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XIII Encontro Regional
 de Agroecologia do
 Nordeste – crato/ce
A juventude do campo e da cidade:
  semeando a transformação que
            sonhamos!




             Construtores do ERA
                   Crato/CE
            Quadra chuvosa de 2013
“Ordem e progresso”
            Zé Pinto


      Esse é o nosso país
   Essa é a nossa bandeira
É por amor a essa pátria Brasil
 Que a gente segue em fileira


  Queremos mais felicidades
 No céu deste olhar cor de anil
 No verde esperança sem fogo
 Bandeira que o povo assumiu
 No verde esperança sem fogo
 Bandeira que o povo assumiu
Amarelos são os campos floridos
    As faces agora rosadas
 Se o branco da paz se irradia
  Vitória das mãos calejadas
 Se o branco da paz se irradia
  Vitória das mãos calejadas


      Esse é o nosso país
   Essa é a nossa bandeira
É por amor a essa pátria Brasil
 Que a gente segue em fileira


Queremos que abrace essa terra
   Por ela quem sente paixão
Quem põe com carinho a semente
    Pra alimentar a nação
Quem põe com carinho a semente
    Pra alimentar a nação


A ordem é ninguém passar fome
    Progresso é o povo feliz
  A Reforma Agrária é a volta
     Do agricultor à raiz
  A Reforma Agrária é a volta
     Do agricultor à raiz


      Esse é o nosso país
   Essa é a nossa bandeira
É por amor a essa pátria Brasil
 Que a gente segue em fileira
indice
➢ Apresentação ---------------------------------------------------------------------------- 04
➢ Construtores do ERA -------------------------------------------------------------------05
◦ ABEEF -----------------------------------------------------------------------------------05
◦ ENEBio ---------------------------------------------------------------------------------- 05
◦ ENEV ------------------------------------------------------------------------------------ 06
◦ FEAB ------------------------------------------------------------------------------------ 07
◦ LPJ --------------------------------------------------------------------------------------- 07
◦ MST -------------------------------------------------------------------------------------- 08
➢ O Beato Zé Lourenço, o Caldeirão e o desejo do povo pela terra --------------- 09
➢ Padre Cícero e seus preceitos --------------------------------------------------------- 11
➢ Informações importantes -------------------------------------------------------------- 12
➢ Grade do XIII ERA Nordeste – Crato ----------------------------------------------- 13
➢ Dia a dia --------------------------------------------------------------------------------- 14
➢ Pré-ERA's ------------------------------------------------------------------------------- 19
➢ Textos para os Pré-ERA's ------------------------------------------------------------- 23
◦ A necessidade da ressignificação da relação sociedade natureza e a proposta
da agroecologia. -------------------------------------------------------------------------- 23
◦ O protagonismo da juventude no semiárido: a experiência do coletivo
regional do Cariri, Seridó e Curimataú. ----------------------------------------------- 29
◦ Criatividade da juventude é fundamental. ------------------------------------------ 32
◦ Falta da estrutura e possibilidade faz com que jovens abandonem o campo. -- 34
◦ Educação do Campo. ------------------------------------------------------------------ 36
◦ Eu quero é luta. ------------------------------------------------------------------------- 37
◦ Movimentos sociais consideram Política Nacional de Agroecologia
insuficiente. ------------------------------------------------------------------------------- 38
◦ Por que a tecnologia não chega no campo? ---------------------------------------- 40
◦ Agroecologia versus tecnologia - verdade ou mito? ------------------------------ 41
◦ Lutadoras do campo. ------------------------------------------------------------------ 42
◦ ENEBio e agroecologia. -------------------------------------------------------------- 43
◦ Agroecologia e medicina veterinária de mãos dadas. ----------------------------- 45
➢ Sugestões para complementar o estudo --------------------------------------------- 47
➢ Contato dos Construtores do ERA --------------------------------------------------- 48
➢ Campanhas que os Construtores do ERA constroem ------------------------------ 49




                                                 3
Apresentação

        O Encontro Regional de Agroecologia (ERA) é um ambiente de inserção no debate sobre
agroecologia, pensado inicialmente para os estudantes dos cursos das agrárias, mas que no
decorrer de sua história vem se reinventando e atraindo novos sujeitos para essa construção.
        Para o nosso XIII ERA Nordeste além da participação da FEAB, ENEBio, ABEEF e ENEV
teremos também uma atuação mais próxima dos movimentos camponeses pertencentes a Via
Campesina – como o MST, MAB e MPA – e dos(as) Quilombolas da região do Cariri cearense.
                                             Tendo como horizonte uma maior interação entre os
                                      atores da construção da agroecologia no Brasil e um
                                      fortalecimento dessas organizações, através da aproximação
                                      de novas pessoas interessas em construir esse grande
                                      movimento em defesa de nossa natureza e pela soberania
                                      alimentar.
                                             Nesse encontro traremos como temática a “Juventude
                                      do campo e da cidade: semeando a transformação que
                                      sonhamos!” entendendo que a juventude cumpre um papel
                                      importante e é protagonista dessa revolução agroecológica
 por ser ela quem construirá hoje o que viveremos no amanhã. Sendo ainda @s jovens personagens
 importantes na existência de inúmeras experiências agroecológicas que deram e continuam dando
 cada vez mais certo na agricultura hoje.
        Dessa forma o encontro trará debates sobre a situação da juventude em nosso país e sobre o
seu papel na construção da agroecologia, além de como se dá a inserção do jovem no campo
brasileiro e de como ele é explorado e exterminado pelo agronegócio, que aniquila toda a
perspectiva de produção e reprodução de sua vida. Além de tratar sobre o êxodo dessa juventude,
as relações de gênero, acesso a educação e outros serviços.
        Entendendo que a agroecologia é além de uma forma de produção, que junta ciência e
técnica, é também política, dessa maneira trazemos as oficinas e vivências com o intuito de
preparar os encontristas para serem capazes de reproduzir e utilizar em seus locais de inserção as
técnicas agroecológicas. Assim convidamos todos e todas a virem para o nosso Cratinho de açúcar,
terra abençoada pelo Padim Ciço construir junto da gente a agroecologia que sonhamos e que
queremos!!!
“A vida tava tão boa” (Coco Raízes de Arco Verde)

A vida tava tão boa, pra quê mandou me chamar
Eu tava no juazeiro, no sertão do ceará
A vida tava tão boa, pra quê mandou me chamar
Tava no crato, de crato para monteiro
De monteiro para o crato, e do crato pra juazeiro.
Depois do crato eu voltei para monteiro.
De monteiro para o crato, e do crato pra juazeiro.
A vida tava tão boa, pra quê mandou me chamar
Eu tinha só 13 anos, você pode acreditar
A vida tava tão boa, pra quê mandou me chamar
Quando minha mãe morreu, eu só pensava em chorar.
A vida tava tão boa, pra quê mandou me chamar
Parti para o juazeiro pensando em trabalhar.         Eu sou de uma terra que o povo padece
A vida tava tão boa, pra quê mandou me chamar        Mas não esmorece e procura vencer.
Fiquei com a minha tia na roça eu fui plantar.       Da terra querida, que a linda cabocla
A vida tava tão boa, pra quê mandou me chamar
                                                     De riso na boca zomba no sofrer
                                                     N ão nego meu sangue, n ão nego meu nome
Esse coco é todo meu, você pode acreditar.           Olho para a fome, pergunto o que há?
A vida tava tão boa, pra quê mandou me chamar        Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Canto coco e canto roda para a moçada brincar.       Sou cabra da Peste, sou do Cear á.
A vida tava tão boa, pra quê mandou me chamar                Patativa do Assaré

                                                     4
Construtores do era

                                                                Companheiro(a)” Erick Feitosa
                                                                Ao te ver
                                                                me vejo
                                                                Pois meus sonhos
                                                                correm nas suas veias,
                                                                seu grito de indignação
                                                                vibra na minha garganta
                                                                e sai tão alto quanto o teu.
                                                                Seu inimigo é meu inimigo
                                                                Seus outros companheiros
                                                                também são meus companheiros
                                                                Os teus passos rumo a utopia real
                                                                da libertação do nosso POVO
                                                                não serão dados solitários e doloridos
                                                                Pois estarei do teu lado
                                                                caminharei ao teu lado.
                                                                A caminhada será coletiva,
                                                                as dores será divididas
                                                                e as alegrias multiplicadas.
                                                                Por Fim
Associação brasileira dos estudantes de Engenharia florestal Companheiro(a),
                                                                Confesso!
       A Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Olho no teu olho
Florestal – ABEEF é uma entidade sem fins lucrativos que or- e sinto a confiança
ganiza e articula @s estudantes de Engenharia Florestal a nível de que nunca estaremos só
nacional,regional e local, preocupada com uma melhor forma- enquanto estivermos em movimento.
ção técnica,política e ética dos estudantes, para que estes possam compreender e atuar sobre a
realidade social de nosso país, uma vez que a Universidade nos moldes atuais, cada vez menos
cumpre papel de construção de sujeitos críticos à realidade na qual estão inseridos. Assim, ao
longo de sua história a Associação atuou em torno do objetivo de construir uma sociedade justa,
igualitária, sem exploradores e explorados e que utilize os recursos naturais de forma equilibrada,
harmônica e sustentável. E esses objetivos se mantém firmes, e definem o horizonte de trabalho de
nossa organização bem como a nossa forma de atuação.
        Para isso, a ABEEF tem a universidade como principal área de atuação, entendendo que
todos devem ter direito a uma educação pública, gratuita, autônoma e de qualidade. Mas, e claro,
não enxerga a universidade como uma bolha isolada dentro da sociedade e por isso expande seus
horizontes para além de seus muros. Nesse sentido, a ABEEF vem estreitando laços com os
movimentos sociais populares ligados ao campo, principalmente os que estão inseridos na VIA
campesina (como MST, MAB, etc.), à floresta e à cidade, além de estreitar ainda mais os laços
com outras entidades do Movimento Estudantil.

Executiva Nacional dos Estudantes de Biologia

       A ENEBio - Entidade Nacional dos Estudantes de Biologia, reorganizada em 2007, é
composta por diversas escolas do Brasil e vem durante estes 5 anos construindo o Movimento
Estudantil da Biologia, colocando em debate os principais problemas que encontramos nesta
sociedade, no meio ambiente e também em nossa formação e educação.
       Ela reconhece em sua carta de princípios o desacordo com a exploração do homem pelo
homem e da natureza pelo homem, e bem como qualquer forma de mercantilização de recursos
naturais, pessoas e valores, como acontece no sistema capitalista. Defende a construção da
agroecologia como instrumento de luta, com o intuito de despertar uma nova ética ecológica nos
seres humanos, que priorize valores socialmente justos, ambientalmente seguros e
economicamente viáveis. Reconhece também a luta contra as opressões, seja ela de classe, origem

                                                    5
nacional, gênero, etnia, religião, orientação sexual e política. Luta por uma educação para tod@s,
gratuita, laica, socialmente referenciada e de qualidade, com caráter emancipatório e transformador
e acredita na organização coletiva como forma de superação das contradições sociais.
              A Entidade então se propõe a promover a luta pela superação desse modelo social,
articulando discussões pertinentes à formação do sujeito biólogo, dentro dessa perspectiva, para
que cada vez mais estudantes possam ser protagonistas da transformação que queremos para nossa
sociedade, com visão e posicionamentos políticos críticos a respeito dos fatos do Brasil e do
mundo.
        Com o objetivo de fortalecer cada vez mais a troca de experiências e massificar nossas
discussões (proporcionando a construção de novos valores e as relações de companheirismo), a
ENEBio realiza todos os anos Encontros Nacionais e Encontros Regionais de Biologia, ENEB e
EREB respectivamente, onde deliberamos sobre as ações da nossa entidade, como também os
Conselhos Nacionais e Regionais, CONEBio e COREBio respectivamente, onde organizamos e
planejamos nossas atividades ao longo do ano. Além disso, para instrumentalizar nossa militância,
proporcionando uma formação crítica mais aprofundada sobre temas importantes para
transformação social e alteração do modelo vigente, a ENEBio realiza Cursos de Formação
Política da Biologia (CFPBio) e em Agroecologia (CFA), organiza os Estágios Interdisciplinares
de Vivência (EIV) em diversos estados.
          Em 2013, estaremos construindo uma Campanha Nacional com o seguinte tema:
“Formação Profissional: Nosso verde não é negócio”. Tendo duas escolas compondo a Gestão da
Articulação Nacional: a UFS e a UFLA.
                                                             Necessário ressaltar a importância das
                                                     parcerias da ENEBio, resultado de uma
                                                     construção diária e concreta de lutas e
                                                     articulações com alguns Movimentos Sociais
                                                     Populares, em especial com componentes da
                                                     Via Campesina, e com outras executivas de
                                                     curso, como a FEAB (Federação dos
                                                     Estudantes de Agronomia do Brasil) e a
                                                     ABEEF (Associação Brasileira dos Estudantes
                                                     de Engenharia Florestal). Essa aproximação
                                                     mostra uma identificação cada vez maior de
                                                     nossa Entidade com as causas populares e o
Povo Brasileiro, colocando o papel protagonista que a juventude tem a cumprir dentro e fora da
universidade.
        A ENEBIO representa os estudantes de biologia do Brasil que se identificam com a luta
pela transformação da sociedade, para que vivamos num mundo mais justo e sustentável, com
maior equidade social e onde reconheçamos o ser humano como integrante da natureza e agente
transformador da mesma, e convida a todos e todas as estudantes de biologia de nosso país, a lutar!

Executiva nacional dos estudantes de veterin ária

        A Executiva Nacional dos Estudantes de Veterinária é a entidade máxima que representa
todos os estudantes de Medicina Veterinária do Brasil. Além disso, é o ambiente de confraria das
atividades desses estudantes que tem o intuito de se organizarem para se articularem e assim
conciliar o curso com as necessidades sociais atuais.
                      O MEV, Movimento Estudantil da Veterinária, se iniciou na década de 50,
                    juntamente com os estudantes de Agronomia onde formaram o Diretório
                    Central dos Estudantes de Agronomia e Veterinária do Brasil (DCEAVB)
                    durando aproximadamente seis anos e se desencorpando assim, em dois, o
                    DCEAB (Agronomia) e o DCEVB (Veterinária).
        Durante anos, ocorriam-se Congressos Brasileiros dos Estudantes de Veterinária (C.B.E.V)
nas escolas do Brasil, mas devido ao Regime Militar em 1964, as entidades de Veterinária se

                                                6
desarticularam. Em 1982, quando a sociedade estava se rearticulando, encontrou-se a necessidade
da criação de uma Entidade representativa dos estudantes de Veterinária, e assim, durante o III
Encontro Nacional dos Estudantes de Veterinária, em Curituba – PR é fundada a ENEV.
        A Executiva atualmente se encontra num processo de reorganização e rearticulação. A
Coordenação Nacional se encontra nas escolas UFBA, UECE e UFSM. É posto em pautas a
necessidade de participar mais intensamente do M.E. Geral e estreitar os laços de coletividade
através da articulação dos CEBEV’s (Conselho de Entidade de Bases de M. Veterinária).
                  “E assim, a história se segue, do passado ao presente, apontando um novo futuro.”

Federação dos estudantes de agronomia do brasil

                                                       A FEAB – Federação dos Estudantes de
                                                Agronomia do Brasil – nossa quarentona, tem
                                                muita coisa para contar de sua jornada. Altos e
                                                baixos, muita luta travada.
                                                    Viemos nesses 40 anos organizando a
                                               estudantada, fazendo formação e realizando lutas.
                                               Levantando e balançando as nossas bandeiras que
                                               são:     Educação;      Gênero   e   sexualidade;
                                               Agroecologia; Juventude, cultura, valores, raça e
                                               etnia; Relações internacionais; Movimentos sociais
                                               populares; Ciência e tecnologia; História e
 comunicação.
        Uma caminhada de mãos dadas com o povo. Rumando a construção de projeto de vida
 para o campo brasileiro, construindo a Agroecologia, que traz consigo novas formas de relação da
 camponesa e do camponês entre si e com a natureza. Lutando pela soberania alimentar e social de
 nossa nação.
        Ser militante da FEAB é ser lutador e lutadora do povo. Defendendo diariamente os
interesses da classe trabalhadora e do campesinato. Se transformando em novos homens e novas
mulheres. Ajudando na edificação de uma sociedade sem preconceitos, sem opressões e sem
exploração.

Levante popular da juventude

        O Levante Popular da Juventude é um
movimento social de jovens militantes voltado para a
luta de massas em busca da transformação social.
SOMOS A JUVENTUDE DO PROJETO POPULAR, e
nos propomos a ser o fermento na massa jovem
brasileira. Somos um grupo de jovens que não baixam a
cabeça para as injustiças e desigualdades.
        A nossa proposta é organizar a juventude onde
quer que ela esteja. Deste modo, nos organizamos a
partir de três campos de atuação: 1) no meio estudantil
secundarista e universitário; 2) nas periferias dos
centros urbanos e 3) nos setores camponeses.
        Nosso principal objetivo é multiplicar grupos de
jovens em diferentes territórios e setores sociais,
fazendo experiências de organização, agitação e
mobilização.
        O Levante organiza a juventude para fazer denúncias à sociedade por meio de ações de
Agitação e Propaganda (agitprop), ou seja, várias técnicas de comunicação e expressão da
juventude com o povo, como músicas, grafismo (graffite), dança, teatro, fanzines, faixas, adesivos,

                                                7
murais, gritos de luta, etc.
       O diferencial do Levante é que não elegemos bandeiras prioritárias, mas nos colocamos ao
lado das mobilizações que reivindicam melhores condições de vida para a juventude brasileira.
Num contexto onde falta quase tudo na vida cotidiana do jovem, nosso método é mostrar que sem
a organização coletiva e luta nenhuma conquista verdadeira é possível.
       A perspectiva que o Levante oferece é a possibilidade de estar organizado/a coletivamente
para viver e para lutar. Fora da organização as ações isoladas de um indivíduo, por mais justas que
sejam, não tem sucesso. Portanto, o que o Levante possibilita às pessoas é o reconhecimento da
sua condição de sujeitos e a construção de possibilidades para que estes recuperem a sua
capacidade de intervenção política.

Movimento dos trabalhadores rurais sem terra

        O Movimento Sem Terra está organizado em 24 estados nas cinco regiões do país. No total,
são cerca de 350 mil famílias que conquistaram a terra por meio da luta e da organização dos
trabalhadores rurais.
        Mesmo depois de assentadas, estas famílias
permanecem organizadas no MST, pois a conquista da terra é
apenas o primeiro passo para a realização da Reforma
Agrária. Os latifúndios desapropriados para assentamentos
normalmente possuem poucas benfeitorias e infra-estrutura,
como saneamento, energia elétrica, acesso à cultura e lazer.
Por isso, as famílias assentadas seguem organizadas e
realizam novas lutas para conquistarem estes direitos básicos.
        Com esta dimensão nacional, as famílias assentadas e acampadas organizam-se numa
estrutura participativa e democrática para tomar as decisões no MST. Nos assentamentos e
acampamentos, as famílias organizam-se em núcleos que discutem a produção, a escola, as
necessidades de cada área. Destes núcleos, saem os coordenadores e coordenadoras do
assentamento ou do acampamento. A mesma estrutura se repete em nível regional, estadual e
nacional. Um aspecto importante é que as instâncias de decisão são orientadas para garantir a
participação das mulheres, sempre com dois coordenadores, um homem e uma mulher. E nas
assembleias de acampamentos e assentamentos, todos têm direito a voto: adultos, jovens, homens e
mulheres.
        Da mesma forma nas instâncias nacionais. O maior espaço de decisões do MST é o
Congresso que ocorre a cada 5 anos. No mais recente, o V Congresso, participaram mais de 15 mil
pessoas. É no Congresso que são definidas as linhas políticas do Movimento para o próximo
período e avaliado o período anterior. Estas definições são sintetizadas nas palavras de ordem de
cada Congresso e que se estendem para o período seguinte. O V Congresso Nacional definiu como
linha para este próximo período: “Reforma Agrária, por Justiça Social e Soberania Popular”. Foi
aprovado ainda o novo programa de Reforma Agrária defendido pelo Movimento, após dois anos
de debates e estudos nos assentamentos e acampamentos. Além do Congresso, a cada dois anos, o
MST realiza seu encontro nacional, onde são avaliadas e atualizadas as definições deliberadas no
Congresso.                                                     O sertão foi meu ensino
        Além dos Congressos, Encontros e Coordenações, as de tudo quanto eu queria,
famílias também se organizam por setores para por isso é que aprovo a frase
encaminharem tarefas específicas. Setores como Produção, que Aristóteles previa:
Saúde, Gênero, Comunicação, Educação, Juventude, O homem é para o que nasce
Finanças, Direitos Humanos, Relações Internacionais, entre mas o meio influencia.
                                                                                      Pedro Ernesto Filho
outros, são organizados desde o nível local até
                                                                      Academia dos Cordelistas do Crato
nacionalmente, de acordo com a necessidade e a demanda de                                  Cadeira Nº 15
cada assentamento, acampamento ou estado.



                                                   8
O Beato Zé Louren ço, o Caldeirão e o desejo do povo pela terra
                              Falar sobre o Caldeirão é falar sobre o Beato José Lourenço, já que
                       aquela comunidade foi formada e sedimentada sob sua liderança influente e
                       aglutinadora. Em torno de sua figura se constroem muitas memórias
                       expressas num conjunto de narrativas populares, através da literatura de
                       cordel, mas principalmente na linguagem oral.
                              Paraibano de nascença, Zé Lourenço era negro e descendente de
                       escravos (certamente já trazia em seu sangue a resistência e a sede por
                       findar com as injustiças impostas para o povo). Trabalhou durante anos
                       como agricultor em grandes fazendas de sua região, chegando a Juazeiro do
                       Norte no ano de 1889, ano de grande efervescência religiosa com as
primeiras romarias que levaram os peregrinos a cidade pelos ditos milagres que vinham
acontecendo por obra do Padre Cícero. Daí então se tornou amigo do Padre e entrou para uma
ordem de penitentes, mais tarde a partir de orientações de Padre Cícero, Zé Lourenço conseguiu
arrendar um lote de terra no sítio Baixa Dantas, município de Crato e com ajuda dos inúmeros
trabalhadores rurais que peregrinavam para o local, transformou o sítio em um bom lugar para se
viver, sendo importante produtor e fornecedor dos mais variados alimentos.
        Em 1914 com o confronto ocorrido na Sedição de Juazeiro, as influências do Padre Cícero
que era de oposição ao Governo do atual eleito Franco Rabelo levaram o mesmo a aprisioná-lo,
causando revolta aos peregrinos que se uniram a jagunços e formaram uma grande brigada com o
apoio do Deputado Floro Bartolomeu na defesa do Padre. Faltaram mantimentos na cidade, mas a
produção da Comunidade no Baixa Danta conseguiu suprir durante a batalha. Nesse mesmo
período ocorreram saques ao sítio por meio dos jagunços, destruindo e prejudicando grande parte
da produção, mas com o todo esforço dos trabalhadores o sistema de produção voltava a funcionar
sem grandes dificuldades.
        No ano de 1926 o lugar foi vendido e o Beato, desapropriado sem qualquer indenização.
Todos seguiram para a Chapada do Araripe e fundaram o então conhecido “Caldeirão da Santa
Cruz do Deserto”. De 1926 a 1936, Zé Lourenço guiou uma reforma agrária de origem popular no
Cariri, uma experiência de caráter comunista no interior cearense contando com mais de 1500
trabalhadores rurais, um grande feito que muitos autores caracterizam por movimento messiânico,
bem como foi Canudos (1896-1897) no sertão baiano e o Contestado (1912-1916) entre Santa
Catarina e o Paraná.
        Segundo dados da pesquisa de Cordeiro (2008), era uma área de aproximadamente 900
hectares, no sopé da chapada do Araripe, região semiárida e escassa de água, mostrando grandes
desafios para a produção agrícola por possuir um solo excessivamente pedregoso e íngreme.
        A comunidade ganhou o nome de Caldeirão pela existência de grandes pedras que
armazenavam as águas da chuva.
        O Caldeirão era uma terra improdutiva até a chegada do beato e seu povo. A agricultura era
diversificada e tudo que era colhido/produzido eram bens comuns, provando que apesar das
condições adversas, o sertanejo tem a destreza de conviver com a seca. Cada homem produzia de
acordo com a suas habilidades e recebia conforme a sua precisão. Era uma comunidade
autossustentável, com grandes exemplos da prática agroecológica que materializava uma utopia de
soberania popular, servindo de refúgio para os trabalhadores que padeciam na falta de terra e água,
o Caldeirão tornou-se um local de amparo social e espiritual que tinha como lema “Terra de
trabalho e oração”.
        Havia um grande pomar das mais variadas frutas da região, roças de milho, cana de açúcar,
mandioca, feijão. Para o abastecimento de água no Caldeirão foram construídos dois grandes
açudes no local. Também trabalhavam com casa de farinha, engenho de cana onde produziam a
rapadura, armazéns para serem guardados os cereais que alimentavam durante os longos períodos
de estiagem (Como por exemplo, a grande Seca de 1932), criação de animais domésticos, e, além
disso, os ofícios eram uma prática de grande importância: oficinas de ferragem, artesanato,

                                                9
carpintaria e curtume.
        O Brasil vivia nesse momento o Estado Novo de Vargas e foi precisamente este poder de
organização do Caldeirão que assombrou a elite política da época. No ano de 1936 a comunidade
foi invadida por militares e destruída, os trabalhadores não possuíam armamentos para defesa e
sendo assim, muitos foram mortos ou presos e levados à capital, outros fugiram mata adentro.
Tentaram ainda refundar uma sociedade organizada na “Mata dos Cavalos” também na Chapada
do Araripe. Lá se encontravam o Beato e parte de sua gente que conseguiu refúgio, vivendo
clandestinamente e sendo alvo de grandes perseguições e chacinas.
        Após tantas idas e vindas, em 1938 voltam a habitar a antiga
localidade do Sítio Caldeirão, sendo expulsos por ordem judicial dois
anos depois. A próxima parada era o Sítio União já no estado do
Pernambuco, onde o Beato e seus seguidores restantes compraram
um lote e conseguiram finalmente viver em paz até o ano de sua
morte, em 1946, quando todos ficaram dispersos devido à ausência
do líder.                                                             Dona Zezé – Assentamento 10 de Abril
        O histórico das lutas e da experiência do Caldeirão é ainda um espelho e grande referência
inclusive para o MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Na região do Cariri, no
ano de 1991, muitos camponeses e camponesas se articularam e ocuparam aquela terra antes tão
criadora e que se encontrava ociosa desde o fim da comunidade.
        Dentro desse processo veio a conquista do Assentamento 10 de Abril, que recebeu esse
nome pela data em que as 96 famílias reocuparam as terras e durante 15 dias permaneceram em
acampamento pela reforma agrária. De acordo com Silva (2009), o então Governador do Estado do
Ceará, Ciro Gomes (1991-1994), desapropriou duas fazendas vizinhas ao Caldeirão, entregando a
posse das Fazendas Gerais e Carnaúba Gerais aos camponeses. Dessa forma, o Assentamento é
vinculado jurídica e administrativamente ao Governo do Estado do Ceará por intermédio do
Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Ceará – IDACE. , vitória para os camponeses.
        Hoje, o 10 de Abril conta com o trabalho de aproximadamente 36 famílias na sua constante
construção. Há trabalho na horta comunitária de produção orgânica, onde os produtos são vendidos
na Feira Agroecológica organizada pela Associação Cristã de Base – ACB (ONG cratense),
farmácia viva, plantio de fruteiras, roçados, criação de caprinos, apicultura; Cada qual com suas
atividades postas de acordo com as suas condições e habilidades, com muito gosto e sede por
transformação.
        Começar a entender todos os aspectos (cultura, religião, ancestralidade, política, dentre
outros) nos quais se inserem a realidade do camponês ao longo da história é o início da
compreensão das suas demandas e da luta pela construção de um modelo para o campo, modelo
que traga justiça pra sua gente, saúde e qualidade de vida. O agricultor está aí pra mostrar, e ele
quer Agroecologia.

          “Viva Ibiapina, viva Antônio Conselheiro, Zé Lourenço vida viva do sítio do Caldeirão.”
                                                                    (Afilhados do Padre Cícero).

                                                        Referências:
                                                                  CORDEIRO, D. S. A. Caldeirão da Santa Cruz:
                                                        Memórias de uma utopia comunista no nordeste
                                                        brasileiro. VI Congresso Português de Sociologia.
                                                        Universidade Nova de Lisboa. Junho de 2008.
                                                                  SILVA, J. J da, ALENCAR, F. A. G. de; Do
                                                        sonho à devastação, onde tudo se (re)constrói:
                                                        Experiências e Memórias nas Lutas por Terra da Região
                                                        do Cariri – CE. Revista NERA – ano 12 nº. 14 –
                                                        janeiro/junho de 2009 – ISSN: 1806-6755.

                                                        Sugestão de Filme: O Caldeirão da Santa Cruz do
                                                        Deserto de Rosemberg Cariry (1986).



                                                   10
Padre cicero e seus preceitos
        O Padre Cícero foi um homem nascido em Crato, mas que viveu a maior parte de sua vida
em Juazeiro do Norte, cidade vizinha. Foi padre, político e cidadão ao mesmo tempo. Coisas que
lhe tornaram um homem muito controverso, mas com toda certeza é um ícone importante da região
do Cariri. Teve papel importante no desenvolvimento econômico regional e no surgimento do
Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, emprestando a terra onde o Beato José Lourenço construiria a
sua comunidade e viveria no comunismo primitivo.
        Seus feitos e sua fama perduram até hoje. Além de inúmeros causos que se somam a sua
história. Reza a lenda que o Padre Cícero era metido a fazer previsões do futuro, como num dado
dia em que ele chegou em Juazeiro e começou a dizer que chegaria um dia em que pássaros de
metal voariam no céu. Remetendo aos aviões que ele mesmo já havia visto em uma de suas
viagens ao sul. De uma coisa sabemos. É que tudo que ele falava o povo levava em conta.
        Outro de seus feitos foi deixar para as gerações futuras suas impressões sobre a caatinga
nordestina. Fazendo surgirem seus preceitos ecológicos, que são ecoados até hoje.
                              Preceitos Ecológicos do Pe. Cícero
1-Não derrube o mato, nem mesmo um só pé 7-Represe os riachos de cem em cem metros,
de pau.                                           ainda que seja com pedra solta.
Não toque o fogo no roçado nem na caatinga.       8-Plante cada dia pelo menos um pé de angico,
3-Não cace mais e deixe os bichos viverem.        de caju, de sabiá ou de outra árvore qualquer,
4-Não crie o boi nem o bode soltos, faça até que o sertão todo seja uma mata só.
cercados e deixe o pasto descansar para se 9-Aprenda a tirar proveito das plantas da
refazer.                                          caatinga, como a maniçoba, a favela e a jurema;
5-Não plante em serra acima nem faça roçado elas podem ajudar a conviver com a seca.
em ladeira muito em pé, deixe o mato 10-Se o sertanejo obedecer a estes preceitos, a
protegendo a terra para que a água não a seca vai aos poucos se acabando, o gado
arraste e se perca a sua riqueza.                 melhorando e o povo terá sempre o que comer.
6- Faça uma cisterna no oitão de sua casa para 11-Mas, se não obedecer, dentro de pouco
guardar a água de chuva.                          tempo o sertão todo vai virar um deserto só.




                                                11
Informações importantes

Info rm es para as b rigadas:

-Tirar um chefe da brigada
Que sera o responsavel Por
fazer o credenciamento E
sera o contato da brigada com A
CO;
-Avisar o quanto antes a
confirmacao da vinda ao era;
-solicitar 200 k m a mais no
onibus para o deslocamento ate
a vivencia;
-proibido o uso de bebidas
alcolicas e de drogas no local
do evento.
            Esperamos voces!!!



                                           O que trazer?

                                           -kit militante (copo, talher e prato
                                           / lencol e colchonete);
                                           -kit higiene pessoal;
                                           -Barraca pois teremos camping (mas
                                           para quem n ão tiver teremos
                                           alojamento);
                                           -remédios de uso pessoal;
                                           -sementes, livros, filmes, etc.
                                           Para o balaio cultural;
                                           -pandeiro, violão, zabumba, latas e
                                           muitos mais instrumentos para
                                           fazer a nossa alegria;
                                           -e muita vontade em construir esse
                                           projeto para o campo brasileiro.




                   “A alegria está na luta, na
                   tentativa, no sofrimento
                   envolvido e não na vitoria
                   propriamente dita.”
                              Mahatma Gandhi




                                      12
Grade do xiii era nordeste- crato

Grade      Dia 01/05 -     Dia 02/05 -        Dia 03/05 -         Dia 04/05 -   Dia 05/05 -
            Quarta          Quinta              Sexta              Sábado       Domingo
Manhã      Chegada /        Painel I /   Mesa redonda Oficina do Ato     Vivências
         Credenciamento      Tribos        e Tribos
Tarde       Chegada /       Gênero          Painéis   ATO Público Plenária final /
         Credenciamento                   paralelos /                Encerramento e
                                           Oficinas                    avaliação

Noite      Abertura /     Reunião das Preparação       Socialização               Balaio
            Tribos        Organizações da socialização     das                   Cultural
                                        das Tribos       Tribos
Fim de      Balaio           Balaio        Balaio        Balaio                 Pega o beco!
           Cultural         Cultural     Cultural       Cultural
 Noite

                                               “Se ser político é reclamar
                                              das injustiças. Então, eu sou
                                                        político.”
                                                    Patativa do Assaré

                                         13
Dia a dia

                                                                 “Somos o que fazemos,
                                                                 principalmente o que
         01/05 - quarta                                          fazemos para mudar o que
                                                                 somos.”
                                                                        Eduardo Galeano
              Manha e tarde: Chegada e credenciamento
       Nesse espaço é importante que o chefe de delegação recolha os RG's de toda a delegação e se
encaminhe a Secretaria do ERA para poder ou credenciar e receber os kit's dos encontristas ou então
para poder inscrever, credenciar e aí receber os kit's dos encontristas. A CO encaminhará cada
delegação para os alojamentos e para as áreas de camping. Além de esclarecer quaisquer dúvidas que
possam vir a aparecer.

              Noite: Abertura / Tribos
Abertura
        A CO dará as boas vindas a todos e todas @s encontristas com muita alegria e diversão.
Teremos aqui a abertura oficial do nosso XIII ERA Nordeste. Com direito a uma prova de nossa
cultura e dos nossos sabores. Nosso encontro terá uma abertura diferente do que costumava acontecer
nos anteriores. A nossa abertura será numa praça pública, garantindo a interação com a sociedade
local desde o início do evento e apresentando o mesmo para a população.

Tribos
        As tribos são grupos menores e servem para que @s encontristas possam se reunir durante os
espaços do encontro, como o Painel I e a Mesa redonda para poderem debater e aprofundar mais
sobre a temática de cada espaço, além da realização de algumas tarefas inerentes ao funcionamento
do encontro, como alvorada e disciplina. As tribos serão suas famílias durante o ERA e é com eles
que vocês passaram uma parte do tempo. As tribos são muito importantes para os processos de
interação e aprendizagem, pois nelas @s encontristas estarão em contato com pessoas das mais
variadas regiões e saberes. A CO divulgará no ato do credenciamento como serão divididas as tribos.

              Balaio Cultural:
         É muito comum encontrarmos no sertão e mesmo nas cidades o bom e velho balaio. O
sertanejo com sua criatividade e sabedoria usa o balaio para um tudo: para guardar objetos variados,
carregar comida e até vender pão em outras comunidades. E num se engane que tem balaio pra todo
gosto: de cipó, de casca de cana e até de folhas de dendezeiro. Na cidade ele já não tem a mesma
serventia, virou mais um artigo de artesanato ou decoração, que é muito popular, mas se você olhar
bem em algumas situações ele ainda é utilizado igualzinho antigamente, como no carrego de
mercadorias na feira, quando as mulheres contratam os meninos para levarem suas coisas até em casa
em troca de umas moedas.
         No nosso ERA acontecerá ao fim de cada dia o Balaio Cultural, que é o espaço de trocas de
experiências culturais, onde nós estaremos apresentando um pouco da cultura regional e nordestina,
além de trocar sementes, livros, filmes, entre outras coisas. Esse é também o espaço onde provaremos
a culinária caririense e dançaremos o velho rala bucho até dar uma dor. Terão ainda exposições
artísticas e uma sala de vídeos, para quem curte uma coisa mais de leve.
                                     “Cada passo em cada tempo.
                                     Criar um pouco por dia.
                                     Avançar com humildade.
                                     Banhar-se de rebeldia.”
                                                    Ademar Bogo



                                                14
02/05 - Quinta

              Manha: Painel I: Os desafios da juventude na atual
conjuntura e as políticas públicas.
       Nesse painel será debatido sobre o que o Estado brasileiro
pensa e propõe para a juventude de nosso país. Além de trazer a
conjuntura, evidenciando onde está e o que tem feito hoje a
juventude do campo e da cidade. Qual o papel da juventude? Como
estão as políticas publicas para a juventude do campo? Como se
encontra o acesso do jovem à educação? Os impactos dos projetos
da agricultura (agronegócio e agroecologia) na Juventude. No
decorrer do painel @s encontristas se dividem em suas tribos para
poder debater e profundar o tema exposto pelos painelistas.

                                            Tarde: Gênero
                                     A tarde será dividida em duas. Durante a primeira parte da tarde
                             haverá um espaço de Auto-organização para a mulherada, enquanto para
                             a macharada haverá um espaço de gênero e patriarcado. Já na segunda
                             parte da tarde mulheres e homens se juntam para um debate sobre as
                             Lutas das Mulheres Camponesas e quais os desafios que estão postos
                             para as mulheres na construção da Agroecologia.

                                            Noite: Reunião das organizações
                                    A reunião das organizações é um momento em que pessoas da
                             mesma organização, porém de variados estados nordestinos podem se
                             sentar e debater sobre a situação das organizações e da construção da
                             Agroecologia em seus locais de origem. Além de tirarem
                             encaminhamentos que possam vir a ajudar na construção das
                             organizações.
                                           “Poeta, cantô da rua, que na cidade nasceu, cante a
          03/05 - Sexta                    cidade que é sua, que eu canto o sertão que é meu.”
                                                                                Patativa do Assaré

              Manha: Mesa Redonda: “Qual o papel da juventude na construção da agroecologia?
        Essa mesa vem mostrar a agroecologia como uma alternativa. Como a Juventude se coloca na
luta pela agroecologia, trazendo experiências exitosas. Mostrar pra juventude que existe alternativa e
perspectiva de permanência no campo, com qualidade de vida. E que não basta a luta institucional por
políticas públicas, mas que se trata de uma luta maior por um projeto para o campo brasileiro que
necessita de transformações profundas na sociedade. Pensar a agroecologia de forma multifacetada,
dentro da imensa gama de possibilidades, desde a
produção ao beneficiamento da produção, da educação
popular, da educação contextualizada. Mostrar a
agroecologia dentro do campo da sua complexidade.

              Tarde: Painéis Paralelos / Oficinas
Painéis Paralelos
        Nesse momento acontecem vários painéis ao
mesmo tempo com as mais diversas temáticas. Os painéis
que teremos no nosso ERA serão:

                                                 15
1. Biodiversidade e sementes Crioulas.
                                2. Economia verde.
                                3. Mapeamento das Comunidades Rurais Negras e Quilombolas do
                                    Cariri Cearense.
                                4. Educação Popular.
                                5. Formação profissional(campanha pela da curricularização da
                                    extensão).
                                6. Grandes Projetos no Nordeste.
                                7. Campanha permanente contra o uso de agrotóxicos e pela vida.
                                8. Produção Agroecológica e nutrição de plantas.
                                9. Associativismo e cooperativismo.
                                10. Sexualidade.
                                11. Cotas
12. Práticas na medicina alternativa.
13. Políticas públicas para a convivência com o
    semiárido.
14. Produção animal na agroecologia.
15. Sistemas Agroflorestais.

Oficinas
        As oficinas vem para ajudar no aprendizado
prático das técnicas agroecológicas, para que estejamos
preparados para atuar no campo, além de nos preparar para mostrar na prática as pessoas de nossas
universidades, assentamentos, escolas e comunidades, que não acreditam no potencial da
Agroecologia. No nosso ERA teremos as seguintes oficinas:
1. Fitoterápicos e Plantas Medicinais.
2. Cromatografia do Solo.
3. Defensivos Naturais.
4. Práticas e tecnologias de convivências com o semiárido.
5. Compostagem e manejo ecológico do solo.
                                              6. Prática de agroecologia
                                                  urbana.
                                              7. Homeopatia.
                                              8. Bioconstrução.
                                              9. Sistema PAES.
                                              10. Teatro do Oprimido.
                                              11. AgitProp.
                                              12. Beneficiamento de produtos agroecológicos.
                                              13. Acesso à comunicação e mídia livre.
                                              14. Tinta de solo.
                                              15. Reaproveitamento de alimentos.


              Noite: Preparação da Socialização das Tribos
       Nesse momento as tribos irão se reunir para preparar a socialização de tudo que foi debatido
durante o encontro para mostrar o quanto aprenderam e como aprenderam. Essa socialização, que
acontecerá no dia seguinte, deverá ser preparada de maneira lúdica, como uma peça, música e cordel.

                                                “Sonha e será livre de espírito.
                                                    Luta e serás livre na vida.”
                                                         Che Guevara



                                                16
“A liberdade é como a manhã. Há os que esperam
          04/05 - sabado                      dormindo que ela chegue, porém há os que despertam e
                                              caminham a noite para alcançá-la.”
                                                                       Subcomandante Marcos - EZLN
              Manha: Oficina do ATO Público
       Nessa manhã nos reuniremos primeiramente na plenária para explicar como e onde vai ser o
nosso ato. Depois explicaremos como e onde funcionarão as oficinas para o ato. Cada encontrista
escolhe de qual oficina irá participar de acordo com a demanda de cada uma. Pedimos que as escolas
que puderem, trazer materiais para ajudar nas oficinas do nosso ato. O ATO público é uma das partes
mais importantes de nosso encontro. É o momento em que saímos as ruas para dialogar com a
sociedade e mostrar o nosso projeto, que é a Agroecologia. Aqui usaremos tudo que aprendemos
durante o ERA e toda a bagagem que já tínhamos para poder conversar com as pessoas. As oficinas
são:
1. Clowns.
2. Batucada.
3. Saúde.
4. Segurança.
5. Estêncil.
6. Lambe.
7. Cartazes.
8. Palavras de ordem e músicas.
9. Comunicação.
10. Registro.

               Tarde: ATO Público
       Nessa tarde sairemos por um bairro
do Crato para dialogar com a população e
mostrar para a sociedade o que viemos
aprendendo durantes os dias do encontro. É
o momento de mostrarmos que existe sim
outra alternativa para o campo brasileiro e
de que ela é viável. As pautas e a
metodologia do ato serão informadas no dia
pela CO.
 “Liberdade” - Carlos Marighella

Não ficarei tão só no campo da arte,
e, ânimo firme, sobranceiro e forte,
tudo farei por ti para exaltar-te,
serenamente, alheio à própria sorte.
Para que eu possa um dia contemplar-te
dominadora, em férvido transporte,
direi que és bela e pura em toda parte,
por maior risco em que essa audácia
importe.
Queira-te eu tanto, e de tal modo em
suma,
que não exista força humana alguma
que esta paixão embriagadora dome.
E que eu por ti, se torturado for,            Marcha dos Povos na Cúpula. Mais de 80 mil pessoas
possa feliz, indiferente à dor,               nas ruas do Rio de Janeiro.
morrer sorrindo a murmurar teu nome.

                                                 17
Noite: Socialização
        Agora iremos fazer a socialização que preparamos com muito carinho no dia anterior para que
todos e todas as encontristas possam ficar sabendo o que nossa tribo debateu e aprendeu durante todos
esses dias. Aqui apresentaremos também a identidade de nossa tribo.


         05/05 - domingo

              Manha: Vivências
        No domingo estaremos saindo de dentro
do local onde acontecerá o nosso ERA para
desbravar as terras caririenses. Conhecer a
Floresta Nacional do Araripe e as experiências
exitosas de Agroecologia aqui em nossa região,
além de conhecer locais de alta relevância
cultural, como o Caldeirão de Santa Cruz do
Deserto, terra onde viveu o grande Beato José
Lourenço. Em breve disponibilizaremos pelo
blog quais serão as vivências.

              Tarde: Plenária final / Avaliação / Encerramento
Plenária final
        Nessa plenária faremos os encaminhamentos finais do nosso ERA, como cartas de apoio.

Avaliação
        Logo após esses dois espaços anteriores voltaremos a nos reunir com nossas tribos para
fazermos a avaliação do ERA. Que depois será sistematizada em um documento só para encaminhar
para as organizações e para a futura CO.

Encerramento
       Aqui faremos o encerramento oficial do nosso ERA. Além de fazer os agradecimentos, passar
as impressões da CO e se despedir desse povo lindo que vai vir ao nosso encontro.

             Noite: Pega o beco povo!
       Nesse momento as delegações começam a retornar para os seus locais de origens.
                             “A vida do viajante”
                             Minha vida é andar              Mar e terra,
                             Por esse país                   Inverno e verão
                             Pra ver se um dia               Mostre o sorriso
                             Descanso feliz                  Mostre a alegria
                             Guardando as recordações        Mas eu mesmo não
                             Das terras por onde passei      E a saudade no coração
                             Andando pelos sertões
                             E dos amigos que lá deixei      Minha vida é andar
                                                             Por esse país
                             Chuva e sol                     Pra ver se um dia
                             Poeira e carvão                 Descanso feliz
                             Longe de casa                   Guardando as recordações
                             Sigo o roteiro                  Das terras por onde passei
                             Mais uma estação                Andando pelos sertões
                             E a alegria no coração          E dos amigos que lá deixei.

                                                 18
pré-eras

        Para garantirmos uma uma melhor participação dos/as encontristas, é importante que as
organizações pensem com bastante carinho na preparação dos grupos que virão ao ERA, cuidando
para que todos os/as participantes se apropriem tanto do conteúdo, quanto da metodologia, e assim
possibilitando que todos e todas da delegação façam intervenções e possam aproveitar ao máximo de
nosso encontro.
        Há alguns anos, os grupos que
participam dos ERAs realizam os Pré-
ERAs, que são espaços nos quais
organizamos nossa delegação para a vinda
ao encontro, apresentando como este
funciona e também realizando debates sobre
a Agroecologia e as principais linhas
temáticas do evento.
        A realização desses espaços
preparatórios para o ERA já ajudaram e
ainda vão continuar ajudando na formação e
consolidação de grupos organizados em
torno das executivas e movimentos sociais,
além das outras formas de organização,
como CA's, DA's, Grêmios Estudantis e
Grupos de Agroecologia.
        Cada grupo tem total liberdade de organização deste espaço, porém gostaríamos de dar
algumas dicas - que representam o acúmulo de diversas organizações - de como organizar a reunião (e
o momento de estudo) e também sobre algumas metodologias participativas.

I. DICAS PARA ESTUDO INDIVIDUAL OU COLETIVO
Retirado da cartilha “Trabalho de base. Teoria e prática. Coletânea de Textos.” CEPIS, Maio de 2005.

1. Rotina de Estudo: marcar um horário e um dia facilita a escolha dos espaços reservado
para os estudos.
2. Tempo de estudo: recomenda-se que por vez, se use no estudo, no mínimo 45 e no
máximo, 60 minutos.
3. Garantir o material: cada pessoa deve ter e zelar por sua cópia individual do texto,
livro, desenho.
4. O dia bom: as pesquisas mostram que não se programa estudo em dias de cansaço; no sábado,
por exemplo.
5. Ambiente favorável: lugar com claridade, agradável, sem gente passando,
sem barulho, que concentre.
6. Postura confortável: apoiar o material sentar-se em vez de deitar-se, posição
relaxada, pés apoiados.
7. Uma lição de cada vez: porque isso ajuda a entender, gravar e fazer uma
aplicação prática do conteúdo.
8. Folhear o texto: para se ter uma visão do conjunto – olhar o autor, os títulos,
palavras, desenhos.
9. Fazer anotações: marcando as passagens importantes, os destaques, as novidades, o que se gosta, as
dúvidas.
10. Voltar ao texto: várias vezes para apreender a mensagem, as ideias, fatos, informações e
exemplos.
11. Fazer resumo: significa repetir com as próprias palavras as principais ideias, colocando as
opiniões pessoais.

                                                 19
12. Discutir no coletivo: as dúvidas, interpretações e divergências surgidas no estudo devem ser
esclarecidas.
13. Recordar lição anterior: é necessário repetir o já estudado, antes de continuar ou se começar
uma leitura.
Observação: O plano individual, para ter mais resultado, deve articular-se com o plano coletivo de
estudo.

Passos para o estudo em grupo

         Em muitos casos, a organização popular precisa preparar militantes para atuarem como
monitores que ajudem os iniciantes na compreensão do conteúdo e no esclarecimento das dúvidas.
Nesse caso, esses multiplicadores devem ter uma preparação que os ajude no repasse criativo e
dinâmico do conteúdo.
         Para o estudo grupal, sugerimos os seguintes passos:
  • É indispensável ter uma coordenação que estimule e facilite a participação de todas as pessoas.
  • Leitura integral do texto para ter uma visão de conjunto do conteúdo. Pode ser um bloco, de um
    capítulo ou do todo. Em voz alta, com uma ou várias pessoas lendo.
  • Reler em pequenos grupos, por proximidade para fixar o assunto e permitir o debate e o
    aprendizado.
  • Realização de um plenário onde as pessoas possam expressar e debater suas opiniões.
  • Identificar o tema central a coordenação recolhe e ordena a compreensão que as pessoas tiveram
    da leitura.
  • Destacar ideias principais até chegar à ideia central da leitura, vendo argumentos e exemplos
    ligados a essa ideia.
  • Anotar dúvidas, impressões, passagens, questões despertadas pela leitura e sua discussão.
  • Resumir no grupo e no plenário, em palavras-chave, frases curtas ou até desenhos as ideias mais
    importantes.
  • Interpretar juntos tentando comparar/associar as ideias do texto com as do grupo e com outras
    leituras.
  • Aprender a criticar no sentido de formar opiniões próprias e de fazer apreciações sobre o texto.
  • Tirar conclusões e aprendizados que poderão ser usados na prática das pessoas e do grupo.
  • Encaminhar a próxima etapa do plano de estudos.

Estudo em grupo

        Um estudo eficaz, sem ser chato, exige:
a) Uma preparação aprimorada
  • A convocação das pessoas é parte determinante em qualquer atividade popular. Funciona quando
    é feita pelo contato e o convencimento direto. Avisos gerais ou escritos servem apenas para
    recordar a convocação pessoal.
  • O local da reunião deve ser um espaço aconchegante, que acomode bem as pessoas e um
    ambiente que expresse o tema a ser debatido: cartazes, símbolos, músicas, poemas...
  • Preparação das pessoas encarregadas de animar o debate – elas devem estudar bem o assunto,
    preparar material de apoio e sugerir dinâmicas participativas.
  • Disciplina consciente – Por respeito às pessoas que comparecem, o estudo deve começar e
    terminar na hora marcada.
b) Uma coordenação firme
  • O processo da reunião é de responsabilidade coletiva. Mas, é comandada pela coordenação. Por
    isso, para a coordenação, chegar na hora, significa chegar antes da hora marcada.
  • Participar e não assistir é a finalidade do estudo. A coordenação anima a socialização do debate,
    questiona as afirmações, resume e complementa sem sair do tema principal.
  • Coordenar não é passar a palavra. É preparar, acolher, animar, sintetizar, garantir o rumo, facilitar

                                                 20
a participação, possibilitar a tomada de decisão.
c) Uma realização eficiente
  • Começar na hora marcada, com entusiasmo, de forma que eleve o astral do grupo.
  • Não exceder hora e meia – para não perder o poder de concentração. Se continuar, pausa, com
    amenidades.
  • Abordar os temas (análise, opinião, sugestões, encaminhamentos) de forma clara e direta.
  • Evitar o monólogo. Frear, com jeito, o ímpeto de quem adora ouvir o eco da própria voz.
  • Evitar a discussão entre duas ou entre algumas pessoas, possibilitar que todas as pessoas falem
    estimular as caladas e as tímidas e conter falas que se desviam do assunto.
  • Só seguir adiante se o assunto foi bem discutido e concluído.
  • Encerrar a reunião de forma agradável, na hora combinada.
d) Encaminhamentos das decisões
  • Deixar claro as conclusões do estudo, as tarefas a serem encaminhadas, as responsabilidades e os
    prazos.
  • Encarregar gente para acompanhar e cobrar as providências.
  • Combinar as próximas atividades
Observação: Você pode modificar ou acrescentar dicas tiradas da sua própria experiência.

II. TÉCNICAS PARTICIPATIVAS
Retirado da cartilha “Concepção de Educação Popular do CEPIS” do Centro de Educação Popular do
Instituto Sedes Sapientiae, Junho 2008.

        Técnicas são recursos pedagógicos usados no processo educativo, para facilitar o aprendizado.
São procedimentos didáticos, dinâmicas e instrumentos técnicos para o uso desses recursos. Como já
foi dito, Educação Popular não se confunde com o uso de procedimentos – dinâmicas de grupo,
recursos audiovisuais – que facilitam a integração e geram entusiasmo nas pessoas. Os instrumentos
ajudam no processo de tradução, reconstrução e criação coletiva do conhecimento da realidade. A
“euforia do participativo” é enganosa, porque, por si, não prepara ninguém para ser protagonista, para
entender a realidade social ou para comprometer-se com a transformação social. Às vezes, contribui
para que as pessoas sejam manipuladas. Chefes bonzinhos consultam, ouvem a opinião, e o
trabalhador não desconfia que isso só facilita o aumento da produção e riqueza dos patrões.
        O uso de recursos pedagógicos não é neutro – a maneira de fazer uma atividade pode afirmar
ou negar seus objetivos. Quando a Educação Popular insiste no uso dos recursos pedagógicos, tem
clareza de que os instrumentos servem para ajudar na incorporação de conteúdos, de forma
participativa e crítica. Os desenhos, vídeos, dramatizações, poemas... São caminhos para alcançar um
objetivo. Da mesma forma, as dinâmicas não devem ser vistas como um recurso tático e atrativo para
animar pessoas e grupos; são recursos para estimular a participação e a cooperação mútua. Entre as
técnicas pedagógicas estão:
1. Dinâmicas de Grupo
                                                               São as várias formas de movimentar as
                                                         pessoas presentes, em uma atividade e fazê-
                                                         las participantes, presentes de corpo, mente e
                                                         coração. Facilitam o entrosamento, o
                                                         conhecimento mútuo, a construção de
                                                         confiança e o intercâmbio de ideias e de
                                                         experiências.     Algumas      dinâmicas    da
                                                         Educação Popular.
                                                                     A Mística
                                                             A mística de um Movimento é o conjunto
                                                         de motivações e princípios que alimentam a
                                                         sua existência. Enquanto dinâmica, ajuda a
                                                         recordar os valores, princípios e exemplos,
                                                         baseados em convicções que unem a classe
                                                  21
oprimida. Pode ser feita a qualquer hora, sempre ligada ao assunto do dia. Deve ser curta, simples,
bonita e, sobretudo, participada. Em forma de canto, poema, gesto, mensagem, silêncio, testemunho.
Não pode virar um show para ser assistido ou para engrandecer quem a preparou.
                A Apresentação
        Usa-se dinâmicas de apresentação para quebrar o gelo, facilitar o conhecimento das pessoas
presentes, ouvir as expectativas, revelar identidades, saber o que as pessoas fazem, pensam e sentem.
Para evitar a formalidade ou a exibição, onde as pessoas se escondem atrás de cargos e títulos.
Existem diferentes e criativas formas de apresentação e os educadores devem ir criando outras de
acordo com o grupo e o objetivo da reunião.
                A Dramatização
        Serve para iniciar ou verificar se um
assunto foi assimilado. Num encontro sobre
relações sociais de gênero, os grupos podem
encenar como vive uma família. Ao analisar
a apresentação, o grupo pode refletir como
se dão as relações sociais de poder. Encenar
como fazer uma reunião ajuda a ver os
acertos, vícios e papéis que acontecem na
realidade e o comportamento de diversos
atores.
                Alongamentos e Brincadeiras
        São feitas para descontrair, divertir,
promover o entrosamento. Servem como exercícios para o corpo – alongamentos, danças, capoeira...;
ajuda na movimentação do plenário, além de uma oportunidade de revelar habilidades e talentos das
pessoas presentes.
                A formação de grupos
        É uma dinâmica para envolver todas as pessoas, para mastigar o assunto discutido, verificar
seu entendimento, aprofundar um tema, comparar o estudado com a vida e tirar conclusões para a
prática. Para levantar questões, o cochicho em plenário, ajuda. Se a tarefa do grupo é a leitura de um
texto, é melhor que se faça fora do plenário, em divisão por crachá, cor, número, mútua escolha,
vizinhança... Sempre com grupos pequenos e pergunta clara, para que cada pessoa possa dar sua
opinião. O resultado pode vir num cartaz a ser explicado em plenário.
2. O uso da poesia e da música
                                                        A forma poética e musical emociona, envolve,
                                                 desarma e aproxima, porque pega as pessoas por
                                                 dentro. Para participar as pessoas precisam conhecer
                                                 ou ter uma cópia em mãos. Devem ser recitadas ou
                                                 cantadas, no momento e ambientes adequados. A
                                                 experiência da primeira leitura pública bem feita e
                                                 solene, seguida de leitura coletiva, tem sido
                                                 proveitosa. Pode ser no começo, meio ou fim da
                                                 atividade sempre ligada ao assunto tratado. Cada
                                                 região ou grupo pode e deve ter sua própria seleção.
                                                             O uso de recursos áudios-visuais
        Quando se fala que o “o povo tem que entender o que eu digo, tem que ver o que eu digo”,
reforça-se a ideia de que “a comparação é a cesta aonde o povo leva a mensagem para casa”, ou que
“um só olhar vale mais do que mil palavras”. Este recurso vale por ser mais atrativo, provocar várias
interpretações, revelar a experiência das pessoas; porque, mesmo sem escolaridade, se pode captar a
mensagem. No processo de aprendizagem, 60% são recebidos pela visão; 20% pela audição; 10%
pelo tato; 5% pelo olfato; 5% pelo paladar.
        Por isso, o poder da mídia. Entre os diversos recursos áudios-visuais, lembramos:
                Desenho, cartaz, filme...


                                                  22
Quando usados como recurso pedagógico, servem
                                                   para motivar o estudo sobre um tema ou ilustrar um
                                                   assunto debatido, serve para iniciar ou ilustrar um
                                                   debate sobre o tema. O desenho e/ou cartaz pode
                                                   ser feito na hora ou pode vir preparado. As pessoas
                                                   devem ter cópia e/ou boa visão do recurso que está
                                                   sendo utilizado. A leitura individual, em grupos e
                                                   em plenário, ajuda a desmontar a imagem ou a
                                                   história. Após a exibição do filme é importante um
                                                   debate sobre ele. O uso de imagens é um bom
                                                   exercício para aprender e ensinar, pelos modos
                                                   diferentes de ver, pelo debate, por reunir pontos de
                                                   concordância e discordância, por sugerir lições para
a prática concreta. É necessário verificar se a mensagem foi captada e se foi refletida a relação do
recurso audiovisual com o assunto tratado.
               O uso de mensagens, provérbios e parábolas
        São recursos usados para reflexão, ou como provocação, conforme o tema. Exemplo: “Quando
o rico mata o pobre, o defunto é que vai em cana”; “Se o boi soubesse a força que tem, ninguém
dominava ele”. Após sua leitura pública, solene, individual e coletiva, a pessoa sublinha o aspecto que
achou importante, comunica ao vizinho, ao grupo e ao plenário. Quem coordena o debate deve estar
atento para recolher e sistematizar as contribuições, em diálogo com o grupo e sempre questionando
as afirmações.
               O uso de textos
        É importante para um estudo mais aprofundado sobre um tema, além de um exercício de
leitura e sistematização do que foi lido. A leitura pode ser em grupo ou individual e possibilita a
criação do hábito de leitura e da continuidade da formação sem a presença do educador. Enfim, as
técnicas participativas, os meios, os métodos e até os instrumentos pedagógicos estão intimamente
vinculados ao fim do qual eles são o caminho. Por isso, é indispensável que os participantes da ação
educativa se apropriem do conteúdo, da metodologia e, inclusive, do funcionamento dos
instrumentos.

                                   Textos para os pré-eras

                                            “A primeira condição para modificar a realidade é
                                            conhecê-la.”
          Texto 1                                                              Eduardo Galeano

  A necessidade da ressignificação da relação sociedade/natureza e a proposta da
                                   agroecologia

                          Contribuição da escola de Castanhal-PA, NTP de Agroecologia 2011-2012,
                  Hueliton Pereira Azevedo; Amanda Rayana da Silva Santos; Renan da Silva Cunha.

       O mundo contemporâneo atravessa uma crise sem precedentes. Não se trata de um fenômeno
conjuntural, mas do esgotamento de um projeto civilizacional que tem o seu fundamento no ato de
acumular riquezas nas mãos de minorias, sem considerar os limites naturais e humanos necessários a
sua própria reprodução. Em face da abrangência, profundidade e complexidade dessa crise, já se
tornou lugar comum à afirmação de que nos encontramos diante de uma encruzilhada histórica. De
fato, a combinação de uma população mundial crescente e cada vez mais urbanizada com a
degradação acelerada dos recursos naturais e as mudanças climáticas globais molda um cenário
perturbador que nos confronta com dilemas decisivos.
       Como alimentar uma população mundial crescente? Como manter os níveis de produtividade

                                                  23
alcançados pela agricultura industrial sem dar continuidade ao uso intensivo de combustíveis fósseis e
a deterioração da base biofísica que sustenta os processos produtivos da agricultura? Como construir
mecanismos de adaptação de sistemas agrícolas às já inevitáveis mudanças climáticas globais? Para
dar respostas a essas indagações é necessária uma mudança do modelo convencional de agricultura
para estilos de agricultura de base ecológica e mudanças nos padrões de consumo e de uso dos
recursos. Enquanto essas mudanças forem sendo materializadas, nosso papel é manter a produtividade
da terra agrícola, a longo prazo, da superfície mundial cultivável. Isso requer a produção sustentável
de alimentos, que é alcançada segundo Gliesman (2000) através de práticas agrícolas alternativas,
orientadas pelo conhecimento em profundidade dos processos ecológicos que ocorrem nas áreas
produtivas e nos contextos mais amplos das quais elas fazem parte.
        Apesar de termos presenciado uma significativa elevação da produtividade e da produção, a
fome persiste em todo o globo e não podemos em hipótese alguma confiar nos meios convencionais
de aumentar a produtividade, para ajudar a satisfazer a necessidade de alimentos de uma população
mundial em expansão. Isso por que esse modelo de agricultura está construído sob dois objetivos: a
maximização da produção e do lucro. Em vista disso, um conjunto de práticas (cultivo intensivo do
solo, monocultura, irrigação, aplicação de fertilizantes inorgânicos, controle químico de pragas e
manipulação genética de plantas cultivadas) foi desenvolvido sem considerar as consequências não
intencionais, de longo prazo, e sem considerar a dinâmica ecológica dos agroecossitemas. Portanto,
todas às práticas da agricultura convencional tendem a comprometer a produtividade futura em favor
da alta produtividade no presente. Em face disso, além da produtividade qual é o problema que
precisamos equacionar para resolver a fome no mundo?
        A realidade da condição atual da relação entre a sociedade e a natureza. As sociedades
humanas em qualquer que seja a sua condição e o seu nível de complexidade não existem em um
vazio ecológico, mas sim afetam e são afetadas pelas dinâmicas, ciclos e fluxos da natureza. A
natureza definida aqui como aquilo que existe e se reproduz independente da atividade humana pela
qual ao mesmo tempo representa uma ordem superior ao da matéria. Isso supõe o reconhecimento de
que os seres humanos organizados em sociedade respondem não só a fenômenos e processos de
caráter exclusivamente social, mas também são afetados pelos fenômenos da natureza.
        Nessa perspectiva as sociedades humanas produzem e reproduzem as suas condições materiais
de existência a partir de seu metabolismo com a natureza em uma condição que é pré-social, natural e
eterna. Este fenômeno implica em um conjunto de processos por meio dos quais os seres humanos
organizados em sociedade, independente de sua situação no espaço (formação social) e no tempo
(momento histórico), se apropriam, circulam, transformam, consomem e excretam, matérias e
energias provenientes do mundo natural.
        A compreensão desse processo de relação da sociedade com a natureza é fundamental para
entender, como se encontra essa relação no atual momento e a necessidade de sua ressignificação.
Chegamos pela primeira vez na história da humanidade em um momento que a quantidade de
recursos que as sociedades consomem (apropriação) hoje, é maior do à capacidade que a natureza tem
de repor e, além disso, a quantidade de produtos eliminados (excreção) pelas sociedades é superior à
capacidade que a natureza possui de reciclar e disponibilizar novamente.
        Assim, precisamos repensar a forma como estabelecemos o contato com a natureza e de como
a transformamos. Para isso, precisamos entre outras coisas desmistificar os mitos que envolvem a
atual relação das sociedades com a natureza. O primeiro deles é o mito da desconexão do homem com
a natureza, que determina que os seres humanos sejam entidades desligadas do meio em que vivem. O
segundo é o mito da natureza infinita, que prevê que os recursos não se esgotam e, portanto, podemos
explorar sem limites. O terceiro é o que defende que a floresta preservada é um empecilho para o
desenvolvimento, sustentando assim a necessidade de simplificação dos agroecossistemas em uma
lógica industrializadora. Esses “mitos” constituem um conjunto de concepções que legitimam a
exploração irracional e inconsequente dos recursos naturais em nome de um “desenvolvimento”
pautado apenas no crescimento econômico em detrimento da sustentabilidade.

Os desafios das ciências agrárias frente ao atual contexto


                                                  24
No contexto atual são muitos os desafios postos ao campo das ciências agrárias. Porém, os
aspectos que merecem maior atenção são: a interdisciplinaridade, o trabalho e a pesquisa.

A interdisciplinaridade

        Esse contexto de crises interconectadas que vivemos (energética, ecológica, civilizatória e
econômica) e a necessidade de mudanças na direção da sustentabilidade, exigem da academia uma
revisão de seus pressupostos metodológicos e epistemológicos que guiam as ações de pesquisa e
desenvolvimento. Nesse sentido, é de fundamental importância que cada vez mais as ciências agrárias
movam-se no sentido de rever a lógica cartesiana de ciência que tem permeado esse campo científico
ao longo do tempo.
        Essa concepção de ciência permitiu à humanidade realizar notáveis avanços no campo
científico; as grandes descobertas científicas e o desenvolvimento tecnológico atual são
inegavelmente tributários dessa concepção científica. Hegemônica no pensamento científico, ela é
fortemente embasada na disciplinaridade, no reducionismo, na especialização, na validação
experimental e na priorização dos aspectos quantitativos.
        No entanto, o avanço da ciência, sobretudo no decorrer do século XX, apontou para as
limitações desta concepção científica. A impossibilidade de explicar e compreender comportamentos
e fenômenos naturais ditos complexos (como, por exemplo, os eventos climáticos, o funcionamento
dos seres vivos, os ecossistemas, etc.) passa a evidenciar as limitações e restrições da abordagem
analítica/cartesiana na pesquisa científica.
        Edgar Morin, ao participar de um colóquio, em 1979, apresentou de maneira clara e direta essa
“crise” da ciência clássica cartesiana no decorrer da segunda metade do século XX:
                               Este método (cartesiano) efetivamente conduziu a ciência a descobertas
                               extraordinárias. Falso em seu princípio, ele se mostrou fecundo em um
                               primeiro momento. É aí que reside um dos paradoxos da história. A
                               obsessão atomista, ou seja, a ideia obsessiva de que é preciso encontrar
                               a menor unidade que será o “tijolo” a partir do qual se poderia
                               reconstruir o universo, essa obsessão conduziu, assim mesmo, à
                               descoberta da molécula, do átomo, da partícula e, atualmente, ela nos
                               conduz, não mais à busca da unidade elementar, mas à busca dos
                               paradoxos fundamentais, ou seja, à complexidade da base. A passagem
                               do elementar ao fundamental é ao mesmo tempo a passagem da
                               simplicidade à complexidade. O mesmo ocorreu na biologia. A obsessão
                               pela unidade de base nos fez passar do organismo à célula e, em
                               seguida, da célula à biologia molecular, e a biologia molecular
                               acreditou encontrar finalmente o elementar nas interações entre
                               moléculas, na interação química. Em uma reviravolta absolutamente
                               inacreditável, é essa mesma biologia molecular que, no fundo, nos
                               apresentou os problemas fundamentais da organização autônoma da
                               vida. (...) Assim, princípios insuficientes impulsionaram a descoberta e,
                               ao mesmo tempo, eles mesmos provocaram seu próprio
                               desmantelamento. Esses princípios ultrapassados sobrevivem, enquanto
                               o novo princípio, o princípio da complexidade, ainda não emergiu
                               completamente! O princípio “morto” ainda não está “morto”,e o
                               princípio “vivo” ainda não vive (p. 98-9)
        Morin (1977), ao afirmar que “o todo é superior ao todo, o todo é inferior ao todo”, sintetiza
de maneira exemplar um importante preceito que orienta a abordagem sistêmica. Assim, em
decorrência de fluxos e interações internas, a abordagem sistêmica considera que o comportamento de
um objeto pode ser diferente da soma dos comportamentos dos elementos que compõem esse objeto.
        Nesse sentido, a abordagem sistêmica, apresenta-se como um “novo” método para a
compreensão e o estudo de fenômenos complexos. Sem se contrapor à abordagem analítica/
cartesiana, e sem negá-la, a abordagem sistêmica propõe-se a ser uma metodologia “que permita

                                                  25
reunir e organizar os conhecimentos com vistas a uma maior eficácia da ação” (ROSNAY, 1975).
Esse caminho rumo a uma abordagem interdisciplinar que diminua o “estranhamento” entre as
disciplinas, que possibilite reflexões sistêmicas e não unilineares, que não fragmente a visão dos
profissionais, que alimente a necessidade de uma ciência cada vez mais envolvida com a realidade
concreta e com a emancipação das pessoas, necessita ser cada vez mais presente na formação dos
profissionais da área das ciências agrárias.

Pesquisa

        A pesquisa científica tem representado um instrumento legitimador do modelo de produção
agrícola convencional. Isso tem ocorrido, entre outros fatores, através do desenvolvimento de
pressupostos epistemológicos e metodológicos que impossibilitam a construção de uma visão mais
humana e complexa da realidade. Nesse sentido, Gomes (2012) defende que é necessário promover
essa revisão dos pressupostos da ciência que guiam as ações de pesquisa e desenvolvimento, para
isso, elenca alguns elementos necessários a essa tarefa, sendo eles: uma ruptura epistemológica, rigor
no uso de conceitos e o uso do método.
        A agroecologia é considerada uma disciplina científica que transcende os limites da própria
ciência, ao pretender incorporar questões não tratadas pela ciência clássica (relações sociais de
produção, equidade, segurança alimentar, autoconsumo, qualidade de vida, sustentabilidade, etc.) e
esta, por sua vez, se restringiu á aplicação de pressupostos metodológicos.
        Aceitar que os conhecimentos produzidos em outros contextos, além daqueles considerados
científicos, também são válidos, significa colocar em discussão os referenciais mais caros à ciência
clássica (e aos próprios pesquisadores). Se a ciência não representa a única fonte de conhecimento
válido, se os conhecimentos tradicionais e os saberes cotidianos também devem ser considerados na
produção do conhecimento agroecológico, então é necessário promover uma articulação entre o
conhecimento científico e os outros saberes empíricos. Isto não é uma coisa fácil, se considerarmos a
formação dos pesquisadores, a cultura e a estrutura das instituições. Falar sobre as mesmas coisas não
significa, necessariamente, ter a mesma visão de mundo ou a mesma intenção. Por exemplo, tratar as
pessoas como se fossem semelhantes, não significa necessariamente, um tratamento justo. Esta
consideração é importante para que na pesquisa agroecológica não se incorra no mesmo equívoco da
pesquisa clássica, que pretendia uma tecnologia de caráter universal, sem considerar as
especificidades de cada grupo de agricultores. A agroecologia incorpora a diversidade e a diferença,
por isso é muito mais complexa.
        Outra consideração relevante é o uso indiscriminado do termo sustentabilidade, que está sendo
transformado ou usado, com o propósito de “crescimento econômico sustentável” através dos
mecanismos de mercado, sem preocupar-se com a internalização das condições da sustentabilidade
econômica nem de incorporar os diversos processos que estão implicados na própria sustentabilidade
como o ambiente, o tempo ecológico de produtividade e regeneração da natureza, os valores culturais
e humanos, a qualidade de vida, entre outros. Neste sentido, a consideração única dos valores e
medições de mercado como indicadores de sustentabilidade, acabou seguindo caminho contrário a
sustentabilidade quando consideradas as dimensões sócio-ambientais. Ou seja, a noção de
sustentabilidade se divulgou e vulgarizou até formar parte do discurso oficial e do sentido comum.
Este mimetismo discursivo, gerado pelo uso retórico do conceito, escamoteou o sentido
epistemológico da sustentabilidade (Leff, 2000).
        O método científico tem sido mais usado, no seu sentido convencional, que é visualizar um
fato (ou fenômeno) que deve ser repetido várias vezes, buscando obter o maior número possível de
detalhes sendo, realizada, portanto, com a maior precisão possível. Deve-se tomar o cuidado com os
“vícios” para ocorra uma observação correta do fato; em muitos casos, a pessoa ver o que deseja ver,
e não o que está ocorrendo de fato.
        Por outro lado, o uso do “método” numa perspectiva não-convencional, adotou uma postura
relativista, quase ao estilo da epistemologia anarquista de Feyerabend (1992), o “vale tudo”, que agiu
corretamente ao abominar as heranças do empirismo, do racionalismo, do positivismo e do
mecanicismo, mas não chegou a contribuir para a flexibilização no uso do método convencional. Ao

                                                  26
não fazê-lo, também ficou na “aparência’’, pois a falta de “rigor’’, ou de organização do trabalho
(como deve ser a atividade de pesquisa), também impede de identificar as “causas”.
       Para citar um exemplo prático, é que um grupo de investigadores, “mais cartesiano”, não
conhece ou não estudou a teoria da trofobiose (Chaboussou, 1987). O outro, mais “generalista”, quase
tudo justifica em seu nome. Se o diálogo tivesse ocorrido, talvez a “caixa-preta” tivesse sido aberta,
contribuindo para elucidar muitos problemas que ainda hoje continuam sem solução. Ainda sobre o
“método”, é claro que sua aplicação foi responsável por muitos êxitos científicos. Entretanto, se for
concebido em seu sentido estreito, identificado exclusivamente com o método experimental, seu
alcance fica radical e automaticamente limitado. Ademais, o método não substitui o talento, mas o
complementa: o investigador de talento cria novos métodos, o inverso não ocorre. Para o caso da
pesquisa em agroecologia, não se trata nem de abolir o método convencional nem de trabalhar de
forma anárquica, mas de construir “um método” flexível o suficiente para incorporar a complexidade
em questão.

Trabalho

        No intercâmbio com a natureza, o ser humano produz os bens de que necessita para viver,
aperfeiçoa a si mesmo, gera conhecimentos, padrões culturais, relaciona-se com os demais e constitui
a vida social. Na relação dos seres humanos para produzirem os meios de vida pelo trabalho, não
significa apenas que, ao transformar a natureza, transformamos a nós mesmos, mas também que a
atividade prática é o ponto de partida do conhecimento, da cultura e da conscientização (Frigotto,
1985). Na perspectiva dos interesses da classe trabalhadora, o estudo e o debate para aqueles que se
dedicam ao trabalho educativo e de qualificação deve se pautar em dois aspectos: a impossibilidade
de desenvolver as dimensões educativas do trabalho dentro do sistema capitalista e a compreensão do
trabalho como princípio educativo.
        O modelo difusionista inovador de extensão rural, por exemplo, tem provocado a expropriação
dos camponeses do processo de produção do conhecimento que gera as tecnologias que eles passam a
utilizar e tem expropriado esses mesmos trabalhadores da autonomia em gerenciar essas inovações a
partir do potencial endógeno de seus agroecossistemas, pelo fato de se tratarem de pacotes pré-
desenvolvidos sob os quais os agricultores tem que acessar acriticamente.
        Frente a isso, na construção do conhecimento agroecológico entende-se que a natureza é
transformada pelos seres humanos a partir dos processos de trabalho. Assim, o processo de produção
de tecnologias deve ser adaptado às condições endógenas do sistema social produtivo dos
agricultores, de forma que possibilite a adequação dessas inovações e possibilite a inserção dessas
populações no processo de construção do conhecimento e produção das tecnologias e inovações.
        A FEAB possui uma importante contribuição nesse debate. Os estágios interdisciplinares de
vivência (EIVs) tem sido uma ferramenta importante na construção de um processo de formação
pautado na realidade concreta, desfragmentada e reflexiva. Principalmente por se tratar de um
momento que possibilita aos estudantes vivenciar o trabalho dos camponeses que, de forma maestral,
trabalham tanto nos processos produtivos quanto na gestão da unidade de produção. Essa experiência
possibilita também aos estudantes entender a dimensão ontológica (inerente ao ser) do trabalho,
percebendo que este, de modo necessário, transcende o objetivo meramente profissional, tratando-se,
portanto da própria essência do homem.

A alternativa agroecológica

        Contrapondo-se ao padrão convencional de desenvolvimento agrícola fundamentado no
paradigma da Revolução Verde, no final do século XX ganhou corpo em defesa de formas mais
sustentáveis de produção agricola um processo inicialmente identificado como “agricultura
alternativa”. A partir da década de 1990, na América Latina, essa denominação foi substituída pela de
“Agroecologia”.
        A Agroecologia enfatiza o desenvolvimento e a manutenção de processos ecológicos
complexos capazes de subsidiar a fertilidade do solo, bem como a produtividade e a sanidade dos

                                                27
cultivos e criações. O nível de ruptura com os sistemas convencionais pode variar bastante entre as
iniciativas de promoção da Agroecologia, podendo ir desde simples medidas de redução ou
substituição do uso de insumos agroquímicos até a completa reestruturação da lógica de organização
técnica e econômica dos agroecossistemas, estabelecendo forte analogia estrutural e funcional com os
ecossistemas naturais nos quais estão inseridos.
         O alto grau de especificidade local implica que o desenvolvimento dos agroecossistemas pela
perspectiva agroecológica se faz com a forte contribuição de dinâmicas locais de inovação e não por
meio da difusão de soluções técnicas universais, tal como designado no paradigma da Revolução
Verde. A busca da eficiência agroecológica depende da manutenção de agroecossistemas complexos,
com alta diversificação de culturas e criações, o que se consegue por meio de associações, rotações e
sucessões de espécies. Esse tipo de sistema impõe limites ao tamanho das unidades produtivas e às
possibilidades de mecanização das operações de manejo. Por essa razão, cobra a execução de
trabalhos qualificados, flexíveis e atentos aos detalhes de manejo, o que significa que o trabalho é
realizado de forma inseparável à gestão do sistema. Ao contrário dos sistemas convencionais que são
dependentes do emprego intensivo de capital, sendo o trabalho essencialmente mecânico e separado
do processo de gestão.
         Em síntese, a agricultura familiar camponesa é, por excelência, a base sociocultural para a
generalização da alternativa agroecológica, pois conseguem integrar trabalho e gestão em um
processo indivisível, que é condição básica para o manejo da complexidade inerente à prática
agroecológica. Muito embora, princípios da Agroecologia possam ser empregados por grandes
produtores empresariais, o nível de eficiência econômica e ecológica nessas unidades de produção
tende a ser muito menor do que quando aplicados em pequenas unidades de gestão familiar.
         Segundo levantamento realizado na Universidade de Sussex, Inglaterra, mais de 1,4 milhões
de agricultores em todo o mundo adotam princípios da Agroecologia. O estudo identificou aumentos
médios de 100% na produtividade em centenas de projetos após a adoção desses princípios, com
registros de 400% de aumento em situações mais avançadas na transição agroecológica. Além da boa
produtividade, os sistemas manejados segundo o enfoque agroecológico, são sistemas com balanço
energético positivo e altamente poupador de energia de origem fóssil; recuperam e conservam a
fertilidade dos solos sem uso de insumos externos, além de serem resistentes aos processos erosivos;
funcionam como sumidouro de carbono e não emitem ou emitem poucos gases de efeito estufa;
integram-se funcionalmente à vegetação natural, dando maior estabilidade aos microclimas onde
estão inseridos; são livres de contaminação química causada por agrotóxicos e fertilizantes solúveis e
da poluição genética causada pelos organismos geneticamente modificados.
         Segundo a Avaliação Internacional sobre Ciência e Tecnologia Agrícola para o
Desenvolvimento (IASSTD, 2009) o conjunto desses efeitos positivos indica que a generalização da
Agroecologia é uma estratégia consistente para que a crise do modelo convencional seja enfrentada
estruturalmente, a começar pelo desafio de alimentar uma população mundial crescente em condições
adequadas e sustentáveis. De forma ainda mais explícita, o relator das Nações Unidas para o Direito
Humano à Alimentação divulgou, em 2010, um relatório em que afirma que a Agroecologia pode a
um só tempo aumentar a produtividade agrícola e a segurança alimentar, melhorar a renda de
agricultores familiares e conter a tendência de erosão genética gerada pela
agricultura industrial (DE SCHUTTER, 2010).
         O principal desafio à generalização da perspectiva agroecológica é de natureza política e não
técnica. Ele se apresenta diante da necessidade de superação do poderio político, econômico e
ideológico dos setores do agronegócio que sustentam a permanência e a expansão do modelo da
agricultura industrial. Entre outros efeitos negativos, a dinâmica expansionista da lógica do
agronegócio tem sido a principal responsável pela desaparição da agricultura familiar camponesa em
todo o mundo. Isso não significa apenas a diminuição do número de unidades produtivas familiares
que poderiam ingressar em trajetórias de transição agroecológica, mas implica também a perda da
cultura camponesa e de povos e comunidades tradicionais, elemento essencial para a construção de
conhecimentos agroecológicos ajustados às mais variadas peculiaridades socioambientais.




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  • 1. Cartilha Preparatoria XIII Encontro Regional de Agroecologia do Nordeste – crato/ce
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  • 3. A juventude do campo e da cidade: semeando a transformação que sonhamos! Construtores do ERA Crato/CE Quadra chuvosa de 2013
  • 4. “Ordem e progresso” Zé Pinto Esse é o nosso país Essa é a nossa bandeira É por amor a essa pátria Brasil Que a gente segue em fileira Queremos mais felicidades No céu deste olhar cor de anil No verde esperança sem fogo Bandeira que o povo assumiu No verde esperança sem fogo Bandeira que o povo assumiu Amarelos são os campos floridos As faces agora rosadas Se o branco da paz se irradia Vitória das mãos calejadas Se o branco da paz se irradia Vitória das mãos calejadas Esse é o nosso país Essa é a nossa bandeira É por amor a essa pátria Brasil Que a gente segue em fileira Queremos que abrace essa terra Por ela quem sente paixão Quem põe com carinho a semente Pra alimentar a nação Quem põe com carinho a semente Pra alimentar a nação A ordem é ninguém passar fome Progresso é o povo feliz A Reforma Agrária é a volta Do agricultor à raiz A Reforma Agrária é a volta Do agricultor à raiz Esse é o nosso país Essa é a nossa bandeira É por amor a essa pátria Brasil Que a gente segue em fileira
  • 5. indice ➢ Apresentação ---------------------------------------------------------------------------- 04 ➢ Construtores do ERA -------------------------------------------------------------------05 ◦ ABEEF -----------------------------------------------------------------------------------05 ◦ ENEBio ---------------------------------------------------------------------------------- 05 ◦ ENEV ------------------------------------------------------------------------------------ 06 ◦ FEAB ------------------------------------------------------------------------------------ 07 ◦ LPJ --------------------------------------------------------------------------------------- 07 ◦ MST -------------------------------------------------------------------------------------- 08 ➢ O Beato Zé Lourenço, o Caldeirão e o desejo do povo pela terra --------------- 09 ➢ Padre Cícero e seus preceitos --------------------------------------------------------- 11 ➢ Informações importantes -------------------------------------------------------------- 12 ➢ Grade do XIII ERA Nordeste – Crato ----------------------------------------------- 13 ➢ Dia a dia --------------------------------------------------------------------------------- 14 ➢ Pré-ERA's ------------------------------------------------------------------------------- 19 ➢ Textos para os Pré-ERA's ------------------------------------------------------------- 23 ◦ A necessidade da ressignificação da relação sociedade natureza e a proposta da agroecologia. -------------------------------------------------------------------------- 23 ◦ O protagonismo da juventude no semiárido: a experiência do coletivo regional do Cariri, Seridó e Curimataú. ----------------------------------------------- 29 ◦ Criatividade da juventude é fundamental. ------------------------------------------ 32 ◦ Falta da estrutura e possibilidade faz com que jovens abandonem o campo. -- 34 ◦ Educação do Campo. ------------------------------------------------------------------ 36 ◦ Eu quero é luta. ------------------------------------------------------------------------- 37 ◦ Movimentos sociais consideram Política Nacional de Agroecologia insuficiente. ------------------------------------------------------------------------------- 38 ◦ Por que a tecnologia não chega no campo? ---------------------------------------- 40 ◦ Agroecologia versus tecnologia - verdade ou mito? ------------------------------ 41 ◦ Lutadoras do campo. ------------------------------------------------------------------ 42 ◦ ENEBio e agroecologia. -------------------------------------------------------------- 43 ◦ Agroecologia e medicina veterinária de mãos dadas. ----------------------------- 45 ➢ Sugestões para complementar o estudo --------------------------------------------- 47 ➢ Contato dos Construtores do ERA --------------------------------------------------- 48 ➢ Campanhas que os Construtores do ERA constroem ------------------------------ 49 3
  • 6. Apresentação O Encontro Regional de Agroecologia (ERA) é um ambiente de inserção no debate sobre agroecologia, pensado inicialmente para os estudantes dos cursos das agrárias, mas que no decorrer de sua história vem se reinventando e atraindo novos sujeitos para essa construção. Para o nosso XIII ERA Nordeste além da participação da FEAB, ENEBio, ABEEF e ENEV teremos também uma atuação mais próxima dos movimentos camponeses pertencentes a Via Campesina – como o MST, MAB e MPA – e dos(as) Quilombolas da região do Cariri cearense. Tendo como horizonte uma maior interação entre os atores da construção da agroecologia no Brasil e um fortalecimento dessas organizações, através da aproximação de novas pessoas interessas em construir esse grande movimento em defesa de nossa natureza e pela soberania alimentar. Nesse encontro traremos como temática a “Juventude do campo e da cidade: semeando a transformação que sonhamos!” entendendo que a juventude cumpre um papel importante e é protagonista dessa revolução agroecológica por ser ela quem construirá hoje o que viveremos no amanhã. Sendo ainda @s jovens personagens importantes na existência de inúmeras experiências agroecológicas que deram e continuam dando cada vez mais certo na agricultura hoje. Dessa forma o encontro trará debates sobre a situação da juventude em nosso país e sobre o seu papel na construção da agroecologia, além de como se dá a inserção do jovem no campo brasileiro e de como ele é explorado e exterminado pelo agronegócio, que aniquila toda a perspectiva de produção e reprodução de sua vida. Além de tratar sobre o êxodo dessa juventude, as relações de gênero, acesso a educação e outros serviços. Entendendo que a agroecologia é além de uma forma de produção, que junta ciência e técnica, é também política, dessa maneira trazemos as oficinas e vivências com o intuito de preparar os encontristas para serem capazes de reproduzir e utilizar em seus locais de inserção as técnicas agroecológicas. Assim convidamos todos e todas a virem para o nosso Cratinho de açúcar, terra abençoada pelo Padim Ciço construir junto da gente a agroecologia que sonhamos e que queremos!!! “A vida tava tão boa” (Coco Raízes de Arco Verde) A vida tava tão boa, pra quê mandou me chamar Eu tava no juazeiro, no sertão do ceará A vida tava tão boa, pra quê mandou me chamar Tava no crato, de crato para monteiro De monteiro para o crato, e do crato pra juazeiro. Depois do crato eu voltei para monteiro. De monteiro para o crato, e do crato pra juazeiro. A vida tava tão boa, pra quê mandou me chamar Eu tinha só 13 anos, você pode acreditar A vida tava tão boa, pra quê mandou me chamar Quando minha mãe morreu, eu só pensava em chorar. A vida tava tão boa, pra quê mandou me chamar Parti para o juazeiro pensando em trabalhar. Eu sou de uma terra que o povo padece A vida tava tão boa, pra quê mandou me chamar Mas não esmorece e procura vencer. Fiquei com a minha tia na roça eu fui plantar. Da terra querida, que a linda cabocla A vida tava tão boa, pra quê mandou me chamar De riso na boca zomba no sofrer N ão nego meu sangue, n ão nego meu nome Esse coco é todo meu, você pode acreditar. Olho para a fome, pergunto o que há? A vida tava tão boa, pra quê mandou me chamar Eu sou brasileiro, filho do Nordeste, Canto coco e canto roda para a moçada brincar. Sou cabra da Peste, sou do Cear á. A vida tava tão boa, pra quê mandou me chamar Patativa do Assaré 4
  • 7. Construtores do era Companheiro(a)” Erick Feitosa Ao te ver me vejo Pois meus sonhos correm nas suas veias, seu grito de indignação vibra na minha garganta e sai tão alto quanto o teu. Seu inimigo é meu inimigo Seus outros companheiros também são meus companheiros Os teus passos rumo a utopia real da libertação do nosso POVO não serão dados solitários e doloridos Pois estarei do teu lado caminharei ao teu lado. A caminhada será coletiva, as dores será divididas e as alegrias multiplicadas. Por Fim Associação brasileira dos estudantes de Engenharia florestal Companheiro(a), Confesso! A Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Olho no teu olho Florestal – ABEEF é uma entidade sem fins lucrativos que or- e sinto a confiança ganiza e articula @s estudantes de Engenharia Florestal a nível de que nunca estaremos só nacional,regional e local, preocupada com uma melhor forma- enquanto estivermos em movimento. ção técnica,política e ética dos estudantes, para que estes possam compreender e atuar sobre a realidade social de nosso país, uma vez que a Universidade nos moldes atuais, cada vez menos cumpre papel de construção de sujeitos críticos à realidade na qual estão inseridos. Assim, ao longo de sua história a Associação atuou em torno do objetivo de construir uma sociedade justa, igualitária, sem exploradores e explorados e que utilize os recursos naturais de forma equilibrada, harmônica e sustentável. E esses objetivos se mantém firmes, e definem o horizonte de trabalho de nossa organização bem como a nossa forma de atuação. Para isso, a ABEEF tem a universidade como principal área de atuação, entendendo que todos devem ter direito a uma educação pública, gratuita, autônoma e de qualidade. Mas, e claro, não enxerga a universidade como uma bolha isolada dentro da sociedade e por isso expande seus horizontes para além de seus muros. Nesse sentido, a ABEEF vem estreitando laços com os movimentos sociais populares ligados ao campo, principalmente os que estão inseridos na VIA campesina (como MST, MAB, etc.), à floresta e à cidade, além de estreitar ainda mais os laços com outras entidades do Movimento Estudantil. Executiva Nacional dos Estudantes de Biologia A ENEBio - Entidade Nacional dos Estudantes de Biologia, reorganizada em 2007, é composta por diversas escolas do Brasil e vem durante estes 5 anos construindo o Movimento Estudantil da Biologia, colocando em debate os principais problemas que encontramos nesta sociedade, no meio ambiente e também em nossa formação e educação. Ela reconhece em sua carta de princípios o desacordo com a exploração do homem pelo homem e da natureza pelo homem, e bem como qualquer forma de mercantilização de recursos naturais, pessoas e valores, como acontece no sistema capitalista. Defende a construção da agroecologia como instrumento de luta, com o intuito de despertar uma nova ética ecológica nos seres humanos, que priorize valores socialmente justos, ambientalmente seguros e economicamente viáveis. Reconhece também a luta contra as opressões, seja ela de classe, origem 5
  • 8. nacional, gênero, etnia, religião, orientação sexual e política. Luta por uma educação para tod@s, gratuita, laica, socialmente referenciada e de qualidade, com caráter emancipatório e transformador e acredita na organização coletiva como forma de superação das contradições sociais. A Entidade então se propõe a promover a luta pela superação desse modelo social, articulando discussões pertinentes à formação do sujeito biólogo, dentro dessa perspectiva, para que cada vez mais estudantes possam ser protagonistas da transformação que queremos para nossa sociedade, com visão e posicionamentos políticos críticos a respeito dos fatos do Brasil e do mundo. Com o objetivo de fortalecer cada vez mais a troca de experiências e massificar nossas discussões (proporcionando a construção de novos valores e as relações de companheirismo), a ENEBio realiza todos os anos Encontros Nacionais e Encontros Regionais de Biologia, ENEB e EREB respectivamente, onde deliberamos sobre as ações da nossa entidade, como também os Conselhos Nacionais e Regionais, CONEBio e COREBio respectivamente, onde organizamos e planejamos nossas atividades ao longo do ano. Além disso, para instrumentalizar nossa militância, proporcionando uma formação crítica mais aprofundada sobre temas importantes para transformação social e alteração do modelo vigente, a ENEBio realiza Cursos de Formação Política da Biologia (CFPBio) e em Agroecologia (CFA), organiza os Estágios Interdisciplinares de Vivência (EIV) em diversos estados. Em 2013, estaremos construindo uma Campanha Nacional com o seguinte tema: “Formação Profissional: Nosso verde não é negócio”. Tendo duas escolas compondo a Gestão da Articulação Nacional: a UFS e a UFLA. Necessário ressaltar a importância das parcerias da ENEBio, resultado de uma construção diária e concreta de lutas e articulações com alguns Movimentos Sociais Populares, em especial com componentes da Via Campesina, e com outras executivas de curso, como a FEAB (Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil) e a ABEEF (Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal). Essa aproximação mostra uma identificação cada vez maior de nossa Entidade com as causas populares e o Povo Brasileiro, colocando o papel protagonista que a juventude tem a cumprir dentro e fora da universidade. A ENEBIO representa os estudantes de biologia do Brasil que se identificam com a luta pela transformação da sociedade, para que vivamos num mundo mais justo e sustentável, com maior equidade social e onde reconheçamos o ser humano como integrante da natureza e agente transformador da mesma, e convida a todos e todas as estudantes de biologia de nosso país, a lutar! Executiva nacional dos estudantes de veterin ária A Executiva Nacional dos Estudantes de Veterinária é a entidade máxima que representa todos os estudantes de Medicina Veterinária do Brasil. Além disso, é o ambiente de confraria das atividades desses estudantes que tem o intuito de se organizarem para se articularem e assim conciliar o curso com as necessidades sociais atuais. O MEV, Movimento Estudantil da Veterinária, se iniciou na década de 50, juntamente com os estudantes de Agronomia onde formaram o Diretório Central dos Estudantes de Agronomia e Veterinária do Brasil (DCEAVB) durando aproximadamente seis anos e se desencorpando assim, em dois, o DCEAB (Agronomia) e o DCEVB (Veterinária). Durante anos, ocorriam-se Congressos Brasileiros dos Estudantes de Veterinária (C.B.E.V) nas escolas do Brasil, mas devido ao Regime Militar em 1964, as entidades de Veterinária se 6
  • 9. desarticularam. Em 1982, quando a sociedade estava se rearticulando, encontrou-se a necessidade da criação de uma Entidade representativa dos estudantes de Veterinária, e assim, durante o III Encontro Nacional dos Estudantes de Veterinária, em Curituba – PR é fundada a ENEV. A Executiva atualmente se encontra num processo de reorganização e rearticulação. A Coordenação Nacional se encontra nas escolas UFBA, UECE e UFSM. É posto em pautas a necessidade de participar mais intensamente do M.E. Geral e estreitar os laços de coletividade através da articulação dos CEBEV’s (Conselho de Entidade de Bases de M. Veterinária). “E assim, a história se segue, do passado ao presente, apontando um novo futuro.” Federação dos estudantes de agronomia do brasil A FEAB – Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil – nossa quarentona, tem muita coisa para contar de sua jornada. Altos e baixos, muita luta travada. Viemos nesses 40 anos organizando a estudantada, fazendo formação e realizando lutas. Levantando e balançando as nossas bandeiras que são: Educação; Gênero e sexualidade; Agroecologia; Juventude, cultura, valores, raça e etnia; Relações internacionais; Movimentos sociais populares; Ciência e tecnologia; História e comunicação. Uma caminhada de mãos dadas com o povo. Rumando a construção de projeto de vida para o campo brasileiro, construindo a Agroecologia, que traz consigo novas formas de relação da camponesa e do camponês entre si e com a natureza. Lutando pela soberania alimentar e social de nossa nação. Ser militante da FEAB é ser lutador e lutadora do povo. Defendendo diariamente os interesses da classe trabalhadora e do campesinato. Se transformando em novos homens e novas mulheres. Ajudando na edificação de uma sociedade sem preconceitos, sem opressões e sem exploração. Levante popular da juventude O Levante Popular da Juventude é um movimento social de jovens militantes voltado para a luta de massas em busca da transformação social. SOMOS A JUVENTUDE DO PROJETO POPULAR, e nos propomos a ser o fermento na massa jovem brasileira. Somos um grupo de jovens que não baixam a cabeça para as injustiças e desigualdades. A nossa proposta é organizar a juventude onde quer que ela esteja. Deste modo, nos organizamos a partir de três campos de atuação: 1) no meio estudantil secundarista e universitário; 2) nas periferias dos centros urbanos e 3) nos setores camponeses. Nosso principal objetivo é multiplicar grupos de jovens em diferentes territórios e setores sociais, fazendo experiências de organização, agitação e mobilização. O Levante organiza a juventude para fazer denúncias à sociedade por meio de ações de Agitação e Propaganda (agitprop), ou seja, várias técnicas de comunicação e expressão da juventude com o povo, como músicas, grafismo (graffite), dança, teatro, fanzines, faixas, adesivos, 7
  • 10. murais, gritos de luta, etc. O diferencial do Levante é que não elegemos bandeiras prioritárias, mas nos colocamos ao lado das mobilizações que reivindicam melhores condições de vida para a juventude brasileira. Num contexto onde falta quase tudo na vida cotidiana do jovem, nosso método é mostrar que sem a organização coletiva e luta nenhuma conquista verdadeira é possível. A perspectiva que o Levante oferece é a possibilidade de estar organizado/a coletivamente para viver e para lutar. Fora da organização as ações isoladas de um indivíduo, por mais justas que sejam, não tem sucesso. Portanto, o que o Levante possibilita às pessoas é o reconhecimento da sua condição de sujeitos e a construção de possibilidades para que estes recuperem a sua capacidade de intervenção política. Movimento dos trabalhadores rurais sem terra O Movimento Sem Terra está organizado em 24 estados nas cinco regiões do país. No total, são cerca de 350 mil famílias que conquistaram a terra por meio da luta e da organização dos trabalhadores rurais. Mesmo depois de assentadas, estas famílias permanecem organizadas no MST, pois a conquista da terra é apenas o primeiro passo para a realização da Reforma Agrária. Os latifúndios desapropriados para assentamentos normalmente possuem poucas benfeitorias e infra-estrutura, como saneamento, energia elétrica, acesso à cultura e lazer. Por isso, as famílias assentadas seguem organizadas e realizam novas lutas para conquistarem estes direitos básicos. Com esta dimensão nacional, as famílias assentadas e acampadas organizam-se numa estrutura participativa e democrática para tomar as decisões no MST. Nos assentamentos e acampamentos, as famílias organizam-se em núcleos que discutem a produção, a escola, as necessidades de cada área. Destes núcleos, saem os coordenadores e coordenadoras do assentamento ou do acampamento. A mesma estrutura se repete em nível regional, estadual e nacional. Um aspecto importante é que as instâncias de decisão são orientadas para garantir a participação das mulheres, sempre com dois coordenadores, um homem e uma mulher. E nas assembleias de acampamentos e assentamentos, todos têm direito a voto: adultos, jovens, homens e mulheres. Da mesma forma nas instâncias nacionais. O maior espaço de decisões do MST é o Congresso que ocorre a cada 5 anos. No mais recente, o V Congresso, participaram mais de 15 mil pessoas. É no Congresso que são definidas as linhas políticas do Movimento para o próximo período e avaliado o período anterior. Estas definições são sintetizadas nas palavras de ordem de cada Congresso e que se estendem para o período seguinte. O V Congresso Nacional definiu como linha para este próximo período: “Reforma Agrária, por Justiça Social e Soberania Popular”. Foi aprovado ainda o novo programa de Reforma Agrária defendido pelo Movimento, após dois anos de debates e estudos nos assentamentos e acampamentos. Além do Congresso, a cada dois anos, o MST realiza seu encontro nacional, onde são avaliadas e atualizadas as definições deliberadas no Congresso. O sertão foi meu ensino Além dos Congressos, Encontros e Coordenações, as de tudo quanto eu queria, famílias também se organizam por setores para por isso é que aprovo a frase encaminharem tarefas específicas. Setores como Produção, que Aristóteles previa: Saúde, Gênero, Comunicação, Educação, Juventude, O homem é para o que nasce Finanças, Direitos Humanos, Relações Internacionais, entre mas o meio influencia. Pedro Ernesto Filho outros, são organizados desde o nível local até Academia dos Cordelistas do Crato nacionalmente, de acordo com a necessidade e a demanda de Cadeira Nº 15 cada assentamento, acampamento ou estado. 8
  • 11. O Beato Zé Louren ço, o Caldeirão e o desejo do povo pela terra Falar sobre o Caldeirão é falar sobre o Beato José Lourenço, já que aquela comunidade foi formada e sedimentada sob sua liderança influente e aglutinadora. Em torno de sua figura se constroem muitas memórias expressas num conjunto de narrativas populares, através da literatura de cordel, mas principalmente na linguagem oral. Paraibano de nascença, Zé Lourenço era negro e descendente de escravos (certamente já trazia em seu sangue a resistência e a sede por findar com as injustiças impostas para o povo). Trabalhou durante anos como agricultor em grandes fazendas de sua região, chegando a Juazeiro do Norte no ano de 1889, ano de grande efervescência religiosa com as primeiras romarias que levaram os peregrinos a cidade pelos ditos milagres que vinham acontecendo por obra do Padre Cícero. Daí então se tornou amigo do Padre e entrou para uma ordem de penitentes, mais tarde a partir de orientações de Padre Cícero, Zé Lourenço conseguiu arrendar um lote de terra no sítio Baixa Dantas, município de Crato e com ajuda dos inúmeros trabalhadores rurais que peregrinavam para o local, transformou o sítio em um bom lugar para se viver, sendo importante produtor e fornecedor dos mais variados alimentos. Em 1914 com o confronto ocorrido na Sedição de Juazeiro, as influências do Padre Cícero que era de oposição ao Governo do atual eleito Franco Rabelo levaram o mesmo a aprisioná-lo, causando revolta aos peregrinos que se uniram a jagunços e formaram uma grande brigada com o apoio do Deputado Floro Bartolomeu na defesa do Padre. Faltaram mantimentos na cidade, mas a produção da Comunidade no Baixa Danta conseguiu suprir durante a batalha. Nesse mesmo período ocorreram saques ao sítio por meio dos jagunços, destruindo e prejudicando grande parte da produção, mas com o todo esforço dos trabalhadores o sistema de produção voltava a funcionar sem grandes dificuldades. No ano de 1926 o lugar foi vendido e o Beato, desapropriado sem qualquer indenização. Todos seguiram para a Chapada do Araripe e fundaram o então conhecido “Caldeirão da Santa Cruz do Deserto”. De 1926 a 1936, Zé Lourenço guiou uma reforma agrária de origem popular no Cariri, uma experiência de caráter comunista no interior cearense contando com mais de 1500 trabalhadores rurais, um grande feito que muitos autores caracterizam por movimento messiânico, bem como foi Canudos (1896-1897) no sertão baiano e o Contestado (1912-1916) entre Santa Catarina e o Paraná. Segundo dados da pesquisa de Cordeiro (2008), era uma área de aproximadamente 900 hectares, no sopé da chapada do Araripe, região semiárida e escassa de água, mostrando grandes desafios para a produção agrícola por possuir um solo excessivamente pedregoso e íngreme. A comunidade ganhou o nome de Caldeirão pela existência de grandes pedras que armazenavam as águas da chuva. O Caldeirão era uma terra improdutiva até a chegada do beato e seu povo. A agricultura era diversificada e tudo que era colhido/produzido eram bens comuns, provando que apesar das condições adversas, o sertanejo tem a destreza de conviver com a seca. Cada homem produzia de acordo com a suas habilidades e recebia conforme a sua precisão. Era uma comunidade autossustentável, com grandes exemplos da prática agroecológica que materializava uma utopia de soberania popular, servindo de refúgio para os trabalhadores que padeciam na falta de terra e água, o Caldeirão tornou-se um local de amparo social e espiritual que tinha como lema “Terra de trabalho e oração”. Havia um grande pomar das mais variadas frutas da região, roças de milho, cana de açúcar, mandioca, feijão. Para o abastecimento de água no Caldeirão foram construídos dois grandes açudes no local. Também trabalhavam com casa de farinha, engenho de cana onde produziam a rapadura, armazéns para serem guardados os cereais que alimentavam durante os longos períodos de estiagem (Como por exemplo, a grande Seca de 1932), criação de animais domésticos, e, além disso, os ofícios eram uma prática de grande importância: oficinas de ferragem, artesanato, 9
  • 12. carpintaria e curtume. O Brasil vivia nesse momento o Estado Novo de Vargas e foi precisamente este poder de organização do Caldeirão que assombrou a elite política da época. No ano de 1936 a comunidade foi invadida por militares e destruída, os trabalhadores não possuíam armamentos para defesa e sendo assim, muitos foram mortos ou presos e levados à capital, outros fugiram mata adentro. Tentaram ainda refundar uma sociedade organizada na “Mata dos Cavalos” também na Chapada do Araripe. Lá se encontravam o Beato e parte de sua gente que conseguiu refúgio, vivendo clandestinamente e sendo alvo de grandes perseguições e chacinas. Após tantas idas e vindas, em 1938 voltam a habitar a antiga localidade do Sítio Caldeirão, sendo expulsos por ordem judicial dois anos depois. A próxima parada era o Sítio União já no estado do Pernambuco, onde o Beato e seus seguidores restantes compraram um lote e conseguiram finalmente viver em paz até o ano de sua morte, em 1946, quando todos ficaram dispersos devido à ausência do líder. Dona Zezé – Assentamento 10 de Abril O histórico das lutas e da experiência do Caldeirão é ainda um espelho e grande referência inclusive para o MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Na região do Cariri, no ano de 1991, muitos camponeses e camponesas se articularam e ocuparam aquela terra antes tão criadora e que se encontrava ociosa desde o fim da comunidade. Dentro desse processo veio a conquista do Assentamento 10 de Abril, que recebeu esse nome pela data em que as 96 famílias reocuparam as terras e durante 15 dias permaneceram em acampamento pela reforma agrária. De acordo com Silva (2009), o então Governador do Estado do Ceará, Ciro Gomes (1991-1994), desapropriou duas fazendas vizinhas ao Caldeirão, entregando a posse das Fazendas Gerais e Carnaúba Gerais aos camponeses. Dessa forma, o Assentamento é vinculado jurídica e administrativamente ao Governo do Estado do Ceará por intermédio do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Ceará – IDACE. , vitória para os camponeses. Hoje, o 10 de Abril conta com o trabalho de aproximadamente 36 famílias na sua constante construção. Há trabalho na horta comunitária de produção orgânica, onde os produtos são vendidos na Feira Agroecológica organizada pela Associação Cristã de Base – ACB (ONG cratense), farmácia viva, plantio de fruteiras, roçados, criação de caprinos, apicultura; Cada qual com suas atividades postas de acordo com as suas condições e habilidades, com muito gosto e sede por transformação. Começar a entender todos os aspectos (cultura, religião, ancestralidade, política, dentre outros) nos quais se inserem a realidade do camponês ao longo da história é o início da compreensão das suas demandas e da luta pela construção de um modelo para o campo, modelo que traga justiça pra sua gente, saúde e qualidade de vida. O agricultor está aí pra mostrar, e ele quer Agroecologia. “Viva Ibiapina, viva Antônio Conselheiro, Zé Lourenço vida viva do sítio do Caldeirão.” (Afilhados do Padre Cícero). Referências: CORDEIRO, D. S. A. Caldeirão da Santa Cruz: Memórias de uma utopia comunista no nordeste brasileiro. VI Congresso Português de Sociologia. Universidade Nova de Lisboa. Junho de 2008. SILVA, J. J da, ALENCAR, F. A. G. de; Do sonho à devastação, onde tudo se (re)constrói: Experiências e Memórias nas Lutas por Terra da Região do Cariri – CE. Revista NERA – ano 12 nº. 14 – janeiro/junho de 2009 – ISSN: 1806-6755. Sugestão de Filme: O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto de Rosemberg Cariry (1986). 10
  • 13. Padre cicero e seus preceitos O Padre Cícero foi um homem nascido em Crato, mas que viveu a maior parte de sua vida em Juazeiro do Norte, cidade vizinha. Foi padre, político e cidadão ao mesmo tempo. Coisas que lhe tornaram um homem muito controverso, mas com toda certeza é um ícone importante da região do Cariri. Teve papel importante no desenvolvimento econômico regional e no surgimento do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, emprestando a terra onde o Beato José Lourenço construiria a sua comunidade e viveria no comunismo primitivo. Seus feitos e sua fama perduram até hoje. Além de inúmeros causos que se somam a sua história. Reza a lenda que o Padre Cícero era metido a fazer previsões do futuro, como num dado dia em que ele chegou em Juazeiro e começou a dizer que chegaria um dia em que pássaros de metal voariam no céu. Remetendo aos aviões que ele mesmo já havia visto em uma de suas viagens ao sul. De uma coisa sabemos. É que tudo que ele falava o povo levava em conta. Outro de seus feitos foi deixar para as gerações futuras suas impressões sobre a caatinga nordestina. Fazendo surgirem seus preceitos ecológicos, que são ecoados até hoje. Preceitos Ecológicos do Pe. Cícero 1-Não derrube o mato, nem mesmo um só pé 7-Represe os riachos de cem em cem metros, de pau. ainda que seja com pedra solta. Não toque o fogo no roçado nem na caatinga. 8-Plante cada dia pelo menos um pé de angico, 3-Não cace mais e deixe os bichos viverem. de caju, de sabiá ou de outra árvore qualquer, 4-Não crie o boi nem o bode soltos, faça até que o sertão todo seja uma mata só. cercados e deixe o pasto descansar para se 9-Aprenda a tirar proveito das plantas da refazer. caatinga, como a maniçoba, a favela e a jurema; 5-Não plante em serra acima nem faça roçado elas podem ajudar a conviver com a seca. em ladeira muito em pé, deixe o mato 10-Se o sertanejo obedecer a estes preceitos, a protegendo a terra para que a água não a seca vai aos poucos se acabando, o gado arraste e se perca a sua riqueza. melhorando e o povo terá sempre o que comer. 6- Faça uma cisterna no oitão de sua casa para 11-Mas, se não obedecer, dentro de pouco guardar a água de chuva. tempo o sertão todo vai virar um deserto só. 11
  • 14. Informações importantes Info rm es para as b rigadas: -Tirar um chefe da brigada Que sera o responsavel Por fazer o credenciamento E sera o contato da brigada com A CO; -Avisar o quanto antes a confirmacao da vinda ao era; -solicitar 200 k m a mais no onibus para o deslocamento ate a vivencia; -proibido o uso de bebidas alcolicas e de drogas no local do evento. Esperamos voces!!! O que trazer? -kit militante (copo, talher e prato / lencol e colchonete); -kit higiene pessoal; -Barraca pois teremos camping (mas para quem n ão tiver teremos alojamento); -remédios de uso pessoal; -sementes, livros, filmes, etc. Para o balaio cultural; -pandeiro, violão, zabumba, latas e muitos mais instrumentos para fazer a nossa alegria; -e muita vontade em construir esse projeto para o campo brasileiro. “A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido e não na vitoria propriamente dita.” Mahatma Gandhi 12
  • 15. Grade do xiii era nordeste- crato Grade Dia 01/05 - Dia 02/05 - Dia 03/05 - Dia 04/05 - Dia 05/05 - Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Manhã Chegada / Painel I / Mesa redonda Oficina do Ato Vivências Credenciamento Tribos e Tribos Tarde Chegada / Gênero Painéis ATO Público Plenária final / Credenciamento paralelos / Encerramento e Oficinas avaliação Noite Abertura / Reunião das Preparação Socialização Balaio Tribos Organizações da socialização das Cultural das Tribos Tribos Fim de Balaio Balaio Balaio Balaio Pega o beco! Cultural Cultural Cultural Cultural Noite “Se ser político é reclamar das injustiças. Então, eu sou político.” Patativa do Assaré 13
  • 16. Dia a dia “Somos o que fazemos, principalmente o que 01/05 - quarta fazemos para mudar o que somos.” Eduardo Galeano Manha e tarde: Chegada e credenciamento Nesse espaço é importante que o chefe de delegação recolha os RG's de toda a delegação e se encaminhe a Secretaria do ERA para poder ou credenciar e receber os kit's dos encontristas ou então para poder inscrever, credenciar e aí receber os kit's dos encontristas. A CO encaminhará cada delegação para os alojamentos e para as áreas de camping. Além de esclarecer quaisquer dúvidas que possam vir a aparecer. Noite: Abertura / Tribos Abertura A CO dará as boas vindas a todos e todas @s encontristas com muita alegria e diversão. Teremos aqui a abertura oficial do nosso XIII ERA Nordeste. Com direito a uma prova de nossa cultura e dos nossos sabores. Nosso encontro terá uma abertura diferente do que costumava acontecer nos anteriores. A nossa abertura será numa praça pública, garantindo a interação com a sociedade local desde o início do evento e apresentando o mesmo para a população. Tribos As tribos são grupos menores e servem para que @s encontristas possam se reunir durante os espaços do encontro, como o Painel I e a Mesa redonda para poderem debater e aprofundar mais sobre a temática de cada espaço, além da realização de algumas tarefas inerentes ao funcionamento do encontro, como alvorada e disciplina. As tribos serão suas famílias durante o ERA e é com eles que vocês passaram uma parte do tempo. As tribos são muito importantes para os processos de interação e aprendizagem, pois nelas @s encontristas estarão em contato com pessoas das mais variadas regiões e saberes. A CO divulgará no ato do credenciamento como serão divididas as tribos. Balaio Cultural: É muito comum encontrarmos no sertão e mesmo nas cidades o bom e velho balaio. O sertanejo com sua criatividade e sabedoria usa o balaio para um tudo: para guardar objetos variados, carregar comida e até vender pão em outras comunidades. E num se engane que tem balaio pra todo gosto: de cipó, de casca de cana e até de folhas de dendezeiro. Na cidade ele já não tem a mesma serventia, virou mais um artigo de artesanato ou decoração, que é muito popular, mas se você olhar bem em algumas situações ele ainda é utilizado igualzinho antigamente, como no carrego de mercadorias na feira, quando as mulheres contratam os meninos para levarem suas coisas até em casa em troca de umas moedas. No nosso ERA acontecerá ao fim de cada dia o Balaio Cultural, que é o espaço de trocas de experiências culturais, onde nós estaremos apresentando um pouco da cultura regional e nordestina, além de trocar sementes, livros, filmes, entre outras coisas. Esse é também o espaço onde provaremos a culinária caririense e dançaremos o velho rala bucho até dar uma dor. Terão ainda exposições artísticas e uma sala de vídeos, para quem curte uma coisa mais de leve. “Cada passo em cada tempo. Criar um pouco por dia. Avançar com humildade. Banhar-se de rebeldia.” Ademar Bogo 14
  • 17. 02/05 - Quinta Manha: Painel I: Os desafios da juventude na atual conjuntura e as políticas públicas. Nesse painel será debatido sobre o que o Estado brasileiro pensa e propõe para a juventude de nosso país. Além de trazer a conjuntura, evidenciando onde está e o que tem feito hoje a juventude do campo e da cidade. Qual o papel da juventude? Como estão as políticas publicas para a juventude do campo? Como se encontra o acesso do jovem à educação? Os impactos dos projetos da agricultura (agronegócio e agroecologia) na Juventude. No decorrer do painel @s encontristas se dividem em suas tribos para poder debater e profundar o tema exposto pelos painelistas. Tarde: Gênero A tarde será dividida em duas. Durante a primeira parte da tarde haverá um espaço de Auto-organização para a mulherada, enquanto para a macharada haverá um espaço de gênero e patriarcado. Já na segunda parte da tarde mulheres e homens se juntam para um debate sobre as Lutas das Mulheres Camponesas e quais os desafios que estão postos para as mulheres na construção da Agroecologia. Noite: Reunião das organizações A reunião das organizações é um momento em que pessoas da mesma organização, porém de variados estados nordestinos podem se sentar e debater sobre a situação das organizações e da construção da Agroecologia em seus locais de origem. Além de tirarem encaminhamentos que possam vir a ajudar na construção das organizações. “Poeta, cantô da rua, que na cidade nasceu, cante a 03/05 - Sexta cidade que é sua, que eu canto o sertão que é meu.” Patativa do Assaré Manha: Mesa Redonda: “Qual o papel da juventude na construção da agroecologia? Essa mesa vem mostrar a agroecologia como uma alternativa. Como a Juventude se coloca na luta pela agroecologia, trazendo experiências exitosas. Mostrar pra juventude que existe alternativa e perspectiva de permanência no campo, com qualidade de vida. E que não basta a luta institucional por políticas públicas, mas que se trata de uma luta maior por um projeto para o campo brasileiro que necessita de transformações profundas na sociedade. Pensar a agroecologia de forma multifacetada, dentro da imensa gama de possibilidades, desde a produção ao beneficiamento da produção, da educação popular, da educação contextualizada. Mostrar a agroecologia dentro do campo da sua complexidade. Tarde: Painéis Paralelos / Oficinas Painéis Paralelos Nesse momento acontecem vários painéis ao mesmo tempo com as mais diversas temáticas. Os painéis que teremos no nosso ERA serão: 15
  • 18. 1. Biodiversidade e sementes Crioulas. 2. Economia verde. 3. Mapeamento das Comunidades Rurais Negras e Quilombolas do Cariri Cearense. 4. Educação Popular. 5. Formação profissional(campanha pela da curricularização da extensão). 6. Grandes Projetos no Nordeste. 7. Campanha permanente contra o uso de agrotóxicos e pela vida. 8. Produção Agroecológica e nutrição de plantas. 9. Associativismo e cooperativismo. 10. Sexualidade. 11. Cotas 12. Práticas na medicina alternativa. 13. Políticas públicas para a convivência com o semiárido. 14. Produção animal na agroecologia. 15. Sistemas Agroflorestais. Oficinas As oficinas vem para ajudar no aprendizado prático das técnicas agroecológicas, para que estejamos preparados para atuar no campo, além de nos preparar para mostrar na prática as pessoas de nossas universidades, assentamentos, escolas e comunidades, que não acreditam no potencial da Agroecologia. No nosso ERA teremos as seguintes oficinas: 1. Fitoterápicos e Plantas Medicinais. 2. Cromatografia do Solo. 3. Defensivos Naturais. 4. Práticas e tecnologias de convivências com o semiárido. 5. Compostagem e manejo ecológico do solo. 6. Prática de agroecologia urbana. 7. Homeopatia. 8. Bioconstrução. 9. Sistema PAES. 10. Teatro do Oprimido. 11. AgitProp. 12. Beneficiamento de produtos agroecológicos. 13. Acesso à comunicação e mídia livre. 14. Tinta de solo. 15. Reaproveitamento de alimentos. Noite: Preparação da Socialização das Tribos Nesse momento as tribos irão se reunir para preparar a socialização de tudo que foi debatido durante o encontro para mostrar o quanto aprenderam e como aprenderam. Essa socialização, que acontecerá no dia seguinte, deverá ser preparada de maneira lúdica, como uma peça, música e cordel. “Sonha e será livre de espírito. Luta e serás livre na vida.” Che Guevara 16
  • 19. “A liberdade é como a manhã. Há os que esperam 04/05 - sabado dormindo que ela chegue, porém há os que despertam e caminham a noite para alcançá-la.” Subcomandante Marcos - EZLN Manha: Oficina do ATO Público Nessa manhã nos reuniremos primeiramente na plenária para explicar como e onde vai ser o nosso ato. Depois explicaremos como e onde funcionarão as oficinas para o ato. Cada encontrista escolhe de qual oficina irá participar de acordo com a demanda de cada uma. Pedimos que as escolas que puderem, trazer materiais para ajudar nas oficinas do nosso ato. O ATO público é uma das partes mais importantes de nosso encontro. É o momento em que saímos as ruas para dialogar com a sociedade e mostrar o nosso projeto, que é a Agroecologia. Aqui usaremos tudo que aprendemos durante o ERA e toda a bagagem que já tínhamos para poder conversar com as pessoas. As oficinas são: 1. Clowns. 2. Batucada. 3. Saúde. 4. Segurança. 5. Estêncil. 6. Lambe. 7. Cartazes. 8. Palavras de ordem e músicas. 9. Comunicação. 10. Registro. Tarde: ATO Público Nessa tarde sairemos por um bairro do Crato para dialogar com a população e mostrar para a sociedade o que viemos aprendendo durantes os dias do encontro. É o momento de mostrarmos que existe sim outra alternativa para o campo brasileiro e de que ela é viável. As pautas e a metodologia do ato serão informadas no dia pela CO. “Liberdade” - Carlos Marighella Não ficarei tão só no campo da arte, e, ânimo firme, sobranceiro e forte, tudo farei por ti para exaltar-te, serenamente, alheio à própria sorte. Para que eu possa um dia contemplar-te dominadora, em férvido transporte, direi que és bela e pura em toda parte, por maior risco em que essa audácia importe. Queira-te eu tanto, e de tal modo em suma, que não exista força humana alguma que esta paixão embriagadora dome. E que eu por ti, se torturado for, Marcha dos Povos na Cúpula. Mais de 80 mil pessoas possa feliz, indiferente à dor, nas ruas do Rio de Janeiro. morrer sorrindo a murmurar teu nome. 17
  • 20. Noite: Socialização Agora iremos fazer a socialização que preparamos com muito carinho no dia anterior para que todos e todas as encontristas possam ficar sabendo o que nossa tribo debateu e aprendeu durante todos esses dias. Aqui apresentaremos também a identidade de nossa tribo. 05/05 - domingo Manha: Vivências No domingo estaremos saindo de dentro do local onde acontecerá o nosso ERA para desbravar as terras caririenses. Conhecer a Floresta Nacional do Araripe e as experiências exitosas de Agroecologia aqui em nossa região, além de conhecer locais de alta relevância cultural, como o Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, terra onde viveu o grande Beato José Lourenço. Em breve disponibilizaremos pelo blog quais serão as vivências. Tarde: Plenária final / Avaliação / Encerramento Plenária final Nessa plenária faremos os encaminhamentos finais do nosso ERA, como cartas de apoio. Avaliação Logo após esses dois espaços anteriores voltaremos a nos reunir com nossas tribos para fazermos a avaliação do ERA. Que depois será sistematizada em um documento só para encaminhar para as organizações e para a futura CO. Encerramento Aqui faremos o encerramento oficial do nosso ERA. Além de fazer os agradecimentos, passar as impressões da CO e se despedir desse povo lindo que vai vir ao nosso encontro. Noite: Pega o beco povo! Nesse momento as delegações começam a retornar para os seus locais de origens. “A vida do viajante” Minha vida é andar Mar e terra, Por esse país Inverno e verão Pra ver se um dia Mostre o sorriso Descanso feliz Mostre a alegria Guardando as recordações Mas eu mesmo não Das terras por onde passei E a saudade no coração Andando pelos sertões E dos amigos que lá deixei Minha vida é andar Por esse país Chuva e sol Pra ver se um dia Poeira e carvão Descanso feliz Longe de casa Guardando as recordações Sigo o roteiro Das terras por onde passei Mais uma estação Andando pelos sertões E a alegria no coração E dos amigos que lá deixei. 18
  • 21. pré-eras Para garantirmos uma uma melhor participação dos/as encontristas, é importante que as organizações pensem com bastante carinho na preparação dos grupos que virão ao ERA, cuidando para que todos os/as participantes se apropriem tanto do conteúdo, quanto da metodologia, e assim possibilitando que todos e todas da delegação façam intervenções e possam aproveitar ao máximo de nosso encontro. Há alguns anos, os grupos que participam dos ERAs realizam os Pré- ERAs, que são espaços nos quais organizamos nossa delegação para a vinda ao encontro, apresentando como este funciona e também realizando debates sobre a Agroecologia e as principais linhas temáticas do evento. A realização desses espaços preparatórios para o ERA já ajudaram e ainda vão continuar ajudando na formação e consolidação de grupos organizados em torno das executivas e movimentos sociais, além das outras formas de organização, como CA's, DA's, Grêmios Estudantis e Grupos de Agroecologia. Cada grupo tem total liberdade de organização deste espaço, porém gostaríamos de dar algumas dicas - que representam o acúmulo de diversas organizações - de como organizar a reunião (e o momento de estudo) e também sobre algumas metodologias participativas. I. DICAS PARA ESTUDO INDIVIDUAL OU COLETIVO Retirado da cartilha “Trabalho de base. Teoria e prática. Coletânea de Textos.” CEPIS, Maio de 2005. 1. Rotina de Estudo: marcar um horário e um dia facilita a escolha dos espaços reservado para os estudos. 2. Tempo de estudo: recomenda-se que por vez, se use no estudo, no mínimo 45 e no máximo, 60 minutos. 3. Garantir o material: cada pessoa deve ter e zelar por sua cópia individual do texto, livro, desenho. 4. O dia bom: as pesquisas mostram que não se programa estudo em dias de cansaço; no sábado, por exemplo. 5. Ambiente favorável: lugar com claridade, agradável, sem gente passando, sem barulho, que concentre. 6. Postura confortável: apoiar o material sentar-se em vez de deitar-se, posição relaxada, pés apoiados. 7. Uma lição de cada vez: porque isso ajuda a entender, gravar e fazer uma aplicação prática do conteúdo. 8. Folhear o texto: para se ter uma visão do conjunto – olhar o autor, os títulos, palavras, desenhos. 9. Fazer anotações: marcando as passagens importantes, os destaques, as novidades, o que se gosta, as dúvidas. 10. Voltar ao texto: várias vezes para apreender a mensagem, as ideias, fatos, informações e exemplos. 11. Fazer resumo: significa repetir com as próprias palavras as principais ideias, colocando as opiniões pessoais. 19
  • 22. 12. Discutir no coletivo: as dúvidas, interpretações e divergências surgidas no estudo devem ser esclarecidas. 13. Recordar lição anterior: é necessário repetir o já estudado, antes de continuar ou se começar uma leitura. Observação: O plano individual, para ter mais resultado, deve articular-se com o plano coletivo de estudo. Passos para o estudo em grupo Em muitos casos, a organização popular precisa preparar militantes para atuarem como monitores que ajudem os iniciantes na compreensão do conteúdo e no esclarecimento das dúvidas. Nesse caso, esses multiplicadores devem ter uma preparação que os ajude no repasse criativo e dinâmico do conteúdo. Para o estudo grupal, sugerimos os seguintes passos: • É indispensável ter uma coordenação que estimule e facilite a participação de todas as pessoas. • Leitura integral do texto para ter uma visão de conjunto do conteúdo. Pode ser um bloco, de um capítulo ou do todo. Em voz alta, com uma ou várias pessoas lendo. • Reler em pequenos grupos, por proximidade para fixar o assunto e permitir o debate e o aprendizado. • Realização de um plenário onde as pessoas possam expressar e debater suas opiniões. • Identificar o tema central a coordenação recolhe e ordena a compreensão que as pessoas tiveram da leitura. • Destacar ideias principais até chegar à ideia central da leitura, vendo argumentos e exemplos ligados a essa ideia. • Anotar dúvidas, impressões, passagens, questões despertadas pela leitura e sua discussão. • Resumir no grupo e no plenário, em palavras-chave, frases curtas ou até desenhos as ideias mais importantes. • Interpretar juntos tentando comparar/associar as ideias do texto com as do grupo e com outras leituras. • Aprender a criticar no sentido de formar opiniões próprias e de fazer apreciações sobre o texto. • Tirar conclusões e aprendizados que poderão ser usados na prática das pessoas e do grupo. • Encaminhar a próxima etapa do plano de estudos. Estudo em grupo Um estudo eficaz, sem ser chato, exige: a) Uma preparação aprimorada • A convocação das pessoas é parte determinante em qualquer atividade popular. Funciona quando é feita pelo contato e o convencimento direto. Avisos gerais ou escritos servem apenas para recordar a convocação pessoal. • O local da reunião deve ser um espaço aconchegante, que acomode bem as pessoas e um ambiente que expresse o tema a ser debatido: cartazes, símbolos, músicas, poemas... • Preparação das pessoas encarregadas de animar o debate – elas devem estudar bem o assunto, preparar material de apoio e sugerir dinâmicas participativas. • Disciplina consciente – Por respeito às pessoas que comparecem, o estudo deve começar e terminar na hora marcada. b) Uma coordenação firme • O processo da reunião é de responsabilidade coletiva. Mas, é comandada pela coordenação. Por isso, para a coordenação, chegar na hora, significa chegar antes da hora marcada. • Participar e não assistir é a finalidade do estudo. A coordenação anima a socialização do debate, questiona as afirmações, resume e complementa sem sair do tema principal. • Coordenar não é passar a palavra. É preparar, acolher, animar, sintetizar, garantir o rumo, facilitar 20
  • 23. a participação, possibilitar a tomada de decisão. c) Uma realização eficiente • Começar na hora marcada, com entusiasmo, de forma que eleve o astral do grupo. • Não exceder hora e meia – para não perder o poder de concentração. Se continuar, pausa, com amenidades. • Abordar os temas (análise, opinião, sugestões, encaminhamentos) de forma clara e direta. • Evitar o monólogo. Frear, com jeito, o ímpeto de quem adora ouvir o eco da própria voz. • Evitar a discussão entre duas ou entre algumas pessoas, possibilitar que todas as pessoas falem estimular as caladas e as tímidas e conter falas que se desviam do assunto. • Só seguir adiante se o assunto foi bem discutido e concluído. • Encerrar a reunião de forma agradável, na hora combinada. d) Encaminhamentos das decisões • Deixar claro as conclusões do estudo, as tarefas a serem encaminhadas, as responsabilidades e os prazos. • Encarregar gente para acompanhar e cobrar as providências. • Combinar as próximas atividades Observação: Você pode modificar ou acrescentar dicas tiradas da sua própria experiência. II. TÉCNICAS PARTICIPATIVAS Retirado da cartilha “Concepção de Educação Popular do CEPIS” do Centro de Educação Popular do Instituto Sedes Sapientiae, Junho 2008. Técnicas são recursos pedagógicos usados no processo educativo, para facilitar o aprendizado. São procedimentos didáticos, dinâmicas e instrumentos técnicos para o uso desses recursos. Como já foi dito, Educação Popular não se confunde com o uso de procedimentos – dinâmicas de grupo, recursos audiovisuais – que facilitam a integração e geram entusiasmo nas pessoas. Os instrumentos ajudam no processo de tradução, reconstrução e criação coletiva do conhecimento da realidade. A “euforia do participativo” é enganosa, porque, por si, não prepara ninguém para ser protagonista, para entender a realidade social ou para comprometer-se com a transformação social. Às vezes, contribui para que as pessoas sejam manipuladas. Chefes bonzinhos consultam, ouvem a opinião, e o trabalhador não desconfia que isso só facilita o aumento da produção e riqueza dos patrões. O uso de recursos pedagógicos não é neutro – a maneira de fazer uma atividade pode afirmar ou negar seus objetivos. Quando a Educação Popular insiste no uso dos recursos pedagógicos, tem clareza de que os instrumentos servem para ajudar na incorporação de conteúdos, de forma participativa e crítica. Os desenhos, vídeos, dramatizações, poemas... São caminhos para alcançar um objetivo. Da mesma forma, as dinâmicas não devem ser vistas como um recurso tático e atrativo para animar pessoas e grupos; são recursos para estimular a participação e a cooperação mútua. Entre as técnicas pedagógicas estão: 1. Dinâmicas de Grupo São as várias formas de movimentar as pessoas presentes, em uma atividade e fazê- las participantes, presentes de corpo, mente e coração. Facilitam o entrosamento, o conhecimento mútuo, a construção de confiança e o intercâmbio de ideias e de experiências. Algumas dinâmicas da Educação Popular. A Mística A mística de um Movimento é o conjunto de motivações e princípios que alimentam a sua existência. Enquanto dinâmica, ajuda a recordar os valores, princípios e exemplos, baseados em convicções que unem a classe 21
  • 24. oprimida. Pode ser feita a qualquer hora, sempre ligada ao assunto do dia. Deve ser curta, simples, bonita e, sobretudo, participada. Em forma de canto, poema, gesto, mensagem, silêncio, testemunho. Não pode virar um show para ser assistido ou para engrandecer quem a preparou. A Apresentação Usa-se dinâmicas de apresentação para quebrar o gelo, facilitar o conhecimento das pessoas presentes, ouvir as expectativas, revelar identidades, saber o que as pessoas fazem, pensam e sentem. Para evitar a formalidade ou a exibição, onde as pessoas se escondem atrás de cargos e títulos. Existem diferentes e criativas formas de apresentação e os educadores devem ir criando outras de acordo com o grupo e o objetivo da reunião. A Dramatização Serve para iniciar ou verificar se um assunto foi assimilado. Num encontro sobre relações sociais de gênero, os grupos podem encenar como vive uma família. Ao analisar a apresentação, o grupo pode refletir como se dão as relações sociais de poder. Encenar como fazer uma reunião ajuda a ver os acertos, vícios e papéis que acontecem na realidade e o comportamento de diversos atores. Alongamentos e Brincadeiras São feitas para descontrair, divertir, promover o entrosamento. Servem como exercícios para o corpo – alongamentos, danças, capoeira...; ajuda na movimentação do plenário, além de uma oportunidade de revelar habilidades e talentos das pessoas presentes. A formação de grupos É uma dinâmica para envolver todas as pessoas, para mastigar o assunto discutido, verificar seu entendimento, aprofundar um tema, comparar o estudado com a vida e tirar conclusões para a prática. Para levantar questões, o cochicho em plenário, ajuda. Se a tarefa do grupo é a leitura de um texto, é melhor que se faça fora do plenário, em divisão por crachá, cor, número, mútua escolha, vizinhança... Sempre com grupos pequenos e pergunta clara, para que cada pessoa possa dar sua opinião. O resultado pode vir num cartaz a ser explicado em plenário. 2. O uso da poesia e da música A forma poética e musical emociona, envolve, desarma e aproxima, porque pega as pessoas por dentro. Para participar as pessoas precisam conhecer ou ter uma cópia em mãos. Devem ser recitadas ou cantadas, no momento e ambientes adequados. A experiência da primeira leitura pública bem feita e solene, seguida de leitura coletiva, tem sido proveitosa. Pode ser no começo, meio ou fim da atividade sempre ligada ao assunto tratado. Cada região ou grupo pode e deve ter sua própria seleção. O uso de recursos áudios-visuais Quando se fala que o “o povo tem que entender o que eu digo, tem que ver o que eu digo”, reforça-se a ideia de que “a comparação é a cesta aonde o povo leva a mensagem para casa”, ou que “um só olhar vale mais do que mil palavras”. Este recurso vale por ser mais atrativo, provocar várias interpretações, revelar a experiência das pessoas; porque, mesmo sem escolaridade, se pode captar a mensagem. No processo de aprendizagem, 60% são recebidos pela visão; 20% pela audição; 10% pelo tato; 5% pelo olfato; 5% pelo paladar. Por isso, o poder da mídia. Entre os diversos recursos áudios-visuais, lembramos: Desenho, cartaz, filme... 22
  • 25. Quando usados como recurso pedagógico, servem para motivar o estudo sobre um tema ou ilustrar um assunto debatido, serve para iniciar ou ilustrar um debate sobre o tema. O desenho e/ou cartaz pode ser feito na hora ou pode vir preparado. As pessoas devem ter cópia e/ou boa visão do recurso que está sendo utilizado. A leitura individual, em grupos e em plenário, ajuda a desmontar a imagem ou a história. Após a exibição do filme é importante um debate sobre ele. O uso de imagens é um bom exercício para aprender e ensinar, pelos modos diferentes de ver, pelo debate, por reunir pontos de concordância e discordância, por sugerir lições para a prática concreta. É necessário verificar se a mensagem foi captada e se foi refletida a relação do recurso audiovisual com o assunto tratado. O uso de mensagens, provérbios e parábolas São recursos usados para reflexão, ou como provocação, conforme o tema. Exemplo: “Quando o rico mata o pobre, o defunto é que vai em cana”; “Se o boi soubesse a força que tem, ninguém dominava ele”. Após sua leitura pública, solene, individual e coletiva, a pessoa sublinha o aspecto que achou importante, comunica ao vizinho, ao grupo e ao plenário. Quem coordena o debate deve estar atento para recolher e sistematizar as contribuições, em diálogo com o grupo e sempre questionando as afirmações. O uso de textos É importante para um estudo mais aprofundado sobre um tema, além de um exercício de leitura e sistematização do que foi lido. A leitura pode ser em grupo ou individual e possibilita a criação do hábito de leitura e da continuidade da formação sem a presença do educador. Enfim, as técnicas participativas, os meios, os métodos e até os instrumentos pedagógicos estão intimamente vinculados ao fim do qual eles são o caminho. Por isso, é indispensável que os participantes da ação educativa se apropriem do conteúdo, da metodologia e, inclusive, do funcionamento dos instrumentos. Textos para os pré-eras “A primeira condição para modificar a realidade é conhecê-la.” Texto 1 Eduardo Galeano A necessidade da ressignificação da relação sociedade/natureza e a proposta da agroecologia Contribuição da escola de Castanhal-PA, NTP de Agroecologia 2011-2012, Hueliton Pereira Azevedo; Amanda Rayana da Silva Santos; Renan da Silva Cunha. O mundo contemporâneo atravessa uma crise sem precedentes. Não se trata de um fenômeno conjuntural, mas do esgotamento de um projeto civilizacional que tem o seu fundamento no ato de acumular riquezas nas mãos de minorias, sem considerar os limites naturais e humanos necessários a sua própria reprodução. Em face da abrangência, profundidade e complexidade dessa crise, já se tornou lugar comum à afirmação de que nos encontramos diante de uma encruzilhada histórica. De fato, a combinação de uma população mundial crescente e cada vez mais urbanizada com a degradação acelerada dos recursos naturais e as mudanças climáticas globais molda um cenário perturbador que nos confronta com dilemas decisivos. Como alimentar uma população mundial crescente? Como manter os níveis de produtividade 23
  • 26. alcançados pela agricultura industrial sem dar continuidade ao uso intensivo de combustíveis fósseis e a deterioração da base biofísica que sustenta os processos produtivos da agricultura? Como construir mecanismos de adaptação de sistemas agrícolas às já inevitáveis mudanças climáticas globais? Para dar respostas a essas indagações é necessária uma mudança do modelo convencional de agricultura para estilos de agricultura de base ecológica e mudanças nos padrões de consumo e de uso dos recursos. Enquanto essas mudanças forem sendo materializadas, nosso papel é manter a produtividade da terra agrícola, a longo prazo, da superfície mundial cultivável. Isso requer a produção sustentável de alimentos, que é alcançada segundo Gliesman (2000) através de práticas agrícolas alternativas, orientadas pelo conhecimento em profundidade dos processos ecológicos que ocorrem nas áreas produtivas e nos contextos mais amplos das quais elas fazem parte. Apesar de termos presenciado uma significativa elevação da produtividade e da produção, a fome persiste em todo o globo e não podemos em hipótese alguma confiar nos meios convencionais de aumentar a produtividade, para ajudar a satisfazer a necessidade de alimentos de uma população mundial em expansão. Isso por que esse modelo de agricultura está construído sob dois objetivos: a maximização da produção e do lucro. Em vista disso, um conjunto de práticas (cultivo intensivo do solo, monocultura, irrigação, aplicação de fertilizantes inorgânicos, controle químico de pragas e manipulação genética de plantas cultivadas) foi desenvolvido sem considerar as consequências não intencionais, de longo prazo, e sem considerar a dinâmica ecológica dos agroecossitemas. Portanto, todas às práticas da agricultura convencional tendem a comprometer a produtividade futura em favor da alta produtividade no presente. Em face disso, além da produtividade qual é o problema que precisamos equacionar para resolver a fome no mundo? A realidade da condição atual da relação entre a sociedade e a natureza. As sociedades humanas em qualquer que seja a sua condição e o seu nível de complexidade não existem em um vazio ecológico, mas sim afetam e são afetadas pelas dinâmicas, ciclos e fluxos da natureza. A natureza definida aqui como aquilo que existe e se reproduz independente da atividade humana pela qual ao mesmo tempo representa uma ordem superior ao da matéria. Isso supõe o reconhecimento de que os seres humanos organizados em sociedade respondem não só a fenômenos e processos de caráter exclusivamente social, mas também são afetados pelos fenômenos da natureza. Nessa perspectiva as sociedades humanas produzem e reproduzem as suas condições materiais de existência a partir de seu metabolismo com a natureza em uma condição que é pré-social, natural e eterna. Este fenômeno implica em um conjunto de processos por meio dos quais os seres humanos organizados em sociedade, independente de sua situação no espaço (formação social) e no tempo (momento histórico), se apropriam, circulam, transformam, consomem e excretam, matérias e energias provenientes do mundo natural. A compreensão desse processo de relação da sociedade com a natureza é fundamental para entender, como se encontra essa relação no atual momento e a necessidade de sua ressignificação. Chegamos pela primeira vez na história da humanidade em um momento que a quantidade de recursos que as sociedades consomem (apropriação) hoje, é maior do à capacidade que a natureza tem de repor e, além disso, a quantidade de produtos eliminados (excreção) pelas sociedades é superior à capacidade que a natureza possui de reciclar e disponibilizar novamente. Assim, precisamos repensar a forma como estabelecemos o contato com a natureza e de como a transformamos. Para isso, precisamos entre outras coisas desmistificar os mitos que envolvem a atual relação das sociedades com a natureza. O primeiro deles é o mito da desconexão do homem com a natureza, que determina que os seres humanos sejam entidades desligadas do meio em que vivem. O segundo é o mito da natureza infinita, que prevê que os recursos não se esgotam e, portanto, podemos explorar sem limites. O terceiro é o que defende que a floresta preservada é um empecilho para o desenvolvimento, sustentando assim a necessidade de simplificação dos agroecossistemas em uma lógica industrializadora. Esses “mitos” constituem um conjunto de concepções que legitimam a exploração irracional e inconsequente dos recursos naturais em nome de um “desenvolvimento” pautado apenas no crescimento econômico em detrimento da sustentabilidade. Os desafios das ciências agrárias frente ao atual contexto 24
  • 27. No contexto atual são muitos os desafios postos ao campo das ciências agrárias. Porém, os aspectos que merecem maior atenção são: a interdisciplinaridade, o trabalho e a pesquisa. A interdisciplinaridade Esse contexto de crises interconectadas que vivemos (energética, ecológica, civilizatória e econômica) e a necessidade de mudanças na direção da sustentabilidade, exigem da academia uma revisão de seus pressupostos metodológicos e epistemológicos que guiam as ações de pesquisa e desenvolvimento. Nesse sentido, é de fundamental importância que cada vez mais as ciências agrárias movam-se no sentido de rever a lógica cartesiana de ciência que tem permeado esse campo científico ao longo do tempo. Essa concepção de ciência permitiu à humanidade realizar notáveis avanços no campo científico; as grandes descobertas científicas e o desenvolvimento tecnológico atual são inegavelmente tributários dessa concepção científica. Hegemônica no pensamento científico, ela é fortemente embasada na disciplinaridade, no reducionismo, na especialização, na validação experimental e na priorização dos aspectos quantitativos. No entanto, o avanço da ciência, sobretudo no decorrer do século XX, apontou para as limitações desta concepção científica. A impossibilidade de explicar e compreender comportamentos e fenômenos naturais ditos complexos (como, por exemplo, os eventos climáticos, o funcionamento dos seres vivos, os ecossistemas, etc.) passa a evidenciar as limitações e restrições da abordagem analítica/cartesiana na pesquisa científica. Edgar Morin, ao participar de um colóquio, em 1979, apresentou de maneira clara e direta essa “crise” da ciência clássica cartesiana no decorrer da segunda metade do século XX: Este método (cartesiano) efetivamente conduziu a ciência a descobertas extraordinárias. Falso em seu princípio, ele se mostrou fecundo em um primeiro momento. É aí que reside um dos paradoxos da história. A obsessão atomista, ou seja, a ideia obsessiva de que é preciso encontrar a menor unidade que será o “tijolo” a partir do qual se poderia reconstruir o universo, essa obsessão conduziu, assim mesmo, à descoberta da molécula, do átomo, da partícula e, atualmente, ela nos conduz, não mais à busca da unidade elementar, mas à busca dos paradoxos fundamentais, ou seja, à complexidade da base. A passagem do elementar ao fundamental é ao mesmo tempo a passagem da simplicidade à complexidade. O mesmo ocorreu na biologia. A obsessão pela unidade de base nos fez passar do organismo à célula e, em seguida, da célula à biologia molecular, e a biologia molecular acreditou encontrar finalmente o elementar nas interações entre moléculas, na interação química. Em uma reviravolta absolutamente inacreditável, é essa mesma biologia molecular que, no fundo, nos apresentou os problemas fundamentais da organização autônoma da vida. (...) Assim, princípios insuficientes impulsionaram a descoberta e, ao mesmo tempo, eles mesmos provocaram seu próprio desmantelamento. Esses princípios ultrapassados sobrevivem, enquanto o novo princípio, o princípio da complexidade, ainda não emergiu completamente! O princípio “morto” ainda não está “morto”,e o princípio “vivo” ainda não vive (p. 98-9) Morin (1977), ao afirmar que “o todo é superior ao todo, o todo é inferior ao todo”, sintetiza de maneira exemplar um importante preceito que orienta a abordagem sistêmica. Assim, em decorrência de fluxos e interações internas, a abordagem sistêmica considera que o comportamento de um objeto pode ser diferente da soma dos comportamentos dos elementos que compõem esse objeto. Nesse sentido, a abordagem sistêmica, apresenta-se como um “novo” método para a compreensão e o estudo de fenômenos complexos. Sem se contrapor à abordagem analítica/ cartesiana, e sem negá-la, a abordagem sistêmica propõe-se a ser uma metodologia “que permita 25
  • 28. reunir e organizar os conhecimentos com vistas a uma maior eficácia da ação” (ROSNAY, 1975). Esse caminho rumo a uma abordagem interdisciplinar que diminua o “estranhamento” entre as disciplinas, que possibilite reflexões sistêmicas e não unilineares, que não fragmente a visão dos profissionais, que alimente a necessidade de uma ciência cada vez mais envolvida com a realidade concreta e com a emancipação das pessoas, necessita ser cada vez mais presente na formação dos profissionais da área das ciências agrárias. Pesquisa A pesquisa científica tem representado um instrumento legitimador do modelo de produção agrícola convencional. Isso tem ocorrido, entre outros fatores, através do desenvolvimento de pressupostos epistemológicos e metodológicos que impossibilitam a construção de uma visão mais humana e complexa da realidade. Nesse sentido, Gomes (2012) defende que é necessário promover essa revisão dos pressupostos da ciência que guiam as ações de pesquisa e desenvolvimento, para isso, elenca alguns elementos necessários a essa tarefa, sendo eles: uma ruptura epistemológica, rigor no uso de conceitos e o uso do método. A agroecologia é considerada uma disciplina científica que transcende os limites da própria ciência, ao pretender incorporar questões não tratadas pela ciência clássica (relações sociais de produção, equidade, segurança alimentar, autoconsumo, qualidade de vida, sustentabilidade, etc.) e esta, por sua vez, se restringiu á aplicação de pressupostos metodológicos. Aceitar que os conhecimentos produzidos em outros contextos, além daqueles considerados científicos, também são válidos, significa colocar em discussão os referenciais mais caros à ciência clássica (e aos próprios pesquisadores). Se a ciência não representa a única fonte de conhecimento válido, se os conhecimentos tradicionais e os saberes cotidianos também devem ser considerados na produção do conhecimento agroecológico, então é necessário promover uma articulação entre o conhecimento científico e os outros saberes empíricos. Isto não é uma coisa fácil, se considerarmos a formação dos pesquisadores, a cultura e a estrutura das instituições. Falar sobre as mesmas coisas não significa, necessariamente, ter a mesma visão de mundo ou a mesma intenção. Por exemplo, tratar as pessoas como se fossem semelhantes, não significa necessariamente, um tratamento justo. Esta consideração é importante para que na pesquisa agroecológica não se incorra no mesmo equívoco da pesquisa clássica, que pretendia uma tecnologia de caráter universal, sem considerar as especificidades de cada grupo de agricultores. A agroecologia incorpora a diversidade e a diferença, por isso é muito mais complexa. Outra consideração relevante é o uso indiscriminado do termo sustentabilidade, que está sendo transformado ou usado, com o propósito de “crescimento econômico sustentável” através dos mecanismos de mercado, sem preocupar-se com a internalização das condições da sustentabilidade econômica nem de incorporar os diversos processos que estão implicados na própria sustentabilidade como o ambiente, o tempo ecológico de produtividade e regeneração da natureza, os valores culturais e humanos, a qualidade de vida, entre outros. Neste sentido, a consideração única dos valores e medições de mercado como indicadores de sustentabilidade, acabou seguindo caminho contrário a sustentabilidade quando consideradas as dimensões sócio-ambientais. Ou seja, a noção de sustentabilidade se divulgou e vulgarizou até formar parte do discurso oficial e do sentido comum. Este mimetismo discursivo, gerado pelo uso retórico do conceito, escamoteou o sentido epistemológico da sustentabilidade (Leff, 2000). O método científico tem sido mais usado, no seu sentido convencional, que é visualizar um fato (ou fenômeno) que deve ser repetido várias vezes, buscando obter o maior número possível de detalhes sendo, realizada, portanto, com a maior precisão possível. Deve-se tomar o cuidado com os “vícios” para ocorra uma observação correta do fato; em muitos casos, a pessoa ver o que deseja ver, e não o que está ocorrendo de fato. Por outro lado, o uso do “método” numa perspectiva não-convencional, adotou uma postura relativista, quase ao estilo da epistemologia anarquista de Feyerabend (1992), o “vale tudo”, que agiu corretamente ao abominar as heranças do empirismo, do racionalismo, do positivismo e do mecanicismo, mas não chegou a contribuir para a flexibilização no uso do método convencional. Ao 26
  • 29. não fazê-lo, também ficou na “aparência’’, pois a falta de “rigor’’, ou de organização do trabalho (como deve ser a atividade de pesquisa), também impede de identificar as “causas”. Para citar um exemplo prático, é que um grupo de investigadores, “mais cartesiano”, não conhece ou não estudou a teoria da trofobiose (Chaboussou, 1987). O outro, mais “generalista”, quase tudo justifica em seu nome. Se o diálogo tivesse ocorrido, talvez a “caixa-preta” tivesse sido aberta, contribuindo para elucidar muitos problemas que ainda hoje continuam sem solução. Ainda sobre o “método”, é claro que sua aplicação foi responsável por muitos êxitos científicos. Entretanto, se for concebido em seu sentido estreito, identificado exclusivamente com o método experimental, seu alcance fica radical e automaticamente limitado. Ademais, o método não substitui o talento, mas o complementa: o investigador de talento cria novos métodos, o inverso não ocorre. Para o caso da pesquisa em agroecologia, não se trata nem de abolir o método convencional nem de trabalhar de forma anárquica, mas de construir “um método” flexível o suficiente para incorporar a complexidade em questão. Trabalho No intercâmbio com a natureza, o ser humano produz os bens de que necessita para viver, aperfeiçoa a si mesmo, gera conhecimentos, padrões culturais, relaciona-se com os demais e constitui a vida social. Na relação dos seres humanos para produzirem os meios de vida pelo trabalho, não significa apenas que, ao transformar a natureza, transformamos a nós mesmos, mas também que a atividade prática é o ponto de partida do conhecimento, da cultura e da conscientização (Frigotto, 1985). Na perspectiva dos interesses da classe trabalhadora, o estudo e o debate para aqueles que se dedicam ao trabalho educativo e de qualificação deve se pautar em dois aspectos: a impossibilidade de desenvolver as dimensões educativas do trabalho dentro do sistema capitalista e a compreensão do trabalho como princípio educativo. O modelo difusionista inovador de extensão rural, por exemplo, tem provocado a expropriação dos camponeses do processo de produção do conhecimento que gera as tecnologias que eles passam a utilizar e tem expropriado esses mesmos trabalhadores da autonomia em gerenciar essas inovações a partir do potencial endógeno de seus agroecossistemas, pelo fato de se tratarem de pacotes pré- desenvolvidos sob os quais os agricultores tem que acessar acriticamente. Frente a isso, na construção do conhecimento agroecológico entende-se que a natureza é transformada pelos seres humanos a partir dos processos de trabalho. Assim, o processo de produção de tecnologias deve ser adaptado às condições endógenas do sistema social produtivo dos agricultores, de forma que possibilite a adequação dessas inovações e possibilite a inserção dessas populações no processo de construção do conhecimento e produção das tecnologias e inovações. A FEAB possui uma importante contribuição nesse debate. Os estágios interdisciplinares de vivência (EIVs) tem sido uma ferramenta importante na construção de um processo de formação pautado na realidade concreta, desfragmentada e reflexiva. Principalmente por se tratar de um momento que possibilita aos estudantes vivenciar o trabalho dos camponeses que, de forma maestral, trabalham tanto nos processos produtivos quanto na gestão da unidade de produção. Essa experiência possibilita também aos estudantes entender a dimensão ontológica (inerente ao ser) do trabalho, percebendo que este, de modo necessário, transcende o objetivo meramente profissional, tratando-se, portanto da própria essência do homem. A alternativa agroecológica Contrapondo-se ao padrão convencional de desenvolvimento agrícola fundamentado no paradigma da Revolução Verde, no final do século XX ganhou corpo em defesa de formas mais sustentáveis de produção agricola um processo inicialmente identificado como “agricultura alternativa”. A partir da década de 1990, na América Latina, essa denominação foi substituída pela de “Agroecologia”. A Agroecologia enfatiza o desenvolvimento e a manutenção de processos ecológicos complexos capazes de subsidiar a fertilidade do solo, bem como a produtividade e a sanidade dos 27
  • 30. cultivos e criações. O nível de ruptura com os sistemas convencionais pode variar bastante entre as iniciativas de promoção da Agroecologia, podendo ir desde simples medidas de redução ou substituição do uso de insumos agroquímicos até a completa reestruturação da lógica de organização técnica e econômica dos agroecossistemas, estabelecendo forte analogia estrutural e funcional com os ecossistemas naturais nos quais estão inseridos. O alto grau de especificidade local implica que o desenvolvimento dos agroecossistemas pela perspectiva agroecológica se faz com a forte contribuição de dinâmicas locais de inovação e não por meio da difusão de soluções técnicas universais, tal como designado no paradigma da Revolução Verde. A busca da eficiência agroecológica depende da manutenção de agroecossistemas complexos, com alta diversificação de culturas e criações, o que se consegue por meio de associações, rotações e sucessões de espécies. Esse tipo de sistema impõe limites ao tamanho das unidades produtivas e às possibilidades de mecanização das operações de manejo. Por essa razão, cobra a execução de trabalhos qualificados, flexíveis e atentos aos detalhes de manejo, o que significa que o trabalho é realizado de forma inseparável à gestão do sistema. Ao contrário dos sistemas convencionais que são dependentes do emprego intensivo de capital, sendo o trabalho essencialmente mecânico e separado do processo de gestão. Em síntese, a agricultura familiar camponesa é, por excelência, a base sociocultural para a generalização da alternativa agroecológica, pois conseguem integrar trabalho e gestão em um processo indivisível, que é condição básica para o manejo da complexidade inerente à prática agroecológica. Muito embora, princípios da Agroecologia possam ser empregados por grandes produtores empresariais, o nível de eficiência econômica e ecológica nessas unidades de produção tende a ser muito menor do que quando aplicados em pequenas unidades de gestão familiar. Segundo levantamento realizado na Universidade de Sussex, Inglaterra, mais de 1,4 milhões de agricultores em todo o mundo adotam princípios da Agroecologia. O estudo identificou aumentos médios de 100% na produtividade em centenas de projetos após a adoção desses princípios, com registros de 400% de aumento em situações mais avançadas na transição agroecológica. Além da boa produtividade, os sistemas manejados segundo o enfoque agroecológico, são sistemas com balanço energético positivo e altamente poupador de energia de origem fóssil; recuperam e conservam a fertilidade dos solos sem uso de insumos externos, além de serem resistentes aos processos erosivos; funcionam como sumidouro de carbono e não emitem ou emitem poucos gases de efeito estufa; integram-se funcionalmente à vegetação natural, dando maior estabilidade aos microclimas onde estão inseridos; são livres de contaminação química causada por agrotóxicos e fertilizantes solúveis e da poluição genética causada pelos organismos geneticamente modificados. Segundo a Avaliação Internacional sobre Ciência e Tecnologia Agrícola para o Desenvolvimento (IASSTD, 2009) o conjunto desses efeitos positivos indica que a generalização da Agroecologia é uma estratégia consistente para que a crise do modelo convencional seja enfrentada estruturalmente, a começar pelo desafio de alimentar uma população mundial crescente em condições adequadas e sustentáveis. De forma ainda mais explícita, o relator das Nações Unidas para o Direito Humano à Alimentação divulgou, em 2010, um relatório em que afirma que a Agroecologia pode a um só tempo aumentar a produtividade agrícola e a segurança alimentar, melhorar a renda de agricultores familiares e conter a tendência de erosão genética gerada pela agricultura industrial (DE SCHUTTER, 2010). O principal desafio à generalização da perspectiva agroecológica é de natureza política e não técnica. Ele se apresenta diante da necessidade de superação do poderio político, econômico e ideológico dos setores do agronegócio que sustentam a permanência e a expansão do modelo da agricultura industrial. Entre outros efeitos negativos, a dinâmica expansionista da lógica do agronegócio tem sido a principal responsável pela desaparição da agricultura familiar camponesa em todo o mundo. Isso não significa apenas a diminuição do número de unidades produtivas familiares que poderiam ingressar em trajetórias de transição agroecológica, mas implica também a perda da cultura camponesa e de povos e comunidades tradicionais, elemento essencial para a construção de conhecimentos agroecológicos ajustados às mais variadas peculiaridades socioambientais. 28