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São Leopoldo
2016
ORGANIZADORA
Vânia Gisele Bessi
EMPREENDEDORISMO
E AÇÃO EMPREENDEDORA
CORREÇÃO ORTOGRÁFICA
Vera Lucia Flores
PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
Adriana Christ Kuczynski
CAPA
Gregório Cemin
IMPRESSÃO
Gráfica tal
TIRAGEM
1000 exemplares
LIVRO DESENVOLVIDO COM APOIO DE:
SEBRAE
UNIVERSIDADE FEEVALE
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
Universidade Feevale, RS, Brasil
Bibliotecário responsável: Sabrina Leal Araujo – CRB 10/1507
© Trajetos Editorial – TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É proibida a reprodução total ou parcial de qualquer forma
ou por qualquer meio. A violação dos direitos do autor (Lei n.º 9.610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal.
Trajetos Editorial
Homepage: www.trajetos.net.br
Fone: (51) 9291-6929
Empreendedorismo e ação empreendedora / organizadora Vânia
Gisele Bessi. – São Leopoldo: Trajetos editorial, 2016.
224 p. : il. ; 16 cm.
Inclui bibliografia e índice.
ISBN 978-85-69688-06-8
	
l. Empreendedorismo. 2. Empreendedorismo social. 3.
Comportamento empreendedor. I. Bessi, Vania Gisele.
CDU 658.012.29
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
3
Andrea Poleto Oltramari
Doutora em Administração. Docente e Pesquisadora da Escola de Administração/Programa de
Pós-Graduação em Administração (PPGA). Área de gestão de pessoas. Grupo Interdisciplinar de
Estudos em Inovação e do Trabalho Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
E-mail: andrea.oltramari@ufrgs.br.
Cristiane Froelich
Doutora em Administração pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Mestre
em Admnistração pela Unisinos. Especialista em Gestão e Planejamento de Recursos Humanos
pela Unisinos. Graduada em Pedagogia pela Unisinos. Docente e Pesquisadora do Instituto de
Ciências Sociais e Aplicadas da Universidade Feevale.
E-mail: cfroehlich@feevale.br.
Daiane Mulling Neutzling
Doutora em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul na área de Gestão da
Inovação, Tecnologia e Sustentabilidade. Atualmente é Professora na UNIFOR/CE, no curso de
Administração. Atua em pesquisas voltadas para temas como Gestão Socioambiental, Gestão da
Sustentabilidade, Estratégia e Gestão da Sustentabilidade em Cadeias de Suprimentos.
E-mail: d.neutzling@unifor.br.
Denize Grzybovski
Administradora. Doutora em Administração (UFLA - 2007). Coordenadora do Programa de
Pós-Graduação em Administração (PPGAdm), na Universidade de Passo Fundo. Pesquisadora
e Professora da Universidade de Passo Fundo. Professora Convidada no Programa de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento, na Universidade Regional do Noroeste do
Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ). Membro da Rede ORD (NISP/PPGA/ESAG/UFSC).
E-mail: ppgadm@upf.br.
Dusan Schreiber
Doutor e Mestre em Administração. Docente e pesquisador do Programa de Qualidade
Ambiental e do curso de Mestrado profissional em Indústria Criativa da Universidade Feevale.
E-mail: dusan@feevale.br.
Magnus Luiz Emmendoerfer
Doutor em Ciências Humanas: Sociologia e Turismo pela Universidade Federal de Minas
Gerais. Pos-doutor em Ciências da Administração na Universidade do Minho e em Turismo na
Universidade do Algarve, Portugal. Professor do Programa de Pós-graduação em Administração
- Pública e Líder do Grupo de Pesquisa em Gestão e Desenvolvimento de Territórios Criativos
(GDTeC) na Universidade Federal de Viçosa.
E-mail: magnus@ufv.br.
Manuela Albornoz Gonçalves
Doutora em Administração. Pesquisadora e professora e da Universidade Feevale. Grupos de
pesquisa em Gestão em Inovação e Competitividade (FEEVALE) e Grupo de Pesquisas sobre
Marketing e Consumo (UFRGS).
E-mail: manuelaag@feevale.br.
COMITÊ CIENTÍFICO
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
4
Maria Cristina Bohnenberger
Doutora em Economia de la empresa. Universidade Feevale. Instituto de Ciências Sociais
Aplicadas. Pesquisadora e Docente do Mestrado Profissional em Indústria Criativa.
E-mail: cristin@feevale.br.
Mary Sandra Guerra Ashton
Doutora em Comunicação/PUCRS. Pesquisadora e Professora no Curso de Turismo e no
Mestrado em Indústria Criativa na Universidade Feevale/RS.
E-mail: marysga@feevale.br.
Pelayo Munhoz Olea
Bolsista do CNPq. Doutorado em Administração e Direção de Empresas pela Universitat Politècnica
de Catalunya, ETSEIB/UPC, Espanha. Professor da Universidade de Caxias do Sul, UCS.
E-mail: pelayo.olea@gmail.com.
Raquel Engelmann Machado
Doutora e Mestre em Administração - UFRGS. Graduada em Comunicação Social - PUCRS.
Docente-pesquisadora da Universidade Feevale, coordenadora MBA Gestão Empresarial e
Plano1 Consultoria Jr.
E-mail: raqueleng@feevale.br.
Serje Schmidt
Doutor em Administração (UNISINOS, 2013) e em Economía de L'Empresa (UIB, 2006).
Pesquisador e docente do Mestrado em Indústria Criativa pela Universidade Feevale. Atua como
parecerista em periódicos nacionais e internacionais.
E-mail: serje@feevale.br.
Valdir Pedde
Doutor em Antropologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil. Professor
permanente do PPG em Inclusão Social e Diversidade Cultural da Universidade Feevale.
E-mail: valpe@feevale.br.
Vânia Gisele Bessi
Doutora em Administração. Professora do Mestrado Profissional em Indústria Criativa da
Universidade Feevale. Grupos de Pesquisa: Indústria Criativa e Grupo de Pesquisa em Gestão.
E-mail: vania@feevale.br
Vilmar Antonio Gonçalves Tondolo
Doutorado em administração pela Unisinos, com estágio doutoral realizado na University of Texas
Pan American. Consultor organizacional na área de estratégia, operações e suprimentos. Professor
do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
E-mail: vdontolo@gmail.com.
SUMÁRIO
7	 PREFÁCIO
11	 APRESENTAÇÃO
17	 PARTE I: COMPREENDENDO
	 O EMPREENDEDORISMO
19	 Evolução do Empreendedorismo no Brasil: um estudo do Global 	
	 Entrepreneurship Monitor no período de 2001 a 2013
43	 Análise Compreensiva do Empreendedorismo
	 de Base Tecnológica
65	 Inclusão Social e Empreendedorismo Social:
	 o Programa Catavida
87	 PARTE II: O EMPREENDEDORISMO
	 E O AMBIENTE
89	 Movimento Empresa Júnior Como Lócus de Empreendedorismo: 	
	 o caso de uma Universidade no Brasil
113	 Interlocuções entre Potencial Empreendedor e a noção de 		
	“Milieu” para Estudos Regionais
141	 PARTE III: O EMPREENDEDORISMO, A EMPRESA 	
	 E O COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR
143	 As Práticas de Intraempreendedorismo e a
	 Cultura Organizacional
167	 Comportamento Empreendedor Feminino: uma análise
	 através do Método CEFE, com ênfase no próprio negócio
189	 As Características do Comportamento Empreendedor dos 		
	 Gestores das Empresas Incubadas em Incubadora Tecnológica
7
A universidade tem sido uma das instituições mais duradouras da his-
tória da Humanidade. Deve isso, em grande parte, à sua grande capacidade
de adaptação e de mudança, ao longo dos últimos milênios. Ela nasceu à
sombra das catedrais, ligada ao ensino, à prática docente e fechada em suas
paredes e muros, com a preocupação inicial quanto à formação intelectual
de uma elite letrada.
Entretanto, ela foi transformando-se, ao longo dos séculos, incorpo-
rando a pesquisa e a extensão, que lhe deram, no final do século passado,
uma estrutura mais equilibrada, mas por outro lado, descortinaram um
mundo de oportunidades e interações, que nem sempre foram creditadas a
ela. Dessa forma, no limiar do século XXI, ganhou ares de agente de trans-
formação local e regional agregado ao seu apelo universalista.
Cada vez mais, criam-se as condições de superação dos seus muros, o
que, aliás, acelerou-se devido às transformações tecnológicas, ideológicas e
doutrinárias deste início de milênio. Hoje, existe um grande movimento
mundial que prevê que as Universidades, cada vez mais, respondam por
suas comunidades e desempenhem um papel inovador, acompanhando as
mudanças incrementadas pela nova sociedade que surge denominada por
alguns como a Sociedade do Conhecimento.
De qualquer forma, é preciso compreender que vivemos uma nova
era, um novo padrão social, marcado pelo acelerado ritmo da globaliza-
ção econômica e cultural. Vivemos, também, o acelerar dos paradigmas,
especialmente os tecnológicos. Basta olhar para algumas áreas do conhe-
cimento e perceber. Por exemplo, no campo da eletrônica, passamos das
válvulas para os transistores, daí, aos circuitos Integrados; da eletrônica
para a informática e às nanotecnologias.
Do ponto de vista social, também vivenciamos uma aceleração de pa-
radigmas. Basta ver, do ponto de vista histórico e temporal, quanto e quão
rápido avançamos desde as primeiras civilizações e a invenção da escrita,
há alguns milhares de anos, passando pelo mundo clássico greco-romano,
PREFÁCIO
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
8
pelas cidades-Estado, pela explosão criativa e inovadora do Renascimento,
com a introdução, no Ocidente, da Imprensa e pela fantástica multiplica-
ção das idéias e do conhecimento. Da mesma forma e, com uma velocida-
de maior ainda, entramos no iluminismo e na sociedade industrial, revolu-
cionando nosso modo de produção, acelerando a destruição da natureza e
alterando, de forma nunca antes vista, as relações de trabalho, do Estado e
da vida pública e privada.
Agora, é perceptível a transformação das áreas da nossa civilização em
um novo paradigma de atitude. Esta nova sociedade, na qual o conheci-
mento ganha uma força propulsora, comparada à energia ou às matérias-
-primas da sociedade industrial, é o novo desafio que apresenta a inovação,
como ponta de lança dessa transformação.
A maioria das pessoas, porém, não está preparada para as mudanças,
especialmente para as paradigmáticas. Isso se agrava se essas alterações co-
meçam a ocorrer em intervalos de tempo cada vez menores e com mais
profundidade. Esses elementos agravam a percepção sobre a crise e a mu-
dança dos paradigmas e tocam o ponto de equilíbrio e conforto das pessoas
e das organizações.
Pior ainda para aqueles que não perceberam as mudanças e continu-
am nostálgicos falando dos “velhos tempos” que não voltam mais. Cabe a
todos nós, prepararmo-nos para essas mudanças. Neste ponto, a busca do
conhecimento, a prática da inovação e a ciência, colocam-se como ferra-
mentas fundamentais em um mundo cada vez mais dinâmico.
Além disso, atualmente vivemos em um mundo onde arriscar é preci-
so e inovar é necessário. Neste aspecto, a formação das pessoas e o despertar
de um espírito crítico, inovador e empreendedor é tarefa de toda uma so-
ciedade, em especial a Universidade. Pensando assim, temos que trabalhar
na modificação das relações e das percepções dos jovens frente ao mundo
do trabalho.
O Brasil é um país de empreendedores e grande parte deles tem voca-
ção para montar seu próprio negócio. Mas a realidade tem se mostrado du-
ríssima com os empreendedores e apresentam uma distância entre montar
e manter um negócio. Além disso, parece que sobra empreendedorismo,
arrojo e interesse, mas falta preparo e condições de montar e gerir as em-
presas que nascem.
Os novos empreendimentos que surgem convivem com fatores que
trabalham para impedir o sucesso das pequenas e microempresas. Outros
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
9
problemas se sucedem, como o crédito, a atratividade exercida pela infor-
malidade e a maneira encontrada para economizar as taxas e tributos. Além
disso, os juros bancários, a variação do câmbio e o custo Brasil são respon-
sáveis, entre outras coisas, pelo nefasto efeito dos impostos em cascata. A to-
dos esses explosivos problemas, soma-se talvez o de maior relevância: o des-
preparo do empreendedor para enfrentar os desafios de um novo negócio.
Não basta apenas ter iniciativa. São fundamentais, também, o foco no
mercado, a capacidade gerencial, uma estrutura logística e uma divulgação
de seus produtos e serviços. Se isso não bastar, é necessário ao empreende-
dor ainda ousar e, com criatividade, explorar nichos desprezados ou desco-
nhecidos pela concorrência. Finalmente, procurar ter tanto espírito com-
petitivo como também cooperativo, privilegiando o trabalho em grupo,
unindo suas habilidades com as de outros, desenvolvendo um trabalho em
rede e não isoladamente. Essa é uma pequena análise, seguida de recomen-
dações, a fim de ajudar aqueles que, em uma economia em dificuldades,
estão em busca de alternativas para montar seu próprio negócio.
De qualquer forma, é importante que o empreendedor pesquise bas-
tante sobre o ramo de negócio mais atrativo para o novo empreendimento.
Essa não é uma tarefa exclusiva de algumas áreas do conhecimento, pois
em qualquer uma, da saúde à educação, podemos e devemos empreender e
criar as novas condições para o sucesso profissional e pessoal.
Em um mundo cada dia mais igual, a compreensão da diversidade,
seu entendimento e a saída do ostracismo intelectual determinam os dife-
renciais. A sociedade do conhecimento que se ergue no século XXI aponta
na direção dos valores universais, multiculturais e multidisciplinares, que
possibilitam ao homem saber da vastidão do universo e também de sua
própria existência.
Publicações como o livro Empreendedorismo e Ação Empreendedora
possibilitam a circulação das ideias e as várias concepções do conhecimen-
to, de sua práxis educativa e transformadora da realidade.
Prof. Dr. Cleber C. Prodanov
Pró-Reitor de Inovação
11
Esta publicação cumpre uma das metas do projeto Educação Empre-
endedora na Universidade Feevale, edital SEBRAE n.º 001/2013, convênio
n.º 087/0 2014. O projeto é parte da parceria entre duas instituições que
têm, como um dos seus valores essenciais, o fomento ao Empreendedoris-
mo e à Ação Empreendedora. A Universidade Feevale e o SEBRAE – Servi-
ço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – contribuem, dessa
forma, para a ampliação do olhar sobre esse tema tão importante, espe-
cialmente no contexto contemporâneo, onde as oportunidades surgem em
diferentes contextos, com perspectivas e possibilidade até pouco tempo im-
pensadas ou muito distantes da realidade com a qual estamos habituados.
Refletir sobre o empreendedorismo e suas diferentes perspectivas é o
objetivo deste livro. Pretendemos, com essa publicação, disponibilizar para
o público acadêmico e leitores em geral interessados pelo assunto, um livro
que trata sobre essa temática, sendo o resultado de muitos esforços no sen-
tido de entender como o empreendedorismo se apresenta na atualidade.
Os textos analisam, cada um dentro de seu objetivo, como diferentes espa-
ços sociais podem se constituir em importantes elementos para a formação
técnica e o perfil de comportamento do empreendedor.
O empreendedorismo é um assunto que vem sendo discutido já há
muito tempo. Porém, percebe-se que na contemporaneidade, temos uma
ampliação do tema, ligando-o a diferentes contextos, tais como o empre-
endedorismo social, o de base tecnológica, o intraempreendedorismo e
outros. Da mesma forma, as características e singularidades do sujeito em-
preendedor tem se constituído como diferenciais para fazer frente às mais
diversas dificuldades que se apresentam no cotidiano desses profissionais.
Ser empreendedor é vislumbrar oportunidades, é pensar à frente, en-
xergar além do óbvio. Porém, isso não é, nem nunca foi, algo que derive do
sobrenatural ou que seja privilégio de algum ser que está acima dos huma-
nos ditos “comuns”. O empreendedor apura e afina o seu olhar a partir da
sua percepção e da sua leitura do ambiente e de todas as variáveis que estão
APRESENTAÇÃO
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
12
à sua volta. É justamente aí que a universidade e demais instituições que
apoiam o empreendedorismo cumprem seu papel fundamental.
A Universidade Feevale tem em seu “DNA” a preocupação pelo de-
senvolvimento da região onde está inserida, voltando sua atuação para a
formação de sujeitos críticos, inovadores e atuantes. Fomentar o empre-
endedorismo e colaborar na formação do empreendedor sempre esteve
entre os objetivos dessa Instituição. O SEBRAE, como uma entidade pri-
vada de interesse público, se propõe a estimular o espírito empreendedor
e promover a competitividade e o desenvolvimento autossustentável dos
pequenos negócios.
Dessa forma, ao colocar em suas mãos o livro Empreendedorismo
e Ação Empreendedora, essas duas Instituições cumprem sua vocação de
atuação na Educação Empreendedora, dando espaço a discussões e análi-
ses sobre o tema em tela e levando essas reflexões aos seus leitores. Com
isso, pretende-se continuar colaborando para a formação do espírito críti-
co, analítico e empreendedor de todos aqueles que se interessam por essa
temática tão importante quanto desafiadora.
Este livro está estruturado em três partes. A Parte I foi intitulada
Compreendendo o Empreendedorismo e apresenta artigos que tratam do
tema a partir de uma perspectiva geral, além de abordar especificidades
atuais sobre o empreendedorismo: o Social e o de Base Tecnológica. Essa
parte inicial, portanto, tem como objetivo a reflexão sobre o tema e suas
diferentes nuances e está composta por três capítulos.
No Capítulo 1, cujo título é Evolução do Empreendedorismo no Bra-
sil: um estudo do Global Entrepreneurship Monitor no período de 2001
a 2013, Juliana Alano e demais autores analisam a pesquisa anual GEM,
com o objetivo de acompanhar a evolução dos dados da atividade empre-
endedora no Brasil, unindo dados de todos os relatórios publicados no país
até 2013 e analisando as alterações ocorridas nesse período. Com esse tex-
to, os autores se propõe, ainda, a apresentar informações sobre a realidade
do empreendedorismo brasileiro.
O Capítulo 2, intitulado Análise Compreensiva do Empreendedoris-
mo de Base Tecnológica, de autoria de Deise Natalia Simas Land e Dusan
Schreiber, tem como objetivo identificar as variáveis que influenciam o
surgimento e a consolidação das startups de base tecnológica no mercado.
Os autores têm, portanto, foco no empreendedorismo voltado a empresas
inovadoras e que apresentam diferenciais como tecnologia de ponta e ino-
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
13
vação. Sua importância está em fazer a discussão do tema em um contexto
altamente relevante para o momento atual, onde essas empresas ocupam
importante espaço.
Encerrando a Parte I, no Capítulo 3, que recebe o título de Inclusão
Social e Empreendedorismo Social – o Programa Catavida, de autoria de
Raquel Engelman e demais autores, é apresentado o empreendedorismo
social, que se configura como uma perspectiva diferenciada, principalmen-
te no campo da gestão e da intervenção social. O Catavida é o Programa
Municipal de Gestão Social de Resíduos Sólidos da Prefeitura Municipal
de Novo Hamburgo, administrado de forma colaborativa entre diferentes
Secretarias Municipais, marcadamente pela Secretaria do Meio Ambiente
e a Secretaria de Desenvolvimento Social. O objetivo dos autores é ilustrar
como ocorre a relação entre inclusão social e empreendedorismo social no
Programa Catavida, sob a perspectiva dos envolvidos com o programa.
A Parte II recebe o título O Empreendedorismo e o Ambiente. Abor-
damos, aqui, o assunto a partir de alguns lócus importantes para o desen-
volvimento do empreendedor. Nessa parte, conceitos como os de empresa
júnior e o meio onde os empreendedores se desenvolvem são contempla-
dos, a partir de dois artigos.
Movimento Empresa Júnior Como Lócus de Empreendedorismo: o
caso de uma Universidade no Brasil é o título do Capítulo 4. Nesse texto,
os autores Magnus Luiz Emmendoerfer, Brendow de Oliveira Fraga, Carla
de Souza Cruzato e Henrique de Melo Silva analisam a trajetória da insti-
tucionalização do Movimento Empresa Júnior (MEJ) em uma universida-
de pública brasileira, a Universidade Federal de Viçosa – UFV. Os autores
analisam o MEJ, tido como um conjunto de ações historicamente cons-
truídas, aperfeiçoadas e reproduzidas por meio da extensão, em interface
com o ensino e com a pesquisa. A Empresa Júnior se configura como um
importante meio para disseminar e desenvolver a cultura empreendedora e
de inovação entre os estudantes de diferentes cursos de graduação da UFV.
No Capítulo 5, Interlocuções entre Potencial Empreendedor e a No-
ção de “Milieu” para Estudos Regionais, os autores Betina Beltrame, Denize
Grzybovski, André da Silva Pereira e Dieter Rugar Siedenberg têm como
objetivo analisar o potencial empreendedor dos empresários no milieu deli-
mitado pelo Conselho de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (Corede)
no Noroeste Colonial (Corede-Norc). Nesse texto, o conceito de milieu é
fundamental para a análise. O milieu seria, como os autores explicam, o
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
14
ambiente de residência e atuação do empreendedor. Porém, o empreendedor
não seria um ser passivo sofrendo a influência do meio, mas um sujeito ca-
paz de apreender conteúdos, influenciar a dinâmica do contexto e até criar o
milieu. Esse artigo encerra a Parte II.
Na Parte III, que denominamos O Empreendedor, a Empresa e o
Comportamento Empreendedor, levamos a reflexão para o interior das or-
ganizações e suas formas de atuação, além de analisarmos o comportamento
do sujeito empreendedor. Essa parte compõe-se de três capítulos.
O Capítulo 6, intitulado As Práticas de Intraempreendedorismo e a
Cultura Organizacional, os autores Maria Cristina Bohnenberger, Vânia Gi-
sele Bessi e Serje Schmidt analisam as relações entre as práticas de intraem-
preendedorismo e a cultura organizacional, representada em seus diferentes
níveis. O intraempreendedorismo é o empreendedorismo que acontece den-
tro da organização, também chamado de corporativo ou ação dos empreen-
dedores nas organizações. A cultura organizacional, como abordam os auto-
res do texto, são todos os pressupostos compartilhados em uma organização.
Os autores estabelecem a relação entre esses dois conceitos.
Jordana Patrícia Begnini Hoch e Jefferson Dobner Sordi assinam o
Capítulo 7, que recebe o título de Comportamento Empreendedor Fe-
minino: uma análise através do Método CEFE, com ênfase no próprio
negócio. Nesse artigo, os autores esclarecem e identificam quais são as ca-
racterísticas das mulheres empreendedoras, tomando como análise uma
cidade do Vale do Rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul. A partir do Mé-
todo CEFE (Competência Econômica via Formação de Empreendedores),
os autores analisam o comportamento empreendedor das mulheres que
abriram o seu próprio negócio no município de Dois Irmãos.
Finalizando a Parte III, no artigo As Características do Comporta-
mento Empreendedor dos Gestores das Empresas Incubadas em Incuba-
dora Tecnológica, as autoras Mary Sandra Guerra Ashton e Vânia Gisele
Bessi têm como objetivo analisar as características do comportamento em-
preendedor dos gestores das empresas incubadas na Incubadora Tecnoló-
gica da Feevale. Nessa pesquisa, as autoras, tendo como base também o
Método CEFE (Competência Econômica via Formação de Empreende-
dores), analisam o perfil de empreendedores de empresas em um contexto
singular, que é o das Incubadoras de Empresas. As incubadoras são impor-
tantes agentes de difusão da cultura empreendedora e oferecem o suporte
necessário para que esses negócios nasçam e se solidifiquem.
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
15
Ao colocarmos em suas mãos essas diferentes perspectivas acerca do
tema Empreendedorismo, entendemos que a Universidade Feevale e o Se-
brae, assim como os autores dos textos que compõem esse livro, contri-
buem para a ampliação da discussão e das reflexões acerca desse assunto tão
importante, especialmente no momento contemporâneo.
Para finalizar, gostaríamos de agradecer a todos àqueles que, de al-
guma forma, colaboraram para que essa publicação se tornasse realidade:
à Universidade Feevale e ao Sebrae, pela parceria na concepção e execu-
ção do projeto; a Pró-Reitoria de Inovação da Feevale, representada pelo
Pró-Reitor de Inovação, Prof. Dr. Cleber C. Prodanov (que assina o Pre-
fácio), além de toda a sua equipe administrativa; aos autores dos textos
que confiaram na seriedade da proposta da publicação; aos professores que
compõem o comitê científico, por terem se disponibilizado, gentilmente, a
fazer a avaliação double blind review dos textos; ao Prof. Dr. Valdir Pedde,
por todo o apoio com seu conhecimento editorial; à bolsista de Inicia-
ção Científica, Iracir de Abreu, pelo auxílio com formatação e revisão dos
textos; além de outras pessoas que se envolveram e que não foram aqui,
nominalmente citadas.
Desejamos a todos uma excelente leitura!
Prof. ª Dr. ª Vânia G. Bessi
Organizadora do Livro
PARTE I
COMPREENDENDO
O EMPREENDEDORISMO
19
EVOLUÇÃO DO EMPREENDEDORISMO
NO BRASIL: UM ESTUDO DO GLOBAL
ENTREPRENEURSHIP MONITOR NO PERÍODO
DE 2001 A 20131
Juliana Alano
Magnos Spagnol
Paula Patricia Ganzer
Cristine Hermann Nodari
Cassiane Chais
Adrieli Alves Pereira Radaelli
Oberdan Teles da Silva
Alfonso Augusto Fróes d’Ávila
Pelayo Munhoz Olea
Eric Charles Henri Dorion
Cleber Cristiano Prodanov
1 INTRODUÇÃO
O empreendedorismo é um assunto em voga há muito tempo no
mundo todo e tem especial destaque no Brasil, sendo seguidamente no-
ticiado na imprensa, por meio de matérias informativas sobre o nível do
empreendedorismo no país, tratado como um dos que detém as taxas mais
altas do mundo. Essas notícias geralmente estão embasadas em dados de
pesquisas de órgãos, os quais podem não utilizar métodos ou critérios,
muito menos padrões para comparação com os números de outros países.
Diante disso, há a possibilidade de questionar a confiabilidade das notícias.
Sendo um tema seguidamente abordado e de interesse para um de-
terminado grupo de pessoas, órgãos e empresas, teve início em 1999, por
meio de uma parceria entre a London Business School, da Inglaterra, e o
Babson College, dos Estados Unidos, o programa de pesquisa Global En-
trepreneurship Monitor (GEM), uma avaliação anual do nível nacional da
1
Artigo apresentado na XIV Mostra de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão (2014) - Programa de Pós-
Graduação em Administração da Universidade de Caxias do Sul.
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
20
atividade empreendedora no mundo. Na sua primeira edição, contou com
os dados de 10 países e atualmente caracteriza-se como o maior estudo
contínuo sobre a dinâmica empreendedora no mundo, tendo abrangido
100 países em algumas edições.
O Brasil participa do programa desde 2000 e, em todos esses anos, o
relatório trouxe mais do que um retrato do empreendedorismo nacional
em comparação com o mundo e também, a possibilidade de observação
das alterações, tanto evoluções quanto retrocessos da atividade empreen-
dedora do país. Como forma de acompanhar a evolução dos dados da
atividade empreendedora no país, este trabalho pretendeu unir os dados de
todos os relatórios publicados e fazer uma análise das alterações ocorridas
nesse período, a fim de apresentar informações sobre a realidade do empre-
endedorismo brasileiro.
A seguir, apresenta-se uma revisão bibliográfica sobre o empreende-
dorismo, destacando-se o empreendedorismo no Brasil, a classificação dos
empreendedores, a mentalidade empreendedora, os órgãos de apoio e as
condições para empreender. Posteriormente, é apresentada a metodologia
utilizada na pesquisa. A seção três apresenta a análise dos dados coletados
através do estudo de caso. Na seção quatro, segue as considerações finais
do estudo, onde são apresentadas as conclusões da pesquisa. A partir do
objetivo, são apresentadas as limitações do estudo e as oportunidades de
pesquisas futuras.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Empreendedorismo
A palavra empreendedorismo pode suscitar diversos entendimentos errô-
neos quanto ao seu significado. A fim de melhor desenvolver o assunto, cabe
iniciar com aspectos básicos sobre a expressão que deriva do termo latim im-
prehendere e referindo o indivíduo que assume riscos ao começar algo novo
(FILION, 1999). Os assuntos ligados ao empreendedorismo, tema tão falado
nos dias de hoje, têm origem na idade média, quando empreendedor era o
participante e a pessoa encarregada de projetos de produção em grande escala.
Já no século XVII, o empreendedor passou a ser diferenciado entre a pessoa
que assume riscos daquela que fornece capital (HISRICH; PETERS, 2004).
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
21
Schumpeter (1947) define como empreendedor aquele que destrói a
ordem econômica existente, graças à introdução de novos produtos/ser-
viços no mercado, pela criação de novas formas de gestão ou pela explo-
ração de novos recursos, materiais e tecnologias. Bygrave e Hofer (1991)
dizem que empreendedor é alguém que identifica uma oportunidade e
cria uma organização, enquanto Drucker (2003) diz que o Empreendedor
está sempre buscando a mudança, reage a ela, explorando-a como uma
oportunidade, o que é confirmado por Dornelas (2005), o qual afirma que
empreendedor é a pessoa que percebe uma oportunidade e, com isso, cria
um negócio a fim de ganhar com ele, mediante riscos calculados.
Chiavenato (2006), por sua vez, diz que empreendedor não é simples-
mente o fundador de uma nova empresa ou mesmo de um novo negócio,
mais do que isso, ele é a energia da economia, a alavanca dos recursos, o
impulso de talentos, a dinâmica de ideias. O mesmo autor ainda confirma
a visão de Dornelas (2005) sobre o risco do empreendedor, dizendo que é
a pessoa que começa um negócio para realizar uma ideia ou projeto pessoal
assumindo todos os riscos e responsabilidades. Pode-se obter uma ideia
da evolução histórica do empreendedorismo, por meio da ilustração no
Quadro 1.
Idade média Séculos XVII e XVIII Séculos XIX e XX
O empreendedor:
- Gerenciava grandes
projetos de produção;
- Não assumia riscos;
- Utilizava subsídios
governamentais.
O empreendedor:
- Estabelecia acordos
contratuais com o governo;
- Passou a assumir riscos.
O empreendedor
é confundido
com gerentes e
administradores.
Quadro 1 - Análise histórica do desenvolvimento do empreendedorismo
Fonte: Adaptado de Hisrich e Peters (2004)
De acordo com a linha do tempo, percebe-se que o empreendedor
evoluiu especialmente no que diz respeito a assumir mais riscos, sendo
que hoje há uma certa confusão entre a figura do empreendedor e do ad-
ministrador das empresas. Faz-se necessário, também, tratar do assunto
empreendedorismo no Brasil a fim de obter uma introdução à visão geral
do assunto no país.
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
22
2.2 Empreendedorismo no Brasil
Referente ao empreendedorismo no Brasil, Dornelas (2005) cita os
anos 90 como a década onde o empreendedorismo começou a surgir no
país, especialmente pela criação de entidades como o Centro de Assistên-
cia Gerencial (CEAG), o Instituto de Desenvolvimento Empresarial do
Rio Grande do Sul (IDERGS) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (SEBRAE) e a Sociedade Brasileira para Exportação de
Software (SOFTEX). Segundo o autor, antes da criação destas entidades, a
nação não falava em empreendedorismo, até porque os ambientes econô-
mico e político não eram propícios.
Passados 15 anos do início das primeiras ações, o Brasil tem todas as
possibilidades de desenvolver o maior programa de ensino de empreendedo-
rismo do mundo. Percebe-se isso, a partir do momento em que são lançadas
ações como o Programa Brasil Empreendedor do Governo Federal, o qual foi
dirigido por mais de 6 milhões de empreendedores em todo país, entre 1999
e 2002, o Empretec, e Jovem Empreendedor do SEBRAE, programas de ca-
pacitação com muita procura e ótima avaliação, o enorme crescimento das
incubadoras de empresas, dentre outros (DORNELAS, 2005).
O Empretec é uma metodologia da Organização das Nações Unidas
– ONU, voltada para o desenvolvimento de características de comporta-
mento empreendedor e para a identificação de novas oportunidades de
negócios, promovido em cerca de 34 países. No Brasil, o Empretec é rea-
lizado exclusivamente pelo SEBRAE e já capacitou cerca de 190 mil pes-
soas, em 8.400 turmas (SEBRAE, 2013). Por outro lado, existem também
alguns limitadores. Para Dornelas (2005), o país ainda é carente em polí-
ticas públicas duradouras a fim de consolidar o empreendedorismo como
alternativa ao desemprego e de apoiá-lo, assim como fazem atualmente a
iniciativa privada e as entidades não governamentais.
2.3 Classificações dos empreendedores
Os empreendedores podem ser separados em diversos grupos. Neste
estudo, ele deter-se-á apenas àquelas classificações que são trabalhadas no
GEM, as quais são: quanto à motivação para a atividade empreendedora e
quanto à metodologia de pesquisa.
Com relação à classificação quanto à motivação para a atividade em-
preendedora, eles subdividem-se em empreendedor por oportunidade e
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
23
empreendedor por necessidade. O primeiro está mais presente em países
desenvolvidos, sendo aquele empreendedor visionário que sabe aonde quer
chegar, cria uma empresa com planejamento prévio, tem em mente o cresci-
mento que quer buscar para a empresa e visa à geração de lucros, empregos
e riqueza (DORNELAS, 2005). Portanto são aqueles que identificaram uma
oportunidade de negócio e independentemente de possuírem outras opções de
emprego ou renda, decidem tornarem-se empreendedores.
Já os empreendedores por necessidade são mais comuns nos países em
desenvolvimento como o Brasil. Eles iniciam um empreendimento autônomo
porque não tem melhores opções de ocupação e seu novo negócio visa à geração
de renda própria. Dornelas (2005) confirma isso quando define que o empre-
endedor por necessidade é aquele candidato a empreendedor que se aventura
na jornada empreendedora, mais por falta de opção, por estar desempregado
e não ter alternativas de trabalho. Nesse caso, esses negócios costumam ser
criados informalmente, não são planejados de forma adequada e muitos fra-
cassam rápido, não gerando desenvolvimento econômico.
A segunda classificação que o GEM aborda é quanto à sua meto-
dologia de pesquisa. Nela os empreendedores são divididos em iniciais e
estabelecidos. E os empreendedores iniciais ou em estágio inicial são sub-
divididos em nascentes e novos, conforme o processo descrito na Figura 1.
Figura 1 - O processo empreendedor segundo definições adotadas pelo GEM
Fonte: Adaptado de GEM (2011)
Os empreendedores nascentes estão envolvidos na estruturação de um
negócio do qual são proprietários, mas que ainda não gerou salários, pró-
-labores ou qualquer outra forma de remuneração aos proprietários por
mais de três meses. Ao contrário dos nascentes, os empreendedores novos
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
24
administram e são proprietários de um novo negócio que gerou salários,
pró-labores ou qualquer outra forma de remuneração aos proprietários por
mais de três e menos de 42 meses.
Já os empreendedores estabelecidos administram e são proprietários de
um negócio considerado como consolidado, que gerou salários, pró-labo-
res ou qualquer outra forma de remuneração aos proprietários por mais de
42 meses (3,5 anos). Tanto o empreendedor inicial quanto o estabelecido
podem se constituir por oportunidade ou por necessidade. Miller (1984)
destaca que existem três características principais no empreendedorismo: o
risk taking que corresponde à capacidade do indivíduo de incorrer em dívida
ou assumir compromissos, aproveitando oportunidades do mercado no inte-
resse de altos retornos; a proatividade que é a capacidade do sujeito de tomar
iniciativa, antecipando e buscando novas oportunidades e a inovação, que é
caracterizada como uma tendência de empreender e apoiar novas ideias, que
possam resultar em novos produtos, serviços ou processos. Percebe-se que a
pessoa empreendedora não pensa somente em ser independente, colocar em
prática uma ideia e ganhar dinheiro. Vencer as dificuldades para desenvolver
o negócio, concretizando os objetivos traçados ao longo do tempo são outros
aspectos presentes na mente dos empreendedores.
A maioria das pessoas acredita que as boas ideias são das pessoas que
as observam primeiro e que podem ser por sorte ou por acaso (DORNE-
LAS, 2007). Contudo, para os empreendedores, as boas ideias são adqui-
ridas a partir das observações que todos veem, mas que somente os visio-
nários conseguem transformá-las em oportunidades por meio de dados
e informações. Portanto, pode-se afirmar que o empreendedor é exímio
identificador de oportunidades e é uma pessoa curiosa e atenta, pois sabe
que suas chances melhoram quando seu conhecimento aumenta.
Uma das características mais realçadas de um empreendedor é a capa-
cidade de assumir riscos. Segundo Dornelas (2007), o verdadeiro empreen-
dedor é a pessoa que assume riscos calculados e consegue avaliar as chances
reais de sucesso. Aceitar riscos tem relação direta com desafios e, para a pes-
soa empreendedora, quanto maior for o desafio, mais estimulante será a sua
jornada empreendedora. Além disso, os empreendedores de sucesso são bons
líderes e formadores de equipe, pois selecionam pessoas chave para o traba-
lho e conseguem motivá-las para atingirem objetivos. Estes empreendedores
consideram o trabalho em equipe essencial para o sucesso e, por isso, buscam
priorizar a formação de suas equipes (DORNELAS, 2007).
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
25
Ter uma personalidade empreendedora é um pré-requisito fundamental
para a jornada, mas uma boa ideia e motivação não são as únicas ferramentas
para um projeto empreendedor de sucesso. A fim de identificar, apontar, sa-
nar ou corrigir os aspectos faltantes ou falhos, existem órgãos de apoio, que
podem nortear melhor o empreendedor com dúvidas.
2.4 Órgãos de apoio ao empreendedorismo no Brasil
Os órgãos de apoio ao empreendedorismo são aqueles que auxi-
liam o empreendedor em sua missão. Segundo Hisrich e Peters (2004),
instituem uma orientação para o empreendedor na condução de seu
empreendimento, dessa maneira, podendo minimizar ameaças que
porventura existam.
No Brasil existem diversos órgãos que visam fomentar a atividade
empreendedora. Maximiano (2006) aborda como órgãos e iniciativas cria-
dos para o apoio ao empreendedor, o SEBRAE, as fundações estaduais de
apoio à pesquisa, as incubadoras de novos negócios e as escolas superiores,
que têm oferecido cursos e outros tipos de programas sobre o empreende-
dorismo. Medeiros (2012) diz que o SEBRAE é um dos mais importantes,
preenchendo a lacuna de conhecimento de muitos futuros empresários,
enquanto que segundo Moraes e Souza (2012), na questão relativa aos
tipos de assessorias e auxílios considerados mais importantes na condução
dos negócios, o órgão ficou em terceiro lugar, atrás somente de pessoas que
conhecem o ramo e contadores. Munido de ideias, oportunidade e apoio,
resta ao empreendedor perguntar-se quais são os aspectos que mais facili-
tam ou dificultam o seu empreendimento.
2.5 Condições para empreender
Levando em consideração o relatório do GEM, edição 2013, pode-se
perceber algumas questões relacionadas às condições para empreender. São
aspectos limitantes e favoráveis ao empreendedorismo, como por exemplo,
as políticas governamentais que, conforme Teixeira (2002), são diretrizes,
princípios norteadores de ação do poder público, regras e procedimentos
para as relações entre poder público e sociedade, mediações entre atores
da sociedade e do Estado, sendo um processo dinâmico, com negociações,
pressões, mobilizações, alianças ou coalizões de interesses.
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
26
O apoio financeiro é a consolidação de programas de apoio à criação
de novos negócios com recursos de subvenção econômica, bolsas, inves-
timentos para empresas iniciantes inovadoras, provenientes de entidades
governamentais de apoio à inovação e ao empreendedorismo, entre outras
condições como educação e capacitação, normas culturais e sociais, acesso
ao mercado, percepção de oportunidades, nível de motivação e valoriza-
ção da inovação (DORNELAS, 2005). Segundo Degen (2009), os fatores
econômicos fundamentais de oportunidades para novos empreendimentos
são: fatores econômicos; desenvolvimentos tecnológicos; tendências de-
mográficas e mudanças regulatórias.
Dentre os pontos favoráveis, Dornelas (2005) destaca o apoio ao
empreendedorismo por intermédio de órgãos como SEBRAE, SENAI,
FINEP, fundações de amparo à pesquisa, CNPq, BNDES. Pode-se desta-
car também como favorável o aumento da capacidade de compra da po-
pulação nos últimos anos, juntamente com o crescente acesso à internet,
sendo este um ambiente extremamente favorável para o empreendedoris-
mo. Segundo Arruda (2013), as tecnologias que estão saturadas em nações
desenvolvidas ou as ideias facilmente implantáveis pelo e-commerce que
já são amplamente difundidas em outros países, encontram no Brasil um
mercado novo, que aumenta diariamente.
Por outro lado, um dos pontos limitadores do empreendedorismo é o que
diz respeito ao investimento inicial, normalmente bancado com economias
pessoais ou empréstimos de algum amigo ou membro da família. Porém, é
provável que um novo empreendimento necessite de mais capital para crescer.
Normalmente, os bancos se interessam em financiar bens de capital para quem
começa e tem garantias reais, porém não o custeio (BESSANT;TIDD, 2009).
Outro ponto desfavorável, segundo Dolabela (2003) é que muitas
instituições de ensino não trabalham o enfoque do empreendedorismo,
pois, segundo ele, educar implica em dialogar, despertar a rebeldia, a cria-
tividade, a força da inovação para construir um mundo melhor, da mesma
forma que Freire (2003) diz que se deve substituir a prática domesticadora
de educação para a prática libertadora de educação.
Complementando esta ideia, o autor Sela (2006) salienta que os mo-
delos educacionais vigentes nas instituições brasileiras não enfatizam a
formação de profissionais empreendedores, estando na verdade orientadas
para a ocupação de um posto de trabalho. Enfatiza-se a aquisição de conhe-
cimento e não o desenvolvimento de habilidades para o uso produtivo do
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
27
conhecimento. O GEM (2012) apresentou o comparativo das condições
de empreender entre o ano de 2002 e 2012, apresentando as percepções de
especialistas sobre as condições que afetam o empreendedorismo no Brasil,
conforme ilustrado na Figura 2.
Os fatores limitantes são visivelmente em maior quantidade do que os
favoráveis. As políticas públicas são o fator com maior pontuação negativa,
o que vem ao encontro da abordagem de Teixeira (2002).
Figura 2 - Condições para empreender no Brasil
segundo percepção dos especialistas
Fonte: GEM Brasil (2012, p. 145)
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
28
3 MÉTODO
O método de pesquisa utilizado possui abordagem qualitativa. A pes-
quisa qualitativa pode ser caracterizada como exploratória e os pesquisa-
dores a utilizam com a finalidade de abordar um assunto quando suas
variáveis e bases teóricas são desconhecidas (CRESWELL, 2007). Quanto
ao objetivo, a pesquisa se classifica como exploratória e descritiva, pois
investiga a temática e apresenta os resultados obtidos por descrição. A pes-
quisa exploratória é útil quando o responsável pelas decisões dispõe de
poucas informações, como no caso da identificação de práticas inovadoras
de produção e administração. A pesquisa descritiva em geral é estruturada
e criada para medir as características descritas em uma questão de pesquisa
(HAIR, et al., 2005).
Tendo em vista os critérios propostos por Vergara (2000), pode-se
classificar o tipo de pesquisa em relação a dois aspectos, quanto aos fins
e quanto aos meios. Quanto aos fins, trata-se de uma pesquisa descritiva.
Classifica-se como pesquisa descritiva porque há a busca de relações entre
as variáveis envolvidas, que no caso são: a evolução dos indicadores de em-
preendedorismo no Brasil. Quanto aos meios, a presente pesquisa se classi-
fica como pesquisa bibliográfica uma vez que utilizou material acessível ao
público em geral, como livros, artigos, dentre outros.
Gil (1991, p. 46) entende que a pesquisa descritiva “[...] têm como
objetivo primordial a descrição de características de determinada popula-
ção ou fenômeno, ou então, o estabelecimento de relações entre variáveis”.
O método de pesquisa utilizado é a pesquisa documental, pois segundo
Lima (2008, p. 57) é um método que viabiliza a realização de investigações
que envolvem períodos longos, na intenção de identificar e exemplificar
uma ou mais tendências no comportamento de um determinado fenôme-
no. O mesmo autor define pesquisa documental sendo “[...] uma das mais
importantes fontes de dados e informações, particularmente se for consi-
derado o caso de investigações cujo tema pressupõe a utilização de recursos
típicos de pesquisa ex-post-facto”.
A escolha pelo método de pesquisa justifica-se pela utilização dos re-
latórios do GEM, sendo a instituição investigada como a principal fonte
de dados. Por isso, também se considera que os dados tenham sido busca-
dos em fontes secundárias. Lima (2008) caracteriza a pesquisa documental
em três fontes de documentos: arquivos públicos, arquivos particulares e
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
29
fontes estatísticas de responsabilidade de órgãos particulares ou oficiais.
Assim, as fontes utilizadas no trabalho são consideradas de arquivos públi-
cos já que os relatórios do GEM estão disponíveis nos sites de instituições
como o SEBRAE e, também, de fontes estatísticas de responsabilidade de
órgãos particulares ou oficiais, pois tais dados estão também disponíveis
e regulamentados pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtivida-
de - IBQP. Na pesquisa bibliográfica, objetivou-se a busca por conceitos
de empreendedorismo sendo pesquisados livros, periódicos, teses, dentre
outros. Através do método de pesquisa documental, buscaram-se dados
nos relatórios do GEM, no período de 2001 a 2013, que evidenciassem a
evolução do empreendedorismo no Brasil.
4 RESULTADOS E ANÁLISE
A pesquisa acerca do Empreendedorismo no Brasil, realizada des-
de 2000 pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM), em parceria com
o Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBPQ) e o Centro
de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getúlio Vargas
(FGV), com o apoio do SEBRAE, revela uma importante evolução do em-
preendedorismo no País, demonstrando a importância econômica e social
do tema e a necessidade de ações governamentais e não governamentais
para sua consolidação.
Os relatórios do GEM se encontram em duas formatações a cada edi-
ção: o completo, que possui dados que descrevem desde a equipe de pes-
quisadores até os apêndices e anexos, e o executivo, que traz o resumo das
principais informações, sendo bem condensado se comparado com o com-
pleto. Para o desenvolvimento deste trabalho, foram utilizados os relatórios
completos que trazem as informações detalhadas, proporcionando maior
aprofundamento da pesquisa. Ao longo dos últimos treze anos, o relatório
foi sendo aprimorado. No Quadro 2, é possível verificar de forma objetiva
os temas e aprimoramentos metodológicos trabalhados desde 2001.
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
30
Ano Temas e aprimoramentos metodológicos
2001
Principais taxas
Condições de empreender
Motivação para empreender
Dados comparativos entre os países
Características dos empreendimentos
2002
Empreendedorismo de alto potencial de crescimento
Relação entre empreendedorismo e crescimento econômico dos países
Fontes de recursos para empreender
Investidores informais
2003
Contextualização detalhada a partir de pesquisas secundárias
Tópicos especiais: investidores em capital de risco e novos habitats do
empreendedorismo e a questão do gênero.
Proposição para a melhoria do empreendedorismo no Brasil
2004
Correlação entre empreendedorismo e a economia global
Caracterização dos grupos de países segundo renda per capita
Mentalidade empreendedora no Brasil
Empreendedorismo social
2005
Caracterização dos empreendedores estabelecidos
Detalhamento dos estudos comparativos com outros países
A inovação no empreendedorismo no Brasil
O negócio na composição da renda do empreendedor
Expectativa de geração de emprego e inserção internacional
Busca de orientação e aconselhamento pelo empreendedor
Resumos das atividades dos demais países participantes
2006
Cálculo do potencial de inovação dos empreendimentos
Identificação do empreendedorismo brasileiro
Políticas e programas educacionais voltados ao empreendedor
Descontinuidade dos negócios no Brasil
Implicações para formuladores de políticas públicas
(continua)
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
31
Ano Temas e aprimoramentos metodológicos
2007
Empreendedorismo brasileiro em perspectiva comparada
Financiamento do Empreendedorismo no Brasil
Aspectos socioculturais da atividade empreendedora no Brasil, sob a
perspectiva comparada
Acesso à informação e à tecnologia pelo empreendedor brasileiro
Razões para a descontinuidade dos negócios no Brasil
Empreendedores em série
Descrição de programas voltados ao empreendedorismo
2008
Absorção de inovação na sociedade brasileira
Redes de relacionamento e de informações do empreendedor
Intraempreendedorismo
Educação à capacitação para o empreendedorismo no Brasil
2009
Agrupamento dos países segundo o nível de desenvolvimento econômico,
competitividade e desenvolvimento global
Introdução de algumas mudanças no âmbito internacional, na forma de
abordagem da dinâmica
Empreendedora no país, especialmente em relação às atividades e
aspirações empreendedoras
2010 Características demográficas do empreendedor no Brasil
2011
Visão mais ampla com a inclusão de dados dos empreendedores
estabelecidos no que tange aos aspectos das variáveis sociodemográficas,
perfil empreendedor brasileiro, mentalidade
empreendedora e caraterísticas dos empreendimentos
2012
Busca de órgãos de apoio introduzidos na pesquisa
Os sonhos dos brasileiros também ganharam espaço na pesquisa
2013
O relatório sofreu mudança na ordem dos tópicos, mas os dados
pesquisados seguem os mesmos do ano anterior
Quadro 2 - Evolução da pesquisa GEM (2001-2013)
Fonte: Adaptado de GEM (2009)
(conclusão)
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
32
Percebe-se o desafio de compilar as informações sobre o empreende-
dorismo no país já que a cada ano foram sendo introduzidas novas aborda-
gens. A partir de 2010, o relatório começou a trazer as informações de acor-
do com as características demográficas do empreendedor brasileiro, o que
proporcionou aos pesquisadores dados de regiões específicas de interesse.
Já em 2011 foram introduzidos no relatório os dados dos empreendedo-
res estabelecidos, que até então eram mencionados de forma abrangente,
considerando que o foco até então era conhecer o processo de criação de
novos negócios, fenômeno que ajuda a explicar o processo de crescimento
e desenvolvimento de uma economia. Com a inclusão dos empreendedo-
res estabelecidos, também foi possível descrever a manutenção da atividade
econômica e a geração de emprego e renda.
Em 2012 o relatório começa a ganhar uma forma padrão, facilitan-
do os estudos comparativos de cada ano. Nesse ano especificamente duas
abordagens foram acrescentadas ao relatório, a primeira foi o sonho dos
brasileiros. Ao elencar os principais sonhos dos brasileiros, a prioridade é
viajar pelo Brasil, a segunda, a aquisição da casa própria e logo após, ter
seu próprio negócio. Nota-se que a atividade empreendedora como car-
reira é fundamental para o desenvolvimento do empreendedorismo, mas
também é importante que esta opção esteja relacionada ao empreendedo-
rismo por oportunidade e não por necessidade, considerando que 88,1%
das pessoas pesquisadas em 2012 consideram abrir um negócio uma opção
desejável de carreira.
A segunda abordagem introduzida no relatório do GEM em 2012
foram as informações sobre os órgãos de apoio, que demonstraram que
82,2% dos empreendedores não buscam auxílio destas associações, como,
por exemplo, do SEBRAE. Uma possível explicação para este índice alto
é que os empreendedores, em sua maioria (54%), mencionam possuir co-
nhecimento, habilidades e experiências necessárias para começar um novo
negócio (GEM, 2012). Na sua última edição, no ano de 2013, o relatório
sofreu basicamente uma mudança na ordem dos tópicos, mas os dados
pesquisados seguem os mesmos do ano anterior, ficando sua estrutura mais
simplificada conforme o Quadro 3.
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
33
1 EMPREENDEDORISMO NO BRASIL
Taxas Gerais
Empreendedores iniciais Empreendedores nascentes e novos
Empreendedores estabelecidos
Empreendedores por necessidade
Empreendedores por oportunidade
Taxas específicas de empreendedores segundo variáveis sociodemográficas
Empreendedores iniciais
Sexo, faixa etária, escolaridade, número de
familiares e renda
Empreendedores estabelecidos
2 PERFIL DOS EMPREENDEDORES BRASILEIROS
Empreendedores iniciais
Sexo, faixa etária, escolaridade, número de
familiares e renda
Empreendedores estabelecidos
3 CARACTERÍSTICAS DOS EMPREENDIMENTOS
Empreendedores iniciais
Falta de novidade nos produtos ou
serviços prestados
Existência de concorrência
Empreendedores estabelecidos
Número de empregados
Expectativa de geração de empregos nos
próximos 5 anos
Tempo de tecnologia
Faturamento
(continua)
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
34
4 MENTALIDADE EMPREENDEDORA
Conhecem pessoas que abriram um novo negócio nos últimos 2 anos
Oportunidade de um novo negócio nos próximos 5 meses
Possuem conhecimento, habilidades e experiências necessárias para começar um
novo negócio
Medo do fracasso não impediria de ir em frente
Padrão de vida
Novo negócio como padrão de vida desejável de carreira
Status e respeito perante a sociedade
Divulgação de novos negócios bem-sucedidos na mídia
Desejos
5 BUSCA DE ÓRGÃOS DE APOIO
Procura por órgãos de apoio
Órgãos de apoio que se destacam
6 CONDIÇÕES PARA EMPREENDER NO PAÍS
Fatores favoráveis
Fatores passíveis de melhorias
Avaliação positiva
Avaliação negativa
Quadro 3 - Estrutura simplificada do relatório GEM Brasil em 2013
Fonte: Adaptado de GEM (2013)
Todas as informações que constam na estrutura simplificada do rela-
tório em 2013 possuem informações sobre o Brasil e divididas por regiões.
Entretanto, as informações particulares de cada região não foram foco des-
te estudo. Tratando-se do bloco de empreendedorismo no Brasil, é possível
fazer uma linha evolutiva desde 2002 a 2013 sobre a atividade empreende-
dora, segundo o estágio do empreendimento, conforme Figura 3.
(conclusão)
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
35
Figura 3 - Evolução da atividade empreendedora
segundo o estágio do empreendimento
Fonte: Adaptado de GEM (2002-2013)
A população economicamente ativa (TEA) no Brasil é estimada em
123 milhões de indivíduos correspondendo às idades de 18 a 64 anos.
Tem-se que 21 milhões (17,3%) são empreendedores iniciais e 19 milhões
(15,4%) estabelecidos. Dentre o total de empreendedores no país, pode-
-se, ainda, categorizá-los por oportunidade e por necessidade conforme a
Figura 4.
Figura 4 - Evolução da atividade empreendedora
segundo a oportunidade e necessidade
Fonte: Adaptado de GEM (2002-2013)
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
36
Percebeu-se que em 2002 a incidência de empreendedores por neces-
sidade era maior que por oportunidade e, ao longo dos anos, o cenário se
modificou; o brasileiro hoje empreende por oportunidade e não por neces-
sidade. Esta tendência de aumento, que se observa nas variáveis, indica a
vitalidade da atividade no Brasil, onde, mesmo em um contexto de intenso
crescimento do emprego formal, o empreendedorismo por oportunidade
continua sendo uma alternativa para milhões de brasileiros.
De acordo com a pesquisa do GEM, no período de 2002 a 2013,
a faixa etária com a maior taxa de empreendedores é a de 25 a 34 anos
(21,9%), seguida pela faixa etária de 35 a 44 anos (19,9%). No grupo
empreendedor inicial, estas faixas etárias representam um percentual de
33,1% e 25,8% do universo, respectivamente. Essas taxas são diferentes
no caso do empreendedor estabelecido. No Brasil, as maiores incidências
de empreendedores estabelecidos ocorrem na faixa entre 45 a 54 anos
(24,3%), seguida das faixas de 35-44 anos e 55-64 anos, ambas acima de
18,5%. Outro dado da pesquisa que merece destaque se refere à partici-
pação feminina nos empreendimentos iniciais no Brasil (participação de
52,2%). O empreendedorismo vem sendo uma opção de carreira e renda
para as mulheres brasileiras.
Ao se tratar de características dos empreendimentos, alguns dados
chamam a atenção como, por exemplo, no ano de 2013, quando a falta
de novidade em relação aos produtos ou serviços ofertados apresentou um
percentual de 99%. Verifica-se que os brasileiros são empreendedores, mas
lhes falta serem inovadores e dificilmente conseguirão alcançar índices sa-
tisfatórios neste fator com a utilização de tecnologia ou processo datando
de mais de 5 anos (99,9%). Quanto à geração de emprego, mais de 60%
não possui empregados e mais 55% não têm a expectativa de gerar qualquer
emprego nos próximos 5 anos, o que pode dificultar o desenvolvimento
econômico esperado. De modo geral, pode-se dizer que os empreendedores
possuem baixo conteúdo tecnológico, com pequenas barreiras voltadas ao
mercado interno e que os negócios são geridos pelo próprio proprietário.
Na abordagem das condições para empreender no país em 2013, veri-
ficou-se três pontos desfavoráveis e três pontos favoráveis, também encon-
trados, com grande frequência desde 2001. Dentre os fatores desfavorá-
veis, estão as políticas governamentais, que aparecem com um percentual
de 80,2% no que tangem aos impostos, às burocracias e à complexidade
dos processos, seguidos de apoio financeiro e educação para capacitação.
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
37
Em contrapartida, os fatores favoráveis são as normas culturais, acesso
ao mercado e políticas governamentais referentes às leis e estruturas para
micro e pequenas empresas. Percebe-se que este último fator pode estar
refletindo a entrada em vigor da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa,
em 2007, e da Lei do Empreendedor Individual, em 2008, enquanto leis
decisivas para impulsionar o empreendedorismo no Brasil.
5 CONCLUSÃO
No momento em que as atenções estão voltadas para as mudanças
econômicas e sociais no mundo, é fundamental destacar o papel dos em-
preendedores brasileiros neste contexto. A economia dita as regras de de-
senvolvimento e o panorama, extremamente positivo do empreendedoris-
mo no país, reforça a necessidade de se estabelecer uma política pública
abrangente e eficaz para os pequenos negócios, grandes geradores de renda
e ocupação.
O IBQP destacou-se no que se refere à pesquisa sobre empreendedo-
rismo. Este órgão elabora anualmente um relatório com informações sobre
empreendedorismo nacional, consideradas relevantes aos diversos setores
da economia e sociedade. O GEM vem consolidando-se como um dos
mais importantes estudos acerca do empreendedorismo no país, tendo a
metodologia de pesquisa aperfeiçoada a cada ano, com um novo olhar para
o fenômeno empreendedor.
O GEM serve como uma ferramenta de busca sobre empreendedo-
rismo já que apresenta dados sobre a evolução do empreendedorismo nos
últimos anos, principalmente as informações relacionadas aos empreen-
dedores inicias. Tendo como base este cenário, o trabalho procurou evi-
denciar dados dos relatórios do GEM, no período de 2001 a 2013, que
demonstrassem a evolução do empreendedorismo no Brasil, atingindo seu
objetivo ao final da investigação.
O desenvolvimento da pesquisa mostrou que, ao longo dos anos, os
cenários foram favoráveis ao empreendedorismo no Brasil. Com o aumen-
to da taxa de empreendedores iniciais, estima-se que em 2013, 40 milhões
de brasileiros, entre 18 e 64 anos estejam envolvidos com a atividade em-
preendedora. Além disso, verificou-se, também, o aumento da proporção
de empreendedores por oportunidade, o que reflete uma decisão mais pla-
nejada em relação à opção pelo empreendedorismo, aumentando a proba-
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
38
bilidade de sucesso do negócio. O estudo revelou, também, que a propor-
ção de mulheres empreendedoras superou a proporção de homens.
Como oportunidades de melhorias, encontram-se os baixos percen-
tuais de novidade nos produtos e serviços, a tecnologia obsoleta, além da
baixa perspectiva de geração de empregos nos próximos cinco anos. Apesar
disso, o empreendedorismo desfruta de uma excelente imagem no país,
devido à proporção de pessoas que consideram o empreendedorismo como
uma opção de carreira desejada. Entretanto, para que seja possível desen-
volver ainda mais a prática empreendedora no país, existe a necessidade
permanente de políticas governamentais voltadas ao estímulo do empreen-
dedorismo e para a criação de um ambiente favorável aos pequenos negó-
cios, que influencia no desenvolvimento econômico e social do Brasil, bem
como atenção às questões como inovação e tecnologia.
Verificou-se também, através da pesquisa, que o GEM vem ganhando
uma padronização na sua linha de pesquisa e redação do relatório desde
2012, o que gerou um grande desafio ao pesquisar informações que de-
monstrem um determinado cenário ao longo dos últimos anos. Acredi-
ta-se que, se o relatório mantiver a estrutura de 2013, será mais simples e
objetivo desenvolver pesquisas a partir desta fonte, não descartando novas
informações, que poderiam ser agregadas em um capítulo específico para
novos dados.
Dentre as limitações desta pesquisa, destacam-se o fato do estudo ter
sido realizado em apenas uma fonte de dados, o IBQP, e de estar limitado à
apenas aos relatórios do GEM. Ressalta-se a existência de diferentes fontes
de dados sobre empreendedorismo, como por exemplo, o SEBRAE.
Sugere-se que sejam realizadas novas pesquisas que visem verificar o
avanço na área de pesquisa sobre o empreendedorismo nos próximos anos.
Sugere-se, ainda, a realização de pesquisas que confrontem os resultados
obtidos nesta, com explorações, investigações do mesmo gênero, embasa-
das em outras fontes de dados. A partir dos resultados da pesquisa realiza-
da neste estudo, espera-se que este trabalho sirva de subsídio para outros
pesquisadores, dada à relevância do empreendedorismo no cenário atual.
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
39
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43
ANÁLISE COMPREENSIVA DO
EMPREENDEDORISMO DE
BASE TECNOLÓGICA1
Deise Natalia Simas Land
Dusan Schreiber
1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, com os avanços da ciência e da tecnologia, percebe-
-se uma modificação na forma de empreender. A liberação comercial entre
países tem favorecido a criação de um ambiente cada vez mais competitivo.
Várias empresas surgiram de “garagem”, como a Microsoft, Apple,
Google e se transformaram em grandes impérios, mundialmente. Entre-
tanto, esta realidade parece muito distante da realidade brasileira. Apesar
dos noticiários divulgarem que o Brasil está na “moda” e destacarem que sua
população é, naturalmente, empreendedora, nota-se uma banalização dos
termos empreender e startups, o que pode resultar em uma interpretação
equivocada do quadro de facilidades e estímulos para o empreendedoris-
mo, podendo não representar a situação real. As dificuldades variam desde
a infraestrutura oferecida como, por exemplo, a qualidade da internet até
as dificuldades de acesso ao investimento de capital e as políticas públicas
inadequadas, o que repercute diretamente no seu mercado interno.
Empreender não é algo novo, pois faz parte da evolução humana desde
o início dos tempos, como fonte de sobrevivência. Entretanto, nos últimos
anos, em relação ao empreendedorismo, constata-se o esforço dos agentes
governamentais para estimular e consolidar as iniciativas empreendedoras,
com base nas evidências empíricas que comprovam a contribuição relevante
das empresas de pequeno porte para o desenvolvimento econômico e social.
Visando obter a compreensão das variáveis que influenciam o surgimento
1
Artigo publicado em anais do SIMPOI, FGV, 2015.
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
44
e a consolidação do empreendedorismo, foi realizada, ao longo das últimas
duas décadas, uma série de estudos, contribuindo para a concepção de po-
líticas públicas e de incentivos à iniciativa empreendedora (SEC2
, 2011).
Fazendo um recorte dentro do tema do empreendedorismo, este estu-
do se propõe investigar e caracterizar as variáveis que moldam o contexto
do empreendedorismo de base tecnológica no Brasil. A pergunta de pes-
quisa que norteou o desenvolvimento do estudo foi: “Qual é a percepção
dos empreendedores de projetos de base tecnológica acerca das condições
de mercado no qual estão inseridos?” Com este objetivo, a revisão teórica
abordou o empreendedorismo no Brasil, com destaque ao impacto da sua
tardia industrialização, a desconsideração do mercado externo e o pou-
co investimento em pesquisas e desenvolvimento, ao contrário dos países
desenvolvidos que introduziram a base conceitual acerca do empreende-
dorismo de base tecnológica. Para esta pesquisa, o empreendedor de base
tecnológica é quem constitui uma empresa no segmento de Tecnologia de
informação e comunicação – TIC, em virtude do conhecimento técnico,
afinidade e/ou da experiência prévia.
Esta pesquisa tem por objetivo geral identificar as variáveis que in-
fluenciam o surgimento e a consolidação das startups de base tecnológica
no mercado. Para cumprir com o objetivo geral deste trabalho, foi neces-
sário atingir alguns objetivos específicos, a saber: (1) apresentar a base con-
ceitual do empreendedorismo de base tecnológica; (2) identificar e analisar
o cenário social e econômico no qual as empresas estão inseridas; (3) anali-
sar o impacto de empresas de base tecnológica nas estruturas competitivas
e mercadológicas.
A fim de responder o problema de pesquisa, optou-se pela metodo-
logia de pesquisa exploratória, desenvolvida por meio de estudo de casos
múltiplos, com abordagem qualitativa, por meio da utilização de entrevista
semiestruturada, como instrumento de coleta de dados.
O trabalho inicia com a apresentação de bases teóricas que nortearam
o desenvolvimento da pesquisa, principalmente na construção do instru-
mento de pesquisa e a análise de dados empíricos. O método é detalhado
na sequência, bem como os resultados, analisados à luz das vertentes teóri-
cas revistas. O trabalho é encerrado com as considerações finais.
2
Secretaria da Economia Criativa.
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
45
2 EMPREENDEDORISMO DE BASE TECNOLÓGICA
Conforme o relatório do Global Entrepreneurship Monitor – GEM
(2012), o empreendedorismo é considerado um processo que evolui ao
longo dos tempos, sendo um dos fatores originários para a produção de
riqueza, contribuindo para a melhora das condições de vida da população.
Por esse motivo, é possível afirmar que o surgimento e a diversificação de
novas empresas são importantes fatores para o desenvolvimento socioeco-
nômico de uma região. A consolidação de um número maior de empresas
proporciona uma melhor distribuição de renda, novas oportunidades de
negócios, com a diversificação da economia e melhor aproveitamento dos
recursos humanos e naturais (SEBRAE/SP, 2008).
Souza (2001) afirma que o empreendedor traz consigo alguns traços
de personalidade, tais como: motivação e otimismo, disposição para tra-
balhar com afinco, entendimento das experiências fracassadas como opor-
tunidades de aprendizado e melhorias. Dornelas (2010, p. 76) apresenta
o seguinte ponto de vista “[...] raramente, o empreendedorismo é uma
proposta de enriquecimento rápido. Pelo contrário, é uma proposta de
renovação contínua, pois os empreendedores nunca ficam satisfeitos com a
natureza de sua oportunidade”.
Com base neste conceito, Dornelas (2010) salienta que os empre-
endedores têm a oportunidade de solucionar algum problema específico.
Contudo, de forma predominante, o empreendedorismo brasileiro é, ain-
da, motivado pela necessidade e pelo baixo nível de inovação. Esta cons-
tatação se relaciona à maioria das empresas e das organizações de todos os
segmentos (NOGUEIRA, 2007).
Em síntese, Domingues (2010) classifica empreendedores em duas
categorias: (i) os empreendedores motivados pela necessidade, em que as
pessoas foram excluídas do mercado formal de trabalho e buscam uma
alternativa de renda; (ii) os empreendedores motivados por oportunidade,
que exploram boas ideias e as transformam em negócios rentáveis.
Para Tidd e Bessant (2009) e Hisrich e Peters (2004), a prática em-
preendedora está relacionada ao histórico familiar. Na visão dos autores, o
ambiente familiar exerce papel coadjuvante sobre o indivíduo no ato de em-
preender, com grande poder de persuasão, concluindo que a grande maioria
dos empreendedores possui ao menos um familiar que atua como autônomo
ou profissional liberal, que serve como modelo oferecendo instrução e apoio.
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
46
No ponto de vista de Bhidé (2002), a maioria dos negócios está sur-
gindo através do autofinanciamento dos empreendedores ou oriundo de
amigos ou parentes. No entanto, as características do plano de negócios
são, normalmente, diferentes dos exigidos por investidores profissionais,
de mercado. Isso, na prática, pode significar o engessamento do negócio,
abrindo mão da flexibilidade que o negócio precisa ter para se adaptar à
complexidade do mercado.
Para Dornelas (2010), o novo modelo de empreendedorismo, capaz
de comercializar ideias, principalmente de base tecnológica, resulta no
modelo de startups, que se desenvolvem com agilidade, com potencial de
se transformar em uma empresa com alto nível de crescimento. Alguns
exemplos bem-sucedidos deste modelo de negócio, consideradas verdadei-
ras lendas do empreendedorismo, são: Google, Microsoft, Amazon e Face-
book. As startups têm em comum, além de uma equipe multidisciplinar, a
capacidade de explorar oportunidades enquanto que outras organizações
as percebem apenas como confusão e caos.
Gonzalez, Girardi e Segatto (2009) corroboram com esta vertente
teórica ao afirmar que a maioria das empresas está sendo criada a partir
de tecnologias desenvolvidas principalmente no interior da própria orga-
nização. Entretanto, poucas empresas de base tecnológica conseguem se
tornar superstars, por atenderem a um nicho de mercado muito específico
“[...] com sinergias não óbvias ou grandiosas” em outros mercados. Para os
autores, esta estratégia não se sustenta em face da acirrada competitividade
no mercado, podendo comprometer, inclusive, a sobrevivência da empresa
em longo prazo (TIDD; BESSANT, 2009, p. 300).
O domínio da tecnologia de ponta é fundamental para o desenvol-
vimento econômico de uma nação responsável pela capacidade de gerar
riquezas, com a alocação ótima e racional de recursos disponíveis (SAN-
TOS, 1985; FERRO; TORKOMIAM,1988). O fortalecimento da econo-
mia em países desenvolvidos é marcado pela presença de um “[...] parque
industrial organizado e competitivo, um setor de serviços dinâmico e uma
agricultura de alta produtividade” (SANTOS, 1985, p. 27). Necessaria-
mente, não significa que as nações devem buscar o alto nível de desenvol-
vimento nos três setores, mas que cada um dos citados segmentos possui
uma representatividade importante em termos tecnológicos e produtivos.
Com base em resultados de seus estudos, Marcovitch, Santos e Dutra
(1986) e Santos (1984) caracterizam as empresas de tecnologia como em-
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
47
preendimentos criados para fabricar produtos ou serviços que utilizam alto
conteúdo tecnológico, operantes com processos, produtos ou serviços com
tecnologia nova ou inovadora, resultantes de investimentos em pesquisa
tecnológica decorrentes dos setores de informática, biotecnologia, robóti-
ca, genética, microeletrônica, aeroespacial, semicondutores, com produtos
ou processos comerciáveis.
Santos (1985) também ressalta a importância de um sólido parque
industrial bem desenvolvido e ativo, o que é apontado como o propulsor
dos países desenvolvidos como EUA, Japão, França, Alemanha, entre ou-
tros. Nesse sentido, destacam-se as empresas do setor tradicional, com as
atividades voltadas para a siderurgia, mineração e tecelagem. A indústria
tradicional é definida pela Anprotec (2002, p. 47) como aquela que faz uso
de “[...] tecnologias maduras em seu processo produtivo”.
Em países desenvolvidos, investimentos em pesquisas científicas e tec-
nológicas nos setores tradicionais repercutiram em avanços nestas áreas. Os
frutos dos investimentos nas últimas décadas dinamizaram a capacidade de
produção nacional que, com os avanços da ciência e da tecnologia, redese-
nharam os cenários dos setores industriais como, por exemplo, o setor auto-
mobilístico, plástico e naval. Com o advento de novas empresas industriais,
surgiram novas empresas de base tecnológica, viabilizadas a partir do desen-
volvimento da pesquisa cientifica e tecnológica (SANTOS, 1984; 1985).
Exemplificando, Santos (1985) diz que o Vale do Silício desenvol-
veu-se e tornou-se referência com o advento da microeletrônica aplicada
à indústria. As aplicações dos circuitos integrados gravados em chips de
silício permitiram baixar os custos e o tamanho dos computadores. Na
telecomunicação e na biotecnologia, os avanços criaram oportunidades de
exploração industrial e comercial. O êxito do Vale do Silício aconteceu
pela transferência imediata de tecnologia resultante das pesquisas, viabi-
lizado pelo forte relacionamento de empresas de alta tecnologia com as
grandes universidades próximas e com as instituições de pesquisa tecnoló-
gica existentes nas imediações.
Nogueira (2007) constata que os baixos índices de empreendedores
tecnológicos, a partir de tecnologia nacional, podem ser consequência de
um modelo mental que caracteriza a cultura empreendedora brasileira,
cujas origens se iniciam na época do descobrimento do Brasil, devido às
condições comerciais impostas ao Brasil como “[...] empresa mercantil para
gerar a acumulação primitiva do capital português. A função da colônia era
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
48
produzir bens primários a baixo custo para comercialização na Europa”
(NOGUEIRA, 2007, p. 252). No período da colonização, não houve pre-
ocupação em desenvolver o progresso da nação por meio da criação de ins-
tituições adequadas ao território. Em vez disso, os parâmetros indicativos
de produtividade não se traduziam em descobrimentos de novas técnicas
de trabalho, que, ao contrário, era centralizado em superexploração e con-
trole rígido da força de trabalho escravizada. Segundo Nogueira (2007),
os brasileiros ainda não estão em busca da sua independência tecnológica.
O cenário do empreendedorismo no Brasil teve no início um movi-
mento bastante peculiar, com a economia predominantemente agrícola. Aos
poucos, as iniciativas e as ações empreendedoras deslocaram-se do campo
para as cidades. No entanto, o modelo do empreendedorismo, que nasceu
em campo, foi incorporado na forma de gestão da produção industrial no
cenário brasileiro. Mais tarde, em período histórico ainda marcado pelo uso
de mão de obra escravizada, o sistema econômico e social, que era governado
por interesses políticos e baseado no Coronelismo, inibiam o surgimento e
consolidação da iniciativa empreendedora, baseada na introdução de novas
técnicas de fabricação. Essas variáveis somadas a outros fatores sociais arcai-
cos significaram atraso de 100 anos no processo de industrialização e desen-
volvimento do Brasil (NOGUEIRA, 2007; BNDES, 1996).
Enquanto isso, em países desenvolvidos, não faltavam investidores (pri-
vados e públicos) dispostos a estimular as iniciativas empreendedoras, nota-
damente decorrentes das atividades de pesquisa e desenvolvimento de novas
tecnologias. Apesar dos estímulos proporcionados pelos agentes públicos
para a pesquisa e desenvolvimento, muitos estudiosos identificam o governo
como inibidor do empreendedorismo tecnológico. Day (1999, p. 98) afirma:
“[...] e não como uma solução, ao aprimoramento das capacidades tecnoló-
gicas de uma nação, com seu poder de taxar, regular e, sob outros aspectos,
onerar as inovações a cada passo”. Apesar da constatação de entraves que o
governo impõe à atividade empreendedora, Day (1999) se posiciona favora-
velmente às atitudes governamentais, destacando que muitas das tecnologias
disponíveis no mercado foram viabilizadas graças aos aportes financeiros go-
vernamentais que disponibilizaram o capital de investimento e a estrutura
física como os Institutos de Pesquisa, interpretando, desta forma, o papel do
governo como primordial e ditador do ritmo da inovação tecnológica.
Day (1999) discorre sobre alguns pontos que governantes podem
melhorar a fim de criar ambiente facilitador para o surgimento de novas
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
49
empresas de base tecnológica: (i) infraestrutura institucional: através de
normas regulamentares para o estímulo à propriedade intelectual para pro-
teger e estimular novas invenções e, em conjunto, adotar o uso de inova-
ções tecnológicas no sistema educacional, qualificando a mão de obra para
adoção rápida de novas tecnologias e sistema de financiamentos acessível a
todos os portes de empresas; (ii) infraestrutura de pesquisa: investimento
em pesquisa básica nos âmbitos da física, eletrônica, microbiologia, sof-
twares, criando mecanismos para reter os resultados obtidos, assim como
as invenções; (iii) tecnologia militar (pesados investimentos pelos EUA
como na União Soviética relacionados à defesa militar, aviação espacial
e nas comunicações resultaram em grandes descobertas como a internet,
modificando inclusive, o estilo de vida das pessoas); (iv) financiamento:
assegurando o acesso ao capital de baixo custo.
Segundo Schwartzman (1993), os países envolvidos em conflito mi-
litar investiram na associação destes três itens: (i) pesquisas e desenvolvi-
mento militar, (ii) pesquisas básicas e engenharia, (iii) tecnologia indus-
trial, repercutindo em avanços do conhecimento científico e tecnológico,
em novas e potenciais descobertas em termos militares, mas também em
vantagem econômica perante países que não possuem tais inovações. En-
tretanto, os avanços precisam ser submetidos às medidas governamentais,
pois poderiam fugir do controle. Com o fim da Guerra Fria na década
de1990, o governo direciona seu posicionamento para outras estratégias;
os países estão diminuindo seus investimentos em aparatos bélicos, con-
sequentemente, alterando a tradicional associação dos três itens citados
anteriormente. Os investimentos em avanços estão tomando novos ru-
mos, sendo investidos em saúde, meio ambiente e energia. Em decorrência
disso, conforme Schwartzman (1993, p. 17): “A inovação científica neste
novo contexto predominantemente civil tenderá a se orientar, sobretudo,
pelo mercado e por demandas sociais de curto prazo e não mais pelas prio-
ridades governamentais”.
Ainda para Schwartzman (1993), em meados a década de 1970, perí-
odo em que estava instalada a Ditadura Militar no Brasil, o país registrou
um aumento nos índices do produto interno bruto (PIB), período conhe-
cido como “milagre econômico” resultado de investimentos em infraestru-
tura no segmento industrial, siderurgia e energia. As consequências desses
avanços se refletiram nos anos seguintes, uma vez que foram impulsiona-
dos com capital estrangeiro junto ao Fundo Monetário Nacional (FMI).
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
50
A dívida externa registrou aumento de US$ 4 bilhões para US$ 12 bilhões
entre os anos de 1968 e 1973, desequilibrando inclusive a balança comer-
cial, já que os credores internacionais acreditavam que o Brasil não seria
capaz de honrar com suas dívidas. Internamente, o país atravessou uma
forte crise econômico-financeira, registrando altos índices inflacionários e
instabilidade da moeda corrente.
Para Schwartzman (1993), a crise do Brasil, entre as décadas de 1960
e 1980, afetou os setores de Ciência e Tecnologia em longo prazo, com a
redução de recursos para a maioria dos programas existentes, diminuindo
as perspectivas para o financiamento de novos projetos, mesmo de projetos
firmados em compromissos internacionais. Esta situação resultou no atra-
so em avanços tecnológicos na comparação com os países desenvolvidos.
Atualmente, as oportunidades de negócios estão, na sua maioria, re-
lacionadas com as atividades exercidas no dia a dia, com o conhecimento
individual do empreendedor, respaldado no network que possuem e com
as pessoas com as quais se relacionam. Segundo GEM (2012), os índices
de empreendedorismo no Brasil não são maiores devido à falta de políti-
cas governamentais consistentes e sustentáveis, à elevada carga tributária
brasileira e ao excesso de burocracia que consome recursos como tempo
e dinheiro, aumentando o custo de formalização de empresas nascentes
e restringindo suas condições de competitividade. Outro fator limitante,
principalmente para o empreendedorismo inicial (com até três meses de
existência), é a falta de recursos financeiros, pois a maioria dos empreende-
dores não atende às exigências bancárias para a concessão de financiamen-
tos (GEM, 2012).
3 STARTUPS
O século XXI é conhecido como a sociedade do conhecimento. A eco-
nomia criativa é destacada por muitos autores como a revolução do sistema
social, econômico e cultural, por meio do acesso à educação, motivados
pela globalização e evoluções tecnológicas, repercutindo em novas formas
de gestão dos recursos diante de incertezas do mercado (HANSON, 2012).
Com as transformações, decorrente da globalização, impulsionada
pelos avanços científicos, novas descobertas são rapidamente introduzidas
no mercado através da criação de novas organizações. O ritmo acelerado
que caracteriza o mercado atual, em especial, de tecnologia, intensifica a
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
51
inovação. Este movimento é considerado, por muitos estudiosos, como
tecnologia emergente, representando um alto potencial de transformação
em setores inteiros, diminuindo seu período de permanência no merca-
do, tornando-a rapidamente obsoleta (FERRO; TORKOMIAM, 1988;
TIDD; BESSANT, 2009; DAY, 1999).
A inovação tecnológica estimula o aparecimento de novas necessida-
des de consumo. Este processo tem origem na aplicação da invenção do
seu processo ou na introdução de novos procedimentos em processos ou
produtos existentes, sendo resultado de uma “[...] atividade de pesquisa
e desenvolvimento, ou da experiência e da habilidade prática de alguém”
(MARCOVITCH; SANTOS; DUTRA, 1986, p. 11). A inovação tecno-
lógica ou tecnologia emergente, “[...] possui o potencial de criar um novo
segmento, ou transformar um já existente” (DAY, 1999, p. 18). Uma forte
característica da tecnologia emergente, por estar em fase inicial da pesqui-
sa, ou seja, do seu desenvolvimento, refere-se às expectativas de modifica-
ção de estruturas competitivas, o que, no entanto, dificulta a avaliação do
seu potencial de mercado (DAY, 1999).
Com advento dos computadores móveis, bem como de tablets e smar-
tphones, “[...] facultou-se o acesso aos sistemas de informações via internet,
equipados com sistemas operacionais sofisticados, e os aplicativos ganharam
mais importância do que o software de caixa” (EXAME, 2014, p. 40), pois
pela rapidez das novas formas e dos novos métodos de executar atividades
corriqueiras, possibilitam seu desenvolvimento e a introdução no merca-
do. Estes novos modelos de negócios são considerados como a evolução do
empreendedorismo, as Startups, empresas recém-criadas, ou ainda em fase
inicial de estruturação, surgem com um produto promissor em um modelo
de negócio repetível e escalável, porém de alto risco (SILVA et al., 2008).
Modelo de negócio repetível pode ser definido como aquele que tem
a capacidade de entregar o mesmo produto ou serviço novamente, sem
precisar desenvolver novas customizações ou alterações individuais ou sem
a necessidade de criar novas estruturas. Ser escalável significa ter a capaci-
dade de entregar uma ou várias unidades do produto ou serviço, indepen-
dentemente da demanda, sem que isso influencie no modelo de negócio,
ou seja, facultando alcançar margem de lucro cada vez maior, gerando e
acumulando riquezas, a custos cada vez menores (GITAHY, 2010).
A crise econômica mundial do ano de 2008 impulsionou as Startups
como alternativa ao trabalho convencional, caracterizando-se pela melhor
Empreendedorismo e Ação Empreendedora
52
qualidade de vida para o empreendedor (THE ECONOMIST, 2014). Na
visão de Gaspar (2008), os empresários, especialmente os mais jovens, con-
sideram o investimento em uma Startup como uma interseção da ciência e
da arte. Os padrões de repetição do sucesso e do fracasso já conquistados por
outros empreendedores em startups orientam os novos investidores, podendo
aumentar drasticamente suas chances de inovar, através da socialização e do
conhecimento compartilhado. Contudo, apesar da janela de oportunidades
por meio deste modelo de negócios ter sido divulgada com mais intensidade
somente nos últimos 2 a 3 anos, o número de novos empreendedores tecno-
lógicos cresce exponencialmente (MARMER et al., 2012).
No Brasil, os índices de Empreendedorismo Tecnológico ou Startup
de base tecnológica, têm sido cada vez maiores, o que pode ser explicado
pela redução dos custos de criação e inicialização deste tipo de negócio,
bem como o fato de serem facilmente monetizáveis, de baixo custo de ma-
nutenção e distribuição. Representam expectativas de geração lucros acima
do mercado tradicional, o que se justifica pelo modelo de negócio espe-
cífico e peculiar. Como as Startups de base tecnológica são organizações
destinadas a criar e desenvolver soluções para necessidades específicas de
um nicho de mercado, com necessidades ainda não atendidas ou atendidas
inadequadamente, as Startups de base tecnológica iniciam suas atividades
com um protótipo ou produto mínimo viável, a fim de validar sua ideia e
atrair aportes milionários de investidores privados ou públicos (MARMER
et al., 2012; SILVA et al., 2008; HARTMANN, 2013; XAVIER; CAN-
CELLIER, 2008; ADMINISTRADORES, 2014; ABSTARTUP, 2014).
Para o Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas – SE-
BRAE (SEBRAE/RS, 2008), Startups são empresas nascentes, que querem
validar sua ideia inovadora de produto ou modelo de negócio inovador
junto ao mercado. Neste estágio inicial, considera-se de fundamental im-
portância a realização de planejamento prévio, pautado em definições es-
truturantes tais como o posicionamento estratégico, a construção de um
protótipo, o dimensionamento da produção para viabilizar a comerciali-
zação do produto em escala comercial bem como o estabelecimento de
parcerias com clientes, fornecedores e financiadores do projeto.
Para as Nações Unidas (UNCTAD, 2010), pode-se potencializar o
empreendedorismo criativo através da união de esforços no desenvolvi-
mento de políticas públicas com decisões estratégicas, respaldando o de-
senvolvimento das comunidades regionais e locais, especialmente relacio-
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nadas à educação e identidade cultural. Por meio de políticas cruzadas,
devem-se direcionar os esforços para a criação de uma conexão criativa,
capaz de atrair potenciais investidores, desenvolvendo habilidades empre-
endedoras, melhorando o acesso à infraestrutura de qualidade e modernas
tecnologias. O empreendedorismo criativo “[...] certamente resultará em
maiores níveis de geração de emprego, maiores oportunidades de forta-
lecimento das capacidades de inovação e alta qualidade de vida social e
cultural daqueles países” (UNCTAD, 2010, p. 25).
Assim como vem acontecendo em empreendimentos tradicionais,
empreendimentos criativos necessitam de recursos financeiros disponíveis
para dar continuidade às suas atividades e se consolidar no mercado. No
entanto, o que é possível constatar é que o acesso ao crédito para empre-
endedores criativos está restrito aos editais públicos de fomento, uma vez
que instituições financeiras públicas e privadas carecem de elementos para
avaliar um empreendimento de base tecnológica, orientando o processo
de concessão de crédito com base nos critérios aplicados aos tomadores de
créditos atuantes do setor tradicional, dificultando o acesso ao crédito para
esses novos empreendedores (SEC, 2011).
Para a Secretaria da Economia Criativa – SEC (2011) no Brasil, esta
dificuldade acontece, porque estudos sobre a economia criativa nacional
são restritos às pesquisas locais e pontuais, sendo insuficientes para análise
e compreensão global de suas características potenciais, impedindo uma
melhor avaliação do impacto gerado na economia brasileira e dificultando
o atendimento das exigências do mercado financeiro formal. Apesar de
existirem alguns indicadores, estes estudos são, na sua maioria, realizados a
partir de dados secundários, impedindo o Governo de tomar conhecimen-
to acerca de oportunidades que, de outra forma, poderiam ser reforçadas e
estimuladas por meio de políticas públicas consistentes.
4 MÉTODO
Em alinhamento com o objetivo do estudo, os autores optaram pelo
estudo de caso múltiplo e pela abordagem qualitativa, com a coleta de
dados por meio de entrevistas semiestruturadas, levantamento documental
e observação não participante de forma a atender a triangulação de dados,
conforme recomenda Yin (2005). O trabalho pode ser considerado de na-
tureza aplicada e, segundo os objetivos, descritivo e exploratório, por visar
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54
o aumento do grau de conhecimento sobre o tema em tela, a saber: empre-
endedorismo em startups e organizações de base tecnológica.
Conforme já mencionado, os autores optaram por este delineamento
metodológico por entender que este é o mais adequado para a pesquisa.
O estudo de caso é caracterizado por Gil (2012) pela análise intensiva e
exaustiva de uma situação particular. Yin (2005) indica o estudo de caso
para eventos contemporâneos, inseridos no contexto da vida real, em situ-
ações em que os comportamentos relevantes não podem ser manipulados,
mas em que é possível executar observações e entrevistas sistemáticas. Vale
complementar que o estudo foi realizado com uma visão externa dos pes-
quisadores, sem manipulação dos dados obtidos.
Já com relação à abordagem do problema, a opção pela pesquisa qua-
litativa se deve ao fato de que ela é recomendada para casos em que a inter-
pretação da pesquisa não pode ser traduzida em números. Assim, não serão
utilizados métodos estatísticos. O ambiente natural é a fonte direta para
coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave (GODOY, 1995).
A coleta de dados, por meio de entrevistas semiestruturadas, tinha
como objetivo principal identificar e caracterizar a percepção dos novos
empreendedores acerca do ambiente no qual suas organizações de base tec-
nológica operavam. Para tanto, foram entrevistados os sócios fundadores
das empresas Alpha, Beta e Gama. As entrevistas aconteceram nos meses
de março e abril de 2014, pelo aplicativo Skype®, e gravadas com consen-
timento dos entrevistados para posterior transcrição.
Os dados obtidos foram submetidos à análise de conteúdo que, se-
gundo Bardin (2004, p. 38), refere-se a um “[...] conjunto de técnicas de
análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e obje-
tivos de descrição do conteúdo das mensagens”. Para facultar a referida
análise, os dados coletados foram categorizados por assunto e interpretados
à luz das vertentes teóricas revistas.
5 CONTEXTUALIZAÇÃO DAS EMPRESAS
A empresa Alpha foi constituída com o objetivo de atuar no segmento
musical. O produto é um aplicativo mobile para que músicos ou até mesmo
pessoas que fazem da música um hobby encontrem outros músicos, sejam
eles profissionais ou amadores, com as competências complementares, viabi-
lizando a harmonização dos esforços e a composição de um som (Jam) através
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Empreendedorismo e Ação Empreendedora

  • 1. São Leopoldo 2016 ORGANIZADORA Vânia Gisele Bessi EMPREENDEDORISMO E AÇÃO EMPREENDEDORA
  • 2. CORREÇÃO ORTOGRÁFICA Vera Lucia Flores PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Adriana Christ Kuczynski CAPA Gregório Cemin IMPRESSÃO Gráfica tal TIRAGEM 1000 exemplares LIVRO DESENVOLVIDO COM APOIO DE: SEBRAE UNIVERSIDADE FEEVALE DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) Universidade Feevale, RS, Brasil Bibliotecário responsável: Sabrina Leal Araujo – CRB 10/1507 © Trajetos Editorial – TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É proibida a reprodução total ou parcial de qualquer forma ou por qualquer meio. A violação dos direitos do autor (Lei n.º 9.610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal. Trajetos Editorial Homepage: www.trajetos.net.br Fone: (51) 9291-6929 Empreendedorismo e ação empreendedora / organizadora Vânia Gisele Bessi. – São Leopoldo: Trajetos editorial, 2016. 224 p. : il. ; 16 cm. Inclui bibliografia e índice. ISBN 978-85-69688-06-8 l. Empreendedorismo. 2. Empreendedorismo social. 3. Comportamento empreendedor. I. Bessi, Vania Gisele. CDU 658.012.29
  • 3. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 3 Andrea Poleto Oltramari Doutora em Administração. Docente e Pesquisadora da Escola de Administração/Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA). Área de gestão de pessoas. Grupo Interdisciplinar de Estudos em Inovação e do Trabalho Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: andrea.oltramari@ufrgs.br. Cristiane Froelich Doutora em Administração pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Mestre em Admnistração pela Unisinos. Especialista em Gestão e Planejamento de Recursos Humanos pela Unisinos. Graduada em Pedagogia pela Unisinos. Docente e Pesquisadora do Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas da Universidade Feevale. E-mail: cfroehlich@feevale.br. Daiane Mulling Neutzling Doutora em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul na área de Gestão da Inovação, Tecnologia e Sustentabilidade. Atualmente é Professora na UNIFOR/CE, no curso de Administração. Atua em pesquisas voltadas para temas como Gestão Socioambiental, Gestão da Sustentabilidade, Estratégia e Gestão da Sustentabilidade em Cadeias de Suprimentos. E-mail: d.neutzling@unifor.br. Denize Grzybovski Administradora. Doutora em Administração (UFLA - 2007). Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGAdm), na Universidade de Passo Fundo. Pesquisadora e Professora da Universidade de Passo Fundo. Professora Convidada no Programa de Pós- Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento, na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ). Membro da Rede ORD (NISP/PPGA/ESAG/UFSC). E-mail: ppgadm@upf.br. Dusan Schreiber Doutor e Mestre em Administração. Docente e pesquisador do Programa de Qualidade Ambiental e do curso de Mestrado profissional em Indústria Criativa da Universidade Feevale. E-mail: dusan@feevale.br. Magnus Luiz Emmendoerfer Doutor em Ciências Humanas: Sociologia e Turismo pela Universidade Federal de Minas Gerais. Pos-doutor em Ciências da Administração na Universidade do Minho e em Turismo na Universidade do Algarve, Portugal. Professor do Programa de Pós-graduação em Administração - Pública e Líder do Grupo de Pesquisa em Gestão e Desenvolvimento de Territórios Criativos (GDTeC) na Universidade Federal de Viçosa. E-mail: magnus@ufv.br. Manuela Albornoz Gonçalves Doutora em Administração. Pesquisadora e professora e da Universidade Feevale. Grupos de pesquisa em Gestão em Inovação e Competitividade (FEEVALE) e Grupo de Pesquisas sobre Marketing e Consumo (UFRGS). E-mail: manuelaag@feevale.br. COMITÊ CIENTÍFICO
  • 4. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 4 Maria Cristina Bohnenberger Doutora em Economia de la empresa. Universidade Feevale. Instituto de Ciências Sociais Aplicadas. Pesquisadora e Docente do Mestrado Profissional em Indústria Criativa. E-mail: cristin@feevale.br. Mary Sandra Guerra Ashton Doutora em Comunicação/PUCRS. Pesquisadora e Professora no Curso de Turismo e no Mestrado em Indústria Criativa na Universidade Feevale/RS. E-mail: marysga@feevale.br. Pelayo Munhoz Olea Bolsista do CNPq. Doutorado em Administração e Direção de Empresas pela Universitat Politècnica de Catalunya, ETSEIB/UPC, Espanha. Professor da Universidade de Caxias do Sul, UCS. E-mail: pelayo.olea@gmail.com. Raquel Engelmann Machado Doutora e Mestre em Administração - UFRGS. Graduada em Comunicação Social - PUCRS. Docente-pesquisadora da Universidade Feevale, coordenadora MBA Gestão Empresarial e Plano1 Consultoria Jr. E-mail: raqueleng@feevale.br. Serje Schmidt Doutor em Administração (UNISINOS, 2013) e em Economía de L'Empresa (UIB, 2006). Pesquisador e docente do Mestrado em Indústria Criativa pela Universidade Feevale. Atua como parecerista em periódicos nacionais e internacionais. E-mail: serje@feevale.br. Valdir Pedde Doutor em Antropologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil. Professor permanente do PPG em Inclusão Social e Diversidade Cultural da Universidade Feevale. E-mail: valpe@feevale.br. Vânia Gisele Bessi Doutora em Administração. Professora do Mestrado Profissional em Indústria Criativa da Universidade Feevale. Grupos de Pesquisa: Indústria Criativa e Grupo de Pesquisa em Gestão. E-mail: vania@feevale.br Vilmar Antonio Gonçalves Tondolo Doutorado em administração pela Unisinos, com estágio doutoral realizado na University of Texas Pan American. Consultor organizacional na área de estratégia, operações e suprimentos. Professor do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade de Caxias do Sul (UCS). E-mail: vdontolo@gmail.com.
  • 5. SUMÁRIO 7 PREFÁCIO 11 APRESENTAÇÃO 17 PARTE I: COMPREENDENDO O EMPREENDEDORISMO 19 Evolução do Empreendedorismo no Brasil: um estudo do Global Entrepreneurship Monitor no período de 2001 a 2013 43 Análise Compreensiva do Empreendedorismo de Base Tecnológica 65 Inclusão Social e Empreendedorismo Social: o Programa Catavida 87 PARTE II: O EMPREENDEDORISMO E O AMBIENTE 89 Movimento Empresa Júnior Como Lócus de Empreendedorismo: o caso de uma Universidade no Brasil 113 Interlocuções entre Potencial Empreendedor e a noção de “Milieu” para Estudos Regionais 141 PARTE III: O EMPREENDEDORISMO, A EMPRESA E O COMPORTAMENTO EMPREENDEDOR 143 As Práticas de Intraempreendedorismo e a Cultura Organizacional 167 Comportamento Empreendedor Feminino: uma análise através do Método CEFE, com ênfase no próprio negócio 189 As Características do Comportamento Empreendedor dos Gestores das Empresas Incubadas em Incubadora Tecnológica
  • 6.
  • 7. 7 A universidade tem sido uma das instituições mais duradouras da his- tória da Humanidade. Deve isso, em grande parte, à sua grande capacidade de adaptação e de mudança, ao longo dos últimos milênios. Ela nasceu à sombra das catedrais, ligada ao ensino, à prática docente e fechada em suas paredes e muros, com a preocupação inicial quanto à formação intelectual de uma elite letrada. Entretanto, ela foi transformando-se, ao longo dos séculos, incorpo- rando a pesquisa e a extensão, que lhe deram, no final do século passado, uma estrutura mais equilibrada, mas por outro lado, descortinaram um mundo de oportunidades e interações, que nem sempre foram creditadas a ela. Dessa forma, no limiar do século XXI, ganhou ares de agente de trans- formação local e regional agregado ao seu apelo universalista. Cada vez mais, criam-se as condições de superação dos seus muros, o que, aliás, acelerou-se devido às transformações tecnológicas, ideológicas e doutrinárias deste início de milênio. Hoje, existe um grande movimento mundial que prevê que as Universidades, cada vez mais, respondam por suas comunidades e desempenhem um papel inovador, acompanhando as mudanças incrementadas pela nova sociedade que surge denominada por alguns como a Sociedade do Conhecimento. De qualquer forma, é preciso compreender que vivemos uma nova era, um novo padrão social, marcado pelo acelerado ritmo da globaliza- ção econômica e cultural. Vivemos, também, o acelerar dos paradigmas, especialmente os tecnológicos. Basta olhar para algumas áreas do conhe- cimento e perceber. Por exemplo, no campo da eletrônica, passamos das válvulas para os transistores, daí, aos circuitos Integrados; da eletrônica para a informática e às nanotecnologias. Do ponto de vista social, também vivenciamos uma aceleração de pa- radigmas. Basta ver, do ponto de vista histórico e temporal, quanto e quão rápido avançamos desde as primeiras civilizações e a invenção da escrita, há alguns milhares de anos, passando pelo mundo clássico greco-romano, PREFÁCIO
  • 8. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 8 pelas cidades-Estado, pela explosão criativa e inovadora do Renascimento, com a introdução, no Ocidente, da Imprensa e pela fantástica multiplica- ção das idéias e do conhecimento. Da mesma forma e, com uma velocida- de maior ainda, entramos no iluminismo e na sociedade industrial, revolu- cionando nosso modo de produção, acelerando a destruição da natureza e alterando, de forma nunca antes vista, as relações de trabalho, do Estado e da vida pública e privada. Agora, é perceptível a transformação das áreas da nossa civilização em um novo paradigma de atitude. Esta nova sociedade, na qual o conheci- mento ganha uma força propulsora, comparada à energia ou às matérias- -primas da sociedade industrial, é o novo desafio que apresenta a inovação, como ponta de lança dessa transformação. A maioria das pessoas, porém, não está preparada para as mudanças, especialmente para as paradigmáticas. Isso se agrava se essas alterações co- meçam a ocorrer em intervalos de tempo cada vez menores e com mais profundidade. Esses elementos agravam a percepção sobre a crise e a mu- dança dos paradigmas e tocam o ponto de equilíbrio e conforto das pessoas e das organizações. Pior ainda para aqueles que não perceberam as mudanças e continu- am nostálgicos falando dos “velhos tempos” que não voltam mais. Cabe a todos nós, prepararmo-nos para essas mudanças. Neste ponto, a busca do conhecimento, a prática da inovação e a ciência, colocam-se como ferra- mentas fundamentais em um mundo cada vez mais dinâmico. Além disso, atualmente vivemos em um mundo onde arriscar é preci- so e inovar é necessário. Neste aspecto, a formação das pessoas e o despertar de um espírito crítico, inovador e empreendedor é tarefa de toda uma so- ciedade, em especial a Universidade. Pensando assim, temos que trabalhar na modificação das relações e das percepções dos jovens frente ao mundo do trabalho. O Brasil é um país de empreendedores e grande parte deles tem voca- ção para montar seu próprio negócio. Mas a realidade tem se mostrado du- ríssima com os empreendedores e apresentam uma distância entre montar e manter um negócio. Além disso, parece que sobra empreendedorismo, arrojo e interesse, mas falta preparo e condições de montar e gerir as em- presas que nascem. Os novos empreendimentos que surgem convivem com fatores que trabalham para impedir o sucesso das pequenas e microempresas. Outros
  • 9. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 9 problemas se sucedem, como o crédito, a atratividade exercida pela infor- malidade e a maneira encontrada para economizar as taxas e tributos. Além disso, os juros bancários, a variação do câmbio e o custo Brasil são respon- sáveis, entre outras coisas, pelo nefasto efeito dos impostos em cascata. A to- dos esses explosivos problemas, soma-se talvez o de maior relevância: o des- preparo do empreendedor para enfrentar os desafios de um novo negócio. Não basta apenas ter iniciativa. São fundamentais, também, o foco no mercado, a capacidade gerencial, uma estrutura logística e uma divulgação de seus produtos e serviços. Se isso não bastar, é necessário ao empreende- dor ainda ousar e, com criatividade, explorar nichos desprezados ou desco- nhecidos pela concorrência. Finalmente, procurar ter tanto espírito com- petitivo como também cooperativo, privilegiando o trabalho em grupo, unindo suas habilidades com as de outros, desenvolvendo um trabalho em rede e não isoladamente. Essa é uma pequena análise, seguida de recomen- dações, a fim de ajudar aqueles que, em uma economia em dificuldades, estão em busca de alternativas para montar seu próprio negócio. De qualquer forma, é importante que o empreendedor pesquise bas- tante sobre o ramo de negócio mais atrativo para o novo empreendimento. Essa não é uma tarefa exclusiva de algumas áreas do conhecimento, pois em qualquer uma, da saúde à educação, podemos e devemos empreender e criar as novas condições para o sucesso profissional e pessoal. Em um mundo cada dia mais igual, a compreensão da diversidade, seu entendimento e a saída do ostracismo intelectual determinam os dife- renciais. A sociedade do conhecimento que se ergue no século XXI aponta na direção dos valores universais, multiculturais e multidisciplinares, que possibilitam ao homem saber da vastidão do universo e também de sua própria existência. Publicações como o livro Empreendedorismo e Ação Empreendedora possibilitam a circulação das ideias e as várias concepções do conhecimen- to, de sua práxis educativa e transformadora da realidade. Prof. Dr. Cleber C. Prodanov Pró-Reitor de Inovação
  • 10.
  • 11. 11 Esta publicação cumpre uma das metas do projeto Educação Empre- endedora na Universidade Feevale, edital SEBRAE n.º 001/2013, convênio n.º 087/0 2014. O projeto é parte da parceria entre duas instituições que têm, como um dos seus valores essenciais, o fomento ao Empreendedoris- mo e à Ação Empreendedora. A Universidade Feevale e o SEBRAE – Servi- ço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – contribuem, dessa forma, para a ampliação do olhar sobre esse tema tão importante, espe- cialmente no contexto contemporâneo, onde as oportunidades surgem em diferentes contextos, com perspectivas e possibilidade até pouco tempo im- pensadas ou muito distantes da realidade com a qual estamos habituados. Refletir sobre o empreendedorismo e suas diferentes perspectivas é o objetivo deste livro. Pretendemos, com essa publicação, disponibilizar para o público acadêmico e leitores em geral interessados pelo assunto, um livro que trata sobre essa temática, sendo o resultado de muitos esforços no sen- tido de entender como o empreendedorismo se apresenta na atualidade. Os textos analisam, cada um dentro de seu objetivo, como diferentes espa- ços sociais podem se constituir em importantes elementos para a formação técnica e o perfil de comportamento do empreendedor. O empreendedorismo é um assunto que vem sendo discutido já há muito tempo. Porém, percebe-se que na contemporaneidade, temos uma ampliação do tema, ligando-o a diferentes contextos, tais como o empre- endedorismo social, o de base tecnológica, o intraempreendedorismo e outros. Da mesma forma, as características e singularidades do sujeito em- preendedor tem se constituído como diferenciais para fazer frente às mais diversas dificuldades que se apresentam no cotidiano desses profissionais. Ser empreendedor é vislumbrar oportunidades, é pensar à frente, en- xergar além do óbvio. Porém, isso não é, nem nunca foi, algo que derive do sobrenatural ou que seja privilégio de algum ser que está acima dos huma- nos ditos “comuns”. O empreendedor apura e afina o seu olhar a partir da sua percepção e da sua leitura do ambiente e de todas as variáveis que estão APRESENTAÇÃO
  • 12. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 12 à sua volta. É justamente aí que a universidade e demais instituições que apoiam o empreendedorismo cumprem seu papel fundamental. A Universidade Feevale tem em seu “DNA” a preocupação pelo de- senvolvimento da região onde está inserida, voltando sua atuação para a formação de sujeitos críticos, inovadores e atuantes. Fomentar o empre- endedorismo e colaborar na formação do empreendedor sempre esteve entre os objetivos dessa Instituição. O SEBRAE, como uma entidade pri- vada de interesse público, se propõe a estimular o espírito empreendedor e promover a competitividade e o desenvolvimento autossustentável dos pequenos negócios. Dessa forma, ao colocar em suas mãos o livro Empreendedorismo e Ação Empreendedora, essas duas Instituições cumprem sua vocação de atuação na Educação Empreendedora, dando espaço a discussões e análi- ses sobre o tema em tela e levando essas reflexões aos seus leitores. Com isso, pretende-se continuar colaborando para a formação do espírito críti- co, analítico e empreendedor de todos aqueles que se interessam por essa temática tão importante quanto desafiadora. Este livro está estruturado em três partes. A Parte I foi intitulada Compreendendo o Empreendedorismo e apresenta artigos que tratam do tema a partir de uma perspectiva geral, além de abordar especificidades atuais sobre o empreendedorismo: o Social e o de Base Tecnológica. Essa parte inicial, portanto, tem como objetivo a reflexão sobre o tema e suas diferentes nuances e está composta por três capítulos. No Capítulo 1, cujo título é Evolução do Empreendedorismo no Bra- sil: um estudo do Global Entrepreneurship Monitor no período de 2001 a 2013, Juliana Alano e demais autores analisam a pesquisa anual GEM, com o objetivo de acompanhar a evolução dos dados da atividade empre- endedora no Brasil, unindo dados de todos os relatórios publicados no país até 2013 e analisando as alterações ocorridas nesse período. Com esse tex- to, os autores se propõe, ainda, a apresentar informações sobre a realidade do empreendedorismo brasileiro. O Capítulo 2, intitulado Análise Compreensiva do Empreendedoris- mo de Base Tecnológica, de autoria de Deise Natalia Simas Land e Dusan Schreiber, tem como objetivo identificar as variáveis que influenciam o surgimento e a consolidação das startups de base tecnológica no mercado. Os autores têm, portanto, foco no empreendedorismo voltado a empresas inovadoras e que apresentam diferenciais como tecnologia de ponta e ino-
  • 13. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 13 vação. Sua importância está em fazer a discussão do tema em um contexto altamente relevante para o momento atual, onde essas empresas ocupam importante espaço. Encerrando a Parte I, no Capítulo 3, que recebe o título de Inclusão Social e Empreendedorismo Social – o Programa Catavida, de autoria de Raquel Engelman e demais autores, é apresentado o empreendedorismo social, que se configura como uma perspectiva diferenciada, principalmen- te no campo da gestão e da intervenção social. O Catavida é o Programa Municipal de Gestão Social de Resíduos Sólidos da Prefeitura Municipal de Novo Hamburgo, administrado de forma colaborativa entre diferentes Secretarias Municipais, marcadamente pela Secretaria do Meio Ambiente e a Secretaria de Desenvolvimento Social. O objetivo dos autores é ilustrar como ocorre a relação entre inclusão social e empreendedorismo social no Programa Catavida, sob a perspectiva dos envolvidos com o programa. A Parte II recebe o título O Empreendedorismo e o Ambiente. Abor- damos, aqui, o assunto a partir de alguns lócus importantes para o desen- volvimento do empreendedor. Nessa parte, conceitos como os de empresa júnior e o meio onde os empreendedores se desenvolvem são contempla- dos, a partir de dois artigos. Movimento Empresa Júnior Como Lócus de Empreendedorismo: o caso de uma Universidade no Brasil é o título do Capítulo 4. Nesse texto, os autores Magnus Luiz Emmendoerfer, Brendow de Oliveira Fraga, Carla de Souza Cruzato e Henrique de Melo Silva analisam a trajetória da insti- tucionalização do Movimento Empresa Júnior (MEJ) em uma universida- de pública brasileira, a Universidade Federal de Viçosa – UFV. Os autores analisam o MEJ, tido como um conjunto de ações historicamente cons- truídas, aperfeiçoadas e reproduzidas por meio da extensão, em interface com o ensino e com a pesquisa. A Empresa Júnior se configura como um importante meio para disseminar e desenvolver a cultura empreendedora e de inovação entre os estudantes de diferentes cursos de graduação da UFV. No Capítulo 5, Interlocuções entre Potencial Empreendedor e a No- ção de “Milieu” para Estudos Regionais, os autores Betina Beltrame, Denize Grzybovski, André da Silva Pereira e Dieter Rugar Siedenberg têm como objetivo analisar o potencial empreendedor dos empresários no milieu deli- mitado pelo Conselho de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (Corede) no Noroeste Colonial (Corede-Norc). Nesse texto, o conceito de milieu é fundamental para a análise. O milieu seria, como os autores explicam, o
  • 14. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 14 ambiente de residência e atuação do empreendedor. Porém, o empreendedor não seria um ser passivo sofrendo a influência do meio, mas um sujeito ca- paz de apreender conteúdos, influenciar a dinâmica do contexto e até criar o milieu. Esse artigo encerra a Parte II. Na Parte III, que denominamos O Empreendedor, a Empresa e o Comportamento Empreendedor, levamos a reflexão para o interior das or- ganizações e suas formas de atuação, além de analisarmos o comportamento do sujeito empreendedor. Essa parte compõe-se de três capítulos. O Capítulo 6, intitulado As Práticas de Intraempreendedorismo e a Cultura Organizacional, os autores Maria Cristina Bohnenberger, Vânia Gi- sele Bessi e Serje Schmidt analisam as relações entre as práticas de intraem- preendedorismo e a cultura organizacional, representada em seus diferentes níveis. O intraempreendedorismo é o empreendedorismo que acontece den- tro da organização, também chamado de corporativo ou ação dos empreen- dedores nas organizações. A cultura organizacional, como abordam os auto- res do texto, são todos os pressupostos compartilhados em uma organização. Os autores estabelecem a relação entre esses dois conceitos. Jordana Patrícia Begnini Hoch e Jefferson Dobner Sordi assinam o Capítulo 7, que recebe o título de Comportamento Empreendedor Fe- minino: uma análise através do Método CEFE, com ênfase no próprio negócio. Nesse artigo, os autores esclarecem e identificam quais são as ca- racterísticas das mulheres empreendedoras, tomando como análise uma cidade do Vale do Rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul. A partir do Mé- todo CEFE (Competência Econômica via Formação de Empreendedores), os autores analisam o comportamento empreendedor das mulheres que abriram o seu próprio negócio no município de Dois Irmãos. Finalizando a Parte III, no artigo As Características do Comporta- mento Empreendedor dos Gestores das Empresas Incubadas em Incuba- dora Tecnológica, as autoras Mary Sandra Guerra Ashton e Vânia Gisele Bessi têm como objetivo analisar as características do comportamento em- preendedor dos gestores das empresas incubadas na Incubadora Tecnoló- gica da Feevale. Nessa pesquisa, as autoras, tendo como base também o Método CEFE (Competência Econômica via Formação de Empreende- dores), analisam o perfil de empreendedores de empresas em um contexto singular, que é o das Incubadoras de Empresas. As incubadoras são impor- tantes agentes de difusão da cultura empreendedora e oferecem o suporte necessário para que esses negócios nasçam e se solidifiquem.
  • 15. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 15 Ao colocarmos em suas mãos essas diferentes perspectivas acerca do tema Empreendedorismo, entendemos que a Universidade Feevale e o Se- brae, assim como os autores dos textos que compõem esse livro, contri- buem para a ampliação da discussão e das reflexões acerca desse assunto tão importante, especialmente no momento contemporâneo. Para finalizar, gostaríamos de agradecer a todos àqueles que, de al- guma forma, colaboraram para que essa publicação se tornasse realidade: à Universidade Feevale e ao Sebrae, pela parceria na concepção e execu- ção do projeto; a Pró-Reitoria de Inovação da Feevale, representada pelo Pró-Reitor de Inovação, Prof. Dr. Cleber C. Prodanov (que assina o Pre- fácio), além de toda a sua equipe administrativa; aos autores dos textos que confiaram na seriedade da proposta da publicação; aos professores que compõem o comitê científico, por terem se disponibilizado, gentilmente, a fazer a avaliação double blind review dos textos; ao Prof. Dr. Valdir Pedde, por todo o apoio com seu conhecimento editorial; à bolsista de Inicia- ção Científica, Iracir de Abreu, pelo auxílio com formatação e revisão dos textos; além de outras pessoas que se envolveram e que não foram aqui, nominalmente citadas. Desejamos a todos uma excelente leitura! Prof. ª Dr. ª Vânia G. Bessi Organizadora do Livro
  • 16.
  • 18.
  • 19. 19 EVOLUÇÃO DO EMPREENDEDORISMO NO BRASIL: UM ESTUDO DO GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR NO PERÍODO DE 2001 A 20131 Juliana Alano Magnos Spagnol Paula Patricia Ganzer Cristine Hermann Nodari Cassiane Chais Adrieli Alves Pereira Radaelli Oberdan Teles da Silva Alfonso Augusto Fróes d’Ávila Pelayo Munhoz Olea Eric Charles Henri Dorion Cleber Cristiano Prodanov 1 INTRODUÇÃO O empreendedorismo é um assunto em voga há muito tempo no mundo todo e tem especial destaque no Brasil, sendo seguidamente no- ticiado na imprensa, por meio de matérias informativas sobre o nível do empreendedorismo no país, tratado como um dos que detém as taxas mais altas do mundo. Essas notícias geralmente estão embasadas em dados de pesquisas de órgãos, os quais podem não utilizar métodos ou critérios, muito menos padrões para comparação com os números de outros países. Diante disso, há a possibilidade de questionar a confiabilidade das notícias. Sendo um tema seguidamente abordado e de interesse para um de- terminado grupo de pessoas, órgãos e empresas, teve início em 1999, por meio de uma parceria entre a London Business School, da Inglaterra, e o Babson College, dos Estados Unidos, o programa de pesquisa Global En- trepreneurship Monitor (GEM), uma avaliação anual do nível nacional da 1 Artigo apresentado na XIV Mostra de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão (2014) - Programa de Pós- Graduação em Administração da Universidade de Caxias do Sul.
  • 20. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 20 atividade empreendedora no mundo. Na sua primeira edição, contou com os dados de 10 países e atualmente caracteriza-se como o maior estudo contínuo sobre a dinâmica empreendedora no mundo, tendo abrangido 100 países em algumas edições. O Brasil participa do programa desde 2000 e, em todos esses anos, o relatório trouxe mais do que um retrato do empreendedorismo nacional em comparação com o mundo e também, a possibilidade de observação das alterações, tanto evoluções quanto retrocessos da atividade empreen- dedora do país. Como forma de acompanhar a evolução dos dados da atividade empreendedora no país, este trabalho pretendeu unir os dados de todos os relatórios publicados e fazer uma análise das alterações ocorridas nesse período, a fim de apresentar informações sobre a realidade do empre- endedorismo brasileiro. A seguir, apresenta-se uma revisão bibliográfica sobre o empreende- dorismo, destacando-se o empreendedorismo no Brasil, a classificação dos empreendedores, a mentalidade empreendedora, os órgãos de apoio e as condições para empreender. Posteriormente, é apresentada a metodologia utilizada na pesquisa. A seção três apresenta a análise dos dados coletados através do estudo de caso. Na seção quatro, segue as considerações finais do estudo, onde são apresentadas as conclusões da pesquisa. A partir do objetivo, são apresentadas as limitações do estudo e as oportunidades de pesquisas futuras. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Empreendedorismo A palavra empreendedorismo pode suscitar diversos entendimentos errô- neos quanto ao seu significado. A fim de melhor desenvolver o assunto, cabe iniciar com aspectos básicos sobre a expressão que deriva do termo latim im- prehendere e referindo o indivíduo que assume riscos ao começar algo novo (FILION, 1999). Os assuntos ligados ao empreendedorismo, tema tão falado nos dias de hoje, têm origem na idade média, quando empreendedor era o participante e a pessoa encarregada de projetos de produção em grande escala. Já no século XVII, o empreendedor passou a ser diferenciado entre a pessoa que assume riscos daquela que fornece capital (HISRICH; PETERS, 2004).
  • 21. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 21 Schumpeter (1947) define como empreendedor aquele que destrói a ordem econômica existente, graças à introdução de novos produtos/ser- viços no mercado, pela criação de novas formas de gestão ou pela explo- ração de novos recursos, materiais e tecnologias. Bygrave e Hofer (1991) dizem que empreendedor é alguém que identifica uma oportunidade e cria uma organização, enquanto Drucker (2003) diz que o Empreendedor está sempre buscando a mudança, reage a ela, explorando-a como uma oportunidade, o que é confirmado por Dornelas (2005), o qual afirma que empreendedor é a pessoa que percebe uma oportunidade e, com isso, cria um negócio a fim de ganhar com ele, mediante riscos calculados. Chiavenato (2006), por sua vez, diz que empreendedor não é simples- mente o fundador de uma nova empresa ou mesmo de um novo negócio, mais do que isso, ele é a energia da economia, a alavanca dos recursos, o impulso de talentos, a dinâmica de ideias. O mesmo autor ainda confirma a visão de Dornelas (2005) sobre o risco do empreendedor, dizendo que é a pessoa que começa um negócio para realizar uma ideia ou projeto pessoal assumindo todos os riscos e responsabilidades. Pode-se obter uma ideia da evolução histórica do empreendedorismo, por meio da ilustração no Quadro 1. Idade média Séculos XVII e XVIII Séculos XIX e XX O empreendedor: - Gerenciava grandes projetos de produção; - Não assumia riscos; - Utilizava subsídios governamentais. O empreendedor: - Estabelecia acordos contratuais com o governo; - Passou a assumir riscos. O empreendedor é confundido com gerentes e administradores. Quadro 1 - Análise histórica do desenvolvimento do empreendedorismo Fonte: Adaptado de Hisrich e Peters (2004) De acordo com a linha do tempo, percebe-se que o empreendedor evoluiu especialmente no que diz respeito a assumir mais riscos, sendo que hoje há uma certa confusão entre a figura do empreendedor e do ad- ministrador das empresas. Faz-se necessário, também, tratar do assunto empreendedorismo no Brasil a fim de obter uma introdução à visão geral do assunto no país.
  • 22. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 22 2.2 Empreendedorismo no Brasil Referente ao empreendedorismo no Brasil, Dornelas (2005) cita os anos 90 como a década onde o empreendedorismo começou a surgir no país, especialmente pela criação de entidades como o Centro de Assistên- cia Gerencial (CEAG), o Instituto de Desenvolvimento Empresarial do Rio Grande do Sul (IDERGS) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e a Sociedade Brasileira para Exportação de Software (SOFTEX). Segundo o autor, antes da criação destas entidades, a nação não falava em empreendedorismo, até porque os ambientes econô- mico e político não eram propícios. Passados 15 anos do início das primeiras ações, o Brasil tem todas as possibilidades de desenvolver o maior programa de ensino de empreendedo- rismo do mundo. Percebe-se isso, a partir do momento em que são lançadas ações como o Programa Brasil Empreendedor do Governo Federal, o qual foi dirigido por mais de 6 milhões de empreendedores em todo país, entre 1999 e 2002, o Empretec, e Jovem Empreendedor do SEBRAE, programas de ca- pacitação com muita procura e ótima avaliação, o enorme crescimento das incubadoras de empresas, dentre outros (DORNELAS, 2005). O Empretec é uma metodologia da Organização das Nações Unidas – ONU, voltada para o desenvolvimento de características de comporta- mento empreendedor e para a identificação de novas oportunidades de negócios, promovido em cerca de 34 países. No Brasil, o Empretec é rea- lizado exclusivamente pelo SEBRAE e já capacitou cerca de 190 mil pes- soas, em 8.400 turmas (SEBRAE, 2013). Por outro lado, existem também alguns limitadores. Para Dornelas (2005), o país ainda é carente em polí- ticas públicas duradouras a fim de consolidar o empreendedorismo como alternativa ao desemprego e de apoiá-lo, assim como fazem atualmente a iniciativa privada e as entidades não governamentais. 2.3 Classificações dos empreendedores Os empreendedores podem ser separados em diversos grupos. Neste estudo, ele deter-se-á apenas àquelas classificações que são trabalhadas no GEM, as quais são: quanto à motivação para a atividade empreendedora e quanto à metodologia de pesquisa. Com relação à classificação quanto à motivação para a atividade em- preendedora, eles subdividem-se em empreendedor por oportunidade e
  • 23. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 23 empreendedor por necessidade. O primeiro está mais presente em países desenvolvidos, sendo aquele empreendedor visionário que sabe aonde quer chegar, cria uma empresa com planejamento prévio, tem em mente o cresci- mento que quer buscar para a empresa e visa à geração de lucros, empregos e riqueza (DORNELAS, 2005). Portanto são aqueles que identificaram uma oportunidade de negócio e independentemente de possuírem outras opções de emprego ou renda, decidem tornarem-se empreendedores. Já os empreendedores por necessidade são mais comuns nos países em desenvolvimento como o Brasil. Eles iniciam um empreendimento autônomo porque não tem melhores opções de ocupação e seu novo negócio visa à geração de renda própria. Dornelas (2005) confirma isso quando define que o empre- endedor por necessidade é aquele candidato a empreendedor que se aventura na jornada empreendedora, mais por falta de opção, por estar desempregado e não ter alternativas de trabalho. Nesse caso, esses negócios costumam ser criados informalmente, não são planejados de forma adequada e muitos fra- cassam rápido, não gerando desenvolvimento econômico. A segunda classificação que o GEM aborda é quanto à sua meto- dologia de pesquisa. Nela os empreendedores são divididos em iniciais e estabelecidos. E os empreendedores iniciais ou em estágio inicial são sub- divididos em nascentes e novos, conforme o processo descrito na Figura 1. Figura 1 - O processo empreendedor segundo definições adotadas pelo GEM Fonte: Adaptado de GEM (2011) Os empreendedores nascentes estão envolvidos na estruturação de um negócio do qual são proprietários, mas que ainda não gerou salários, pró- -labores ou qualquer outra forma de remuneração aos proprietários por mais de três meses. Ao contrário dos nascentes, os empreendedores novos
  • 24. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 24 administram e são proprietários de um novo negócio que gerou salários, pró-labores ou qualquer outra forma de remuneração aos proprietários por mais de três e menos de 42 meses. Já os empreendedores estabelecidos administram e são proprietários de um negócio considerado como consolidado, que gerou salários, pró-labo- res ou qualquer outra forma de remuneração aos proprietários por mais de 42 meses (3,5 anos). Tanto o empreendedor inicial quanto o estabelecido podem se constituir por oportunidade ou por necessidade. Miller (1984) destaca que existem três características principais no empreendedorismo: o risk taking que corresponde à capacidade do indivíduo de incorrer em dívida ou assumir compromissos, aproveitando oportunidades do mercado no inte- resse de altos retornos; a proatividade que é a capacidade do sujeito de tomar iniciativa, antecipando e buscando novas oportunidades e a inovação, que é caracterizada como uma tendência de empreender e apoiar novas ideias, que possam resultar em novos produtos, serviços ou processos. Percebe-se que a pessoa empreendedora não pensa somente em ser independente, colocar em prática uma ideia e ganhar dinheiro. Vencer as dificuldades para desenvolver o negócio, concretizando os objetivos traçados ao longo do tempo são outros aspectos presentes na mente dos empreendedores. A maioria das pessoas acredita que as boas ideias são das pessoas que as observam primeiro e que podem ser por sorte ou por acaso (DORNE- LAS, 2007). Contudo, para os empreendedores, as boas ideias são adqui- ridas a partir das observações que todos veem, mas que somente os visio- nários conseguem transformá-las em oportunidades por meio de dados e informações. Portanto, pode-se afirmar que o empreendedor é exímio identificador de oportunidades e é uma pessoa curiosa e atenta, pois sabe que suas chances melhoram quando seu conhecimento aumenta. Uma das características mais realçadas de um empreendedor é a capa- cidade de assumir riscos. Segundo Dornelas (2007), o verdadeiro empreen- dedor é a pessoa que assume riscos calculados e consegue avaliar as chances reais de sucesso. Aceitar riscos tem relação direta com desafios e, para a pes- soa empreendedora, quanto maior for o desafio, mais estimulante será a sua jornada empreendedora. Além disso, os empreendedores de sucesso são bons líderes e formadores de equipe, pois selecionam pessoas chave para o traba- lho e conseguem motivá-las para atingirem objetivos. Estes empreendedores consideram o trabalho em equipe essencial para o sucesso e, por isso, buscam priorizar a formação de suas equipes (DORNELAS, 2007).
  • 25. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 25 Ter uma personalidade empreendedora é um pré-requisito fundamental para a jornada, mas uma boa ideia e motivação não são as únicas ferramentas para um projeto empreendedor de sucesso. A fim de identificar, apontar, sa- nar ou corrigir os aspectos faltantes ou falhos, existem órgãos de apoio, que podem nortear melhor o empreendedor com dúvidas. 2.4 Órgãos de apoio ao empreendedorismo no Brasil Os órgãos de apoio ao empreendedorismo são aqueles que auxi- liam o empreendedor em sua missão. Segundo Hisrich e Peters (2004), instituem uma orientação para o empreendedor na condução de seu empreendimento, dessa maneira, podendo minimizar ameaças que porventura existam. No Brasil existem diversos órgãos que visam fomentar a atividade empreendedora. Maximiano (2006) aborda como órgãos e iniciativas cria- dos para o apoio ao empreendedor, o SEBRAE, as fundações estaduais de apoio à pesquisa, as incubadoras de novos negócios e as escolas superiores, que têm oferecido cursos e outros tipos de programas sobre o empreende- dorismo. Medeiros (2012) diz que o SEBRAE é um dos mais importantes, preenchendo a lacuna de conhecimento de muitos futuros empresários, enquanto que segundo Moraes e Souza (2012), na questão relativa aos tipos de assessorias e auxílios considerados mais importantes na condução dos negócios, o órgão ficou em terceiro lugar, atrás somente de pessoas que conhecem o ramo e contadores. Munido de ideias, oportunidade e apoio, resta ao empreendedor perguntar-se quais são os aspectos que mais facili- tam ou dificultam o seu empreendimento. 2.5 Condições para empreender Levando em consideração o relatório do GEM, edição 2013, pode-se perceber algumas questões relacionadas às condições para empreender. São aspectos limitantes e favoráveis ao empreendedorismo, como por exemplo, as políticas governamentais que, conforme Teixeira (2002), são diretrizes, princípios norteadores de ação do poder público, regras e procedimentos para as relações entre poder público e sociedade, mediações entre atores da sociedade e do Estado, sendo um processo dinâmico, com negociações, pressões, mobilizações, alianças ou coalizões de interesses.
  • 26. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 26 O apoio financeiro é a consolidação de programas de apoio à criação de novos negócios com recursos de subvenção econômica, bolsas, inves- timentos para empresas iniciantes inovadoras, provenientes de entidades governamentais de apoio à inovação e ao empreendedorismo, entre outras condições como educação e capacitação, normas culturais e sociais, acesso ao mercado, percepção de oportunidades, nível de motivação e valoriza- ção da inovação (DORNELAS, 2005). Segundo Degen (2009), os fatores econômicos fundamentais de oportunidades para novos empreendimentos são: fatores econômicos; desenvolvimentos tecnológicos; tendências de- mográficas e mudanças regulatórias. Dentre os pontos favoráveis, Dornelas (2005) destaca o apoio ao empreendedorismo por intermédio de órgãos como SEBRAE, SENAI, FINEP, fundações de amparo à pesquisa, CNPq, BNDES. Pode-se desta- car também como favorável o aumento da capacidade de compra da po- pulação nos últimos anos, juntamente com o crescente acesso à internet, sendo este um ambiente extremamente favorável para o empreendedoris- mo. Segundo Arruda (2013), as tecnologias que estão saturadas em nações desenvolvidas ou as ideias facilmente implantáveis pelo e-commerce que já são amplamente difundidas em outros países, encontram no Brasil um mercado novo, que aumenta diariamente. Por outro lado, um dos pontos limitadores do empreendedorismo é o que diz respeito ao investimento inicial, normalmente bancado com economias pessoais ou empréstimos de algum amigo ou membro da família. Porém, é provável que um novo empreendimento necessite de mais capital para crescer. Normalmente, os bancos se interessam em financiar bens de capital para quem começa e tem garantias reais, porém não o custeio (BESSANT;TIDD, 2009). Outro ponto desfavorável, segundo Dolabela (2003) é que muitas instituições de ensino não trabalham o enfoque do empreendedorismo, pois, segundo ele, educar implica em dialogar, despertar a rebeldia, a cria- tividade, a força da inovação para construir um mundo melhor, da mesma forma que Freire (2003) diz que se deve substituir a prática domesticadora de educação para a prática libertadora de educação. Complementando esta ideia, o autor Sela (2006) salienta que os mo- delos educacionais vigentes nas instituições brasileiras não enfatizam a formação de profissionais empreendedores, estando na verdade orientadas para a ocupação de um posto de trabalho. Enfatiza-se a aquisição de conhe- cimento e não o desenvolvimento de habilidades para o uso produtivo do
  • 27. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 27 conhecimento. O GEM (2012) apresentou o comparativo das condições de empreender entre o ano de 2002 e 2012, apresentando as percepções de especialistas sobre as condições que afetam o empreendedorismo no Brasil, conforme ilustrado na Figura 2. Os fatores limitantes são visivelmente em maior quantidade do que os favoráveis. As políticas públicas são o fator com maior pontuação negativa, o que vem ao encontro da abordagem de Teixeira (2002). Figura 2 - Condições para empreender no Brasil segundo percepção dos especialistas Fonte: GEM Brasil (2012, p. 145)
  • 28. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 28 3 MÉTODO O método de pesquisa utilizado possui abordagem qualitativa. A pes- quisa qualitativa pode ser caracterizada como exploratória e os pesquisa- dores a utilizam com a finalidade de abordar um assunto quando suas variáveis e bases teóricas são desconhecidas (CRESWELL, 2007). Quanto ao objetivo, a pesquisa se classifica como exploratória e descritiva, pois investiga a temática e apresenta os resultados obtidos por descrição. A pes- quisa exploratória é útil quando o responsável pelas decisões dispõe de poucas informações, como no caso da identificação de práticas inovadoras de produção e administração. A pesquisa descritiva em geral é estruturada e criada para medir as características descritas em uma questão de pesquisa (HAIR, et al., 2005). Tendo em vista os critérios propostos por Vergara (2000), pode-se classificar o tipo de pesquisa em relação a dois aspectos, quanto aos fins e quanto aos meios. Quanto aos fins, trata-se de uma pesquisa descritiva. Classifica-se como pesquisa descritiva porque há a busca de relações entre as variáveis envolvidas, que no caso são: a evolução dos indicadores de em- preendedorismo no Brasil. Quanto aos meios, a presente pesquisa se classi- fica como pesquisa bibliográfica uma vez que utilizou material acessível ao público em geral, como livros, artigos, dentre outros. Gil (1991, p. 46) entende que a pesquisa descritiva “[...] têm como objetivo primordial a descrição de características de determinada popula- ção ou fenômeno, ou então, o estabelecimento de relações entre variáveis”. O método de pesquisa utilizado é a pesquisa documental, pois segundo Lima (2008, p. 57) é um método que viabiliza a realização de investigações que envolvem períodos longos, na intenção de identificar e exemplificar uma ou mais tendências no comportamento de um determinado fenôme- no. O mesmo autor define pesquisa documental sendo “[...] uma das mais importantes fontes de dados e informações, particularmente se for consi- derado o caso de investigações cujo tema pressupõe a utilização de recursos típicos de pesquisa ex-post-facto”. A escolha pelo método de pesquisa justifica-se pela utilização dos re- latórios do GEM, sendo a instituição investigada como a principal fonte de dados. Por isso, também se considera que os dados tenham sido busca- dos em fontes secundárias. Lima (2008) caracteriza a pesquisa documental em três fontes de documentos: arquivos públicos, arquivos particulares e
  • 29. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 29 fontes estatísticas de responsabilidade de órgãos particulares ou oficiais. Assim, as fontes utilizadas no trabalho são consideradas de arquivos públi- cos já que os relatórios do GEM estão disponíveis nos sites de instituições como o SEBRAE e, também, de fontes estatísticas de responsabilidade de órgãos particulares ou oficiais, pois tais dados estão também disponíveis e regulamentados pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtivida- de - IBQP. Na pesquisa bibliográfica, objetivou-se a busca por conceitos de empreendedorismo sendo pesquisados livros, periódicos, teses, dentre outros. Através do método de pesquisa documental, buscaram-se dados nos relatórios do GEM, no período de 2001 a 2013, que evidenciassem a evolução do empreendedorismo no Brasil. 4 RESULTADOS E ANÁLISE A pesquisa acerca do Empreendedorismo no Brasil, realizada des- de 2000 pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM), em parceria com o Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBPQ) e o Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV), com o apoio do SEBRAE, revela uma importante evolução do em- preendedorismo no País, demonstrando a importância econômica e social do tema e a necessidade de ações governamentais e não governamentais para sua consolidação. Os relatórios do GEM se encontram em duas formatações a cada edi- ção: o completo, que possui dados que descrevem desde a equipe de pes- quisadores até os apêndices e anexos, e o executivo, que traz o resumo das principais informações, sendo bem condensado se comparado com o com- pleto. Para o desenvolvimento deste trabalho, foram utilizados os relatórios completos que trazem as informações detalhadas, proporcionando maior aprofundamento da pesquisa. Ao longo dos últimos treze anos, o relatório foi sendo aprimorado. No Quadro 2, é possível verificar de forma objetiva os temas e aprimoramentos metodológicos trabalhados desde 2001.
  • 30. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 30 Ano Temas e aprimoramentos metodológicos 2001 Principais taxas Condições de empreender Motivação para empreender Dados comparativos entre os países Características dos empreendimentos 2002 Empreendedorismo de alto potencial de crescimento Relação entre empreendedorismo e crescimento econômico dos países Fontes de recursos para empreender Investidores informais 2003 Contextualização detalhada a partir de pesquisas secundárias Tópicos especiais: investidores em capital de risco e novos habitats do empreendedorismo e a questão do gênero. Proposição para a melhoria do empreendedorismo no Brasil 2004 Correlação entre empreendedorismo e a economia global Caracterização dos grupos de países segundo renda per capita Mentalidade empreendedora no Brasil Empreendedorismo social 2005 Caracterização dos empreendedores estabelecidos Detalhamento dos estudos comparativos com outros países A inovação no empreendedorismo no Brasil O negócio na composição da renda do empreendedor Expectativa de geração de emprego e inserção internacional Busca de orientação e aconselhamento pelo empreendedor Resumos das atividades dos demais países participantes 2006 Cálculo do potencial de inovação dos empreendimentos Identificação do empreendedorismo brasileiro Políticas e programas educacionais voltados ao empreendedor Descontinuidade dos negócios no Brasil Implicações para formuladores de políticas públicas (continua)
  • 31. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 31 Ano Temas e aprimoramentos metodológicos 2007 Empreendedorismo brasileiro em perspectiva comparada Financiamento do Empreendedorismo no Brasil Aspectos socioculturais da atividade empreendedora no Brasil, sob a perspectiva comparada Acesso à informação e à tecnologia pelo empreendedor brasileiro Razões para a descontinuidade dos negócios no Brasil Empreendedores em série Descrição de programas voltados ao empreendedorismo 2008 Absorção de inovação na sociedade brasileira Redes de relacionamento e de informações do empreendedor Intraempreendedorismo Educação à capacitação para o empreendedorismo no Brasil 2009 Agrupamento dos países segundo o nível de desenvolvimento econômico, competitividade e desenvolvimento global Introdução de algumas mudanças no âmbito internacional, na forma de abordagem da dinâmica Empreendedora no país, especialmente em relação às atividades e aspirações empreendedoras 2010 Características demográficas do empreendedor no Brasil 2011 Visão mais ampla com a inclusão de dados dos empreendedores estabelecidos no que tange aos aspectos das variáveis sociodemográficas, perfil empreendedor brasileiro, mentalidade empreendedora e caraterísticas dos empreendimentos 2012 Busca de órgãos de apoio introduzidos na pesquisa Os sonhos dos brasileiros também ganharam espaço na pesquisa 2013 O relatório sofreu mudança na ordem dos tópicos, mas os dados pesquisados seguem os mesmos do ano anterior Quadro 2 - Evolução da pesquisa GEM (2001-2013) Fonte: Adaptado de GEM (2009) (conclusão)
  • 32. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 32 Percebe-se o desafio de compilar as informações sobre o empreende- dorismo no país já que a cada ano foram sendo introduzidas novas aborda- gens. A partir de 2010, o relatório começou a trazer as informações de acor- do com as características demográficas do empreendedor brasileiro, o que proporcionou aos pesquisadores dados de regiões específicas de interesse. Já em 2011 foram introduzidos no relatório os dados dos empreendedo- res estabelecidos, que até então eram mencionados de forma abrangente, considerando que o foco até então era conhecer o processo de criação de novos negócios, fenômeno que ajuda a explicar o processo de crescimento e desenvolvimento de uma economia. Com a inclusão dos empreendedo- res estabelecidos, também foi possível descrever a manutenção da atividade econômica e a geração de emprego e renda. Em 2012 o relatório começa a ganhar uma forma padrão, facilitan- do os estudos comparativos de cada ano. Nesse ano especificamente duas abordagens foram acrescentadas ao relatório, a primeira foi o sonho dos brasileiros. Ao elencar os principais sonhos dos brasileiros, a prioridade é viajar pelo Brasil, a segunda, a aquisição da casa própria e logo após, ter seu próprio negócio. Nota-se que a atividade empreendedora como car- reira é fundamental para o desenvolvimento do empreendedorismo, mas também é importante que esta opção esteja relacionada ao empreendedo- rismo por oportunidade e não por necessidade, considerando que 88,1% das pessoas pesquisadas em 2012 consideram abrir um negócio uma opção desejável de carreira. A segunda abordagem introduzida no relatório do GEM em 2012 foram as informações sobre os órgãos de apoio, que demonstraram que 82,2% dos empreendedores não buscam auxílio destas associações, como, por exemplo, do SEBRAE. Uma possível explicação para este índice alto é que os empreendedores, em sua maioria (54%), mencionam possuir co- nhecimento, habilidades e experiências necessárias para começar um novo negócio (GEM, 2012). Na sua última edição, no ano de 2013, o relatório sofreu basicamente uma mudança na ordem dos tópicos, mas os dados pesquisados seguem os mesmos do ano anterior, ficando sua estrutura mais simplificada conforme o Quadro 3.
  • 33. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 33 1 EMPREENDEDORISMO NO BRASIL Taxas Gerais Empreendedores iniciais Empreendedores nascentes e novos Empreendedores estabelecidos Empreendedores por necessidade Empreendedores por oportunidade Taxas específicas de empreendedores segundo variáveis sociodemográficas Empreendedores iniciais Sexo, faixa etária, escolaridade, número de familiares e renda Empreendedores estabelecidos 2 PERFIL DOS EMPREENDEDORES BRASILEIROS Empreendedores iniciais Sexo, faixa etária, escolaridade, número de familiares e renda Empreendedores estabelecidos 3 CARACTERÍSTICAS DOS EMPREENDIMENTOS Empreendedores iniciais Falta de novidade nos produtos ou serviços prestados Existência de concorrência Empreendedores estabelecidos Número de empregados Expectativa de geração de empregos nos próximos 5 anos Tempo de tecnologia Faturamento (continua)
  • 34. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 34 4 MENTALIDADE EMPREENDEDORA Conhecem pessoas que abriram um novo negócio nos últimos 2 anos Oportunidade de um novo negócio nos próximos 5 meses Possuem conhecimento, habilidades e experiências necessárias para começar um novo negócio Medo do fracasso não impediria de ir em frente Padrão de vida Novo negócio como padrão de vida desejável de carreira Status e respeito perante a sociedade Divulgação de novos negócios bem-sucedidos na mídia Desejos 5 BUSCA DE ÓRGÃOS DE APOIO Procura por órgãos de apoio Órgãos de apoio que se destacam 6 CONDIÇÕES PARA EMPREENDER NO PAÍS Fatores favoráveis Fatores passíveis de melhorias Avaliação positiva Avaliação negativa Quadro 3 - Estrutura simplificada do relatório GEM Brasil em 2013 Fonte: Adaptado de GEM (2013) Todas as informações que constam na estrutura simplificada do rela- tório em 2013 possuem informações sobre o Brasil e divididas por regiões. Entretanto, as informações particulares de cada região não foram foco des- te estudo. Tratando-se do bloco de empreendedorismo no Brasil, é possível fazer uma linha evolutiva desde 2002 a 2013 sobre a atividade empreende- dora, segundo o estágio do empreendimento, conforme Figura 3. (conclusão)
  • 35. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 35 Figura 3 - Evolução da atividade empreendedora segundo o estágio do empreendimento Fonte: Adaptado de GEM (2002-2013) A população economicamente ativa (TEA) no Brasil é estimada em 123 milhões de indivíduos correspondendo às idades de 18 a 64 anos. Tem-se que 21 milhões (17,3%) são empreendedores iniciais e 19 milhões (15,4%) estabelecidos. Dentre o total de empreendedores no país, pode- -se, ainda, categorizá-los por oportunidade e por necessidade conforme a Figura 4. Figura 4 - Evolução da atividade empreendedora segundo a oportunidade e necessidade Fonte: Adaptado de GEM (2002-2013)
  • 36. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 36 Percebeu-se que em 2002 a incidência de empreendedores por neces- sidade era maior que por oportunidade e, ao longo dos anos, o cenário se modificou; o brasileiro hoje empreende por oportunidade e não por neces- sidade. Esta tendência de aumento, que se observa nas variáveis, indica a vitalidade da atividade no Brasil, onde, mesmo em um contexto de intenso crescimento do emprego formal, o empreendedorismo por oportunidade continua sendo uma alternativa para milhões de brasileiros. De acordo com a pesquisa do GEM, no período de 2002 a 2013, a faixa etária com a maior taxa de empreendedores é a de 25 a 34 anos (21,9%), seguida pela faixa etária de 35 a 44 anos (19,9%). No grupo empreendedor inicial, estas faixas etárias representam um percentual de 33,1% e 25,8% do universo, respectivamente. Essas taxas são diferentes no caso do empreendedor estabelecido. No Brasil, as maiores incidências de empreendedores estabelecidos ocorrem na faixa entre 45 a 54 anos (24,3%), seguida das faixas de 35-44 anos e 55-64 anos, ambas acima de 18,5%. Outro dado da pesquisa que merece destaque se refere à partici- pação feminina nos empreendimentos iniciais no Brasil (participação de 52,2%). O empreendedorismo vem sendo uma opção de carreira e renda para as mulheres brasileiras. Ao se tratar de características dos empreendimentos, alguns dados chamam a atenção como, por exemplo, no ano de 2013, quando a falta de novidade em relação aos produtos ou serviços ofertados apresentou um percentual de 99%. Verifica-se que os brasileiros são empreendedores, mas lhes falta serem inovadores e dificilmente conseguirão alcançar índices sa- tisfatórios neste fator com a utilização de tecnologia ou processo datando de mais de 5 anos (99,9%). Quanto à geração de emprego, mais de 60% não possui empregados e mais 55% não têm a expectativa de gerar qualquer emprego nos próximos 5 anos, o que pode dificultar o desenvolvimento econômico esperado. De modo geral, pode-se dizer que os empreendedores possuem baixo conteúdo tecnológico, com pequenas barreiras voltadas ao mercado interno e que os negócios são geridos pelo próprio proprietário. Na abordagem das condições para empreender no país em 2013, veri- ficou-se três pontos desfavoráveis e três pontos favoráveis, também encon- trados, com grande frequência desde 2001. Dentre os fatores desfavorá- veis, estão as políticas governamentais, que aparecem com um percentual de 80,2% no que tangem aos impostos, às burocracias e à complexidade dos processos, seguidos de apoio financeiro e educação para capacitação.
  • 37. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 37 Em contrapartida, os fatores favoráveis são as normas culturais, acesso ao mercado e políticas governamentais referentes às leis e estruturas para micro e pequenas empresas. Percebe-se que este último fator pode estar refletindo a entrada em vigor da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, em 2007, e da Lei do Empreendedor Individual, em 2008, enquanto leis decisivas para impulsionar o empreendedorismo no Brasil. 5 CONCLUSÃO No momento em que as atenções estão voltadas para as mudanças econômicas e sociais no mundo, é fundamental destacar o papel dos em- preendedores brasileiros neste contexto. A economia dita as regras de de- senvolvimento e o panorama, extremamente positivo do empreendedoris- mo no país, reforça a necessidade de se estabelecer uma política pública abrangente e eficaz para os pequenos negócios, grandes geradores de renda e ocupação. O IBQP destacou-se no que se refere à pesquisa sobre empreendedo- rismo. Este órgão elabora anualmente um relatório com informações sobre empreendedorismo nacional, consideradas relevantes aos diversos setores da economia e sociedade. O GEM vem consolidando-se como um dos mais importantes estudos acerca do empreendedorismo no país, tendo a metodologia de pesquisa aperfeiçoada a cada ano, com um novo olhar para o fenômeno empreendedor. O GEM serve como uma ferramenta de busca sobre empreendedo- rismo já que apresenta dados sobre a evolução do empreendedorismo nos últimos anos, principalmente as informações relacionadas aos empreen- dedores inicias. Tendo como base este cenário, o trabalho procurou evi- denciar dados dos relatórios do GEM, no período de 2001 a 2013, que demonstrassem a evolução do empreendedorismo no Brasil, atingindo seu objetivo ao final da investigação. O desenvolvimento da pesquisa mostrou que, ao longo dos anos, os cenários foram favoráveis ao empreendedorismo no Brasil. Com o aumen- to da taxa de empreendedores iniciais, estima-se que em 2013, 40 milhões de brasileiros, entre 18 e 64 anos estejam envolvidos com a atividade em- preendedora. Além disso, verificou-se, também, o aumento da proporção de empreendedores por oportunidade, o que reflete uma decisão mais pla- nejada em relação à opção pelo empreendedorismo, aumentando a proba-
  • 38. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 38 bilidade de sucesso do negócio. O estudo revelou, também, que a propor- ção de mulheres empreendedoras superou a proporção de homens. Como oportunidades de melhorias, encontram-se os baixos percen- tuais de novidade nos produtos e serviços, a tecnologia obsoleta, além da baixa perspectiva de geração de empregos nos próximos cinco anos. Apesar disso, o empreendedorismo desfruta de uma excelente imagem no país, devido à proporção de pessoas que consideram o empreendedorismo como uma opção de carreira desejada. Entretanto, para que seja possível desen- volver ainda mais a prática empreendedora no país, existe a necessidade permanente de políticas governamentais voltadas ao estímulo do empreen- dedorismo e para a criação de um ambiente favorável aos pequenos negó- cios, que influencia no desenvolvimento econômico e social do Brasil, bem como atenção às questões como inovação e tecnologia. Verificou-se também, através da pesquisa, que o GEM vem ganhando uma padronização na sua linha de pesquisa e redação do relatório desde 2012, o que gerou um grande desafio ao pesquisar informações que de- monstrem um determinado cenário ao longo dos últimos anos. Acredi- ta-se que, se o relatório mantiver a estrutura de 2013, será mais simples e objetivo desenvolver pesquisas a partir desta fonte, não descartando novas informações, que poderiam ser agregadas em um capítulo específico para novos dados. Dentre as limitações desta pesquisa, destacam-se o fato do estudo ter sido realizado em apenas uma fonte de dados, o IBQP, e de estar limitado à apenas aos relatórios do GEM. Ressalta-se a existência de diferentes fontes de dados sobre empreendedorismo, como por exemplo, o SEBRAE. Sugere-se que sejam realizadas novas pesquisas que visem verificar o avanço na área de pesquisa sobre o empreendedorismo nos próximos anos. Sugere-se, ainda, a realização de pesquisas que confrontem os resultados obtidos nesta, com explorações, investigações do mesmo gênero, embasa- das em outras fontes de dados. A partir dos resultados da pesquisa realiza- da neste estudo, espera-se que este trabalho sirva de subsídio para outros pesquisadores, dada à relevância do empreendedorismo no cenário atual.
  • 39. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 39 REFERÊNCIAS ARRUDA, C.; COZZI, A.; NOGUEIRA, V.; DA COSTA, V. O ecossistema empreendedor brasileiro de startups. Belo Horizonte: Fundação Dom Cabral, 2013. BESSANT, J. R.; TIDD, J. Inovação e empreendedorismo. Porto Alegre: Bookman, 2009. BYGRAVE, W. D.; HOFER, C. W. Theorizing about entrepreneurship. Entrepreneurship, Theory and Pratice, 16 (2), p. 13-22, 1991. CHIAVENATO, Idalberto. Empreendedorismo: dando asas ao espírito empreendedor. São Paulo: Saraiva, 2006. CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. DEGEN, R. J. O empreendedor: empreender como opção de carreira. São Paulo: Pearson, 2009. DOLABELA, F. Pedagogia empreendedora. São Paulo: Cultura. 2003. DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo na prática: mitos e verdades do empreendedor. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. DRUCKER, P. F. Inovação e espírito empreendedor (entrepreneurship). São Paulo: Pioneira Thomson, 2003. FILION, L. J. Empreendedorismo: empreendedores e proprietários- gerentes de pequenos negócios. Revista de Administração. São Paulo v. 34, n. 2, p. 05-28, abr./jun. 1999. FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido, São Paulo: Paz e Terra, 36. ed. 2003.
  • 40. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 40 GEM - GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR - Empreendedorismo no Brasil - 2001. Relatório Nacional: Curitiba, IBQP, 2001. ______ . Empreendedorismo no Brasil: 2004. Curitiba: IBQP, 2002. ______ . Empreendedorismo no Brasil: 2004. Curitiba: IBQP, 2003. ______ . Empreendedorismo no Brasil: 2004. Curitiba: IBQP, 2004. ______ . Empreendedorismo no Brasil: 2004. Curitiba: IBQP, 2005. ______ . Empreendedorismo no Brasil: 2005. Curitiba: IBQP, 2006. ______ . Empreendedorismo no Brasil: 2006. Curitiba: IBQP, 2007. ______ . Empreendedorismo no Brasil: 2007. Curitiba: IBQP, 2008. ______ . Empreendedorismo no Brasil: 2008. Curitiba: IBQP, 2009. ______ . Empreendedorismo no Brasil: 2009. Curitiba: IBQP, 2010. ______ . Empreendedorismo no Brasil: 2009. Curitiba: IBQP, 2011. ______ . Empreendedorismo no Brasil: 2009. Curitiba: IBQP, 2012. ______ . Empreendedorismo no Brasil: 2009. Curitiba: IBQP, 2013. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1991. HAIR, J. F. Fundamentos de métodos de pesquisa em administração. Porto Alegre: Bookman, 2005. HISRISH, R. D.; PETERS, M. P. Empreendedorismo. 5. ed. Porto Alegre, 2004. LIMA, M. C. Monografia: a engenharia da produção acadêmica. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
  • 41. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 41 MAXIMIANO, A. C. A. Administração para empreendedores: fundamentos da criação e da gestão de novos negócios. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. MEDEIROS, T. C. P. Empreendedorismo e inovação: Um estudo de caso na indústria de software do Rio Grande do Norte. Dissertação de mestrado. Porto Alegre: UFRGS, 2012. MILLER, D. “The correlates of entrepreneurship in three types of firms”, Management Science. v. 29, n. 7, p. 770-791, 1983. MORAES, L. S.; SOUZA, L. M. Causas das falências das pequenas empresas no Brasil. Revista científica Semana Acadêmica. 7. ed., v. 1, 2012. SEBRAE, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Empretec. Disponível em: <http://www.sebraemais.com.br/solucoes/ empretec>. Acesso em: 22 nov. 2013. SELA, V. M.; SELA, F. R.; SELA, D. Q. Ensino do empreendedorismo na educação básica, voltado para o desenvolvimento econômico e social sustentável: um estudo sobre a metodologia “Pedagogia Empreendedora” de Fernando Dolabela. Anais… EnANPAD, Salvador, 2006. SCHUMPETER, J. A. The creative response in economy history. Journal of Economic History, p. 149-159, 1947. TEIXEIRA, E. C. O papel das políticas públicas no desenvolvimento local e na transformação da realidade. Revista AATR-BA, 2002. VERGARA, S. C. Projetos e relatórios em administração. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000.
  • 42.
  • 43. 43 ANÁLISE COMPREENSIVA DO EMPREENDEDORISMO DE BASE TECNOLÓGICA1 Deise Natalia Simas Land Dusan Schreiber 1 INTRODUÇÃO Nos últimos anos, com os avanços da ciência e da tecnologia, percebe- -se uma modificação na forma de empreender. A liberação comercial entre países tem favorecido a criação de um ambiente cada vez mais competitivo. Várias empresas surgiram de “garagem”, como a Microsoft, Apple, Google e se transformaram em grandes impérios, mundialmente. Entre- tanto, esta realidade parece muito distante da realidade brasileira. Apesar dos noticiários divulgarem que o Brasil está na “moda” e destacarem que sua população é, naturalmente, empreendedora, nota-se uma banalização dos termos empreender e startups, o que pode resultar em uma interpretação equivocada do quadro de facilidades e estímulos para o empreendedoris- mo, podendo não representar a situação real. As dificuldades variam desde a infraestrutura oferecida como, por exemplo, a qualidade da internet até as dificuldades de acesso ao investimento de capital e as políticas públicas inadequadas, o que repercute diretamente no seu mercado interno. Empreender não é algo novo, pois faz parte da evolução humana desde o início dos tempos, como fonte de sobrevivência. Entretanto, nos últimos anos, em relação ao empreendedorismo, constata-se o esforço dos agentes governamentais para estimular e consolidar as iniciativas empreendedoras, com base nas evidências empíricas que comprovam a contribuição relevante das empresas de pequeno porte para o desenvolvimento econômico e social. Visando obter a compreensão das variáveis que influenciam o surgimento 1 Artigo publicado em anais do SIMPOI, FGV, 2015.
  • 44. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 44 e a consolidação do empreendedorismo, foi realizada, ao longo das últimas duas décadas, uma série de estudos, contribuindo para a concepção de po- líticas públicas e de incentivos à iniciativa empreendedora (SEC2 , 2011). Fazendo um recorte dentro do tema do empreendedorismo, este estu- do se propõe investigar e caracterizar as variáveis que moldam o contexto do empreendedorismo de base tecnológica no Brasil. A pergunta de pes- quisa que norteou o desenvolvimento do estudo foi: “Qual é a percepção dos empreendedores de projetos de base tecnológica acerca das condições de mercado no qual estão inseridos?” Com este objetivo, a revisão teórica abordou o empreendedorismo no Brasil, com destaque ao impacto da sua tardia industrialização, a desconsideração do mercado externo e o pou- co investimento em pesquisas e desenvolvimento, ao contrário dos países desenvolvidos que introduziram a base conceitual acerca do empreende- dorismo de base tecnológica. Para esta pesquisa, o empreendedor de base tecnológica é quem constitui uma empresa no segmento de Tecnologia de informação e comunicação – TIC, em virtude do conhecimento técnico, afinidade e/ou da experiência prévia. Esta pesquisa tem por objetivo geral identificar as variáveis que in- fluenciam o surgimento e a consolidação das startups de base tecnológica no mercado. Para cumprir com o objetivo geral deste trabalho, foi neces- sário atingir alguns objetivos específicos, a saber: (1) apresentar a base con- ceitual do empreendedorismo de base tecnológica; (2) identificar e analisar o cenário social e econômico no qual as empresas estão inseridas; (3) anali- sar o impacto de empresas de base tecnológica nas estruturas competitivas e mercadológicas. A fim de responder o problema de pesquisa, optou-se pela metodo- logia de pesquisa exploratória, desenvolvida por meio de estudo de casos múltiplos, com abordagem qualitativa, por meio da utilização de entrevista semiestruturada, como instrumento de coleta de dados. O trabalho inicia com a apresentação de bases teóricas que nortearam o desenvolvimento da pesquisa, principalmente na construção do instru- mento de pesquisa e a análise de dados empíricos. O método é detalhado na sequência, bem como os resultados, analisados à luz das vertentes teóri- cas revistas. O trabalho é encerrado com as considerações finais. 2 Secretaria da Economia Criativa.
  • 45. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 45 2 EMPREENDEDORISMO DE BASE TECNOLÓGICA Conforme o relatório do Global Entrepreneurship Monitor – GEM (2012), o empreendedorismo é considerado um processo que evolui ao longo dos tempos, sendo um dos fatores originários para a produção de riqueza, contribuindo para a melhora das condições de vida da população. Por esse motivo, é possível afirmar que o surgimento e a diversificação de novas empresas são importantes fatores para o desenvolvimento socioeco- nômico de uma região. A consolidação de um número maior de empresas proporciona uma melhor distribuição de renda, novas oportunidades de negócios, com a diversificação da economia e melhor aproveitamento dos recursos humanos e naturais (SEBRAE/SP, 2008). Souza (2001) afirma que o empreendedor traz consigo alguns traços de personalidade, tais como: motivação e otimismo, disposição para tra- balhar com afinco, entendimento das experiências fracassadas como opor- tunidades de aprendizado e melhorias. Dornelas (2010, p. 76) apresenta o seguinte ponto de vista “[...] raramente, o empreendedorismo é uma proposta de enriquecimento rápido. Pelo contrário, é uma proposta de renovação contínua, pois os empreendedores nunca ficam satisfeitos com a natureza de sua oportunidade”. Com base neste conceito, Dornelas (2010) salienta que os empre- endedores têm a oportunidade de solucionar algum problema específico. Contudo, de forma predominante, o empreendedorismo brasileiro é, ain- da, motivado pela necessidade e pelo baixo nível de inovação. Esta cons- tatação se relaciona à maioria das empresas e das organizações de todos os segmentos (NOGUEIRA, 2007). Em síntese, Domingues (2010) classifica empreendedores em duas categorias: (i) os empreendedores motivados pela necessidade, em que as pessoas foram excluídas do mercado formal de trabalho e buscam uma alternativa de renda; (ii) os empreendedores motivados por oportunidade, que exploram boas ideias e as transformam em negócios rentáveis. Para Tidd e Bessant (2009) e Hisrich e Peters (2004), a prática em- preendedora está relacionada ao histórico familiar. Na visão dos autores, o ambiente familiar exerce papel coadjuvante sobre o indivíduo no ato de em- preender, com grande poder de persuasão, concluindo que a grande maioria dos empreendedores possui ao menos um familiar que atua como autônomo ou profissional liberal, que serve como modelo oferecendo instrução e apoio.
  • 46. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 46 No ponto de vista de Bhidé (2002), a maioria dos negócios está sur- gindo através do autofinanciamento dos empreendedores ou oriundo de amigos ou parentes. No entanto, as características do plano de negócios são, normalmente, diferentes dos exigidos por investidores profissionais, de mercado. Isso, na prática, pode significar o engessamento do negócio, abrindo mão da flexibilidade que o negócio precisa ter para se adaptar à complexidade do mercado. Para Dornelas (2010), o novo modelo de empreendedorismo, capaz de comercializar ideias, principalmente de base tecnológica, resulta no modelo de startups, que se desenvolvem com agilidade, com potencial de se transformar em uma empresa com alto nível de crescimento. Alguns exemplos bem-sucedidos deste modelo de negócio, consideradas verdadei- ras lendas do empreendedorismo, são: Google, Microsoft, Amazon e Face- book. As startups têm em comum, além de uma equipe multidisciplinar, a capacidade de explorar oportunidades enquanto que outras organizações as percebem apenas como confusão e caos. Gonzalez, Girardi e Segatto (2009) corroboram com esta vertente teórica ao afirmar que a maioria das empresas está sendo criada a partir de tecnologias desenvolvidas principalmente no interior da própria orga- nização. Entretanto, poucas empresas de base tecnológica conseguem se tornar superstars, por atenderem a um nicho de mercado muito específico “[...] com sinergias não óbvias ou grandiosas” em outros mercados. Para os autores, esta estratégia não se sustenta em face da acirrada competitividade no mercado, podendo comprometer, inclusive, a sobrevivência da empresa em longo prazo (TIDD; BESSANT, 2009, p. 300). O domínio da tecnologia de ponta é fundamental para o desenvol- vimento econômico de uma nação responsável pela capacidade de gerar riquezas, com a alocação ótima e racional de recursos disponíveis (SAN- TOS, 1985; FERRO; TORKOMIAM,1988). O fortalecimento da econo- mia em países desenvolvidos é marcado pela presença de um “[...] parque industrial organizado e competitivo, um setor de serviços dinâmico e uma agricultura de alta produtividade” (SANTOS, 1985, p. 27). Necessaria- mente, não significa que as nações devem buscar o alto nível de desenvol- vimento nos três setores, mas que cada um dos citados segmentos possui uma representatividade importante em termos tecnológicos e produtivos. Com base em resultados de seus estudos, Marcovitch, Santos e Dutra (1986) e Santos (1984) caracterizam as empresas de tecnologia como em-
  • 47. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 47 preendimentos criados para fabricar produtos ou serviços que utilizam alto conteúdo tecnológico, operantes com processos, produtos ou serviços com tecnologia nova ou inovadora, resultantes de investimentos em pesquisa tecnológica decorrentes dos setores de informática, biotecnologia, robóti- ca, genética, microeletrônica, aeroespacial, semicondutores, com produtos ou processos comerciáveis. Santos (1985) também ressalta a importância de um sólido parque industrial bem desenvolvido e ativo, o que é apontado como o propulsor dos países desenvolvidos como EUA, Japão, França, Alemanha, entre ou- tros. Nesse sentido, destacam-se as empresas do setor tradicional, com as atividades voltadas para a siderurgia, mineração e tecelagem. A indústria tradicional é definida pela Anprotec (2002, p. 47) como aquela que faz uso de “[...] tecnologias maduras em seu processo produtivo”. Em países desenvolvidos, investimentos em pesquisas científicas e tec- nológicas nos setores tradicionais repercutiram em avanços nestas áreas. Os frutos dos investimentos nas últimas décadas dinamizaram a capacidade de produção nacional que, com os avanços da ciência e da tecnologia, redese- nharam os cenários dos setores industriais como, por exemplo, o setor auto- mobilístico, plástico e naval. Com o advento de novas empresas industriais, surgiram novas empresas de base tecnológica, viabilizadas a partir do desen- volvimento da pesquisa cientifica e tecnológica (SANTOS, 1984; 1985). Exemplificando, Santos (1985) diz que o Vale do Silício desenvol- veu-se e tornou-se referência com o advento da microeletrônica aplicada à indústria. As aplicações dos circuitos integrados gravados em chips de silício permitiram baixar os custos e o tamanho dos computadores. Na telecomunicação e na biotecnologia, os avanços criaram oportunidades de exploração industrial e comercial. O êxito do Vale do Silício aconteceu pela transferência imediata de tecnologia resultante das pesquisas, viabi- lizado pelo forte relacionamento de empresas de alta tecnologia com as grandes universidades próximas e com as instituições de pesquisa tecnoló- gica existentes nas imediações. Nogueira (2007) constata que os baixos índices de empreendedores tecnológicos, a partir de tecnologia nacional, podem ser consequência de um modelo mental que caracteriza a cultura empreendedora brasileira, cujas origens se iniciam na época do descobrimento do Brasil, devido às condições comerciais impostas ao Brasil como “[...] empresa mercantil para gerar a acumulação primitiva do capital português. A função da colônia era
  • 48. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 48 produzir bens primários a baixo custo para comercialização na Europa” (NOGUEIRA, 2007, p. 252). No período da colonização, não houve pre- ocupação em desenvolver o progresso da nação por meio da criação de ins- tituições adequadas ao território. Em vez disso, os parâmetros indicativos de produtividade não se traduziam em descobrimentos de novas técnicas de trabalho, que, ao contrário, era centralizado em superexploração e con- trole rígido da força de trabalho escravizada. Segundo Nogueira (2007), os brasileiros ainda não estão em busca da sua independência tecnológica. O cenário do empreendedorismo no Brasil teve no início um movi- mento bastante peculiar, com a economia predominantemente agrícola. Aos poucos, as iniciativas e as ações empreendedoras deslocaram-se do campo para as cidades. No entanto, o modelo do empreendedorismo, que nasceu em campo, foi incorporado na forma de gestão da produção industrial no cenário brasileiro. Mais tarde, em período histórico ainda marcado pelo uso de mão de obra escravizada, o sistema econômico e social, que era governado por interesses políticos e baseado no Coronelismo, inibiam o surgimento e consolidação da iniciativa empreendedora, baseada na introdução de novas técnicas de fabricação. Essas variáveis somadas a outros fatores sociais arcai- cos significaram atraso de 100 anos no processo de industrialização e desen- volvimento do Brasil (NOGUEIRA, 2007; BNDES, 1996). Enquanto isso, em países desenvolvidos, não faltavam investidores (pri- vados e públicos) dispostos a estimular as iniciativas empreendedoras, nota- damente decorrentes das atividades de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias. Apesar dos estímulos proporcionados pelos agentes públicos para a pesquisa e desenvolvimento, muitos estudiosos identificam o governo como inibidor do empreendedorismo tecnológico. Day (1999, p. 98) afirma: “[...] e não como uma solução, ao aprimoramento das capacidades tecnoló- gicas de uma nação, com seu poder de taxar, regular e, sob outros aspectos, onerar as inovações a cada passo”. Apesar da constatação de entraves que o governo impõe à atividade empreendedora, Day (1999) se posiciona favora- velmente às atitudes governamentais, destacando que muitas das tecnologias disponíveis no mercado foram viabilizadas graças aos aportes financeiros go- vernamentais que disponibilizaram o capital de investimento e a estrutura física como os Institutos de Pesquisa, interpretando, desta forma, o papel do governo como primordial e ditador do ritmo da inovação tecnológica. Day (1999) discorre sobre alguns pontos que governantes podem melhorar a fim de criar ambiente facilitador para o surgimento de novas
  • 49. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 49 empresas de base tecnológica: (i) infraestrutura institucional: através de normas regulamentares para o estímulo à propriedade intelectual para pro- teger e estimular novas invenções e, em conjunto, adotar o uso de inova- ções tecnológicas no sistema educacional, qualificando a mão de obra para adoção rápida de novas tecnologias e sistema de financiamentos acessível a todos os portes de empresas; (ii) infraestrutura de pesquisa: investimento em pesquisa básica nos âmbitos da física, eletrônica, microbiologia, sof- twares, criando mecanismos para reter os resultados obtidos, assim como as invenções; (iii) tecnologia militar (pesados investimentos pelos EUA como na União Soviética relacionados à defesa militar, aviação espacial e nas comunicações resultaram em grandes descobertas como a internet, modificando inclusive, o estilo de vida das pessoas); (iv) financiamento: assegurando o acesso ao capital de baixo custo. Segundo Schwartzman (1993), os países envolvidos em conflito mi- litar investiram na associação destes três itens: (i) pesquisas e desenvolvi- mento militar, (ii) pesquisas básicas e engenharia, (iii) tecnologia indus- trial, repercutindo em avanços do conhecimento científico e tecnológico, em novas e potenciais descobertas em termos militares, mas também em vantagem econômica perante países que não possuem tais inovações. En- tretanto, os avanços precisam ser submetidos às medidas governamentais, pois poderiam fugir do controle. Com o fim da Guerra Fria na década de1990, o governo direciona seu posicionamento para outras estratégias; os países estão diminuindo seus investimentos em aparatos bélicos, con- sequentemente, alterando a tradicional associação dos três itens citados anteriormente. Os investimentos em avanços estão tomando novos ru- mos, sendo investidos em saúde, meio ambiente e energia. Em decorrência disso, conforme Schwartzman (1993, p. 17): “A inovação científica neste novo contexto predominantemente civil tenderá a se orientar, sobretudo, pelo mercado e por demandas sociais de curto prazo e não mais pelas prio- ridades governamentais”. Ainda para Schwartzman (1993), em meados a década de 1970, perí- odo em que estava instalada a Ditadura Militar no Brasil, o país registrou um aumento nos índices do produto interno bruto (PIB), período conhe- cido como “milagre econômico” resultado de investimentos em infraestru- tura no segmento industrial, siderurgia e energia. As consequências desses avanços se refletiram nos anos seguintes, uma vez que foram impulsiona- dos com capital estrangeiro junto ao Fundo Monetário Nacional (FMI).
  • 50. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 50 A dívida externa registrou aumento de US$ 4 bilhões para US$ 12 bilhões entre os anos de 1968 e 1973, desequilibrando inclusive a balança comer- cial, já que os credores internacionais acreditavam que o Brasil não seria capaz de honrar com suas dívidas. Internamente, o país atravessou uma forte crise econômico-financeira, registrando altos índices inflacionários e instabilidade da moeda corrente. Para Schwartzman (1993), a crise do Brasil, entre as décadas de 1960 e 1980, afetou os setores de Ciência e Tecnologia em longo prazo, com a redução de recursos para a maioria dos programas existentes, diminuindo as perspectivas para o financiamento de novos projetos, mesmo de projetos firmados em compromissos internacionais. Esta situação resultou no atra- so em avanços tecnológicos na comparação com os países desenvolvidos. Atualmente, as oportunidades de negócios estão, na sua maioria, re- lacionadas com as atividades exercidas no dia a dia, com o conhecimento individual do empreendedor, respaldado no network que possuem e com as pessoas com as quais se relacionam. Segundo GEM (2012), os índices de empreendedorismo no Brasil não são maiores devido à falta de políti- cas governamentais consistentes e sustentáveis, à elevada carga tributária brasileira e ao excesso de burocracia que consome recursos como tempo e dinheiro, aumentando o custo de formalização de empresas nascentes e restringindo suas condições de competitividade. Outro fator limitante, principalmente para o empreendedorismo inicial (com até três meses de existência), é a falta de recursos financeiros, pois a maioria dos empreende- dores não atende às exigências bancárias para a concessão de financiamen- tos (GEM, 2012). 3 STARTUPS O século XXI é conhecido como a sociedade do conhecimento. A eco- nomia criativa é destacada por muitos autores como a revolução do sistema social, econômico e cultural, por meio do acesso à educação, motivados pela globalização e evoluções tecnológicas, repercutindo em novas formas de gestão dos recursos diante de incertezas do mercado (HANSON, 2012). Com as transformações, decorrente da globalização, impulsionada pelos avanços científicos, novas descobertas são rapidamente introduzidas no mercado através da criação de novas organizações. O ritmo acelerado que caracteriza o mercado atual, em especial, de tecnologia, intensifica a
  • 51. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 51 inovação. Este movimento é considerado, por muitos estudiosos, como tecnologia emergente, representando um alto potencial de transformação em setores inteiros, diminuindo seu período de permanência no merca- do, tornando-a rapidamente obsoleta (FERRO; TORKOMIAM, 1988; TIDD; BESSANT, 2009; DAY, 1999). A inovação tecnológica estimula o aparecimento de novas necessida- des de consumo. Este processo tem origem na aplicação da invenção do seu processo ou na introdução de novos procedimentos em processos ou produtos existentes, sendo resultado de uma “[...] atividade de pesquisa e desenvolvimento, ou da experiência e da habilidade prática de alguém” (MARCOVITCH; SANTOS; DUTRA, 1986, p. 11). A inovação tecno- lógica ou tecnologia emergente, “[...] possui o potencial de criar um novo segmento, ou transformar um já existente” (DAY, 1999, p. 18). Uma forte característica da tecnologia emergente, por estar em fase inicial da pesqui- sa, ou seja, do seu desenvolvimento, refere-se às expectativas de modifica- ção de estruturas competitivas, o que, no entanto, dificulta a avaliação do seu potencial de mercado (DAY, 1999). Com advento dos computadores móveis, bem como de tablets e smar- tphones, “[...] facultou-se o acesso aos sistemas de informações via internet, equipados com sistemas operacionais sofisticados, e os aplicativos ganharam mais importância do que o software de caixa” (EXAME, 2014, p. 40), pois pela rapidez das novas formas e dos novos métodos de executar atividades corriqueiras, possibilitam seu desenvolvimento e a introdução no merca- do. Estes novos modelos de negócios são considerados como a evolução do empreendedorismo, as Startups, empresas recém-criadas, ou ainda em fase inicial de estruturação, surgem com um produto promissor em um modelo de negócio repetível e escalável, porém de alto risco (SILVA et al., 2008). Modelo de negócio repetível pode ser definido como aquele que tem a capacidade de entregar o mesmo produto ou serviço novamente, sem precisar desenvolver novas customizações ou alterações individuais ou sem a necessidade de criar novas estruturas. Ser escalável significa ter a capaci- dade de entregar uma ou várias unidades do produto ou serviço, indepen- dentemente da demanda, sem que isso influencie no modelo de negócio, ou seja, facultando alcançar margem de lucro cada vez maior, gerando e acumulando riquezas, a custos cada vez menores (GITAHY, 2010). A crise econômica mundial do ano de 2008 impulsionou as Startups como alternativa ao trabalho convencional, caracterizando-se pela melhor
  • 52. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 52 qualidade de vida para o empreendedor (THE ECONOMIST, 2014). Na visão de Gaspar (2008), os empresários, especialmente os mais jovens, con- sideram o investimento em uma Startup como uma interseção da ciência e da arte. Os padrões de repetição do sucesso e do fracasso já conquistados por outros empreendedores em startups orientam os novos investidores, podendo aumentar drasticamente suas chances de inovar, através da socialização e do conhecimento compartilhado. Contudo, apesar da janela de oportunidades por meio deste modelo de negócios ter sido divulgada com mais intensidade somente nos últimos 2 a 3 anos, o número de novos empreendedores tecno- lógicos cresce exponencialmente (MARMER et al., 2012). No Brasil, os índices de Empreendedorismo Tecnológico ou Startup de base tecnológica, têm sido cada vez maiores, o que pode ser explicado pela redução dos custos de criação e inicialização deste tipo de negócio, bem como o fato de serem facilmente monetizáveis, de baixo custo de ma- nutenção e distribuição. Representam expectativas de geração lucros acima do mercado tradicional, o que se justifica pelo modelo de negócio espe- cífico e peculiar. Como as Startups de base tecnológica são organizações destinadas a criar e desenvolver soluções para necessidades específicas de um nicho de mercado, com necessidades ainda não atendidas ou atendidas inadequadamente, as Startups de base tecnológica iniciam suas atividades com um protótipo ou produto mínimo viável, a fim de validar sua ideia e atrair aportes milionários de investidores privados ou públicos (MARMER et al., 2012; SILVA et al., 2008; HARTMANN, 2013; XAVIER; CAN- CELLIER, 2008; ADMINISTRADORES, 2014; ABSTARTUP, 2014). Para o Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas – SE- BRAE (SEBRAE/RS, 2008), Startups são empresas nascentes, que querem validar sua ideia inovadora de produto ou modelo de negócio inovador junto ao mercado. Neste estágio inicial, considera-se de fundamental im- portância a realização de planejamento prévio, pautado em definições es- truturantes tais como o posicionamento estratégico, a construção de um protótipo, o dimensionamento da produção para viabilizar a comerciali- zação do produto em escala comercial bem como o estabelecimento de parcerias com clientes, fornecedores e financiadores do projeto. Para as Nações Unidas (UNCTAD, 2010), pode-se potencializar o empreendedorismo criativo através da união de esforços no desenvolvi- mento de políticas públicas com decisões estratégicas, respaldando o de- senvolvimento das comunidades regionais e locais, especialmente relacio-
  • 53. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 53 nadas à educação e identidade cultural. Por meio de políticas cruzadas, devem-se direcionar os esforços para a criação de uma conexão criativa, capaz de atrair potenciais investidores, desenvolvendo habilidades empre- endedoras, melhorando o acesso à infraestrutura de qualidade e modernas tecnologias. O empreendedorismo criativo “[...] certamente resultará em maiores níveis de geração de emprego, maiores oportunidades de forta- lecimento das capacidades de inovação e alta qualidade de vida social e cultural daqueles países” (UNCTAD, 2010, p. 25). Assim como vem acontecendo em empreendimentos tradicionais, empreendimentos criativos necessitam de recursos financeiros disponíveis para dar continuidade às suas atividades e se consolidar no mercado. No entanto, o que é possível constatar é que o acesso ao crédito para empre- endedores criativos está restrito aos editais públicos de fomento, uma vez que instituições financeiras públicas e privadas carecem de elementos para avaliar um empreendimento de base tecnológica, orientando o processo de concessão de crédito com base nos critérios aplicados aos tomadores de créditos atuantes do setor tradicional, dificultando o acesso ao crédito para esses novos empreendedores (SEC, 2011). Para a Secretaria da Economia Criativa – SEC (2011) no Brasil, esta dificuldade acontece, porque estudos sobre a economia criativa nacional são restritos às pesquisas locais e pontuais, sendo insuficientes para análise e compreensão global de suas características potenciais, impedindo uma melhor avaliação do impacto gerado na economia brasileira e dificultando o atendimento das exigências do mercado financeiro formal. Apesar de existirem alguns indicadores, estes estudos são, na sua maioria, realizados a partir de dados secundários, impedindo o Governo de tomar conhecimen- to acerca de oportunidades que, de outra forma, poderiam ser reforçadas e estimuladas por meio de políticas públicas consistentes. 4 MÉTODO Em alinhamento com o objetivo do estudo, os autores optaram pelo estudo de caso múltiplo e pela abordagem qualitativa, com a coleta de dados por meio de entrevistas semiestruturadas, levantamento documental e observação não participante de forma a atender a triangulação de dados, conforme recomenda Yin (2005). O trabalho pode ser considerado de na- tureza aplicada e, segundo os objetivos, descritivo e exploratório, por visar
  • 54. Empreendedorismo e Ação Empreendedora 54 o aumento do grau de conhecimento sobre o tema em tela, a saber: empre- endedorismo em startups e organizações de base tecnológica. Conforme já mencionado, os autores optaram por este delineamento metodológico por entender que este é o mais adequado para a pesquisa. O estudo de caso é caracterizado por Gil (2012) pela análise intensiva e exaustiva de uma situação particular. Yin (2005) indica o estudo de caso para eventos contemporâneos, inseridos no contexto da vida real, em situ- ações em que os comportamentos relevantes não podem ser manipulados, mas em que é possível executar observações e entrevistas sistemáticas. Vale complementar que o estudo foi realizado com uma visão externa dos pes- quisadores, sem manipulação dos dados obtidos. Já com relação à abordagem do problema, a opção pela pesquisa qua- litativa se deve ao fato de que ela é recomendada para casos em que a inter- pretação da pesquisa não pode ser traduzida em números. Assim, não serão utilizados métodos estatísticos. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave (GODOY, 1995). A coleta de dados, por meio de entrevistas semiestruturadas, tinha como objetivo principal identificar e caracterizar a percepção dos novos empreendedores acerca do ambiente no qual suas organizações de base tec- nológica operavam. Para tanto, foram entrevistados os sócios fundadores das empresas Alpha, Beta e Gama. As entrevistas aconteceram nos meses de março e abril de 2014, pelo aplicativo Skype®, e gravadas com consen- timento dos entrevistados para posterior transcrição. Os dados obtidos foram submetidos à análise de conteúdo que, se- gundo Bardin (2004, p. 38), refere-se a um “[...] conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e obje- tivos de descrição do conteúdo das mensagens”. Para facultar a referida análise, os dados coletados foram categorizados por assunto e interpretados à luz das vertentes teóricas revistas. 5 CONTEXTUALIZAÇÃO DAS EMPRESAS A empresa Alpha foi constituída com o objetivo de atuar no segmento musical. O produto é um aplicativo mobile para que músicos ou até mesmo pessoas que fazem da música um hobby encontrem outros músicos, sejam eles profissionais ou amadores, com as competências complementares, viabi- lizando a harmonização dos esforços e a composição de um som (Jam) através