Este artigo tem por objetivo mostrar as opiniões de diversos cidadãos que serão influenciados pelas futuras obras da Linha 6-Laranja do Metrô, levando-se em consideração as diversas incertezas que cercam a execução do projeto, interrompida pela falta de financiamento (G1, 2016). Para isso foi realizada uma pesquisa junto a várias pessoas que residem próximas às estações Brasilândia, Freguesia do Ó, Higienópolis-Mackenzie e São Joaquim sobre o que pensam da execução da linha metroviária, que o Governo do Estado prevê entregar em 2021 (ESTADO DE MINAS, 2016). Numa amostra de 127 pessoas, a maioria dos entrevistados concorda que as obras trarão benefícios no deslocamento diário e discordam de suas regiões estarem despreparadas, no entanto não demonstram confiança na realização das obras.
1. 1
Linha 6-Laranja do Metrô: Medindo Opiniões
Bruno Akio Kawasaki
Ibrahin Mohamed Chahine
Thiago dos Santos Silva
Willian Soares Cardoso
25 de novembro de 2016
Resumo
Este artigo tem por objetivo mostrar as opiniões de diversos cidadãos que serão
influenciados pelas futuras obras da Linha 6-Laranja do Metrô, levando-se em
consideração as diversas incertezas que cercam a execução do projeto, interrompida
pela falta de financiamento (G1, 2016). Para isso foi realizada uma pesquisa junto a
várias pessoas que residem próximas às estações Brasilândia, Freguesia do Ó,
Higienópolis-Mackenzie e São Joaquim sobre o que pensam da execução da linha
metroviária, que o Governo do Estado prevê entregar em 2021 (ESTADO DE MINAS,
2016). Numa amostra de 127 pessoas, a maioria dos entrevistados concorda que as
obras trarão benefícios no deslocamento diário e discordam de suas regiões estarem
despreparadas, no entanto não demonstram confiança na realização das obras.
Palavras-chave: Opiniões, Linha 6-Laranja, Pesquisa.
Abstract
This article aims to show the opinions of several citizens who will be influenced by the
future works of Line 6-Orange, taking into account the various uncertainties
surrounding the execution of the project, interrupted by lack of funding (G1, 2016) . For
this purpose, a survey was carried out with several people who live near the stations
Brasilândia, Freguesia do Ó, Higienópolis-Mackenzie and São Joaquim on what they
2. 2
think of the execution of the subway line, which the State Government plans to deliver
in 2021 (ESTADO DE MINAS, 2016). In a sample of 127 people, most interviewees
agree that the works will bring benefits in the daily commute and disagree that their
regions are unprepared, but they do not demonstrate confidence in the
accomplishment of the works.
Keywords: Opinions, Line 6-Orange, Research.
Introdução
Está prevista em São Paulo a construção e operação da Linha 6-Laranja,
primeira linha do Metrô oriunda de uma PPP (Parceria Público-Privada) integral entre
o Governo do Estado e a concessionária Move São Paulo (ESTADO DE MINAS,
2016). A obra possui 15 estações e 15,3 km de extensão entre a Brasilândia, zona
noroeste da capital, e a estação São Joaquim (Linha 1-Azul), na região central (MOVE
SÃO PAULO, 2016).
Figura 1. Mapa da Linha 6-Laranja. Fonte: Skyscraper City.
Esta pesquisa tem por objetivo identificar opiniões de cidadãos que residem
nas proximidades das obras, sendo tal objetivo trabalhado em função das
desapropriações residenciais e comerciais (COMPANHIA DO METROPOLITANO DE
SÃO PAULO, 2012), além das incertezas em relação ao andamento das obras (G1,
2016). Ao final deste projeto, pretende-se estabelecer um quadro geral da opinião do
público que será futuramente atendido pelas obras dessa linha metroviária.
3. 3
Justificativa
A justificativa do presente trabalho está pautada nas diversas incertezas a
respeito da obra, tendo motivações como o fato de moradores não terem recebido o
dinheiro correspondente às desapropriações (G1, 2016) e a liberação do trânsito das
ruas Sergipe e Ceará por parte da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), sendo
que essas vias estavam interditadas para a construção da estação Angélica-
Pacaembu (JOVEM PAN, 2016). Outra motivação é a possibilidade de o Governo do
Estado vender a participação privada para outras empresas (METRÔ CPTM, 2016).
Metodologia
A pesquisa é de caráter descritivo exploratório, cuja finalidade é desenvolver,
esclarecer e modificar conceitos e ideias (GIL, 2008, p. 27). A seleção da amostra é
não-probabilística, que, segundo Malhotra (2012, p. 274), pode oferecer “boas
estimativas das características da população”, ainda que não permita “uma avaliação
objetiva da precisão dos resultados amostrais”. A análise dos dados se deu por meio
do software IBM SPSS Statistics, realizando-se análises de frequência e tabulações
cruzadas, sendo o uso do último método explicado da seguinte forma:
A tabulação cruzada é utilizada em pesquisa de marketing,
porque (1) sua análise e resultados podem ser facilmente interpretados
e entendidos por administradores que não estejam familiarizados
com a estatística; (2) a clareza de interpretação proporciona
um elo mais forte entre os resultados da pesquisa e a ação
gerencial; (3) uma sequência de tabulações cruzadas dá uma melhor
visão de um fenômeno complexo do que uma única análise
multivariada; (4) a tabulação cruzada consegue aliviar o problema
das células esparsas, que poderia se revelar sério em uma análise
multivariada discreta; e (5) a análise com tabelas de dupla entrada
é fácil de fazer e se mostra atraente para pesquisadores menos
sofisticados. (MALHOTRA, 2012, p. 369)
O questionário, como pode ser visto na figura 1, foi elaborado através da
plataforma virtual Google Forms e é composto por 15 perguntas, sendo 11 de caráter
qualitativo (Nome, Sexo, Idade, Renda Familiar etc.), 1 de caráter eliminatório (“Você
conhece a Linha 6-Laranja do metrô? ”) e 3 de caráter quantitativo (Benefícios ao
4. 4
deslocamento diário, Região não preparada para receber a linha e Confiança nas
obras). As perguntas quantitativas foram medidas por escalas de Likert, que, segundo
Malhotra (2012, p. 221), “exige que os entrevistados indiquem um grau de
concordância ou discordância com cada uma de uma série de afirmações sobre
objetos de estímulo”.
Figura 2. Questionário. Fonte: elaborada pelos autores.
5. 5
Análise e discussão dos dados
Análises de frequência
A coleta de dados¹ por questionário online foi realizada entre os dias 4 e 18 e
novembro de 2016, com uma amostra total de 165 pessoas e 127 utilizadas para as
análises. Através das análises de frequência, foi possível inferir os seguintes
resultados:
Sexo: 55,9% dos entrevistados são do sexo masculino (71 pessoas) e
44,1% do feminino (56 pessoas);
Idade: 18,1% da amostra tem entre 30 e 34 anos (23 pessoas); 16,5%
entre 25 e 29 anos (21); 15,7% entre 18 e 21 anos (20); 11,8% entre 22
e 24 anos (15); 10,2% entre 35 e 39 anos (13); 7,9% entre 40 e 44 anos
(10); 7,1% entre 15 e 17 e 45 e 49 (9 cada); 3,9% entre 50 e 59 anos (5);
e 1,6% para maiores de 60 anos (2 pessoas);
Renda familiar per capita: 46,5% da amostra (59 pessoas) recebe
entre 1 e 3 salários mínimos; 26,8% (34) entre 3 e 6 salários mínimos;
11,8% (15) entre 6 e 9 salários mínimos; 9,4% (12) recebem até 1 salário
mínimo; e 5,5% (7) recebem entre 9 e 12 salários mínimos;
Meios de transporte público utilizados (ônibus, metrô e trem):
37,8% da amostra (48 pessoas) usam todos os modais; 34,6% (44)
usam ônibus e metrô; 17,3% (22) usam apenas ônibus; 6,3% (8) usam
apenas metrô; 3,1% (4) usam ônibus e trem; e 0,8% usam metrô e trem;
Frequência de uso do transporte público: 39,4% (50 pessoas) usam
o transporte público cinco vezes na semana; 33,1% (42) usam todos os
dias da semana; 16% (20) outros (2 vezes por semana, 3 vezes etc.); e
11,8% (15) usam uma vez por semana;
Finalidades de uso do transporte público: 24,4% (31 pessoas) usam
o transporte público apenas para ir ao trabalho; 12,6% (16) para ir ao
trabalho, à escola ou faculdade, a atividades de lazer e a consultas
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¹ Confira os dados desta pesquisa na íntegra, acessando o link: http://bit.ly/2g20nYc
6. 6
médicas; 8,8% (11) outros (entrevistas de emprego, ida ao
supermercado etc.); 7,9% (10) para ir ao trabalho e a atividades de lazer;
7,1% (9 cada) para ir apenas a atividades de lazer, para ir à escola ou
faculdade e a atividades de lazer e para ir ao trabalho, a atividades de
lazer e a consultas médicas; 5,5% (7) para ir ao trabalho e à escola ou
faculdade; 4,7% (6) para ir ao trabalho, à escola ou faculdade e a
atividades de lazer; 3,9% (5 cada) para ir a atividades de lazer e a
consultas médicas e para apenas ir à escola ou faculdade; 3,1% (4) para
ir ao trabalho e a consultas médicas; 2,4% (3) para ir à escola ou
faculdade, a atividades de lazer e a consultas médicas; e 1,6% (2) para
ir apenas a consultas médicas;
Residência próxima às estações: 31,5% (40 pessoas) moram
próximas apenas à estação Freguesia do Ó; 29,1% (37) apenas à
estação Brasilândia; 22% (28) às estações Brasilândia e Freguesia do
Ó; 7,1% (9) apenas à estação Higienópolis-Mackenzie; 5,5% (7) apenas
à estação São Joaquim; e 4,7% (6) às estações Higienópolis-Mackenzie
e São Joaquim;
Cessão do imóvel para as obras da Linha 6-Laranja: 96,9% (123
pessoas) não desapropriaram seus imóveis e 3,1% (4) desapropriaram;
Conhecimento de pessoas próximas que desapropriaram seus
imóveis: 59,8% (76 pessoas) não conhecem amigos ou familiares que
desapropriaram imóveis e 40,2% (51) conhecem;
Benefícios ao deslocamento diário: 62,2% (79 pessoas) concordam
totalmente que a futura linha trará benefícios; 19,7% (25) concordam
parcialmente; 11% (14) não concordam nem discordam; 3,9% (5)
discordam totalmente; e 3,1% (4) discordam parcialmente;
Região insuficientemente preparada para receber a futura linha:
44,1% (56 pessoas) discordam totalmente que suas regiões estão
despreparadas; 20,5% (26) não concordam nem discordam; 14,2% (18)
concordam parcialmente; 11% (14) discordam parcialmente; e 10,2%
(13) concordam totalmente;
Confiança nas obras: 28,3% (36 pessoas) não confiam nem
desconfiam das obras; 24,4% (31) desconfiam totalmente; 19,7% (25)
7. 7
confiam totalmente; 15% (19) desconfiam parcialmente; e 12,6% (16)
confiam parcialmente;
Posicionamento sobre a futura linha: 97,6% (124 pessoas) são
favoráveis à construção da Linha 6-Laranja e 2,4% (3) são contrárias.
Tabulações cruzadas
As tabulações cruzadas envolveram o cruzamento das variáveis quantitativas
“Benefícios”, “Preparada” e “Confiança” e da variável qualitativa “A_Favor” com o
restante das variáveis quali (ver Tabela 1). Desse modo, foram obtidos os seguintes
resultados:
Tabela 1. Resumo do processamento de casos. Fonte: elaborada pelos autores.
8. 8
1. Pessoas favoráveis à realização das obras (análise geral)
a. 124 pessoas, sendo 70 homens (56,45%) e 54 mulheres
(43,55%);
b. Faixa de idade predominante: 30 a 34 anos (22 pessoas –
17,74%);
c. Renda familiar per capita predominante: de 1 a 3 salários
mínimos (58 pessoas – 46,77%);
d. 47 pessoas (37,90%) utilizam ônibus, metrô e trem;
e. 50 pessoas (40,32%) utilizam o transporte público em cinco dias
da semana;
f. 29 pessoas (23,38%) usam transporte público apenas para ir ao
trabalho; e
g. 40 pessoas (32,25%) moram perto apenas da estação
Freguesia do Ó.
2. Benefícios (apenas concordância parcial ou total)
a. 103 pessoas, sendo a maioria composta por homens (56 –
percentual de 54,36%);
b. Faixa de idade de maior concordância: 18 a 21 anos (18 pessoas
– 17,47%);
c. Renda familiar per capita predominante: de 1 a 3 salários
mínimos (51 pessoas – 49,51%);
d. 40 pessoas (38,83%) utilizam metrô e ônibus;
e. 39 pessoas (37,86%) utilizam o transporte público em cinco dias
da semana;
f. 25 pessoas (24,27%) usam transporte público apenas para ir ao
trabalho; e
g. 35 pessoas (33,98%) moram perto apenas da estação
Freguesia do Ó.
3. Região despreparada (apenas discordância parcial ou total)
a. 69 pessoas, sendo a maioria composta por homens (43 –
percentual de 62,31%);
9. 9
b. Faixa de idade de maior discordância: 25 a 29 anos (12 pessoas
– 17,39%);
c. Renda familiar per capita predominante: de 1 a 3 salários
mínimos (28 pessoas – 40,57%);
d. 31 pessoas (44,92%) utilizam ônibus, metrô e trem;
e. 22 pessoas (31,88%) utilizam o transporte público em todos os
dias da semana;
f. 20 pessoas (28,98%) usam transporte público apenas para ir ao
trabalho; e
g. 20 pessoas (28,98%) moram perto apenas da estação
Freguesia do Ó. (ver Tabela 2)
Tabela 2. Região despreparada * Estação mais próxima (tabulação cruzada). Fonte:
elaborada pelos autores.
4. Confiança nas obras (discordância total e parcial)
a. 47 pessoas, sendo a maioria composta por mulheres (24 –
percentual de 51,06%);
b. Faixa de idade de maior discordância: 30 a 34 anos (12 pessoas
– 25,53%);
c. Renda familiar per capita predominante: de 1 a 3 salários
mínimos (18 pessoas – 38,29%);
d. 23 pessoas (48,93%) utilizam metrô e ônibus;
10. 10
e. 20 pessoas (42,55%) utilizam o transporte público em cinco dias
da semana;
f. 9 pessoas (19,14%) usam transporte público apenas para ir ao
trabalho; e
g. 17 pessoas (36,17%) moram perto apenas da estação
Freguesia do Ó.
Conclusão
Concluiu-se com esta pesquisa que a maioria dos entrevistados (124 de 127 –
percentual de 96,9%) é favorável à realização das obras da futura Linha 6-Laranja do
Metrô. A maioria composta pelos homens concorda parcial e plenamente que a linha
metroviária trará benefícios ao deslocamento diário (103 pessoas – 83,06%) e
discorda parcial e plenamente que suas regiões estão despreparadas para receber as
futuras estações (69 pessoas – 55,64%). No entanto boa parte das mulheres manteve
um posicionamento de discordância em relação à confiança conferida ao consórcio
Move São Paulo, responsável pelas construções (47 pessoas ≈ 37%).
Ainda que represente um projeto experimental, esta pesquisa possui uma
abordagem inédita, pois procurou saber as opiniões de pessoas que seriam afetadas
pelas obras da Linha 6-Laranja, traçando um panorama do público. Tendo início esse
foco de abordagem, a tendência é que outras pesquisas do gênero comecem a surgir.
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