Depois de 15 anos de carreira em Portugal, Helder Figueiredo aceitou um trabalho na Sodexo em Angola, onde enfrentou novos desafios culturais e logísticos. Posteriormente, transferiu-se para França como gestor global de serviços internacionais na empresa. Apesar da distância física, usa a tecnologia para manter rotinas diárias com a família em Portugal.
3. 32 JANEIRO 1632
PELO MUNDO
A
Aos44anos,casadoepaidequatrofilhos,HelderFiguei-
redo trabalha em Paris, depois de em 2011 ter tomado a
decisão de sair de Portugal. Ele próprio conta: «Quando
fiz 40 anos, olhei para trás e refleti sobre o meu percur-
so profissional até aí. Já tinha 15 anos de carreira, como
consultor [duas vezes na Accenture, primeiro no início
de carreira, em 1997, ainda a consultora se chamava An-
dersen Consulting], como diretor de recursos humanos
[Construtora do Tâmega e Fnac], como empreendedor e
com o meu próprio negócio de ‘coaching’ (‘licensee’ da
LMI – Leadership Managemet International em Portu-
gal), como docente do ensino superior [IPAM – Instituto
Português de Administração de Marketing, em Lisboa) e
como ‘business operator’ numa empresa de consultoria
[Addwise]. Nesses 15 anos procurei o que mais prazer
me tinha dado fazer, e descobri que queria voltar a ser
diretorderecursoshumanos.Comeceientãoaredirecio-
naraminhacarreira,eaofalarcomvários‘headhunters’
amigos todos foram unânimes em me aconselhar ir tra-
balharparaforadopaís,nomeadamenteemÁfrica.»Foi
assim que com mais um pouco de trabalho de pesquisa
encontrouaoportunidadedetrabalharemAngolacomo
‘country human resources director’ da Sodexo, uma das
maiores empresas mundiais a atuar na área de ‘quality
of life services’, servindo mais de 75 milhões de clientes
diariamente, em 80 países, e com mais de 420.000 em-
pregados. Em fevereiro de 2012 passou a integrar esta
empresafrancesafundadahámaismeioséculo.
Umanovarealidade
Licenciadoem«GestãodeRecursosHumanos»peloan-
tigoISLA(InstitutoSuperiordeLínguaseAdministração)
e com um mestrado em ‘stand by’ na Universidade de
Évora,chegouaAngolaerapidamenteseintegrounuma
nova realidade. «Em Angola as condições de trabalho e
de vida não são fáceis. Fui para uma empresa com 1.000
trabalhadores, dos quais 900 angolanos e 100 expatria-
dosde16nacionalidades».Aqui,HelderFigueiredodei-
xa uma nota – «devido a uma decisão de ajudar à loca-
lização de quadros, quando saí estávamos a ultrapassar
novamente os 1.000 trabalhadores, mas com apenas 50
expatriados, na mesma de 16 nacionalidades». O negó-
cio da empresa ainda trouxe dificuldades acrescidas.
«Em Angola servíamos mais de dois milhões de refei-
ções por ano, ‘on-shore’ (Luanda, Lobito, Porto Amboim,
Cabinda) e ‘off-shore’ (quase uma dezena de platafor-
mas petrolíferas), pelo que a cadeia de fornecimento da
comidapodeserumaverdadeiradordecabeça.Desdea
falta de produtos no mercado, como ovos ou açúcar, até
falhasnosfornecimentosparaaltomar,ascoisaspodem
tornar-se um pesadelo. Cheguei a estar numa platafor-
ma,abriracâmarafrigoríficaesóterhambúrguerespara
dois dias para 200 pessoas, e sem perspetivas de forne-
cimento, mas lá se conseguiu fornecimento alternativo.
Mais ainda… Ameaças de greve, furtos, pessoal que fal-
tava aos embarques por qualquer razão, tudo cenários
a que não estava muito habituado, mas que me permi-
tiram crescer enquanto profissional, pois para tudo ti-
vemos que encontrar soluções e negociar, para manter
o negócio a funcionar.» As diferenças culturais foram
outro grande desafio. «Apesar de falarmos a mesma lín-
gua, a nossa cultura é completamente diferente, e para
adicionar complexidade tínhamos ainda outras 15 na-
cionalidadesqueeraprecisofazertrabalharemequipa.
Foiumdesafioempolganteequemepermitehojeolhar
paraomundodeumaformacompletamentediferente»,
partilhaHelderFigueiredo.
EmFrança
A mudança para França ocorreu com naturalidade no
contextodedesenvolvimentodecarreiranumamultina-
cional como a Sodexo. «Internamente temos uma polí-
tica de proporcionar oportunidades de carreira interna-
cional aos trabalhadores que tenham o perfil e a vonta-
de para tal. Temos inclusive uma ‘newsletter’ quinzenal
onde são publicadas todas as oportunidades internas
em aberto.» Helder Figueiredo concorreu, fez todo o
percurso de entrevistas e em setembro de 2014 aterrou
em Paris para gerir globalmente a área de ‘international
assignmentservices’,incorporadonaequipaderecursos
humanosdogrupo.
O que ganhou este jovem quadro, um dos mais presti-
giados profissionais portugueses de recursos humanos,
com estas novas experiências? Ele próprio esclarece:
«Costumo dizer que a minha cabeça quase explodiu de
tanto ter sido exposta a uma realidade completamente
Os milagres da tecnologia
Depois de uma carreira de década e meia em Portugal, em grande parte na área de recursos
humanos, Helder Figueiredo aventurou-se no exterior, na multinacional Sodexo. Angola e
França foram os destinos deste profissional que graças aos milagres da tecnologia dá todos
os dias a volta ao mundo a trabalhar e toma o pequeno-almoço e janta com a família.
Texto: António Manuel Venda Fotos: DR
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diferente de estar focalizado apenas num país. Ao ter-
mos a oportunidade de conhecer pessoas de diversas
culturas e trabalhar com elas, pessoas com diferentes
religiões e experiências de vida e profissionais, temos
que nos adaptar de uma forma absolutamente extraor-
dinária. Sinto que essa capacidade de adaptação, tão
intrínseca aos portugueses, bem como a capacidade de
decidiremambientedeambiguidade,foioquemaisde-
senvolvinestesanosatrabalharfora.»
Em termos familiares, o impacto foi, e continua a ser,
brutal. Em Angola houve a possibilidade de durante um
período Helder Figueiredo estar acompanhado pela
mulher e pelos quatro filhos. «Apesar de ter sido uma
aventura muito louca, foi a melhor decisão que tomei
na vida. A minha mulher teve oportunidade de meter
uma licença sem vencimento e os miúdos viram que há
mais mundo para lá de Lisboa. Estudaram num colégio
privado em Luanda Sul e conheceram crianças oriundas
deváriospaíses,filhosdeoutrosexpatriadosedeango-
lanos. Ainda hoje mantêm contacto com muitos desses
amigos.»
Atualmente Helder Figueiredo tem a família em Portugal
e regressa pelo menos uma vez por mês, ficando mais
ou menos uma semana, entre férias e trabalho em casa.
«Umaliçãoquecostumopartilharcomtodososquevão
trabalhar para fora é que mantenham rotinas de falar
peloSkype,comosefosseumarotinaquasereligiosa.No
meu caso, todos os dias jantamos juntos e ao pequeno-
-almoço é a mesma coisa. Em nossa casa o computador
está no meu lugar habitual, e a televisão está desligada.
Estas duas refeições são em família, o que me permite
acompanhar a vida dos miúdos. Quando chego a Portu-
gal, há uma sensação de continuidade, pois o dia-a-dia
foipartilhadoatravésdoSkype.Masistotemqueserfei-
todeformacontínua.Noescritóriojásabemqueháuma
horademanhãemqueeunãoestoudisponível,eissoé
respeitadoportodos.»
Eregressar?
«Acredito que um dia vou regressar, provavelmente
para uma função na qual possa manter uma forte liga-
ção com os negócios internacionais e com a gestão de
talentos em ambiente internacional», confessa Helder
Figueiredo. «É verdadeiramente o que me fascina, e na
realidade é o que me faz levantar todos os dias com
uma energia renovada. Os desafios a nível internacio-
nalsãomuitosecomplexos,eapesar de astecnologias
terem mudado a forma como trabalhamos e vivemos
hoje, continuam a ser as pessoas a fazer a diferença.
Ajudar essas pessoas a fazerem a diferença, acompa-
nhando-as no desafio da internacionalização, é o que
me move.»
Numdianormaldetrabalho,HelderFigueiredocomeça
bem cedo em interação com as equipas da Sodexo em
Singapura e noutros países da Ásia. Durante o dia, dá
mais atenção aos colegas da Europa, nomeadamente
no Reino Unido e em França, e é muito normal acabar
as tardes e ir pela noite dentro a trabalhar com os cole-
gasdaAméricaLatina(ChileeBrasil,maioritariamente)
e dos Estados Unidos e do Canadá, devido aos fusos
horários.Abrincar,acabapordizer:«Todososdiasdou
a volta a mundo... É a realidade com que vivo e traba-
lho, sendo que ao longo do dia tenho que falar normal-
mente em três línguas, inglês, francês e português.»
Mesmolonge,emParis,HelderFigueiredo
toma o pequeno-almoço e janta todos os dias
com a família, com a ajuda do Skype. «Em
nossa casa o computador está no meu lugar
habitual, e a televisão está desligada.»
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