Este documento apresenta uma análise do perfil editorial do Jornal da Globo, focando nas editorias de política e economia. A pesquisa analisou 5 edições do telejornal para determinar quais editorias recebem maior destaque e de que forma. Conclui-se que o JG privilegia política e economia, usando diversos gêneros jornalísticos e comentaristas fixos para facilitar a compreensão destes temas complexos para o público.
1. Elthon de Aguiar Pastorello
O PERFIL EDITORIAL DO JORNAL DA GLOBO:
Uma análise das editorias de política e economia do telejornal.
Belo Horizonte
Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH)
2008
2. Elthon de Aguiar Pastorello
O PERFIL EDITORIAL DO JORNAL DA GLOBO:
Uma análise das editorias de política e economia do telejornal.
Monografia apresentada ao curso de Jornalismo do Centro
Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH) como requisito parcial à
obtenção do grau de Bacharel em Jornalismo.
Orientador(a): Prof.a Erika Savernini
Belo Horizonte
Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH)
2008
3. Agradeço a minha família pelo apoio em todos os momentos dessa
caminhada, entendendo as especificidades momentâneas impostas
pela vida que me impediram de abreviar o percurso. Aos meus amigos
de forma geral, que de alguma forma me acompanharam na realização
desse sonho. E aos mestres que compartilharam comigo do único bem
que ninguém nos tira, o conhecimento. Obrigado!
4. RESUMO
Um telejornal que vai ao ar no fim da noite tem de buscar uma forma atrativa de conquistar
seu telespectador, uma vez que as notícias do dia já foram conhecidas por esse de alguma
maneira durante o dia, seja por meio de rádio ou jornal impresso. Como fazer isto? Como
obter um público fiel a um telejornal a esta hora do dia, e sobre quais assuntos falar? Com
base nesse problema, a pesquisa buscou delimitar quais os meios utilizados pelo Jornal da
Globo (JG) para cativar seu público e ainda informar, de uma maneira diferente, o que já foi
dito durante o dia em outros meios de comunicação. Após uma coleta de cinco edições do
telejornal, foi possível analisar as editorias que são postas em destaque e de que forma isso é
feito. Com esses dados em mãos, percebeu-se que o telejornal privilegia as editorias de
política e de economia, mesclando diversos gêneros jornalísticos a comentaristas fixos
especialistas nos assuntos e infografias para facilitar a compreensão das matérias. Com isso
conclui-se que as técnicas utilizadas pelo Jornal da Globo têm como objetivo a permanência
da linha editorial escolhida pelo telejornal desde a sua criação, quando assuntos de política e
de economia norteavam o programa. Com o avanço das técnicas e tecnologias no fazer
jornalístico, o telejornal procura facilitar a compreensão desses complexos assuntos por parte
dos telespectadores, além de selecionar desta forma o público alvo do desejado.
Palavras-chave: Telejornalismo; Editoria; Jornal da Globo.
5. LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Distribuição do tempo da edição de segunda-feira dia 19/05/2008 ........................37
Gráfico 2: Distribuição do tempo da edição de terça-feira dia 20/05/2008..............................38
Gráfico 3: Distribuição do tempo da edição de quarta-feira dia 21/05/2008 ...........................39
Gráfico 4: Distribuição do tempo da edição de quinta-feira dia 22/05/2008 ...........................40
Gráfico 5: Distribuição do tempo da edição de sexta-feira dia 23/05/2008 .............................41
Gráfico 6: Somatório das editorias durante a semana de 19 a 23/05/2008...............................42
6. SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................6
2 O QUE GERA NOTÍCIA .....................................................................................................8
2.1 Importante ou apenas mais um fato corriqueiro? .................................................................9
2.2 A influência do jornalista ...................................................................................................11
2.3 Dividir para absorver melhor..............................................................................................16
3 A CHEGADA DA TELEVISÃO........................................................................................18
3.1 Televisão no Brasil .............................................................................................................18
3.2 O surgimento da Globo ......................................................................................................19
3.3 Assim se faz telejornalismo................................................................................................22
3.4 Adequando a linguagem .....................................................................................................23
3.5 O tripé jornalístico da Rede Globo .....................................................................................26
3.6 O padrão Globo de qualidade .............................................................................................27
3.7 A perda da hegemonia ........................................................................................................29
4 O JORNAL DA GLOBO NO AR ......................................................................................32
4.1 Metodologia de pesquisa ....................................................................................................32
4.2 Breve histórico do Jornal da Globo ...................................................................................33
4.3 O Jornal da Globo em números ..........................................................................................35
4.3.1 Proporcionalidade de inserções apresentadas pelo jornal em segundos..........................35
4.4 O tratamento da política .....................................................................................................43
4.5 O tratamento da economia..................................................................................................46
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................48
REFERÊNCIAS .....................................................................................................................50
7. 6
1 INTRODUÇÃO
A pesquisa apresentada teve como foco a análise do Jornal da Globo (JG) com o intuito de
apontar as características editoriais mais marcantes no telejornal. Com base nessas
características foi possível sinalizar as matérias que têm maior destaque no telejornal e a
influência dessas editorias no formato do programa.
É de extrema importância esta análise, uma vez que aponta para um formato de telejornalismo
distante dos padrões estabelecidos como de qualidade da Rede Globo de Televisão. É um
formato que utiliza-se de recursos disponíveis no meio televisivo, porém que não são
aproveitados em todos os telejornais, e encaixaram-se de forma harmoniosa na proposta do
JG.
O objetivo principal da pesquisa foi determinar quais as editorias têm maior destaque no
telejornal e de que forma isso ocorre, através de quais técnicas é possível se perceber isso.
A fim de alcançar esse objetivo principal, se buscou respostas para questionamentos
secundários como a repetição de matérias dentro das editorias de destaque, forma de
tratamento dessas matérias, formatos utilizados nas editorias e tempo de exposição dentro de
cada edição.
No capitulo 2 da pesquisa foi feito um levantamento bibliográfico com o intuito de apontar
critérios utilizados pelo jornalismo como um todo no momento da seleção dos fatos a serem
noticiados. Autores como Mario Erbolato, Silvia Helena Simões Borelli, Gabriel Priolli e
Guilherme Jorge Rezende foram utilizados como base para se determinar o que caracteriza
um fato como algo digno de ser noticiado, e de que forma esse fato é escolhido em meio a
tantos outros.
O capítulo 3 foi o momento em que se entrou propriamente dito na mídia em que se encontra
o objeto da pesquisa, que é na televisão. Nesse capítulo foi feito um breve apanhado histórico
da televisão no Brasil, incluindo a criação e a evolução da Rede Globo de Televisão ao longo
dos anos. Para esse capítulo foram utilizados como fonte de informação autores como
Marialva Barbosa, Ana Paula Goulart Ribeiro, Vera Íris Paternostro e novamente Silvia
Helena Simões Borelli e Gabriel Priolli.
8. 7
No capítulo 4 foi feita a análise dos dados obtidos com o material empírico coletado, que
apontam indicadores que comprovam o foco do telejornal nas editorias de política e de
economia. Neste capítulo aparecem os gráficos da distribuição de matérias por editorias e uma
análise mais pormenorizada das duas editorias em foco.
E finalizando a pesquisa, no capítulo 5 foram feitas considerações finais a respeito das
conclusões que se chegou com o estudo, apontando características do formato jornalístico do
Jornal da Globo e suas diferenças com o padrão de telejornalismo adotado em outros
programas.
9. 8
2 O QUE GERA NOTÍCIA
A escolha do que é importante, do que o interessa e do que garantirá lucros para o veículo em
que se trabalha, sempre foi um dilema do fazer jornalístico.
Segundo Borelli e Priolli (2000), acredita-se que a palavra, tanto impressa como falada, é
capaz de derrubar governos, modificar hábitos, alterar pensamentos e até melhorar condições
de vida. No entanto, isso só ocorre se a notícia estiver adequada a determinado tipo de
público, o que muitas vezes não acontece. Percebe-se hoje em dia que muitas pessoas são mal
informados pelos meios de comunicação, uma vez que se noticia corriqueiramente fatos
distantes de suas realidades, tornando-os familiarizados com acontecimentos em outros
países, por exemplo, e desinformados sobre fatos de seu próprio país.
Segundo Erbolato (1991), a formação atual de um jornalista não se dá como antigamente,
quando o aspirante a jornalista era forjado na labuta de uma redação, iniciando pela revisão de
texto, passando pelas editorias como colaborador e podendo chegar até a editor ou chefe de
reportagem. O caminho percorrido hoje para que uma pessoa torne-se jornalista é através das
universidades. O jornalista da atualidade se forma em cadeiras acadêmicas, em meio às teorias
e aos autores renomados.
O novo perfil de jornalista não é mais aquele que conhece o fazer jornalístico na prática, com
suas nuances. Por mais que as universidades coloquem à disposição de seus alunos uma
estrutura de oficinas e laboratórios de jornalismo capazes de aproximá-los ao jornalismo
diário, nunca o será.
Não se pode esquecer que não é só gostar de escrever que leva uma pessoa à profissão de
jornalista, é preciso ter vocação, ter contato com o fazer jornalístico, viver aquela atmosfera
única. Para Erbolato (1991), somente assim o aspirante aprenderá a escolher o que publicar
em meio a milhares de notícias que chegam numa redação enviadas por
agências, pelos repórteres, redatores, informantes, órgãos particulares, repartições
governamentais, além de correspondentes ou enviados especiais.
10. 9
Erbotato (1991) enfatiza que a preocupação com a forma de escrever deve ser constante.
Pode-se escrever corretamente, do ponto de vista gramatical, mas se forem empregados
palavras difíceis, termos técnicos, neologismos ou excesso de adjetivação, o leitor que
tenha apenas o curso primário não entenderá a notícia, ficará irritado e deixará de lê-la até o
fim. Não é impossível que ele até se torne um inimigo do jornal... Na sua filosofia,
raciocinará que pagou pelo exemplar, comprando-o avulsamente ou por assinatura, e que
por isso tem o direito de compreender o que está em todas as colunas, desde a primeira até a
última página.(ERBOLATO,1991, p.20)
Dessa forma, é preciso que se delimite o público para o qual se escreve, qual o grau de
escolaridade esperado deste público, quais assuntos estão mais próximos da realidade dessas
pessoas, pois somente assim é possível suprir a maior parte das expectativas de informação
que o leitor deposita no meio de comunicação, uma vez que todas não é possível.
2.1 Importante ou apenas mais um fato corriqueiro?
A escolha de um acontecimento para que se torne um fato jornalístico noticioso não pode ser
feita de forma aleatória e sem critério. Para isso, é necessário que o fato em primeiro
momento não seja algo comum e cotidiano, ou seja, é preciso que tenha uma baixa
probabilidade de repetição.
Segundo Rodrigues (1999) existem alguns registros da notabilidade dos acontecimentos que
são usados como justificativa para a sua relevância. São elencados três registros: o excesso,
em que o extrapolar de alguma atitude prevista e bem delimitada torna-se relevante para sua
elevação ao grau de fato noticioso; a falha, onde por falta de zelo, capacidade ou até mesmo
algo alheio ao agente, ocorre um resultado que não o pretendido; e a inversão, pois se espera
alguma atitude ou resultado que não ocorre conforme o previsto, mas sim muitas vezes no
sentido oposto do pretendido.
No entanto, os fatos noticiosos não se restringem os registros de notabilidade já esperados ou
pré-estabelecidos, mas também aos meta-acontecimentos. Os quais não são necessariamente
acontecimentos noticiáveis em sua essência, mas sim simulacros de acontecimentos que são
criados em cima de fatos reais para que somente assim atinjam o estatuto de algo noticiável.
Têm como objetivo explícito ganhar a mídia, a notoriedade, logo, ganhar importância como
algo que realmente tivesse rompido acidentalmente a ordem esperada do mundo natural.
Formam um discurso próprio do acontecimento. Surgem muitas vezes apoiados em um desses
11. 10
registros de notabilidade elencados acima, relevantes sim, no entanto perversos, pois motivam
a criação de um meta-acontecimento partindo desse registro, que se apóia em algo real para
adquirir uma visibilidade, que é o objetivo de um meta-acontecimento.
Como os meta-acontecimentos podem ser criados a qualquer momento, uma vez que se
apóiam em acontecimentos anteriores que quebraram com a ordem natural, não é possível
prever um meta-acontecimento. De acordo com Rodrigues (1999), é devido a essa
imprevisibilidade que se torna possível algo ser noticioso com base no querer-dizer, no saber-
dizer e no poder-dizer. Ou seja, um fato que não se restringe ao acontecido, mas sim em
fantasiar e criar um acontecimento com base em fatos reais, como é o caso dos meta-
acontecimentos, não têm nenhuma obrigatoriedade com a verdade nem tampouco com a
oportunidade. Não existe hora para que seja veiculado e difundido, basta ser um momento
propício para quem difunde.
Ao se relatar um acontecimento, pressupõe-se que esse seja relevante, com base nos critérios
de notabilidade. Por outro lado, a forma de transmitir esse acontecimento acompanha uma
adequação do discurso. Essa adequação ocorre não só por parte de quem oferece a
informação, como por quem a recebe. Partindo de quem está disposto a informar, a adequação
pode ser empregada meramente para facilitar a compreensão do assunto, mas também para
uma eliminação da multiplicidade de interpretações de quem vai receber a informação,
direcionando assim a compreensão do que se informa.
Segundo Rodrigues (1999), os acontecimentos não estão apenas sujeitos às avaliações de
verdadeiro ou falso, certo ou errado, mas também estão relacionados aos valores da
credibilidade de quem o produz e do contexto em que se emite essa notícia.
Concomitante ao relato do acontecimento pode advir diferentes formas de se abordar o
assunto e de se produzir uma notícia, sendo algumas mais relacionadas aos meta-
acontecimentos. Ou seja, com base no fato ocorrido e noticiável em sua essência, essas formas
de abordagem dão vida a outro fato noticioso, criam um meta-acontecimento com objetivo
diretamente voltado ao interesse de quem veicula essa notícia.
Até mesmo por precaução, orienta-se que quem produz a notícia deva se ater apenas a relatar
os fatos e não tender para nenhum ponto de vista, minimizando assim a parcialidade inerente
12. 11
ao ser humano. Orientação essa que não é inteiramente eficaz quando a fonte da informação,
sabendo dessa não interferência do repórter no fato narrado, tenta usar dessa imparcialidade
para que sua fala ou informação alcance o objetivo por ele pretendido nas entrelinhas. Utiliza-
se exatamente da não interpretação do jornalista para veicular o seu ponto de vista.
É claro que para amenizar essa talvez velada tendência ao relatar, existem diversos artifícios
utilizados pelos jornalistas, dentre eles o uso de interlocutores que comentem, ou expliquem o
acontecimento com um ponto de vista muitas vezes mais técnico, e aprofundado, porém de
acordo com a linha de pensamento do veículo em que se está.
A escolha dos termos, a ordem da sua apresentação, a selecção dos factos expostos
pressupõem inevitavelmente a existência de juízos de valor fundamentados em critérios
partilhados por uma comunidade de palavra com um conjunto de definições de critérios,
algumas equívocas, outras não equívocas, acerca das quais se exige o estabelecimento da
um acordo. (RODRIGUES, 1999, p.32)
Portanto, nos tempos atuais é necessário que se organizem os fatos existentes, traçando uma
trama compreensível para o ouvinte e que faça com que ele, apenas ele, tome partido de
determinada informação. Tornando-se assim um discurso unitário, ou seja, sem distorções ou
direcionamentos e que dessa forma contribua para o pensamento coletivo, uma vez que deixa
a cargo de quem absorve essa informação o juízo de valor a respeito.
2.2 A influência do jornalista
Os órgãos de informação lidam com acontecimentos, com fatos e por isso devem se manter o
mais fiéis possível ao que ocorreu. Com base nisso, Nelson Traquina (1999) diz em seu texto
As Notícias, que essa característica inseparável se consolidou na profissão em dois momentos
históricos distintos.
Inicialmente, o ato de informar foi dividido em fatos e opiniões, tendo como objetivo
aproximar-se o máximo possível da tão almejada imparcialidade. Separando assim os
acontecimentos propriamente ditos, das opiniões emitidas por jornalistas ou conhecedores do
assunto. Essa separação no jornalismo foi criada em 1856 por um correspondente da
Associated Press, a mais antiga agência de notícias norte-americana.
13. 12
Num segundo momento, já no século XX, surgiu o conceito de objetividade. No entanto, este
conceito, ao contrário do que se pensa, não é apenas reproduzir o fato como ele aparece. Pelo
contrário, segundo Traquina (1999), com o surgimento das relações públicas e da propaganda
largamente utilizada na Primeira Guerra Mundial, tornou-se necessário que se colocasse em
dúvida todos os fatos, para que somente assim, questionando o que nos é mostrado, fosse
possível se chegar a eles sem dúvida de sua veracidade, sem interferências nem manipulações.
Traquina (1999) diz ainda que para transformar um acontecimento em notícia, os jornalistas
se vêem presos a narrativas já existentes, o que parece uma falta de criatividade, mas na
verdade se trata de uma imposição velada do fator tempo. Isso se dá em virtude do chamado
dead-line, ou seja, um horário estabelecido previamente para que as matérias estejam prontas
para serem veiculadas. Para que se atenda a essa exigência temporal já existem formatos pré-
estabelecidos em quase todas as redações. Por fim, essas narrativas, por estarem já dentro dos
padrões estabelecidos pelo veículo, acabam sendo escolhidas com base em pontos de vista do
jornalista sobre o assunto, e não da realidade do fato com todos os seus detalhes, indo contra o
que espera do ato de informar.
A escolha de um acontecimento digno de ser transformado em notícia não pode ser analisada
sem que se tenha em mente a imagem do jornalista inserido em uma organização, a qual não
apenas o orienta como o induz a noticiar algo que lhes é conveniente e da forma que lhes é
interessante, chamada de política editorial da empresa.
Em muitos casos, a empresa já possui fontes de informação fixas em diversos pontos de seu
interesse, como em setores governamentais, empresariais, e esportivos que lhe alimentam com
informações base para as matérias. Por vezes a cumplicidade existente entre essas fontes e os
editores do veículo é tão grande que as notícias para serem publicadas dispensam apreciação
dos editores.
Contudo, Traquina (1999) acredita que ainda exista a preocupação com a não revelação das
fontes, pois, uma vez que se encontre uma fonte confiável, que lhe alimente de informações
verídicas e sem distorções, um compromisso de não revelar quem está auxiliando o jornalista
deixa a fonte mais tranqüila para continuar informando sem medo. Por isso é preciso ter
sempre várias formas de acesso à informação, tanto oficiais como paralelas. Dessa forma o
veículo não fica nas mãos das mesmas fontes, já que uma hora se estabelecerá o vínculo de
14. 13
amizade e cumplicidade entre a fonte e a empresa de comunicação ou o jornalista, o qual
mesmo que sutilmente, influenciará no ato de informar.
O fazer jornalístico norteia-se baseado pelo fator tempo, em todos os sentidos. Com isso, é
interessante salientarmos que o noticiável se restringe basicamente ao atual, e quando não o é,
tem como gancho o dia de hoje. Isso quer dizer que se utiliza de algum fato já acontecido para
contextualizar o acontecimento de hoje, como por exemplo, quando se comemora ou se
lembra um acontecimento que se deu no mesmo dia de hoje, só que 5 anos atrás. Isso mostra
que a relação com ao atual tem que existir sempre, nem que seja apenas para servir de cabide
para uma notícia passada.
Outro aspecto importante levantado por Traquina (1999) é que das seis perguntas habituais do
lead, quem? o quê? quando? onde? por quê? como? , as duas que não são tão factuais e
necessitam de uma explicação mais aprofundada (como? por quê?) são exatamente as que o
leitor mais quer ver respondidas na notícia. No entanto, o fator tempo dificilmente possibilita
que essas respostas sejam dadas em uma só matéria. Seja em virtude do horário de
fechamento de um jornal, como também pelo tempo que demanda uma pesquisa mais
aprofundada sobre determinado assunto. Fatores esses diretamente relacionados à restrição
que o tempo causa no jornalismo.
O jornalismo interpretativo surgiu diante da dificuldade enfrentada pelos jornais impressos de
fazerem frente à televisão e suas tecnologias, tendo em vista que a matéria televisiva não é
somente dita, mas também mostrada, e também para responder essas perguntas que faltavam
ser respondidas. Trata-se de uma forma de jornalismo que mostra os antecedentes dos
acontecimentos a fim de contextualizar o fato ao mesmo tempo em que se aprofunda mais na
matéria. Posto assim, as ocorrências devem ser projetadas jornalisticamente de forma a que o
leitor conheça os antecedentes e as conseqüências possíveis do fato.
Este novo formato jornalístico se atreve até mesmo a ensinar, e oferecer uma interpretação, a
mais ampla possível, levando ao conhecimento de todos os níveis sociais matérias complexas
como de economia, política e internacional, além de deixar claro que não existem fatos
isolados, sem desdobramentos passados ou futuros, valorizando assim a opinião pública.
15. 14
Com isso, os jornais impressos não ficaram apenas mais bem paginados, mas passaram a
organizar seu conteúdo dando à informação um aspecto mais profundo e permanente,
avançando em relação às seis questões primárias de Kipling (Quem? Quê? Quando? Onde?
Por quê? Como?) uma vez que a televisão já satisfazia às iniciais. Erbolato (1991) relata que:
Hoje, novos esquemas são adotados. O recurso foi o de dar ao leitor reportagens que sejam
complemento do que foi ouvido no rádio e na televisão. Adotou-se, para isso, a pesquisa,
tendo como fonte os arquivos dos jornais e as bibliotecas e, ao lado deles, a obtida através
da movimentação de equipes de repórteres, que coliguem dados secundários ou que
ocorreram concomitantemente com o fato principal. (ERBOLATO, 1991, p.33-31)
Para Borelli e Priolli (2000), a televisão e o rádio não podem competir em profundidade,
dramaticidade e busca de antecedentes de um fato com qualquer boa reportagem escrita.
Gastaria horas no ar, e não conseguiria patrocínio para uma transmissão tão demorada. Além
do que qualquer informativo de televisão morre pouco depois de projetado, e nos jornais não,
as histórias continuarão despertando interesse enquanto não forem jogados fora.
Contudo, importante mencionar que alguns jornalistas ainda confundem a interpretação com a
opinião, o que são pontos bem distintos, tanto que são tidos como formatos diferentes de
jornalismo. No primeiro, o jornalismo interpretativo, o objetivo é apenas obter um histórico
relacionado com o acontecimento a fim de situá-lo no tempo e na sociedade, enquanto o
jornalismo opinativo é utilizado pelos editoriais das empresas de comunicação a fim de
exporem suas idéias e valores para o público.
Para que essa confusão inaceitável não ocorra, alguns jornais não admitem que seus
jornalistas sejam especialistas em assuntos dos quais produzem matérias, pois acreditam que
assim afastam o risco de uma opinião pessoal na notícia.
Erbolato (1991) acredita em uma crise que atinge a imprensa diária em nosso país, a qual está
no descompasso entre o nível cultural dos seus produtores e o nível cultural do mercado
consumidor. Para ele, a linguagem dos jornais é uma linguagem elevada e inacessível ao
grande público. A falta de compreensão por parte do público pode criar desinteresse pelas
notícias. Essa crise é notada ao vermos pessoas de renda baixíssima comprometendo seu
sustento familiar para adquirir um televisor em diversas parcelas, pois acredita ser uma forma
mais fácil de conseguir informação e diversão ao mesmo tempo.
16. 15
O homem tem necessidade de se informar para ser considerado plenamente um cidadão,
variando apenas os assuntos pelos quais se interessa. No entanto, a forma com que vai ter
acesso a essa informação depende muito do tempo que dispõe e de suas condições financeiras.
Em alguns casos em que a renda é muito baixa, a assinatura de um matutino pode representar
um terço da renda familiar, além de demandar um maior tempo de entrega à leitura e
compreensão das matérias em comparação com a notícia ouvida no rádio ou vista no vídeo,
que pode ser assimilada sem qualquer esforço específico e de forma mais cômoda.
A análise feita por Colombo (1998) levanta outro aspecto interessante, em que questiona por
que existem algumas notícias capazes de circularem em um determinado grupo, em um
determinado público, e a resposta a essa pergunta se baseia na função da notícia.
Erbolato (1991) entende que a notícia não passa de um produto, e sendo assim, não seria útil
aos produtores desta notícia lançar no mercado algo que não é popular ou da preferência da
cultura dominante. Com base nisso é que surgem jornalistas que só buscam matérias sobre
determinados assuntos, e as veicula até o momento em que se aprofunda a discussão a
respeito, o que já não é mais interessante do ponto de vista comercial. Ou seja, escolhe-se
algum tema que dê audiência ou aumente a vendagem de exemplares e o explora até o
momento em que o assunto não é mais visto superficialmente. Neste momento se procura
outra notícia semelhante à primeira, e a explora novamente de forma superficial, pois
aprofundando o assunto restringirá o número de interessados somente a quem tem capacidade
para analisá-lo a fundo.
Essa busca pela matéria superficial se dá em virtude da guerra por audiência, vendagem,
ouvintes etc. por parte dos veículos de comunicação em massa. Os quais não se interessam
por um nicho mais especializado em determinado assunto, mas sim em algo genérico e que
tenha aceitação em quase todos os públicos, gerando assim maior lucro à empresa.
Importante também citar alguns pontos que influenciam diretamente na veracidade dos fatos,
como o número de passagens intermediárias por quem essa informação se submeteu até ser
publicada. O número de vezes que uma notícia é veiculada demonstra diretamente o valor
dessa notícia para a sociedade, no entanto, se for retransmitida, muito provavelmente irá se
desvirtuar da realidade, pois cada pessoa terá uma versão sobre o fato.
17. 16
Colombo (1998) identifica duas outras formas de se gerar uma notícia. São elas: a invenção e
a desinformação. Sendo a primeira, a invenção, criada com o intuito de ser descoberta, porém
a notícia inventada nem mesmo o desmentido é tido como verdade, o que fica é a primeira
versão. E a segunda forma é a desinformação, onde se cita fatos verdadeiros que
posteriormente se desenrolam para a criação, a invenção. E acabam por serem tidos como
verdade devido ao surgimento baseado em algo real.
2.3 Dividir para absorver melhor
Dentro de um veículo jornalístico, independente da mídia utilizada, os assuntos são divididos
em editorias nas quais um editor responsável orienta a produção jornalística. Segundo
Erbolato (1991), existem algumas editorias que são permanentes em diversos jornais, entre
elas: Esporte, Política, Internacional, Saúde e Educação. No entanto, pode ocorrer de alguns
nomes utilizados não serem exatamente esses, ou um assunto transitório tomar o lugar de
determinada editoria como: Eleições, Visita do Papa, dentre outros. De modo geral, no
entanto, os jornais veiculam matérias sobre esses assuntos.
Em jornais diários, as editorias podem ser organizadas em Cadernos e Suplementos, que são
fascículos de encadernação separada incluídos no conjunto publicado e de periodicidade
predeterminada.
Quanto à necessidade da existência das editorias, Jorge (2008) diz em seu livro que:
Uma experiência de repórteres sem vinculação com editorias foi tentada, tempos atrás, pelo
Correio Braziliense. O processo tem seus prós e seus contras. Para os editores, é sempre
bom saber que poderão dispor de repórteres a qualquer tempo. E não haverá na redação
profissionais parados à espera de pauta. Do ponto de vista do repórter, o excesso de
generalização impede uma relação íntima com as fontes. Com isso, se perde a oportunidade
de, como dizem os veteranos, educar a fonte, ou seja, conversar, explicar, burilar, quebrar
as resistências dos informantes e levá-los a identificar a notícia que interessa. (JORGE,
2008, p.81)
A política editorial do jornal é que direciona o espaço que determinada editoria terá no
veículo. Diversos critérios podem ser utilizados para essa escolha, como o volume de
informações que a redação recebe de determinado assunto, a influência direta de determinado
assunto nos leitores, telespectadores ou ouvintes do jornal, ou também o desdobramento de
algum acontecimento que se mostrou importante para a sociedade.
18. 17
Em virtude da complexidade de compreensão por parte do público em geral de algumas
editorias, os jornais optam muitas vezes por abrir espaço dentro da editoria para especialistas
comentarem os fatos, emitindo análises, opiniões e críticas, atitude essa que o jornalista não
pode ter. Normalmente isso ocorre nas editorias de política, economia e esportes.
Sendo assim, não se pode pensar em um telejornal, da mídia que for, sem editorias separadas
que tratem de assuntos específicos. Tanto do ponto de vista estético e organizacional do jornal
como da compreensão de quem consome essa informação, é primordial que assuntos sejam
agrupados em categorias que mostrem uma afinidade e a te mesmo uma relação uns com os
outros. Facilitando dessa forma a consulta e assimilação da informação.
19. 18
3 A CHEGADA DA TELEVISÃO
3.1 Televisão no Brasil
Brasil (2005) e Paternostro (1999) afirmam que a primeira transmissão experimental da
televisão brasileira ocorreu no dia 10 de setembro de 1950, quando foi exibido um filme no
qual Getúlio Vargas fala sobre o seu retorno à vida pública. Já a inauguração oficial da
primeira emissora de TV no país se deu em 18 de setembro de 1950 quando entrou no ar a
PRF-3 TV Difusora. Chamada logo em seguida de TV Tupi de São Paulo, canal 3, sendo
então a emissora pioneira da América Latina.
Os estúdios instalados no Palácio do Rádio, em São Paulo, foram cenário do primeiro
programa da televisão brasileira no dia 18 de setembro de 1950, transmitido pela PRF-3 TV
Difusora. Cassiano Gabus Mendes dirigiu um show, com artistas de sucesso, que tinha sido
criado e escrito por Dermival Costa Lima, diretor artístico. (PATERNOSTRO, 1999, p.29)
A Televisão chegou ao Brasil por intermédio do jornalista Francisco de Assis Chateaubriand
Bandeira de Melo, e já no dia seguinte à instalação da primeira emissora brasileira, a paulista
TV Tupi Difusora, foi ao ar com um programa de caráter jornalístico que se chamava Imagens
do Dia, com texto e reportagem de Rui Rezende e cinegrafia de Paulo Salomio. O jornal ficou
no ar por aproximadamente dois anos sendo que sua estréia ocorreu em 19 de setembro de
1950 indo ao ar entre as 21h30 e 22h.
Segundo Paternostro (1999), o formato do jornal era simples. As locuções eram feitas em
modelo off 1, da mesma forma que era utilizado no rádio, pois ainda não se tinha um
parâmetro para a televisão. Privilegiava-se a expressão verbal, explorando de forma
rudimentar os recursos visuais do novo veículo de comunicação.
Assis Chateaubriand foi proprietário do primeiro império de comunicação do país, por chegar
a ter trinta e seis emissoras de rádio, trinta e quatro jornais e dezoito canais de televisão: além
de incorporar vários jornais (Diário da Noite, Diário de São Paulo), revistas (O Cruzeiro) e
1
Forma reduzida de off the records, ou seja, o que não é gravado pelo repórter. Usado quando a fonte não quer
aparecer, informação de bastidor. Na TV, voz em off é o comentário em que o repórter não é enquadrado pela
câmera.
20. 19
emissoras de rádio (Rádio Tupi). Graças à ousadia dele o Brasil foi o quarto país do mundo a
possuir uma emissora de televisão.
Segundo Brasil (2005), Chateaubriand gastou 5 milhões de dólares para importar
equipamentos dos Estados Unidos para o Brasil. Mas como o brasileiro não tinha o televisor
para receber o sinal e os valores destes equipamentos eram muito altos na época,
Chateaubriand contrabandeou 200 aparelhos receptores de TV e os espalhou por São Paulo e
Rio de Janeiro para que algumas pessoas pudessem assistir às transmissões que se iniciavam e
assim despertar um interesse inicial.
3.2 O surgimento da Globo
A discussão levantada pelas estudiosas Marialva Barbosa e Ana Paula Goulart Ribeiro (2005),
ao produzirem o artigo Telejornalismo na Globo: vestígios, narrativa e temporalidade, não
tem a pretensão de esgotar a história do telejornalismo na Rede Globo de televisão, mas
recuperar aspectos particulares da trajetória do telejornalismo brasileiro.
Desde a fundação da Globo em 26 de abril de 1965, a emissora apresenta telejornais em sua
programação. Inicialmente com o Tele Globo, com duração de meia-hora, sendo exibidas uma
edição às 12h. e outra às 19h45. Já no ano seguinte, surgiram mais dois telejornais, o
Ultranotícias, que ocupou a segunda edição do Tele Globo, com uma edição de 15 minutos,
iniciando às 19h45. E o Jornal da Semana, que foi o primeiro jornal televisivo da Globo em
um horário mais avançado, exibido às segundas-feiras às 23h.
No entanto, o telejornal mais importante dessa época foi o Jornal da Vanguarda, um
programa que já havia sido exibido em outras emissoras como TV Excelsior e TV Tupi, que
ao chegar à Globo, em abril de 1966, trouxe uma outra linguagem jornalística, mais coloquial.
Foi exatamente nessa época que o jornalismo da Rede Globo passou por suas maiores
mudanças. Com a chegada de Armando Nogueira na direção de jornalismo da emissora, o
telejornal Ultranotícias deu lugar ao Jornal da Globo também exibido às 19h45, programa
esse que ficou no ar até 31 de agosto de 1969. Nessa data surgiu o Jornal Nacional,
considerado o principal jornal televisivo do Brasil de todos os tempos em virtude se sua
abrangêcia nacional e por ser o pioneiro nas transmissões ao vivo para todo o país.
21. 20
Fica evidente a importância do jornalismo na Rede Globo de Televisão ao se perceber que foi
exatamente o Jornal Nacional o escolhido para iniciar as transmissões simultâneas da Globo
para o Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Curitiba. Por se tratar de uma época voltada
para a valorização do patriotismo, em face ao regime militar, o telejornalismo viu-se obrigado
a adequar sua linguagem para que pudesse permanecer no ar.
Segundo Barbosa e Ribeiro (2005), o discurso jornalístico tomou proporções políticas muito
fortes, pois se tornou o principal meio garantidor da homogeneidade pretendida pelo projeto
de integração nacional dos militares. Ao transmitir a mesma informação para vários lugares
do país, garantir o imediatismo através de falas dos próprios entrevistados e não apenas dos
apresentadores e possibilitar que em determinado horário a população soubesse o que de mais
importante aconteceu no país, assumiu uma importante postura frente à política e à sociedade.
A década de 1970 foi marcada pela expansão da Rede Globo, tanto pela sua ampliação de
2
cobertura como pela adoção das transmissões a cores, a utilização do teleprompter e o
surgimento de novos telejornais, por exemplo: o Jornal Hoje (1971), o Globo Repórter e o
Fantástico (1972), o Bom Dia São Paulo e o Jornal da Globo (1979) e o Bom Dia Brasil e o
Globo Rural (1980).
Barbosa e Ribeiro (2005) argumentam que essas inovações concretizam a narrativa pretendida
pelo telejornalismo da Globo, pois trazem a veracidade e a espontaneidade para o
telespectador. O apresentador passa a “falar” com o telespectador, e não mais ler as notícias.
Assim como as notícias a cores transportam os fatos para os olhos dos brasileiros como se
eles próprios estivessem no local do acontecimento.
Deve-se mencionar também que nessa época foram inaugurados os escritórios internacionais
da Rede Globo em Nova York, em Londres, em Paris, na Colômbia e em Washington. Tal
medida deu uma maior credibilidade para o telejornalismo, além de uma impressão de
onipresença à emissora, pois transmitia imagens dos repórteres brasileiros diretamente dos
países e não mais apenas o apresentador lendo reportagens internacionais.
2
Um teleprompter ou teleponto é um equipamento acoplado às câmeras filmadoras que exibe o texto a ser lido
pelo apresentador.
22. 21
Segundo Borelli e Priolli (2000), já em 1987, a Rede Globo atingiu uma receita estimada de
500 milhões de dólares e um valor patrimonial de 1 bilhão de dólares, o que a colocava como
a quarta maior rede privada do mundo. No fim década de 1980, a Globo cobria 99 % do
território nacional.
Barbosa e Ribeiro (2005) informam que surgiu, então, a figura do comentarista nas
transmissões televisivas. Jornalistas especializados em temas como política e economia
passaram a contextualizar os acontecimentos de uma forma mais compreensível para o
público. A partir de 1992 foi adotada a utilização de desenhos e de conversas diretas entre os
repórteres, sem a intermediação dos apresentadores, mudando, assim, a estética dos
telejornais.
Segundo Zahar (2004), nessa época também ocorreu uma mudança importante na direção da
Central Globo de Jornalismo. A saída dos diretores Armando Nogueira e Alice-Maria de seus
cargos, responsáveis pelo Jornal Nacional desde sua estréia, após 24 anos de emissora. O que
acabou diminuindo o peso dos temas políticos nos telejornais da emissora, voltando-se para o
contato com a população através de um jornalismo mais investigativo e de prestação de
serviços.
Os telejornais passaram a ser apresentados por jornalistas e não mais por locutores, o que dá
uma maior maleabilidade ao apresentador que passa a ser alguém capacitado para fazer
interferências nas matérias em pleno ar.
Zahar (2004) afirma que com essas inúmeras mudanças, o jornalismo televisivo começou a
não mais ser visto como uma forma de reunir a família em torno de um televisor na sala, mas
sim diversas formas de se transmitir uma notícia, possibilitando que o telespectador assista ao
telejornal de qualquer lugar de sua casa e compreenda perfeitamente o que se quer informar.
Hoje em dia, o fazer jornalismo requer uma análise muito mais aprofundada que antes. É
necessário delimitar qual será o público desejado, e utilizar de diversos recursos existentes
para obter audiência e consequentemente longevidade no ar.
23. 22
3.3 Assim se faz telejornalismo
Uma das funções do telejornalismo, além de informar, é entreter o telespectador, é divulgar as
notícias com um tom melodramático, criando personagens que fazem parte da história, que
relacionem o telespectador à notícia.
Segundo Bucci (1997), o telejornal é composto por uma mistura de distintas fontes de
imagens e sons, como gravações em fita, filmes, material de arquivo, fotografia, gráficos,
mapas, textos, além de locução, música e ruídos.
O principal artifício da notícia televisiva é a imagem: se não há uma imagem impactante, o
que é um grande acontecimento pode se transformar em apenas uma nota comentada pelo
apresentador, sem chamar a atenção do telespectador. A utilização de imagens se tornou tão
essencial que não se importa mais com a qualidade obrigatória da imagem que existia no
início das transmissões televisivas, podendo hoje até mesmo ser utilizada filmagem de celular
nos telejornais, desde que seja um fato inusitado que somente daquela forma seja possível ser
noticiado, tanto pela oportunidade como pela unicidade.
O apresentador também é um elemento importante para o sucesso de um telejornal. Bucci
(1997) afirma que ele desenvolve um vínculo afetivo com o público, como se fosse um ídolo,
um astro de cinema. No Brasil, o telejornalismo tem todos os ingredientes de uma ficção: tem
suspense, lição de moral, mocinhos e bandidos, além do papel de mediador, desempenhado
geralmente pelo âncora.
Apenas a figura carismática do apresentador não é suficiente. Arlindo Machado (2003) afirma
que as tomadas em primeiro plano enfocando pessoas que falam diretamente para a câmera
(stand up), sejam elas jornalistas, protagonistas, âncoras, correspondentes, repórteres ou
entrevistados, também são características fundamentais de um telejornal. Machado (2003) diz
ainda que é imprescindível para um telejornal que a notícia venha na maioria das vezes
personalizada, através de legendas que especificam quem fala, qual a sua função, e, às vezes,
também de onde se fala.
Mesmo com todos os recursos, é necessário saber que por mais que se queira ou se possa
manipular as informações, elas chegam aos telespectadores ainda não inteiramente
24. 23
processadas. Esse fluxo de informações jornalísticas é classificado por Machado (2003) como
uma sucessão de versões do mesmo acontecimento. Por mais que o telejornal seja acusado de
maniqueísmo ou comprometimento, ele turva qualquer perspectiva clara dos acontecimentos.
Há certa tendência de chamar de tradicional ou convencional o telejornalismo de tipo
polifônico, onde as notícias é resultado de uma relação entre múltiplas vozes. E chamar de
moderno ou pós-moderno, o jornalismo de tipo opinativo, que se qualifica pela forte
personalização do apresentador, que existe desde os primórdios da televisão.
Para Arlindo Machado (2003), do ponto de vista de seus efeitos, ambos os modelos de
telejornal têm as suas virtudes e os seus problemas. Um telejornal opinativo pode ser
preferível, uma vez que exerce uma influência mais ativa junto à opinião pública e produz
uma mobilização real, deixa entrever mais abertamente seus compromissos, em lugar de
esconder o seu ponto de vista sob a máscara de uma pretensa neutralidade.
3.4 Adequando a linguagem
Rezende (2000) discute a procura por um código lingüístico que se adeqüe à audiência de
determinado telejornal, fazendo com que a notícia seja mais bem compreendida pelo
espectador. Partindo desse problema, chega-se à conclusão que a oralidade é o processo mais
adequado para o meio televisivo.
Segundo Rezende (2000) a relação estabelecida entre o falante e o ouvinte, caracterizada pela
cumplicidade, não esgota a necessidade de adaptação dessa fala para o meio televisivo. É
necessária a utilização de recursos não-verbais para o êxito na comunicação, como gestos,
expressões faciais, entonação da voz, pausas e hesitações na fala; o que, por inúmeras vezes,
torna-se mais importante que um uso irretocável das normas gramaticais, e dão a tão esperada
função fática do discurso televisivo, que nada mais é que uma forma de atrair a atenção do
espectador.
Para Rezende (2000), a elaboração da oralidade televisiva requer um estudo aprofundado da
própria sociedade brasileira, pois é, com base nas formas pessoais existentes no dia-a-dia, que
torna uma comunicação eficaz por meio da televisão. E com base nesses estudos e
25. 24
observações que se justifica o uso de uma linguagem coloquial, uma vez que é assim que se
faz a comunicação na cultura brasileira.
É importante analisar qual é o público que se pretende atingir, para que esse linguajar seja
direcionado, evitando que o telespectador não compreenda a notícia. Dessa forma se evita o
uso de uma linguagem muito diferenciada da que o público utiliza habitualmente. Rezende
(2000) recomenda aos redatores de rádio e televisão que se inspirem no linguajar da rua para
transmitir uma mensagem a seus emissores primários, de forma que eles o reconheçam como
seu.
Erbolato (1991) alinha-se a esse pensamento de Rezende (2000), uma vez que entende a falta
de compreensão por parte de um telespectador devido a vocábulos inadequados e muito
complexos utilizados pelo jornalista como o principal problema de desinteresse pelas notícias.
Confrontando o coloquial à norma culta da língua portuguesa, encontramos o que seria a
linguagem jornalística. Não com o intuito de criar uma nova forma de linguagem, mas sim
conciliando o domínio da língua e a improvisação. Para Erbolato (1991), esse domínio
propicia ao jornalista oferecer uma notícia-produto muito mais direta, que atenda às
necessidades de seu consumidor, o qual muitas vezes restringido pela falta de tempo para se
informar, prefere notícias mais curtas e objetivas.
Segundo Rezende (2000), com base em uma linha editorial escolhida e um tipo de
telespectador esperado, cada empresa de comunicação estabelece orientações a serem
seguidas por seus jornalistas com o intuito de melhor atingir esse público. No entanto,
algumas empresas pecam por padronizar seus jornalistas, parecendo que é apenas uma pessoa
que escreve todas as matérias, afastando as características pessoais dos jornalistas.
A solução encontrada para isso é que se tenha profissionais capacitados para manejar a
linguagem a ponto de conciliar a responsabilidade ética à habilidade lingüística e criatividade
do jornalista. Deve-se lembrar de uma dica importantíssima que vem descrita no manual de
redação do jornal O Estado de S. Paulo: “A simplicidade é condição essencial do texto
jornalístico. Lembre-se que você escreve para todos os tipos de leitor e todos, sem exceção,
têm o direito de entender qualquer texto, seja ele político, econômico, internacional ou
urbanístico” (REZENDE, 2000,p.68).
26. 25
Para Rezende (2000), o imediatismo da televisão faz com que se produzam matérias mais
curtas, mais diretas e sem uma contextualização anterior, exatamente o contrário dos meios
impressos, caracterizados investigação ao produzir. Outro fator importante para a adoção
desse tipo de característica na televisão é o fato de que o telespectador possui apenas uma
chance de compreender a matéria veiculada, ao contrário do impresso onde ele pode voltar à
página e reler a notícia. Isso faz com que textos mais curtos tenham mais efeito sobre essa
compreensão do telespectador.
Em paralelo, a televisão possui o que a qualifica como o meio de comunicação mais
fascinante: a imagem. Essa possibilidade de exibir imagens dos fatos, e não somente
descrevê-los, faz com que a televisão assuma uma postura de predominância da imagem sobre
a fala propriamente dita.
Muito se discute sobre a necessidade ou não da imagem prevalecer sobre as outras formas de
comunicação na televisão. E mesmo assim, independente dessa prevalência, a televisão
preocupa-se com a escolha apropriada da linguagem a ser utilizada em conjunto com a
imagem. Procura-se sempre o perfeito casamento entre a imagem e a palavra para que se
obtenha o sucesso desejado, pois cada circunstância exige uma adequação diferente.
Rezende (2000) argumenta que a imagem possui a característica de permanecer mais tempo
na memória do telespectador do que a escrita ou o som. Por isso, é preciso que se economize
nas falas, somente utilizando-as para orientar o público na interpretação das imagens. Não
esquecendo que essas explicações devem ser bem diretas, evitando ambigüidade, pois a
informação só tem valor quando permite apenas uma significação.
A escolha das palavras mais curtas e de fácil compreensão, aliada a um ritmo de fala mais
lento que favoreça a concentração de quem assiste à televisão, permite até mesmo que se
repita palavras já ditas para uma melhor compreensão da notícia. Muitas vezes se tornando
redundante com a imagem, mas com o intuído de se reforçar a mensagem.
27. 26
3.5 O tripé jornalístico da Rede Globo
A tão comentada qualidade globo, ou padrão globo de qualidade teve início em 1968 a partir
da proposta de Walter Clark, então diretor-geral da TV Globo, de criar uma programação
baseada em um telejornal localizado entre duas novelas. Surgia assim o chamado Prime-Time
na Globo.
O prime-time utiliza-se das novelas das sete e das oito horas envolvendo o telejornal de
veiculação nacional mais assistido no país, o Jornal Nacional. Com isso, cria-se um hábito
por parte das famílias em ver televisão que acaba se transformando em fidelidade. Borelli e
Priolli (2000, p.85) dizem que “alguns acompanham à primeira telenovela, enquanto esperam
o telejornal e outros assistem ao telejornal, enquanto aguardam a próxima telenovela”.
Esse formato sanduíche como também é chamado o prime-time aliado ao aparecimento do
videoteipe no país, em meados da década de 1960, são considerados os elementos mais
significativos para o início da consolidação do padrão globo de qualidade e o monopólio de
audiência exercido pela Globo até o fim da década de 1980.
Outro aspecto bastante importante em todo esse processo levantado por Borelli e Priolli
(2000) é que além de se tornar o horário de vertiginosa ascendência nos índices de audiência
da Rede Globo, o formato prime-time criou o maior captador de verbas publicitárias da
televisão brasileira. O período entre o Jornal Nacional e a telenovela das oito horas é o espaço
de programação de maior prestígio do mercado publicitário e conseqüentemente os breaks
mais caros da televisão brasileira.
Apenas para uma exemplificação melhor de quanto é o custo em termos de comerciais no
prime-time, Borelli e Priolli (2000, p.23) apresentam os seguintes valores trabalhados em
1999: “o preço de 30 segundos de veiculação de comerciais no prime-time está calculado ao
redor de US$ 24 mil.”.
28. 27
3.6 O padrão Globo de qualidade
Iniciado na década de 1960 com o prime-time, e aliado a um padrão de produção, tecnologia e
uma proposta específica de trabalho, o padrão de qualidade da Rede Globo norteia até hoje
todas as demais televisões brasileiras.
O padrão de qualidade foi introduzido no Brasil através da parceria firmada entre a Rede
Globo e o grupo norte-americano Time Life. O grupo trazia ao país uma experiência
administrativa muito grande, e tinha como base que o corpo diretivo da emissora seria
centralizado e a atividade fim mais flexível. Com isso o produto da emissora seria tratado
como outro qualquer, independente do ramo, ou seja, tinha que gerar lucro.
Um dos principais responsáveis pela implementação desse modelo mais empresarial à Rede
Globo foi Walter Clark. Foi atribuído a ele o padrão globo de qualidade, o prime-time e o
reconhecimento da Rede Globo como uma televisão de alcance nacional. Vale destacar como
idéia de Clark a venda de horários comerciais no intervalo das novelas e do Jornal Nacional,
o que serviu mais tarde para financiar boa parte do padrão globo de qualidade.
Borelli e Priolli (2000, p.80) evidenciam a importância de Walter Clark ao dizer que:
“Quando assumiu o cargo de diretor geral, em 1965, a Globo tinha uma média de 9% da
audiência; quando saiu, em 1977, os índices chegavam a 80 pontos.”.
Outro ponto interessante e presente no padrão globo de qualidade é a horizontalidade e
verticalidade na organização da programação. A horizontalidade trata-se da alocação de
programas ao longo de uma semana ou um mês nos mesmos horários, e a verticalidade a
alocação também de programas só que nas seqüências diárias. Sendo repetida semana a
semana, mês a mês.
Para Borelli e Priolli (2000), foi isso que fez com que o espectador criasse o hábito de assistir
televisão, muitas vezes relacionando seus afazeres diários a programas que lhe interessassem.
Surgindo nessa época também uma íntima relação com o sucesso das telenovelas.
Um ponto importantíssimo a ser destacado nesse processo de implementação do padrão globo
de qualidade é a preocupação permanente com a qualificação técnica não somente dos
29. 28
equipamentos como do pessoal empregado. Baseada no envio de funcionários aos Estados
Unidos para que treinassem o modelo americano de fazer TV.
Essa atualização tecnológica buscada pela Rede Globo, também era presente na TV Tupi no
final da década de 1960, no entanto não foi administrada da mesma forma profissional com
que foi na Rede Globo.
Na Globo, por outro lado, com o aproveitamento do know-how empresarial trazido pela
parceria com o grupo Time Life, nada era deixado ao acaso. Estratégias de curto e médio
alcance eram traçadas e seguidas. Investindo num programação mais popular e evitando um
confronto direto com outras emissoras no horário nobre da TV Globo, em seus primeiros
anos, foi lentamente construindo sua liderança, inicialmente no Rio de Janeiro e pouco
depois em São Paulo. (BORELLI; PRIOLLI, 2000, p.83)
Daí em diante, a qualificação técnica e a tecnologia de ponta sempre utilizada pela Rede
Globo contribuíram para torná-la a maior e mais importante emissora do país. Essa
atualização sempre presente é evidente ao lembrarmos que a TV Globo contava com o
videoteipe desde sua fundação, o que foi fundamental para esse ajuste qualitativo na
programação, pois possibilitava fugir dos imprevistos comuns em transmissões ao vivo.
A preocupação com a qualidade atravessou as barreiras tecnológicas dos equipamentos e
chegou até o núcleo de dramaturgia e de cenografia. Atores e autores de grande experiência
no teatro e cinema foram contratados e cidades cenográficas foram construídas para dar um
realismo nunca antes visto na TV brasileira. E deu certo, tanto que até hoje o acervo de
figurino e objetos cenográficos da Rede Globo é o maior da América do Sul.
Percebe-se que o padrão globo de qualidade foi sendo construído através de diversas ações
que juntas alcançaram a eficiência copiada até hoje. Uma delas está diretamente relacionada à
intervenção política no regime militar. Foi uma guinada no público alvo dos programas, assim
como pretendia o governo, e que tinha como objetivo acabar com o que o governo classificou
de baixo nível cultural das emissoras.
Um modelo produtivo e gerencial eficiente, já testado nos Estados Unidos, centralização no
comando e no cumprimento de metas previamente traçadas, um forte esquema comercial,
produção otimizada, tecnologia de ponta, construção de uma programação homogênea e
voltada para um público médio: aí estão alguns elementos importantes para a construção do
padrão de qualidade da TV Globo, ainda na década de 70. Soma-se a isso um resultado, um
produto visual revestido por uma tecnologia que possibilitava uma imagem nítida, e uma
proposta estética limpa. Limpa de improvisos, limpa de mau gosto, limpa de qualquer tipo
de ruído tanto estético quanto político.(BORELLI; PRIOLLI, 2000, p.86)
30. 29
Com isso, fechava-se uma fórmula de sucesso inegável que é copiado até hoje por outras
emissoras e que ainda mantém a Rede Globo de televisão líder absoluta do mercado, mesmo
diante da crescente queda de audiência que enfrenta.
3.7 A perda da hegemonia
Silvia Helena Simões Borelli e Gabriel Priolli (2000), em A Deusa Ferida: porque a globo
não é mais a campeã absoluta de audiência, fazem um estudo aprofundado sobre o declínio
da audiência da Rede Globo de Televisão nas últimas três décadas. O objetivo desse estudo
foi obter, de forma técnica e com base nos números da década de 1990, uma resposta sobre os
motivos desse declínio, afastando as repetidas insinuações e opiniões que surgem na mídia
sobre o fato.
O estudo apresenta conclusões importantes como a constatação que a emissora realmente vem
perdendo audiência ao longo dos anos, e ao contrário do que se pensava, não é apenas para
uma concorrente. Fato esse que ainda não foi capaz de fazer com que a Rede Globo fosse
ultrapassada por qualquer outra emissora e nem que se vislumbre o momento futuro em que
será ultrapassada, ou mesmo se isso acontecerá.
Borelli e Priolli (2000) apresentam a criação de novas emissoras abertas e o surgimento das
televisões pagas como alguns fatores que contribuíram para a perda de espaço da antiga
gigante platinada, como era chamada a Rede Globo de Televisão na década de 1970. Outro
dado importante é a porcentagem de queda da audiência da emissora nos anos entre 1987 e
1997, que passou de uma média anual de 53,5% para 37%, isso quer dizer perda de 16,5% de
pontos percentuais em uma década, o que equivale a três vezes a audiência da Rede
Bandeirantes de Televisão.
Os dados foram coletados por Borelli e Priolli (2000) antes do sucesso da novela Terra
Nostra, fazendo com que o impacto do folhetim não fosse analisado no estudo, o que não
invalida duas constatações: a tendência de queda na audiência da Globo e a crise no gênero
telenovela. Mesmo com uma possível inversão na curva descendente da audiência, os índices
das telenovelas da Rede Globo estão aquém dos estratosféricos alcançados por Pecado
Capital e O Astro, ambas na década de 1970.
31. 30
Com relação às telenovelas torna-se possível a indicação de algumas tendências: há claros
indícios de que o espaço reservado à veiculação de telenovelas, passa por uma crise de
audiência, nos últimos anos. E isso, obviamente, afeta não só o lócus a elas reservado, mas
também a situação específica do Jornal Nacional e, conseqüentemente, o contexto mais
geral do prime-time. Se antes era possível falar da Globo como detentora de um quase-
monopólio da audiência no campo televisual brasileiro – e as telenovelas sempre foram as
grandes responsáveis por esta confortável situação - , este não parece ser mais o quadro,
neste final de milênio. (BORELLI; PRIOLLI, 2000, p.162-163)
Quanto a essa atual perda de audiência enfrentada pela Rede Globo, Hoineff (1996) acredita
que após 40 anos de uma característica genérica de programação e massificante nas notícias, a
solução é que as programações tornem-se voltadas a segmentos isolados que se interessam por
cada oferta específica de programação, cada nicho de assunto.
Essa mudança no modo de se fazer televisão é caracterizada pelo foco dado agora no
indivíduo, na vontade singular e não mais coletiva como antigamente. Por isso o surgimento
de canais temáticos que atendam a determinados públicos, mais comuns na televisão paga.
Segundo Hoineff (1996), é evidente que o país chegou atrasado à era da televisão por
assinatura em virtude de diversos fatores enraizados na nossa sociedade. Circunstâncias como
a má distribuição de renda, o concentracionismo da teledifusão, baixo nível educacional da
população, alta qualidade da teledramaturgia nacional, prolongado período de regime
totalitário nas décadas de 1960 e 1970 são alguns dos fatores que contribuíram para essa
demora na aceitação de outra forma de televisão que desde a década de 1980 já é aceita em
outros países.
Borelli e Priolli (2000) levantam o problema da pirataria de sinal enfrentado no país para a
implantação da TV paga, onde domicílios têm acesso à programação por meio de ligações
clandestinas sem pagar a mensalidade para tal.
Segundo estimativa das operadoras, no final dos anos 90, perto de 150 mil brasileiros
pirateavam os sinais de TV paga. Isso equivaleria, aproximadamente, a 6% do número total
de assinantes e representaria uma perda anual de cerca de R$ 90 milhões, mais do que o
faturamento com a publicidade do setor, com cifras estimadas ao redor de R$ 70 milhões.
(BORELLI; PRIOLLI, 2000, p. 135)
Em meio a interesses estatais e particulares pelo controle deste veículo, devido às suas
características diretamente ligadas ao poder, surge a nova televisão. E surge baseada em
32. 31
novos mecanismos de distribuição de sinais como o cabo, a transmissão direta via satélite, a
fibra-ótica etc., que cria condições para uma diluição desse poder centralizado, uma
autonomia e um afastamento definitivo da obediência cega que a mídia exigia do espectador.
Todos esses novos sinais e formas de difusão da televisão criam não somente um aumento na
quantidade de canais, mas principalmente na qualidade das programações. Surge assim uma
televisão mais segmentada voltada para um público alvo mais definido e diferenciada do
modelo antigo em termos de sustentabilidade da programação.
Esta televisão inaugura também mecanismos diferenciados de comercialização: o que ela
vende, prioritariamente, não são os anúncios que interrompem a programação ou tomam
carona no meio dela. O que ela vende é a própria programação – e ainda por cima
diretamente para o telespectador -, o que cria uma nova situação ética e revela o absurdo de
um sistema aceito durante tanto tempo, no qual o produto a ser vendido era simplesmente
escamoteado. Se quem paga – pelo menos diretamente – não é o espectador, pouco importa
que a eles sejam dadas caixas pretas, desde que isso possa ser de interesse de quem as dê,
de quem está vinculando programação. A programação dada não se olham os dentes.
(HOINEFF,1996, p.36-37)
Com isso, fica claro o salto qualitativo que o telejornalismo alcançou nos anos 1990 em
comparação com os anos anteriores. Expandiu o seu universo temático, alcançou novas
formas de tratamento da matéria, e tem como produto único de venda a sua programação, o
que faz com que se atenha mais à busca pela imparcialidade.
Em virtude de tantas mudanças de estrutura e de objetivo, não se trata mais do mesmo meio,
não é apenas mais uma mera ampliação de atributos, mas sim uma nova interface entre o
espectador e o veículo. Passa a dar espaço ao discernimento do espectador, retorna seu poder
de escolha e de autodeterminação caracterizando uma sociedade de solidões organizadas, de
expectativas organizadas.
Dessa forma, a oposição entre a programação feita anteriormente para satisfazer os diversos
públicos de maneira genérica, e a edição nova que permite que os espectadores elejam o
produto que querem assistir, sem estar atrelado a diversos outros, demonstra que o novo
modelo de televisão é o futuro do sistema. É o momento em que o telespectador retoma a
capacidade de discernimento nas mãos e torna o zapping a forma mais direta de se demonstrar
essa independência.
33. 32
4 O JORNAL DA GLOBO NO AR
4.1 Metodologia de pesquisa
Os mecanismos utilizados para se atingir os objetivos pretendidos nesta pesquisa são uma
análise quantitativa sobre as editorias que têm maior destaque no formato do telejornal e uma
análise qualitativa de quais as técnicas utilizadas pelo Jornal da Globo para delimitar o seu
universo jornalístico. Com base nisso foram recortadas as editorias de política e economia.
Mesmo tendo aparecido ainda a editoria de esportes com grande espaço no telejornal, ele não
fará parte do recorte qualitativo por entender-se que obteve tamanha exposição em virtude das
noticias pontuais a respeito dos jogos das semifinais da Copa Libertadores da América e da
Copa do Brasil, jogos do Campeonato Brasileiro, e a última disputa profissional de Gustavo
Kuerten no torneio de Roland Garros.
Desta forma, foi conduzida uma análise de conteúdo das edições do Jornal da Globo de 19 a
23 de maio de 2008. O telejornal é exibido na Rede Globo de Televisão de segunda a sexta-
feira por volta das 23h. Dentre os critérios de análise utilizados, estão os de noticiabilidade
empregados pelo veículo, as editorias principais e a utilização de formatos e de recursos
conjuntos por certas editorias, neste caso as de política e de economia, para enfatizar ou dar
maior destaque a determinados assuntos.
A análise quantitativa foi baseada no levantamento do espaço dado para cada editoria, porém
com o foco voltado para as de política e de economia, em virtude de serem as únicas que
contam com comentaristas fixos no telejornal.
Para realizar a análise quantitativa, cada edição da amostra foi analisada separadamente. Essa
análise também foi dividida em três categorias:
a) Proporcionalidade de inserções apresentadas pelo telejornal sobre cada assunto, que foram
classificados como: política, política internacional, economia, país, ciência, internacional,
cultura, esporte e outros.
b) Será mencionada a existência ou não de infografias, comentarista, charges, crônicas e
múltiplos recursos em um mesma matéria como forma de destacar o assunto.
c) Tempo total dedicado pelo telejornal a cada tipo de inserção em cada edição, independente
do fato noticiado, levando apenas em consideração a editoria em que se enquadra.
34. 33
Já a análise qualitativa se deu em um segundo momento com a separação das editorias de
política e de economia. Neste ponto foram levantados os recursos que caracterizam cada
editoria e como foram utilizados para destacar determinadas matérias.
4.2 Breve histórico do Jornal da Globo
O Jornal da Globo estreou no dia 2 de Abril de 1979 e desde então, segundo o site da
emissora3, passou por dez fases importantes para sua consolidação.
A primeira fase ocorreu de sua inauguração até o ano de 1982. Nessa etapa o telejornal era
apresentado por Sérgio Chapelin e contava com a participação de repórteres especiais,
analistas e entrevistadores. Com um tempo de duração sempre determinado pela principal
entrevista do dia, o telejornal já apresentava as matérias internacionais diretamente de
Londres e Nova York.
Em sua segunda fase, de 1982 a 1983, o Jornal da Globo sofreu uma pequena mudança em
seu formato, pois passou a dedicar um dos blocos da edição para a análise do fato mais
importante do dia, além de complementar o material gravado com entrevistas ao vivo no
estúdio. Nessa época, os apresentadores eram Renato Machado, Belisa Ribeiro e Luciana
Villas, além de Carlos Monforte, que por vezes participava como comentarista. Ainda com 30
minutos de duração, o JG tinha editorias de política, economia e cultura, no Brasil e no
mundo, mas também começou a abrir espaço para o esporte.
Em 1983, o JG teve como marco de sua terceira fase o início das participações do humorista
Jô Soares e do cartunista Chico Caruso. Jô apresentava comentários diários e Chico punha no
ar semanalmente4 suas charges.
Em 1986 mais uma mudança de apresentadores caracterizou a quarta fase do telejornal, que
agora era apresentado pelos jornalistas Eliakim Araújo e Leila Cordeiro.
3
http://g1.globo.com/jornaldaglobo/0,,TLA1027-16024,00.html
4
A periodicidade semanal era em virtude das dificuldades tecnológicas enfrentadas para confecção de desenhos
animados em movimento. Dificuldade enfrentada até hoje.
35. 34
Três anos mais tarde Leila Cordeiro se afastou da bancada do JG e deu lugar a Fátima
Bernardes, que após alguns meses teve como seu parceiro na apresentação do telejornal
William Bonner, então apresentador do Fantástico e do SPTV.
A sexta fase do Jornal da Globo é tida como a de maior mudança conceitual do telejornal,
uma vez que, em 19 de abril de 1993, Lílian Witte Fibe assumiu o posto de âncora do
programa, cumulativamente com o cargo de editora do jornal, tendo assim autonomia para
decidir e fazer comentários sobre determinados assuntos quando necessário. Foi a primeira
vez, também, que a Globo transmitiu um jornal de São Paulo.
Quanto ao conteúdo, o telejornal passou a priorizar notícias de Brasília e a prestação de
serviços na área econômica. Alexandre Garcia (política), Joelmir Beting (economia), Juca
Kfouri (esporte) e Paulo Francis (Nova York) passaram a atuar como colunistas fixos do JG.
Três anos mais tarde, já em 1996, a jornalista Mônica Waldvogel assumiu como editora e
âncora do telejornal no lugar de Lílian Witte Fibe. E logo no ano seguinte, Sandra Annenberg
estréia como âncora e editora executiva do jornal.
Após uma período de negociações, em 07 de agosto de 2000, Ana Paula Padrão assumiu a
bancada de titular na ancoragem do telejornal, onde ficou até maio de 2005, dando então lugar
para a equipe atual.
Desde 30 de maio de 2005, a bancada do JG é ocupada pela dupla de repórteres William
Waack e Christiane Pelajo, o que dá um maior dinamismo ao telejornal. Além de possuir
comentaristas fixos de economia e Política como Carlos Alberto Sardenberg e Arnaldo Jabor,
ainda conta com participações dos repórteres e comentaristas de política, Heraldo Pereira e de
esporte, Cleber Machado.
Os apresentadores do JG são um diferencial importante para o telejornal. William Waack
passou pelas principais redações do País, com destaque para O Globo, Jornal do Brasil, O
Estado de S.Paulo e Veja. Desempenhou as funções de editor de economia, internacional e
política. Foi secretário de redação e editor chefe, mas repórter é a função na qual ficou mais
tempo.
36. 35
Já Christiane Pelajo tem 34 anos e foi apresentadora da Globo News de 1996 a 2005, à frente
das edições noturnas do telejornal Em Cima da Hora e também do programa Pelo Mundo. Na
bancada do jornalismo da Globo News, foi âncora de grandes coberturas como o enterro da
princesa Diana, numa transmissão ao vivo de mais de cinco horas, e a prisão de Saddam
Hussein, também ao vivo.
4.3 O Jornal da Globo em números
A análise quantitativa da presente pesquisa se estruturou a partir do recorte do material
empírico colhido durante uma semana, e, por conseguinte, o estudo das cinco edições
selecionadas Jornal da Globo. Depois de analisadas, foi estabelecido um gráfico para cada
dia nas categorias relacionadas anteriormente, como pode ser visto a seguir.
4.3.1 Proporcionalidade de inserções apresentadas pelo jornal em segundos
O primeiro passo para que fosse feito o levantamento quantitativo dos segundos para cada
editoria foi a escolha das editorias e a nomenclatura utilizada. Para isso optou-se por oito
editorias bem delimitadas e uma mais abrangente. Foram elas: política, política internacional,
economia, país, ciência, internacional, cultura, esporte e outros.
Para a editoria de Política foram destinadas as matérias que tratavam de assuntos da política
interna, mesmo que com a participação de outros países.
Já a editoria de Política Internacional se restringiu à separação das eleições americanas no
período estudado, por se tratar do único evento estrangeiro ligado à política que se repetiu
durante a semana.
Em seguida a editoria de Economia tratou de assuntos relacionados a economia interna além
de bolsa de valores, cotação do dólar e barril de petróleo e decisões que influenciaram a renda
e o consumo das pessoas.
A editoria País tratou de assuntos relacionados ao Brasil como um todo, em especial o caso de
um engenheiro atacado por índios durante uma palestra em Altamira no Pará quando defendia
37. 36
a criação da hidrelétrica de Belo Monte, a qual os índios são contrários, além dos demais fatos
relacionados a esse episódio.
A editoria de Ciência abrangeu as matéria relacionadas à descobertas no campo da ciência,
porém não foi contemplada por nenhuma matéria no período coletado.
A editoria intitulada de Internacional tratou de assuntos dos demais países que não se
enquadram nem em política nem em política internacional, assim como conflitos internos e
decisões soberanas de outros países.
A editoria de Cultura ficou com as matérias relacionadas a qualquer tipo de manifestação
cultural, independente do local em que ocorreram, desde música, teatro, shows, pintura até
manifestações homossexuais conhecidas como paradas gay.
A editoria de Esportes também foi bastante trabalhada, por se tratar de um telejornal
transmitido após os jogos de futebol dos campeonatos nacionais e internacionais em que times
brasileiros participam, como é o caso da Copa Libertadores da América e da Copa do Brasil.
Esporte não recebeu só o futebol, mas também tênis e outros esportes.
E por fim a editoria intitulada como Outros, onde assuntos variados que não se enquadravam
nas definições acima eram encaixados, principalmente casos policiais.
No primeiro dia de coleta, segunda-feira dia 19 de maio de 2008, o somatório dos segundos
de cada editoria mencionada anteriormente ficou dividido assim: 439 segundos (7 min. e 19
seg.) destinados à editoria de política durante os quatro blocos do telejornal; 196 segundos (3
min. e 16 seg.) para a editoria de economia; 100 segundos (1 min. e 40 seg.) destinados à
internacional; 192 segundos (3 min. e 12 seg.) à cultura; 411 segundos (6 min. e 51 seg.) para
a editoria de esportes e 124 segundos (2 min. e 04 seg.) para a editoria criada chamada outros.
Destacando-se as editorias de política e de esportes, com um somatório das matérias girando
na entre 400 a 450 segundos de veiculação. Isso, no caso de esportes, devido à rodada de
futebol do final de semana, já no caso da editoria de política, o assunto principal foi a troca da
Ministra de Meio Ambiente, Marina Silva, pelo então secretário de meio ambiente do Rio de
Janeiro, Carlos Minc.
38. 37
Esses valores referentes à análise quantitativa dos segundos destinados a cada editoria na
primeira edição da semana coletada estão representados no gráfico abaixo.
450 439
411
400
350
300
Tempo
em segundos 250
196 192
200
150 124
100
100
50
0 0 0
0
Política
Internacional
Economia
País
Ciência
Internacional
Cultura
Esporte
Outros
Política
Gráfico 1: Distribuição do tempo da edição de segunda-feira dia 19/05/2008
Já na edição de terça-feira dia 20 de maio de 2008, ocorreu uma anomalia na distribuição das
matérias, onde apareceu uma grande discrepância do tempo destinado às editorias. A editoria
de política alcançou números de exposição maiores que o somatório de oito das nove editorias
do dia, fato esse incomum nos telejornais como um todo.
O tempo de exposição das matérias foi dividido assim: 746 segundos (12 min. e 26 seg.)
destinados às matérias da editoria de política; 84 segundos (1 min. e 24 seg.) para política
internacional; 22 segundos destinados à economia; 166 segundos (2 min. e 46 seg.) para a
editoria país; a editoria internacional teve 124 segundos (2 min. e 04 seg.) de matérias
veiculadas; esportes ficou com 233 segundos (3 min. e 53 seg.) e a editoria chamada de outros
veiculou 318 segundos (5 min. e 18 seg.) neste dia.
39. 38
Destaca-se nesta edição principalmente a editoria de política, com uma exposição de matérias
entre 700 e 800 segundos. Onde o assunto principal foi o suposto dossiê sobre gastos do
governo de Fernando Henrique Cardoso produzido pela Casa Civil do Governo.
800
746
700
600
Tempo 500
em segundos
400
318
300
233
190 166
200
100
22 0 18 0
0
Política
Internacional
Economia
País
Ciência
Internacional
Cultura
Esporte
Outros
Política
Gráfico 2: Distribuição do tempo da edição de terça-feira dia 20/05/2008
A edição de quarta-feira, dia 21 de maio de 2008, teve sua distribuição de matérias dentro da
normalidade de um telejornal, onde as matérias têm um tempo de exposição similar, sem
nenhuma que destoe muito das outras, como ocorreu na terça-feira. Foram 423 segundos (7
min. e 03 seg.) para política; 62 segundos (1 min. e 02 seg.) para a editoria de política
internacional; para a editoria de economia foram destinados 244 segundos (4 min. e 04 seg.);
193 segundos (3 min. e 13 seg.) para país; 273 segundos (4 min. e 33 seg.) para a editoria de
cultura; 410 (6 min. e 50 seg.) para a editoria de esporte e por fim 155 segundos (2 min. e 35
seg.) para a editoria intitulada outros.
Destaque para as editorias de política, economia, cultura e de esportes por alcançarem a faixa
de 200 a 450 segundos de exposição. A primeira com matérias de má administração pública
40. 39
em cidades do interior do Amazonas e com o quadro de charges de Chico Caruso, e a segunda
com os jogos da Copa Libertadores da América ocorridos no dia.
450 423 410
400
350
300
273
Tempo 244
em segundos 250
200
193
155
150
100
62
50
0 0
0
Política
Internacional
Economia
País
Ciência
Internacional
Cultura
Esporte
Outros
Política
Gráfico 3: Distribuição do tempo da edição de quarta-feira dia 21/05/2008
Na edição de quinta-feira, dia 22 de maio de 2008, a divisão das matérias foi a seguinte: 108
segundos (1 min. e 48 seg.) para a editoria de política, 337 segundos (5 min. e 37 seg.) para
economia, 296 segundos (4 min. e 56 seg.) para país, a editoria de cultura teve 231 segundos
(3 min. e 51 seg.) nesta edição, 323 segundos (5 min. e 23 seg.) para a editoria de esporte e
289 (4 min. e 49 seg.) para outros.
Apesar de ser a edição mais equilibrada da amostragem, as editorias que se destacaram por
estarem entre 300 e 350 segundos de exposição foram economia e esporte, sendo a primeira
devido à alta do barril de petróleo que atingiu 135 dólares o barril e a segunda devido ao jogo
da Copa Libertadores da América novamente.
41. 40
350 337
323
296 289
300
250 231
Tempo
200
em segundos
150
108
100
50
0 0 0
0
Política
Internacional
Economia
País
Ciência
Internacional
Cultura
Esporte
Outros
Política
Gráfico 4: Distribuição do tempo da edição de quinta-feira dia 22/05/2008
Na edição de sexta-feira dia 23 de maio de 2008 as editorias dividiram as matérias da seguinte
forma: 370 segundos (6 min. e 10 seg.) para a editoria de política, 237 segundos (3 min. e 57
seg.) para a editoria de economia, 208 segundos (3 min. e 28 seg.) para a editoria país, 242
segundos (4 min. e 02 seg.) para cultura, esporte com 218 segundos (3 min. e 38 seg.) e a
outros com 145 segundos (2 min. e 25 seg.) nesta edição.
Esta edição teve como destaque a editoria de política atingindo a casa entre 350 e 400
segundos de veiculação e a de economia na casa dos 200 a 300 segundos de exposição, o que
se deu principalmente em virtude da criação da União das nações Sul-Americanas (UNASUL)
visando aprofundar a integração dos países da região.
42. 41
400 370
350
300
237 242
250
Tempo 218
em segundos 208
200
145
150
100
50
0 0 0
0
Política
Internacional
Economia
País
Ciência
Internacional
Cultura
Esporte
Outros
Política
Gráfico 5: Distribuição do tempo da edição de sexta-feira dia 23/05/2008
Com isso, caso se some os valores referentes a cada editoria durante a semana coletada,
chegaremos aos seguintes valores: política com 2086 segundos (34 min. e 46 seg.) de
veiculação, política internacional com 252 segundos (4 min. e 12 seg.), economia com 1036
segundo (17 min. e 16 seg.) de exposição, a editoria país com 863 segundos (14 min. e 23
seg.), a editoria de ciência não teve matérias veiculadas neste período, a editoria internacional
obteve 118 segundos (1 min. e 58 seg.) de espaço no telejornal, cultura veiculou 938 segundos
(15 min. e 38 seg.) de matérias, a editoria de esporte obteve 1595 segundos (26 min. e 35 seg.)
de espaço no telejornal e por fim a editoria outros com 1031 segundos (17 min. e 11 seg.).
43. 42
Somatório da semana
Editorias
Ciência 0
Internacional 118
Política Internacional 252
País 863
Cultura 938
Outros 1031
Economia 1036
Esporte 1595
Política 2086
0 500 1000 1500 2000 2500
Tempo em segundos
Gráfico 6: Somatório das editorias durante a semana de 19 a 23/05/2008
Diante dos dados levantados, é possível perceber que as editorias que tiveram maior destaque
foram política, esportes e economia.
Importante reconhecer o motivo do destaque dado à editoria de esportes nesse período, pois
tratou-se de uma conjuntura especial em que três campeonatos de futebol se intercalaram,
sendo que no mais importante deles (Copa Libertadores da América) um time do Brasil
chegou às semifinais e posteriormente à final, tendo assim um destaque fora do comum no
telejornal.
Outra fator interessante a se mencionar é a representatividade da política no contexto do
telejornal. A editoria alcançou o primeiro lugar em termos de exposição, o que seria ampliado
caso fossem computados os valores atribuídos à política internacional nessa editoria.
Já a editoria de economia merece destaque não somente por ter alcançado o terceiro lugar em
exposição no período, mas também por possuir um comentarista fixo no telejornal, assim
como política. Evidenciando ainda mais a relevância atribuída a esse assunto.
44. 43
4.4 O tratamento da política
A partir da análise quantitativa em que aponta a editoria de política com maior tempo de
exposição no telejornal, percebe-se uma tendência em se tratar de assuntos dessa natureza de
forma diferenciada.
Tal forma teve inicio na escalada de cada edição, pois os assuntos de política foram os únicos
que repetiram em todas as escaladas das edições da semana. O que aponta para uma
preocupação maior por parte do telejornal em utilizar desse assunto como chamariz para o
telespectador, com o intuito de que este permaneça atento ao jornal.
Dentre os assuntos de política que foram destaque nas escaladas da semana, estão a transição
do comando do Ministério do Meio Ambiente da então Ministra Marina Silva para o Ministro
Carlos Minc na segunda-feira dia 19 de maio.
Na terça-feira, dia 20 de maio, política apareceu na chamada do telejornal com o caso do
vazamento de um suposto dossiê feito pela Casa Civil, a respeito de gastos do governo de
Fernando Henrique Cardoso.
No dia seguinte, quarta-feira dia 21, o assunto de política que pontuou a escalada das matérias
foi o caso do então Reitor da Universidade Federal de Brasília, que estava sendo pressionado
por movimentos estudantis para deixar o cargo e apoiado por políticos e intelectuais da capital
federal.
A política assistencialista adotada pela prefeitura de Carmópolis, no interior de Sergipe, foi o
assunto de política abordado na escalada de quinta-feira, dia 22 de maio. O assunto teve
destaque porque a prefeitura dessa cidade distribuiu geladeiras, televisores, máquinas de lavar
roupa, entre outros eletrodomésticos para a população, alegando ser assistência social.
Já na sexta-feira, dia 23 de maio, o assunto foi a criação da União das Nações Sul-Americanas
(UNASUL) em Brasília. Uma tentativa de unir mais os países da América do Sul, para que
defendam juntos os interesses da região.
45. 44
Essa presença diária de assuntos de política na chamada do Jornal da Globo, mostra que a
linha editorial do telejornal segue como princípio o aprofundamento nos casos de política,
que, possivelmente, já foram comentados em outros meios de comunicação, porém não com
uma análise mais aprofundada. Aprofundamento esse conseguido com o emprego de
comentarista e charges sobre o assunto.
Apenas assuntos de política foram tratados pelas charges do cartunista Chico Caruso durante a
semana analisada. A primeira no quarto bloco da edição de quarta-feira dia 21 de maio, onde
a Ministra substituída do Meio Ambiente Marina Silva conversava com o Ministro substituto
Carlos Minc sobre as dificuldades que enfrentou no cargo. E a segunda aparição das charges
do cartunista ocorreu no quarto bloco da quinta-feira dia 22 de maio com outro diálogo entre
o Ministro do Meio Ambiente Carlos Minc, só que agora com o então Ministro da Cultura
Gilberto Gil, sempre com ironia nos textos.
Essa ironia está presente não só na linguagem utilizada, como também nos próprios desenhos
das charges. Quando o personagem é o Ministro do Meio Ambiente Carlos Minc, o sotaque
carioca é bem carregado e os coletes que o ministro usa são bem floridos. Já quando se
veicula as charges do Ex-ministro Gilberto Gil, sempre se ouve ao fundo algum reggae de
Bob Marley e a fala é bem mansa, arrastada, característica essa dos baianos como Gil.
Ainda em conformidade com o destaque dado pelas charges de Chico Caruso à troca de
comando no Ministério do Meio Ambiente, o assunto foi o de maior destaque dentro da
editoria de política. Com enfoques tanto na situação política com que a ex-ministra deixava o
cargo, como na imagem de liberal do atual ministro, o telejornal utilizou de seu repórter e
comentarista de política, Heraldo Pereira, para expor aos telespectadores vários fatores que
influenciaram na mudança.
Heraldo Pereira entrevistou diversos parlamentares com o intuito de esclarecer os motivos que
culminaram no pedido de afastamento da ministra Marina Silva. Demonstrou que houve
pressão política para que modificasse sua forma rígida de trabalho, a fim de que as liberações
ambientais que impediam a construção de hidrelétricas no Rio Madeira fossem obtidas mais
facilmente.