SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 4
Baixar para ler offline
30 JANEIRO 16
Helder Figueiredo,
Global Manager
of International Assignment
Services na Sodexo, em Paris
Human_84.indd 30 04/01/16 18:20
31JANEIRO 16
©JoãoAndrés
PELO MUNDO
Human_84.indd 31 04/01/16 18:20
32 JANEIRO 1632
PELO MUNDO
A
Aos44anos,casadoepaidequatrofilhos,HelderFiguei-
redo trabalha em Paris, depois de em 2011 ter tomado a
decisão de sair de Portugal. Ele próprio conta: «Quando
fiz 40 anos, olhei para trás e refleti sobre o meu percur-
so profissional até aí. Já tinha 15 anos de carreira, como
consultor [duas vezes na Accenture, primeiro no início
de carreira, em 1997, ainda a consultora se chamava An-
dersen Consulting], como diretor de recursos humanos
[Construtora do Tâmega e Fnac], como empreendedor e
com o meu próprio negócio de ‘coaching’ (‘licensee’ da
LMI – Leadership Managemet International em Portu-
gal), como docente do ensino superior [IPAM – Instituto
Português de Administração de Marketing, em Lisboa) e
como ‘business operator’ numa empresa de consultoria
[Addwise]. Nesses 15 anos procurei o que mais prazer
me tinha dado fazer, e descobri que queria voltar a ser
diretorderecursoshumanos.Comeceientãoaredirecio-
naraminhacarreira,eaofalarcomvários‘headhunters’
amigos todos foram unânimes em me aconselhar ir tra-
balharparaforadopaís,nomeadamenteemÁfrica.»Foi
assim que com mais um pouco de trabalho de pesquisa
encontrouaoportunidadedetrabalharemAngolacomo
‘country human resources director’ da Sodexo, uma das
maiores empresas mundiais a atuar na área de ‘quality
of life services’, servindo mais de 75 milhões de clientes
diariamente, em 80 países, e com mais de 420.000 em-
pregados. Em fevereiro de 2012 passou a integrar esta
empresafrancesafundadahámaismeioséculo.
Umanovarealidade
Licenciadoem«GestãodeRecursosHumanos»peloan-
tigoISLA(InstitutoSuperiordeLínguaseAdministração)
e com um mestrado em ‘stand by’ na Universidade de
Évora,chegouaAngolaerapidamenteseintegrounuma
nova realidade. «Em Angola as condições de trabalho e
de vida não são fáceis. Fui para uma empresa com 1.000
trabalhadores, dos quais 900 angolanos e 100 expatria-
dosde16nacionalidades».Aqui,HelderFigueiredodei-
xa uma nota – «devido a uma decisão de ajudar à loca-
lização de quadros, quando saí estávamos a ultrapassar
novamente os 1.000 trabalhadores, mas com apenas 50
expatriados, na mesma de 16 nacionalidades». O negó-
cio da empresa ainda trouxe dificuldades acrescidas.
«Em Angola servíamos mais de dois milhões de refei-
ções por ano, ‘on-shore’ (Luanda, Lobito, Porto Amboim,
Cabinda) e ‘off-shore’ (quase uma dezena de platafor-
mas petrolíferas), pelo que a cadeia de fornecimento da
comidapodeserumaverdadeiradordecabeça.Desdea
falta de produtos no mercado, como ovos ou açúcar, até
falhasnosfornecimentosparaaltomar,ascoisaspodem
tornar-se um pesadelo. Cheguei a estar numa platafor-
ma,abriracâmarafrigoríficaesóterhambúrguerespara
dois dias para 200 pessoas, e sem perspetivas de forne-
cimento, mas lá se conseguiu fornecimento alternativo.
Mais ainda… Ameaças de greve, furtos, pessoal que fal-
tava aos embarques por qualquer razão, tudo cenários
a que não estava muito habituado, mas que me permi-
tiram crescer enquanto profissional, pois para tudo ti-
vemos que encontrar soluções e negociar, para manter
o negócio a funcionar.» As diferenças culturais foram
outro grande desafio. «Apesar de falarmos a mesma lín-
gua, a nossa cultura é completamente diferente, e para
adicionar complexidade tínhamos ainda outras 15 na-
cionalidadesqueeraprecisofazertrabalharemequipa.
Foiumdesafioempolganteequemepermitehojeolhar
paraomundodeumaformacompletamentediferente»,
partilhaHelderFigueiredo.
EmFrança
A mudança para França ocorreu com naturalidade no
contextodedesenvolvimentodecarreiranumamultina-
cional como a Sodexo. «Internamente temos uma polí-
tica de proporcionar oportunidades de carreira interna-
cional aos trabalhadores que tenham o perfil e a vonta-
de para tal. Temos inclusive uma ‘newsletter’ quinzenal
onde são publicadas todas as oportunidades internas
em aberto.» Helder Figueiredo concorreu, fez todo o
percurso de entrevistas e em setembro de 2014 aterrou
em Paris para gerir globalmente a área de ‘international
assignmentservices’,incorporadonaequipaderecursos
humanosdogrupo.
O que ganhou este jovem quadro, um dos mais presti-
giados profissionais portugueses de recursos humanos,
com estas novas experiências? Ele próprio esclarece:
«Costumo dizer que a minha cabeça quase explodiu de
tanto ter sido exposta a uma realidade completamente
Os milagres da tecnologia
Depois de uma carreira de década e meia em Portugal, em grande parte na área de recursos
humanos, Helder Figueiredo aventurou-se no exterior, na multinacional Sodexo. Angola e
França foram os destinos deste profissional que graças aos milagres da tecnologia dá todos
os dias a volta ao mundo a trabalhar e toma o pequeno-almoço e janta com a família.
Texto: António Manuel Venda Fotos: DR
Human_84.indd 32 04/01/16 18:20
33JANEIRO 16
PELO MUNDO
diferente de estar focalizado apenas num país. Ao ter-
mos a oportunidade de conhecer pessoas de diversas
culturas e trabalhar com elas, pessoas com diferentes
religiões e experiências de vida e profissionais, temos
que nos adaptar de uma forma absolutamente extraor-
dinária. Sinto que essa capacidade de adaptação, tão
intrínseca aos portugueses, bem como a capacidade de
decidiremambientedeambiguidade,foioquemaisde-
senvolvinestesanosatrabalharfora.»
Em termos familiares, o impacto foi, e continua a ser,
brutal. Em Angola houve a possibilidade de durante um
período Helder Figueiredo estar acompanhado pela
mulher e pelos quatro filhos. «Apesar de ter sido uma
aventura muito louca, foi a melhor decisão que tomei
na vida. A minha mulher teve oportunidade de meter
uma licença sem vencimento e os miúdos viram que há
mais mundo para lá de Lisboa. Estudaram num colégio
privado em Luanda Sul e conheceram crianças oriundas
deváriospaíses,filhosdeoutrosexpatriadosedeango-
lanos. Ainda hoje mantêm contacto com muitos desses
amigos.»
Atualmente Helder Figueiredo tem a família em Portugal
e regressa pelo menos uma vez por mês, ficando mais
ou menos uma semana, entre férias e trabalho em casa.
«Umaliçãoquecostumopartilharcomtodososquevão
trabalhar para fora é que mantenham rotinas de falar
peloSkype,comosefosseumarotinaquasereligiosa.No
meu caso, todos os dias jantamos juntos e ao pequeno-
-almoço é a mesma coisa. Em nossa casa o computador
está no meu lugar habitual, e a televisão está desligada.
Estas duas refeições são em família, o que me permite
acompanhar a vida dos miúdos. Quando chego a Portu-
gal, há uma sensação de continuidade, pois o dia-a-dia
foipartilhadoatravésdoSkype.Masistotemqueserfei-
todeformacontínua.Noescritóriojásabemqueháuma
horademanhãemqueeunãoestoudisponível,eissoé
respeitadoportodos.»
Eregressar?
«Acredito que um dia vou regressar, provavelmente
para uma função na qual possa manter uma forte liga-
ção com os negócios internacionais e com a gestão de
talentos em ambiente internacional», confessa Helder
Figueiredo. «É verdadeiramente o que me fascina, e na
realidade é o que me faz levantar todos os dias com
uma energia renovada. Os desafios a nível internacio-
nalsãomuitosecomplexos,eapesar de astecnologias
terem mudado a forma como trabalhamos e vivemos
hoje, continuam a ser as pessoas a fazer a diferença.
Ajudar essas pessoas a fazerem a diferença, acompa-
nhando-as no desafio da internacionalização, é o que
me move.»
Numdianormaldetrabalho,HelderFigueiredocomeça
bem cedo em interação com as equipas da Sodexo em
Singapura e noutros países da Ásia. Durante o dia, dá
mais atenção aos colegas da Europa, nomeadamente
no Reino Unido e em França, e é muito normal acabar
as tardes e ir pela noite dentro a trabalhar com os cole-
gasdaAméricaLatina(ChileeBrasil,maioritariamente)
e dos Estados Unidos e do Canadá, devido aos fusos
horários.Abrincar,acabapordizer:«Todososdiasdou
a volta a mundo... É a realidade com que vivo e traba-
lho, sendo que ao longo do dia tenho que falar normal-
mente em três línguas, inglês, francês e português.»
Mesmolonge,emParis,HelderFigueiredo
toma o pequeno-almoço e janta todos os dias
com a família, com a ajuda do Skype. «Em
nossa casa o computador está no meu lugar
habitual, e a televisão está desligada.»
Human_84.indd 33 04/01/16 18:20

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Revista Human 84_Entrevista HF

Te dx feira_apresentacao_14_jun_13
Te dx feira_apresentacao_14_jun_13Te dx feira_apresentacao_14_jun_13
Te dx feira_apresentacao_14_jun_13O Engenho No Papel
 
Entrevista Event Point Março 2013
Entrevista Event Point Março 2013Entrevista Event Point Março 2013
Entrevista Event Point Março 2013Luis Rasquilha
 
Ficha de trabalho nº 14 empresas call center
Ficha de trabalho nº 14   empresas call centerFicha de trabalho nº 14   empresas call center
Ficha de trabalho nº 14 empresas call centerLeonor Alves
 
empresa familiar e sucessão Barometro AEP Efconsulting 2014 05 22 3Rs
empresa familiar e sucessão Barometro AEP Efconsulting 2014 05 22 3Rsempresa familiar e sucessão Barometro AEP Efconsulting 2014 05 22 3Rs
empresa familiar e sucessão Barometro AEP Efconsulting 2014 05 22 3RsAntónio Nogueira da Costa
 
Livro "O Vendedor do Futuro" de Renato Gosling
Livro "O Vendedor do Futuro" de Renato GoslingLivro "O Vendedor do Futuro" de Renato Gosling
Livro "O Vendedor do Futuro" de Renato GoslingRenato Gosling
 
Globalização e internet unicastelo
Globalização e internet   unicasteloGlobalização e internet   unicastelo
Globalização e internet unicasteloAmarildo Souza
 
CP Processos Identitários - Imigração, Multiculturalidade e Direitos das Mino...
CP Processos Identitários - Imigração, Multiculturalidade e Direitos das Mino...CP Processos Identitários - Imigração, Multiculturalidade e Direitos das Mino...
CP Processos Identitários - Imigração, Multiculturalidade e Direitos das Mino...Fernando de Sá
 

Semelhante a Revista Human 84_Entrevista HF (20)

A culturado slowdown
A culturado slowdownA culturado slowdown
A culturado slowdown
 
Te dx feira_apresentacao_14_jun_13
Te dx feira_apresentacao_14_jun_13Te dx feira_apresentacao_14_jun_13
Te dx feira_apresentacao_14_jun_13
 
What's Up #8
What's Up #8What's Up #8
What's Up #8
 
What's Up8
What's Up8What's Up8
What's Up8
 
Entrevista Event Point Março 2013
Entrevista Event Point Março 2013Entrevista Event Point Março 2013
Entrevista Event Point Março 2013
 
A cultura do slow down
A cultura do slow downA cultura do slow down
A cultura do slow down
 
Ficha de trabalho nº 14 empresas call center
Ficha de trabalho nº 14   empresas call centerFicha de trabalho nº 14   empresas call center
Ficha de trabalho nº 14 empresas call center
 
empresa familiar e sucessão Barometro AEP Efconsulting 2014 05 22 3Rs
empresa familiar e sucessão Barometro AEP Efconsulting 2014 05 22 3Rsempresa familiar e sucessão Barometro AEP Efconsulting 2014 05 22 3Rs
empresa familiar e sucessão Barometro AEP Efconsulting 2014 05 22 3Rs
 
O deesemprego
O deesempregoO deesemprego
O deesemprego
 
O deesemprego
O deesempregoO deesemprego
O deesemprego
 
O deesemprego
O deesempregoO deesemprego
O deesemprego
 
O deesemprego
O deesempregoO deesemprego
O deesemprego
 
Viver sem pressa
Viver sem pressaViver sem pressa
Viver sem pressa
 
O desemprego
O desempregoO desemprego
O desemprego
 
O desemprego
O desempregoO desemprego
O desemprego
 
Livro "O Vendedor do Futuro" de Renato Gosling
Livro "O Vendedor do Futuro" de Renato GoslingLivro "O Vendedor do Futuro" de Renato Gosling
Livro "O Vendedor do Futuro" de Renato Gosling
 
Internacionalização de Carreiras, Empresas e Negócios
Internacionalização de Carreiras, Empresas e NegóciosInternacionalização de Carreiras, Empresas e Negócios
Internacionalização de Carreiras, Empresas e Negócios
 
Globalização e internet unicastelo
Globalização e internet   unicasteloGlobalização e internet   unicastelo
Globalização e internet unicastelo
 
Quem somos final
Quem somos finalQuem somos final
Quem somos final
 
CP Processos Identitários - Imigração, Multiculturalidade e Direitos das Mino...
CP Processos Identitários - Imigração, Multiculturalidade e Direitos das Mino...CP Processos Identitários - Imigração, Multiculturalidade e Direitos das Mino...
CP Processos Identitários - Imigração, Multiculturalidade e Direitos das Mino...
 

Mais de Helder Figueiredo

Artigo 2010 revista_human_Eu_SGPS
Artigo 2010 revista_human_Eu_SGPSArtigo 2010 revista_human_Eu_SGPS
Artigo 2010 revista_human_Eu_SGPSHelder Figueiredo
 
Artigo 2007 revista_pessoal_rh_construcao
Artigo 2007 revista_pessoal_rh_construcaoArtigo 2007 revista_pessoal_rh_construcao
Artigo 2007 revista_pessoal_rh_construcaoHelder Figueiredo
 
Artigo 2007 anuario_rh_flexiseguranca
Artigo 2007 anuario_rh_flexisegurancaArtigo 2007 anuario_rh_flexiseguranca
Artigo 2007 anuario_rh_flexisegurancaHelder Figueiredo
 
Artigo 2006 revista_pessoal_fev
Artigo 2006 revista_pessoal_fevArtigo 2006 revista_pessoal_fev
Artigo 2006 revista_pessoal_fevHelder Figueiredo
 
Artigo 2006 executive digest_junho
Artigo 2006 executive digest_junhoArtigo 2006 executive digest_junho
Artigo 2006 executive digest_junhoHelder Figueiredo
 
Artigo 2005 anuario_rh_exp_c_tamega
Artigo 2005 anuario_rh_exp_c_tamegaArtigo 2005 anuario_rh_exp_c_tamega
Artigo 2005 anuario_rh_exp_c_tamegaHelder Figueiredo
 
Artigo 2004 jornal_negocios_grh
Artigo 2004 jornal_negocios_grhArtigo 2004 jornal_negocios_grh
Artigo 2004 jornal_negocios_grhHelder Figueiredo
 
Artigo 2004 jornal_negocios_formação_grh
Artigo 2004 jornal_negocios_formação_grhArtigo 2004 jornal_negocios_formação_grh
Artigo 2004 jornal_negocios_formação_grhHelder Figueiredo
 
Artigo 2010 revista_human18_benfica_em_analise
Artigo 2010 revista_human18_benfica_em_analiseArtigo 2010 revista_human18_benfica_em_analise
Artigo 2010 revista_human18_benfica_em_analiseHelder Figueiredo
 
Revista_Human_18 Liderança do Benfica em Analise
Revista_Human_18 Liderança do Benfica em AnaliseRevista_Human_18 Liderança do Benfica em Analise
Revista_Human_18 Liderança do Benfica em AnaliseHelder Figueiredo
 

Mais de Helder Figueiredo (10)

Artigo 2010 revista_human_Eu_SGPS
Artigo 2010 revista_human_Eu_SGPSArtigo 2010 revista_human_Eu_SGPS
Artigo 2010 revista_human_Eu_SGPS
 
Artigo 2007 revista_pessoal_rh_construcao
Artigo 2007 revista_pessoal_rh_construcaoArtigo 2007 revista_pessoal_rh_construcao
Artigo 2007 revista_pessoal_rh_construcao
 
Artigo 2007 anuario_rh_flexiseguranca
Artigo 2007 anuario_rh_flexisegurancaArtigo 2007 anuario_rh_flexiseguranca
Artigo 2007 anuario_rh_flexiseguranca
 
Artigo 2006 revista_pessoal_fev
Artigo 2006 revista_pessoal_fevArtigo 2006 revista_pessoal_fev
Artigo 2006 revista_pessoal_fev
 
Artigo 2006 executive digest_junho
Artigo 2006 executive digest_junhoArtigo 2006 executive digest_junho
Artigo 2006 executive digest_junho
 
Artigo 2005 anuario_rh_exp_c_tamega
Artigo 2005 anuario_rh_exp_c_tamegaArtigo 2005 anuario_rh_exp_c_tamega
Artigo 2005 anuario_rh_exp_c_tamega
 
Artigo 2004 jornal_negocios_grh
Artigo 2004 jornal_negocios_grhArtigo 2004 jornal_negocios_grh
Artigo 2004 jornal_negocios_grh
 
Artigo 2004 jornal_negocios_formação_grh
Artigo 2004 jornal_negocios_formação_grhArtigo 2004 jornal_negocios_formação_grh
Artigo 2004 jornal_negocios_formação_grh
 
Artigo 2010 revista_human18_benfica_em_analise
Artigo 2010 revista_human18_benfica_em_analiseArtigo 2010 revista_human18_benfica_em_analise
Artigo 2010 revista_human18_benfica_em_analise
 
Revista_Human_18 Liderança do Benfica em Analise
Revista_Human_18 Liderança do Benfica em AnaliseRevista_Human_18 Liderança do Benfica em Analise
Revista_Human_18 Liderança do Benfica em Analise
 

Revista Human 84_Entrevista HF

  • 1. 30 JANEIRO 16 Helder Figueiredo, Global Manager of International Assignment Services na Sodexo, em Paris Human_84.indd 30 04/01/16 18:20
  • 3. 32 JANEIRO 1632 PELO MUNDO A Aos44anos,casadoepaidequatrofilhos,HelderFiguei- redo trabalha em Paris, depois de em 2011 ter tomado a decisão de sair de Portugal. Ele próprio conta: «Quando fiz 40 anos, olhei para trás e refleti sobre o meu percur- so profissional até aí. Já tinha 15 anos de carreira, como consultor [duas vezes na Accenture, primeiro no início de carreira, em 1997, ainda a consultora se chamava An- dersen Consulting], como diretor de recursos humanos [Construtora do Tâmega e Fnac], como empreendedor e com o meu próprio negócio de ‘coaching’ (‘licensee’ da LMI – Leadership Managemet International em Portu- gal), como docente do ensino superior [IPAM – Instituto Português de Administração de Marketing, em Lisboa) e como ‘business operator’ numa empresa de consultoria [Addwise]. Nesses 15 anos procurei o que mais prazer me tinha dado fazer, e descobri que queria voltar a ser diretorderecursoshumanos.Comeceientãoaredirecio- naraminhacarreira,eaofalarcomvários‘headhunters’ amigos todos foram unânimes em me aconselhar ir tra- balharparaforadopaís,nomeadamenteemÁfrica.»Foi assim que com mais um pouco de trabalho de pesquisa encontrouaoportunidadedetrabalharemAngolacomo ‘country human resources director’ da Sodexo, uma das maiores empresas mundiais a atuar na área de ‘quality of life services’, servindo mais de 75 milhões de clientes diariamente, em 80 países, e com mais de 420.000 em- pregados. Em fevereiro de 2012 passou a integrar esta empresafrancesafundadahámaismeioséculo. Umanovarealidade Licenciadoem«GestãodeRecursosHumanos»peloan- tigoISLA(InstitutoSuperiordeLínguaseAdministração) e com um mestrado em ‘stand by’ na Universidade de Évora,chegouaAngolaerapidamenteseintegrounuma nova realidade. «Em Angola as condições de trabalho e de vida não são fáceis. Fui para uma empresa com 1.000 trabalhadores, dos quais 900 angolanos e 100 expatria- dosde16nacionalidades».Aqui,HelderFigueiredodei- xa uma nota – «devido a uma decisão de ajudar à loca- lização de quadros, quando saí estávamos a ultrapassar novamente os 1.000 trabalhadores, mas com apenas 50 expatriados, na mesma de 16 nacionalidades». O negó- cio da empresa ainda trouxe dificuldades acrescidas. «Em Angola servíamos mais de dois milhões de refei- ções por ano, ‘on-shore’ (Luanda, Lobito, Porto Amboim, Cabinda) e ‘off-shore’ (quase uma dezena de platafor- mas petrolíferas), pelo que a cadeia de fornecimento da comidapodeserumaverdadeiradordecabeça.Desdea falta de produtos no mercado, como ovos ou açúcar, até falhasnosfornecimentosparaaltomar,ascoisaspodem tornar-se um pesadelo. Cheguei a estar numa platafor- ma,abriracâmarafrigoríficaesóterhambúrguerespara dois dias para 200 pessoas, e sem perspetivas de forne- cimento, mas lá se conseguiu fornecimento alternativo. Mais ainda… Ameaças de greve, furtos, pessoal que fal- tava aos embarques por qualquer razão, tudo cenários a que não estava muito habituado, mas que me permi- tiram crescer enquanto profissional, pois para tudo ti- vemos que encontrar soluções e negociar, para manter o negócio a funcionar.» As diferenças culturais foram outro grande desafio. «Apesar de falarmos a mesma lín- gua, a nossa cultura é completamente diferente, e para adicionar complexidade tínhamos ainda outras 15 na- cionalidadesqueeraprecisofazertrabalharemequipa. Foiumdesafioempolganteequemepermitehojeolhar paraomundodeumaformacompletamentediferente», partilhaHelderFigueiredo. EmFrança A mudança para França ocorreu com naturalidade no contextodedesenvolvimentodecarreiranumamultina- cional como a Sodexo. «Internamente temos uma polí- tica de proporcionar oportunidades de carreira interna- cional aos trabalhadores que tenham o perfil e a vonta- de para tal. Temos inclusive uma ‘newsletter’ quinzenal onde são publicadas todas as oportunidades internas em aberto.» Helder Figueiredo concorreu, fez todo o percurso de entrevistas e em setembro de 2014 aterrou em Paris para gerir globalmente a área de ‘international assignmentservices’,incorporadonaequipaderecursos humanosdogrupo. O que ganhou este jovem quadro, um dos mais presti- giados profissionais portugueses de recursos humanos, com estas novas experiências? Ele próprio esclarece: «Costumo dizer que a minha cabeça quase explodiu de tanto ter sido exposta a uma realidade completamente Os milagres da tecnologia Depois de uma carreira de década e meia em Portugal, em grande parte na área de recursos humanos, Helder Figueiredo aventurou-se no exterior, na multinacional Sodexo. Angola e França foram os destinos deste profissional que graças aos milagres da tecnologia dá todos os dias a volta ao mundo a trabalhar e toma o pequeno-almoço e janta com a família. Texto: António Manuel Venda Fotos: DR Human_84.indd 32 04/01/16 18:20
  • 4. 33JANEIRO 16 PELO MUNDO diferente de estar focalizado apenas num país. Ao ter- mos a oportunidade de conhecer pessoas de diversas culturas e trabalhar com elas, pessoas com diferentes religiões e experiências de vida e profissionais, temos que nos adaptar de uma forma absolutamente extraor- dinária. Sinto que essa capacidade de adaptação, tão intrínseca aos portugueses, bem como a capacidade de decidiremambientedeambiguidade,foioquemaisde- senvolvinestesanosatrabalharfora.» Em termos familiares, o impacto foi, e continua a ser, brutal. Em Angola houve a possibilidade de durante um período Helder Figueiredo estar acompanhado pela mulher e pelos quatro filhos. «Apesar de ter sido uma aventura muito louca, foi a melhor decisão que tomei na vida. A minha mulher teve oportunidade de meter uma licença sem vencimento e os miúdos viram que há mais mundo para lá de Lisboa. Estudaram num colégio privado em Luanda Sul e conheceram crianças oriundas deváriospaíses,filhosdeoutrosexpatriadosedeango- lanos. Ainda hoje mantêm contacto com muitos desses amigos.» Atualmente Helder Figueiredo tem a família em Portugal e regressa pelo menos uma vez por mês, ficando mais ou menos uma semana, entre férias e trabalho em casa. «Umaliçãoquecostumopartilharcomtodososquevão trabalhar para fora é que mantenham rotinas de falar peloSkype,comosefosseumarotinaquasereligiosa.No meu caso, todos os dias jantamos juntos e ao pequeno- -almoço é a mesma coisa. Em nossa casa o computador está no meu lugar habitual, e a televisão está desligada. Estas duas refeições são em família, o que me permite acompanhar a vida dos miúdos. Quando chego a Portu- gal, há uma sensação de continuidade, pois o dia-a-dia foipartilhadoatravésdoSkype.Masistotemqueserfei- todeformacontínua.Noescritóriojásabemqueháuma horademanhãemqueeunãoestoudisponível,eissoé respeitadoportodos.» Eregressar? «Acredito que um dia vou regressar, provavelmente para uma função na qual possa manter uma forte liga- ção com os negócios internacionais e com a gestão de talentos em ambiente internacional», confessa Helder Figueiredo. «É verdadeiramente o que me fascina, e na realidade é o que me faz levantar todos os dias com uma energia renovada. Os desafios a nível internacio- nalsãomuitosecomplexos,eapesar de astecnologias terem mudado a forma como trabalhamos e vivemos hoje, continuam a ser as pessoas a fazer a diferença. Ajudar essas pessoas a fazerem a diferença, acompa- nhando-as no desafio da internacionalização, é o que me move.» Numdianormaldetrabalho,HelderFigueiredocomeça bem cedo em interação com as equipas da Sodexo em Singapura e noutros países da Ásia. Durante o dia, dá mais atenção aos colegas da Europa, nomeadamente no Reino Unido e em França, e é muito normal acabar as tardes e ir pela noite dentro a trabalhar com os cole- gasdaAméricaLatina(ChileeBrasil,maioritariamente) e dos Estados Unidos e do Canadá, devido aos fusos horários.Abrincar,acabapordizer:«Todososdiasdou a volta a mundo... É a realidade com que vivo e traba- lho, sendo que ao longo do dia tenho que falar normal- mente em três línguas, inglês, francês e português.» Mesmolonge,emParis,HelderFigueiredo toma o pequeno-almoço e janta todos os dias com a família, com a ajuda do Skype. «Em nossa casa o computador está no meu lugar habitual, e a televisão está desligada.» Human_84.indd 33 04/01/16 18:20