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CAPÍTULO 17
A eutanásia e as
responsabilidades espirituais
PERGUNTA: — Aconselhais a prática da eutanásia, no
caso de doenças incuráveis? Alguns afirmam que se deve
extinguir a vida daquele que sofre atrozmente, sem possibili-
dade alguma de cura, outros defendem calorosamente o res-
peito à agonia do moribundo até o seu último espasmo de
vida, mesmo que se apresente do modo o mais cruciante.
ATANAGILDO: — Para mim, a questão de se liquidar o
enfermo algumas horas antes de ser ele liquidado pela
“morte” ou, então, de deixá-lo entregue ao seu sofrimento,
para purificar o seu perispírito até o derradeiro segundo,
está subordinada à necessidade de se saber, primeiramen-
te, a quem pertence o corpo que se extingue, e a quem
cabe o direito da Vida... É óbvio que o corpo físico não
passa de empréstimo a prazo limitado, feito pelo “atelier”
da Terra ao espírito encarnante, e que fatalmente deverá
ser devolvido após o prazo combinado. Quanto à vida, per-
tence a Deus, que no-la oferece para que possamos adqui-
rir a noção de existir e nos reconheçamos como consciên-
cia individual, à parte, mas sem nos desligarmos do Todo.
Através do fluxo abençoado das existências físicas, termina-
mos aprendendo que não somos árvores, estrelas, pedras
ou regatos, embora essas coisas, com o tempo, também se
afinizem de tal modo conosco que, futuramente, podere-
mos incorporá-las na área de nossa consciência espiritual.
Deste modo, não somos nós que construímos “pessoal-
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2. Ramatís
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mente” o nosso corpo físico, mas é a Lei da Evolução que,
durante milênios, vem se encarregando carinhosamente de
construí-lo para o nosso uso provisório. Não chegamos a
criar, sequer, os minerais que compõem as nossas unhas, as
vitaminas, a nossa nutrição, os líquidos para as correntes
sangüíneas e linfáticas; furtamos até o magnetismo solar e
a radiação lunar, para ativar o nosso sistema vital nas rela-
ções energéticas com o meio. Deste modo, muito graves
reflexões se impõem às nossas responsabilidades antes
que, a nosso “bel-prazer”, pretendamos intervir na Lei e
praticar a eutanásia, decidindo sobre a vida corporal do
próximo ou mesmo do nosso corpo esfrangalhado!
É muito importante lembrarmo-nos de que não preci-
samos intervir para que o bebê recém-nascido cumpra a
sua tarefa de crescer; para isso só lhe ofertamos leite líqui-
do ou em pó, e apenas isso o transforma em um adulto de
olhos azuis ou pardos, de cabelos negros como o azeviche
ou louros como os reflexos matutinos do Sol. Desenvol-
vem-se os lábios carminados, as mãos e os pezinhos ple-
nos de vida misteriosa; plasmam-se os movimentos gracio-
sos e despontam os ares inteligentes, emoldurados pelo
riso cristalino que embevece e fascina os pais envaidecidos!
É óbvio, pois, que não temos o direito de intervir discricio-
nariamente na vida desse corpo e apressar-lhe a morte,
pois a Lei reza e claramente nos comprova que isso só per-
tence a Deus — o Divino Doador da Vida!
PERGUNTA: — Mas é sabido que o nosso espírito,
durante as encarnações em que se serve do corpo físico,
também o aperfeiçoa gradativamente conforme se compro-
va pelo progresso orgânico desde o homem pré-histórico até
o atual cidadão do século XX; não é assim? Isto não lhe con-
fere certo direito para praticar a eutanásia?
ATANAGILDO: — Que tem a ver uma coisa com outra?
Se examinarmos com isenção de ânimo o que alegais, com-
provaremos que quereis a melhor parte dos negócios que
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