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UNIVERSIDADE LUSÍADA DO PORTO



A Importância dos Pombais de Miranda do Douro Enquanto
Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional




           Nuno Alexandre de Vasconcelos Rodrigues

          Orientador – Professor Doutor Sérgio Infante




             Universidade Lusíada - Porto 2007/2008
Pombais Transmontanos
            A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional



AGRADECIMENTOS


Em primeiro é de agradecer ao Prof. Doutor Sérgio Infante a forma como orientou o
trabalho. As notas dominantes da sua orientação foram a utilidade das suas recomendações
e a cordialidade com que sempre recebeu. Agradece-se de igual forma a liberdade de acção
que permitiu, de forma decisiva, para que este trabalho contribuísse para um
desenvolvimento pessoal.
É de agradecer também a todos aqueles, professores e colegas, que pela convivência, pelo
trabalho ou pelas horas de pesquisa passadas juntos, ou, que em conversas banais de troca
de ideias, ajudaram a crescer e a amadurecer o traço e a visão daquilo que deve ser
arquitectura. Será de salientar os professores que, do primeiro ao último ano do curso,
fizeram o acompanhamento nas disciplinas de Projecto, orientaram os trabalhos e evolução
e estimularam o espírito crítico e criador exigindo sempre mais, conscientes de que seria
capaz.
Finalmente, um agradecimento especial à namorada Susana Lavoura a paciência com que
acompanhou, quer nas viagens de pesquisa e conhecimento da região, quer na organização
dos manuscritos.




                                                                                                                       II
Pombais Transmontanos
      A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional




                                                  ÍNDICE




INTRODUÇÃO                                                                                                      8


C A P Í T U L O 1 - O Estado da Arte: Enquadramento Histórico e Geográfico                                    12
       1.1 Pombais no Mundo                                                                                    13
       1.2 Pombais na Europa                                                                                   14
       1.3 Pombais na Península Ibérica                                                                        16
       1.4 Pombais em Portugal                                                                                 16
       1.5 Pombais no Nordeste de Portugal                                                                     17


C A P Í TU LO 2 – O Pombo da Rocha                                                                             20
       2.1 Historia                                                                                            21
       2.2 Os Pombais                                                                                          22
       2.3 Medidas no Sentido de Proteger e Conservar a Espécie                                                22


C A P Í T U L O 3 – Pesquisa Sobre os Pombais                                                                 23
       3.1 Origens                                                                                             24
       3.2 Os Diferentes Usos dos Pombais                                                                      25
       3.3 Tipologias                                                                                          26
       3.4 Aspectos Construtivos                                                                               36
       3.5 Sistema de Maneio dos Pombais Tradicionais                                                         38


C A P Í T U L O 4 – O Que Pode Tornar Esta Arquitectura Sustentável                                            40
       4.1 Estratégias de Sobrevivência                                                                        41
                4.1.1 - Divulgação                                                                             41
                4.1.2 - Gastronomia                                                                            42
                4.1.3 - Campos de Voluntariado                                                                 43
                4.1.4 - Repovoamento                                                                           44
                4.1.5 - Educação e Sensibilização                                                              44
                4.1.6 - O Pombinho                                                                             45
       4.2. A Questão da Sustentabilidade                                                                      45

                                                                                                                III
Pombais Transmontanos
       A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional




C A P Í T U L O 5 - Caracterização da Aldeia de Freixiosa                                                       48
       5.1 -     Introdução                                                                                     49
       5.2 -     Localização Geográfica dos Constituintes da Aldeia                                             50
       5.3 -     Espaço Livre / Espaço Ocupado                                                                  51
       5.4 -     Habitações e Anexos                                                                            52
       5.5 -     Rede Hidrográfica                                                                              53
       5.6 -     Percursos Existentes                                                                           54
       5.7 -     Exploração Agrícola e Agro-pecuária                                                            55
       5.8 -     Pombais Existentes                                                                             56


C A P Í T U L O 6 - Elementos Geradores de Memória Visual                                                       57
       6.1-      Freixiosa                                                                                      58


C A P Í T U L O 7 - A Condição das Formas Actuais e Levantamento Fotográfico das
Condições dos Pombais Existentes em Freixiosa                                                                  70
       7.1 - Razões que Levaram ao Abandono                                                                     71
       7.2 - Acções Desenvolvidas                                                                               72
       7.3 - Levantamento Fotográfico                                                                           75


C A P Í T U L O 8 – Proposta de Requalificação da Aldeia de Freixiosa                                          92
       8.1 Turismo Rural / Criação de Equipamento                                                               93
       8.2 Proposta de Percursos Pedestres e Reabilitação das Áreas
            Envolventes                                                                                         94
       8.3 Propostas de Recuperação e Revitalização de Pombais, Habitações e
            Praça                                                                                               95
       8.4 Espaços Passíveis de Intervenção                                                                     96
       8.5 Fotomontagens                                                                                        97


C A P Í T U L O 9 – Proposta de Recuperação de Um Núcleo de Pombais em Freixiosa 102
       9.1 - Projectos de Referência                                                                          103
       9.2 – Memória Descritiva e Justificativa do Projecto a Desenvolver                                      106
       9.3 – Esquiços de Estudo                                                                               108
       9.4 – Peças Desenhadas                                                                                 111

                                                                                                                 IV
Pombais Transmontanos
    A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional




              9.4.1 – Planta de Implantação Proposta - Esc. 1/2000                                         111
              9.4.2 – Planta de Implantação da Proposta - Esc. 1/500                                       112
              9.4.3 – Perfis                                                                               113
              9.4.4 – Levantamento Dimensional                                                             114
              9.4.5 – Levantamento Constructivo                                                            118
              9.4.6 – Estado de Conservação e Localização de Patologias                                    122
              9.4.7 – Proposta                                                                             126
              9.4.8 – Pormenor Constructivo                                                                130
    9.5 – Descrição de Patologias                                                                          131
    9.6 – Caderno de Encargos                                                                              141
    9.7 – Mapa de Acabamentos                                                                              143


CONCLUSÃO                                                                                                  145


BIBLIOGRAFIA                                                                                               148




                                                                                                               V
W      d
          /           W       D                                ^                 Z



Resumo

Sendo Miranda do Douro uma montra da arquitectura popular, das tradições e culturas
regionais, foi com facilidade que dei cumprimento às directrizes do professor da
disciplina de Projecto e orientador da Dissertação, Sérgio Infante, que me orientou para
desenvolver, nesta região, um trabalho que pudesse ser diferente e inovador.

Logo na primeira visita à região pude perceber as características únicas de um tipo de
arquitectura tradicional, centenária e esquecida, bem como das potencialidades que esta
poderia vir ainda a oferecer enquanto elemento agregador na sustentabilidade da cultura
regional. Falo dos Pombais Transmontanos, singulares no país e no mundo.

A arquitectura pode ser considerada o espelho da sociedade e das diferentes culturas, a
atitude dessa sociedade perante a cultura, a sua arte, a sua técnica, o seu pensamento e
história que nela estão retratados. A solução, no âmbito da arquitectura, está em
desenvolver um trabalho criativo, inovador não partindo de um conjunto de regras, mas
começando por uma reflexão profunda sobre o seu possível papel e potencialidades
num contexto social. Assumir, como ponto de partida, que uma arquitectura para ser
operativa deverá sempre adaptar-se às características geográficas, sociais ou culturais do
seu meio, resolvendo positivamente as possíveis contradições entre o local e o meio
envolvente. É neste contexto que esta dissertação pretende ser uma tentativa de resposta
e, concomitantemente uma descoberta das raízes da arquitectura popular da região
Transmontana e a sua importância para o desenvolvimento económico e social local. No
que, concretamente, respeita o objecto de estudo desta Dissertação – A Importância dos
Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da
Cultura Regional – importa salientar que a sobrevivência, valorização e conservação do
património cultural nos meios rurais, nos quais se integram os pombais tradicionais
transmontanos, relaciona-se directamente com a participação activa das populações
locais e pela vontade das organizações e instituições, geridas e dinamizadas por
projectos ou, apenas, pelo simples gosto e interesse pessoais.




                                                                                        s/
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Abstract

As Miranda do Douro is a portrait of the popular architecture, it’s traditions and cultures
of the region, it was easy for me to accomplish the Project Teacher’s directives, Sérgio
Infante, who has guided me to develop , in this region, a different and updated work.

Right in my first visit to the region, I could realize the single characteristics of this kind
of traditional architecture, which was centennial and forgotten, as well as, the
potentialities this architecture could still offer as an aggregator element in the
sustainability of the regional culture. I will write about the pigeon house from Trás-os-
Montes, unique in the whole country and in the world.

The architecture may be considered the society’s mirror, as well as, its different cultures
and its attitude towards culture, its art, its technique, its thought and history portrayed in
itself. The solution, concerning architecture, may be to develop a new and creative
work, not based in a set of rules but according to a deep reflection about its role and
potentialities in our social context. Taking into account that architecture, to be
operative, should always adapt itself to the geographic, social and cultural
characteristics of the local environment, solving positively the possible conflicts
between the exact place and the local environment. It is in this context that this essay
intends to be an attempt to find an answer, and at the same time to find out the roots of
popular architecture in the region of Trás-os-Montes, its importance for the economical,
social and local development. Concerning, specifically the main purpose of this essay –
The importance of Pigeons House from Miranda do Douro as an Aggregator Element in
the Sustainability of the Regional Culture – it is fundamental to emphasize that the
survival, highlighting and conservation of the cultural patrimony in the rural
environment, where the pigeons houses are integrated, is directly related to the local
people’s active participation, the organizations and institutions will dynamited by
projects, or simply to the personal interests and tastes.




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Pombais Transmontanos
            A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional




INTRODUÇÃO

Os espaços rurais estão vinculados a imagens e modos de vida peculiares, confundem-se
com sociedades marcadas por arcaísmos, indissociáveis de economias vulneráveis, à mercê
do êxodo e do despovoamento, dependentes de prestações sociais, de solidariedades e de
recursos provenientes de políticas públicas que os discriminem positivamente. Este retrato
contribui para vincar o sentimento de perda e marcar negativamente a auto-estima de
pessoas e territórios que, assim, se descobriam estigmatizados e ainda mais prisioneiros das
suas próprias fragilidades.
A diversidade de contextos (naturais, económicos e sociais), de recursos disponíveis e
mobilizáveis e a aparente homogeneidade, normalmente associada ao mundo rural, servem
de pano de fundo a processos de desenvolvimento cuja tradução espacial possibilita diluir
as diferenças entre litoral/Interior e Norte/Sul. Acentuando a fragmentação do nosso
território, os diferentes movimentos que se verificam nos moldes de povoamento, de novas
técnicas produtivas e de ocupação e uso do solo proporcionaram um novo atlas do rural
português. As aldeias e a arquitectura popular, as paisagens e o património natural, os
produtos e os saberes locais são algumas das referências que, estabelecendo ligação com as
raízes, moldam as identidades das pessoas e dos lugares. Pelo que representam e pelo
importante papel que podem desempenhar para vencer o isolamento e promover o seu
desenvolvimento, são recursos que importa salientar nos respectivos processos de
desenvolvimento.


É neste contexto que emerge a principal aspiração deste trabalho, analisar um tipo de
arquitectura desconhecida pela maioria dos indivíduos, perceber todos os aspectos
relacionados com este tipo de construção que foi, no passado, exemplo de um modo
sustentável, e indagar acerca da sua continuidade no futuro. É também um objectivo deste
trabalho tentar perceber o funcionamento destas edificações que se apresentam como
formas de ocupar o espaço pensadas, idealizadas e edificadas pelo homem.
Assim, este trabalho visa pesquisar de forma exaustiva e fazer o levantamento das
características tão peculiares associadas a este tipo de arquitectura, de que são exemplo os
pombais tradicionais transmontanos, e averiguar de que forma a recuperação e reabilitação
de pombais pode contribuir para um desenvolvimento sustentável de aldeias cada vez mais
desertificadas e, que correm o risco de serem alvo de um profundo processo de

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Pombais Transmontanos
             A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional


descaracterização, como é o exemplo do caso de estudo, a aldeia de Freixiosa. Por outro
lado, perceber também de que forma este desenvolvimento sustentável das aldeias pode ser
o impulsionador de uma divulgação turística cada vez mais forte dos ícones da região: a
fauna, flora, gastronomia e a própria arquitectura, e o estímulo necessário a uma
consciencialização generalizada por parte dos proprietários para a revitalização e
conservação dos pombais e importância do repovoamento dos mesmos.
Com efeito, este trabalho pretende mostrar que a recuperação de pombais se enquadra na
problemática da requalificação da arquitectura popular e numa procura de elementos
agregadores que permitam fazer destas construções, de cariz popular, sustentáveis
económica e socialmente.


O espaço rural é um recurso que deve ser potencializado, através da amplitude das
inúmeras possibilidades: paisagem, fauna, flora, rio, albufeira, montanhas, vales, caça e
pesca, rocha e minerais, património arqueológico e histórico, arquitectura popular,
tradições, artesanato, gastronomia e história, linhas férreas antigas, casas rurais,
miradouros, parques e reservas naturais, feiras, festas e romarias, música e poesia popular.
É neste âmbito, tentando dinamizar económica e socialmente estes espaços, que se tenta
mostrar a importância dos Pombais de Miranda do Douro enquanto elemento agregador na
sustentabilidade da cultura regional, fazendo uma aproximação gradual ao território e
posteriormente ao objecto de estudo e suas potencialidades.


No que respeita o estado actual da arte, construção de Pombais nas aldeias ou nos arredores
das mesmas, têm funcionalidades muito próprias, direccionadas para a produção agrícola e
pecuária. Por esta razão, apresentam formas arquitectónicas específicas de acordo com a
actividade aí desenvolvida. Os materiais utilizados na sua construção são geralmente
aqueles existentes na região e as metodologias de construção são tradicionais. Estes
factores fazem destas construções um marco arquitectónico das aldeias rurais de Trás-os-
Montes que, associados aos bandos que povoam os céus da região, tornaram-se um ícone
da região.
Ao longo do tempo os pombais foram perdendo a importância de outrora, bem como o
interesse dos seus donos na sua manutenção, em virtude do aparecimento de novas formas
de exploração agrícola, assim como, do desenvolvimento tecnológico.
A perda de relevância das construções dos pombais foi muito devido ao crescimento
tecnológico e industrial, o que levou a que muitos proprietários destas construções se
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            A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional


desinteressassem pelo seu uso e mesmo manutenção. Em simultâneo a população
trabalhadora foi envelhecendo e perdendo forças para lidar com as lidas das terras. Da
mesma forma que houve uma desertificação demográfica nesta zona do País, os pombos
procuram alimento nas zonas urbanas.
O desenvolvimento cinegético, de um modo geral e falta de conhecimento das leis
contribui foi também decisivo para o fluxo crescente no abandono dos pombais.
Embora, a maioria destas edificações se encontrem abandonadas, em decadência e em
ruínas, ainda é possível encontrar pombais que são utilizados com o fim para o qual foram
construídos, em virtude de esforços de alguns proprietários que individualmente
desenvolveram acções que visam a conservação dos pombais, mas acima de tudo, em
resultado de projectos de algumas associações como a PALOMBAR – Associação de
Proprietários de Pombais Tradicionais do Nordeste, que promovem em parceria com outras
instituições acções de formação e conservação deste tipo de arquitectura vernácula.
O Instituto de Conservação da natureza (ICN) em pareceria com o Parque natural do Douro
Internacional, as associações de desenvolvimento local como a Pró Raia, a Raia Histórica
ou a CORANE – Associação de Desenvolvimento dos Concelhos da Raia Nordestina -
promoveram também acções e projectos de recuperação de pombais que possibilitaram um
novo dinamismo na preservação da arquitectura rural.
Todas estas iniciativas mostram não só a crescente consciencialização da população, em
geral, mas de um modo particular de estudiosos como os biólogos António Monteiro ou
Elsa Fernandes, ou até o arquitecto Carlos Guerra para quem “o homem faz as casas e as
casas fazem o homem”, que se têm dedicado a estudar as potencialidades deste tipo de
arquitectura tão peculiar. Assim este trabalho não pretende apresentar um tipo de
arquitectura nova mas sim lançar um olhar diferente e inovador sobre aquilo que já foi
estudado e reflectido.


Sendo Miranda do Douro uma montra da arquitectura popular, das tradições e culturas
regionais, foi com facilidade que se deu cumprimento às directrizes do professor da
disciplina de Projecto e orientador da Dissertação, no sentido de direccionar focalizar o
trabalho para um tipo de arquitectura resultante de hábitos e costumes culturais outrora
preponderantes para as economias locais das remotas aldeias do concelho de Miranda do
Douro.
Logo na primeira visita à região pode perceber-se as características únicas de um tipo de
arquitectura tradicional, centenária e esquecida, bem como das potencialidades que esta
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Pombais Transmontanos
            A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional


poderia vir ainda a oferecer enquanto elemento agregador na sustentabilidade da cultura
regional, os Pombais Transmontanos, singulares no país e no mundo.


Assim no que concerne a metodologia subjacente a este trabalho, antes da esquematização
do trabalho foram levadas a cabo várias acções de campo que permitissem um melhor
conhecimento do território e que implicaram visitas a várias aldeias transmontanas, sendo
que gradualmente se foi focalizando para a aldeia de Freixiosa, não só pela quantidade de
pombais ai encontrados mas também pela riqueza arquitectónica da própria aldeia.
Posteriormente, revelou-se importante o contacto com a população e com o objecto de
estudo, os pombais, recorrendo à fotografia como forma de visualização e registo de
aspectos e detalhes que viriam a ser fundamentais para a compreensão deste tipo de
arquitectura.
Desta forma, após este trabalho de investigação in loco e de uma reflexão ponderada, numa
primeira fase enquadra-se histórica e geograficamente os pombais com o intuito de
perceber a importância destas construções, as suas diferentes tipologias, materiais e
técnicas de construção utilizados o que esteve na origem da proliferação das mesmas. Este
enquadramento não seria possível sem referir a importância e conhecer o funcionamento
do habitat natural dos seus habitantes, as pombas.
Toda a pesquisa feita levanta questões acerca da sustentabilidade e sobrevivência deste tipo
de construção no futuro, contudo são também apresentados todo um conjunto de aspectos,
nomeadamente propostas de criação de equipamentos na aldeia de Freixiosa, de
reabilitação das áreas envolventes aos pombais e das habitações, bem como propostas de
divulgação gastronómica, de percursos pedestres e turismo rural, que permitem responder a
essas questões de forma construtiva, apontando estratégias de sobrevivência dos pombais e
caminhos de acção que são, não só o reflexo de experiências anteriores protagonizadas por
associações nacionais, internacionais, por instituições locais ou pela simples vontade
daqueles que acreditam nas potencialidades que estas construções vernáculas possuem
ainda, mas também um olhar inovador e diferente sobre este tipo de arquitectura rural.




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           A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional




CAPÍTULO 1
O Estado da Arte: Enquadramento Histórico e Geográfico
      1.1 - Pombais no Mundo
      1.2 - Pombais na Europa
      1.3 - Pombais na Península Ibérica
      1.4 - Pombais em Portugal
      1.5 - Pombais no Nordeste de Portugal




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                A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional


Para além da finalidade usual dos pombais, ao longo do tempo foram descobertos outros
usos e finalidades que justificavam a proliferação destas construções simbólicas. Não
existem muitas referências relativas à origem e construção deste tipo de arquitectura.
Existem documentos que descrevem as várias formas de domesticação há cerca de 5000
anos no Médio Oriente. Os documentos existentes indicam que foi por volta desta época
que as práticas agro-pecuárias e a Columbicultura, em comunhão, se desenvolveram pela
bacia do Mediterrâneo, especialmente durante as civilizações grega, romana e egípcia. Já
aqui se verificava que este tipo de construção era de alguma forma complexa, possuindo
bastantes elementos decorativos no seu exterior, sendo muitas vezes, construções
destinadas ao entretenimento, para além da sua função enquanto produção de alimento.


1.1 Pombais no Mundo
“As primeiras referências a Pombais que foi possível encontrar remontam à civilização
grega. Na Grécia, a comunicação às cidades de origem dos vencedores dos primeiros
Jogos Olímpicos, efectuava-se através de pombas mensageiras”1. No final do séc. VI A.C.,
assiste-se a um investimento na criação da pomba para actos religiosos.




         Fig. 1e 2 Pombal em Andros na Grécia



As pombas serviam também de meio de comunicação sendo utilizadas pelo povo egípcio e
persa para enviar mensagens. Tendo estes últimos elaborado um sistema de comunicação
usando estes animais como transporte de mensagens.
No mundo islâmico a quem era atribuído um desenvolvimento e cultura superiores,
criaram redes de comunicação no seu território através das pombas, tornando-se assim
superiores aos seus inimigos cristãos. Para comprovar isto serve o tesouro do Circulo Real

1
    Giuseppe Zanoni, O Pombo Criação e Exploração, Litexa, Lisboa, 1982. p.225
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Pombais Transmontanos
             A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional


de Mecenas (séc. XVI a.C.) onde foi encontrado a ilustração de um pombal sagrado em
pão de ouro. Na zona do Médio oriente existem imensos pombais de forma redonda,
especialmente na região Ispahán, cerca de 3000 torres arredondadas. A sua construção é
datada à época de Shah Abbas I2. Os dejectos das aves tinham como função fertilizar os
conhecidos melões de Ispahán. Actualmente, as pombas nesta região são encaradas como
sendo animais divinos, pelo que não são é tornadas alimento.




                Fig 3 Pombais em Gesi, Turquia



Na Turquia, por seu lado, existem exemplos de pombais do séc. XVIII, embora muitos
deles tenham sido construídos no séc. XIX, princípios do séc. XX. Ainda que não se saiba
a razão destas obras, elas são, no fundo, um espelho da cultura e da arte tradicional
Islâmica.
Era frequente os agricultores usarem o estrume das pombas para fertilizar e fazer aumentar
a produção dos seus cultivos. Para além disso, o consumo da carne desta ave fez proliferar
a construção de pombais. Era costume o exterior dos pombais ser decorado pelos artistas
da região onde estes estavam implantados.


1.2 Pombais na Europa
A importância que os pombais exerciam na cultura islâmica estendeu-se à cultura europeia
essencialmente através dos povos romanos. Factualmente, durante a Idade Média e parte da
Moderna, a posse de um Pombal era um privilégio que se reservava aos senhores feudais,

2
  Shah Abbas I (1557 - 1629) Ficou conhecido pelo seu zelo reformador e pela sua crueldade e foi o
primeiro a estabelecer a Pérsia como um estado homogéneo. (www.wikipedia.org)
                                                                                                                       14
Pombais Transmontanos
             A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional


onde as pombas do senhor eram alimentadas e lançadas às terras dos camponeses,
constituindo o que se chamou Direitos de Pombal.3
Nos finais do séc. XVIII, a pomba mensageira era utilizada com fins militares e
económicos, pois eram utilizados pelos militares e pelas agências financeiras e de negócios
dos centros do velho continente. A pomba passou a ser encarada como um meio formativo.




                                Fig. 4 Pombal em Inglaterra


Durante a primeira Grande Guerra, a pomba revelou-se um precioso meio de comunicação
e transmissão de informação, na medida em que os meios tecnológicos eram ainda muito
rudimentares. Ao tomar conhecimento desta estratégia britânica, o exército alemão
procedeu à destruição de todos oa pombais de que tomava conhecimento.
Os pombais evoluíram em concomitância com a modernização e evolução agrícola, e
começaram a ser um marco importante da paisagem rural e das diferentes zonas rurais do
velho continente ocidental. Disso são exemplos as regiões de Tarn-et-Garonne, Quercy,
Normandia e Provença em França, a Tierra de Campos (Zamora, Léon, Valladolid,
Palencia) em Espanha, o Nordeste Transmontano, o Douro Superior, e a Beira-Alta em
Portugal.



3
 Texto baseado em: Santiago Diez Anta, Los Palombares en la província de Léon. Edicion Caia España,
Léon. 1993 p.21
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Pombais Transmontanos
            A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional


1.3 Pombais na Península Ibérica
“Na Península Ibérica apenas existem referências a Pombais após a chegada dos
romanos, coincidindo com uma época de maior organização da população e
racionalização da agricultura, altura em que o Pombal se assumia como fulcral na
economia familiar”4.




                      Fig. 5 Pombal em Valadollid - Espanha



Tal como aconteceu noutras regiões em Espanha, a edificação deste tipo de arquitectura
evoluiu a par da evolução agrícola, nomeadamente do cultivo de cereais em virtude da
existência de um clima demasiado duro que não permitia o cultivo de outros produtos.
Estas edificações são especialmente numerosas em Castela e Léon, na comarca natural de
Tierra de Campos. Esta comarca encontra-se repartida em quatro províncias
administrativas: Léon, Zamora, Valladolid e Palencia, todas elas com condições sócio-
económicas semelhantes. “Este território é o que possui maior uniformidade de
distribuição, densidade e variedade tipológica de Pombais que, se encontram implantados
altitudes diversas, variando entre os 600 e os 1100 metros”5.


1.4 Pombais em Portugal
Em Portugal o Nordeste é onde se pode encontrar uma aglomeração mais expressivo deste
tipo de arquitectura, embora também existam pombais espalhados ao longo de todo o país,
especialmente na Beira-Baixa, na Estremadura e Alentejo. Os Pombais Transmontanos em
particular, destacam-se pela coerência na arquitectura deste tipo de edifício, de uma forma
totalmente diferente, mesmo a nível mundial. Estes pombais podem ser de planta circular


4
  PALOMBAR, “Manual de Apoio Técnico ao Repovoamento de Pombais Tradicionais do Nordeste”,
documento s/data, cap.1
5
  A.D.R.I. PALOMBARES, CORANE “ Palombares, Pombais, Arquitectura, Turismo e Gastronomia” –
Folheto Informativo.
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Pombais Transmontanos
            A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional


ou mesmo semi-circular, possuem paredes grossas edificadas, na maior parte das vezes, em
pedra, estucadas e caiadas de branco, Possuem apenas um vão de entrada, e as saídas de
voo situam-se num plano superior junto a cobertura. Esta geralmente é construída em
madeira ou cónica com revestimento em telha cerâmica ou mesmo como em certos casos
composta por placas de ardósia. Estas características, resultam do facto de esta zona se
situar na Bacia do Douro, sendo esta região de passagem entre a Meseta Ibérica e a Costa
Atlântica. Nas elevações e vales formados pelo Douro e seus afluentes, como o rio Tua,
Sabor, Águeda e Côa, predominam quatro culturas agrícolas, a vinha, os cereais, as
oliveiras e hortas. Estas explorações agrícolas são favorecidas por um microclima que se
faz sentir nesta zona por estar abaixo dos 1000 m. Em resultado desta conjuntura
económica e social, surgem os pombais conhecidos como Tradicionais, no Nordeste
Transmontano no início do séc. XIX.


1.5 Pombais no Nordeste de Portugal
Estas construções denominadas por Pombais Tradicionais constituem uma herança
arquitectónica e paisagística, característica do Nordeste de Portugal, retratando as
vivências rurais de um passado marcante desta zona. Estes Pombais tinham como função a
produção pecuária que, na economia local constituía um importante complemento da
actividade agrícola. Resultaram também do uso destas construções outras vantagens
ecológicas, económicas e culturais que, com o seu gradual abandono, podem tornar-se
apenas um exemplo daquilo que existiu outrora.
Para localizar e identificar, de forma mais fácil e simples, os Pombais do Nordeste de
Portugal, foram delimitadas três zonas compreendidas entre o distrito de Bragança e o
distrito da Guarda:


Zona 1 - Pombais da Terra Fria Transmontana
Zona 2 - Pombais da Terra Quente Transmontana e Douro Vinhateiro
Zona 3 - Pombais Beirões
  Zona 1                             Zona 2                                    Zona 3




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Pombais Transmontanos
             A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional


O clima é o factor que separa as duas zonas distintas do Nordeste Transmontano em Terra
Fria e Terra Quente. A primeira tem o seu inicio cerca de 600m de altitude e é constituída
por planaltos e montes, apresenta um clima agressivo e sofre menos interferência do
Oceano Atlântico. A Terra Quente, por sua vez pauta-se por fraca precipitação e
temperaturas mais suaves no Inverno.
Contudo, pode encontrar-se uma área de passagem entre a Terra Quente e a Terra Fria
sendo que a altitude mais baixa situa-se entre os 3507400 M E A MAIS ALTA NOS
600m.


Zona 1 - Pombais da Terra Fria Transmontana
Na zona da Terra Fria Transmontana, de uma forma geral, os Pombais característicos desta
zona são de planta em ferradura, com cobertura em placas de ardósia ou telha, na maioria
das vezes ornamentados e com pináculos. Estes Pombais inseriam-se na economia de
montanha própria desta região, onde a agricultura era o único meio de subsistência
dependendo bastante da pecuária sendo que, originalmente, tenham os pombais tenham
servido como um processo paralelo de produção de alimento, como a carne das pombas
(borracho). Neste âmbito, os Pombais, património de agricultores ou produtores rurais, não
necessariamente ricos, eram distribuídos ou formavam núcleos, em geral nas encostas
expostas ao sol e em proximidade com as habitações, espelhando um certo sentido de
comunidade que se vivia nas pequenas aldeias. Muitas aldeias do distrito de Bragança
como por exemplo Uva e Freixiosa são retratos desta vivência. Posteriormente os pombais
ganharam outra função, a produção de estrume pombinho6, que se destinava,
essencialmente, às produções de trigo e oliveiras, em expansão nesta altura. Para tal, os
pombais eram edificados no interior dos terrenos de cultivo, distribuindo-se desta forma
pelas encostas.7


Zona 2 - Pombais na Terra Quente Transmontana e Douro Vinhateiro
Na Terra Quente pode-se encontrar diferentes tipologias que se traduzem na utilização de
diferentes materiais e técnicas de construção. Esta diversidade deve-se à influência de
outras culturas e métodos que se adquiriram através dos contactos que se realizam ao longo
do eixo comercial do Douro, quer com a Beira-Alta, quer com Espanha. Nos concelhos de

6
  Pombinho - produção de estrume de pomba.
7
 Texto baseado em informação disponível no sítio - www.palombar.org – Associação de Proprietários de
Pombais Tradicionais do Nordeste, Novembro 2007

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Pombais Transmontanos
             A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional


Vila Nova de Foz Côa e Torre de Moncorvo são na sua maioria de forma circular e
ferradura, em Escalhão (Figueira de Castelo Rodrigo) são também de forma circular mas
com telhado em forma de cone e em Freixo de Espada à Cinta são de planta quadrada. O
clima nesta zona é um dos factores que mais influência a produção de pombos, na medida
em que é um clima que permite as criações durante praticamente o ano todo. Por outro
lado, o contacto próximo com o habitat natural do Pombo-da-rocha, que são as encostas do
Rio Douro e seus afluentes, onde ainda se pode encontrar povoações selvagens, que
também favorece a procriação desta ave. Com efeito, este tipo de construções na Terra
Quente foi edificado pela necessidade de produção de estrume, sendo construídos nos
próprios terrenos agrícolas, na maioria dos casos de produção da amêndoa e da oliveira.
Nesta zona é característico os Pombais situarem-se dispersos e raramente próximos das
habitações e praticamente nunca formando núcleos. Os Pombais na Terra Quente foram
também importantes para a produção de borrachos para consumo das populações locais,
mas também para comercialização externa, nomeadamente na cidade do Porto, quer para
consumo quer para concursos de tiro ao pombo. A expansão deste comércio deveu-se
essencialmente às importantes vias de comunicação, tanto terrestre , via ferroviária, como
fluvial, descendo o Douro.
Os grandes proprietários rurais e também os agricultores mais ricos eram os principais
donos de Pombais, possuindo na maioria dos casos três a quatro Pombais. No entanto, nos
meados do século XX, começaram a ser edificados muitos pombais dispersos pelas
encostas, em virtude do desenvolvimento das práticas agrícolas e vitícolas.8


Zona 3 - Pombais Beirões
Nesta zona, de uma forma geral, estas construções caracterizam-se por apresentarem planta
circular com telhados cónicos. Contudo, encontram-se também outras tipologias como os
de telhados com duas águas mesmo os de planta m ferradura, sendo diferentes dos de Trás-
os-Montes por não apresentarem corta ventos. Da mesma forma que os Pombais da Terra
Quente, estes têm também como finalidade a produção de estrume para a agricultura,
principalmente do cultivo da vinha e da oliveira que se desenvolveram e acompanharam a
expansão deste tipo de construções. Aqui, os Pombais encontram-se entre 500m a 600m de
altitude.9


8e9
   Texto baseado em informação disponível no sítio - www.palombar.org – Associação de Proprietários de
Pombais Tradicionais do Nordeste, Novembro 2007

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Pombais Transmontanos
           A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional




2 - O Pombo da Rocha
      2.1 – História
      2.2 – Os Pombais
      2.3 – Conservação da Espécie




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Pombais Transmontanos
                A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional




          A Pomba apresenta-se como figura importante deste trabalho, na medida em que
foram as suas características e necessidades que, ao longo dos anos, foram moldando as
construções que estão na base deste trabalho – Os Pombais do Nordeste Transmontano.




                          Fig. W        da Rocha no ninho com crias



História
Um dos mais velhos amigos do Homem é sem dúvida o Pombo. Alguns registos
antiquíssimos revelam que o Homem primitivo por volta de os 5000 anos já fazia uso dos
pombos, no entanto só no século XIX é que o pombo teve um uso científico através de
Charles Darwin10, pois os Pombos-das-rochas serviram-lhe de apoio nos estudos sobre a
teoria da origem das espécies. Darwin que presumiu que o pai dos pombos domésticos, tão
populares e fartos, tanto em meios rurais como citadinos tivesse sido o Pombo-das-rochas.
“É de notar que a pomba foi a primeira ave a ser domesticada”11.
Algumas civilizações tais como os Egípcios, Fenícios, Sírios, Hindus e mesmo na religião
cristã, foram utilizados pombos em práticas religiosas, da mesma maneira que estes
também serviram em tempo de guerra como um meio eficiente de comunicação. Como
passatempo, na Roma antiga, os pombos já eram muito populares, tal como nos dias de
hoje continuam a cativar imensos criadores e admiradores.

10
     Charles Robert Darwin (1809-1882) foi um naturalista britânico que alcançou fama ao convencer a
comunidade científica da ocorrência da evolução e propor uma teoria para explicar como ela se dá por meio
da seleção natural e sexual (www.wikipedia.org , Março 2009)
11
     Giuseppe Zanoni, O Pombo Criação e Exploração, Litexa, Lisboa, 1982, p.111.

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Pombais Transmontanos
              A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional


Os Pombais
Em períodos de carecimento de carne para alimentação os pombos eram caçados e
consumidos em certas regiões. Com o tempo foram-se construindo os pombais para que
desta forma houvesse uma reprodução controlada, permitindo que a espécie fosse uma
fonte de alimentação de extrema importância, para além de propiciar um fertilizante
bastante rico para a agricultura resultante dos seus dejectos.

Uma das áreas onde a concentração de pombais na Península Ibérica é maior é no Parque
Natural do Douro Internacional. Os pombais pela sua arquitectura característica, são
impossíveis de passar por despercebidos. Estes podem assumir forma quadrangular,
circular e mesmo de ferradura.12




Fig.7 Núcleo de Pombais em Freixiosa, Miranda do Douro




Medidas no Sentido de Proteger e Conservar a Espécie
É importante, contudo, implementar algumas medidas que visem a protecção desta espécie
animal, nomeadamente cuidar e preservar os locais de nidificação protegendo as pombas
contra factores que actuem de forma negativa sobre a reprodução da espécie, manter a
agricultura tradicional e evitar o abandono dos campos, combater todo o tipo de caça ilegal
existente na região, e ainda proceder à reabilitação dos pombais tradicionais dando especial
importância aos que se situam junto às arribas, o que poderá possibilitar um crescimento da
população de Pombo-da-rocha no seu meio natural.




12
  Texto baseado em informação disponível no sítio - www.palombar.org – Associação de Proprietários de
Pombais Tradicionais do Nordeste, Fevereiro 2009
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Pombais Transmontanos
           A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional




CAPÍTULO 3
Pesquisa sobre os Pombais
      3.1 - Origens
      3.2 - Os Diferentes Usos dos Pombais
      3.3 - Tipologias
      3.4 - Aspectos Construtivos
      3.5 – Sistema de Maneio dos Pombais Tradicionais




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Pombais Transmontanos
              A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional


Os pombais Transmontanos são edificações pequenas construídas em pedra, idênticos na
sua tipologia, sendo na generalidade de planta em ferradura ou circular e destacam-se ela
cor branca das paredes, tornando-se uma referência para quem passa pela região. A maioria
dos pombais, atrás referenciados, foram edificados na primeira metade do século vinte,
embora a sua origem tenha siso na Idade Média. Estes Pombais tinham como função a
criação de pombos para consumo e de estrume – o pombinho – para ser utilizado como
fertilizante nos cultivos agrícolas. Estas construções foram edificadas por artesãos com
base em conhecimentos e experiência adquiridos ao longo dos anos e transmitidos de
geração em geração. Os Pombais previam a protecção das pombas em relação à entrada de
predadores, ao apresentarem paredes grossas repletas de cavidades de pedra no interior.
Estas construções reproduzem as condições necessárias de refúgio e nidificação do Pomba-
da-rocha. Por outro lado, possibilitavam explorar, de forma sustentável um recurso que era
silvestre, pois embora habitassem os pombais, as pombas continuavam por domesticar,
apenas dependiam do maneio humano em época de escassez de alimento.13


3.1 Origens
É bastante difícil datar com exactidão a origem dos pombais transmontanos, na medida em
que não são conhecidos registos escritos ou de cariz popular que possam referenciar estas
construções. Contudo, são conhecidas algumas semelhanças entre estes Pombais e os
romanos no que respeita a distribuição dos ninhos no interior. Estas semelhanças permitem
supor que a origem destas construções possam ter surgido durante o império romano ou
pré-romano. Não obstante, a existência de semelhanças com outras construções,
nomeadamente com as construções castrejas14, pela similaridade de tipologias, de formas
redondas e arredondadas, se possa especular também sobra a sua origem.




            Fig.8 e 9 Castro de S. Lourenço (Vila Chã, perto de Esposende)


13
   Texto baseado em: António Monteiro, Nuno Feliciano, Miguel Torres, in “Recuperação de Pombais
Tradicionais no PINDI”, documento s/data
14
   Castro – um castro é um tipo de povoado existente nas montanhas do nordeste da Península Ibérica,
característicos da Idade do Ferro. De estrutura defensiva e circular, revelam desde cedo a implementação de
uma”civilização da pedra”, quer nas zonas de granito quer nas de xisto. (www.wikipedia.org, Maio 2008)

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Pombais Transmontanos
            A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional


As construções castrejas apresentam coberturas em falsas cúpulas, coberturas de forma
cónica feitas de madeira e colmo, sendo muitas vezes suportadas por um pilar central,
contudo, não existem coberturas de uma só água iguais àquelas que se encontram nos
pombais de ardósia ou telha de meia-cana.
No entanto, poder-se-á dizer que as semelhanças entre estas construções e os pombais se
prende com os materiais usados e com as suas dimensões. Contudo, é visível nas aldeias
percorridas que possuem pombais de tipologia ferradura e planta circular, que estes últimos
seriam anteriores aos que apresentam uma parede plana. Porém permanecerá,
inquestionavelmente, a técnica utilizada em ambas as construções, pombais e castros,
sendo que a grande parte das construções são em forma circular, as técnicas postas em
prática possibilitavam a edificação de paredes perpendiculares, na medida em que para
essas paredes seriam necessários blocos bastante grandes para permitir                          travar os cunhais.
A construção das paredes era feita arredondando as mesmas até estas se encontrarem, uma
vez que os materiais usados eram o xisto e o granito que sendo de dimensões reduzidas,
possibilitavam esta técnica.
Esta técnica estendeu-se as construções para habitação, por isso actualmente ainda é
possível encontrar casas de paredes arredondadas, especialmente em Rio de Onor, Varge e
França, e também na cidade de Bragança. Estas formas de construir foram adquiridas há
muitas gerações atrás mas que continuam a ser utilizadas especialmente em edificações de
cariz popular.


3.2 Os Diferentes Usos dos Pombais
Os pombais tinham como funções principais a produção de estrume, “pombinho” e a
produção de carne (borrachos e pombos), especialmente nas regiões onde a agricultura
ganhava cada vez mais importância, sobretudo com o crescente cultivo de trigo e oliveiras.
Por esta razão eram construídos no interior dos campos de cultivo e de forma mais
dispersa.
Paralelamente, muitos destes pombais tradicionais transmontanos tinham também um
papel social de ostentação de riqueza e poder, sendo um símbolo do estrato social dos seus
donos, sendo estes famílias nobres, ricas ou membros da igreja.
Estas construções evidenciavam preocupações estéticas e decorativas dos habitantes das
aldeias onde estes se inseriam. Estas preocupações estéticas prendiam-se com a
importância, de cariz religioso, do pombo neste contexto rural, enquanto símbolo de paz,
pureza, fidelidade e do divino.

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              A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional


Assim, em resultado deste culto ao pombo, que é passado de geração em geração, ainda
hoje se encontram pombais que são verdadeiras obras de arte desta arquitectura vernácula,
conservados e em condições exemplares.
Desta forma os pombos ganharam um lugar de destaque na história e vida cultural que
ainda hoje se manifesta nos céus e nas aldeias desta região.15


3.3 Tipologias
Intimamente ligados à produção de alimentos em épocas de grande escassez dos mesmos,
estão os Pombais Tradicionais do Nordeste, e por isso representavam aquilo que se pode
denominar de arquitectura popular “de produção”16.
Como referido anteriormente, as paredes dos pombais são de larga espessura e construídas
em xisto ou granito, de forma a potenciar o uso dos materiais existentes na região.
Posteriormente estas eram rebocadas com cal e caiadas de branco, a cobertura era feita em
madeira e o telhado era feito em placas de ardósia ou em telhas em cerâmica. No que
respeita o interior, eram construídas inúmeras cavidades nas pedras com uma disposição
simétrica ou assimétrica que serviam de estrados para a construção dos ninhos.
“Ao longo de toda a área de distribuição dos Pombais nordestinos, existe uma certa
variação arquitectónica, nomeadamente ao nível dos arranjos exteriores e das dimensões,
o que confere especificidades e características regionais a estas pitorescas construções de
elevado valor patrimonial que, no seu conjunto, se tornaram num verdadeiro emblema
paisagístico da região”17.
De uma forma global pode dizer-se que todos os Pombais apresentam um aspecto exterior
semelhante, especialmente no que respeita o seu volume e os materiais e técnicas
utilizadas, porém se for feita uma análise mais minuciosa verificar-se-ão diferenças que
reflectem as diferenças culturais, económicas, de cultivo e até geológicas que se encontram
de região para região.
Algumas destas variações podem também ser justificadas pela carência de recursos
materiais ou económicos ou simplesmente por diferentes pontos de vista estéticos ou
15
    Texto baseado em: António Monteiro, Elsa Fernandes, “Os Pombais do Nordeste Transmontano,
Sentinelas da Paisagem”, in Pessoas e Lugares II série, nº 16 Jan/Fev 2004, p.6
16
   Mário Moutinho, Arquitectura Popular Portuguesa, Editorial Estampa, Lisboa, 1979, p.42; Helder
Pacheco, Portugal - Património Cultural Popular 1, Areal Editores, Lisboa, 1ª ed., p.100: “ A arquitectura de
produção (ou melhor dizendo, de organização da produção) é a destinada ao abrigo das matérias-primas
recolhidas do meio envolvente, de e para a comunidade, ao fabrico de variados produtos e objectos,
utilizando as tecnologias e materiais disponíveis, ou ainda à criação de animais. Dela fazem parte os moinhos
(de rodízio, de vento e de maré), os pisões e as azenhas; os currais, pombais e capoeiras;”
17
    PALOMBAR, “Manual de Apoio Técnico ao Repovoamento de Pombais Tradicionais do Nordeste”,
documento s/data, cap.1

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Pombais Transmontanos
              A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional


funcionais. É preciso também ter em conta o momento histórico da sua construção, época
em que a chegada de novas ideias, técnicas e materiais se fazia de forma bastante lenta. Por
este motivo, muitas vezes as diferenças que se encontravam de aldeia para aldeia, ou até de
um grupo de aldeias para outro equivalia à zona de influência de um determinado pedreiro
ou construtor.
De forma a perceber mais claramente as diferenças e simultaneamente as semelhanças,
importa salientar alguns elementos dos quais o pombal está dependente.
Apesar de alguns elementos constituintes do pombal serem semelhantes a todas as
tipologias, estes elementos resultaram de uma tentativa, sustentada no conhecimento
popular, de resolver alguns problemas que foram surgindo aquando da construção do
pombal.


Locais onde Construir um Pombal
Uma das principais condicionantes a nível construtivo era o local a assentar o pombal,
devido a falta de instrumentos e técnicas insuficientes para construir fundações e abertura
de valas. A construção de um pombal assentava normalmente em zonas rochosas, não
ocupando assim terreno cultivável que era então muito valorizado pela sua importância na
vida rural. Mas por vezes os terrenos cultivados eram uma opção valida para a implantação
dos pombais, pois facilitava a distribuição do estrume neles produzidos, principalmente em
zonas onde se cultivavam cereais, pois também o pombal ficava mais próximo do
alimento.




    Fig.10 Implantação de um núcleo de pombais




A importância da Exposição Solar
Um outro factor importante para a construção dos pombais, era a exposição solar em que
este era orientado, normalmente para sul ou nascente privilegiando, sempre que possível,

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Pombais Transmontanos
             A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional


as encostas transmontanas. Assim, o pombal estaria exposto ao sol durante mais tempo,
possibilitando uma maior luminosidade e uma temperatura mais suave dentro do pombal.
De acordo com o saber popular da região do nordeste “nove meses de Inverno e três de
Inferno”18, o que significava que a exposição do pombal era um dos aspectos mais
importantes a ter em conta aquando da sua edificação para que as pombas estivessem
protegidas nas noites geladas do Inverno.
Um outro elemento, quase sempre semelhante a todos os pombais, prende-se com as
paredes de larga espessura em pedra de xisto ou granito, materiais estes existentes na zona.
A larga espessura explicava-se também pela necessidade de, posteriormente, construir as
plataformas e os buracos que serviriam para que as pombas pudessem construir os seus
ninhos.




      Fig.11 Pombal exposto ao sol, possibilitando uma maior luminosidade e uma temperatura mais
      suave dentro do pombal




A cor branca dos Pombais
Em quase a totalidade dos pombais é usado o reboco branco no exterior feito a cal e areia,
distinguindo-os na paisagem transmontana. Não se sabe ao certo o motivo e a utilidade de
tais características, pois tal como se verifica nos pombais de outros países como a França e
Espanha o reboco podia não ter um acabamento pintado. Contudo, a pintura branca a cal
poderia servir para que as pombas distinguissem o pombal ao longe, orientando-se desta
forma com mais eficácia.
Uma característica útil da cor branca é o efeito de refractar a luminosidade proveniente do
sol do verão impedindo o sobreaquecimento destas construções. No inverno a cor branca
permite um maior absorvimento do calor possibilitando de uma forma mais natural o

18
  A seguir a uma curta Primavera seguem-se três meses de Verão em que as temperaturas registadas são
muitas vezes superiores a 35ºC. Depois de um breve período de Outono segue-se um Inverno longo com
temperaturas mínimas registadas frequentemente abaixo dos 0ºC (AEPGA- Associação para o Estudo e
Protecção do gado Asinino)

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Pombais Transmontanos
             A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional


aquecimento do pombal. Outro principio para a utilização da pintura a cal deve-se a esta
estar associada a característica de desinfecção, acautelando o possível aparecimento de
doenças nas pombas residentes nos pombais.




                     Fig.12 Parede de um pombal a ser caiada



A importância dos Pináculos
Um dos elementos que concede e promove maior diversidade aos são os Pináculos ou
adornos, que pelas suas variadas formas que vão desde estatuetas, pinocos a simplesmente
pedras, nos cumes dos pombais extremidades dos telhados e que tem como função fingir
que estão pombas no pombal. Para além desta função, os adornos servem também para
ornamentar e enfeitar o pombal, orientar as pombas para que estas facilmente encontrem o
caminho para o pombal, para atrair também as pombas quando se tem a intenção de
repovoar o pombal e, finalmente, serve também como elemento defensivo em relação às
aves de rapina que normalmente sobrevoam os pombais e, assim, confundem os pináculos
com os pombos.




 Fig.15 Adorno de um pombal

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Entradas e Saídas de Voo
As entradas ou saídas de voo encontram-se nas beiras do telhado ou em brechas que
possam existir no beiral formando desnivelamentos. A principal função destas aberturas é
permitir a entrada e saída das pombas quando estas regressam ou abandonam o pombal.
Para além desta função, as entradas e saídas de voo servem também para permitir a entrada
de luz natural e de ar possibilitando, assim que o pombal fosse arejado. O número de
entradas de voo pode variar entre quatro a sete dispersas pelo beiral preferencialmente
alinhadas. Certas localidades como Sendim, Picote ou Malhadas, estas aberturas são
também denominadas de buraqueiras e noutras localidades, como Cicouro, denominadas
de bufeiras ou bufareiras, provavelmente resultado do som produzido pelas aves aquando
da sua saída ou entrada no pombal.




Fig.16 Entradas e saídas de voo



Estruturas Anti-Predadores ou Beiral
A estrutura Anti-Predadores possui vários nomes consoante a aldeia em que o pombal
esteja implantado, nomes que vão desde soleira de voo, soalheira, refraldo ou meramente
beiral. A sua constituição é feita por lajes de ardósia que se estrutura em forma de escama
de peixe, saindo cerca de 30cm da parede e que têm como principal função a protecção das
saídas de voo dos predadores como a raposa, o gato bravo e certos lagartos. Uma outra
utilidade para esta estrutura é a de poiso para as pombas de modo a auxiliar a entrada e
saída do pombal.




 Fig. 14 Beiral em ardósia



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Colocação da Porta
Muitas vezes a porta do pombal é confundida como sendo uma janela, devido a sua
sobreelevação em relação ao solo. A sua colocação a cerca de um metro acima do solo tem
como função a protecção do pombal perante possíveis invasões de predadores como répteis
e roedores. Outra razão para a sobreelevação da porta é a de conservação da mesma
evitando que apodreça e se desfaça devido ao acumular dos excrementos no interior do
pombal deixando assim de ter uso para a qual foi concebida. Normalmente como os
excrementos apenas são retirados de dentro do pombal uma vez ao ano, e como a produção
destes é elevada, seria possível que se amontoasse bastante e se a entrada fosse junto ao
solo esta poderia facilmente ficar travada.
A exposição da porta é preferencialmente virada para o povoado e locais de passagem, pois
desta forma seria possível com mais eficácia a vigilância e controlo por parte dos
proprietários e vizinhos. Devido a tal facto é visível em muitos casos as divergentes
orientações entre o pombal e a da porta deste. Normalmente a porta era revestida em
madeira, mas com o crescente aumento de roubos a pombais, que muitas vezes eram
abandonados a medida que a desertificação populacional se manifestava nestas zonas, os
proprietários existentes foram substituindo as velhas portas em madeira por painéis
metálicos ou de materiais similares de forma a reforçar as entradas.




               Fig. 13 Pombal em Freixiosa



Mesa de Alimento
Existe no centro do interior dos pombais uma estrutura para a colocação de alimentos e
água em pedra bruta ou emparelhada e por vezes em madeira. È bastante usual que a mesa
que se encontra no interior dos pombais seja uma mó de moinho já gasta e estragada, que é
suportada por um tronco embutido no buraco ao centro, erguendo-a, assim, cerca de um

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              A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional


metro acima do chão. Nas estruturas constituídas por pedra emparelhada também é
possível encontrar mesas de alimento.




                                     Fig.17 Mesa de alimento em pedra
                                     emparelhada no interior de um Pombal em Freixiosa


Locais de Nidificação
Na maior parte das tipologias a configuração das paredes no interior é semelhante, sendo
na sua maioria em aberturas de pedra, construídas aquando da edificação do pombal, em
forma de paralelepípedo, com uma profundidade entre 30 a 35 cm, uma largura de 15 a 20
cm e uma altura entre 20 a 25 cm. Estas aberturas são afastadas umas das outras com uma
distância reduzida e o seu alinhamento é feito vertical e horizontalmente, dependendo do
seu construtor.
Estas aberturas são designadas de ninhos e a sua função é servir de local para as pombas
nidificarem. Possui uma lousa que serve de patamar e de chão, salientando-se do ninho uns
20cm. Estes patamares, para além de servirem de chão às pombas, servem também de
escada aos proprietários para que estes, apoiando-se neles, acedam ao pombal sempre que
necessitarem de recolher os ovos ou as aves destinadas ao consumo, o borracho.
Apesar de todos os elementos constituintes do pombal terem uma função própria, em
termos arquitectónicos, estes elementos nunca se verificaram totalmente eficazes,
especialmente no que respeita a dimensão das referidas construções. Isto é, os pombais, na
sua maioria de dimensão reduzida revelam gravem problemas relacionados com a entrada
de animais predadores, como os gatos ou as doninhas. Esta é uma das razões que justificam
o facto de muitos pombais nunca terem sido povoados e de terem sido os primeiros a serem
deixados pelos seus proprietários, à medida que se verificava uma crescente migração das
populações.



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Pombais Transmontanos
            A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional


Em oposição, os pombais de maior dimensão e aqueles que apresentavam melhores
estruturas, são aqueles que ainda permanecem habitados por pombas.
Portanto, em resultado de todas as variações e elementos apresentados anteriormente,
passa-se a apresentar as diferentes tipologias existentes na região Transmontana.




                          Fig.18 Ninhos no interior de um pombal


Tipologia 1 – Ferradura
Pauta-se, arquitectonicamente, como sendo uma construção composta por uma planta
semicircular em forma de ferradura. Possui um alçado plano e cobertura de uma só água
em telha ou ardósia. As saídas de voo localizam-se por baixo do telhado viradas para a
frente do pombal, ocasionalmente estas existem também na parte lateral. Possui um
patamar em lajes e um corta-vento muitas vezes lajeado por ardósia ou mesmo telha.
Costumam ser inteiramente caiados, e por vezes com pedra a vista nas esquinas. “Área de
distribuição: Trás-os-Montes e Alto Douro (toda a região), muito abundante nos
concelhos da região da Terra Fria Transmontana, ausente na Beira Alta. O período de
construção remonta aos inícios do séc. XIX, muito comum durante todo o séc. XX”19.




               Fig.19 Pombal em Freixiosa - Miranda do Douro

19
  PALOMBAR, “Manual de Apoio Técnico ao Repovoamento de Pombais Tradicionais do Nordeste”,
documento s/data, cap.1

                                                                                                              33
Pombais Transmontanos
            A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional


Tipologia 2 - Circular de Uma Água
Pauta-se, arquitectonicamente, como sendo uma construção composta por uma planta
circular ou por vezes oval. Estas construções possuem uma cobertura em telha de barro,
tendo apenas uma água. As saídas de voo encontram-se por baixo do telhado viradas para a
rente do pombal, ocasionalmente estas existem também na parte lateral ou mesmo no
telhado. Possui um patamar em lajes e corta-vento em ferradura. Costumam ser
inteiramente caiados. “Área de distribuição: Terra Fria Transmontana, alguns concelhos
do Douro Vinhateiro(V.N. de Foz Côa), algumas aldeias do Vale do Côa ( ausente na
restante Beira Alta.). O período de construção remonta a meados do séc. XIX, comum
durante todo o séc. XX”20.




                 Fig. 20 Pombal em Paradela - Miranda do Douro



Tipologia 3 - Planta Quadrada
Pauta-se, arquitectonicamente, como sendo uma construção composta por uma planta
quadrangular. Estas construções possuem uma cobertura em telha de barro de uma água,
tendo excepcionalmente duas. As saídas de voo encontram-se por baixo do beirado
expostas para frente do pombal possuindo um patamar em lajes. Esta construção possui um
corta-vento e costumam ser inteiramente caiados ou por vezes ter pedra a vista.
“Área de distribuição: concelho de Freixo de Espada à Cinta e exemplares dispersos na
Terra Quente Transmontana.
O período de construção remonta a meados séc. XX”20.



20
   PALOMBAR, “Manual de Apoio Técnico ao Repovoamento de Pombais Tradicionais do Nordeste”,
documento s/data, cap.1

                                                                                                              34
Pombais Transmontanos
            A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional




                Fig. 21 Pombal em Poiares - Freixo de Espada à Cinta



Tipologia 4 - Planta Circular Telhado Cónico
Pauta-se, arquitectonicamente, como sendo uma construção composta por uma planta
circular. Estas construções possuem uma cobertura em madeira com asna sendo que
ultimamente a cobertura de madeira tem sido substituída por lajes em betão. As saídas de
voo encontram-se por baixo do beirado, havendo em alguns pombais saídas através do
telhado. Estas edificações têm uma cobertura em telha e no seu topo são adornadas com
picoto em pedra ou mesmo cerâmica. As paredes costumam ser inteiramente caiadas ou
por vezes possuir nas padieiras pedra a vista.
“Área de distribuição: Beira Alta (principal tipologia), presente na Terra Quente
Transmontana (Vale do Douro) e muito escasso na restante área de Trás-os-Montes e o
período de construção remonta desde os inícios do séc. XX”21.




                                Fig. 22 Pombal em Escalhão - Figueira de Castelo Rodrigo

21
  PALOMBAR, “Manual de Apoio Técnico ao Repovoamento de Pombais Tradicionais do Nordeste”,
documento s/data, cap.1

                                                                                                              35
Pombais Transmontanos
             A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional


Tipologia 5 - Circular de Duas Águas
Pauta-se, arquitectonicamente, como sendo uma construção composta por uma planta
circular ou como em alguns casos semicircular por terem uma face plana. Estas
construções possuem uma cobertura de duas águas em telha e as saídas de voo encontram-
se por baixo do beirado. Possuem um patamar em lajes e são inteiramente caiados com a
padieira a vista.
“Área de distribuição: Beira Alta (concelhos de Figueira de Castelo Rodrigo e Almeida),
escassos exemplares na Terra Quente Transmontana e o período de construção remonta a
meados do séc. XIX”22.




                    Fig 23 Pombal em Vermiosa - Figueira de Castelo Rodrigo



3.4 Aspectos Construtivos
O saber acumulado pelos artesãos possibilitava estabelecer uma relação perfeita entre os
pombais e o meio envolvente, que resultava da técnica utilizada na construção, dos
materiais utilizados e da implantação. Todos estes factores tornam estas construções de
raiz popular, sendo que nenhum dos elementos é gratuito. As características geológicas e
climáticas têm uma relevante influência para o desenvolvimento da arquitectura destas
construções. Esta talha-se adaptando-se à realidade física em que se insere, com a
utilização dos materiais que estão mais à mão e que são mais baratos, como são a pedra, o
barro, a ardósia, a lousa e a madeira, etc., com autonomia na sua utilização conjunta23.


22
   PALOMBAR, “Manual de Apoio Técnico ao Repovoamento de Pombais Tradicionais do Nordeste”,
documento s/data, cap.1
23
   Texto baseado em: José Emílio Yanes Garcia, Palomares Tradicionales en Tierras de Zamora, Edita
Diputación de Zamora, p.43

                                                                                                               36
Pombais Transmontanos
             A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional


Normalmente, cria-se uma comunhão na paisagem entre os materiais utilizados na
construção e a envolvente onde estas construções estão inseridas.


A maior parte dos pombais apresenta uma forma arredondada e uma área similar entre eles.
O diâmetro do interior, da maioria dos pombais de forma cilíndrica mede entre 4 a 5
metros. A mesma medida se verifica nos de dimensão similar no eixo de simetria, nos
pombais em forma de ferradura ou num dos lados dos de planta quadrada. No que respeita
a altura, esta varia entre os 4 ou 5 metros no ponto mais alto da parede, sendo que a parte
mais baixa mede cerca de 3 metros e localiza-se onde termina o telhado.
A espessura das paredes varia entre os 50 e os 90 cm consoante os pombais, sendo que
nestas medidas já estão contemplados os ninhos no interior. Esta espessura tem uma função
de equilibrar termicamente os pombais ao longo do ano. Estas atingem a altura do telhado,
a partir do qual se forma o corta-vento, e são constituídas por fragmentos de pedra de
granito ou xisto levemente trabalhadas ou em bruto. As pedras são assentadas e ligadas
utilizando o barro como elemento aglutinativo.
O reboco utilizado no exterior das paredes dos pombais é feito com argamassa de cal e
areia, sobre o qual se vai caiar de branco, evitando assim, a existência de humidade no
interior do pombal e uma melhor identificação por parte das pombas.
Na ombreira e padeeira da entrada do pombal é utilizado granito picado e grosseiramente
aparelhado, sendo por vezes visível apenas uma caixilharia de madeira comum na região,
como por exemplo zimbro, castanho ou mesmo freixo, por se tratar de madeiras de fácil
manejo. O formato da porta é rectangular e varia entre 60 e 100cm de largo e entre 100 e
150cm de altura. Trata-se do único acesso ao interior do pombal por parte dos proprietários
e localiza-se a cerca de 1 metro acima da linha térrea. Abre para o interior rodando através
das dobradiças, e fecha trancada por uma chave grossa e pesada de metal.
No exterior do pombal uma estrutura em pedra em toda a volta do mesmo forma um beiral
com a função de protecção contra predadores. Em certos pombais esta estrutura sofre uma
quebra angular de forma a passar por baixo das saídas de voo com o intuito de, assim,
apoiar na entrada e saída das pombas.” Este Beiral designa-se,em algumas aldeias como
Cicouro, por refraldo e noutras por soalheira, soleira de voo ou simplesmente beiral”.24
Alguns pombais possuem um corta-vento na extremidade superior da parede de forma



24
  NOBRE, José António - Cabanhas, Casulhos e Palumbares na Terra de Miranda, Edição do Instituto da
Conservação da Natureza, Lisboa, 2004 p. 52

                                                                                                               37
Pombais Transmontanos
             A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional


semi-cilíndrica, outros cobertos por lajes de lousa encadeadas umas sobre as outras
formando o beiral superior.
O beiral de baixo, é constituído por lousas fixas por pedras ou outro tipo de ornamentos
que evita a entrada das chuvas pelas frestas das paredes. Este resguardo e os adornos que o
compõem constituem o coroamento do pombal, que caiado de branco serve também de
chamariz às pombas.
A sustentação da cobertura do pombal é feita através de ripas pregadas em paus grossos,
chamados de caibros, e estes, por sua vez, sustentados por vigas em madeira de freixo,
carvalho ou castanho que são embutidas na parede.
No interior do pombal pode existir uma vigota que serve de poiso às pombas que pode
atravessar todo o vazio do pombal. Contudo, salienta-se também no centro do interior uma
mesa feita em pedra ou madeira, de configuração arredondada ou até rectangular. O tampo
destas mesas pode ter uma dimensão que varia entre um metro e um metro e meio de largo
e uma altura entre os 70 e os 120cm.
O pavimento do pombal pode ser em terra batida ou mesmo lajeado. É para o chão que é
lançada a palha que, juntando-se aos dejectos das pombas se destina à produção de estrume
para a fertilização dos campos agrícolas.25


3.5 Sistema de Maneio dos Pombais Tradicionais
Um dos aspectos mais característicos que torna o pombal um elemento único e agregador
da sustentabilidade das economias locais, prende-se com a produção de borrachos e de
fertilizante natural. Contudo, este sistema «… não se enquadra nos processos
convencionais de criação, pois a espécie “explorada” encontra-se em estado selvagem
sem que o Homem a tenha privado do voo ao contrario do que aconteceu com muitas
outras aves domesticas.»26 Os proprietários de pombais tradicionais aproveitaram a
proximidade com as encostas, vales e núcleos silvestres do Douro para repovoarem os
pombais pelas pombas bravas conhecidas como Pomba-da-Rocha. A colocação de
alimento no telhado dos pombais e no seu interior atraem as pombas que pelo factor
curiosidade entram no pombal e descobrem poisos e buracos onde podem nidificar e
reproduzir em segurança. Para além dos alimentos colocados, as pombas são também



25
   NOBRE, José António - Cabanhas, Casulhos e Palumbares na Terra de Miranda, Edição do Instituto da
Conservação da Natureza, Lisboa, 2004 p. 51 a 55.
26
   António Monteiro, Elsa Fernandes, “Os Pombais do Nordeste Transmontano, Sentinelas da Paisagem”, in
Pessoas e Lugares II série, nº 16 Jan/Fev 2004, p.7

                                                                                                               38
Pombais Transmontanos
            A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional


atraídas ao pombal pela cor branca do mesmo, pela ornamentação e pináculos, que muitas
vezes se confundem com a presença de outras pombas.
Para uma maior eficácia na atracção das pombas e reconhecimento do pombal pelas
mesmas, é costume colocar no interior, destas edificações, plantas odoríferas que lhe
conferissem uma identidade.
Da mesma forma que as pombas são atraídas pelos alimentos colocados no pombal, pelos
odores e características apelativas próprias destas edificações, outros animais como os
pardais também o são, especialmente no Inverno em que a escassez de alimento é maior. A
doninha e a cobra são exemplos de predadores que facilmente entram no pombal e que
representam um perigo arrasador e difícil de evitar pelos proprietários. Toda esta
conjuntura provoca um ambiente de insegurança no pombal que de alguma maneira
afugenta as pombas. Assim, fruto da necessidade, os donos dos pombais, são obrigados a
procurar novas formas e a criar novas drogas para afastar os animais que representam
perigo para as pombas. Uma forma encontrada pelos proprietários era a chamada fumaça
que era feita a partir de uma mescla constituída por ervas da montanha, com um odor
bastante forte, com alho, enxofre, bocados de borracha e cascos dos burros. Todos estes
elementos são colocados a arder dentro de uma lata, que é colocada a arder sobre a mesa de
alimento no interior do pombal. Esta mistura a arder liberta um odor bastante forte que
afasta todos os animais perigosos mas que não produz qualquer efeito sobre as pombas.
Assim, o pombal fica a salvo e desinfectado por um longo período de tempo sem que nada
aconteça às pombas.
Em resultado do empenho dos proprietários dos pombais em proteger os mesmos, é
possível recolher os frutos deste processo tão elaborado de produção. 27




27
   Texto baseado em: António Monteiro, Elsa Fernandes, “Os Pombais do Nordeste Transmontano,
Sentinelas da Paisagem”, in Pessoas e Lugares II série, nº 16 Jan/Fev 2004, p.7

                                                                                                              39
Pombais Transmontanos
           A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional




CAPÍTULO 4
O Que Pode Tornar Esta Arquitectura Sustentável
      4.1 - Estratégias de Sobrevivência
              4.1.1 Divulgação
              4.1.2 Gastronomia
              4.1.3 Campos de Voluntariado
              4.1.4 Repovoamento
              4.1.5 Educação e Sensibilização
              4.1.6 O Pombinho
      4.2 - A Questão da Sustentabilidade




                                                                                                                     40
Pombais Transmontanos
             A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional



4.1 - Estratégias de Sobrevivência
Inevitavelmente, o desenvolvimento sempre fez parte das necessidades humanas, contudo
apenas há pouco tempo atrás estas necessidades ganharam contornos sociais e ambientais e
passaram a fazer parte das prioridades de quem tem o poder de decisão. Para que a
sustentabilidade social e ambiental se estenda é necessário que cada individuo a veja como
uma necessidade e não como algo que é imposto. Desta forma, é cada vez mais uma
prioridade integrar as comunidades de forma responsável e com consciência no meio onde
estão inseridas.
Não se deve encarar o êxodo rural, que se sente no interior, como algo que seja negativo,
mas sim como uma forma positiva de desenvolver e encarar o futuro, preservando e
promovendo aquilo que é especifico e característico de uma região, desde o seu património
natural àquele que foi construído. A promoção do associativismo e de acções de
voluntariado nos meios rurais são indispensáveis e devem ser promovidos de acordo com
planos que possibilitem a participação das populações.
A participação das comunidades locais, das associações, o gosto e interesses individuais
são predominantes para a sustentabilidade, conservação e valorização do património
cultural nos meios rurais, onde se encontram os Pombais.
É verdade que se verifica um sentimento crescente que visa a valorização estética e a
preservação de certos ícones do mundo rural, provavelmente devido à existência de raízes
de cariz rural que possam orientar para um caminho de conservação dos Pombais, não
deixando de parte a aposta em estratégias inovadoras que, lentamente permitam cativar e
persuadir quem se disponibiliza a valorizar o simbolismo e a potencialidade que estas
construções vernáculas outrora representaram.


4.1.1 Divulgação
A divulgação e Promoção é uma das soluções para dar a conhecer os pombais,
desenvolvendo actividades como a promoção de passeios pedestres pelas aldeias onde este
tipo de construção exista, passeios de bicicleta por roteiros previamente definidos e onde se
possa parar e ter um contacto mais directo com este tipo de construção e contacto com as
populações locais nomeadamente os proprietários. Desta forma estes podem ver
reconhecidos e mesmo valorizados os seus trabalhos de manutenção e preservação e, por
outro lado, podem ser também estimulados a recuperar e reabilitar os Pombais que ainda se
encontrem degradados


                                                                                                                       41
Pombais Transmontanos
            A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional




              Fig 24 Percursos Pedestres




4.1.2 Gastronomia
As instituições locais, como câmaras municipais, restaurantes, hotéis ou ainda associações
de desenvolvimento, reconhecem a importância e o valor económico dos pombais e das
aves aí procriadas. Este reconhecimento traduz-se na realização de Feiras ou jornadas
gastronómicas que ajudam a promover o consumo do borracho e estimulam o
envolvimento de toda a população na promoção e divulgação deste tipo de eventos.
Quando se conhece uma determinada região, um dos principais atractivos é conhecer as
especificidades e as tradições culinárias da mesma. Na região de Trás-os-Montes, o
borracho é um dos pratos gastronómicos de eleição capaz de convencer o gastrónomo mais
exigente, na medida em que o borracho se caracteriza por apresentar uma carne vermelha
de uma textura fina, muito tenra e com muito sabor, chega a ter um suave sabor a caça
muito agradável ao paladar. Historicamente, o borracho foi durante bastante tempo o prato
de eleição das mesas da nobreza europeia. No entanto, de há uns anos a esta parte, apenas
se encontra nos menus de alguns restaurantes.
Este prato tradicional continua a ser preservado nas cozinhas do Nordeste Transmontano, o
que poderá estimular os proprietários, que ainda possuem Pombais, cuidar dos mesmos de
forma a manter a produção do borracho, e estimular também os restantes habitantes para as


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Pombais Transmontanos
                 A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional



potencialidades da produção desta ave. Este estímulo irá promover um desenvolvimento
sustentável assente em produtos de qualidade, de cariz agro ecológico.28




     Fig 25 e 26 Cartaz das jornadas gastronómicas do “Borracho”




4.1.3 Campos de Voluntariado
Têm sido levado a cabo vários projectos que visam dar resposta ao número elevado de
Pombais que continuam abandonados. Neste sentido, também, vários organismos locais
têm realizado este trabalho na maioria das vezes com a ajuda e participação activa das
associações e, nalguns casos são os próprios proprietários a realizar obras de conservação e
recuperação sem qualquer tipo de apoio ou colaboração de algum organismo. Também
foram realizadas algumas acções de voluntariado em colaboração com associações
nacionais e internacionais, com a ajuda das autarquias e algumas empresas da região, e
com a colaboração dos próprios proprietários. Em Agosto de 2006 foi levado a cabo uma
destas acções de voluntariado em Vila Chã da Ribeira, Vimioso, que contou com cerca de
20 voluntários. Durante duas semanas, estes voluntários tiveram oportunidade de contactar
de perto com a cultura local, descobrir a região e participar em acções turísticas. Estas


28
   Texto baseado em informação disponível no sítio www.aepga.pt – Associação para o Estudo e Protecção
do Gado Asinino, Dezembro 2007


                                                                                                                           43
Pombais Transmontanos
            A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional



acções de voluntariado são, também, uma forma de divulgação turística por parte das
pessoas envolvidas, visto estas serem, na maioria das vezes, estrangeiros.




                 Fig 27 Recuperação de pombal de tipologia - Planta circular com telhado




4.1.4 Repovoamento
O processo de recuperação por si só não é suficiente. Portanto é necessário dar vida aos
pombais recuperados, para que estes se mantenham realmente activos e cumpram a função
para a qual foram construídos e utilizados. Neste sentido o repovoamento dos pombais
abandonados aparece como fundamental. Contudo é necessário que os proprietários sejam
sensibilizados    e    preparados         para      manusear         correctamente          essas      construções,
nomeadamente no que diz respeito à identificação de doenças, ao sistema reprodutivo, e
quaisquer outras dificuldades que possam surgir.


4.1.5 Educação e Sensibilização
Para além do papel económico, os pombais desempenham também um importante papel
ecológico, pois, por um lado, permitem, através do estrume neles produzido, fertilizar os
campos de cultivo, sem recorrer a quaisquer tipo de químicos ou fertilizantes. Por outro
lado, as pombas têm também uma função importante no equilíbrio do ecossistema pois
servem muitas vezes de alimento a outras espécies de animais selvagens, especialmente às
aves de rapina, sendo que algumas delas se encontram em perigo de extinção na região,
nomeadamente, a Águia de Bonelli. É essencial alertar os proprietários que atenuando os


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Pombais Transmontanos
            A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional



prejuízos resultantes do mau manuseamento dos pombais, os prejuízos resultantes dos
predadores que se alimentam das pombas são insignificantes na maior parte das situações.
Contudo, a questão da perda continua a ser sensível aos proprietários, logo é importante
continuar o trabalho, desenvolvido até aqui, de educação ambiental de modo a clarificar as
falsas crenças e a colmatar a falta de informação que pode em alguns casos levar ao abate
ilegal de animais encarados, muitas vezes incorrectamente, como animais perigosos e que
põem em causa a sobrevivência das pombas.
Relativamente à caça, depois que foram implementados processos de ordenamento
venatório, esta tem vindo a decrescer. Este ordenamento permitiu criar meios legais de
protecção às aves e aos pombais, nomeadamente a Portaria Nº 736/2001 de 17 de Junho,
Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, que define que na
maioria do território nacional a pomba-da-rocha não pode ser caçada, e a lei geral da caça
define que exista um círculo de 250m em volta dos pombais onde não seja permitido caçar.
Embora se tenham criado todos estes mecanismos de protecção, tem sido difícil
sensibilizar os caçadores para respeitar este ecossistema, pelo que é necessário continuar o
trabalho se sensibilização da população.


4.1.6 O Pombinho
Finalmente, o estrume produzido pelas pombas, mais conhecido por Pombinho, é um
importante adubo orgânico com importantes propriedades, rico em azoto, fósforo e
potássio, pode tornar-se certificado e comercializado através de redes europeias de
agricultura biológica. Devido à escassez na quantidade de estrume produzido pelos
pombais, é de considerar a aposta no associativismo de forma lançar a viabilização da
comercialização deste composto orgânico no mercado nacional e internacional. Ainda que
durante muito tempo não tenham sido devidamente valorizados, os Pombais tradicionais
constituem um importante legado próprio do nordeste português e continuam a possuir
uma importância cultural e ecológica relevante para as comunidades onde estão inseridos.


4.2 A Questão da Sustentabilidade
A questão da sustentabilidade relaciona-se intrinsecamente com a evolução dos parâmetros
económicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade.
A sustentabilidade, pode ser entendida como uma forma de encontrar melhores condições
para a sociedade e para o ambiente tanto no presente como para um futuro indeterminado.


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  • 2. UNIVERSIDADE LUSÍADA DO PORTO A Importância dos Pombais de Miranda do Douro Enquanto Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional Nuno Alexandre de Vasconcelos Rodrigues Orientador – Professor Doutor Sérgio Infante Universidade Lusíada - Porto 2007/2008
  • 3. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional AGRADECIMENTOS Em primeiro é de agradecer ao Prof. Doutor Sérgio Infante a forma como orientou o trabalho. As notas dominantes da sua orientação foram a utilidade das suas recomendações e a cordialidade com que sempre recebeu. Agradece-se de igual forma a liberdade de acção que permitiu, de forma decisiva, para que este trabalho contribuísse para um desenvolvimento pessoal. É de agradecer também a todos aqueles, professores e colegas, que pela convivência, pelo trabalho ou pelas horas de pesquisa passadas juntos, ou, que em conversas banais de troca de ideias, ajudaram a crescer e a amadurecer o traço e a visão daquilo que deve ser arquitectura. Será de salientar os professores que, do primeiro ao último ano do curso, fizeram o acompanhamento nas disciplinas de Projecto, orientaram os trabalhos e evolução e estimularam o espírito crítico e criador exigindo sempre mais, conscientes de que seria capaz. Finalmente, um agradecimento especial à namorada Susana Lavoura a paciência com que acompanhou, quer nas viagens de pesquisa e conhecimento da região, quer na organização dos manuscritos. II
  • 4. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional ÍNDICE INTRODUÇÃO 8 C A P Í T U L O 1 - O Estado da Arte: Enquadramento Histórico e Geográfico 12 1.1 Pombais no Mundo 13 1.2 Pombais na Europa 14 1.3 Pombais na Península Ibérica 16 1.4 Pombais em Portugal 16 1.5 Pombais no Nordeste de Portugal 17 C A P Í TU LO 2 – O Pombo da Rocha 20 2.1 Historia 21 2.2 Os Pombais 22 2.3 Medidas no Sentido de Proteger e Conservar a Espécie 22 C A P Í T U L O 3 – Pesquisa Sobre os Pombais 23 3.1 Origens 24 3.2 Os Diferentes Usos dos Pombais 25 3.3 Tipologias 26 3.4 Aspectos Construtivos 36 3.5 Sistema de Maneio dos Pombais Tradicionais 38 C A P Í T U L O 4 – O Que Pode Tornar Esta Arquitectura Sustentável 40 4.1 Estratégias de Sobrevivência 41 4.1.1 - Divulgação 41 4.1.2 - Gastronomia 42 4.1.3 - Campos de Voluntariado 43 4.1.4 - Repovoamento 44 4.1.5 - Educação e Sensibilização 44 4.1.6 - O Pombinho 45 4.2. A Questão da Sustentabilidade 45 III
  • 5. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional C A P Í T U L O 5 - Caracterização da Aldeia de Freixiosa 48 5.1 - Introdução 49 5.2 - Localização Geográfica dos Constituintes da Aldeia 50 5.3 - Espaço Livre / Espaço Ocupado 51 5.4 - Habitações e Anexos 52 5.5 - Rede Hidrográfica 53 5.6 - Percursos Existentes 54 5.7 - Exploração Agrícola e Agro-pecuária 55 5.8 - Pombais Existentes 56 C A P Í T U L O 6 - Elementos Geradores de Memória Visual 57 6.1- Freixiosa 58 C A P Í T U L O 7 - A Condição das Formas Actuais e Levantamento Fotográfico das Condições dos Pombais Existentes em Freixiosa 70 7.1 - Razões que Levaram ao Abandono 71 7.2 - Acções Desenvolvidas 72 7.3 - Levantamento Fotográfico 75 C A P Í T U L O 8 – Proposta de Requalificação da Aldeia de Freixiosa 92 8.1 Turismo Rural / Criação de Equipamento 93 8.2 Proposta de Percursos Pedestres e Reabilitação das Áreas Envolventes 94 8.3 Propostas de Recuperação e Revitalização de Pombais, Habitações e Praça 95 8.4 Espaços Passíveis de Intervenção 96 8.5 Fotomontagens 97 C A P Í T U L O 9 – Proposta de Recuperação de Um Núcleo de Pombais em Freixiosa 102 9.1 - Projectos de Referência 103 9.2 – Memória Descritiva e Justificativa do Projecto a Desenvolver 106 9.3 – Esquiços de Estudo 108 9.4 – Peças Desenhadas 111 IV
  • 6. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional 9.4.1 – Planta de Implantação Proposta - Esc. 1/2000 111 9.4.2 – Planta de Implantação da Proposta - Esc. 1/500 112 9.4.3 – Perfis 113 9.4.4 – Levantamento Dimensional 114 9.4.5 – Levantamento Constructivo 118 9.4.6 – Estado de Conservação e Localização de Patologias 122 9.4.7 – Proposta 126 9.4.8 – Pormenor Constructivo 130 9.5 – Descrição de Patologias 131 9.6 – Caderno de Encargos 141 9.7 – Mapa de Acabamentos 143 CONCLUSÃO 145 BIBLIOGRAFIA 148 V
  • 7. W d / W D ^ Z Resumo Sendo Miranda do Douro uma montra da arquitectura popular, das tradições e culturas regionais, foi com facilidade que dei cumprimento às directrizes do professor da disciplina de Projecto e orientador da Dissertação, Sérgio Infante, que me orientou para desenvolver, nesta região, um trabalho que pudesse ser diferente e inovador. Logo na primeira visita à região pude perceber as características únicas de um tipo de arquitectura tradicional, centenária e esquecida, bem como das potencialidades que esta poderia vir ainda a oferecer enquanto elemento agregador na sustentabilidade da cultura regional. Falo dos Pombais Transmontanos, singulares no país e no mundo. A arquitectura pode ser considerada o espelho da sociedade e das diferentes culturas, a atitude dessa sociedade perante a cultura, a sua arte, a sua técnica, o seu pensamento e história que nela estão retratados. A solução, no âmbito da arquitectura, está em desenvolver um trabalho criativo, inovador não partindo de um conjunto de regras, mas começando por uma reflexão profunda sobre o seu possível papel e potencialidades num contexto social. Assumir, como ponto de partida, que uma arquitectura para ser operativa deverá sempre adaptar-se às características geográficas, sociais ou culturais do seu meio, resolvendo positivamente as possíveis contradições entre o local e o meio envolvente. É neste contexto que esta dissertação pretende ser uma tentativa de resposta e, concomitantemente uma descoberta das raízes da arquitectura popular da região Transmontana e a sua importância para o desenvolvimento económico e social local. No que, concretamente, respeita o objecto de estudo desta Dissertação – A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional – importa salientar que a sobrevivência, valorização e conservação do património cultural nos meios rurais, nos quais se integram os pombais tradicionais transmontanos, relaciona-se directamente com a participação activa das populações locais e pela vontade das organizações e instituições, geridas e dinamizadas por projectos ou, apenas, pelo simples gosto e interesse pessoais. s/
  • 8. W d / W D ^ Z Abstract As Miranda do Douro is a portrait of the popular architecture, it’s traditions and cultures of the region, it was easy for me to accomplish the Project Teacher’s directives, Sérgio Infante, who has guided me to develop , in this region, a different and updated work. Right in my first visit to the region, I could realize the single characteristics of this kind of traditional architecture, which was centennial and forgotten, as well as, the potentialities this architecture could still offer as an aggregator element in the sustainability of the regional culture. I will write about the pigeon house from Trás-os- Montes, unique in the whole country and in the world. The architecture may be considered the society’s mirror, as well as, its different cultures and its attitude towards culture, its art, its technique, its thought and history portrayed in itself. The solution, concerning architecture, may be to develop a new and creative work, not based in a set of rules but according to a deep reflection about its role and potentialities in our social context. Taking into account that architecture, to be operative, should always adapt itself to the geographic, social and cultural characteristics of the local environment, solving positively the possible conflicts between the exact place and the local environment. It is in this context that this essay intends to be an attempt to find an answer, and at the same time to find out the roots of popular architecture in the region of Trás-os-Montes, its importance for the economical, social and local development. Concerning, specifically the main purpose of this essay – The importance of Pigeons House from Miranda do Douro as an Aggregator Element in the Sustainability of the Regional Culture – it is fundamental to emphasize that the survival, highlighting and conservation of the cultural patrimony in the rural environment, where the pigeons houses are integrated, is directly related to the local people’s active participation, the organizations and institutions will dynamited by projects, or simply to the personal interests and tastes. s//
  • 9. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional INTRODUÇÃO Os espaços rurais estão vinculados a imagens e modos de vida peculiares, confundem-se com sociedades marcadas por arcaísmos, indissociáveis de economias vulneráveis, à mercê do êxodo e do despovoamento, dependentes de prestações sociais, de solidariedades e de recursos provenientes de políticas públicas que os discriminem positivamente. Este retrato contribui para vincar o sentimento de perda e marcar negativamente a auto-estima de pessoas e territórios que, assim, se descobriam estigmatizados e ainda mais prisioneiros das suas próprias fragilidades. A diversidade de contextos (naturais, económicos e sociais), de recursos disponíveis e mobilizáveis e a aparente homogeneidade, normalmente associada ao mundo rural, servem de pano de fundo a processos de desenvolvimento cuja tradução espacial possibilita diluir as diferenças entre litoral/Interior e Norte/Sul. Acentuando a fragmentação do nosso território, os diferentes movimentos que se verificam nos moldes de povoamento, de novas técnicas produtivas e de ocupação e uso do solo proporcionaram um novo atlas do rural português. As aldeias e a arquitectura popular, as paisagens e o património natural, os produtos e os saberes locais são algumas das referências que, estabelecendo ligação com as raízes, moldam as identidades das pessoas e dos lugares. Pelo que representam e pelo importante papel que podem desempenhar para vencer o isolamento e promover o seu desenvolvimento, são recursos que importa salientar nos respectivos processos de desenvolvimento. É neste contexto que emerge a principal aspiração deste trabalho, analisar um tipo de arquitectura desconhecida pela maioria dos indivíduos, perceber todos os aspectos relacionados com este tipo de construção que foi, no passado, exemplo de um modo sustentável, e indagar acerca da sua continuidade no futuro. É também um objectivo deste trabalho tentar perceber o funcionamento destas edificações que se apresentam como formas de ocupar o espaço pensadas, idealizadas e edificadas pelo homem. Assim, este trabalho visa pesquisar de forma exaustiva e fazer o levantamento das características tão peculiares associadas a este tipo de arquitectura, de que são exemplo os pombais tradicionais transmontanos, e averiguar de que forma a recuperação e reabilitação de pombais pode contribuir para um desenvolvimento sustentável de aldeias cada vez mais desertificadas e, que correm o risco de serem alvo de um profundo processo de 8
  • 10. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional descaracterização, como é o exemplo do caso de estudo, a aldeia de Freixiosa. Por outro lado, perceber também de que forma este desenvolvimento sustentável das aldeias pode ser o impulsionador de uma divulgação turística cada vez mais forte dos ícones da região: a fauna, flora, gastronomia e a própria arquitectura, e o estímulo necessário a uma consciencialização generalizada por parte dos proprietários para a revitalização e conservação dos pombais e importância do repovoamento dos mesmos. Com efeito, este trabalho pretende mostrar que a recuperação de pombais se enquadra na problemática da requalificação da arquitectura popular e numa procura de elementos agregadores que permitam fazer destas construções, de cariz popular, sustentáveis económica e socialmente. O espaço rural é um recurso que deve ser potencializado, através da amplitude das inúmeras possibilidades: paisagem, fauna, flora, rio, albufeira, montanhas, vales, caça e pesca, rocha e minerais, património arqueológico e histórico, arquitectura popular, tradições, artesanato, gastronomia e história, linhas férreas antigas, casas rurais, miradouros, parques e reservas naturais, feiras, festas e romarias, música e poesia popular. É neste âmbito, tentando dinamizar económica e socialmente estes espaços, que se tenta mostrar a importância dos Pombais de Miranda do Douro enquanto elemento agregador na sustentabilidade da cultura regional, fazendo uma aproximação gradual ao território e posteriormente ao objecto de estudo e suas potencialidades. No que respeita o estado actual da arte, construção de Pombais nas aldeias ou nos arredores das mesmas, têm funcionalidades muito próprias, direccionadas para a produção agrícola e pecuária. Por esta razão, apresentam formas arquitectónicas específicas de acordo com a actividade aí desenvolvida. Os materiais utilizados na sua construção são geralmente aqueles existentes na região e as metodologias de construção são tradicionais. Estes factores fazem destas construções um marco arquitectónico das aldeias rurais de Trás-os- Montes que, associados aos bandos que povoam os céus da região, tornaram-se um ícone da região. Ao longo do tempo os pombais foram perdendo a importância de outrora, bem como o interesse dos seus donos na sua manutenção, em virtude do aparecimento de novas formas de exploração agrícola, assim como, do desenvolvimento tecnológico. A perda de relevância das construções dos pombais foi muito devido ao crescimento tecnológico e industrial, o que levou a que muitos proprietários destas construções se 9
  • 11. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional desinteressassem pelo seu uso e mesmo manutenção. Em simultâneo a população trabalhadora foi envelhecendo e perdendo forças para lidar com as lidas das terras. Da mesma forma que houve uma desertificação demográfica nesta zona do País, os pombos procuram alimento nas zonas urbanas. O desenvolvimento cinegético, de um modo geral e falta de conhecimento das leis contribui foi também decisivo para o fluxo crescente no abandono dos pombais. Embora, a maioria destas edificações se encontrem abandonadas, em decadência e em ruínas, ainda é possível encontrar pombais que são utilizados com o fim para o qual foram construídos, em virtude de esforços de alguns proprietários que individualmente desenvolveram acções que visam a conservação dos pombais, mas acima de tudo, em resultado de projectos de algumas associações como a PALOMBAR – Associação de Proprietários de Pombais Tradicionais do Nordeste, que promovem em parceria com outras instituições acções de formação e conservação deste tipo de arquitectura vernácula. O Instituto de Conservação da natureza (ICN) em pareceria com o Parque natural do Douro Internacional, as associações de desenvolvimento local como a Pró Raia, a Raia Histórica ou a CORANE – Associação de Desenvolvimento dos Concelhos da Raia Nordestina - promoveram também acções e projectos de recuperação de pombais que possibilitaram um novo dinamismo na preservação da arquitectura rural. Todas estas iniciativas mostram não só a crescente consciencialização da população, em geral, mas de um modo particular de estudiosos como os biólogos António Monteiro ou Elsa Fernandes, ou até o arquitecto Carlos Guerra para quem “o homem faz as casas e as casas fazem o homem”, que se têm dedicado a estudar as potencialidades deste tipo de arquitectura tão peculiar. Assim este trabalho não pretende apresentar um tipo de arquitectura nova mas sim lançar um olhar diferente e inovador sobre aquilo que já foi estudado e reflectido. Sendo Miranda do Douro uma montra da arquitectura popular, das tradições e culturas regionais, foi com facilidade que se deu cumprimento às directrizes do professor da disciplina de Projecto e orientador da Dissertação, no sentido de direccionar focalizar o trabalho para um tipo de arquitectura resultante de hábitos e costumes culturais outrora preponderantes para as economias locais das remotas aldeias do concelho de Miranda do Douro. Logo na primeira visita à região pode perceber-se as características únicas de um tipo de arquitectura tradicional, centenária e esquecida, bem como das potencialidades que esta 10
  • 12. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional poderia vir ainda a oferecer enquanto elemento agregador na sustentabilidade da cultura regional, os Pombais Transmontanos, singulares no país e no mundo. Assim no que concerne a metodologia subjacente a este trabalho, antes da esquematização do trabalho foram levadas a cabo várias acções de campo que permitissem um melhor conhecimento do território e que implicaram visitas a várias aldeias transmontanas, sendo que gradualmente se foi focalizando para a aldeia de Freixiosa, não só pela quantidade de pombais ai encontrados mas também pela riqueza arquitectónica da própria aldeia. Posteriormente, revelou-se importante o contacto com a população e com o objecto de estudo, os pombais, recorrendo à fotografia como forma de visualização e registo de aspectos e detalhes que viriam a ser fundamentais para a compreensão deste tipo de arquitectura. Desta forma, após este trabalho de investigação in loco e de uma reflexão ponderada, numa primeira fase enquadra-se histórica e geograficamente os pombais com o intuito de perceber a importância destas construções, as suas diferentes tipologias, materiais e técnicas de construção utilizados o que esteve na origem da proliferação das mesmas. Este enquadramento não seria possível sem referir a importância e conhecer o funcionamento do habitat natural dos seus habitantes, as pombas. Toda a pesquisa feita levanta questões acerca da sustentabilidade e sobrevivência deste tipo de construção no futuro, contudo são também apresentados todo um conjunto de aspectos, nomeadamente propostas de criação de equipamentos na aldeia de Freixiosa, de reabilitação das áreas envolventes aos pombais e das habitações, bem como propostas de divulgação gastronómica, de percursos pedestres e turismo rural, que permitem responder a essas questões de forma construtiva, apontando estratégias de sobrevivência dos pombais e caminhos de acção que são, não só o reflexo de experiências anteriores protagonizadas por associações nacionais, internacionais, por instituições locais ou pela simples vontade daqueles que acreditam nas potencialidades que estas construções vernáculas possuem ainda, mas também um olhar inovador e diferente sobre este tipo de arquitectura rural. 11
  • 13. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional CAPÍTULO 1 O Estado da Arte: Enquadramento Histórico e Geográfico 1.1 - Pombais no Mundo 1.2 - Pombais na Europa 1.3 - Pombais na Península Ibérica 1.4 - Pombais em Portugal 1.5 - Pombais no Nordeste de Portugal 12
  • 14. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional Para além da finalidade usual dos pombais, ao longo do tempo foram descobertos outros usos e finalidades que justificavam a proliferação destas construções simbólicas. Não existem muitas referências relativas à origem e construção deste tipo de arquitectura. Existem documentos que descrevem as várias formas de domesticação há cerca de 5000 anos no Médio Oriente. Os documentos existentes indicam que foi por volta desta época que as práticas agro-pecuárias e a Columbicultura, em comunhão, se desenvolveram pela bacia do Mediterrâneo, especialmente durante as civilizações grega, romana e egípcia. Já aqui se verificava que este tipo de construção era de alguma forma complexa, possuindo bastantes elementos decorativos no seu exterior, sendo muitas vezes, construções destinadas ao entretenimento, para além da sua função enquanto produção de alimento. 1.1 Pombais no Mundo “As primeiras referências a Pombais que foi possível encontrar remontam à civilização grega. Na Grécia, a comunicação às cidades de origem dos vencedores dos primeiros Jogos Olímpicos, efectuava-se através de pombas mensageiras”1. No final do séc. VI A.C., assiste-se a um investimento na criação da pomba para actos religiosos. Fig. 1e 2 Pombal em Andros na Grécia As pombas serviam também de meio de comunicação sendo utilizadas pelo povo egípcio e persa para enviar mensagens. Tendo estes últimos elaborado um sistema de comunicação usando estes animais como transporte de mensagens. No mundo islâmico a quem era atribuído um desenvolvimento e cultura superiores, criaram redes de comunicação no seu território através das pombas, tornando-se assim superiores aos seus inimigos cristãos. Para comprovar isto serve o tesouro do Circulo Real 1 Giuseppe Zanoni, O Pombo Criação e Exploração, Litexa, Lisboa, 1982. p.225 13
  • 15. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional de Mecenas (séc. XVI a.C.) onde foi encontrado a ilustração de um pombal sagrado em pão de ouro. Na zona do Médio oriente existem imensos pombais de forma redonda, especialmente na região Ispahán, cerca de 3000 torres arredondadas. A sua construção é datada à época de Shah Abbas I2. Os dejectos das aves tinham como função fertilizar os conhecidos melões de Ispahán. Actualmente, as pombas nesta região são encaradas como sendo animais divinos, pelo que não são é tornadas alimento. Fig 3 Pombais em Gesi, Turquia Na Turquia, por seu lado, existem exemplos de pombais do séc. XVIII, embora muitos deles tenham sido construídos no séc. XIX, princípios do séc. XX. Ainda que não se saiba a razão destas obras, elas são, no fundo, um espelho da cultura e da arte tradicional Islâmica. Era frequente os agricultores usarem o estrume das pombas para fertilizar e fazer aumentar a produção dos seus cultivos. Para além disso, o consumo da carne desta ave fez proliferar a construção de pombais. Era costume o exterior dos pombais ser decorado pelos artistas da região onde estes estavam implantados. 1.2 Pombais na Europa A importância que os pombais exerciam na cultura islâmica estendeu-se à cultura europeia essencialmente através dos povos romanos. Factualmente, durante a Idade Média e parte da Moderna, a posse de um Pombal era um privilégio que se reservava aos senhores feudais, 2 Shah Abbas I (1557 - 1629) Ficou conhecido pelo seu zelo reformador e pela sua crueldade e foi o primeiro a estabelecer a Pérsia como um estado homogéneo. (www.wikipedia.org) 14
  • 16. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional onde as pombas do senhor eram alimentadas e lançadas às terras dos camponeses, constituindo o que se chamou Direitos de Pombal.3 Nos finais do séc. XVIII, a pomba mensageira era utilizada com fins militares e económicos, pois eram utilizados pelos militares e pelas agências financeiras e de negócios dos centros do velho continente. A pomba passou a ser encarada como um meio formativo. Fig. 4 Pombal em Inglaterra Durante a primeira Grande Guerra, a pomba revelou-se um precioso meio de comunicação e transmissão de informação, na medida em que os meios tecnológicos eram ainda muito rudimentares. Ao tomar conhecimento desta estratégia britânica, o exército alemão procedeu à destruição de todos oa pombais de que tomava conhecimento. Os pombais evoluíram em concomitância com a modernização e evolução agrícola, e começaram a ser um marco importante da paisagem rural e das diferentes zonas rurais do velho continente ocidental. Disso são exemplos as regiões de Tarn-et-Garonne, Quercy, Normandia e Provença em França, a Tierra de Campos (Zamora, Léon, Valladolid, Palencia) em Espanha, o Nordeste Transmontano, o Douro Superior, e a Beira-Alta em Portugal. 3 Texto baseado em: Santiago Diez Anta, Los Palombares en la província de Léon. Edicion Caia España, Léon. 1993 p.21 15
  • 17. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional 1.3 Pombais na Península Ibérica “Na Península Ibérica apenas existem referências a Pombais após a chegada dos romanos, coincidindo com uma época de maior organização da população e racionalização da agricultura, altura em que o Pombal se assumia como fulcral na economia familiar”4. Fig. 5 Pombal em Valadollid - Espanha Tal como aconteceu noutras regiões em Espanha, a edificação deste tipo de arquitectura evoluiu a par da evolução agrícola, nomeadamente do cultivo de cereais em virtude da existência de um clima demasiado duro que não permitia o cultivo de outros produtos. Estas edificações são especialmente numerosas em Castela e Léon, na comarca natural de Tierra de Campos. Esta comarca encontra-se repartida em quatro províncias administrativas: Léon, Zamora, Valladolid e Palencia, todas elas com condições sócio- económicas semelhantes. “Este território é o que possui maior uniformidade de distribuição, densidade e variedade tipológica de Pombais que, se encontram implantados altitudes diversas, variando entre os 600 e os 1100 metros”5. 1.4 Pombais em Portugal Em Portugal o Nordeste é onde se pode encontrar uma aglomeração mais expressivo deste tipo de arquitectura, embora também existam pombais espalhados ao longo de todo o país, especialmente na Beira-Baixa, na Estremadura e Alentejo. Os Pombais Transmontanos em particular, destacam-se pela coerência na arquitectura deste tipo de edifício, de uma forma totalmente diferente, mesmo a nível mundial. Estes pombais podem ser de planta circular 4 PALOMBAR, “Manual de Apoio Técnico ao Repovoamento de Pombais Tradicionais do Nordeste”, documento s/data, cap.1 5 A.D.R.I. PALOMBARES, CORANE “ Palombares, Pombais, Arquitectura, Turismo e Gastronomia” – Folheto Informativo. 16
  • 18. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional ou mesmo semi-circular, possuem paredes grossas edificadas, na maior parte das vezes, em pedra, estucadas e caiadas de branco, Possuem apenas um vão de entrada, e as saídas de voo situam-se num plano superior junto a cobertura. Esta geralmente é construída em madeira ou cónica com revestimento em telha cerâmica ou mesmo como em certos casos composta por placas de ardósia. Estas características, resultam do facto de esta zona se situar na Bacia do Douro, sendo esta região de passagem entre a Meseta Ibérica e a Costa Atlântica. Nas elevações e vales formados pelo Douro e seus afluentes, como o rio Tua, Sabor, Águeda e Côa, predominam quatro culturas agrícolas, a vinha, os cereais, as oliveiras e hortas. Estas explorações agrícolas são favorecidas por um microclima que se faz sentir nesta zona por estar abaixo dos 1000 m. Em resultado desta conjuntura económica e social, surgem os pombais conhecidos como Tradicionais, no Nordeste Transmontano no início do séc. XIX. 1.5 Pombais no Nordeste de Portugal Estas construções denominadas por Pombais Tradicionais constituem uma herança arquitectónica e paisagística, característica do Nordeste de Portugal, retratando as vivências rurais de um passado marcante desta zona. Estes Pombais tinham como função a produção pecuária que, na economia local constituía um importante complemento da actividade agrícola. Resultaram também do uso destas construções outras vantagens ecológicas, económicas e culturais que, com o seu gradual abandono, podem tornar-se apenas um exemplo daquilo que existiu outrora. Para localizar e identificar, de forma mais fácil e simples, os Pombais do Nordeste de Portugal, foram delimitadas três zonas compreendidas entre o distrito de Bragança e o distrito da Guarda: Zona 1 - Pombais da Terra Fria Transmontana Zona 2 - Pombais da Terra Quente Transmontana e Douro Vinhateiro Zona 3 - Pombais Beirões Zona 1 Zona 2 Zona 3 17
  • 19. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional O clima é o factor que separa as duas zonas distintas do Nordeste Transmontano em Terra Fria e Terra Quente. A primeira tem o seu inicio cerca de 600m de altitude e é constituída por planaltos e montes, apresenta um clima agressivo e sofre menos interferência do Oceano Atlântico. A Terra Quente, por sua vez pauta-se por fraca precipitação e temperaturas mais suaves no Inverno. Contudo, pode encontrar-se uma área de passagem entre a Terra Quente e a Terra Fria sendo que a altitude mais baixa situa-se entre os 3507400 M E A MAIS ALTA NOS 600m. Zona 1 - Pombais da Terra Fria Transmontana Na zona da Terra Fria Transmontana, de uma forma geral, os Pombais característicos desta zona são de planta em ferradura, com cobertura em placas de ardósia ou telha, na maioria das vezes ornamentados e com pináculos. Estes Pombais inseriam-se na economia de montanha própria desta região, onde a agricultura era o único meio de subsistência dependendo bastante da pecuária sendo que, originalmente, tenham os pombais tenham servido como um processo paralelo de produção de alimento, como a carne das pombas (borracho). Neste âmbito, os Pombais, património de agricultores ou produtores rurais, não necessariamente ricos, eram distribuídos ou formavam núcleos, em geral nas encostas expostas ao sol e em proximidade com as habitações, espelhando um certo sentido de comunidade que se vivia nas pequenas aldeias. Muitas aldeias do distrito de Bragança como por exemplo Uva e Freixiosa são retratos desta vivência. Posteriormente os pombais ganharam outra função, a produção de estrume pombinho6, que se destinava, essencialmente, às produções de trigo e oliveiras, em expansão nesta altura. Para tal, os pombais eram edificados no interior dos terrenos de cultivo, distribuindo-se desta forma pelas encostas.7 Zona 2 - Pombais na Terra Quente Transmontana e Douro Vinhateiro Na Terra Quente pode-se encontrar diferentes tipologias que se traduzem na utilização de diferentes materiais e técnicas de construção. Esta diversidade deve-se à influência de outras culturas e métodos que se adquiriram através dos contactos que se realizam ao longo do eixo comercial do Douro, quer com a Beira-Alta, quer com Espanha. Nos concelhos de 6 Pombinho - produção de estrume de pomba. 7 Texto baseado em informação disponível no sítio - www.palombar.org – Associação de Proprietários de Pombais Tradicionais do Nordeste, Novembro 2007 18
  • 20. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional Vila Nova de Foz Côa e Torre de Moncorvo são na sua maioria de forma circular e ferradura, em Escalhão (Figueira de Castelo Rodrigo) são também de forma circular mas com telhado em forma de cone e em Freixo de Espada à Cinta são de planta quadrada. O clima nesta zona é um dos factores que mais influência a produção de pombos, na medida em que é um clima que permite as criações durante praticamente o ano todo. Por outro lado, o contacto próximo com o habitat natural do Pombo-da-rocha, que são as encostas do Rio Douro e seus afluentes, onde ainda se pode encontrar povoações selvagens, que também favorece a procriação desta ave. Com efeito, este tipo de construções na Terra Quente foi edificado pela necessidade de produção de estrume, sendo construídos nos próprios terrenos agrícolas, na maioria dos casos de produção da amêndoa e da oliveira. Nesta zona é característico os Pombais situarem-se dispersos e raramente próximos das habitações e praticamente nunca formando núcleos. Os Pombais na Terra Quente foram também importantes para a produção de borrachos para consumo das populações locais, mas também para comercialização externa, nomeadamente na cidade do Porto, quer para consumo quer para concursos de tiro ao pombo. A expansão deste comércio deveu-se essencialmente às importantes vias de comunicação, tanto terrestre , via ferroviária, como fluvial, descendo o Douro. Os grandes proprietários rurais e também os agricultores mais ricos eram os principais donos de Pombais, possuindo na maioria dos casos três a quatro Pombais. No entanto, nos meados do século XX, começaram a ser edificados muitos pombais dispersos pelas encostas, em virtude do desenvolvimento das práticas agrícolas e vitícolas.8 Zona 3 - Pombais Beirões Nesta zona, de uma forma geral, estas construções caracterizam-se por apresentarem planta circular com telhados cónicos. Contudo, encontram-se também outras tipologias como os de telhados com duas águas mesmo os de planta m ferradura, sendo diferentes dos de Trás- os-Montes por não apresentarem corta ventos. Da mesma forma que os Pombais da Terra Quente, estes têm também como finalidade a produção de estrume para a agricultura, principalmente do cultivo da vinha e da oliveira que se desenvolveram e acompanharam a expansão deste tipo de construções. Aqui, os Pombais encontram-se entre 500m a 600m de altitude.9 8e9 Texto baseado em informação disponível no sítio - www.palombar.org – Associação de Proprietários de Pombais Tradicionais do Nordeste, Novembro 2007 19
  • 21. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional 2 - O Pombo da Rocha 2.1 – História 2.2 – Os Pombais 2.3 – Conservação da Espécie 20
  • 22. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional A Pomba apresenta-se como figura importante deste trabalho, na medida em que foram as suas características e necessidades que, ao longo dos anos, foram moldando as construções que estão na base deste trabalho – Os Pombais do Nordeste Transmontano. Fig. W da Rocha no ninho com crias História Um dos mais velhos amigos do Homem é sem dúvida o Pombo. Alguns registos antiquíssimos revelam que o Homem primitivo por volta de os 5000 anos já fazia uso dos pombos, no entanto só no século XIX é que o pombo teve um uso científico através de Charles Darwin10, pois os Pombos-das-rochas serviram-lhe de apoio nos estudos sobre a teoria da origem das espécies. Darwin que presumiu que o pai dos pombos domésticos, tão populares e fartos, tanto em meios rurais como citadinos tivesse sido o Pombo-das-rochas. “É de notar que a pomba foi a primeira ave a ser domesticada”11. Algumas civilizações tais como os Egípcios, Fenícios, Sírios, Hindus e mesmo na religião cristã, foram utilizados pombos em práticas religiosas, da mesma maneira que estes também serviram em tempo de guerra como um meio eficiente de comunicação. Como passatempo, na Roma antiga, os pombos já eram muito populares, tal como nos dias de hoje continuam a cativar imensos criadores e admiradores. 10 Charles Robert Darwin (1809-1882) foi um naturalista britânico que alcançou fama ao convencer a comunidade científica da ocorrência da evolução e propor uma teoria para explicar como ela se dá por meio da seleção natural e sexual (www.wikipedia.org , Março 2009) 11 Giuseppe Zanoni, O Pombo Criação e Exploração, Litexa, Lisboa, 1982, p.111. 21
  • 23. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional Os Pombais Em períodos de carecimento de carne para alimentação os pombos eram caçados e consumidos em certas regiões. Com o tempo foram-se construindo os pombais para que desta forma houvesse uma reprodução controlada, permitindo que a espécie fosse uma fonte de alimentação de extrema importância, para além de propiciar um fertilizante bastante rico para a agricultura resultante dos seus dejectos. Uma das áreas onde a concentração de pombais na Península Ibérica é maior é no Parque Natural do Douro Internacional. Os pombais pela sua arquitectura característica, são impossíveis de passar por despercebidos. Estes podem assumir forma quadrangular, circular e mesmo de ferradura.12 Fig.7 Núcleo de Pombais em Freixiosa, Miranda do Douro Medidas no Sentido de Proteger e Conservar a Espécie É importante, contudo, implementar algumas medidas que visem a protecção desta espécie animal, nomeadamente cuidar e preservar os locais de nidificação protegendo as pombas contra factores que actuem de forma negativa sobre a reprodução da espécie, manter a agricultura tradicional e evitar o abandono dos campos, combater todo o tipo de caça ilegal existente na região, e ainda proceder à reabilitação dos pombais tradicionais dando especial importância aos que se situam junto às arribas, o que poderá possibilitar um crescimento da população de Pombo-da-rocha no seu meio natural. 12 Texto baseado em informação disponível no sítio - www.palombar.org – Associação de Proprietários de Pombais Tradicionais do Nordeste, Fevereiro 2009 22
  • 24. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional CAPÍTULO 3 Pesquisa sobre os Pombais 3.1 - Origens 3.2 - Os Diferentes Usos dos Pombais 3.3 - Tipologias 3.4 - Aspectos Construtivos 3.5 – Sistema de Maneio dos Pombais Tradicionais 23
  • 25. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional Os pombais Transmontanos são edificações pequenas construídas em pedra, idênticos na sua tipologia, sendo na generalidade de planta em ferradura ou circular e destacam-se ela cor branca das paredes, tornando-se uma referência para quem passa pela região. A maioria dos pombais, atrás referenciados, foram edificados na primeira metade do século vinte, embora a sua origem tenha siso na Idade Média. Estes Pombais tinham como função a criação de pombos para consumo e de estrume – o pombinho – para ser utilizado como fertilizante nos cultivos agrícolas. Estas construções foram edificadas por artesãos com base em conhecimentos e experiência adquiridos ao longo dos anos e transmitidos de geração em geração. Os Pombais previam a protecção das pombas em relação à entrada de predadores, ao apresentarem paredes grossas repletas de cavidades de pedra no interior. Estas construções reproduzem as condições necessárias de refúgio e nidificação do Pomba- da-rocha. Por outro lado, possibilitavam explorar, de forma sustentável um recurso que era silvestre, pois embora habitassem os pombais, as pombas continuavam por domesticar, apenas dependiam do maneio humano em época de escassez de alimento.13 3.1 Origens É bastante difícil datar com exactidão a origem dos pombais transmontanos, na medida em que não são conhecidos registos escritos ou de cariz popular que possam referenciar estas construções. Contudo, são conhecidas algumas semelhanças entre estes Pombais e os romanos no que respeita a distribuição dos ninhos no interior. Estas semelhanças permitem supor que a origem destas construções possam ter surgido durante o império romano ou pré-romano. Não obstante, a existência de semelhanças com outras construções, nomeadamente com as construções castrejas14, pela similaridade de tipologias, de formas redondas e arredondadas, se possa especular também sobra a sua origem. Fig.8 e 9 Castro de S. Lourenço (Vila Chã, perto de Esposende) 13 Texto baseado em: António Monteiro, Nuno Feliciano, Miguel Torres, in “Recuperação de Pombais Tradicionais no PINDI”, documento s/data 14 Castro – um castro é um tipo de povoado existente nas montanhas do nordeste da Península Ibérica, característicos da Idade do Ferro. De estrutura defensiva e circular, revelam desde cedo a implementação de uma”civilização da pedra”, quer nas zonas de granito quer nas de xisto. (www.wikipedia.org, Maio 2008) 24
  • 26. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional As construções castrejas apresentam coberturas em falsas cúpulas, coberturas de forma cónica feitas de madeira e colmo, sendo muitas vezes suportadas por um pilar central, contudo, não existem coberturas de uma só água iguais àquelas que se encontram nos pombais de ardósia ou telha de meia-cana. No entanto, poder-se-á dizer que as semelhanças entre estas construções e os pombais se prende com os materiais usados e com as suas dimensões. Contudo, é visível nas aldeias percorridas que possuem pombais de tipologia ferradura e planta circular, que estes últimos seriam anteriores aos que apresentam uma parede plana. Porém permanecerá, inquestionavelmente, a técnica utilizada em ambas as construções, pombais e castros, sendo que a grande parte das construções são em forma circular, as técnicas postas em prática possibilitavam a edificação de paredes perpendiculares, na medida em que para essas paredes seriam necessários blocos bastante grandes para permitir travar os cunhais. A construção das paredes era feita arredondando as mesmas até estas se encontrarem, uma vez que os materiais usados eram o xisto e o granito que sendo de dimensões reduzidas, possibilitavam esta técnica. Esta técnica estendeu-se as construções para habitação, por isso actualmente ainda é possível encontrar casas de paredes arredondadas, especialmente em Rio de Onor, Varge e França, e também na cidade de Bragança. Estas formas de construir foram adquiridas há muitas gerações atrás mas que continuam a ser utilizadas especialmente em edificações de cariz popular. 3.2 Os Diferentes Usos dos Pombais Os pombais tinham como funções principais a produção de estrume, “pombinho” e a produção de carne (borrachos e pombos), especialmente nas regiões onde a agricultura ganhava cada vez mais importância, sobretudo com o crescente cultivo de trigo e oliveiras. Por esta razão eram construídos no interior dos campos de cultivo e de forma mais dispersa. Paralelamente, muitos destes pombais tradicionais transmontanos tinham também um papel social de ostentação de riqueza e poder, sendo um símbolo do estrato social dos seus donos, sendo estes famílias nobres, ricas ou membros da igreja. Estas construções evidenciavam preocupações estéticas e decorativas dos habitantes das aldeias onde estes se inseriam. Estas preocupações estéticas prendiam-se com a importância, de cariz religioso, do pombo neste contexto rural, enquanto símbolo de paz, pureza, fidelidade e do divino. 25
  • 27. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional Assim, em resultado deste culto ao pombo, que é passado de geração em geração, ainda hoje se encontram pombais que são verdadeiras obras de arte desta arquitectura vernácula, conservados e em condições exemplares. Desta forma os pombos ganharam um lugar de destaque na história e vida cultural que ainda hoje se manifesta nos céus e nas aldeias desta região.15 3.3 Tipologias Intimamente ligados à produção de alimentos em épocas de grande escassez dos mesmos, estão os Pombais Tradicionais do Nordeste, e por isso representavam aquilo que se pode denominar de arquitectura popular “de produção”16. Como referido anteriormente, as paredes dos pombais são de larga espessura e construídas em xisto ou granito, de forma a potenciar o uso dos materiais existentes na região. Posteriormente estas eram rebocadas com cal e caiadas de branco, a cobertura era feita em madeira e o telhado era feito em placas de ardósia ou em telhas em cerâmica. No que respeita o interior, eram construídas inúmeras cavidades nas pedras com uma disposição simétrica ou assimétrica que serviam de estrados para a construção dos ninhos. “Ao longo de toda a área de distribuição dos Pombais nordestinos, existe uma certa variação arquitectónica, nomeadamente ao nível dos arranjos exteriores e das dimensões, o que confere especificidades e características regionais a estas pitorescas construções de elevado valor patrimonial que, no seu conjunto, se tornaram num verdadeiro emblema paisagístico da região”17. De uma forma global pode dizer-se que todos os Pombais apresentam um aspecto exterior semelhante, especialmente no que respeita o seu volume e os materiais e técnicas utilizadas, porém se for feita uma análise mais minuciosa verificar-se-ão diferenças que reflectem as diferenças culturais, económicas, de cultivo e até geológicas que se encontram de região para região. Algumas destas variações podem também ser justificadas pela carência de recursos materiais ou económicos ou simplesmente por diferentes pontos de vista estéticos ou 15 Texto baseado em: António Monteiro, Elsa Fernandes, “Os Pombais do Nordeste Transmontano, Sentinelas da Paisagem”, in Pessoas e Lugares II série, nº 16 Jan/Fev 2004, p.6 16 Mário Moutinho, Arquitectura Popular Portuguesa, Editorial Estampa, Lisboa, 1979, p.42; Helder Pacheco, Portugal - Património Cultural Popular 1, Areal Editores, Lisboa, 1ª ed., p.100: “ A arquitectura de produção (ou melhor dizendo, de organização da produção) é a destinada ao abrigo das matérias-primas recolhidas do meio envolvente, de e para a comunidade, ao fabrico de variados produtos e objectos, utilizando as tecnologias e materiais disponíveis, ou ainda à criação de animais. Dela fazem parte os moinhos (de rodízio, de vento e de maré), os pisões e as azenhas; os currais, pombais e capoeiras;” 17 PALOMBAR, “Manual de Apoio Técnico ao Repovoamento de Pombais Tradicionais do Nordeste”, documento s/data, cap.1 26
  • 28. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional funcionais. É preciso também ter em conta o momento histórico da sua construção, época em que a chegada de novas ideias, técnicas e materiais se fazia de forma bastante lenta. Por este motivo, muitas vezes as diferenças que se encontravam de aldeia para aldeia, ou até de um grupo de aldeias para outro equivalia à zona de influência de um determinado pedreiro ou construtor. De forma a perceber mais claramente as diferenças e simultaneamente as semelhanças, importa salientar alguns elementos dos quais o pombal está dependente. Apesar de alguns elementos constituintes do pombal serem semelhantes a todas as tipologias, estes elementos resultaram de uma tentativa, sustentada no conhecimento popular, de resolver alguns problemas que foram surgindo aquando da construção do pombal. Locais onde Construir um Pombal Uma das principais condicionantes a nível construtivo era o local a assentar o pombal, devido a falta de instrumentos e técnicas insuficientes para construir fundações e abertura de valas. A construção de um pombal assentava normalmente em zonas rochosas, não ocupando assim terreno cultivável que era então muito valorizado pela sua importância na vida rural. Mas por vezes os terrenos cultivados eram uma opção valida para a implantação dos pombais, pois facilitava a distribuição do estrume neles produzidos, principalmente em zonas onde se cultivavam cereais, pois também o pombal ficava mais próximo do alimento. Fig.10 Implantação de um núcleo de pombais A importância da Exposição Solar Um outro factor importante para a construção dos pombais, era a exposição solar em que este era orientado, normalmente para sul ou nascente privilegiando, sempre que possível, 27
  • 29. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional as encostas transmontanas. Assim, o pombal estaria exposto ao sol durante mais tempo, possibilitando uma maior luminosidade e uma temperatura mais suave dentro do pombal. De acordo com o saber popular da região do nordeste “nove meses de Inverno e três de Inferno”18, o que significava que a exposição do pombal era um dos aspectos mais importantes a ter em conta aquando da sua edificação para que as pombas estivessem protegidas nas noites geladas do Inverno. Um outro elemento, quase sempre semelhante a todos os pombais, prende-se com as paredes de larga espessura em pedra de xisto ou granito, materiais estes existentes na zona. A larga espessura explicava-se também pela necessidade de, posteriormente, construir as plataformas e os buracos que serviriam para que as pombas pudessem construir os seus ninhos. Fig.11 Pombal exposto ao sol, possibilitando uma maior luminosidade e uma temperatura mais suave dentro do pombal A cor branca dos Pombais Em quase a totalidade dos pombais é usado o reboco branco no exterior feito a cal e areia, distinguindo-os na paisagem transmontana. Não se sabe ao certo o motivo e a utilidade de tais características, pois tal como se verifica nos pombais de outros países como a França e Espanha o reboco podia não ter um acabamento pintado. Contudo, a pintura branca a cal poderia servir para que as pombas distinguissem o pombal ao longe, orientando-se desta forma com mais eficácia. Uma característica útil da cor branca é o efeito de refractar a luminosidade proveniente do sol do verão impedindo o sobreaquecimento destas construções. No inverno a cor branca permite um maior absorvimento do calor possibilitando de uma forma mais natural o 18 A seguir a uma curta Primavera seguem-se três meses de Verão em que as temperaturas registadas são muitas vezes superiores a 35ºC. Depois de um breve período de Outono segue-se um Inverno longo com temperaturas mínimas registadas frequentemente abaixo dos 0ºC (AEPGA- Associação para o Estudo e Protecção do gado Asinino) 28
  • 30. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional aquecimento do pombal. Outro principio para a utilização da pintura a cal deve-se a esta estar associada a característica de desinfecção, acautelando o possível aparecimento de doenças nas pombas residentes nos pombais. Fig.12 Parede de um pombal a ser caiada A importância dos Pináculos Um dos elementos que concede e promove maior diversidade aos são os Pináculos ou adornos, que pelas suas variadas formas que vão desde estatuetas, pinocos a simplesmente pedras, nos cumes dos pombais extremidades dos telhados e que tem como função fingir que estão pombas no pombal. Para além desta função, os adornos servem também para ornamentar e enfeitar o pombal, orientar as pombas para que estas facilmente encontrem o caminho para o pombal, para atrair também as pombas quando se tem a intenção de repovoar o pombal e, finalmente, serve também como elemento defensivo em relação às aves de rapina que normalmente sobrevoam os pombais e, assim, confundem os pináculos com os pombos. Fig.15 Adorno de um pombal 29
  • 31. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional Entradas e Saídas de Voo As entradas ou saídas de voo encontram-se nas beiras do telhado ou em brechas que possam existir no beiral formando desnivelamentos. A principal função destas aberturas é permitir a entrada e saída das pombas quando estas regressam ou abandonam o pombal. Para além desta função, as entradas e saídas de voo servem também para permitir a entrada de luz natural e de ar possibilitando, assim que o pombal fosse arejado. O número de entradas de voo pode variar entre quatro a sete dispersas pelo beiral preferencialmente alinhadas. Certas localidades como Sendim, Picote ou Malhadas, estas aberturas são também denominadas de buraqueiras e noutras localidades, como Cicouro, denominadas de bufeiras ou bufareiras, provavelmente resultado do som produzido pelas aves aquando da sua saída ou entrada no pombal. Fig.16 Entradas e saídas de voo Estruturas Anti-Predadores ou Beiral A estrutura Anti-Predadores possui vários nomes consoante a aldeia em que o pombal esteja implantado, nomes que vão desde soleira de voo, soalheira, refraldo ou meramente beiral. A sua constituição é feita por lajes de ardósia que se estrutura em forma de escama de peixe, saindo cerca de 30cm da parede e que têm como principal função a protecção das saídas de voo dos predadores como a raposa, o gato bravo e certos lagartos. Uma outra utilidade para esta estrutura é a de poiso para as pombas de modo a auxiliar a entrada e saída do pombal. Fig. 14 Beiral em ardósia 30
  • 32. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional Colocação da Porta Muitas vezes a porta do pombal é confundida como sendo uma janela, devido a sua sobreelevação em relação ao solo. A sua colocação a cerca de um metro acima do solo tem como função a protecção do pombal perante possíveis invasões de predadores como répteis e roedores. Outra razão para a sobreelevação da porta é a de conservação da mesma evitando que apodreça e se desfaça devido ao acumular dos excrementos no interior do pombal deixando assim de ter uso para a qual foi concebida. Normalmente como os excrementos apenas são retirados de dentro do pombal uma vez ao ano, e como a produção destes é elevada, seria possível que se amontoasse bastante e se a entrada fosse junto ao solo esta poderia facilmente ficar travada. A exposição da porta é preferencialmente virada para o povoado e locais de passagem, pois desta forma seria possível com mais eficácia a vigilância e controlo por parte dos proprietários e vizinhos. Devido a tal facto é visível em muitos casos as divergentes orientações entre o pombal e a da porta deste. Normalmente a porta era revestida em madeira, mas com o crescente aumento de roubos a pombais, que muitas vezes eram abandonados a medida que a desertificação populacional se manifestava nestas zonas, os proprietários existentes foram substituindo as velhas portas em madeira por painéis metálicos ou de materiais similares de forma a reforçar as entradas. Fig. 13 Pombal em Freixiosa Mesa de Alimento Existe no centro do interior dos pombais uma estrutura para a colocação de alimentos e água em pedra bruta ou emparelhada e por vezes em madeira. È bastante usual que a mesa que se encontra no interior dos pombais seja uma mó de moinho já gasta e estragada, que é suportada por um tronco embutido no buraco ao centro, erguendo-a, assim, cerca de um 31
  • 33. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional metro acima do chão. Nas estruturas constituídas por pedra emparelhada também é possível encontrar mesas de alimento. Fig.17 Mesa de alimento em pedra emparelhada no interior de um Pombal em Freixiosa Locais de Nidificação Na maior parte das tipologias a configuração das paredes no interior é semelhante, sendo na sua maioria em aberturas de pedra, construídas aquando da edificação do pombal, em forma de paralelepípedo, com uma profundidade entre 30 a 35 cm, uma largura de 15 a 20 cm e uma altura entre 20 a 25 cm. Estas aberturas são afastadas umas das outras com uma distância reduzida e o seu alinhamento é feito vertical e horizontalmente, dependendo do seu construtor. Estas aberturas são designadas de ninhos e a sua função é servir de local para as pombas nidificarem. Possui uma lousa que serve de patamar e de chão, salientando-se do ninho uns 20cm. Estes patamares, para além de servirem de chão às pombas, servem também de escada aos proprietários para que estes, apoiando-se neles, acedam ao pombal sempre que necessitarem de recolher os ovos ou as aves destinadas ao consumo, o borracho. Apesar de todos os elementos constituintes do pombal terem uma função própria, em termos arquitectónicos, estes elementos nunca se verificaram totalmente eficazes, especialmente no que respeita a dimensão das referidas construções. Isto é, os pombais, na sua maioria de dimensão reduzida revelam gravem problemas relacionados com a entrada de animais predadores, como os gatos ou as doninhas. Esta é uma das razões que justificam o facto de muitos pombais nunca terem sido povoados e de terem sido os primeiros a serem deixados pelos seus proprietários, à medida que se verificava uma crescente migração das populações. 32
  • 34. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional Em oposição, os pombais de maior dimensão e aqueles que apresentavam melhores estruturas, são aqueles que ainda permanecem habitados por pombas. Portanto, em resultado de todas as variações e elementos apresentados anteriormente, passa-se a apresentar as diferentes tipologias existentes na região Transmontana. Fig.18 Ninhos no interior de um pombal Tipologia 1 – Ferradura Pauta-se, arquitectonicamente, como sendo uma construção composta por uma planta semicircular em forma de ferradura. Possui um alçado plano e cobertura de uma só água em telha ou ardósia. As saídas de voo localizam-se por baixo do telhado viradas para a frente do pombal, ocasionalmente estas existem também na parte lateral. Possui um patamar em lajes e um corta-vento muitas vezes lajeado por ardósia ou mesmo telha. Costumam ser inteiramente caiados, e por vezes com pedra a vista nas esquinas. “Área de distribuição: Trás-os-Montes e Alto Douro (toda a região), muito abundante nos concelhos da região da Terra Fria Transmontana, ausente na Beira Alta. O período de construção remonta aos inícios do séc. XIX, muito comum durante todo o séc. XX”19. Fig.19 Pombal em Freixiosa - Miranda do Douro 19 PALOMBAR, “Manual de Apoio Técnico ao Repovoamento de Pombais Tradicionais do Nordeste”, documento s/data, cap.1 33
  • 35. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional Tipologia 2 - Circular de Uma Água Pauta-se, arquitectonicamente, como sendo uma construção composta por uma planta circular ou por vezes oval. Estas construções possuem uma cobertura em telha de barro, tendo apenas uma água. As saídas de voo encontram-se por baixo do telhado viradas para a rente do pombal, ocasionalmente estas existem também na parte lateral ou mesmo no telhado. Possui um patamar em lajes e corta-vento em ferradura. Costumam ser inteiramente caiados. “Área de distribuição: Terra Fria Transmontana, alguns concelhos do Douro Vinhateiro(V.N. de Foz Côa), algumas aldeias do Vale do Côa ( ausente na restante Beira Alta.). O período de construção remonta a meados do séc. XIX, comum durante todo o séc. XX”20. Fig. 20 Pombal em Paradela - Miranda do Douro Tipologia 3 - Planta Quadrada Pauta-se, arquitectonicamente, como sendo uma construção composta por uma planta quadrangular. Estas construções possuem uma cobertura em telha de barro de uma água, tendo excepcionalmente duas. As saídas de voo encontram-se por baixo do beirado expostas para frente do pombal possuindo um patamar em lajes. Esta construção possui um corta-vento e costumam ser inteiramente caiados ou por vezes ter pedra a vista. “Área de distribuição: concelho de Freixo de Espada à Cinta e exemplares dispersos na Terra Quente Transmontana. O período de construção remonta a meados séc. XX”20. 20 PALOMBAR, “Manual de Apoio Técnico ao Repovoamento de Pombais Tradicionais do Nordeste”, documento s/data, cap.1 34
  • 36. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional Fig. 21 Pombal em Poiares - Freixo de Espada à Cinta Tipologia 4 - Planta Circular Telhado Cónico Pauta-se, arquitectonicamente, como sendo uma construção composta por uma planta circular. Estas construções possuem uma cobertura em madeira com asna sendo que ultimamente a cobertura de madeira tem sido substituída por lajes em betão. As saídas de voo encontram-se por baixo do beirado, havendo em alguns pombais saídas através do telhado. Estas edificações têm uma cobertura em telha e no seu topo são adornadas com picoto em pedra ou mesmo cerâmica. As paredes costumam ser inteiramente caiadas ou por vezes possuir nas padieiras pedra a vista. “Área de distribuição: Beira Alta (principal tipologia), presente na Terra Quente Transmontana (Vale do Douro) e muito escasso na restante área de Trás-os-Montes e o período de construção remonta desde os inícios do séc. XX”21. Fig. 22 Pombal em Escalhão - Figueira de Castelo Rodrigo 21 PALOMBAR, “Manual de Apoio Técnico ao Repovoamento de Pombais Tradicionais do Nordeste”, documento s/data, cap.1 35
  • 37. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional Tipologia 5 - Circular de Duas Águas Pauta-se, arquitectonicamente, como sendo uma construção composta por uma planta circular ou como em alguns casos semicircular por terem uma face plana. Estas construções possuem uma cobertura de duas águas em telha e as saídas de voo encontram- se por baixo do beirado. Possuem um patamar em lajes e são inteiramente caiados com a padieira a vista. “Área de distribuição: Beira Alta (concelhos de Figueira de Castelo Rodrigo e Almeida), escassos exemplares na Terra Quente Transmontana e o período de construção remonta a meados do séc. XIX”22. Fig 23 Pombal em Vermiosa - Figueira de Castelo Rodrigo 3.4 Aspectos Construtivos O saber acumulado pelos artesãos possibilitava estabelecer uma relação perfeita entre os pombais e o meio envolvente, que resultava da técnica utilizada na construção, dos materiais utilizados e da implantação. Todos estes factores tornam estas construções de raiz popular, sendo que nenhum dos elementos é gratuito. As características geológicas e climáticas têm uma relevante influência para o desenvolvimento da arquitectura destas construções. Esta talha-se adaptando-se à realidade física em que se insere, com a utilização dos materiais que estão mais à mão e que são mais baratos, como são a pedra, o barro, a ardósia, a lousa e a madeira, etc., com autonomia na sua utilização conjunta23. 22 PALOMBAR, “Manual de Apoio Técnico ao Repovoamento de Pombais Tradicionais do Nordeste”, documento s/data, cap.1 23 Texto baseado em: José Emílio Yanes Garcia, Palomares Tradicionales en Tierras de Zamora, Edita Diputación de Zamora, p.43 36
  • 38. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional Normalmente, cria-se uma comunhão na paisagem entre os materiais utilizados na construção e a envolvente onde estas construções estão inseridas. A maior parte dos pombais apresenta uma forma arredondada e uma área similar entre eles. O diâmetro do interior, da maioria dos pombais de forma cilíndrica mede entre 4 a 5 metros. A mesma medida se verifica nos de dimensão similar no eixo de simetria, nos pombais em forma de ferradura ou num dos lados dos de planta quadrada. No que respeita a altura, esta varia entre os 4 ou 5 metros no ponto mais alto da parede, sendo que a parte mais baixa mede cerca de 3 metros e localiza-se onde termina o telhado. A espessura das paredes varia entre os 50 e os 90 cm consoante os pombais, sendo que nestas medidas já estão contemplados os ninhos no interior. Esta espessura tem uma função de equilibrar termicamente os pombais ao longo do ano. Estas atingem a altura do telhado, a partir do qual se forma o corta-vento, e são constituídas por fragmentos de pedra de granito ou xisto levemente trabalhadas ou em bruto. As pedras são assentadas e ligadas utilizando o barro como elemento aglutinativo. O reboco utilizado no exterior das paredes dos pombais é feito com argamassa de cal e areia, sobre o qual se vai caiar de branco, evitando assim, a existência de humidade no interior do pombal e uma melhor identificação por parte das pombas. Na ombreira e padeeira da entrada do pombal é utilizado granito picado e grosseiramente aparelhado, sendo por vezes visível apenas uma caixilharia de madeira comum na região, como por exemplo zimbro, castanho ou mesmo freixo, por se tratar de madeiras de fácil manejo. O formato da porta é rectangular e varia entre 60 e 100cm de largo e entre 100 e 150cm de altura. Trata-se do único acesso ao interior do pombal por parte dos proprietários e localiza-se a cerca de 1 metro acima da linha térrea. Abre para o interior rodando através das dobradiças, e fecha trancada por uma chave grossa e pesada de metal. No exterior do pombal uma estrutura em pedra em toda a volta do mesmo forma um beiral com a função de protecção contra predadores. Em certos pombais esta estrutura sofre uma quebra angular de forma a passar por baixo das saídas de voo com o intuito de, assim, apoiar na entrada e saída das pombas.” Este Beiral designa-se,em algumas aldeias como Cicouro, por refraldo e noutras por soalheira, soleira de voo ou simplesmente beiral”.24 Alguns pombais possuem um corta-vento na extremidade superior da parede de forma 24 NOBRE, José António - Cabanhas, Casulhos e Palumbares na Terra de Miranda, Edição do Instituto da Conservação da Natureza, Lisboa, 2004 p. 52 37
  • 39. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional semi-cilíndrica, outros cobertos por lajes de lousa encadeadas umas sobre as outras formando o beiral superior. O beiral de baixo, é constituído por lousas fixas por pedras ou outro tipo de ornamentos que evita a entrada das chuvas pelas frestas das paredes. Este resguardo e os adornos que o compõem constituem o coroamento do pombal, que caiado de branco serve também de chamariz às pombas. A sustentação da cobertura do pombal é feita através de ripas pregadas em paus grossos, chamados de caibros, e estes, por sua vez, sustentados por vigas em madeira de freixo, carvalho ou castanho que são embutidas na parede. No interior do pombal pode existir uma vigota que serve de poiso às pombas que pode atravessar todo o vazio do pombal. Contudo, salienta-se também no centro do interior uma mesa feita em pedra ou madeira, de configuração arredondada ou até rectangular. O tampo destas mesas pode ter uma dimensão que varia entre um metro e um metro e meio de largo e uma altura entre os 70 e os 120cm. O pavimento do pombal pode ser em terra batida ou mesmo lajeado. É para o chão que é lançada a palha que, juntando-se aos dejectos das pombas se destina à produção de estrume para a fertilização dos campos agrícolas.25 3.5 Sistema de Maneio dos Pombais Tradicionais Um dos aspectos mais característicos que torna o pombal um elemento único e agregador da sustentabilidade das economias locais, prende-se com a produção de borrachos e de fertilizante natural. Contudo, este sistema «… não se enquadra nos processos convencionais de criação, pois a espécie “explorada” encontra-se em estado selvagem sem que o Homem a tenha privado do voo ao contrario do que aconteceu com muitas outras aves domesticas.»26 Os proprietários de pombais tradicionais aproveitaram a proximidade com as encostas, vales e núcleos silvestres do Douro para repovoarem os pombais pelas pombas bravas conhecidas como Pomba-da-Rocha. A colocação de alimento no telhado dos pombais e no seu interior atraem as pombas que pelo factor curiosidade entram no pombal e descobrem poisos e buracos onde podem nidificar e reproduzir em segurança. Para além dos alimentos colocados, as pombas são também 25 NOBRE, José António - Cabanhas, Casulhos e Palumbares na Terra de Miranda, Edição do Instituto da Conservação da Natureza, Lisboa, 2004 p. 51 a 55. 26 António Monteiro, Elsa Fernandes, “Os Pombais do Nordeste Transmontano, Sentinelas da Paisagem”, in Pessoas e Lugares II série, nº 16 Jan/Fev 2004, p.7 38
  • 40. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional atraídas ao pombal pela cor branca do mesmo, pela ornamentação e pináculos, que muitas vezes se confundem com a presença de outras pombas. Para uma maior eficácia na atracção das pombas e reconhecimento do pombal pelas mesmas, é costume colocar no interior, destas edificações, plantas odoríferas que lhe conferissem uma identidade. Da mesma forma que as pombas são atraídas pelos alimentos colocados no pombal, pelos odores e características apelativas próprias destas edificações, outros animais como os pardais também o são, especialmente no Inverno em que a escassez de alimento é maior. A doninha e a cobra são exemplos de predadores que facilmente entram no pombal e que representam um perigo arrasador e difícil de evitar pelos proprietários. Toda esta conjuntura provoca um ambiente de insegurança no pombal que de alguma maneira afugenta as pombas. Assim, fruto da necessidade, os donos dos pombais, são obrigados a procurar novas formas e a criar novas drogas para afastar os animais que representam perigo para as pombas. Uma forma encontrada pelos proprietários era a chamada fumaça que era feita a partir de uma mescla constituída por ervas da montanha, com um odor bastante forte, com alho, enxofre, bocados de borracha e cascos dos burros. Todos estes elementos são colocados a arder dentro de uma lata, que é colocada a arder sobre a mesa de alimento no interior do pombal. Esta mistura a arder liberta um odor bastante forte que afasta todos os animais perigosos mas que não produz qualquer efeito sobre as pombas. Assim, o pombal fica a salvo e desinfectado por um longo período de tempo sem que nada aconteça às pombas. Em resultado do empenho dos proprietários dos pombais em proteger os mesmos, é possível recolher os frutos deste processo tão elaborado de produção. 27 27 Texto baseado em: António Monteiro, Elsa Fernandes, “Os Pombais do Nordeste Transmontano, Sentinelas da Paisagem”, in Pessoas e Lugares II série, nº 16 Jan/Fev 2004, p.7 39
  • 41. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional CAPÍTULO 4 O Que Pode Tornar Esta Arquitectura Sustentável 4.1 - Estratégias de Sobrevivência 4.1.1 Divulgação 4.1.2 Gastronomia 4.1.3 Campos de Voluntariado 4.1.4 Repovoamento 4.1.5 Educação e Sensibilização 4.1.6 O Pombinho 4.2 - A Questão da Sustentabilidade 40
  • 42. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional 4.1 - Estratégias de Sobrevivência Inevitavelmente, o desenvolvimento sempre fez parte das necessidades humanas, contudo apenas há pouco tempo atrás estas necessidades ganharam contornos sociais e ambientais e passaram a fazer parte das prioridades de quem tem o poder de decisão. Para que a sustentabilidade social e ambiental se estenda é necessário que cada individuo a veja como uma necessidade e não como algo que é imposto. Desta forma, é cada vez mais uma prioridade integrar as comunidades de forma responsável e com consciência no meio onde estão inseridas. Não se deve encarar o êxodo rural, que se sente no interior, como algo que seja negativo, mas sim como uma forma positiva de desenvolver e encarar o futuro, preservando e promovendo aquilo que é especifico e característico de uma região, desde o seu património natural àquele que foi construído. A promoção do associativismo e de acções de voluntariado nos meios rurais são indispensáveis e devem ser promovidos de acordo com planos que possibilitem a participação das populações. A participação das comunidades locais, das associações, o gosto e interesses individuais são predominantes para a sustentabilidade, conservação e valorização do património cultural nos meios rurais, onde se encontram os Pombais. É verdade que se verifica um sentimento crescente que visa a valorização estética e a preservação de certos ícones do mundo rural, provavelmente devido à existência de raízes de cariz rural que possam orientar para um caminho de conservação dos Pombais, não deixando de parte a aposta em estratégias inovadoras que, lentamente permitam cativar e persuadir quem se disponibiliza a valorizar o simbolismo e a potencialidade que estas construções vernáculas outrora representaram. 4.1.1 Divulgação A divulgação e Promoção é uma das soluções para dar a conhecer os pombais, desenvolvendo actividades como a promoção de passeios pedestres pelas aldeias onde este tipo de construção exista, passeios de bicicleta por roteiros previamente definidos e onde se possa parar e ter um contacto mais directo com este tipo de construção e contacto com as populações locais nomeadamente os proprietários. Desta forma estes podem ver reconhecidos e mesmo valorizados os seus trabalhos de manutenção e preservação e, por outro lado, podem ser também estimulados a recuperar e reabilitar os Pombais que ainda se encontrem degradados 41
  • 43. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional Fig 24 Percursos Pedestres 4.1.2 Gastronomia As instituições locais, como câmaras municipais, restaurantes, hotéis ou ainda associações de desenvolvimento, reconhecem a importância e o valor económico dos pombais e das aves aí procriadas. Este reconhecimento traduz-se na realização de Feiras ou jornadas gastronómicas que ajudam a promover o consumo do borracho e estimulam o envolvimento de toda a população na promoção e divulgação deste tipo de eventos. Quando se conhece uma determinada região, um dos principais atractivos é conhecer as especificidades e as tradições culinárias da mesma. Na região de Trás-os-Montes, o borracho é um dos pratos gastronómicos de eleição capaz de convencer o gastrónomo mais exigente, na medida em que o borracho se caracteriza por apresentar uma carne vermelha de uma textura fina, muito tenra e com muito sabor, chega a ter um suave sabor a caça muito agradável ao paladar. Historicamente, o borracho foi durante bastante tempo o prato de eleição das mesas da nobreza europeia. No entanto, de há uns anos a esta parte, apenas se encontra nos menus de alguns restaurantes. Este prato tradicional continua a ser preservado nas cozinhas do Nordeste Transmontano, o que poderá estimular os proprietários, que ainda possuem Pombais, cuidar dos mesmos de forma a manter a produção do borracho, e estimular também os restantes habitantes para as 42
  • 44. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional potencialidades da produção desta ave. Este estímulo irá promover um desenvolvimento sustentável assente em produtos de qualidade, de cariz agro ecológico.28 Fig 25 e 26 Cartaz das jornadas gastronómicas do “Borracho” 4.1.3 Campos de Voluntariado Têm sido levado a cabo vários projectos que visam dar resposta ao número elevado de Pombais que continuam abandonados. Neste sentido, também, vários organismos locais têm realizado este trabalho na maioria das vezes com a ajuda e participação activa das associações e, nalguns casos são os próprios proprietários a realizar obras de conservação e recuperação sem qualquer tipo de apoio ou colaboração de algum organismo. Também foram realizadas algumas acções de voluntariado em colaboração com associações nacionais e internacionais, com a ajuda das autarquias e algumas empresas da região, e com a colaboração dos próprios proprietários. Em Agosto de 2006 foi levado a cabo uma destas acções de voluntariado em Vila Chã da Ribeira, Vimioso, que contou com cerca de 20 voluntários. Durante duas semanas, estes voluntários tiveram oportunidade de contactar de perto com a cultura local, descobrir a região e participar em acções turísticas. Estas 28 Texto baseado em informação disponível no sítio www.aepga.pt – Associação para o Estudo e Protecção do Gado Asinino, Dezembro 2007 43
  • 45. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional acções de voluntariado são, também, uma forma de divulgação turística por parte das pessoas envolvidas, visto estas serem, na maioria das vezes, estrangeiros. Fig 27 Recuperação de pombal de tipologia - Planta circular com telhado 4.1.4 Repovoamento O processo de recuperação por si só não é suficiente. Portanto é necessário dar vida aos pombais recuperados, para que estes se mantenham realmente activos e cumpram a função para a qual foram construídos e utilizados. Neste sentido o repovoamento dos pombais abandonados aparece como fundamental. Contudo é necessário que os proprietários sejam sensibilizados e preparados para manusear correctamente essas construções, nomeadamente no que diz respeito à identificação de doenças, ao sistema reprodutivo, e quaisquer outras dificuldades que possam surgir. 4.1.5 Educação e Sensibilização Para além do papel económico, os pombais desempenham também um importante papel ecológico, pois, por um lado, permitem, através do estrume neles produzido, fertilizar os campos de cultivo, sem recorrer a quaisquer tipo de químicos ou fertilizantes. Por outro lado, as pombas têm também uma função importante no equilíbrio do ecossistema pois servem muitas vezes de alimento a outras espécies de animais selvagens, especialmente às aves de rapina, sendo que algumas delas se encontram em perigo de extinção na região, nomeadamente, a Águia de Bonelli. É essencial alertar os proprietários que atenuando os 44
  • 46. Pombais Transmontanos A Importância dos Pombais de Miranda do Douro como Elemento Agregador na Sustentabilidade da Cultura Regional prejuízos resultantes do mau manuseamento dos pombais, os prejuízos resultantes dos predadores que se alimentam das pombas são insignificantes na maior parte das situações. Contudo, a questão da perda continua a ser sensível aos proprietários, logo é importante continuar o trabalho, desenvolvido até aqui, de educação ambiental de modo a clarificar as falsas crenças e a colmatar a falta de informação que pode em alguns casos levar ao abate ilegal de animais encarados, muitas vezes incorrectamente, como animais perigosos e que põem em causa a sobrevivência das pombas. Relativamente à caça, depois que foram implementados processos de ordenamento venatório, esta tem vindo a decrescer. Este ordenamento permitiu criar meios legais de protecção às aves e aos pombais, nomeadamente a Portaria Nº 736/2001 de 17 de Junho, Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, que define que na maioria do território nacional a pomba-da-rocha não pode ser caçada, e a lei geral da caça define que exista um círculo de 250m em volta dos pombais onde não seja permitido caçar. Embora se tenham criado todos estes mecanismos de protecção, tem sido difícil sensibilizar os caçadores para respeitar este ecossistema, pelo que é necessário continuar o trabalho se sensibilização da população. 4.1.6 O Pombinho Finalmente, o estrume produzido pelas pombas, mais conhecido por Pombinho, é um importante adubo orgânico com importantes propriedades, rico em azoto, fósforo e potássio, pode tornar-se certificado e comercializado através de redes europeias de agricultura biológica. Devido à escassez na quantidade de estrume produzido pelos pombais, é de considerar a aposta no associativismo de forma lançar a viabilização da comercialização deste composto orgânico no mercado nacional e internacional. Ainda que durante muito tempo não tenham sido devidamente valorizados, os Pombais tradicionais constituem um importante legado próprio do nordeste português e continuam a possuir uma importância cultural e ecológica relevante para as comunidades onde estão inseridos. 4.2 A Questão da Sustentabilidade A questão da sustentabilidade relaciona-se intrinsecamente com a evolução dos parâmetros económicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade. A sustentabilidade, pode ser entendida como uma forma de encontrar melhores condições para a sociedade e para o ambiente tanto no presente como para um futuro indeterminado. 45