O documento discute os desafios enfrentados pelas comunidades pesqueiras de Niterói, incluindo a poluição, perda de espaço para a pesca e dificuldades econômicas. Representantes de associações de pescadores falam sobre como essas mudanças ameaçam seu modo de vida e meios de subsistência. Alternativas como a maricultura são exploradas, mas muitos pescadores querem continuar sua tradicional atividade.
1. ESPECIAL
COMUNIDADE PESQUEIRA
Ano 1 N° 0 R$ 0,25 Mensal Por: Fabio da Silva Barbosa & Luiz Henrique Peixoto Caldas Niterói, Novembro 2008
PESCA AMEAÇADA EM NITERÓI
Comunidades Pesqueiras lutam por sobrevivência. Pag.3
Quem vive da pesca Ademir José dos Santos, pescador e Diretor Financeiro
vem sofrendo diversos da Colônia de Pescadores de Jururjuba (Z8), nos
impactos com as novas informou com pesar que as tubulações do oleoduto na
medidas e os ultimos Baía de Guanabara e a chegada de mais plataformas da
acontecimentos.Em Petrobras, fazem com que os pescadores não possam
várias comunidades se aproximar mais de 500 metros, ou seja, vêm tomando
pesqueiras de Niterói o terreno da tradicional atividade pesqueira na cidade.
em que passamos, A Colônia vem buscando alternativas para o problema
muitas preocupações, junto à Petrobras. A proposta da companhia é
além de diversos aproveitar os pescadores em seus segmentos de
problemas para o serviços. Essa opção não é vista com simpatia pelos
profissional da pesca se pescadores, que não entendem a troca da pesca pelo
multiplicam. A poluição segmento como uma possibilidade. “Não queremos
e a perda de espaço do trabalhar em outra coisa. Mesmo não rendendo o que
pescador foram casos rendia antes, gosto dessa atividade. Sou pescador.
comuns relatados em Sempre fui. Não podem tirar isso de mim.” Explica
todas as comunidades Robson Barbosa Pulsent, presidente da Associação
visitadas. de Pescadores e Amigos da Praia Grande.
Sindicato dos Armadores de Pesca
pede por infra- estrutura na pesca
industrial. Pag. 4 e 5
Maricultura é a Asociação de Notas e agenda das
opção para Pescadores e comunidades des-
pescadores que Amigos de São vendam Niterói des-
tentam fugir da Pedro reclama do conhecida e seus
crise. abandono. eventos.
Pag. 8 Pag. 7 Pag. 2
Rua da Lama, entre as tradições e um
futuro nada promissor.
A Rua da Lama, no Centro de figuras sem igual. Há muito tempo acompanhando oa
Niterói, localizada atrás do crescentes prejuisos acumulados pela pesca na cidade.
supermercado Carrefur é um Segundo ele a associação tem muitos projetos, mas a
ponto de encontro onde se falta de incentivo e de percerias dificultam a realização
reúnem todos que gostam de de vários projetos.
aproveitar um dia tranqüilo A associação existe há 30 anos, quando Valdenir
comendo um peixinho frito Bragança cedeu esse espaço para os pescadores, que
nos bares que se estendem desde então vem fazendo melhorias no lugar.
pelo local. Ali também se A capela de São Pedro é motivo de orgulho e está
encontra a Associação de sendo reformada. Ela existe há 29 anos e sua estrutura
Pescadores e Amigos da Praia original não permite a colocação de bancos em seu
Grande que tem como interior, devido ao pouco espaço interno. “Vamos
Presidente Robson Barbosa . ampliar a capela para que as pessoas que seguem sua
Robson está há pouco tempo religião ao menos tenham como sentar para assistir a
no cargo e conta com a missa.”
experiência e colaboração do Muitos problemas estão afetando o lugar, entre eles
pescador Betinho, a quem ele uma tubulação que permite a formação de grandes
próprio chama de seu braço poças d’água na areia da praia e a falta de local
direito. apropriado para a manutenção dos barcos.
Betinho é uma daquelas Pag. 6
2. 2 NOVEMBRO 2008 COMUNIDADE
Temos a satisfação de escrever esse, que é o número futuro da pesca.
EDITORIAL zero do jornal Comunidade, trazendo até vocês toda a Mesmo na pesca industrial a coisa não está tão
informação sobre os acontecimentos do universo das boa. Por possuir no local barcos maiores, o desembarque
comunidades de Niterói. Resolvemos começar com um de mercadorias e abastecimento fica cada vez mais difícil.
especial sobre a Comunidade Pesqueira, por ser um Segundo nos informaram alguns mestres de barcos, os
importante segmento dentro da cidade de Niterói Um peixes estão diminuindo em quantidade, enquanto os gastos
segmento que vem passando por inúmeras dificuldades e com óleo e gelo, por exemplo, estão aumentando. O
restrições. Mas apesar de tudo isso ainda luta por dias Sindicato dos armadores de pesca é o responsável por
melhores. essa vertente da pesca em Niterói. Lideranças como Flávio
É difícil entrarmos em uma comunidade da cidade Leme contam com um histórico de lutas pela classe.
em que não haja ao menos um representante dessa categoria. Boa leitura e tomara que o número 1 não tarde muito a sair.
Podemos ver essa verdadeira devoção à pesca em dias como OS EDITORES:Fabio da Silva Barbosa
o da procissão de São Pedro, o santo protetor dos pescadores. e Luis Henrique Peixoto Caldas
Mas infelizmente o que temos para expor nesse número é
pouca festa e muita desilusão. Desilusão de pescadores como
Déu, atual Presidente da Associação de Pescadores e Amigos
de São Pedro. Déu vai contar sobre a época em que à Baia de
Guanabara era rica em recursos marinhos. A ponte era tida
como um verdadeiro banco para a maricultura.
Outro a Lembrar dessa época é Betinho, Colaborador da
Associação de Pescadores e Amigos da Praia Grande.
Associação que tem Robson Pulsent como liderança
comunitária e tenta mediar à tradição com os avanços
necessários para melhores condições de trabalho e de receber
seus visitantes.
Tivemos também a oportunidade de trazer, nessa
edição, Presidentes de associações que estão recorrendo a
maricultura como solução para driblar as atuais dificuldades.
Jurujuba é referência na atividade em Niterói. Só no local
existem três associações que cuidam da atividade. A mais
antiga é presidida atualmente pelo senhor Misael de Lima.
Uma pessoa que tem muita experiencia no ramo e teme pelo
AGENDA DAS NOTAS DAS
CARTAS COMUNIDADES COMUNIDADES
- A Comuidade Nordestina garante seu espaço. Agora, - O Grupo Tortura Nunca Mais RJ vem cumprindo seu
além do tradicional Café da Manhã Nordestino, Zé de papel defendendo os direitos humanos e combatendo atos
Esse espaço é seu. Mohura e o Ministério do Baião organizam todas as quin- de tortura e maus tratos. Agora ele está ajudando a Comu-
tas, a partir das 18:00 hs o Happy Hour do Baião. O nidade Carcerária a divulgar uma carta aberta à população
Mande sua carta. endereço já é conhecido de todos que acompanham o tra-
balho desse grupo de resistência cultural. Na esquina da
através de seu site. As reivindicações dos presos são jus-
tas e cabíveis no sistema penal. Na verdade, elas se basei-
Reclame, Rua Profesor Otacílio com Duque Estrada, em Santa Rosa,
Niterói. No Bar do Paulinho, O Marquês da Gastronomia.
am no que eles precisam para se reabilitar, ao invés de ficar
esquecidos nas prisões. Maiores informações no site do
comente, Maiores informações no próprio lugar ou pelo blog Sua
Majestade o Baião (suamajestadeobaiao2.blogspot.com).
grupo. www.torturanuncamais-rj.org.br
- A reinauguração do campo de futebol da Comunidade
reflita... - Todos os Sábados, em Camboínhas, Niterói, estão Alarico de Souza, conhecida como Zulu, em Santa Rosa,
acontecendo atividades diversas na Comunidade Indígena foi uma festa inesquecível no dia de Cosme e Damião
instalada no local. Estão abertas também as inscrições para (28/09). Nem a chuva conseguiu abalar o ânimo dos parti-
aulas de Tupi Guarani na própria aldeia. Uma boa oportu- cipantes. Os refletores funcionaram bem durante a noite,
CONTATOS nidade para conhecer os hábitos e costumes dos primeiros
habitantes do Brasil.
trazendo luz aos jogos que aconteciam des das 10:00 da
manhã.
- Dona Edith Tompson irá inaugurar sua biblioteca comu- - O festival Hutuz está prometendo para esse ano. Ele é
E-mail: nitária esse mês de Dezembro, em sua creche e lar alterna- um ponto em comum para todo tipo de produção artística
comunidadeeditoria@yahoo.com.br tivo “Os Girassois” no Morro do Céu. Ela conseguiu um
ótimo espaço para essa idéia na casa nova. O dia e o
da periferia. As informações estão nos site.
www.premiohutuz.com.br
horário ainda serão confirmados. Maiores informações
Orkut (profile e comunidade): pelo tel: 3607-6805. - A Comunidade da Maré, na Cidade do Rio de Janeiro,
Comunidade Editoria inaugurou no dia 27/09 a sede do Grupo Conexão G. O
- O Tradicional Campeonato de Futebol da Alarico de grupo pretende que essa sede seja um centro comunitário
Souza, em Santa Rosa, está com sua edição 2008/2009 de referência para a população lésbica, gay, bissexual, tra-
MSN: marcada para começar dia sete de dezembro deste ano. vestis e transexuais (LGBT) que vive em favelas.
Como acontece anualmente os jogos serão aos domingos.
comunidadeeditoria@hotmail.com Só que agora, devido à aquisição dos refletores para o - Os fanzines estão de volta. Essa forma de se comuni-
campo, o evento irá começar às 10:00 hs da manhã sem car, muito ligada à contracultura e a movimentos como o
previsão para acabar. “Os jogos devem ir até as oito, mas punk, contou com um lançamento muito significativo no
Blog: a festa vai até mais tarde,” comemorou André, 32 anos, último mês de outubro. O fanzine “O Berro”, da rapazia-
morador da localidade e espectador do campeonato a anos. da de Niterói, se compromete com arte, cultura e lazer,
comunidadeeditoria.blogspot.com Além de trazer informações em primeira mão do que está
acontecendo em comunidades diversas e movimentos so-
ARTE VIDA ciais.
Telefones: CURSO DE MODELAGEM EM TERRA
- O Grupo Raízes em Movimento do conjunto de co-
8122-7937 2
COTA (ARGILA). munidades do Alemão, no Rio de Janeiro, foi vencedor do
8212-6613 MÉTODO ÚNICO DE ESCULPIR. prêmio CineCufa 2008 na categoria voto popular com o
documentário sobre o Raízes. O documentário foi produ-
TODOS OS SÁBADOS
zido pelo coletivo Norte-Sul, que reúne integrantes do
AV. VISCONDE DO RIO BRANCO, 161, grupo e estudantes de Comunicação Social.
O canal está aberto! CENTRO DE NITERÓI. TEL:2719-2134
- A Comunidade Indígena está na internet. INDIOS
ON-LINE é uma rede composta por índios voluntários e
Você não pode indios descendentes que buscam os desenvolvimentos
humanos, culturais, sociais e econômicos de suas nações.
Uma discussão intensa no meio é sobre a possibilidade
perder essa! do índio sair de sua aldeia, estudar e assumir cargos, como
o de advogado, por exemplo, na sociedade, sem por isso
deixar de ser índio.
Leve esse som para - O CESC de Niterói se saiu muito bem na última expo-
sição Movimento Periférico. O centro dessa edição foi o
casa! Grafite, mas abriu espaço também para outras formas de
expressão das comunidades de Niterói e Rio de Janeiro,
MC AMILCKA como jornais e revistas. Shows aconteceram no local, asim
como aulas de Grafite. Grandes nomes do estilo artís-
SOM DE PRETO tico, como Ema, expuseram telas no evento. Alguns
murais contavam a história e os estilos que a arte
compreende.
3. COMUNIDADE NOVEMBRO 2008 3
Pesca ameaçada em Niterói.
Entrevista com
Ademir José dos
Santos
Ademir fala sobre as perspectivas futuras e a falta de união entre os
Os barcos se deterioram, mas os pescadores não têm conseguido renda para uma manutenção adequada pescadores.
Quem vive da pesca vem sofrendo diversos impactos com As empresas se apossam dos lugares e, com apoio legal, Ademir nos recebeu na colônia Z8 de jurujuba e
as novas medidas e acontecimentos. Em várias comunidades os proíbe de pescar. “Eles estão nos expulsado de casa, respondeu algumas perguntas
pesqueiras que passamos, as preocupações e problemas mas fomos liberados para pescar há cem anos atrás. Isso
se multiplicam. A poluição e a perda de espaço do pescador passou de geração em geração. Agora querem nos afastar Comunidade: Como os pescadores estão se
foram problemas comuns escutados em todas as visitas. da pesca tomando os locais permitidos pelo IBAMA. adaptando a nova realidade imposta na Baía de
Ademir José dos Santos, pescador e Diretor Financeiro da Aonde vamos pescar?” O derramamento de óleo no início Guanabara?
Colônia de Pescadores de Jururjuba (Z8), nos informou de 2000 foi lembrado como um dos grandes responsáveis Ademir: Alguns estão se adaptando mais
com pesar que as tubulações do oleoduto na Baía de pelo declínio da pesca, junto com a falta de apoio do rápido que os outros, mas o fato é que daqui a algum
Guanabara e a chegada de mais plataformas da Petrobras, poder público. Além do óleo, o próprio produto que foi tempo a atividade vai acabar na Baía. Disso a colônia
fazem com que os pescadores não possam se aproximar usado para conter o derramamento matou muitos peixes.
já foi avisada. O que estamos tentando é solucionar
mais de 500 metros, ou seja vêm tomando o terreno da “O pior é que só vejo a situação piorar.”
tradicional atividade pesqueira na cidade. A Colônia vem o problema junto à Petrobras. A solução que vem
buscando alternativas para o problema junto a Petrobras. Como se isso não fosse sendo apresentada é aproveitar os pescadores em
A proposta da companhia é aproveitar os pescadores em suficiente... seu meio de trabalho.Para os pescadores que não
seus segmentos de serviços. Além dessa grave ameaça de extinção da pesca a favor da tenham condições de trabalhar em algo pesado está
Alguns pescadores como Robson Barbosa Pulsent, exploração do petróleo e de outras empresas que utilizam sendo estudada uma pequena área para que possam
presidente da Associação de Pescadores e Amigos da Praia os caminhos marítimos, outro fator exposto por Ademir, tirar seu sustento. O problema é que os peixes
Grande, no centro de Niterói, há 25 anos na pesca, não que vem provocando uma grave crise no setor pesqueiro é a procuram as sombras das plataformas, onde não
aprovam a idéia. “Não queremos trabalhar em outra coisa. proibição da pesca da corvina pelas redes de traineiras. podemos nos aproximar.
Mesmo não rendendo o que rendia antes, gosto dessa Embora ambientalistas e até alguns pescadores condenem a Comunidade: E a questão do defeso?
atividade. Sou pescador. Sempre fui. Não podem tirar isso prática ele afirma que poderia ser criado um defeso, uma
de mim.” Sonia, Presidente de uma das três associações de Ademir: O defeso não é o problema. A maioria
limitação, como feito no caso da sardinha. “A pesca da dos pescadores já entende que isso é importante. O
maricultores de Jurujuba, a Associação das Mulheres dos corvina com rede em traineiras sempre foi nosso carro chefe.
Povos D’Água, participa das reuniões dos “Pescadores problema é quando simplesmente se proíbe como é o
E agora que simplesmente proibiram? Eles poderiam ter
sem Mar”, movimento que busca uma forma de resistência procurado o seguimento pesqueiro para discutir uma saída caso da corvina.
a essa tendência. Ela acredita que será uma quantidade que não prejudicasse ninguém. Existem soluções, mas é mais Comunidade: E por que isso acontece?
imensa de famílias que sempre viveram da pesca jogada ao fácil proibir. Isso é um absurdo. Pessoas despreparadas Ademir: Porque quem faz as leis está fazendo
desemprego. “Isso não pode dar bom resultado.” resolvem nosso destino trancadas em seus gabinetes.” isso de dentro de um gabinete. Ele não vêm checar as
Esse foi outro ponto comum escutado em todas as colônias fontes. Conversar com quem realmente entende do
“Estive refletindo sobre essa questão e de pescadores. A falta de comunicação entre o estado e os assunto. Antigamente éramos agregados ao
conclui que a Baía vai deixar de se chamar pescadores na hora de fazer as leis. Segundo nos foi passado, ministério da agricultura, hoje temos o ministério da
as leis são feitas por teóricos, sem nehum conhecimento pesca, mas as pessoas que estão lá são nomeadas
Baía de Guanabara para se chamar Baía prático no assunto, o que muitas vezes cria situações
da PETROBRAS” sem pertencerem ao segmento pesqueiro. É preciso
desfavoráveis ao pescador. “Como alguém que nunca entrou
no mar pode saber melhor que eu do que preciso. O pescador ter cuidado para não tomar uma atitude errada, que
Misael de Lima, presidente da Associação de Maricultores daqui enfrenta problemas diferentes dos de Macaé. Isso vá atingir toda uma classe, afetando o estado e até o
Livres de Jurujuba, diz que esteve refletindo sobre a tem de ser averiguado em cada lugar. Tem de ser analizadas país, causando um desequilíbrio social muito grande.
questão e concluiu que a Baía de Guanabara vai deixar esse as correntes marítimas locais, as condições da água, entre Comunidade: Qual a proporção desse
nome de lado e vai acabar se chamando Baía da Petrobras. outros fatores.” Orientou o Presidente da Colônia Z7 de desequilíbrio?
“Eu acredito que isso vai afetar tudo. Hoje você sobe na Itaipu, Aurivaldo José de Souza, o Barbudo. Ademir: É incalculável o número de
ponte e vê a quantidade de rebocadores e navios que tem Plínio, que já trabalhou tanto na pesca do atum quanto na pessoas que vivem direta ou indiretamente da pesca.
ali. Faça uma projeção futura e imagine isso daqui a alguns artesanal (pequena pesca), também acredita que falta um São 25 colônias de pescadores só no estado do Rio
anos se a coisa continuar assim. O que vai sobrar para o maior contato entre as esferas do governo e o setor pesqueiro.
de Janeiro, das quais 5 estão dentro da Baia. A que
pescador? Espero que nessas reuniões que têm ocorrido Já tendo participado de reuniões no Sul do país sobre o
Deus ilumine a cabeça deles e o pescador não tenha mais defeso na pesca, diz que o pescador não é tratado de forma eu faço parte, a Z8, tem 11 mil pescadores inscritos,
perdas.” Ainda segundo Misael, outro projeto que veio igual em todas as regiões. “Esse ano cortaram nosso defeso ou seja, pescadores de direito. Para cada pescador
limitar o espaço que servia ao pescador foi o Catamarã. da sardinha, mas em Santa Catarina estão pagando. Por que de direito existem 4 de fato, que não tem documento.
Na Ilha da Conceição a preocupação é reforçada. Sandro lá está recebendo e aqui não? Eu acho correto não atrapalhar Só aí são 44 mil. Agora você põe o cara do gelo, o do
Vitorino dos Santos, pescador há 36 anos, fica a reprodução da sardinha se não minha filha que tem 8 anos óleo, o carregador, o que faz o frete e até o que fornece
inconformado com a situação. Diz que não há diálogo. não vai conhecer esse peixe quando tiver 15, mas falta essa a comida. Pensa nessa massa desempregada. Quando
comunicação, esse acordo.” você tira o emprego de pessoas de baixa renda,
Na lagoa de Piratininga o problema se concentra na poluição, aumenta gradativamente a criminalidade e a
que já deteriorou tanto o meio ambiente que os peixes estão
clandestinidade. A família fica sem o leite, sem o
morrendo por falta de oxigênio. As obras de despoluição
estão sendo prometidas há mais de vinte anos. No dia 24 de estudo... sem o sustento. Já fui Comissário Voluntário
Abril deste ano foi feita a inauguração das obras. Tomara de Menores durante 14 anos e vi muita coisa assim.
que realmente comece dessa vez, porque em 2003 a Comunidade: E por que essa massa não se
Prefeitura de Niterói, através da Secretaria Municipal de organiza para interferir nessas decisões?
Meio Ambiente já havia feito um evento na praia de Ademir: Porque não tem união. È uma massa
Piratininga, anunciando um projeto para despoluir a lagoa tão carente que precisa lutar o dia a dia para
que não se concretizou. No início de 2007 o Prefeito sobreviver. Se convocarmos para um debate ou uma
Godofredo Pinto e o então Secretario Estadual de Meio
manifestação eles vão temer por ficar sem trabalhar.
Ambiente Carlos Minc, hoje Ministro, estiveram visitando
Quem vai pescar naquele dia por eles. Apesar de ser
algumas lagoas e anunciaram o inicio das Obras. A idéia é
fazer uma ligação entre a lagoa e o mar, na tentativa de uma categoria que hoje, acredito que seja o dobro
revitalizar as águas, como é feito em Saquarema anualmente. dos metalúrgicos, falta união. Eles têm união. Os Sem
O processo ainda tem de ser observado, para descobrir a Terra tem união. Eles acreditam. Se precisar morrem
Sandro vitorino dos Santos é da época em que a pesca era um bom negócio reação dos animais que vivem lá com a mistura das águas. pela causa. Isso é o que falta no pescador.
4. 4 NOVEMBRO 2008 COMUNIDADE
Sindicato dos Armadores de Pe
infra-estrutura para
Pescadores da chamada Pesca Industrial vêm lutando há Hoje já se tem uma área na Ilha do Governador que foi O que os profissionais da pesca acham disso?
anos por uma estrutura adequada a suas necessidades junto destinada à secretaria de pesca para a construção de um
ao sindicato que os representa. Por trabalhar com terminal pesqueiro. A idéia inicial seria fazê-lo no Caju, aonde Conversamos com diversas pessoas que descarregavam
embarcações maiores que as usadas na pesca artesanal, eles chegou a ser feito o orçamento da construção pelo ministro peixes dos barcos no pequeno terminal feito no pátio do
passam por um grave problema, condições de trabalho. As da pesca. Mas com a revitalização dos estaleiros, mais uma sindicato. Todos concordaram que um terminal pesqueiro
embarcações menores têm mais facilidade de encostar-se em vez perderam espaço. adequado é uma necessidade que tem de ser vista com
vários pontos em torno da Baia de Guanabara, enquanto os Uma conquista importante do sindicato foi o sistema de urgência. Mas isso seria apenas o início. Outras barreiras
grandes precisam de uma estrutura especial que os permita rádio que auxilia os pescadores passando informes sobre as também têm de ser derrubadas. Atualmente contam com um
operar. Essa operação consiste em ter onde parar o barco, condições climáticas e do mar. Outra função deste é o contato número insuficiente de fábricas de gelo. O que faz com que
descarregar os peixes e ter lugar para aguardar uma próxima dos pescadores com seus familiares que estão em terra tenham de fazer os pedidos com vários dias de antecedência.
viagem. Nesse intervalo se faria o abastecimento de gelo, esperando por seu retorno. Fernando Augusto Alves, o popular Baú, exerce a função de
gêneros alimentícios e combustíveis. descarregador e dispara:
Na década de 90 isso acontecia na Praça XV, Rio de Janeiro.
Como funciona um terminal?
Com o passar do tempo o espaço não comportava mais Para se construir um terminal é essencial um acesso marítimo “A pesca precisa ser mais valorizada. Não
toda a atividade que foi gerada e tomou a rua. Na época da e uma retro área grande. E isso o atual terreno que lhes foi
ECO 92, a prefeitura extinguiu toda aquela estrutura sem destinado na ilha do governador tem. O terreno pertencia a são só os pescadores que vivem dela, mas
arranjar, em contra partida, outro lugar para os pescadores. BR distribuidora sendo desapropriado pela União. A pessoas como eu. Só de carregadores aqui,
Com o tempo encontraram a 88, na Ilha da Conceição, onde empresa foi devidamente ressarcida. No princípio de 2008 você perde a conta.Carregadores e
fica o sindicato. O local tem esse nome por ter abrigado saiu o termo de posse. Algumas ocupações se instalaram no
anteriormente a fábrica de sardinhas 88. local e ainda têm de ser removidas. Só então o governo pode descarregadores. É muita gente”
A atividade pesqueira abrangeu toda a ilha, até acontecer o entrar e construir no local. Já existe uma verba de 50 milhões
boom do petróleo e as empresas petrolíferas tiveram para isso. Mauricio, mestre do barco Skiper, reclamou que muitas
necessidade de ampliar seu espaço. Como a ilha é um espaço Nesse terminal vai acontecer a descarga, a comercialização, vezes o preço do peixe vendido para as fábricas fica abaixo
privado e a pesca não teve condições de competir com as a armazenagem e o abastecimento. Hoje o peixe tem de ficar de suas despesas. “Em comparação com o preço do óleo,
empresas que chegaram, agora só abrange um pequeno sítio no caminhão na Ilha da conceição, depois de ser descarregado por exemplo, o quilo do peixe está saindo quase que de
onde se localiza o sindicato e um insuficiente espaço para as e após algum tempo levado para o Irajá onde fica o CEASA. graça. É um serviço muito sacrificado. Ainda mais agora
embarcações. O proprietário, não querendo expulsar os Chegando lá, ele sai do caminhão e vai para o mercado. Além com essa proibição de tantas áreas antes abertas para a
pescadores, fez um acordo para desocupar 80% da ilha, não de ser uma operação desgastante deteriora o peixe, ainda gente. Semana passada, levei uma multa de R$ 150.000,00
deixando outra opção. mais em uma cidade de clima tropical. Já no terminal o barco por estar trabalhando em uma área que não sabia ser proibida
Nesse ínterim o sindicato começou a trabalhar tentando vai descarregar a mercadoria, indo direto para o salão, ser na Ilha Grande. A gente está trabalhando como se fosse
construir uma infra-estrutura para a pesca. Foi cobrada a vendido O que não vai ser comercializado no momento vai contraventor. Tem ano que juntando todo o tempo que
parte governamental os meios para que a pesca pudesse se para a câmara frigorífica. ficamos em casa dá dois meses. Tem ano de ficarmos um
desenvolver. Um terminal marítimo conseguiria suprir A venda normalmente é feita para o setor atacadista. Esse é mês. Isso dividido em um ou dois dias por viagem.”
praticamente todas as pendências. Nele se fariam o o carro chefe. Como a pesca está concentrada em Niterói O barco comandado por Mauricio vende diretamente para a
desembarque de mercadorias, suas vendas, o abastecimento houve vontade que esse terminal fosse aqui, mas os analistas fábrica Coqueiro. Embora se sinta satisfeito por ter
dos barcos e o armazenamento dos peixes que não fossem concluíram que o maior mercado consumidor estava no Rio. comprador fixo, afirma que o preço pago pela mercadoria é
vendidos de imediato. Foi definido então que lá seria o melhor lugar. Quatro milhões desigual, já que no Sul do país se consegue R$ 0,20 mais
de habitantes contra 400mil. Mas como fazer se os barcos e pela mesma. No total vendido, esse valor se multiplica
“Quem tem uma companhia rodoviária precisa tornando-se uma quantia significativa. Os impostos foram
a mão de obra se concentram aqui? Decidiram-se então por
de um terminal para desembarcar seus fazer um pequeno terminal em Niterói, necessário para suprir indicados como outro vilão. Ele acredita que o governo
passageiros, quem tem uma companhia aérea nosso mercado. poderia dar um maior incentivo a atividade, a começar pela
diminuição desses impostos.
precisa de um aeroporto, então nós também Arildo, Mestre de outro barco, concorda que a despesa é
precisamos de um terminal para descarregar muito a alta, chegando a R$ 30.000,00 por saída. “Para
nosso produto e o setor não tem condições suprirmos isso temos de trazer a partir de oito toneladas de
Baú, peixe. Mas a pesca não tem dado para isso. Tenho trazido
financeiras comprar e construir um local Carregador de uma média de quatro a cinco e olha que meu barco da para
peixes.
adequado. Irá precisar de um investimento Maurício, 25 toneladas. O que adianta né? Sobra espaço no barco. Se
governamental. O presidente lula entendeu isso Mestre do ficarmos muito tempo no mar tentando pegar mais a pesca
barco Skiper. já feita fica ruim. É um produto muito frágil. Ainda mais em
e resolveu que seria necessário um terminal de A hierarquia
um país tropical como o nosso. Quer dizer, estamos tendo
que não
pesca no rio de janeiro.” atrapalha a pouco tempo para ir a poucos lugares, que cada vez
Comemorou o representante da associação conhecido como união na hora diminuem, e trazer muito peixe. Um caso que não pode dar
do trabalho. certo.”
Comandante Leme.
5. COMUNIDADE NOVEMBRO 2008 5
esca do Rio de Janeiro luta por
a a pesca industrial.
Embora o serviço de desmbarque da mercadoria seja duro, é tudo
feito em clima de descontração e harmonia. Podemos observar
nas fotos ao lado, durante o desembarque de atum do barco
Sckiper.
A cima o rádio que funciona 24 horas, ajudando e informando os
tripulantes embarcados. Várias operadors se revesam na função.
Notícias da fam´lia dos tripulantes e condições do mar são
divulgadas pelo único meio de comunicação que muitos embarca-
dos tem durante longas pescarias. Algumas pessoas relataram
que ficam durante meses no mar.
Lideranças sindicais
A pesca tem duas grandes vertentes
O sindicato tem nomes de destaque, como é o caso de Flavio Era época de campanha e durante um evento, com direito a
Leme, conhecido como Comandante Leme, por seu passado barqueata com a participação expressiva do setor, o então - pesca industrial: Em maior escala
militar. Foi Secretário adjunto do Grupo Executivo do Setor candidato a presidência da republica Luiz Inácio Lula da Tem esse nome por ter barcos maiores com alta
Pesqueiro da marinha (GESP). Mesmo nessa época o cargo Silva, assumiu, assinando uma carta de compromisso, a capacidade de produção, mas na verdade o barco não é uma
que ocupava já tinha como função fomentar a pesca. responsabilidade de criar um órgão ministerial que indústria. O sindicato não acha q esse seja o termo mais
Leme acompanhou os Três grandes momentos do meio. O promovesse a ascensão desejada. O compromisso foi correto porque causa confusão quanto a isso. Segundo a
primeiro quando o segmento estava sendo gerenciado pela cumprido com a criação da Secretaria Especial de Aqüicultura entidade, no Brasil não tem barco indústria. O que se tem é
Superintendência de Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE). uma pesca em maior escala que é a que é representada pelo
e Pesca (SEAP).
O segundo quando a SUDEP foi extinta e o Instituto de sindicato e tem níveis empresariais.
Hoje o sindicato tem cerca 130 embarcações dedicadas à
Meio Ambiente (IBAMA) ficou a frente. Nessa época, de O barco na verdade é uma pequena empresa. Tem
pesca em grande escala filiadas. O que gera cerca de 1.500
acordo com Leme, foi priorizada a conservação, sem nenhum o proprietário do barco que é o armador. Ele prepara o
empregos diretos e pelo menos o triplo de indiretos. O
desenvolvimento significativo. O terceiro momento se deu barco para a atividade pesqueira. Coloca a tripulação
termo Pesca Industrial não é bem aceito dentro da instituição
no governo Fernando Henrique Cardoso, quando foi criado embarcada. A embarcação tem um mestre que é o responsável
por causar certa confusão, já que no Brasil não existe barco
o GESP em Brasília. O grupo começou a idealizar projetos por ela, funciona como o comandante. Tem um contra
indústria. “Nossa modalidade de pesca tem esse nome por
e políticas para levar à pesca aos cuidados de um órgão que mestre, tem um ajudante, tem o encarregado das máquinas
ter grande produção. O nome mais correto seria Pesca
pudesse dar maior atenção as mudanças que já se faziam e os pescadores. Todo tripulante tem de ser embarcado, o
Empresarial, já que o barco funciona como grandes empresas.
necessárias. Em 1998 o grupo elaborou a transição do setor que quer dizer que pagam INSS, o fundo de garantia e tem
E isso se dá não só em termos de produção, mas de
pesqueiro para o Departamento da Pesca e Agricultura que de ter a carteira do pescador (SIAPE). Algumas embarcações
documentação também, já que os documentos exigidos são
pertencia ao Ministério da Agricultura. tem seguro e os tripulantes também.
muito parecidos com os de uma empresa.” Explica Leme.
São barcos na faixa de 20 a trinta metros de
comprimento com capacidade de produção de
aproximadamente 15 toneladas por viagem. O que não quer
dizer que se consiga trazer essa lotação em toda viagem.
São viagens em torno de 10 dias.
A formação desse pescador é responsabilidade
da marinha que é o órgão responsável por emitir o
documento, Caderneta de Inscrição e Registro(CIR). É uma
habilitação dada pela marinha aos aquaviários habilitados.
Como uma carteira de motorista.
Flavio Leme, conhe-
-2 pesca artesanal: Em menor escala
cido como Embarcações menores cujo dono desempenha o
Comandande Leme, papel de toda a tripulação. As viagens são menores. O
devido a seu passa- certo nesse tipo de pesca seria o dono estar sempre
embarcado. Ela é aquela da subsistência, comercializando o
do militar, nos rece- excedente. É representada oficialmente pelas colônias que
beu na sede do são instituições tradicionais. Reúne ao seu redor os
sindicato: pescadores dessa modalidade, embora em algumas
localidades haja Associações.
“Opresidente Lula Todos os pescadores são profissionais a
sabe que tem uma modalidade é que se divide em artesanal ou industrial. Em
dívida com a gente.” ambas tem de ter a habilitação especial para embarcar e
estar registrado na secretaria de aqüicultura e pesca SEAP.
A solução ainda não era satisfatória, pois o departamento Leme acha que a confusão não se dá apenas com o nome, mas A embarcação também tem de estar registrada na capitania
ficava dentro de um Ministério que não tinha base apropriada as pessoas acham que o tipo de pesca a que ele se propõe dos portos independente do seu tamanho. Ela cuida da
para promover o desenvolvimento desejado. Faltavam defender é vista de uma forma que se distancia da realidade. parte de segurança do barco. Hoje em dia o IBAMA é um
recursos financeiros e humanos. “Ocaminho ainda não era “Como vocês puderam conferir, a pesca industrial passa por órgão fiscalizador que cuida se está sendo respeitado o
esse”. tantas dificuldades quanto a artesanal, mas as pessoas acham defeso as áreas de preservação e se as licenças estão sendo
Obcecado por ver os problemas da pesca sanados, em 2002 que esse tipo de pescador é rico. É uma atividade muito dura, usadas devidamente. A pesca é uma atividade
Leme veio para o Rio de Janeiro e começou a atuar no onde o individuo passa o maior tempo da vida no mar. Quan- multidisciplinar q envolve a marinha, o IBAMA, o governo
Sindicato dos Armadores de Pesca, pedindo políticas de do está em terra tem de descarregar o barco e correr atrás de e o ministério do trabalho. Só na pesca artesanal as exigência
desenvolvimento no setor. óleo e gelo. Só depois pode ir para casa passar poucos dias.” são menores, bastando apenas à carteirinha de pescador.
6. 6 NOVEMBRO 2008 COMUNIDADE
Portugal Pequeno pede
Rua da Lama manutenção para o deque
Tradição e Projetos futuros e continua com os velhos problemas.
A Rua da Lama, no Centro de Niterói, atrás do O próprio Presidente da associação já foi vítima do
supermercado Carrefur é um ponto de encontro onde problema em um momento de descuido ao fazer a
se reúnem todos que gostam de aproveitar um dia mnutenção em seu barco.
tranqüilo comendo um peixinho frito nos bares que “Puxei meu barco para fazer manutenção
se estendem pelo local. Ali também se encontra a na areia e acabei por machucar meu pé.
Associação de Pescadores e Amigos da Praia Grande Em um momento de distração deixei
que tem como Presidente Robson Barbosa . Robson
entrara em contato com essa água. Fui
está há pouco tempo no cargo e conta com a
experiência e colaboração do pescador Betinho, a parar no Antonio Pedro. Tomei várias
quem ele próprio chama de seu braço direito. injeções e ainda estou com essas micoses
A associação existe há 30 anos, quando Valdenir em volta que ta difícil ficar bom.”
Bragança cedeu esse espaço para os pescadores,
Robson Pulsent
que desde então vem fazendo melhorias no lugar.
A capela de São Pedro é motivo de orgulho e está
sendo reformada. Ela existe há 29 anos e sua estrutura
original não permite a colocação de bancos em seu
interior, devido ao pouco espaço interno. “Vamos
ampliar a capela para que as pessoas que seguem O deque oferece perigo para quem passa
sua religião ao menos tenham como sentar para Os pescadores de Portugal Pequeno, na Ponta da Areia, não
assistir a missa.” possuem associação, mas têm suas reivindicações a fazer.
O deque que foi construído no lugar está em péssimas
condições, contando inclusive com buracos que estão
oferecendo perigo a quem passa pelo lugar.
Uma carreira ( tipo de rampa que ajuda a colocar os barcos
para cima, no intuito de fazer a manutenção dos mesmos)
seria bem vinda, já que os pescadores têm de pagar uma
média de R$ 100 para subir o barco e a mesma quantia para
colocá-lo de volta na água. Somam-se aí R$ 200,00 ao
prejuízo que já tem diariamente com a diminuição dos peixes
na Baía de Guanabara, devido à poluição.
O pescador Ademir com quem conversamos no
UNITEROI n° 8 reiterou sua reclamação sobre a falta de
espaço para as pequenas embarcações locais descarregarem
sua pesca. Nenhum pescador soube explicar o porquê de
terem perdido espaço para os grandes barcos que vêm de
fora e ocupam os lugares que anteriormente serviam a eles,
mas têm a consciência de que isso está errado e que precisa
mudar, já que o direito no desembarque das mercadorias,
A capela em rítmo de reforma segundo seu entendimento é do pescador que há tanto tempo
Ao mesmo tempo em que a Associação está promovendo vive da pesca no lugar.
a reforma, ela vem tentando a liberação definitiva da área
da capela para que seja reconhecida e possa virar uma
igreja. Seria a primeira igreja de São Pedro em Niterói. Isso
Comunidades
traria benefício não só para os religiosos do lugar, mas
para todos os devotos de São Pedro da cidade. O número
Entrevista com Betinho correm risco de despejo
de visitantes também cresceria na Rua da Lama, trazendo Os moradores da Aldeia Imbuy são naturais do lugar,
uma renda maior para o comércio local. Comunidade: Há quanto tempo você pesca?
onde vivem há mais de um século. Eles têm orgulho de
Outros projetos que a associação quer concluir é a contar que a primeira bandeira da república, foi bordada
construção de uma carreira (tipo de rampa que auxilia o Betinho: Dês de criança.
por uma antiga moradora da comunidade, como foi
pescador a tirar o barco da água para manutenção), um registrado pelo próprio noticiário do exército n° 188, em
pequeno estaleiro, o recadastramento dos pescadores e Comunidade: O que mudou de lá para cá? Melhorou ou
piorou? 1889. Familiares dos atuais moradores estavam no local
uma melhor organização da rua para o visitante ser recebido antes da construção do Forte Imbuy, sempre vivendo da
devidamente, já que o lugar é muito freqüentado. pesca artesanal.
Betinho: Se eu for falar vou colocar muita das nossas
“ Os barcos ficam meio desorganizados autoridades responsáveis pelo progresso da nação... Eu No fim do século XIX o exército solicitou aos pescadores
pela areia, Podemos aproveitar melhor o vou enterrar todos eles. Os responsáveis pela Baía de a ponta do Imbuhy para formar um polígono de unidades
de artilharia junto com o Forte Lage, a Fortaleza de Santa
espaço.” Guanabara estão pouco se importando com o que está
Cruz, o Forte São João, o Forte duque de Caxias e o Forte
acontecendo e se continuar dessa maneira, toda essa praça
Robson Pulsent de mar, que alimenta tanta gente, vai acabar. A poluição só Copacabana. Em 1901 foi criado o Forte Imbuhy.
aumenta. Cadê a sardinha que se via aqui constantemente? Depois do golpe de estado em 1964 as reclamações contra
A limpeza da orla já foi solicitada à prefeitura pelo Não tem mais. Onde estão os botos que passavam por os militares começaram a ser ouvividas por toda parte. A
Presidente, mas segundo ele, os funcionários responsáveis aqui? Não tem mais. Não existe mais comida para eles. E mais estarrecedora diz respeito à escola que existia no
por esse tipo de atividade não aparecem com a freqüência se não tem comida para eles é porque a nossa também está lugar, onde construiram um hotel para os militares. Agora
necessária. para acabar. A lama está tomando conta de tudo. Onde era as crianças tem de andar quilometros a pé, até a escola
Os peixes são vendidos no Mercado São Pedro a partir o banco de alimentos deles, agora é lama. Isso sem falar na mais próxima. A sede social também foi tomada.
das 2 horas da manhã. Às 6 horas encerram-se as vendas e pesca predatória, que ninguém faz nada, mesmo sendo O processo que pretende expulsar essa tradicional
os pescadores voltam para o mar, onde ficam por um proibida. Agora, se o pescador artesanal entra em alguma comunidade de seu local de origem, teve início na própria
período que pode chegar até 2 dias, dependendo da pesca. área que eles consideram indevida, aí agente vai preso e comunidade, que pretendia com ele assegurar o seu direito
tudo. Essas são as autoridades que nós temos no país. de ir e vir, muitas vezes controlado pelos militares. Além
de perderem o processo, estão correndo risco de perder
Água fluvial empossa na areia Infelizmente agente tem de falar.
suas casas. Várias entidades estão se mobilizando para
proporcionando transtornos para Comunidade: E o projeto de despoluição da Baía? impedir esse ato das autoridades, mas os moradores dizem
que estão sendo pressionados com muita violencia e não
quem freqüenta a praia. Betinho: Isso eu escuto dês do tempo de Brizola. Sei que sabem até quando vão resistir e nem para onde vão ao
é um projeto a longo prazo, mas até agora o pescador não saírem de lá. “Estamos precisando de ajuda. As pessoas
viu nenhuma mudança significativa. não fazem idéia do que é uma população pacífica como a
No final da Rua da Lama fica a Praia Grande, usada por nossa passar por isso.
banhistas e pescadores. Quando descemos na a areia, nos Na Ponta da Areia, 32 famílias que formam a Comunidade
Comunidade:O
Comunidade: que você acha que seria necessário para mudar
deparamos com uma grande poça d’água, que segundo da Prainha, não estão em siutuação melhor. Um estaleiro
essa situação?
informou o presidente e pescadores que estavam próximos, está comprando a área e até agora nenhuma satisfação foi
vem de uma tubulação que teria sido construída pelo dada. Não sabem se vão ser indenizadas, removidas para
Betinho:O que o povo brasileiro precisa é de políticos
supermercado Carrefur. Na época foi alegado que seria outro lugar, ou simplesmente jogadas na rua. Essa incerteza
que cumpram o que prometem. Mas só tem demagogo.
despejo de águas fluviais, não oferecendo perigo a saúde aumenta a tensão.
Eles prometem aquilo quejá sabem que não vão fazer. É
dos usuários. Depois dessas duas comunidades pesqueiras, temos de
impressionante. Eu não acredito em mais ningém. To
Embora sem saber o órgão que liberou a obra, os pescadores falar também da comunidade indígena de camboínhas, onde
cansado de ouvir projetos e acreditar em promessas.
e frequentadores não se opuseram na época a construção pescadores e associações estão lutando pelos direitos dessa
da tubulação que acabou por se tornar um grande tribo que já tiveram até suas casas queimadas no local,
Comunidade: E por que issoacontece?
incoveniente para o lugar. Acabando com a beleza natural devido a um incêndio criminoso. Atualmente, a aldeia já
existente. conseguiu se reorganizar, mas o perigo de remoção ainda
Betinho: Porque eles só pensam no bolso deles. Só
O problema é que quando chove desce um excesso d’água existe, deixando todos em estado de alerta. Cursos
querem saber do que é melhor para eles. O pobre e o
com lixo que é arrastado pelo caminho e que acaba por
trabalhador nunca tem prioridade em suas agendas. Só na de Guarani e exposições estão sendo feitas pelos
empossar, tomando conta de uma parte considerável da
areia. Essa poça demora a secar ocasionando um péssimo época de eleição que a coisa parece ser diferente. Mas isso próprios índios, na tentativa de arrumar meios para
aspecto e mal cheiro. não dura e nada vai para frente. É muito dificil. sua independência financeira e difundir sua cultura.
7. COMUNIDADE NOVEMBRO 2008 7
Associação sofre com o descaso
Entrevista com Pardal
Fachada da Associaçãode Pescadores e Amigos de são Pedro Conversamos com o pescador Milton Pardal, que falou
um pouco sobre a situação
A Associação de Pescadores e Amigos de São Pedro fica a atual atividade, onde simplesmente coleta-se os mariscos Comunidade: Há quanto tempo você trabalha com a pesca
entre o Shopping Bay Marcket e o Terminal João Goulart do mar, sem nenhum tipo de retorno para o meio ambiente.” do mexilhão?
no centro de Niterói. Lá o forte é a pesca de mexilhão e o Com esse tipo de projeto a quantidade e a qualidade do Pardal: 30 anos
Presidente da Associação, que já existe há 16 anos e tem 44 produto subiriam significativamente. Comunidade: Como vive o pescador hoje?
associados, é Gerson Fausto Leite, conhecido por seus O presidente fez um trabalho de medição da profundidade Pardal: Você almoça e janta junto. Lá para as sete horas
companheiros como Déu, pescador a mais de 20 anos. das águas em que pesca dentro da Baía (batimetria) e de da noite. Quando a caba já está dormindo já não agüenta
O primeiro problema citado por Déu são os arrastões que qualidade da mesma, constatando que existe uma fazer mais nada. Quando pensa que está dormindo já
acontecem a todo o momento na Baía de Guanabara. profundidade de lama de oito metros. Explicou visivelmente chegou à hora de levantar. Isso se quiser tirar um trocado.
Segundo acredita, as autoridades competentes até tentam chocado que essa lama é composta em sua maior parte de Comunidade: E a associação? Funciona bem?
fiscalizar, mas não tem condição material e pessoal suficiente cloriformes fecais e outros dejetos prejudiciais a água e os Pardal: A associação funciona, mas não tem como
para controlar esse tipo de atividade, que ainda segundo ele seres que dela necesssitam para viver. Atingindo assim, os resolver tudo. As cascas do mexilhão são jogadas no mar
não respeita o meio ambiente e impotantes fatores que devem pescadores que necessitam desses seres para seu sustento. já que a Prefeitura não nos fornece uma caçamba e sacos
ser levados em consideração na hora da pesca para preservar “Hoje em dia essa espessura de lama com certeza está muito para que possamos embalar o lixo. O lixo aumentou muito
as espécies. maior. São muitas famílias trabalhando nesse segmento. Tudo ocasionando a poluição. Nós acabamos contribuindo para
que afeta a pesca negativamente, gera uma situação de
“Todo mundo tem que precariedade para todos que dependem dela. Não estou
isso. Agente ensaca o carvão e bota ali em cima, mas eles
demoram muito para vir buscar. Fica tudo empilhado e
sobreviver, mas esse tipo de falando só do pescador, mas toda a rede de trabalhadores agente tem pouco espaço para trabalhar.
que vivem desse comércio. Isso vai do cara que vende o gelo Comunidade: E a prefeitura tem dado algum tipo de apoio?
pesca não respeita fatores como até a moça do salgadinho que espera os pescadores Pardal: Apoio é o que a gente mais precisa. Onde
o tamanho do peixe e vão descarregar seus produtos para fazer um lanche.” Explicou acontece o trabalho de descascar e embalar o mexilhão é
o Presidente. do jeito que vocês estão vendo. Tudo quebrado. E se
degradando todo o meio Várias pedras que podiam ser avistadas estão cobertas por tentar concertar a prefeitura vem e tira tudo, alegando
ambiente.” essa lama e os peixes que podiam ser vistos em volta delas que não estamos em área autorizada. As bóias que
sumiram. O barco conhecido como lameiro, que deveria colocamos em um canto que não atrapalha ninguém para
DEL colaborar com a despoluição da Baia tem sido visto pelos plantarmos os mexilhões ainda não foram reconhecidas
Déu lembrou de quando, há menos de 10 anos, a Ponte Rio- pescadores como verdadeiros maquiadores da situação. Eles pela marinha. Fizeram um espaço minúsculo para
Niterói era considerada o Banco do Brasil da Maricultura informaram que o procedimento consiste em tirar os detritos trabalhar-mos ali do lado que não deu em nada.
devido ao grande número de mariscos coletados. O próprio de um lugar e despejá-los em outro. “É a velha história de Comunidade: Por que?
Presidente da Associação tirava cerca de 100 quilos de limpar o meu quintal sujando o do vizinho. Isso não adianta Pardal: Porque infelizmente é assim. E olha que isso
mexilhão por dia. “E olha que tinha mais de quarenta pessoas nada. Estão tapando o Sol com a peneira.” Lamenta-se Déu. aqui é trabalho. São famílias trabalhando.
competindo comigo. Trabalhando no mesmo tipo de coleta. Outro drama que eles vêm tentando contornar é o aspecto
No mesmo lugar” Nessa época, o pescador tirava por dia, precário do ambiente de trabalho. O barracão onde descascam ROTINA
no Bruto, R$ 300,00. Hoje não se tira a metade. A poluição os mexilhões está decadente e falta uma caçamba para a A rotina de trabalho é dura. Os pescadores chegam quatro
diminuiu drasticamente a população de mexilhão na área e coleta dos detritos, que atualmente são jogados na água. horas da manhã e ficam até as 18 horas catando,
em contra partida a concorrência aumentou. Sem falar nas Muitos contaram que as cascas estavam sendo ensacadas, descascando, embalando e vendendo o mexilhão. Quando
inumeras restrições que vem sido impostas a prcela da mas por não ter onde guardar os sacos no pequeno barracão, chegam em casa já é hora de comer e dormir, para
população que vive da pesca. voltaram a atirá-las ao mar. Falaram que se tivesse garis para conseguirem estar as quatro de volta ao trabalho
Mesmo usando sua experiência em diversos ramos da pesca, ir, diariamente, buscar os sacos com as cascas não haveria A venda é feita no mercado São Pedro e para o estado de
a falta de insentivo impossibilita ações que poderiam ao problema, só que muitas vezes acumulavam sacos por dias, São Paulo De lá vão para bares e restaurantes, onde são
menos amenizar a precária situação em que vivem. A marinha impossibilitando o trabalho no local. consumidos pelos clientes.
cria inumeras dificuldaes para a liberação de área para o
cultivo de mariscos. Os maricultores afirmam que a criação
de uma fazenda de mariscos “é muito mais positiva, tanto
para os maricultores, quanto para o meio ambiente, que a
O dia a dia de trabalho na asociação dessa comunidade é marcado pelo companheirismo e o trabalho em família.