Nesta apresentação falaremos como a trilha sonora e a sonoplastia podem enriquecer a produção de filmes de terror, bem como ela pode alterar nossa percepção.
2. “A arte luta efetivamente com o caos,
mas para fazer surgir nela uma visão
que o ilumina por um instante,
uma Sensação.”
Gilles Deleuze.
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CONTEXTO
E BREVE
HISTÓRICO
A música, além de várias funções e papéis
sociais, artísticos e líricos, é compreendida no
mundo da Direção de Arte como um elemento-
chave em plataformas audiovisuais como
Cinema, Televisão, séries, filmes, produções
independentes, entre outros.
No gênero analisado, que é o Terror, ela se
torna um caminho, um suporte, para transmitir
uma mensagem ou elaboração de climas como
drama, suspense, medo, angústia, ansiedade,
desconforto e até mesmo nojo.
4. Os filmes de terror sempre tiveram uma relação íntima com efeitos práticos e a trilha sonora, e aqui
estamos considerando as obras produzidas quando os sons começaram a ser incluídos nas películas.
Um exemplo notável é “A Noiva do Frankenstein” (1935), por Franz Waxman, o primeiro filme de
terror a ter uma trilha sonora composta para ele, o que influenciou muitos diretores(as) a procurarem
compositores e musicistas para criarem trilhas personalizadas para seus filmes e projetos audiovisuais.
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No gênero analisado, que é o Terror, ela se torna um
caminho, um suporte, para transmitir uma mensagem
ou elaboração de climas como drama, suspense, medo,
angústia, ansiedade, desconforto e até mesmo nojo.
O terror, enquanto gênero de entretenimento, seja através de
livros, filmes e séries, busca na trilha sonora um arcabouço
catalisador de sensações, em conjunto com a produção
visual, para que o medo, enquanto uma emoção subjetiva,
possa causar diferentes efeitos em cada indivíduo, conforme
a percepção única que cada pessoa tem sobre
determinada obra ou contexto.
trilHa sonora
e o medo
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A Direção de Arte, como um todo, acaba
tendo o papel de compreender, coordenar
e organizar a orquestração sonora de cada
elemento, e como eles colaboram juntos para
que a obra cinematográfica tenha sua própria
atmosfera, em alguns casos, combinando
mistério e perigo, como podemos ver no filme
“Tubarão” (1975) de Steven Spielberg.
O filme inicia com a cena em que a personagem
Chrissie vai para o seu último banho de mar,
sem que ela saiba que está sendo observada
pelo nosso protagonista, o Tubarão do filme.
Todo o medo dessa cena é construído pela trilha
sonora, sem que nós possamos ver com clareza
o que acontece com a nossa personagem,
apenas pelo som grave e intenso da
chegada do tubarão.
Clássicos
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A música tem o incrível poder de influenciar
narrativas, guiando as emoções do expectador
ou de uma plateia, provocando sensações
distintas como nojo e raiva, ou tristeza e
ansiedade, ou até mesmo espanto e angústia
juntos, mas também pode mudar completamente
o viés da história e o clima que está se
passando naquele momento.
Um exemplo notável é o filme estilo grindhouse
do diretor Quentin Tarantino, chamado “À prova
de morte”, na cena em que o assassino Dublê
Mike (Kurt Russel) dá carona para Pam (Rose
McGowan), os dois estão no carro e ele pergunta
para que direção ela vai, e a trilha sonora, que
anteriormente era neutra, se torna dramática
e grave, nos indicando que algo ruim irá
acontecer com Pam.
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Além das trilhas sonoras, o silêncio também funciona
como elemento narrativo, sendo ele capaz também
de criar atmosferas de incômodo e suspense,
podendo guiar o expectador ou plateia conforme
a premissa do diretor(a) com aquela obra.
Pesquisando obras de diferentes períodos históricos,
conseguimos perceber padrões e congruências
estéticas em algumas trilhas, ainda que cada
uma seja produzida e ambientada em
diferentes contextos.
Os amantes do terror também conseguem sentir
como mesmo as emoções mais viscerais podem
ser trabalhadas e influenciadas de acordo com
a intenção da produção audiovisual.
o SILËNCIO
NAS NARRATIVAS
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É importante que o Diretor ou Diretora de Arte tenha uma
plena imersão da obra na qual está trabalhando, pois é
necessário compreender com muita clareza a atmosfera
e o clima emotivo do projeto, para que possa trabalhar
com os elementos mais apropriados para coordenar
apropriadamente a equipe de criação, dessa forma criando
um material que seja inesquecível, atraente e que consiga
transmitir a imagem desejada pelo criador do filme,
clipe ou peça audiovisual.
A imersão nos assuntos da obra, aliada a um bom trabalho
de pesquisa, com moodboard e adaptação de roteiro, faz
com que grandes obras, como o objeto de estudo desse
texto analítico, sejam criadas.
Direção de arte
e trilha sonora
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“O Iluminado” (1980) é uma obra de ficção
escrita pelo renomado autor Stephen King, que
foi adaptada para o cinema por Stanley Kubrik,
um diretor conhecido por trabalhar bem temas
fictícios e sobrenaturais. A cena de abertura do
filme, mostrando o fusca amarelo de Jack Torrance
percorrendo um caminho nas montanhas, já
acompanha uma trilha sonora pesada, assustadora
e misteriosa, que nos transporta para uma
atmosfera ominosa e agourenta, como um
prelúdio sinfônico do que estava por vir no filme.
Uma referência estilística sonora encontrada nas
pesquisas sobre o filme é a DIES IRAE, traduzido
livremente para “Dia da Ira”, parte de alguns rituais
ou cerimônias católicas para os mortos, sendo ele
um fragmento de um hino religioso em latim.
Ele é constituído por uma melodia inicial de quatro
notas que agrava expressivamente os momentos
assustadores, tristes ou dramáticos em obras
audiovisuais ou nas próprias missas.
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Em algumas cenas da obra, nas quais Danny
se comunica com o outro iluminado, Sr. Hallorann,
a trilha sonora fica aguda e desconfortável,
reforçando a ideia de algo muito íntimo, que é
inaudível para as outras pessoas ao redor, sendo
considerada uma trilha incidental para conduzir os
expectadores a terem sensações de incômodo
e um possível medo com aquilo.
Podemos perceber que, no geral, os sons
diegéticos (todos os sons presentes no universo
ficcional onde se passa a cena/ação) são neutros,
e nunca se sobrepõem às falas dos personagens,
tendo uma estética sonora bastante limpa
nesse quesito.
O ESPANTo
de kubrik
16. O que destaca a trilha sonora é
a premissa de causar desconforto e
medo, direcionadas pela Direção de
Arte da obra, o que nos conduz a sentir
tensão em cenas muito específicas,
quando os sons se tornam muito
graves e abafados, ou muito agudos,
semelhantes a uma chaleira ou sirene.
Em alguns momentos, podemos
inclusive pensar em uma possível
evocação do mal, tendo em mente a
atmosfera perigosa e amaldiçoada
existente no Hotel Overlook.
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