovernotemumasériedeinstrumentosparaevitarumcalote, como imprimir dinheiro, aumentar impostos, pegar emprestado de entidades internacionais (como o FMI). As empresas e bancos não possuem esses recursos, portanto falências são muito mais corriqueiras para esses emissores. Não por outro motivo, as taxas de juros pagas pelo governo tendem a ser as menores entre os investimentos. Afinal, não se esqueçam: retorno = risco. Se há um risco menor, a taxa é menor também. Dessa forma, se algum dos investimentos privados da sua carteira paga uma taxa menor que a dos títulos públicos, saia desse investimento agora mesmo! Não tem nenhum motivo que justifique um título privado pagar menos que o título público da mesma natureza. Só ressaltando que para títulos isentos devemos ver o valor equivalente ao imposto economizado. Por exemplo, se o título indexado do governo (IPCA+) estiver pagando IPCA + 4,5%, não há motivo para investir em um título privado que pague IPCA + 4,2% (para títulos não isentos de IR). Como o título privado tem risco maior, ele deveria pagar um juro maior. Caso contrário, é um péssimo investimento. Há situações em que isso pode se inverter? Sim. Se o governo estiver aumentando brutalmente seus gastos, com aumento de dívida em relação ao PIB, teríamos uma situação em que poderí- amos considerar investir em empresas sólidas em vez do governo.
  • 36. 36 - Renda Fixa não é Fixa! Porém, mesmo nessa situação, é difícil escolher qual empresa ou banco seria selecionado, uma vez que o calote do governo contagiaria toda a economia. Via de regra, é melhor ficar com os títulos públicos mesmo. A acessibilidade dos títulos também é um ponto forte para essa modalidade de investimento. Antes de 2002, os títulos públicos só podiam ser adquiridos via corretoras e eram destinados principalmente a clientes ins- titucionais (como fundos e empresas) que possuíam volumes de investimento maiores. Os pequenos investidores tinham que entrar nos fundos dos bancos para ter acesso aos títulos. Eu não preciso nem dizer que os bancos cobravam taxas de administração caríssimas para esse acesso, preciso? Pensando em democratizar os investimentos em títulos públicos, o Tesouro Nacional criou o TESOURO DIRETO em 2002. Pelo Tesouro Direto, é possível o pequeno investidor comprar diretamente os títulos, sem o intermédio de um fundo e através da internet. O valor mínimo para adquirir um título gira em torno de R$ 40. Todos os títulos possuem liquidez diária, ou seja, podem ser vendidos a qualquer dia útil, e têm liquidação em D+0 se ven- didos antes das 13h, ou D+1 se vendidos após esse horário (o valor cai na conta no dia seguinte ao pedido de resgate). O custo do TD é de apenas 0,20% ao ano, cobrado pro rata (proporcional ao tempo que você ficou investido) e pago uma vez por semestre. Para investimentos de até 10 mil reais, a taxa para investimentos no Tesouro Selic é zero, independentemente de quantas corretoras você usa para chegar até esse valor.
  • 37. CAPÍTULO 3 - 37 O site do Tesouro Direto é o https://www. tesourodireto.com.br/ Nele, podemos conferir todo dia útil (das 9h às 17h) o preço e taxa que o Tesouro cobra e paga para a compra e a venda de todos os títulos disponíveis. A página específica para ver os preços e taxas é a https://www.tesourodireto.com.br/titulos/ precos-e-taxas.htm. Para ter acesso aos títulos do Tesouro Direto, basta você se cadastrar em uma corretora. As corretoras podem ser ligadas a um banco, por exemplo, o Banco Itaú tem a Itaú Corretora, ou as corretoras podem ser independentes, por exemplo, XP ou BTG Pactual. Mas a hora de escolher a melhor corretora é importante, pois ela pode querer te cobrar alguma outra taxa além dos 0,20% a.a. da custódia da B3. Tente fugir desse tipo de corretora! Há uma série de instituições que não cobram absolutamente nada a mais para investimentos no Tesouro Direto, além de não cobrar nada por abertura de conta ou transações. No site do TD, você pode encontrar uma lista das corretoras cadastradas, assim como as taxas cobradas por cada uma: https:/ /www.tesouro- direto.com.br/conheca/bancos-e-corretoras.htm A seguir, eu copiei a primeira página do dia 15/07/22. Perceba que há uma grande quantidade de corretoras que não cobram absolutamente nada.
  • 38. 38 - Renda Fixa não é Fixa! Por outro lado, corretoras como a Daycoval, por exemplo, cobram incríveis 0,10%. Na maioria dessas corretoras que não cobram nada para investir no TD, abrir uma conta é totalmente grátis e online, assim como mantê-la. Ou seja, o custo de investir no TD será somente 0,20% a.a. de taxa de custódia mesmo. O TD também tem a grande vantagem da liquidez diária, o que o coloca à frente da poupança (que tem data de aniversário). Se você quiser resgatar seus investimentos em um dia diferente da data de aniversário mensal do investimento, você perderia
  • 39. CAPÍTULO 3 - 39 toda a rentabilidade daquele mês, enquanto no TD você ganha exatamente o equivalente ao tempo que ficou. Se você investir no Tesouro no dia X e quiser resgatar no dia X+35, você receberá o retorno equivalente aos 35 dias que car- regou o título, enquanto na Poupança só receberia o retorno de 30 dias. Além disso, o resgate antecipado do investimento pode ser feito a qualquer momento, mesmo que o título que você comprou tenha vencimento mais longo, ao contrário dos CDBs e outros pós-fi- xados de bancos (LCI, LCA) com data de vencimento específica. Outro grande diferencial do TD é a regra de que ele promete recomprar seus títulos a qualquer momento que você quiser ven- dê-los e a preço justo de mercado. Isso parece óbvio, mas não é. Os títulos públicos são emi- tidos de tal forma que o Tesouro Nacional forme vencimentos de referência, como 5, 10 ou 20 anos. Então, no ano 2022, ele provavelmente emitirá títulos para 2027, 2032 e 2042. Os títulos momentaneamente emitidos no leilão são os de maior liquidez, pois serão os mais oferecidos e negociados pelo mercado. No entanto, conforme o tempo passa e o ano muda, o Tesouro passa a emitir novos títulos de vencimentos nos anos seguintes. Por exemplo, em 2023, passa a emitir títulos para 2028, 2033 e 2043. Essa mudança faz com que os títulos antigos percam liquidez e passem a ser muito pouco operados. Quem deseja comprar ou vender esses títulos terá dificuldade de achar bons preços. Quando você opera via mercado secundário, ou seja, a compra e a venda é feita de investidor com investidor por intermédio de
  • 40. 40 - Renda Fixa não é Fixa! uma corretora (e não diretamente com o Tesouro), você corre o risco de não conseguir bons preços se precisar vender o título. Já no Tesouro Direto, não há esse problema, porque mesmo para os títulos que não são mais emitidos ou disponíveis para a venda, é possível vendê-los a qualquer momento e pelo preço justo do mercado, que pode inclusive ser acompanhado diaria- mente no site. Muitas corretoras colocavam, nas suas plataformas online, uma aba de “Títulos Públicos” e os vendiam como se fossem TD. Os desavisados compravam por ali, achando que estavam negociando com o Tesouro. Mas esses títulos eram na verdade do mercado secundário, e suas taxas eram cerca de 0,50% abaixo das taxas do TD. Esse spread era exatamente a taxa obscura cobrada pela corretora (que dizia a seus clientes que não cobrava taxa nenhuma e eles não precisariam pagar os 0,20% a.a. do TD). Além disso, as corretoras não se obrigavam a recomprar os títulos sem liquidez pelo preço justo, mas sim pelo preço que elas conseguiriam no mercado. Para um pequeno investidor, os preços de mercado para lotes pequenos podem ser ruins e descontados. O regulador proibiu essa prática e obrigou as corretoras a separarem a aba do Tesouro Direto com a dos Títulos Públicos, dando maior transparência para o investidor. Outro ponto negativo de operar no mercado secundário das corretoras é que o spread das taxas é pago no primeiro dia, quando se compra o título. Ou seja, no momento da compra, você já sofre uma marcação a mercado negativa, pois comprou a uma taxa, digamos, 0,50% menor (e preço maior) para um título que valia uma taxa 0,50% maior (e um preço menor). Se dali a esses mesmos 45 dias você quiservender o papel, teria um custo enorme, enquanto no TD você só teria os 0,20% a.a. equivalentes aos 45 dias que você se manteve com o papel. Ou seja, o cálculo no TD é pro rata.
  • 41. CAPÍTULO 3 - 41 Um ponto negativo do TD é que ele desestimula as operações de curtíssimo prazo. Para você vender um título de forma antecipada, eles estabe- lecem que a taxa de venda (venda do título para você) será cerca de 0,01% abaixo da taxa de compra (recompra do título por ele), no caso do Tesouro Selic, e 0,12% no caso de Prefixados e IPCA+. (Dá para você conferir esse spread entre compra e venda na página “Preços e Taxas” mostrada acima.) Ou seja, um IPCA+ de vencimento X, que pode ser comprado a uma taxa de 4,12%, só poderá ser vendido pela taxa de 4%. Se você comprar o título pensando em 6 meses ou 1 ano, a diferença terá pouquíssimo impacto na sua rentabilidade, porém se você comprar um dia para vender 15 dias depois, o pequeno spread fará diferença na sua rentabilidade. Com isso, o TD evita que investidores usem os subsídios dados pela instituição para ganhar dinheiro no curto prazo. Vale notar também que esse spread na taxa muda com o tempo. Então é interessante conferir a magnitude dessa diferença no momento da compra, olhando para ambas as taxas, de compra e venda, e medindo a distância. Sobre o imposto de renda, os investimentos nos títulos públicos sofrem a tributação de IOF e IR regressivo. A tributação é retida na fonte e não é necessário pagar via Darf. Apenas é necessário declarar os títulos em sua posse na declaração do início do ano seguinte. A tabela do IOF é regressiva, e a partir de 30 dias vira zero. A alíquota é incidente em cima dos rendimentos, e não do valor investido.
  • 42. 42 - Renda Fixa não é Fixa! Tabela Regressiva IOF Números de dias corridos da aplicação Limite tributáveis do rendimento (%) 1 96 2 93 3 90 4 86 5 83 6 80 7 76 8 73 9 70 10 66 11 63 12 60 13 56 14 53 15 50 16 46 17 43 18 40 19 36 20 33 21 30 22 23 24 20 25 16 26 13 27 10 28 6 29 3 30 0
  • 43. CAPÍTULO 3 - 43 Muitas pessoas acreditam que, por haver IOF, o TD seria pior do que a Poupança. Esse argumento não faz sentido, uma vez que, na Poupança, antes de 30 dias (aniversário do mês do inves- timento) não rende nada, e o IOF de títulos públicos vira zero depois de 30 dias. As alternativas ao TD (como CDBs e fundos) também pagam IR e IOF no curtíssimo prazo. Não podemos esquecer que LCAs e LCIs têm um prazo mínimo de 3 meses, portanto não seriam alternativas de curtíssimo prazo. A tabela de imposto de renda é também regressiva e incidente em cima apenas no rendimento. Tabela Regressiva IR De Até (%) 1 dia 180 dias 22,5 181 dias 360 dias 20 361 dias 720 dias 17,5 721 dias - 15 Ela é cobrada em cima dos pagamentos de cupom periódicos, para os títulos que os pagam, ou na data de vencimento ou venda antecipada do título. Se você comprou o mesmo título em mais de uma data, no momento da venda, o TD sempre optará por vender o seu título mais antigo primeiro, mantendo o seu benefício do IR regressivo. Falando agora sobre os tipos de títulos disponíveis para a negociação, temos atualmente 3 tipos diferentes disponíveis para a venda.
  • 44. 44 - Renda Fixa não é Fixa! Vamos falar sobre cada um deles nos próximos 3 capítulos. Entender como cada um funciona é crucial para o investidor do TD. Cada um se comporta de uma maneira e é indicado para um certo período do ciclo econômico. A economia se dá em ciclos de crescimento e recessão. No meio desses ciclos, temos alta e queda das taxas de juros. Temos títulos que ganham com alta de juros e títulos que perdem com alta de juros. Assim como títulos que ganham com queda de juros e títulos que perdem com queda de juros. O Tesouro Selic é pós-fixado e não perde nunca. Isso significa que ele é geralmente indicado para momentos de alta de juros de mercado. Os prefixados aumentam de valor quando as taxas de juros caem e são geralmente indicados para ciclos de baixa nas taxas de juros ou períodos recessivos. O Tesouro IPCA+ é indexado à inflação e oferece proteção contra choques de preço. Se você investir no título que ganha com queda de juros em época de alta de juros, você pode amargar grandes prejuízos. Parece simples, mas não é. É possível também ganhar com prefixados em ciclo de alta da Selic, e isso ninguém te fala. Ainda, é possível ganhar com NTNB em períodos de inflação cadente. Adiante, vou explicar como.
  • 45. CAPÍTULO 3 - 45 PASSO A PASSO PARA INVESTIR NO TESOURO DIRETO Investir nos títulos do Tesouro Direto é muito fácil. Mas para quem ainda tem medo, vou dar aqui o passo a passo se você estiver perdido. Escolha uma corretora Eu prefiro as independentes. Além de não cobrarem taxas de abertura de conta, elas possuem uma maior variedade de pro- dutos. As corretoras de banco tendem a mostrar apenas produtos do banco, que nem sempre são os melhores. Escolha uma corretora que possui o selo da B3. Com ele, você não corre o risco de a corretora quebrar e você perder seu ativo. O ativo fica ligado ao seu CPF e, em caso de falência da corretora, você apenas deve transferir a custódia. Para saber quais corretoras possuem o B3, basta entrar neste site: https://www.b3.com.br/pt_br/b3/qualifica- cao-e-governanca/certificacoes/selos-pqo/ corretoras-certificadas.htm A corretora deverá, preferencialmente, ser daquelas que cobram zero para investimentos em Tesouro Direto. Olhar quais são em: https://www.tesourodireto.com.br/conheca/ bancos-e-corretoras.htm Prefira uma corretora grande e sólida. Procure um ranking com o tamanho das corretoras (prefira as 10 maiores) e os maiores lucros (prefira os 10 maiores). 3.1 1
  • 46. 46 - Renda Fixa não é Fixa! Casando todas essas características, fica fácil escolher a melhor corretora para se investir. Escolhida a corretora, entre no site dela e clique em “Abra sua conta” Todas as corretoras terão esse botão caso seja possível abrir uma conta de investimento online. Clicando no botão, você terá que preencher um formulário com seus dados e terá também que enviar documentos como RG, CPF, comprovante de residência, comprovante de salário, entre outros. Os comprovantes podem ser anexados de forma eletrônica. Depois de algumas horas ou dias, a sua conta será aprovada e você receberá o número da conta, assim como senhas e afins. Aí, basta transferir os recursos para investir via TED. É importante frisar que os recursos só poderão ser retirados da corretora e transferidos se forem depositados em uma conta de mesma titularidade (mesmo CPF). Isso aumenta a segurança dos seus investimentos. Na sua nova corretora, habilite sua conta para poder operar o Tesouro Direto Cada corretora tem um procedimento diferente para isso, mas geralmente podemos encontrar um botão que pede autorização deixando sua assinatura eletrônica. Pode ser na aba “Produtos” ou na própria aba “Tesouro Direto”. A corretora vai te cadastrar junto ao Tesouro Direto. 2 3
  • 47. CAPÍTULO 3 - 47 4 Você terá automaticamente um cadastro no site do Tesouro Direto É possível realizar as compras e vendas direto no site do Tesouro Direto por este link: https://portalinvestidor.tesourodireto.com.br/ O site terá sua posição consolidada, somando inclusive várias corretoras se você tiver títulos em mais de uma. Além disso, o site terá todos os títulos disponíveis, com taxas e preços. Na parte superior da página, teremos os seguintes comandos: No botão “Investir”, você pode realizar suas compras, enquanto no botão “acompanhar”, você pode clicar na sua posição em um determinado título e realizar a venda deste. Em “Investir”, você vai selecionar uma das corretoras em que tem cadastro e a quantidade de títulos que deseja comprar (mínimo de 30 reais):
  • 48. 48 - Renda Fixa não é Fixa! Aperte o botão “Investir” ao final da página.
  • 49. CAPÍTULO 3 - 49 Se quiser vender algum título, basta ir em “Acompanhar”, clicarnotítuloquevocêdesejavendereclicarem“Resgatar” Você escolherá novamente a instituição em que estão custo- diados os seus títulos e ele vai te mostrar quanto você tem de cada título lá. Basta escolher o valor desejado a servendido e apertar “Resgatar” no final da página. Lembrando que o Tesouro venderá sempre os títulos mais antigos primeiro, para você poder aproveitar o benefício do IR regressivo. Os recursos estarão na sua conta no dia seguinte. Na aba “acompanhar”, você poderá conferir a sua posição consolidada. Lá, estarão descritos todos os títulos que você tem. Ao clicar no título, você também pode conferir os detalhes dessa sua posição na parte inferior da página, como a rentabilidade, data da apli- cação, valor líquido e bruto de IR e outros detalhes. Lembrando que todos esses passos podem ser feitos na sua corre- tora escolhida. Você decide o que considera mais fácil e amigável. Eu gosto de fazer via Tesouro Direto porque, para algumas cor- retoras, se eu opero diretamente nele é permitido comprar e vender um título no mesmo dia. Como ambos liquidam no dia seguinte, acaba sendo possível vender um e com o valor recebido trocar pela compra de outro. Agora só resta saber quais títulos comprar, não é mesmo? Vamos então falar sobre cada um deles nas próximas seções. 5 6
  • 50. 50 - Renda Fixa não é Fixa! PREFIXADOS O que são e por que gostamos deles? Aposto que você vive ouvindo de especialistas financeiros que “prefixados são recomendados para ciclo de queda da Selic”! Você olha para eles com aquela cara de admiração, não é? Afinal, o “economês" é uma língua difícil de entender. Mas eles estão corretos nessa afirmação? 3.2 NÃO NECESSARIAMENTE! Prefixados podem “performar" bem tanto em ciclos de alta quanto em ciclos de queda da Selic, e vou explicar o porquê disso adiante. Depois de ler esta seção, você saberá melhor do que os ana- listas a respeito do momento exato de investir em prefixados! Não se impressione com o paletó e a gravata que o mercado usa. Você pode saber muito mais do que eles, sim! Você tomou a decisão correta quando decidiu aprender por conta própria como funciona esse tal de “mercado". Mas o que são Prefixados, afinal?
  • 51. CAPÍTULO 3 - 51 A característica principal desse instrumento é que, no momento da emissão, será estabelecido exatamente quanto o título valerá no vencimento. Como assim? Vamos a um exemplo: Eu, governo, decidi emitir um título de dois anos prefixado. Então, hoje, eu estabeleço que esse título valerá exatamente 1.000 reais daqui a dois anos. Quando eu estabeleço esse valor, ele não muda nunca mais! Não importa o que aconteça com a taxa de juros Selic, ele sempre valerá 1.000,00 reais no vencimento. Se eu sei que ele vale 1.000 reais no vencimento, restam duas coisas a saber: (1) o juro que ele paga e (2) o valor dele hoje (quanto eu tenho de pagar para comprá-lo). R$ 1.000,00 1 ano Juros? x% a.a 2 anos Preço hoje?
  • 52. 52 - Renda Fixa não é Fixa! O juro que o meu título vai pagar é uma informação exógena, ou seja, não sou eu (emissor) quem decido. É o mercado que me diz quanto ele vai cobrar para me emprestar dinheiro. Ao contrário do que normalmente se pensa, o Banco Central só decide os juros de curto prazo (Taxa Selic). Os juros para um vencimento no futuro são decididos pelo “mercado”, baseado na expectativa dos agentes sobre a trajetória da Selic e mais um prêmio de risco. Não se engane, o “mercado” não é uma pessoa, ou um cartel de pessoas que decide de acordo com o próprio interesse… Não! O “mercado” é a soma de todas as negociações do dia, de milhares e milhares de investidores, grandes e pequenos, de todos os tipos, nacionalidades e interesses. “O mercado” somos todos nós. Exemplo: imagine que a taxa de juros de dois anos negociada hoje no mercado futuro está em 12,31%. O investidor que achar que esse nível de 12,31% é baixo em relação à sua expectativa de trajetória da Selic, vai achar que observou uma oportunidade de ganho financeiro e vai entrar comprando taxa, até que ela suba e fique em um nível conside- rado adequado por ele. Por outro lado, o investidor que achar que esse juro é alto em relação à sua expectativa de trajetória da Selic vai entrar vendendo taxa e continuará vendendo até que ela caia a índices adequados. Ou seja, a taxa atual negociada é o equilíbrio de mercado entre compradores e vendedores. De modo que, a esse preço, as forças compradoras e vendedoras se anulam e o preço estabiliza. O Banco Central influencia os juros, pois estabelece qual será a taxa Selic de hoje, que vai remunerar os depósitos à vista. No entanto, para o futuro, há uma incerteza em relação à trajetória da Selic e, pela incerteza, o mercado “cobra” um prêmio de risco.
  • 53. CAPÍTULO 3 - 53 Quanto mais longo for o empréstimo que eu fizer a alguém, maior será minha incerteza (pelo risco de crédito e pelo risco de variação na taxa de juros) e, por isso, maior será o prêmio cobrado por fazer esse empréstimo. Voltando ao ponto inicial, a taxa de juros futura é exógena e decidida pelo mercado. Assim, quando o governo quiser emitir, ele utilizará a taxa de mercado negociada para o vencimento do título. Ok! Entendido! 1) Eu sei que o título vale 1.000 reais no futuro. 2) Eu olho para a taxa de mercado para dois anos negociada no dia da emissão. Digamos que seja 12,31%. Opa! Mas então eu já sei calcular quanto o título tem de valer hoje, correto? Exatamente, meu caro leitor! Se eu sei que ele vale 1.000 reais no futuro e os juros de mer- cado são 12,31%, é só eu trazer esses 1.000 reais a valor presente por esse juro e eu tenho quanto o título deveria valer hoje: Preço de hoje = 1.000,00 (1+0,1231)2 O resultado dessa conta é um PU atual de R$ 792,79. Ou seja, para eu comprar um título que vai valer 1.000 reais daqui a dois anos, em um ambiente de taxa de juros de 12,31%, eu preciso investir 792,79 reais hoje.
  • 54. 54 - Renda Fixa não é Fixa! Falando de outra forma, se eu investir 792,79 reais hoje, com um juro de 12,31%, eu terei 1.000 reais daqui a dois anos. Entendida essa parte, vamos passar ao: PULO DO GATO! Preste muita atenção agora… Eu sei que o título vale 1.000 reais no futuro e isso não vai mudar nunca! No entanto, eu sei também que a taxa de mercado varia todo dia, a cada notícia nova. Os agentes de mercado vão mudando suas expectativas em relação à trajetória da Selic, conforme notícias sobre inflação, atividade e setor externo vão sendo publicadas. Então os juros até o vencimento do meu título podem variar também, não podem? SIM! Se eu mudo a taxa de juros de mercado, o que muda nele, uma vez que não será o valor futuro? O que muda é o valor atual! Ou o chamado Valor Presente.
  • 55. CAPÍTULO 3 - 55 Afinal, quem comprar o mesmo título agora terá que pagar um valor que, investindo à nova taxa de mercado, dará os mesmos 1.000 reais no futuro. Vamos fixar com um exemplo: O mercado negociava juros para dois anos a 12,31% na data T. Então eu comprei um Prefixado a 792,79 reais. No dia seguinte (T+1), os juros caem para 12% no mercado, por conta de um dado de inflação mais baixa que o esperado. O novo investidor que decidir comprar esse título agora terá que pagar um valor X, para que de X até 1.000 reais, ele tenha essa nova rentabilidade de 12%. Fazendo a conta do valor presente: 1.000/(1+0,12)^(2*) = 797,19 *Aqui eu coloquei os dois anos, mas se você quiser simular que a taxa de juros caiu para 12% depois de 6 meses da compra, basta você elevar pelo período que ainda falta para o vencimento, nesse caso, 1,5 (em vez de 2). Ou seja, com a queda da taxa de juros de mercado, o meu título, que valia 792,79 reais, passou a valer 797,19 reais de um dia para o outro. Como você já tinha esse papel, acabou tendo um ganho ime- diato de 4,39 reais (797,19 – 792,79). Quanto significa isso em termos de rentabilidade? [797,19/792,79 -1] = 0,00555 ou 0,55%. Quanto seria sua rentabilidade se a taxa de juros tivesse se mantido constante?
  • 56. 56 - Renda Fixa não é Fixa! Resposta: 0,36 real (792,79*[(1+0,1231)^(1/252)]) Se a taxa não tivesse variado, você ganharia o retorno dos 12,31% equivalentes a 1 dia. Como a taxa caiu, o PU foi repre- cificado, e agora você passará a render daqui para frente uma taxa de juros menor (de apenas 12%), porém sobre um volume de investimento muito maior (4,03 reais maior do que o que você teria). Da mesma forma, se a taxa de juros do mercado subisse, você poderia perder os 0,55%. Lembrando que, nos dois casos, eu só concretizo a perda ou o ganho se euvender o título antecipadamente. Caso carregue o título até o final, terei exatamente os 1.000 reais prometidos, pois isso não muda nunca, não é mesmo? E acabarei tendo a rentabilidade inicialmente contratada (pois terei comprado a 792,79 e vencerá nos 1000 reais). Como o título é marcado a mercado, eu só conseguirei ven- dê-lo na taxa de mercado. Não tem como vender um título na mesma taxa que eu comprei, dado que o mercado mudou. Entendida essa parte, temos agora um pulo do gato ainda maior! PULO DO GATO! Venha comigo:
  • 57. CAPÍTULO 3 - 57 Eu sei que o meu título varia de preço conforme a variação da taxa de mercado. Eu sei que, se a taxa cair, meu PU sobe, e eu ganho se já tiver o título. E se a taxa subir eu perco, pois meu PU cai. Sabendo isso, eu vou ganhar dinheiro se a taxa DE MERCADO cair! E não a Selic! Mas pode acontecer de a Selic subir e a taxa de mercado cair? É claro! Temos inúmeros exemplos na história de que isso já aconteceu e acontecerá de novo! Se o mercado precificar que o Banco Central vai subir a taxa de juros em 500 bps (5%), e o Banco Central sobe apenas 200 bps, o que acontece com a taxa de mercado? Ela cai! E o que acontece com o preço dos prefixados? Sobe! Ou seja, eu ganhei dinheiro com prefixados mesmo em um ciclo de alta da Selic! Você, que nos acompanhou até aqui, já deve ter percebido que a variável-chave para entender se os prefixados são bons ou não é quanto o mercado precifica de queda ou de alta da taxa Selic (em relação a quanto eu acredito que de fato será). Se eu acredito que o Banco Central fará um ciclo de queda da Selic de 250 bps, mas o mercado já está precificando esses 250 bps, 1 2
  • 58. 58 - Renda Fixa não é Fixa! No ciclo de alta da Selic: o BC acaba subindo menos a Selic do que o mercado precifica que ele vai subir; o BC acaba não subindo nada, e o mercado precifica que ele vai subir. No ciclo de queda da Selic: o BC acaba cortando mais a Selic do que o mercado precifica que ele vai cortar; o BC acaba cortando a Selic quando o mercado não precifica que ele vai cortar. então não tem como eu ter ganhos maiores do que a LFT estando aplicado em prefixados. (Obs.: 1 bps = 0,01%. 100 bps = 1%) Então, da próxima vez que o seu analista financeiro te indicar pre- fixados, agora que você é um investidor consciente, pergunte a ele: “Mas quanto o mercado precifica de queda/alta de juros?” Tenho certeza de que 99% deles não vão saber responder a essa pergunta. Se o seu estiver entre o 1% restante e responder algum número, continue perguntando: “E quanto você acha que de fato será a queda/alta? Por quê?” Lembre-se: no prefixado, eu ganho dinheiro quando:
  • 59. CAPÍTULO 3 - 59 Os títulos prefixados oferecidos pelo TD são:  Tesouro Prefixado (ou LTNs);  Tesouro Prefixado com juros semestrais (ou NTN-Fs). Os Prefixados não pagam cupom, e todo o juro é acumulado e pago no vencimento (ou os juros equivalentes são pagos na venda antecipada). Os Prefixados com juros semestrais pagam cupom de 10% a.a. semestralmente (aproximadamente 4,88%). O fato de o título pagar cupom o altera de duas formas: Você terá que pagar imposto de renda em cima de cada cupom pago, enquanto na LTN o imposto que você pagaria estará rendendo juros sobre juros para você. O resultado disso, no final de alguns anos, é que a rentabilidade total da LTN de mesma duration é maior que a da NTN-F. O cupom reduz a duration. Agora, você deve estar se perguntando: mas o que é duration? Duration é o prazo médio de recebimento dos fluxos. Se você tem um título que vale 100 reais no final de 3 anos, mas que cada ano paga 10 reais de cupom, a duration dele não será 3, mas sim 2,76: 1 2 10 1 2 3 anos 10 110 10*1 + 10*2 + 110*3 = 2,7692 (10 + 10 + 110)
  • 60. 60 - Renda Fixa não é Fixa! Quanto maior a duration do seu papel, maior é a variação do seu preço em relação à variação na taxa de juros. Uma queda de 0,50% em um papel de 1 ano vai gerar uma valorização pequena do título, de aproximadamente 0,50%, enquanto uma variação de 0,50% em um título de 45 anos cau- sará uma variação brutal no preço do título, aproximadamente 45*0,50% = 22,5%. Retomando a NTN-F, o fato de ela pagar cupom reduz sua duration e sua rentabilidade quando comparada com uma LTN de mesmo vencimento. Também é importante mencionar que quando você for esco- lher seu título prefixado, além de decidir se quer ou não cupons, terá que decidir o vencimento do título. Taxas de juros de curto prazo se comportam de modo dife- rente de taxas de juros de longo prazo. Saber que a Selic Meta vai cair não é toda a informação que você precisa saber para ganhar com prefixados. É preciso entender como o mercado vai interpretar a queda da Selic. Se ficar entendido que a queda é propícia e sustentável, a curva inteira de mercado deverá se deslocar para baixo. Quando eu digo “curva inteira”, quero dizer “os juros para todos os ven- cimentos disponíveis” (desde os mais curtos, 1 ou 2 anos, até os mais longos, 10 ou 30 anos). Agora, se o mercado acreditar que é uma “forçada de barra”, vai reduzir os juros de curto prazo, porém vai aumentar os juros de longo prazo já imaginando que a política tem risco de gerar alta da inflação futura, fazendo-se necessário alta da Selic novamente.
  • 61. CAPÍTULO 3 - 61 Ou seja, a escolha do vencimento não é trivial e demanda uma boa leitura de interpretação da política e do mercado. Caso este capítulo tenha ficado um pouco confuso para você, não deixe de assistir ao meu vídeo explicativo sobre os prefi- xados, no qual eu desenho na lousa essas contas. Certamente será bem mais fácil de ser compreendido. Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=BUnpkmVIwgo
  • 62. 62 - Renda Fixa não é Fixa! PÓS-FIXADOS O que são e por que gostamos deles? O que precisamos sabersobre oTesouro Selic e ninguém te conta: 3.3 Não tem como perder dinheiro! Sim, é aquele título que, independentemente da variação da taxa Selic ou da variação da taxa de mercado, simplesmente não tem como perder dinheiro! (Vou ser mais honesta intelectualmente mais à frente e te explicar as situações que você pode de fato perder alguma merreca de dinheiro, mas acredite em mim por enquanto). Como assim? Não vou perder dinheiro nunca? NÃO! Te explico por quê. Lembra que o único fato consumado nos prefixados é que sabemos exatamente quanto aquele título vai valer no futuro? Pois bem, o pós-fixado é exatamente o inverso. Ou seja, não temos ideia do quanto ele vai valer no futuro. Por outro lado, sabemos exatamente quanto ele vale hoje! E isso não muda nunca! Em outras palavras: nos prefixados, travamos o valor futuro e o valor de hoje oscila. Nos pós-fixados, travamos o valor de hoje e o valor futuro oscila.
  • 63. CAPÍTULO 3 - 63 É hora do exemplo para fixar… Sou o governo e quero emitir um título pós-fixado, então decido quanto ele vale hoje (supondo que hoje é o 1º dia do mês): 1.000 reais. Pronto. Está decidido e isso não vai mudar. Se eu quiser investir nele hoje (dia 1º), vou pagar 1.000 reais. Posto isso, quanto ele vai valer amanhã (dia 2)? Preciso saber a taxa pela qual ele é remunerado, correto? A taxa é a Selic efetiva, que é mais ou menos 0,10% menor que a Selic Meta (depois falaremos mais sobre ela). Se a Selic meta for 14,25%, a efetiva será aproximadamente 14,15%. Assim, de hoje (dia 1º) para amanhã (dia 2), meu título vai valer: 1.000 * (1 + 0,1415) = 1.000,52 (1/252) < Ou seja, é 1000 atualizado pela taxa diária equivalente de 14,15% ao ano. Perceba que, no dia 2, meu título vai valer necessariamente 1.000,52 reais, independentemente do que ocorrer no mercado futuro aquele dia, pois meu preço só varia com a Selic efetiva. Se no dia 2 tiver uma reunião do Copom e o BC optar por reduzir a taxa Selic meta para 14%, o que acontece? Hoje não acontece absolutamente nada. A Selic meta come- çará a valer a partir do dia seguinte. Dessa forma, no dia 3, o meu título vai valer:
  • 64. 64 - Renda Fixa não é Fixa! Oras, mas a Selic caiu e ele continuou valendo mais no dia 3 do que no dia 2? Sim! E se a Selic meta subisse para 15%? Vamos testar. 1.000,52 * (1 + 0,1390) =1.001,03 (1/252) < 1.000,52 * (1 + 0,1490) = 1.001,07 (1/252) < Olha só, o dia 3 está maior do que o dia 2 também. Note que, quando a Selic Meta sobe, você rentabiliza mais, e quando ela cai, você rentabiliza menos, MAS AINDA TEM RENTABILIDADE POSITIVA! Aí vem o seu analista financeiro dizer que pós-fixados são ruins para momentos de queda na Selic! Ele está correto? Não! O pós-fixado ganha sempre! Caem os juros, sobem os juros, ele ganha. É sempre positivo, pois não tem como você render um investimento por uma taxa de juros positiva e ele dar um valor menor que o inicial, correto? Quando daria uma rentabilidade negativa? Se a taxa de juros (Selic Meta) fosse negativa – como alguns países fizeram ao redor do mundo –, mas definitivamente não é o nosso caso! No pós-fixado, nós travamos o valor de hoje e o ganho que eu tive de um dia para o outro nunca é perdido ou “volta” com
  • 65. CAPÍTULO 3 - 65 O Tesouro Selic é a poupança emitida pelo governo. O Tesouro Selic é o CDB emitido pelo governo. Além disso, ele tem uma série de benefícios em relação à pou- pança e ao CDB. Em relação à poupança: Você corre o risco do governo, e não do banco (sim, a pou- pança tem o risco do banco e por isso que quem garante ela é o FGC – se ele tiver dinheiro, senão você perde tudo). Ela rende quase o dobro, a depender da taxa Selic, mas paga IR por outro lado. No conjunto, o Tesouro Selic ganhará da poupança sempre. alteração na Selic ou na taxa de mercado. Ele sempre aumenta. Pode aumentar mais rápido se a Selic for maior e mais devagar se ela for menor. Pergunta: O que diferencia a rentabilidade do Tesouro Selic em relação à da poupança e à do CDB em % do CDI? Resposta: absolutamente nada! Repetindo: 1 2 Absolutamente NADA!
  • 66. 66 - Renda Fixa não é Fixa! Para fazer a prova da superioridade do Tesouro Selic em relação à poupança, faça o seguinte procedimento: Vá ao site do Banco Central na “Calculadora do Cidadão”. Digite "Calculadora do Cidadão Banco Central" no site de busca e abra o primeiro link. Clique em “Poupança" e digite a data inicial sendo 06/09/2015 e a data final sendo 06/09/2016 e, no valor a ser corrigido, digite os nossos 1.000 reais (clique em regra de correção “Nova”). Resultado: 1.083,52 Ou seja, um rendimento de 8,35%. Agora, vamos à Selic: clique em “Selic” e refaça a pesquisa com as mesmas datas. Resultado: 1.140,90 Ou seja, um rendimento de 14,09%. Tirando o IR de 1 ano (17,50%), ficamos com 11,62%. Tirando a taxa de 0,20% do Tesouro Direto, fica 11,42%. Fazendo 11,42/8,35 = 1,3676 Ou seja, é como se o Tesouro Selic rendesse 136% da pou- pança, mesmo depois do IR e da taxa de custódia. Ou seja, investindo 1.000 reais na poupança, você deixaria de ganhar 30 reais por ano! Por que existe Poupança então? Por que alguém ainda investe nela? Eu não sei! Mas ninguém deveria fazer isso!
  • 67. CAPÍTULO 3 - 67 Tá bom, chega de drama. Vamos aos fatos…  Liquidez GOOD: na poupança, basta você falar para o gerente ou para o aplicativo que quer investir e tudo acontece automatica- mente. No momento do resgate, basta você retirar e cai no mesmo dia. No Tesouro Selic, você tem que abrir conta em corretora (de preferência uma que cobre 0 taxas no Tesouro Direto) e tem que pedir o resgate no site – o que, honesta- mente, é muito fácil. BAD: você tem que esperar a poupança “fazer aniversário mensal” para ter o rendimento, senão perde ele todo. No Tesouro Selic, você ganha pro rata, proporcional a quanto ficou(lembrandoquenosprimeiros30diastemIOFregressivo). Ou seja, entre o Tesouro Selic e a Poupança, prefira mil vezes o Tesouro Selic! É garantido!  Em relação ao CDB: O CDB é emitido por um Banco, e você corre o risco dele. Ou seja, tem mais risco do que o governo. Você: Ah, mas tem o FGC, que me garante até 250 mil. Tenho até palpitação quando alguém me fala isso… Adivinha quem adora falar isso?
  • 68. 68 - Renda Fixa não é Fixa! O FGC te garante até 250 mil SE E SOMENTE SE ele tiver dinheiro. Ele não é um seguro que, no caso de sinistro, é obrigado a te pagar. Não! Ele te paga SE ele tiver dinheiro. Quanto ele tem de dinheiro? Até o final de 2021, ele tinha 2,11% do total do sistema em disponibilidade. Ou seja, se mais de 2,11% do sistema bancário falir, ele não teria dinheiro para garantir os empréstimos. Fonte: Demonstrações Financeiras 2021 – Site do FGC Mas 2% é muito ou é pouco? Depende também! Se estivermos em um cenário tranquilo, esse valor seria mais que suficiente. Mas se entrarmos em uma crise financeira, certamente terí- amos problemas. Vamos lembrar que os EUA tiveram uma crise financeira em 2008 em que mais de 6% do sistema quebrou, e o FIDC (FGC Americano) quebrou! Para a sorte deles, o FDIC é uma instituição do governo e foi resgatado pelo Tesouro. No entanto, no Brasil, o FGC é privado. Patrimônio e disponibilidades R$ 93,3 bilhões em dezembro de 2021, dos quais R$71,5 bilhões correspondem a caixa ou ativos que podem ser convertidos em caixa.
  • 69. CAPÍTULO 3 - 69 Vou deixar você à vontade para decidir o quanto isso é seguro e o quanto você quer depender de uma ausência de crise para investir bem o seu dinheiro. Ou seja, o Tesouro Selic é mais seguro e te paga 100% da Selic efetiva. Posto isso, por que investir em um CDB que te paga menos do que 100% do CDI? (Obs.: o CDI é praticamente igual à Selic efetiva, coisa de 1 ou 2 pontos base de diferença). Não tem motivo! Não faça isso nunca! Se seu banco quer te pagar menos do que 100% do CDI, invista em Tesouro Selic! Para ser mais precisa, como o Tesouro Selic tem os 0,20% de taxa da B3 e o CDB às vezes não tem, a conta exata seria 98%. Ou seja, se seu banco quer te pagar menos de 98% do CDI, invista em Tesouro Selic! “E no caso de LCI e LCA (que não pagam IR)?” Ótima pergunta! Nesse caso, a LCI/LCA deveria te pagar no mínimo: Vencimento (%) em menos de 6 meses 77% de 6 meses até menos de 1 ano 79,5% de 1 ano até menos de 2 anos 82,5% acima de 2 anos 85,8%
  • 70. 70 - Renda Fixa não é Fixa! Ou seja, podemos ver que esses títulos já são um bom negócio, não é mesmo? Cuidado apenas com o risco de crédito do banco e com a extrema confiança no FGC. Agora, vamos para outra dúvida que deve estar rondando a sua mente: “Então por que eu não coloco tudo em Tesouro Selic sempre? Já que nunca perco.” Agora vem o: PULO DO GATO! Vem comigo: Eu sei que o pós-fixado tem um preço hoje que não varia e vem rendendo de acordo com a taxa de juros do dia. Eu sei que a taxa de juros que ele rende é a Selic efetiva, que é controlada pelo Banco Central. Eu sei que a taxa do mercado futuro é a expectativa que o mercado tem a respeito da trajetória toda da Selic Meta, de hoje até aquela data futura (caso tenha esquecido esse conceito, revise o capítulo passado). Por último, eu já sei que os títulos prefixados são precifi- cados de acordo com essa taxa de mercado. 1 2 3 4
  • 71. CAPÍTULO 3 - 71 Ou seja, você concorda que se o mercado estiver correto e a trajetória da Selic que ele espera for de fato igual à trajetória que de fato ocorrer, os títulos prefixados e os pós-fixados vão ter a mesma rentabilidade? Opa, isso é importante! Isso quer dizer que se o mercado errar e a trajetória da Selic for mais alta, o pós-fixado terá rendido melhor do que o prefixado. Afinal, ele se aproveitou dessa média mais alta que aconteceu dia após dia, enquanto o prefixado já tinha se travado. Por outro lado, se o mercado errar e a Selic média acabar sendo menor do que o mercado esperava, o pós-fixado terá tido uma rentabilidade positiva, porém menor do que o prefixado. É por isso que não colocamos apenas Tesouro Selic na carteira, pois o prefixado pode acabar rendendo mais em épocas de queda nas taxas. Mas o Tesouro Selic, como sempre, ganha, e serve como um porto seguro para os momentos de aversão ao risco. Por fim, só quero fazer uma consideração, muito mais por força da meticulosidade do que por ser importante. O Tesouro Selic pode ter variação negativa de preço, sim! Se você já entrou no Tesouro, deve ter percebido que o Tesouro Selic tem uma taxa atrelada a ele.
  • 72. 72 - Renda Fixa não é Fixa! Essa taxa de 0,09% ou 0,16% é chamada de ágio ou deságio do título. Ela adiciona rentabilidade ao título quando é positiva e retira rentabilidade do título quando é negativa. Por exemplo, o Tesouro Selic 2025 está com uma taxa de 0,09% + Selic, portanto, se a Selic for 10%, o investidor renderá 10,09% no total. Acontece que essa taxa pode mudar ao longo do tempo. Não por alterações na taxa Selic ou nas taxas de mercado, mas por alterações na oferta ou na demanda do título. Se muitos investidores demandam o Tesouro Selic, essa taxa vai cair, podendo inclusive ser levemente negativa. Se a oferta do título passa a ser muito grande, essa taxa pode subir. As mudanças geralmente são pequenas, quase marginais. Mas é possível, sim, em algum evento de crise, que haja uma mudança um pouco maior, que provoque uma alteração mais significativa no preço do título, mesmo que de forma temporária. Fonte: Tesouro Direto 15/07/2022
  • 73. CAPÍTULO 3 - 73 Podemos ver que, de 2006 a 2020, tivemos praticamente 14 anos de prêmio estável, com oscilações marginais. Mas em 2020, a taxa subiu de 0,02% para 0,40% em poucos meses. O resultado disso foi uma queda nos preços dos títulos Tesouro Selic. Fonte: Corretora Renascença
  • 74. 74 - Renda Fixa não é Fixa! Sobre o vencimento do título, diferentemente dos prefixados e indexados, não fará diferença você comprar um título de 2 ou 5 anos. Como todos rendem a Selic Efetiva, independentemente do vencimento, todos terão a mesma rentabilidade. Mas as alterações nessas taxas terão um impacto maior quanto maior for o vencimento do título, como podemos ver no gráfico. Por exemplo, em 2020, devido à alta da taxa do Tesouro Selic de 0,02% para 0,40%, os títulos de curto prazo perderam 0,007%, enquanto os títulos de longo prazo chegaram a perder 1,32%. Ou seja, quanto mais longo o título, maior o efeito de mar- cação a mercado e maior o risco. Por outro lado, quanto mais longo, maior benefício possível com o IR regressivo. Ou seja, se você está investindo em Tesouro Selic para reserva de emergência, pode usar o vencimento mais curto. Mas se você não tem pressa ou não precisará dos recursos, pode usar o ven- cimento mais longo.
  • 75. CAPÍTULO 3 - 75 3.4 INDEXADOS À INFLAÇÃO Já falamos nas últimas seções sobre os prefixados e pós-fixados. Você já entendeu a fundo como eles funcionam, no que se atentar e como agir para não ser enganado. Agora vamos falar sobre o título mais complicado de se entender, que mistura características dos dois títulos anteriores, mas que é um dos mais interessantes para se investir. Vamos falar, então, do famoso Tesouro IPCA+! O IPCA+ é um título que simula um “juro real”. Você já ouviu falar disso, correto? E tem uma certa noção do que é juro real. Mas, para fixar, vamos a um exemplo:  Digamos que investi 1.000 reais em um prefixado de um ano e a taxa da compra foi de 12%.  Ao final de um ano, recebi 1.120,00 reais.  Digamos que a inflação do período tenha sido 6%. Quanto eu recebi líquido de inflação? Ou seja, quanto eu recebi de juros reais? Conta rápida: (1 + 0,12)/(1 + 0,06) -1 = 0,0566 ou 5,66%. Conta passo a passo:  Os meus 1.000 reais viraram equivalentes a 1.060 reais depois de um ano por causa do efeito da inflação.  Recebi 1.120 reais com meu investimento.  1.120,00/1.060,00 -1 = 0,0566 ou 5,66%.
  • 76. 76 - Renda Fixa não é Fixa! Mas temos um sério problema aí… Não sabemos, hoje, quanto será a inflação de um ano. Conseguimos estimar, mas não sabemos ao certo. No meu exemplo, se a inflação do ano subir para 10%, meu juro real no final será de apenas 1,81%. Se a inflação do período cair para 4,5%, terei um juro real de 7,17%. Ou seja, investindo em um prefixado, eu consigo travar minha rentabilidade nominal, mas não tenho ideia de quanto será a minha rentabilidade real. E se eu disser que, não importa qual seja a inflação, há um título que garante a você receber 5,66% de juros reais? Essa é a principal característica do IPCA+. Ele “trava" os juros reais e vai repondo a inflação, conforme ela se apresentar. Você reparou que eu disse que ela pagará a inflação con- forme ela se apresentar? Ou seja, na parte indexada ao IPCA, se a inflação for menor, você atualizará o valor dos seus inves- timentos por uma rentabilidade positiva, mas menor. Se a inflação for maior, você receberá uma rentabilidade positiva, e maior ainda. Isso te faz lembrar algum título que eu já expliquei? Os pós-fixados! Lembra que eles rendiam a Selic de um dia, nunca perdendo, sempre aumentando de valor mais ou menos de acordo com a Selic? A parte da inflação do IPCA+ é a mesma coisa. Ela atualizará os seus investimentos sempre por um valor positivo, aumentando mais ou menos, conforme a inflação.
  • 77. CAPÍTULO 3 - 77 Parte técnica: para corrigir o valor de seus investimentos, eles inventaram um índice que se chama VNA, que começou em 1.000, em 15/07/2000, e em 2022 já está perto de 4.000. Esse valor pode ser conferido diariamente no site da Anbima: https://www.anbima.com.br/ pt_br/informar/valor-nominal-atualizado.htm Todos os dias, esse índice é corrigido pela inflação do dia. Quando o IPCA do mês ainda não foi divulgado, a Anbima estima um valor e, depois da divulgação, corrige o histórico do mês. Digamos que você investiu um valor equivalente a 60% do VNA de hoje – 1.760,71 reais. Daqui a um mês, é só você pegar os mesmos 60% do VNA do dia. Você terá seus 1.760,71 reais atualizados pela inflação. Agora, vamos para outro componente do IPCA+: a taxa real. Acima, eu afirmei que a principal característica do IPCA+ é que ele “trava" uma rentabilidade real. Se eu “travo" a rentabilidade real, é como se eu estivesse tra- vando um valor mínimo no futuro que não irá mexer, não importa o que aconteça. No caso do exemplo acima, é como se eu estivesse travando um PU mínimo de 1.056,60 reais depois de um ano. Você deve lembrar que já vimos essa característica antes nos prefixados. Essa rentabilidade real se baseia na expectativa de mercado dos juros reais da economia. Como é uma inferência a respeito do futuro, há uma incerteza em relação ao resultado final dessa trajetória.
  • 78. 78 - Renda Fixa não é Fixa! Assim, essa expectativa muda todo dia com novas informações a respeito da economia. Todo dia, o mercado negocia também essa taxa de juro real e vai mudando para melhor refletir sua expectativa acerca do futuro. O investidor, porém, já travou no momento da compra um valor futuro. A mudança dessa taxa, portanto, muda todo o fluxo futuro real trazido a valor presente. Isso, por sua vez, muda o preço de hoje do papel. Exatamente igual ao prefixado. Parece complicado, mas vamos explorar mais esses detalhes. Apergunta que fica é: então, como eu junto minha rentabilidade real, que altera o preço do papel hoje, com minha rentabilidade da inflação, que nunca perde? A metodologia que inventaram é tratar o valor presente dos fluxos futuros (ou seja, a parte prefixada) como percentual do PU. Vamos ao exemplo: Vamos pegar o mesmo título prefixado do exemplo acima: Prefixado de um ano com taxa de 12%. Lembra que o valor futuro dele é sempre 1.000 reais? Como eu calculo o valor presente? 1.000/[(1 + 0,12)^1] = 892,85 reais
  • 79. CAPÍTULO 3 - 79 Agora, vamos fazer a mesma coisa, mas fazendo o valor pre- sente em % do PU. Nesse caso, os 1.000 reais viram 100% (porque receberei 100% do meu fluxo no futuro): 100%/[(1 + 0,12)^1] = 89,28% Perceba que é a mesma coisa, mas em percentual. Ou seja, se eu multiplicar esse % pelos 1.000 reais futuros, terei meu PU. Agora, vamos ao caso do IPCA+: Vejo qual é a minha taxa real e trago os 100% a valor pre- sente por ela. Digamos que ela é 5,66%: 100%/[(1 + 0,0566)^1] = 94,64% Agora, eu junto esse percentual com o VNA, que todo dia vai me dar a inflação atualizada: VNA = 2.934,52 % do PU * VNA = PU do IPCA+ ou seja: 94,64% x 2.934,52 = 2.777,22 Voilà! E o que acontece se minha taxa de juros reais cair para 3%? Resposta = 100%/[(1 + 0,03)^1] = 97,08% 97,08% x 2.934,52 = 2.849,04 1 2
  • 80. 80 - Renda Fixa não é Fixa! Ou seja, eu ganhei 71,82 reais. E o que acontece se minha taxa de juros reais subir para 8%? Resposta = 100%/[(1 + 0,08)^1] = 92,59% 92,59% x 2.934,52 = 2.717,14 Ou seja, eu perdi 60 reais. Reparou que o impacto de uma alta ou queda na taxa é igual ao do prefixado? Resumindo:  No IPCA+, eu travo meu juro real e vou sendo atualizado pela inflação, independentemente de qual seja.  No componente de inflação, eu não tenho nunca como perder, tendo sempre uma correção positiva (a não ser que a inflação seja negativa).  No componente juros reais, eu posso ter ganho ou perda na marcação a mercado (e vencimento antecipado) de acordo com os movimentos de juros reais do mercado. Da mesma forma que os prefixados. Entendida essa parte, vamos ao: PULO DO GATO!
  • 81. CAPÍTULO 3 - 81 Vai você, um belo dia, chegar no seu analista de investimentos para pedir “conselhos”… …ele percebe genialmente que a inflação está subindo e diz a você: “O senhor deveria investir em títulos indexados à inflação, pois está em todos os jornais que ela irá subir! Veja aqui o Valor, a Folha e o Estadão!” – diz ele com cara de propriedade. Essa dica foi valiosa? Não! Perceba que, assim como os prefixados, os indexados têm um componente de exposição aos juros. A diferença é que nos inde- xados temos uma previsão de juros REAIS! Para prevermos os juros REAIS, pegamos nossa expectativa de juros NOMINAIS e tiramos a nossa expectativa de inflação. Exemplo:  Expectativa de juros NOMINAIS para um ano: 12%.  Expectativa de inflação para um ano: 5%.  Expectativa de juros reais para um ano: (1 + 0,12)/(1 + 0,05) -1 = 0,0666 ou 6,66%. Aí, vamos ao mercado futuro e negociamos essa taxa todo dia, comprando ou vendendo. Os juros NOMINAIS, pegamos dos títulos Prefixados. Os juros REAIS, pegamos dos indexados (IPCA+).
  • 82. 82 - Renda Fixa não é Fixa! Mas se eu tenho os juros reais e os juros nominais, então eu posso calcular a inflação esperada pelo mercado. Sabe como chamamos essa inflação que calculamos a partir desses dois títulos? INFLAÇÃO IMPLÍCITA Sim! Ela é a famosa "inflação implícita”, que você sempre ouviu falar, mas nunca soube o que é. Ela é crucial para a nossa decisão de investimento. Venha comigo, falta pouco! Digamos que, depois que seu analista genial falou aquilo, você ficou intrigado e decidiu pesquisar… … ele falou que, segundo os economistas do banco, a inflação para daqui a dois anos iria subir de 5% para 6%, por isso você deveria comprar IPCA+. Como você leu este livro e sabe o modo de confirmar se as informações que recebe estão corretas, você abriu o site da Anbima e viu as seguintes taxas:  Prefixado para dois anos: 12%.  IPCA+ para dois anos: 4,5%. Então você fez a conta: (1 + 0,12)/(1 + 0,045) -1 = 0,0717 ou 7,17%. Uau! Nessa, você percebeu que o mercado já está com expec- tativa de inflação de 7,17%.
  • 83. CAPÍTULO 3 - 83 Então será que o IPCA+ ainda vale a pena se a inflação for igual a 6%? Percebe que no momento que você vai comprar o IPCA+ ele já embute uma estimativa alta para a inflação futura? Vamos fazer a conta inversa, considerando juros reais + inflação:  Inflação prevista pelo analista: 6%  Juros reais travados no IPCA+: 4,5% Rentabilidade total do período se a projeção do analista se concretizar: (1 + 0,06)*(1 + 0,045) -1 = 10,77% Veja só: seu analista pediu para você investir em algo que irá render 10,77% – se ele estiver correto na projeção de inflação. Mas você poderia ter comprado, no mesmo dia, um prefixado e “travado" uma rentabilidade de 12%. Essa dica faz sentido? Não! Quando as notícias estão nos jornais, é porque muito prova- velmente elas já foram 100% precificadas! Então, temos de fixar que:  O que importa não é quanto você acha que será a inflação ou se ela ficará acima da meta ou não, mas sim quanto o MERCADO está precificando que será a inflação e se você concorda com ele ou não.  Se você achar que a inflação DE FATO será maior do que a INFLAÇÃO IMPLÍCITA, vale a pena ter IPCA+ em vez de prefixados.
  • 84. 84 - Renda Fixa não é Fixa!  Se você achar que a inflação DE FATO será menor do que a INFLAÇÃO IMPLÍCITA, então NÃO vale a pena ter IPCA+. Os prefixados "performarão" melhor. Da próxima vez que seu analista sugerir que compre um IPCA+ porque a inflação vai subir, pergunte a ele: “Mas quanto está a inflação implícita? E quanto você acha que será de fato?” Outro detalhe muito importante é que quando a inflação ainda não está precificada pelo mercado e de repente ela surpreende, isso é sempre acompanhado de uma revisão para cima nas taxas de juros. Ou seja, se o mercado achava que a inflação seria 3% e de repente ela começa a acelerar para 7%, o Banco Central terá que subir rapidamente a taxa Selic, muito mais do que o mer- cado esperava. Isso fará com que as taxas dos títulos prefixados e indexados à inflação subam também. Ou seja, se a inflação for de 3 para 7, provavelmente os juros reais do seu título vão de 5% para 6 ou 7% e, embora você tenha um ganho maior do que o esperado na parte pós-fixada do seu IPCA+ (que é a inflação), você terá um prejuízo de marcação a mercado na parte prefixada do seu IPCA+ (que é o aumento do juro real). Nesse caso, quanto maior o vencimento do título, maior será o impacto do prejuízo com a alta das taxas de juros frente ao impacto positivo da alta da inflação. Em 2021, por exemplo, o IPCA surpreendeu o mercado, acelerando para 10,06%. Com isso, as taxas dos títulos IPCA+ também subiram.
  • 85. CAPÍTULO 3 - 85 A taxa do IPCA+ 2024 foi de 1,61% para 5,21%. Com isso, seu retorno no ano foi de 2,30% no total (mesmo com a inflação sendo 10,06%). A taxa do IPCA+ 2045 foi de 3,38% para 5,18%. Com isso, seu retorno no ano foi de -23% no total (mesmo com a inflação sendo 10,06%). Ou seja, no ano em que a inflação mais surpreendeu o mer- cado, os títulos IPCA+ deram retorno baixo ou negativo! Isso aconteceu por conta da reprecificação dos juros para cima e do efeito de marcação a mercado. Então, se você quiser se proteger da inflação, utilize um IPCA+ de curtíssimo prazo, como 1 ano, para que você consiga levar o título a vencimento e não sofra os efeitos negativos da alta nas taxas.
  • 87. CAPÍTULO 4 - 87 Como expliquei acima, os títulos de renda fixa também podem se diferenciar pelo tipo de emissor. O emissor é aquele que garante o empréstimo e deverá ser cobrado no caso de inadimplência. Nos títulos públicos, o emissor é o governo. O governo é responsável pela maioria dos títulos de renda fixa comprados por investidores. Na segunda posição, temos os bancos. Os bancos funcionam como intermediadores de recursos finan- ceiros. Eles captam recursos dos poupadores, via seus produtos (CDB, Poupança, LCI, LCA, Depósitos à vista), e emprestam esse dinheiro aos que precisam, via empréstimos e financiamentos. A diferença entre os juros que eles emprestam e os juros que eles pagam nas aplicações é chamada de spread. Esse spread é a remuneração básica dos bancos. Os bancos também ganham dinheiro com produtos e serviços (seguros, cartão de crédito, antecipações, transações etc). Por exemplo, digamos que um fazendeiro pegue 1 milhão de reais em recursos com o Banco para viabilizar a sua produção. O banco cobrou 120% do CDI para esse empréstimo. Para ter recursos para emprestar para o fazendeiro, o Banco emite, por exemplo, 1 milhão de reais em LCAs, que pagam 100% do CDI. Nessa situação, simplificando o processo, o banco ficaria com 20%, que é o spread entre a taxa emprestada e a captada.
  • 88. 88 - Renda Fixa não é Fixa! Quando investimos em produtos de bancos, mesmo que esses recursos sejam repassados para terceiros, não corremos o risco de calote dos terceiros. Ou seja, se o fazendeiro não pagar o empréstimo, o banco ainda assim é obrigado a nos pagar. O nosso devedor é o banco, independentemente da pessoa ou empresa que ele emprestou. Corremos o risco de inadimplência do banco. Podemos perceber, facilmente, que apesar de não corrermos o risco direto da pessoa ou empresa para qual o banco emprestou, corremos um grande risco indireto. No limite, se nenhum devedor pagar o banco, não tem como ele nos pagar. Então, em épocas de crise econômica, em que a inadimplência sobe, investir em bancos pode ser arriscado. A estrutura de capital de um banco é altamente alavancada. Ele só precisa ter 11% de capital próprio sobre ativo hoje, mas que vai cair até 9% ao longo dos anos. Essa razão é chamada de índice de Basileia. No site Banco Data, podemos conferir qual o índice de Basileia (e várias outras informações) do banco que pretendemos investir. Se estiver muito próximo de 11%, é preciso tomar cuidado.
  • 89. CAPÍTULO 4 - 89 Abaixo disso, o BC obriga o banco a aumentar o capital. Se não houver nenhuma forma de capitalização disponível, o banco quebra. Ou seja, prefira bancos com Basileia alta. Acima de 17%. Além disso, prefira bancos que dão lucros consistentes. Parece trivial, mas não é. Cerca de 90% dos bancos que pagam acima de 120% do CDI estão dando prejuízos consecutivos. Na dúvida se o banco é seguro ou não, não invista. Prefira a segurança do Tesouro Selic. Melhor ganhar um retorno menor do que perder o dinheiro investido. Um outro problema do banco, que é acompanhado muito de perto pelo BC, é o diferencial de prazo entre os recursos que ele capta e os que ele empresta. Enquanto os depósitos e CDBs são recursos de curto prazo e podem ser sacados a qualquer momento, os empréstimos geralmente têm vencimento em uma série de anos. Para imóveis, podem chegar a 30 anos. Isso significa que se os correntistas e investidores decidirem retirar seus recursos do banco ao mesmo tempo, o banco quebra. Em épocas normais, isso certamente não acontece. Mas se há alguma dúvida em relação à solvência da instituição ou em meio a uma crise econômica, isso pode acontecer. Os primeiros a sacar o dinheiro terão o valor honrado. Os últimos não receberão nada. Para evitar esse tipo de problema e dar maior solidez ao sistema, os bancos se juntaram em 1995 e criaram o Fundo Garantidor de Crédito.
  • 90. 90 - Renda Fixa não é Fixa! O FGC O FGC é uma instituição privada, que nasceu da união dos bancos e faz o papel de estabilizador do sistema financeiro em momentos de crise. Todos os bancos contribuem com 0,0125% do valor garantido para um fundo de disponibilidades do FGC. Em contrapartida, quando uma instituição quebra, o FGC pro- mete ressarcir os depositantes e investidores da instituição. O valor da restituição vai até 250 mil, incluindo os juros dos investimentos. O valor é por CPF (ou conta conjunta) e por conglomerado, além disso, tem um limite máximo de 1 milhão por CPF. Ou seja, se você possui 200 mil no Banco A e 250 mil no Banco B, está 100% garantido, desde que o Banco A e B não sejam do mesmo conglomerado. No site do BC, você consegue conferir quais são os bancos do mesmo conglomerado. A garantia inclui recursos que estão em depósitos à vista, pou- pança, CDB, LCI, LCA, LC. As corretoras costumam dizer que o FGC garante 99% do total das contas. Isso é uma grande mentira. Olhando para o demonstrativo de resultados do FGC do pri- meiro trimestre de 2020, nos deparamos com a seguinte tabela: 4.1
  • 91. CAPÍTULO 4 - 91 Garantia Ordinária I até R$258 mil Jun/21 Dez/20 Var.% Valor dos depósitos elegíveis (em R$ milhões) 3.204.536 3.162.167 1,34% Valor dos depósitos cobertos (em R$ milhões) 1.681.278 1.672.649 0,52% % Depósitos cobertos 52,47% 52,90% Quantidade total declientes 403.742.597 380.633.179 6,07% Clientes com 100% de cobertura do valor depositado 402.548.648 379.485.811 6,08% % Clientes com 100% de cobertura 99,70% 99,70% Aqui, podemos ver que, em 2020, o valor dos depósitos cobertos pelo FGC é 52,90% dos depósitos elegíveis. Ou seja, o resto são depósitos que provavelmente ultrapassam o valor máximo de 250 mil e, embora sejam elegíveis, acabam não sendo garantidos. Além disso, 99,7% dos clientes possuem 100% de cobertura. Ou seja, 99,7% dos clientes possuem até 250 mil por CPF por instituição. Note que isso não quer dizer absolutamente NADA sobre a capacidade do FGC em pagar os clientes cobertos pela garantia. Apenas diz que a maioria está dentro do limite (e que a renda é muito concentrada, afinal, 0,3% do sistema possui o excesso de 47,1% dos valores não cobertos). Onde então encontramos informações sobre a capacidade do FGC em pagar eventuais sinistros? Fonte: FGC
  • 92. 92 - Renda Fixa não é Fixa! Acima, temos o gráfico de disponibilidades. Podemos ver, nas barras verticais, o percentual das disponibilidades do FGC em relação ao TOTAL DOS DEPÓSITOS ELEGÍVEIS. Esse valor era de 2,04% em junho de 2021. Em outras palavras, se mais de 2,04% do sistema financeiro quebrar, o FGC não vai ter recursos disponíveis para honrar com a garantia. Se ele não tiver recursos disponíveis, ele NÃO precisa garantir. Ao contrário do que muita gente pensa, ele NÃO é um seguro e só reembolsa o depositante ou investidor se houver recursos. A pergunta então é: 2,04% é o suficiente? Em épocas de crescimento econômico, sim. Mas em épocas de crise, pode não ser. Fonte: FGC 2,30% 49.944 45.932 51.063 54.573 62.116 65.828 55.153 59.110 79.666 80.802 2017 % Liquidez em relação ao total de depósitos elegíveis Meta de liquidez (2,5% do total de depósitos elegíveis)* Liquidez do FGC 2018 2019 2020 jun/2021 2,31% 2,31% 1,95% 2,04% Liquidez do FGC e volume do sistema (valores em R$ milhões)