III - Planejar e tomar decisões financeiras com base na análise do ambiente e...
Como boas ideias sociais se transformam em tecnologias sociais de impacto
1. Revista Idéia Social
Edição nº 5
Julho/Agosto/Setembro 2006
http://www.ideiasustentavel.com.br/2006/09/edicao‐5/
Especial – A distância entre uma boa
solução e uma tecnologia social
Por Paula Craveiro
Segundo o IBGE, o terceiro setor brasileiro possui cerca de 276 mil organizações,
com 1,5 milhão de trabalhadores e algo em torno de 20 milhões de voluntários.
Em sua maioria minúsculas (77% não têm sequer um empregado), elas nascem
quase sempre da indignação, do interesse de participação social e do impulso
de indivíduos na busca de solução para um determinado problema social. Como
são gestadas no interior de comunidades, com poucos recursos financeiros, e
por iniciativa cidadã de pessoas que conhecem de perto as necessidades que
querem atender, suas soluções tendem a ser boas idéias e também de baixo
custo. Mas nem sempre tão aplicáveis ou efetivas, em grande medida por causa
de dificuldades comuns de planejamento, avaliação, captação e gestão de
recursos. Na maioria das vezes, atingem um grupo limitado de pessoas de uma
localidade, uma pequena fração daqueles que, potencialmente, poderiam se
beneficiar daquele tipo de solução.
Nenhum especialista da área duvida de que, apesar das limitações de porte e
alcance, essas organizações têm feito a sua parte na melhoria do IDH – Índice de
Desenvolvimento Humano brasileiro. Mas há quem acredite – e não são poucos
– que o impacto global de sua atuação poderia ser consideravelmente maior se
o terceiro setor atuasse integrado como uma grande rede. E se as suas
2. instituições fossem percebidas pelas diferentes esferas de governo como
parceiras preferenciais no desenvolvimento e execução de políticas públicas.
São vários os argumentos de quem defende essa tese. Para o objetivo desta
reportagem, vale destacar apenas um deles: qualquer que seja a solução para
algum dos nossos problemas sociais, antigos ou recentes, muito provavelmente
ela já tenha sido elaborada, desenvolvida e testada por uma organização social
em algum canto do País. Não há, portanto, nenhuma razão para reinventar boas
práticas. Cada vez mais estudiosos do tema concordam que o mais sensato a
fazer é dar visibilidade pública às existentes, compartilhar o conhecimento que
está por trás de sua criação e ampliar o alcance de seus resultados para que
excedam os limites de uma comunidade restrita. Os governos, nesse sentido,
têm papel fundamental. Se forem mais atentos e sensíveis, podem identificar as
práticas exitosas, valorizá‐las e conferir‐lhes a escala necessária.
É justamente a possibilidade de fazer diferença em grande escala que distingue
uma boa idéia de uma tecnologia social. “Tecnologia social é um conceito que
engloba técnicas, produtos e metodologias com potencial para serem
reaplicáveis, elaboradas a partir da interação com uma comunidade e que
representam soluções efetivas de transformação social”, ensina Luis Fumio
Iwata, responsável por Tecnologia Social da Fundação Banco do Brasil (FBB).
Com baixo custo (menos de R$ 1 por pessoa), uso prático, resultados evidentes,
e aplicação em qualquer lugar do Brasil e do mundo, a multimistura é um
exemplo clássico de tecnologia social. Desenvolvida pela médica nutróloga Clara
Takaki Brandão, adaptada e difundida pela pediatra e sanitarista Zilda Arns
Neumann, da Pastoral da Criança, a farinha feita à base de casca de ovos e
farelos ganhou a escala necessária quando passou a ser distribuída em algumas
comunidades com elevados índices de desnutrição e mortalidade infantis. Hoje
é uma política pública de segurança alimentar em diversas regiões do país. Sua
aplicação tem sido invariavelmente associada á queda dos índices de
desnutrição no Brasil.
Mas, afinal de contas, o que uma boa idéia precisa ter para ser uma tecnologia
social e se transformar, assim como a multimistura, em uma política pública
importante? Essa é uma questão cada dia mais comum entre líderes de terceiro
3. setor interessados em ampliar o impacto e tornar mais eficazes suas práticas.
Para respondê‐la, Idéiasocial entrevistou os especialistas Iwata, da Fundação
Banco do Brasil, e Larissa Barros, secretária executiva da Rede de Tecnologia
Social. Propôs aos dois analisarem as boas soluções sociais propostas por seis
organizações de terceiro setor do país, avaliando até que ponto, a partir dos
elementos distintivos do conceito, elas podem ou não ser consideradas
tecnologias sociais.
TECNOLOGIA SOCIAL: UM PRODUTO, UMA TÉCNICA OU UMA METODOLOGIA
APARA APROPRIAÇÃO COLETIVA
Para a socióloga Larissa Barros, tecnologia social não precisa ser
necessariamente um produto, como a multimistura, ou ainda uma técnica
específica, como são as cisternas. “Ela pode ser, por exemplo, uma metodologia
destinada a disseminar soluções para problemas relacionados à alimentação,
educação, habitação, renda, saúde e direitos de cidadania, entre outros”,
afirma. É exatamente este o caso das organizações apresentadas na segunda
parte desta matéria: Escola Ambulante, TV Janela, Direito de Crescer, Prosa
Rural, Pedagogia de Roda e Conexão dos Saberes.
O que distingue a tecnologia social da convencional é o fato de que ela se apóia
no desenvolvimento de uma boa idéia de solução social, e considera a
participação coletiva em seu processo de organização, planejamento e
implementação. Pode nascer de um saber popular, caso, por exemplo, das
benzedeiras do projeto Soros, Raízes e Rezas, que aplicam o soro caseiro
enquanto rezam pela cura das crianças, ou de um conhecimento técnico‐
científico, como a organização de uma cooperativa de catadores e recicladores
de papel. “Importa que seja efetiva, isto é, após previamente testada, tenha
alcançado o objetivo que se dispôs a cumprir. E também que seja reaplicável em
diferentes regiões, com as adaptações necessárias, propiciando
desenvolvimento social em grande escala”, completa.
A transparência nas ações e propostas é fundamental. Assim como o
envolvimento do maior número possível de pessoas – beneficiários diretos e
indiretos e suas comunidades. Afinal, um dos objetivos centrais da tecnologia
social é a sua rápida apropriação coletiva, tarefa para a qual precisa fazer com
4. que o seu passo‐a‐passo seja conhecido por todos os interessados e, com o
tempo, torne‐se de domínio público. “Na tecnologia social, os procedimentos
devem estar ligados às formas de organização coletiva. Sem isso, não
produzirão resultados positivos em escala para a melhora na qualidade de vida
e inclusão social”, afirma Larissa.
Para promover o impacto necessário, uma tecnologia social precisa ser um
produto, uma técnica ou um método simples de compreender e fácil de aplicar
pelas pessoas de uma comunidade. Quanto mais possibilidade de adaptações às
singularidades locais, melhores tendem a ser os seus benefícios. Quanto menos
investimento financeiro exigir, mais rapidamente gerará as mudanças
desejadas. Na avaliação dos dois especialistas ouvidos por Idéiasocial, o
processo deve permitir ainda o monitoramento e a avaliação dos resultados. A
base para o seu êxito está também na cooperação entre setores e na sintonia
com políticas públicas. “A aplicação da tecnologia social pressupõe uma atuação
conjunta e cooperada entre poder público, sociedade e organizações”,
complementa a socióloga. “Se ocorre isoladamente, favorecendo apenas uma
pequena parcela da comunidade de uma determinada região carente, não é
tecnologia social. É projeto pontual”, completa Iwata.
Com a experiência de quem está habituado a selecionar soluções para o banco
de Tecnologias Sociais que a Fundação Banco do Brasil criou e mantém, Iwata
ensina: “Para que sua solução faça diferença e transforme realidades, a
organização proponente precisa ter recursos humanos, financeiros e, em alguns
casos, tecnológicos. Do contrário, nada acontecerá. Determinação para superar
desafios e fazer o projeto decolar é um outro aspecto muito importante.”
Na opinião de Larissa, ao desenvolver uma tecnologia social, a organização deve
assumir o compromisso de divulgá‐la a quem quer que possa interessar ou
beneficiar. “É primordial, portanto, que seus criadores realizem um bom
planejamento, coloquem o projeto em teste, chequem os resultados e, estando
de acordo com a proposta inicial, abandonem qualquer apego autoral do tipo ‘o
projeto é meu’, dispondo‐se a transcrever a metodologia aplicada, em
linguagem clara e objetiva, de forma a permitir sua reaplicação”, explica. Veja a
seguir seis casos de tecnologias sociais propostas por organizações de terceiro
5. setor de São Paulo, Ceará, Mato Grosso do Sul, Brasília, Rio de Janeiro e Minas
Gerais.
CASO 1: ESCOLA AMBULANTE: FÁCIL REAPLICAÇÃO E CUSTO MODERADO
Retirar crianças e adolescentes das ruas do centro da cidade e devolvê‐los às
suas famílias e à escola é o objetivo do projeto Escola Ambulante, criado pela
Associação Beneficente Santa Fé, de São Paulo “Procuramos compreender o
universo no qual esses jovens estão inseridos e, aos poucos, nos aproximar
deles, de forma a conhecê‐los individualmente, fazendo com que se sintam
únicos e respeitados, independentemente de sua história, vivências, medos e
expectativas. A partir dessa abordagem, traçamos um plano de ação para tentar
reinseri‐los à sociedade, levá‐los de volta para casa e a escola”, explica José
Queiroz, coordenador do projeto.
Em 11 anos de funcionamento, a Escola Ambulante já atendeu mais de 600
jovens. Segundo dados da organização, 80% deles abandonaram o uso de
drogas, 75% saíram das ruas e voltaram para casa, e 97% freqüentam a escola.
Apenas 22% continuam nas ruas, por opção.
Na opinião dos especialistas entrevistados por Idéiasocial uma das
características que fazem desse projeto uma tecnologia social em potencial é a
fácil reaplicação a um custo moderado. “A solução pode ser desenvolvida em
qualquer lugar do Brasil ou do exterior, onde houver crianças e adolescentes
vivendo na rua. A transferência depende basicamente da capacitação da equipe
que aplicará o método no local. Contudo, recomenda‐se que seja feita uma
avaliação das especificidades locais, como tráfico, cultura e comércio, após a
realização da pesquisa etnográfica, para verificar a necessidade de adequações
de conteúdo”, destaca Larissa.
CASO 2: TV JANELA EXIGE PROFISSIONAIS CAPACITADOS PARA TRABALHAR
COM PÚBLICO JOVEM
Criado no início da década de 1990, o Bairro Pantanal, na periferia de Fortaleza,
no Ceará, sempre foi visto como uma das áreas mais críticas da cidade, graças
aos altos índices de violência e miséria. “Essa comunidade, no entanto, é muito
6. mais do que isso”, contesta Valdenor Xavier de Moura, coordenador do Instituto
de Desenvolvimento Social (IDS), entidade responsável pela implantação de
uma tecnologia social chamada TV Janela. “Desde o início de nosso contato com
jovens do bairro, notamos que era preciso reforçar as potencialidades locais
existentes. Isso ajudou a elevar da auto‐estima dos meninos, pois o bairro
costumava ganhar destaque apenas nas páginas policiais”, diz Moura.
O projeto consistia, inicialmente, na capacitação profissional para produção e
projeção de vídeos. Com o tempo, surgiu o interesse em apresentar o material
criado para a comunidade local. Todos os vídeos produzidos possuem relação
direta com o Bairro Pantanal e apresentam temas que variam desde a origem
das ruas da região até as profissões mais comuns no bairro, quadros de humor e
grupos musicais. “Esse tipo de atividade contribuiu não apenas para a
qualificação profissional e a inserção deles mercado de trabalho, como também
melhorou bastante o relacionamento com a comunidade”, finaliza Moura. Para
Iwata, da Fundação Banco do Brasil, a TV Janela é eficaz por causa da
simplicidade do método e, por tabela, do seu inegável potencial de reaplicação.
“O único cuidado a tomar, além, é claro, de captar os recursos e apoiadores
necessários, é realizar um levantamento sobre a região e preparar uma equipe
para atuar com público jovem, trabalhando conforme as necessidades
levantadas”, ressalta.
CASO 3: DIREITO DE CRESCER REPRESENTA MÉTODO PRÁTICO PARA REGIÕES
MARCADAS POR EXPLORAÇÃO DE MÃO DE OBRA INFANTIL
A tecnologia social Direito de Crescer, desenvolvida pela ONG Girassolidário e
sob comando do Instituto Kinder do Brasil (braço da Fundação Kinder in
Brasilien, sediada na Suíça), tem como objetivo tirar crianças do trabalho infantil
em carvoarias na região de Ribas do Rio Pardo, em Mato Grosso do Sul. “O
programa tem duração estimada de sete anos e consiste na remoção das
crianças das minas em troca de uma bolsa mensal de R$ 110 por criança,
utilizada na sua formação e na manutenção da subsistência familiar. Além disso,
as famílias contam com o apoio de um grupo de assistência social, com oficinas
de educação complementar, que enfatizam o crescimento do saber, a auto‐
estima e uma postura mais responsável, e programas de geração de renda e
7. habitação”, explica Carl Stephan Hoffman, presidente da Girassolidário, para
quem o projeto tem gerado importante redução do trabalho infantil na região.
Na avaliação de Iwata, uma metodologia simples e eficaz como essa, testada e
aprovada, pode ser bem‐sucedida em qualquer região onde haja carvoarias,
pedreiras e plantações de cana, com exploração de mão‐de‐obra infantil e
famílias vivendo em condições muito precárias. “Como nos projetos
mencionados anteriormente, as organizações, governos e empresas
interessados em implantá‐la devem ficar atentos para a adequação à cultura e
realidades locais”, destaca.
CASO 4: NO PROSA RURAL, OS CONTEÚDOS PODEM VARIAR DEPENDENDO
DA REGIÃO ONDE É APLICADO
“O Prosa Rural é um programa semanal de rádio produzido pela Embrapa (DF),
a partir da percepção da necessidade de divulgar soluções para a questão da
agropecuária, e alternativas para os problemas mais comumente enfrentados,
como a seca e as formas de criação e cultivo”, conta Fernando do Amaral
Pereira, responsável pela tecnologia.
Para a produção dos conteúdos, o projeto conta com uma rede de voluntariado,
que envolve contatos com emissoras comerciais e comunitárias e entidades do
setor. Além do trabalho dos voluntários, essa tecnologia social tem ainda o
apoio de mais de 500 emissoras, distribuídas em 379 municípios.
Segundo Pereira, a Embrapa, organização responsável pela elaboração do
projeto, não possui um instrumento de medição dos resultados alcançados pelo
Prosa Rural. Entretanto, destaca: “Conseguimos ter uma boa noção de como o
programa é recebido pelos ouvintes por conta das constantes solicitações de
emissoras para uso do conteúdo em suas grades de programação”.
Para Iwata, o fato de ser um projeto de baixo custo, e eficaz para o que se
propõe, facilita a reprodução do Prosa Rural em qualquer lugar do país. “Os
conteúdos veiculados devem se adequar evidentemente às carências de cada
localidade. No Nordeste, poderia ser, por exemplo, algo voltado à questão da
água. No Centro‐Oeste, algum tema mais direcionado à agronomia”, sugere o
8. especialista da Fundação Banco do Brasil. “Todas as entidades que disponham
de tecnologias ou produtos úteis à sociedade ou que precisem chegar a públicos
definidos podem adotar a metodologia usada pelo Prosa Rural. As rádios do
Brasil se mostram abertas às informações de cunho educativo e à prestação de
serviço, que é bastante valorizada pelos ouvintes. A educação pelos meios de
comunicação é viável, desde que se adote a linguagem adequada para o meio
escolhido”, destaca Larissa, da RTS.
CASO 5: QUANTIDADE FLEXÍVEL DE RECURSOS FAVORECE APLICAÇÃO DO
CONEXÕES DE SABERES EM DIFERENTES REALIDADES
Apesar de existirem algumas iniciativas relacionadas ao ingresso de jovens de
baixa renda nas universidades públicas, como pré‐vestibulares comunitários e o
sistema de cotas, a maioria das universidades públicas seleciona e cria uma
estrutura de cursos que contemplam, em geral, alunos com perfil típico dos
grupos sociais mais privilegiados. Foi com base nesse quadro que nasceu
o Conexão dos Saberes. “Criado em 2001 pela ONG Observatório de Favelas
(RJ), o projeto seleciona e oferece bolsas de graduação para 25 estudantes com
base nos seguintes critérios: morar ou ser oriundo de favelas ou periferias,
escolaridade dos pais não superior a ensino fundamental, renda mensal dos pais
inferior a seis salários mínimos, proveniência de escolas públicas, ser negro ou
indígena, e ter histórico de engajamento em atividades coletivas cidadãs em
suas comunidades. A intenção dessa tecnologia é possibilitar o acesso de jovens
pobres ao ensino superior”, explica Elionalva Sousa Silva, responsável pelo
projeto. Atualmente o Conexão dos Saberes vem sendo desenvolvido em 31
institutos federais de ensino superior (IFES) do país. O número de bolsistas
saltou de 175 para 775.
Na análise de Iwata, o Conexão de Saberes é uma boa tecnologia social. “O
projeto pode ser desenvolvido por qualquer instituição de ensino, seja
fundamental, médio ou superior, que conte com alunos de origem popular. A
maior vantagem dessa tecnologia é que ela pode ser aplicada com uma
quantidade flexível de recursos, de acordo com a natureza da instituição onde
será organizada e a sua capacidade de captação e aplicação de recursos
financeiros e humanos”, ensina.
9.
CASO 6: PRESENTE EM 20 CIDADES E TRÊS PAÍSES, PEDAGOGIA DE RODA É
FÓRMULA EDUCACIONAL QUE NÃO EXIGE INVESTIMENTO EM ESTRUTURA
FÍSICA
Ultrapassando os limites das salas de aula, o Pedagogia de Roda mostra que é
possível ensinar e aprender substituindo a estrutura tradicional, de tijolos, pela
construção do saber em rodas, ao pé de uma mangueira. “Essa metodologia
pede a colaboração de cada um de seus participantes. A matéria‐prima de todo
o processo de ensino são as pessoas, pois todo aprendizado ocorre em grupo, é
plural”, define Sebastião Rocha, coordenador do projeto.
A idéia surgiu como resposta ao quadro de escassez de escolas na comunidade
de Curvelo (MG). “A Pedagogia de Roda transforma a desvantagem da falta de
um prédio escolar na vantagem de transportar o espaço de aprendizagem para
qualquer lugar. Assim, qualquer parte de um bairro é uma escola. Cada um
dentro da roda é, ao mesmo tempo, educador e educando. Ao invés de
trabalhar com idéias massificadas de cultura, a roda prefere fortalecer as
identidades culturais locais, o que se converte em mais solidariedade e espírito
comunitário. A roda gira em qualquer espaço onde haja disposição para a
reflexão coletiva”, explica Rocha.
A iniciativa do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD) deu tão
certo que o trabalho foi expandido para mais de 20 cidades em cinco estados
brasileiros, e também para Moçambique e Portugal. “É uma tecnologia social
que pode ser aplicada não apenas em escolas, mas também em empresas ou
projetos educacionais, possibilitando a melhoria da comunicação, o estímulo à
participação, a formação da identidade, o fortalecimento da auto‐estima, a
integração da equipe, a idealização de espaço solidário e a igualdade entre
todos os educandos‐educadores”, destaca o coordenador. Larissa considera que
a Pedagogia da Roda é uma autêntica tecnologia social, na medida em que se
trata de um método simples, transformador, de baixo custo, adaptável às
singularidades das diferentes culturas locais e, portanto, de fácil reaplicação. “A
Pedagogia da Roda, como técnica, não exige espaço físico próprio e dispensa,
portanto, todos os custos nele incluídos”, diz.
10. O QUE CARACTERIZA UMA TECNOLOGIA SOCIAL
• Praticidade
• Eficácia
• Baixo custo
• Reprodutibilidade em larga escala (Reaplicabilidade)
• Capacidade de promover transformação social
• Facilidade de ser compreendida e apropriada pela comunidade
• Sintonia com alguma política pública
• Possibilidade de ter resultados monitorados e avaliados
OS TRÊS MOMENTOS NA ELABORAÇÃO DE UMA TECNOLOGIA SOCIAL
Da boa iniciativa à larga escala, uma tecnologia social enfrenta basicamente três
momentos. O primeiro deles diz respeito ao desafio técnico de transformar a
idéia em um conjunto de procedimentos padrão, que possibilitem sua
reaplicação, com as devidas adaptações quase sempre necessárias, a qualquer
região do país.
O segundo refere‐se ao seu referendamento público, quando a tecnologia social
em questão passa a ser recomendada por organizações e especialistas como
sendo a melhor maneira de se solucionar um determinado problema social.
A apropriação coletiva dessa metodologia é a terceira e última etapa, quando
uma rede de diferentes atores sociais (públicos e privados) é criada para dar
apoio à sua implantação, proporcionando as condições essenciais para que a
tecnologia se incorpore a uma política pública.
A ENGENHARIA DE UMA TECNOLOGIA SOCIAL DEVE CONSIDERAR…
• O reconhecimento da autoria, tornando mais conhecidos as pessoas ou
grupos responsáveis pela criação do produto, da técnica ou da
metodologia.
• O registro da experiência, documentando‐a em texto, filme e fotografias.
• A concessão de um status de excelência pela inovação.
• A sistematização dos processos de construção, transformando
conhecimento tácito em conhecimento explícito.
11. • A manualização com vistas á reaplicação, explicando como se faz,
criando referências e proporcionando contatos para a formação de uma
rede.
Fonte: Capítulo Tecnologias Sociais e Políticas Públicas (Antonio E. Lassance Jr. E Juçara
Santiago Pedreira) do livro Tecnologia Social: Uma Estratégia para o Desenvolvimento
(Fundação banco do Brasil/2004)
Link: http://www.ideiasustentavel.com.br/2006/09/especial‐a‐distancia‐entre‐uma‐
boa‐solucao‐e‐uma‐tecnologia‐social/