Inteligência Artificial na Saúde - A Próxima Fronteira.pdf
Vacina contra hpv reduz risco de câncer anal
1. vírus do papiloma humano
news
Mc-1302/12 03-2015-Grd-13-Br-1302-Pu Vacc-1078031-0000 iMPreSSo eM MarÇo/2013
Vacina contra HPV reduz
risco de câncer anal
Nova indicação aprovada pela Anvisa
entreViSta
Dr. Charbell Kury, coordenador de Imunizações da Secretaria Municipal de Saúde de Campos dos Goytacazes
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Os pontos de vista aqui expressos refletem
a experiência e as opiniões dos autores.
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podem ser divergentes das existentes
na Circular aos Médicos (bula).
Antes de prescrever qualquer medicamento
eventualmente citado, recomendamos a leitura da
Circular aos Médicos emitida pelo fabricante.
A PERSISTIREM OS SINTOMAS,
O MÉDICO DEVE SER CONSULTADO.
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3. news
editorial
M
ais de 110 milhões de doses da vacina quadrivalente
recombinante contra HPV (6, 11, 16 e 18) já foram
aplicadas nos cerca de 120 países em que a vacina
está registrada. Assim, esta nova edição da HPV
News avalia alguns resultados globais dos programas de vacinação,
que são expressivos, e o impacto nas doenças relacionadas ao HPV,
como redução na incidência de verrugas genitais. Além disso, segundo
Dr. Nelson Valente Martins, professor adjunto da disciplina de Gine-
cologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de
São Paulo (Unifesp/EPM), não foi notado nenhum caso importante de
evento adverso grave em todas as doses aplicadas no mundo. Para falar
um pouco da experiência brasileira com a vacina, nosso entrevistado
nesta edição da HPV News, Dr. Charbell Kury, coordenador de Imu-
nizações da Secretaria Municipal de Saúde de Campos dos Goytacazes
(RJ), expôs como foi a campanha em seu município. Leia também sobre
a recente aprovação em nosso país de mais uma indicação da vacina
quadrivalente, agora para a prevenção do câncer anal em homens e
mulheres, estendendo o benefício da imunização, já que os resultados
dos ensaios clínicos demonstraram redução da incidência de neopla-
sia intraepitelial anal. Abordamos, ainda, nesta edição, os destaques da
International Papillomavirus Conference (IPV), evento dedicado à discus-
são de estratégias para prevenção e controle do HPV realizado em de-
zembro passado, em Porto Rico. Confira!
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4. sumário
Entrevista
vírus do papiloma humano
news
4 Prevenir continua sendo o
melhor remédio
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Charbell Kury
V
Coordenador de Imunizações da Secretaria
Municipal de Saúde de Campos dos
Goytacazes e professor de Pediatria da
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Vacina contra HPV reduz (UFRJ) fala sobre a prevenção do HPV.
risco de câncer anal
Nova indicação aprovada pela Anvisa
entreViSta
Dr. Charbell Kury, coordenador de Imunizações da Secretaria Municipal de Saúde de Campos dos Goytacazes
A revista HPV news é uma publicação da
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diretor-geral: Idelcio D. Patricio
diretor executivo: Jorge Rangel
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editora responsável: Cristiana Bravo
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revisoras: Renata Lopes Del Nero e Angela Helena Viel
colaboraram neste número: Ana Carolina Chuery
(CRM-SP: 96.836), Daniela Barros, Giuliano Agmont e
Prevenção do HPV
20
Renata de Albuquerque
Fontes: Dra. Albertina Duarte Takiuti (CRM-SP 16.327),
Dr. Charbell Miguel Haddad Kury (CRM-RJ 52-76.026-9),
Impacto da vacinação contra
Dr. José Humberto Tavares Guerreiro Fregnani
(CRM-SP 87.778), Dra. Luiza Helena Falleiros Arlant HPV no Brasil e no mundo
(CRM-SP 16.185), Dra. Maria Ignez Saito (CRM-SP 15.093),
Dr. Nelson Valente Martins (CRM-SP 11.094), Dr. Sidney Primeiros resultados
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contra HPV nos
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cód. da Publicação: 14626.04.2013 programas de
vacinação em
vários países.
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seu(s) autor(es). Produzido por Segmento Farma
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5. news
Imunização Atualização em HPV
10 Vacina de HPV reduz
risco de câncer anal
Anvisa aprova indicação da vacina
quadrivalente recombinante contra
16
Recomendação da vacina
de HPV não deve estar
ligada à atividade sexual
Prevenção precoce deve enfatizar a
HPV (6,11,16 e 18) também para
prevenção de doenças, como acontece
prevenção de câncer anal.
com outras vacinas do calendário.
Abstracts
27 Conferência IPV 2012: seleção de abstracts
Nesta edição, destacam-se os abstracts da 28th IPV, que reuniu os principais especialistas
em HPV do mundo e trouxe resultados das mais recentes pesquisas com o papilomavírus
humano. O evento foi realizado em Porto Rico em dezembro de 2012.
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6. Entrevista
PreVenir CONtINUA SENDO
o melhor remédio
Campos dos Goytacazes (RJ) está entre as primeiras cidades pioneiras no Brasil
na introdução da vacina de HPV em seu calendário municipal de vacinação
E
stima-se que, no Brasil, existam Segundo Dr. Charbell Miguel Ha-
de 9 a 10 milhões de indivíduos ddad Kury, infectologista pediátrico e
infectados pelo papilomavírus hu- coordenador de Imunizações da Secreta-
mano (HPV). O desfecho para tamanha ria Municipal de Saúde de Campos dos
exposição resulta em uma incidência anual Goytacazes (RJ), no portfólio de proteção
de cerca de 18 mil novos casos de câncer contra o HPV, o uso do preservativo, o
de colo do útero, com 5 mil óbitos anuais rastreamento precoce com o exame cito-
no País1,2. patológico de Papanicolaou e a vacina de
O HPV é transmitido, principalmente, HPV constituem o estado da arte da pre-
por meio da relação sexual, podendo causar venção contra essa condição.
lesões em vulva, vagina, colo do útero, pê- Em nível nacional estão disponíveis as
nis e ânus e ocorre com prevalência de 25% vacinas de HPV quadrivalente (tipos 6, 11,
a 50% em mulheres sexualmente ativas3,4. 16 e 18) e bivalente (tipos 16 e 18)5. “Como
a maior incidência da infecção acontece
próximo ou logo após o início da vida se-
xual, recomenda-se realizar a vacinação
antes do início da atividade sexual, por vol-
ta de 11 e 12 anos de idade, sendo a indica-
ção por bula a partir dos 9 anos”, explica.
O Brasil possui calendários de vacina-
ção adulto e infantil, definidos por órgãos
governamentais e por entidades de classe
(como sociedades médicas), que levam em
conta fatores como a importância de a doen-
ça ser prevenida, a segurança e a eficácia da
vacina, a viabilidade do esquema, a relação
de custo e efetividade, entre outros.
Neste contexto, há que se priorizar. Após
estudos e análises minuciosas, são eleitas
4 HPV News | 2013
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7. news
as enfermidades de maior alcance na dida estratégia de vacinação escolar e
população. Só que algumas, também em unidades de saúde, e que em pou-
de amplo espectro, acabam sendo ne- co tempo já se traduziu positivamente
gligenciadas, em função do orçamen- na redução da incidência de verru-
to escasso. gas genitais e lesões de alto grau do
Tendo em vista a elevada incidência colo uterino. Logo, deduzimos que se
de verrugas genitais e lesões precur- tratava de uma excelente estratégia,
soras do câncer do colo do útero na custo-efetiva e de excelente retorno
população feminina, a Secretaria de em qualidade de vida da população.
Saúde da cidade de Campos dos Goyta- A IDEIA SE Contamos também com uma prefeita
cazes (RJ) teve uma atitude pioneira, extremamente sensível às questões
INSPIROU NO
sendo a primeira cidade no estado do da imunização, bem como nosso vice-
Rio de Janeiro e entre as primeiras em GOVERNO -prefeito, que é médico. Ora, sabe-
nível de Brasil: incluiu no calendário AUSTRALIANO -se que as decisões técnicas somente
municipal de vacinação a vacina qua- ocorrem quando há respaldo político.
qUE, EM 2007,
drivalente contra o HPV, para adoles-
centes munícipes com idade entre 11 INICIOU UMA HPV News — Vocês enfrentaram al-
e 15 anos. Dr. Charbell conta detalhes BEM-SUCEDIDA gum tipo de rejeição ou a ideia foi
dessa importante empreitada. ESTRATÉGIA prontamente aceita?
DE VACINAçãO Charbell M. H. Kury — Tivemos re-
HPV News — Como e quando surgiu a jeição inicialmente por parte da po-
ideia dessa campanha de vacinação con- ESCOLAR E EM pulação, principalmente em relação
tra o HPV em Campo dos Goytacazes? UNIDADES DE a alguns mitos como a recusa dos
Charbell M. H. Kury — Em primeiro SAúDE, E qUE EM pais em autorizarem a vacinação por
lugar, essa estratégia de vacinação acreditarem que meninas virgens não
POUCO TEMPO necessitavam se vacinar, bem como
não se configurou como uma campa-
nha, mas como uma implantação. Nos Já SE TRADUzIU algumas resistências por alguns gru-
anos de 2010 e 2011 a implantação foi POSITIVAMENTE pos religiosos. Mas isso foi resolvido
direcionada para meninas de 11 a 15 com campanhas maciças de mídia e
NA REDUçãO palestras em escolas.
anos, como uma estratégia de “catch
up” (chamado também de grupo de DA INCIDêNCIA
resgate, é a maior extensão da faixa DE VERRUGAS HPV News — Por que a escolha da va-
etária vacinada por tempo defini- cina quadrivalente (versus a bivalente)?
GENITAIS E
do com a tentativa de atingir maior Charbell M. H. Kury — Essa decisão foi
população-alvo). A partir de 2012 LESõES DE ALTO tomada juntamente à Câmara Técni-
fixou-se a idade de 11 anos para as GRAU DO COLO ca de Saúde da Mulher, que envolveu
meninas receberem a vacina. UTERINO epidemiologistas, sanitaristas, gine-
A ideia se inspirou nas iniciativas cologistas, infectologistas e pediatras,
realizadas pelo governo australiano chegando à conclusão que esta seria a
que, em 2007, iniciou uma bem-suce- escolha mais adequada.
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8. Entrevista
Os resultados HPV News — Que tipo de proteção essa vacina rência do Sistema Único de Saúde (SUS), tanto
já atestam confere ao imunizado? em homens quanto em mulheres, de forma que
a redução Charbell M. H. Kury — Trata-se de uma vacina houve um aumento das notificações das verrugas
dos casos de que protege contra as doenças relacionadas ao genitais em 2011 após o início da vacinação, que
condilomas HPV causadas pelos tipos 6, 11, 16 e 18, fun- acreditamos ser pelas palestras educativas nas es-
atendidos nos damentalmente as verrugas genitais, câncer do colas e pelo aumento de sensibilidade do sistema
dois serviços colo do útero, vagina, vulva e câncer anal. pelas campanhas de mídia.
de referência do
A figura 1 ilustra o número de casos notifica-
HPV News — Após a iniciativa de vocês, ou- dos de verrugas genitais em homens e mulheres
Sistema único de
tros municípios adotaram a campanha de na cidade de Campos dos Goytacazes, antes e
Saúde, tanto em
imunização gratuita contra o HPV também depois da imunização.
homens quanto
em mulheres com a vacina quadrivalente?
Charbell M. H. Kury — Sim, mas cada município HPV News — Quando começou a campanha de
lançou mão de uma estratégia diferente: enquanto imunização gratuita?
em Barretos foi realizada uma campanha por um Charbell M. H. Kury — A cidade de Campos dos
período determinado, articulado com seu Hospital Goytacazes incluiu no calendário municipal de
de Câncer, que vacinou nas escolas e no hospital vacinação a vacina quadrivalente contra o HPV
para busca de oportunidades perdidas, outros mu- em 13 de setembro de 2010 para adolescentes
nicípios usaram a estratégia de vacinar apenas nas munícipes com idade entre 11 e 15 anos, utili-
escolas. Campos dos Goytacazes fez uma implan- zando recursos próprios.
tação, ou seja, colocou a vacina em seu calendário
municipal de vacinação, por meio de um modelo HPV News — Qual é a cobertura vacinal?
híbrido de vacinação em escolas e postos de saúde. Charbell M. H. Kury — A cobertura para a primei-
ra dose nas meninas vacinadas de 11 a 15 anos,
HPV News — Qual era a incidência de HPV e entre os anos de 2010 a 2012, se encontra em
quais eram as principais manifestações das quase 100% para a primeira dose, 85% para a
doenças observadas na população? segunda dose e 70% para a terceira.
Charbell M. H. Kury — O câncer do colo do úte-
ro é o segundo tipo de câncer que mais mata as HPV News — Onde a imunização está sendo
mulheres em Campos dos Goytacazes, com cer- realizada e quantas doses foram disponibilizadas?
ca de 30 óbitos por ano, seguido pelo câncer de Charbell M. H. Kury — A meta de Campos dos
mama. Atualmente há 70 mulheres em regime Goytacazes em 2010 a 2011 era vacinar uma po-
de tratamento oncológico de alta complexidade, pulação de 17 mil meninas de 11 a 15 anos de
números elevados para nossa população femi- idade, por meio de uma estratégia híbrida, que
nina. Nossa rede possui serviços que atendem combina a vacinação em todas as escolas públi-
aos pacientes com diagnóstico de condiloma, de cas e privadas, bem como a imunização realizada
forma que sempre fizemos a notificação dos ca- em dois postos de saúde fixos para complemen-
sos pelo Sistema de Informações de Agravos de tar a vacinação de faltosos, adolescentes fora da
Notificação (Sinan), antes e depois da vacinação. escola ou casos de exceção. A partir de 2012, fi-
Os resultados já atestam a redução dos casos de xamos a faixa etária de 11 anos para as meninas
condilomas atendidos nos dois serviços de refe- que atingirão essa idade deste ano em diante.
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9. news
Resultado PReliminaR
Casos notificados de verrugas genitais em homens de Campos-RJ Homens Mulheres
2007 – 53 casos 2007 – 58 casos
60 2008 – 51 casos 2008 – 59 casos
2007,53 2011,57
50
Casos notificados
2009 – 30 casos 2009 – 43 casos
40 2008,51 2010 – 27 casos 2010 – 41 casos
30 2010,27
2011 – 57 casos 2011 – 54 casos
20
2009,30 2012,19 2012 – 19 casos 2012 – 30 casos
10
0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Ano de notificação (Sinan) Casos notificados de verrugas genitais em mulheres de Campos-RJ
70
2008,59
Casos notificados
60
50 2011,54
• Dados do Sinan colhidos em dois serviços de referência 40 2007,58
dentro do SUS; indivíduos menores de 40 anos. 30 2010,41
2009,43 2012,30
20
• Não houve interferência pré e nem pós-vacinação. 10
0
• Indicador de tendência de queda em ambos os gêneros. 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Ano de notificação (Sinan)
Figura 1. Casos notificados de verrugas genitais na população masculina e feminina em Campos dos Goytacazes
HPV News — Além da imunização, vocês estão HPV também está relacionada a cerca de 40%
realizando campanhas educativas nas escolas e a 50% dos casos de câncer de pênis e de 80% a
junto à comunidade? 90% dos de câncer anal em homens?
Charbell M. H. Kury — Na estratégia, foram feitas Charbell M. H. Kury — Sim, a inclusão dos meni-
campanhas de conscientização dos pais, que pre- nos no calendário municipal de vacinação está
cisam autorizar a vacinação das filhas, e pales- prevista para 2013 ou 2014, mas estamos fazen-
tras para esclarecer os benefícios da vacinação, do ainda as análises de custo-efetividade e a es-
uma vez que as doenças causadas pelo HPV são colha da faixa etária a ser beneficiada.
Foram
imunopreveníveis (prevenidas por vacina). Aco-
HPV News — Existe algum outro grupo de risco ministradas
plados a essa estratégia, foram realizados dois
“dias D” de mobilização e vacinação; o Progra- que ainda precisaria ser beneficiado por cam- palestras
ma Saúde na Escola (PSE) levou a vacina até as panhas gratuitas? educativas
unidades de ensino; foram ministradas palestras Charbell M. H. Kury — De maneira pioneira, desde sobre o HPV aos
educativas sobre o HPV aos adolescentes, ex- 2011 passamos a vacinar todas as mulheres HIV- adolescentes,
plicando as formas de prevenção e informando -soropositivas de 9 a 26 anos de idade por meio do explicando
sobre as doenças relacionadas ao vírus. programa DST/Aids, pois os estudos internacio- as formas de
nais nos permitem afirmar o aumento da incidên- prevenção e
HPV News — Taboão da Serra foi a primeira ci- cia e da recorrência do HPV nos soropositivos. informando sobre
dade no mundo a imunizar garotos. Vocês têm a as doenças
intenção de estender a imunização para o sexo HPV News — Quais são as vantagens dessa relacionadas
masculino, considerando que a infecção pelo campanha, além da prevenção ao HPV? ao vírus
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10. Entrevista
Para cada um Charbell M. H. Kury — Se entendermos que para localiza um dos postos de vacinação para o HPV,
real gasto em cada um real gasto em prevenção economizamos durante o “dia D” de mobilização contra o HPV,
prevenção, quatro reais em tratamento, e se considerarmos em 5 de maio de 2012. A escolha se deu aleato-
economizamos que o tratamento de uma doença impõe riscos, riamente com as meninas que estavam na fila da
quatro reais em seja uma sequela ou até mesmo a morte, a ges- vacinação e que estivessem sem comorbidades
tratamento, e se tão pública não deve economizar esforços para ou doença em atividade.
fortalecer a prevenção. A escolha de uma vacina No momento da coleta dos dados, os respon-
considerarmos
para ser implantada leva em consideração uma sáveis pelas meninas que compareceram à Se-
que o tratamento
série de fatores. Mas, se quisermos sintetizar, cretaria Municipal de Saúde para a vacinação
de uma doença
deve-se respeitar o critério de custo-efetividade, com a vacina quadrivalente foram esclarecidos
impõe riscos, a
em que o valor gasto na prevenção seja menor sobre a pesquisa em questão, sendo obtido con-
gestão pública sentimento informado destes para posterior
que o do tratamento daquele agravo. Em relação
não deve contato. Em cada cartão de vacina foi anexado
ao HPV, este possui mais de 200 tipos diferentes,
economizar um formulário, contendo a relação de eventos
cerca de 45 dos quais afetam o trato anogenital.
esforços para Destacam-se os tipos 6 e 11 (que causam cerca adversos possíveis de ocorrerem. Os responsá-
fortalecer a de 90% das verrugas genitais), e os tipos 16 e veis foram orientados a observar a ocorrência de
prevenção 18, os quais são responsáveis por mais de 70% quaisquer eventos adversos descritos ou não no
dos casos de câncer do colo do útero. Quando anexo por 48 horas e marcar a respectiva reação
analisamos a prevenção dessas condições por no formulário. Desse modo, após 48 horas da
critérios de custo-efetividade, não há melhor es- vacinação, os responsáveis eram questionados
colha do que a vacina contra o HPV. sobre a ocorrência ou não de algum evento ad-
verso após a vacinação por meio de telefonema
realizado pela equipe do estudo.
HPV News — O senhor publicou artigos sobre a
experiência vacinal em Campos dos Goytacazes?
HPV News — E quais foram os resultados?
Charbell M. H. Kury — Sim, publicamos um
Charbell M. H. Kury — O gráfico 1 sumariza o
editorial no Jornal Brasileiro de Doenças Se-
percentual de adolescentes que relataram even-
xualmente Transmissíveis6 em 2012, e há outro
to adverso: 36% das jovens disseram ter apre-
artigo sendo finalizado.
sentado alguma reação à vacina, enquanto 64%
das entrevistadas não relataram. Nenhuma jo-
HPV News — Este último artigo, que está em vem entrevistada relatou ter procurado o servi-
andamento, avaliou a frequência e a prevalência ço de emergência para tratamento de sintomas
de efeitos adversos com a vacina quadrivalente mais graves. Esses dados se correlacionam com
contra o HPV em meninas de 11 a 15 anos de os achados internacionais.
idade vacinadas no município de Campos dos Em relação ao relato de eventos adversos distri-
Goytacazes. Por favor, comente. buídos por idade das jovens, os dados encontrados
Charbell M. H. Kury — Nesse estudo, do tipo des- permitem inferir que a idade na qual houve mais
critivo e prospectivo, 200 adolescentes de 11 a sintomas pós-vacinais foi do grupo de adolescen-
15 anos de idade foram imunizadas com a va- tes mais jovens na faixa etária escolhida pelo muni-
cina quadrivalente contra o HPV na sede da cípio, ou seja, a idade de 11 anos, correspondendo a
Secretaria Municipal de Saúde (antigo Centro 41% dos relatos de eventos adversos. Esses dados
de Saúde) de Campos dos Goytacazes, onde se podem ser visualizados no gráfico 2.
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11. news
A ausência de
reações graves e
13%
36% Apresentaram efeito 15% 11 anos a não ocorrência
41%
adverso à vacina. 12 anos
64% de internação
Não apresentaram 12% 13 anos
efeito adverso à 19% 14 anos hospitalar por
vacina. 15 anos eventos adversos
asseguram a
Ano: 2012 Ano: 2012
Lote da vacina: G005875 Lote da vacina: G005875 magnitude dos
Data de vacinação: 5/5/2012 Data de vacinação: 5/5/2012
benefícios já
Gráfico 1. Percentual de relato de efeitos adversos da Gráfico 2. Percentual de relato de eventos adversos da explicitados
vacina quadrivalente contra o HPV em adolescentes vacina contra o HPV em relação à idade. em relação aos
vacinadas em Campos dos Goytacazes.
riscos oferecidos
pela vacinação
Os eventos adversos foram categorizados pela ral, os sintomas locais possuem ordem de ocorrên-
idade das jovens que os relataram, bem como cia semelhante, exceto pelo fato de que não houve
foram medidas as frequências e as ocorrências relato de hematomas em nosso estudo. Por outro
desses eventos. lado, a análise dos sintomas sistêmicos apontou in-
Do total de 200 meninas estudadas, foram obser- versão de ordem de ocorrência, com a febre ocor-
vados os seguintes eventos sistêmicos, em ordem rendo mais do que a cefaleia em nosso estudo.
decrescente: febre em 6% (12 casos); cefaleia em 2%
(quatro casos); outros relatos com percentual me- HPV News — Quais foram as conclusões?
nor de 1% (um relato): mal-estar, vômito, dor ab- Charbell M. H. Kury — Concluiu-se sobre segu-
dominal, diarreia, tontura e dor na extremidade do rança e tolerabilidade favoráveis da vacina qua-
braço. Não houve relato de efeitos adversos graves drivalente contra o HPV, evidenciadas pelos
que pudessem acarretar internação hospitalar. baixos índices de eventos adversos observados
com a vigilância ativa realizada no município de
HPV News — O que vocês puderam verificar nesse Campos dos Goytacazes. Além disso, a ausência
estudo, comparado aos trabalhos internacionais? de reações graves e a não ocorrência de interna-
Charbell M. H. Kury — A análise comparativa entre ção hospitalar por eventos adversos asseguram
os resultados dos ensaios clínicos internacionais e o a magnitude dos benefícios já explicitados em
presente trabalho permite inferir que, de modo ge- relação aos riscos oferecidos pela vacinação.
REFERêNCIAS CONSULTADAS
1. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer (Inca). Estimativas 4. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer (Inca). HPV e
2012: incidência do câncer no Brasil. Disponível em: http://www.inca.gov. câncer – Perguntas mais frequentes. Disponível em: http://www1.inca.gov.
br/estimativa/2012/estimativa20122111.pdf. Acesso em: 21 fev 2013. br/conteudo_view.asp?id=2687. Acesso em: 21 fev 2013.
2. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer (Inca). Câncer de 5. Giraldo PC, Silva MJPMA, Fedrizzi EN, Gonçalves AKS, Amaral RLG,
colo do útero. Disponível em: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/ Junior JE, et al. Prevenção da infecção por HPV e lesões associadas
tiposdecancer/site/home/colo_utero. Acesso em: 26 fev 2013. com o uso de vacinas — Artigo de Revisão. J Bras Doenças Sex Transm.
2008;20(2):132-40.
3. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer (Inca). HPV:
Perguntas e respostas mais frequentes. Disponível em: http://www.inca. 6. Venâncio GAP, Kury CMH. Carta ao editor. J Bras Doenças Sex Transm.
gov.br/conteudo_view.asp?id=327. Acesso em: 21 fev 2013. 2012;24(1):62.
HPV News | 2013 9
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12. Imunização
Vacina de HPV
REDUz RISCO DE CâNCER ANAl
Anvisa aprova indicação da vacina quadrivalente recombinante contra HPV
(6, 11, 16 e 18) também para prevenção de câncer anal em homens
e mulheres de 9 a 26 anos e estende o benefício da imunização
A
aprovação da vacina quadrivalente re- nica de Proctologia do Instituto de Infectologia
combinante contra o papilomavírus Emílio Ribas e livre-docente do Departamento
humano (HPV) para prevenção de cân- de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas
cer anal em homens e mulheres de 9 a 26 anos da Santa Casa de São Paulo, a medida represen-
pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária ta uma esperança para reduzir os riscos do cân-
(Anvisa) consolida no Brasil uma tendência cer anal, que vem crescendo gradativamente,
mundial, a de estender os benefícios dessa imu- principalmente na população que pratica o sexo
nização, diminuindo a incidência da neoplasia anal. “A vacina quadrivalente previne o câncer
intraepitelial anal. Na avaliação do médico Sid- anal porque os anticorpos presentes nas pessoas
ney Roberto Nadal, supervisor da Equipe Téc- vacinadas, caso haja contaminação, impedem
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13. news
que o vírus penetre na célula do hospedeiro, homens. “A vacina teve um perfil de seguran- Com a
evitando a replicação do vírus e a integração ao ça favorável e pode ajudar a reduzir o risco de vacinação, há
DNA. Assim, o carcinoma não ocorre”, explica câncer anal”, diz o documento. Nesse trabalho, redução do risco
o pesquisador, que há 20 anos cuida de portado- constatou-se diminuição de 77% das lesões cau- de transmissão
res do HIV com doenças anorretais, principal- sadas pelos tipos de HPV contidos na vacina de HPV
mente as provocadas pelo HPV. “A forma mais quadrivalente recombinante contra HPV (6, 11, determinada pela
segura de proteção é a total abstinência sexual, 16 e 18), e de 55% das lesões associadas a ou-
proteção contra
medida utópica na atualidade. O uso dos preser- tros 14 tipos de HPV. Em outro estudo, publi-
a infecção, tanto
vativos impede a gravidez e reduz os riscos das cado em fevereiro de 2011, os autores concluem
do homem para
doenças sexualmente transmissíveis, mas não que a vacina quadrivalente recombinante con-
as previne totalmente.” tra HPV previne tanto a infecção pelos tipos 6, a mulher e da
Para a pesquisadora Luisa Lina Villa, coorde- 11, 16 e 18 quanto o desenvolvimento de lesões mulher para o
nadora do Instituto do HPV da Santa Casa de genitais externas relacionadas, em homens de homem quanto
São Paulo e professora da Faculdade de Ciên- 16 a 26 anos de idade. entre pessoas
cias Médicas da Santa Casa de São Paulo e da Os estudos levaram em conta um subgrupo do mesmo sexo
Faculdade de Medicina da Universidade de São de 602 homens que fazem sexo com homens,
Paulo (FMUSP) e do Instituto do Câncer do Es- com participação de voluntários de sete paí-
tado de São Paulo (Icesp), a decisão da Anvisa ses, incluindo o Brasil, que foi o único repre-
de aprovar a indicação de bula na vacina qua- sentante da América do Sul na investigação e
drivalente recombinante contra HPV (6, 11, 16 respondeu por 21% da população acompanhada,
e 18) coloca em foco a prevenção dos cânceres com faixa etária entre 16 e 26 anos de idade. Os
associados a esse vírus voltada não apenas para participantes desse trabalho eram considerados
a mulher mas também ao homem. “Ambos os gê- mais suscetíveis ao câncer anal justamente por
neros se beneficiam dessa decisão, uma vez que, praticarem sexo com outros homens. O ensaio
com a vacinação, há redução do risco de trans- clínico duplo-cego comparou os indivíduos que
missão de HPV determinada pela proteção con- receberam a vacina quadrivalente recombi-
tra a infecção, tanto do homem para a mulher e nante contra HPV (6, 11, 16 e 18) com os que
da mulher para o homem quanto entre pessoas receberam placebo. Dentro da amostra popula-
do mesmo sexo”, diz Luisa Lina Villa. cional analisada, o grupo que tomou a vacina
quadrivalente recombinante contra HPV (6, 11,
ESTUDO COM HOMENS 16 e 18) teve também redução de 95% do risco
Um estudo da Universidade da Califórnia pu- de infecção persistente pelos tipos 6, 11, 16 e
blicado no New England Journal of Medicine 18 do HPV.
fundamenta a nova indicação em bula da vaci- De acordo com os autores, o estudo mostrou
na da MSD, atestando a diminuição do risco de a eficácia da vacina quadrivalente recombinante
câncer anal e reforçando a importância de sua contra HPV (6, 11, 16 e 18) relacionada à neopla-
aplicação em mulheres e homens. De acordo sia intraepitelial anal, à infecção anal persisten-
com o trabalho, veiculado em outubro de 2011, te e à própria detecção do HPV no ânus. Eles
o uso da vacina quadrivalente recombinante destacaram como ponto positivo a inclusão de
contra HPV (6, 11, 16 e 18) reduziu as taxas participantes de vários países, resultando em
de neoplasia intraepitelial anal, incluindo as de uma população diversificada, embora tenham
grau 2 ou 3, entre homens que fazem sexo com apontado a estreita faixa etária dos partici-
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14. Imunização
A vacina pantes e o curto tempo de seguimento (pouco câncer anal associados com infecção pelos ti-
quadrivalente menos de quatro anos) como limitações do tra- pos 16 e 18 de HPV, seria de se esperar que a
recombinante balho. Além disso, escrevem, “os participantes vacina com elevado grau de eficácia entre ho-
contra HPV (6, do estudo tinham atividade sexual reduzida mens que mantêm relação sexual com homens
11, 16 e 18) é (um máximo de cinco parceiros sexuais duran- ofereça semelhante grau de proteção contra
eficaz na redução
te a vida) em comparação com muitos meninos neoplasia intraepitelial anal nas populações fe-
e homens que praticam sexo com homens mais mininas e de heterossexuais do sexo masculi-
da incidência
velhos ou de mesma idade”. no. Paralelamente, espera-se reduzir o risco de
de infecção
câncer anal entre os vacinados com a prevenção
anal persistente
DEBATE SOBRE HOMOSSExUAIS de neoplasia intraepitelial anal de grau 2 ou 3
pelo HPV (6, na mesma medida que o risco de câncer cervi-
O trabalho suscita uma discussão relevante. A
11, 16 e 18) e vacinação contra HPV entre os meninos que cal em mulheres vacinadas tende a cair com a
de neoplasia ainda não iniciaram a atividade sexual tende a prevenção de neoplasia intraepitelial cervical
intraepitelial ter um nível maior de eficácia. Mas, no caso de de grau 2 ou 3. Soma-se a isso o fato de que
anal associada a homens que fazem ou farão sexo com homens, a vacina quadrivalente recombinante contra
esses tipos virais há um desafio adicional, já que poucos garotos HPV (6, 11, 16 e 18) também reduziu a incidên-
se identificam como homossexuais para os pais cia de condiloma anal, um benefício adicional
ou para os médicos antes de iniciar sua vida se- substancial da vacinação.
xual. Ademais, a imunização de mulheres e me- Em resumo, a vacina quadrivalente recombi-
ninas e que geram imunidade coletiva, também nante contra HPV (6, 11, 16 e 18) é eficaz na
chamada de imunidade de rebanho, pode não redução da incidência de infecção anal persis-
beneficiar homens que fazem sexo com homens, tente pelo HPV (6, 11, 16 e 18) e de neoplasia
uma vez que esses homens tendem a ser infec- intraepitelial anal associada a esses tipos de
tados com o HPV pelo contato sexual com indi- HPV. E como não existe atualmente um ras-
víduos do mesmo sexo. Outro dado importante treamento para câncer anal, diferentemente
diz respeito às verrugas genitais, cuja taxa de do que ocorre para o câncer do colo do útero,
incidência declinou entre os homens heterosse- com exames como a colpocitologia oncótica, a
xuais, mas não entre os homens que fazem sexo vacinação pode ser a melhor abordagem a lon-
com homens, em países com altos níveis de va- go prazo para reduzir os riscos tanto de câncer
cinação de meninas e mulheres. anal quanto de condiloma anal.
Embora inclua homens que fazem sexo com
homens, o trabalho sugere benefícios poten- PREVENçãO CONTRA CâNCER ANAL
ciais da vacinação para homens e mulheres he- Na opinião do Dr. Sidney Nadal, do Instituto
terossexuais, e não apenas para o câncer anal, de Infectologia Emílio Ribas, o médico deve
considerando que a vacina já é indicada para indicar exames de rastreamento para o car-
prevenir verrugas genitais, cânceres de colo cinoma anal e seus precursores, utilizando a
de útero, vulva e vagina. A infecção anal pelo citologia oncótica, os métodos de magnifica-
HPV, a neoplasia intraepitelial anal e o câncer ção e os de detecção do DNA do HPV. “Esses
anal ocorrem em mulheres e homens, incluindo exames estão indicados nos grupos de risco
os heterossexuais. Contudo, dada a semelhança para essa doença, que são os praticantes do
biológica entre o câncer anal em homens e mu- sexo anal receptivo, principalmente se forem
lheres, incluindo a alta proporção de casos de homens que fazem sexo com homens, e com
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15. news
sorologia positiva para o HIV, mulheres com BENEFíCIO AOS
infecção genital pelo HPV e mulheres com HETEROSSExUAIS
relato de carcinoma genital”, diz o médico. Existe associação entre o câncer anal
A literatura médica identifica o aumento e a orientação sexual das pessoas, so-
mundial da incidência do câncer anal. En- bretudo de homens que fazem sexo com
tretanto, considera o Prof. Nadal, apenas outros homens, considerando que a
os especialistas (coloproctologistas e gi- incidência desse tipo de tumor vem
necologistas) parecem dar mais atenção ao aumentando entre os praticantes do
assunto, visto o pequeno número de casos sexo anal, e essa doença está associa-
que são encaminhados para os exames de da à infecção pelo HPV. Mas o risco não
rastreamento. “No Brasil não há estatísti- se restringe a esse grupo, confirma o Dr.
cas a respeito, porém nos Estados Unidos a Sidney Nadal. “O HPV provoca doença pelo
incidência aumentou 40 vezes desde a déca- contato, não necessariamente sexual. Sabe-
da de 1980, principalmente em homens que mos de relatos da literatura especializada que
fazem sexo com homens, positivos para o homens que nunca fizeram sexo com homens
HIV. A epidemia pelo HIV mudou a epide- podem ter os tipos oncogênicos do HPV no
miologia da doença que era mais frequente canal anal. Outras formas etiológicas, como
em mulheres acima dos 60 anos. Atualmen- infecções crônicas e associação com outros
te, o crescimento que presenciamos é entre agentes sexualmente transmissíveis, ain-
os homens soropositivos para o HIV, na fai- da não foram comprovadas”, explica.
xa dos 40 anos”, explica o médico. A infecção ocorre pela penetração do
Mais de 90% dos casos de câncer anal em HPV em áreas de continuidade de pele
homens e mulheres têm associação com a in- e mucosa. Ao penetrar no epitélio, o
fecção por HPV 16 e 18. Ele é considerado HPV se dirige à camada basal, inva-
um câncer incomum (1,5 caso a cada 100 mil de a célula e se aloja no núcleo. As
pessoas), mas tornou-se uma condição preo- células contaminadas ascendem ao
cupante com o crescimento de sua incidência epitélio na forma de lesões subclíni-
entre homens e mulheres, aumento este que só cas, as lesões precursoras do carci-
perde para o dos casos de câncer na cabeça e noma anal. Essas formas de infecção
no pescoço. Estimativas norte-americanas de podem ser detectadas pelos métodos
câncer anal demonstram taxa de crescimento de rastreamento e eliminadas antes
de 2% ao ano no país. Na população geral, o que se transformem no carcinoma.
câncer anal é mais frequente em mulheres do Isso é, mesmo as pessoas que nunca
que em homens. A lesão que antecede o cân- fizeram sexo anal podem desenvolver
cer anal, a neoplasia intraepitelial anal de alto a doença, já que o HPV pode chegar
grau, é mais comum em determinados grupos à região por meio do contato com áreas
de indivíduos, ocorrendo em 25% dos homens infectadas, o que inclui dedos, mãos e
que fazem sexo com homens sem HIV, em 43% boca, e também por contaminação de
dos homens que fazem sexo com homens e que lesões próximas aos genitais.
têm HIV, em 9% das mulheres com HIV e em O fato de envolver temas “tabus”,
8% das mulheres que têm histórico prévio de como homossexualidade e sexo anal,
doença genital relacionada ao HPV. gera mais dificuldade para o médico na
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16. Imunização
“Este é um abordagem dos pacientes com risco de desen- saúde e evitando mortes. Acredito que isso
momento volver câncer anal, o que requer um compor- deva acontecer nos próximos anos”, indica
positivo para tamento apropriado do profissional de saúde, Luisa Lina Villa, do Instituto HPV da Santa
o Brasil seguir com máxima naturalidade. O paciente e o Casa de São Paulo.
essa tendência médico precisam estar à vontade para falar
internacional e
do assunto. Qualquer constrangimento pode PREVENçãO CONTRA O HPV
comprometer a comunicação. O acesso à va- Estima-se que a infecção por HPV afete pelo
incluir a vacina
cina representa mais um desafio. “A vacina menos 630 milhões de pessoas no mundo. Os
contra HPV no
ainda não está disponível na rede pública de tipos 16 e 18 do vírus estão associados a 70%
Sistema único
saúde para todo o país, motivo pelo qual pou- dos cânceres de colo de útero, a até 44% dos cân-
de Saúde”, indica cas pessoas fizeram uso dessa ferramenta de ceres vulvares, a 56% dos cânceres vaginais e a
Luisa Lina Villa, prevenção. A vacinação em massa reduziria 87% dos casos de câncer anal nas mulheres. Cer-
do Instituto HPV os riscos dos carcinomas e verrugas anogeni- ca de 31% dos casos de câncer de pênis e 87%
da Santa Casa tais, diminuindo os custos com o tratamento dos de câncer anal em homens também estão
de São Paulo dessas doenças”, defende Sidney Nadal. relacionados a esses tipos de vírus. Os tipos 6 e
A vacinação de mulheres contra HPV já é 11, por sua vez, causam aproximadamente 90%
realidade em programas de imunização de das verrugas genitais. Segundo a literatura, pelo
outros países da América Latina, como Ar- menos metade dos indivíduos sexualmente ati-
gentina, Colômbia, Chile, Uruguai, Paraguai, vos entrará em contato com algum tipo de HPV
Panamá e México. Fora do continente, a Aus- durante a vida. A probabilidade de contágio pelo
trália se tornou neste ano de 2013 a primeira HPV é alta, varia entre 50% e 80%. Isso se deve
nação a incluir meninos de 12 a 15 anos em ao fato de a presença do vírus ser normalmente
seu programa de vacinação contra o HPV. assintomática, ou seja, seu portador nem sempre
“Este é um momento positivo para o Brasil sabe que está contaminado. O HPV pode se pro-
seguir essa tendência internacional e incluir pagar não apenas pelo contato sexual, mas tam-
a vacina contra HPV no Sistema Único de bém por meio de mão, pele, roupa e até objetos,
Saúde (SUS). É uma forma de controlar doen- embora seja menos provável.
ças associadas ao HPV, reduzindo despesas de A vacina quadrivalente recombinante con-
tra HPV (6, 11, 16 e 18) está indicada para
prevenir câncer e lesões pré-cancerosas ou
displásicas de colo do útero, vulva, vagina e
ânus, verrugas genitais e infecções causadas
pelo HPV em homens e mulheres de 9 a 26
anos de idade. Ela é aplicada por via intra-
muscular e deve ser administrada em três
doses. Após a primeira dose, a segunda deve
ser aplicada dois meses após a primeira e a
última, seis meses após a primeira. A chama-
da “imunidade de grupo” reduz os riscos de
transmissão do vírus e a chance de infecção
em indivíduos não vacinados que se relacio-
nam com aqueles que receberam a vacina.
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18. Atualização em HPV
recomendação da
vacina de HPV NãO DEVE EStAR
liGada à atiVidade Sexual
Prevenção precoce deve enfatizar a prevenção de doenças, como
acontece com outras vacinas do calendário
A
vacinação para prevenir o HPV com que ainda não tiveram contato com o vírus — o
a vacina quadrivalente contra o HPV que ocorre principalmente por via sexual — ga-
(6, 11, 16 e 18) é recomendada pela rante melhor resultado e, por isso, a prevenção
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (An- precoce, por meio da vacina, tem sido um tema
visa) para pessoas do sexo feminino e do sexo recorrente na discussão sobre como lidar com
masculino na faixa etária entre 9 e 26 anos, e os problemas gerados pelo HPV. “Adolescentes
com vacina bivalente contra o HPV (16 e 18) é constituem o principal grupo de risco para o
recomendada para pessoas apenas do sexo femi- HPV, que é um problema de saúde pública, não
nino de 10 a 25 anos. A imunização de pessoas somente relacionado ao câncer de colo de útero,
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19. news
mas também com importantes doenças”, afirma pela rede pública. Ao abordar a importância
a pediatra Maria Ignez Saito, professora livre- dessa vacina com antecedência, o médico per-
-docente pelo Departamento de Pediatria da mite que os pais possam se organizar financei-
Faculdade de Medicina da Universidade de São ramente para realizar a imunização.
Paulo (FMUSP). Segundo pesquisa1 respondida por mais de mil
Com isso, cada vez mais médicos e pesqui- médicos, incluindo pediatras, ginecologistas e
sadores defendem que vacinar o quanto antes médicos de família, apenas 34,6% recomendam
pode ser uma boa saída para o problema. Aos 9 a vacinação de HPV para adolescentes entre 11
anos — idade mínima da recomendação da An- e 12 anos de idade. A maior parte (52,7%) afirma
visa para a vacina quadrivalente contra o HPV recomendar a vacina para adolescentes entre 13
— as crianças ainda estão sob os cuidados dos e 17 anos, quando muitos já iniciaram a atividade
pediatras, mesmo que muitas delas já não fre- sexual, que é cada vez mais precoce (Figura 1).
quentem mais os consultórios desses especia- Os autores acreditam que essas descobertas su-
listas periodicamente. Nessa faixa etária, é mais gerem a perda de oportunidades clínicas para a
comum que recorram aos pediatras apenas em vacinação de HPV e acreditam que a existência
casos de adoecimento. Por isso, é fundamental de barreiras pode conduzir decisões sobre a va-
falar da vacina contra HPV com os pais antes cinação. Para os pesquisadores, os resultados in-
mesmo da idade mínima, para conscientizá-los dicam a necessidade de intervenção de políticas
da importância da prevenção e dos riscos que a para aumentar os níveis de vacinação, algo que
não vacinação pode trazer. “Nunca é cedo para também se aplica à realidade brasileira.
falar da prevenção contra o câncer e as verru- Para a ginecologista Albertina Duarte
gas sexuais”, alerta Maria Ignez, que pertence Takiuti, coordenadora do Programa Esta-
ao Programa de Saúde do Adolescente da Se- dual de Saúde do Adolescente de São Paulo,
cretaria de Estado da Saúde de São Paulo e foi a maior dificuldade em deixar para abordar
coordenadora da Unidade de Adolescentes do o tema com adolescentes mais velhos não é
Instituto da Criança do Hospital das Clínicas. a falta de conhecimento que eles têm sobre
HPV e doenças sexualmente transmissíveis
ABORDAGEM
A especialista defende que os pediatras falem
com os pais das crianças e adolescentes, e com
100
os próprios adolescentes, sobre a vacinação de
Porcentagem que sempre recomenda
90
HPV sem inseri-la em um contexto sexualiza- 80 73,0 74,5
a vacina contra HPV
70
do. “É preciso falar da vacina como se fala de 60
60,4 58,3
52,7 50,2
qualquer outra, desvinculada da atividade sexual. 50 47,9 Médicos de família
36,1 36,4 Pediatras
A vacina de hepatite B, por exemplo, é dada a 40 34,6 35,5
30 25,8 Ginecologistas
bebês e totalmente desvinculada da questão 20 Total
sexual. O profissional de saúde não pode ter 10
0
barreiras para falar dessa vacina; é preciso se
11-12 13-17 18-26
despir de preconceitos”, lembra a pediatra.
Faixa etária (anos)
Outra razão para falar da vacina de HPV an-
tes mesmo da idade mínima recomendada pela Vadaparampil ST, et al. Vaccine. 2011; 29(47): 8634-41.1
Anvisa é o fato de ela ainda não ser oferecida Figura 1. Recomendação da vacina contra o HPV por especialidade.
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20. Atualização em HPV
Apesar de a (DST) em geral. “A dificuldade dos adoles- pre é uma lesão exuberante. Muitas vezes ela
vacina ser eficaz centes é acreditar que ele ou o parceiro possa se caracteriza apenas como uma pequena mácu-
mesmo depois ser acometido por uma doença, o que é espe- la esbranquiçada. Esse problema é sério, pois é
de o indivíduo ter cialmente mais delicado no caso do HPV, que altamente infectante e recidivante, mesmo que
mantido relações não é ‘visível’, cuja janela imunológica pode não haja comportamento promíscuo, pode tra-
sexuais, o ideal ser de muitos anos. Além disso, o adolescente zer como consequência sequelas, inclusive psi-
é que não haja ainda não aprendeu a lidar com o tempo. Cin- cológicas”, afirma Maria Ignez.
co ou dez anos é muito tempo para eles e, por “O tratamento pode ser difícil e demorado
contato com
isso, o câncer parece um problema distante”, com importante perda de qualidade de vida.
o vírus antes
afirma. Esta seria mais uma razão para inves- Outro risco é o abandono do tratamento”,
da vacinação
tir na prevenção precoce. lembra, para defender a prevenção precoce
A ginecologista encabeça uma pesquisa a por meio da vacinação.
respeito do conhecimento que adolescentes
possuem sobre o HPV e a vacina, para poder VACINA
compreender melhor qual deve ser a abordagem “Apenas a vacina quadrivalente protege contra os
do tema nessas faixas etárias. “Na adolescência tipos de vírus que causam verrugas genitais”, des-
a autoimagem está sendo construída e, se ela taca Luiza Helena Falleiros Arlant, infectologista
for negativa, o adolescente não vai conseguir se pediatra, chefe do Departamento de Pediatria da
relacionar com os desafios da vida e estará em Faculdade de Medicina Metropolitana de Santos
situação de risco para contrair DST”, pondera, e vice-presidente da Sociedade Latino-Americana
referindo-se ao fato comum de negar-se a usar de Infectologia Pediátrica. Ela lembra que, apesar
qualquer tipo de preservativo por pressão do de a vacina ser eficaz mesmo depois de o indiví-
parceiro. “O medo de não agradar, no caso das duo ter mantido relações sexuais, o ideal é que
meninas, pode impedir a prevenção”, alerta. não haja contato com o vírus antes da vacinação.
Por isso, a recomendação do uso de preservati- Além disso, a vacina pode proteger de tipos dife-
vos, no grupo do qual a ginecologista faz parte, rentes daqueles com os quais o indivíduo pode es-
acontece a partir de um viés positivo. “Dizemos tar infectado. “Um determinado vírus pode sofrer
aos adolescentes que o preservativo pode prolon- clareamento espontâneo, não se tornar detectável
gar o período de prazer, o que é atrativo em uma ou ser adquirido em outra exposição”, analisa a
idade na qual a ejaculação é muito rápida”. Outro infectologista. Por isso, a prevenção precoce ain-
ponto central é incentivar que os adolescentes da é a mais eficiente e eficaz.
conheçam seu próprio corpo e criem intimidade Na opinião de Maria Ignez, é mais comum
consigo mesmos, a fim de aumentar a autoestima que ginecologistas — e não pediatras — indi-
e a possibilidade de desenvolver projetos futuros. quem a vacinação. “Existem referências de que
“O desafio é não aprisionar o adolescente pelo o ginecologista recomende mais a vacina que
medo, e sim transformar uma atitude de risco em o pediatra, pois o ginecologista vê o desfecho
uma situação de segurança”, acredita. do câncer”, ou seja, os vários tipos de câncer,
do colo do útero, vagina, vulva, região anal,
ALÉM DO CâNCER enquanto que essa não é a visão do pediatra.
Se o câncer que o HPV pode causar é um proble- “Cabe salientar que a vacinação preventiva é
ma grave, também são importantes as verrugas prática comum da pediatria e deve englobar a
que o vírus pode gerar. “A verruga nem sem- profilaxia contra o HPV”, alerta.
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TRANSMISSãO NãO SExUAL “A via não sexual ainda é pouco estudada, mas não No início da
As evidências são fortes o suficiente para con- podemos nos esquecer de que o HPV é um vírus de vida, infecções
cluir que o HPV pode ser transmitido por vias contato, então é preciso levar isso em conta”, acre- pelos tipos de
sexuais e não sexuais. “O debate sobre as in- dita Maria Ignez. O estudo de Syrjänen aponta que alto risco do HPV
fecções pelo HPV em crianças continua, mas é um pico de prevalência bimodal é observado para podem tornar-se
mais focado na prevalência do que nos modos de verrugas na pele, papilomas orais e papilomatose persistentes
transmissão”, afirma um recente estudo2. Assim, respiratória recorrente — tanto em grupos mais
por um período
o abuso sexual não é o único motivo de conta- jovens quanto de idade mais avançada —, o que su-
considerável,
minação de crianças. A transmissão pode acon- geriria uma epidemiologia similar. Também destaca
o que é
tecer durante a gestação ou no parto (seja via que, no início da vida, infecções pelos tipos de alto
risco do HPV podem tornar-se persistentes por um importante para
normal, seja cesariana). A autoinoculação é ou-
período considerável e que esse aspecto tem impor- as estratégias
tra possibilidade, ainda que em taxas pequenas.
tância para as estratégias de vacinação de HPV . de vacinação
O DNA do HPV pode ser detectado no fluido
A experiência australiana mostrou que a
3 contra HPV
amniótico, nas membranas fetais, no cordão um-
bilical e nas células trofoblásticas da placenta, vacinação, em grande escala de adolescentes e
sugerindo que a infecção pode ocorrer in utero ou jovens do sexo feminino, trouxe resultados pre-
por contaminação com células maternas. A trans- coces em relação à possibilidade de diminuição
missão vertical ocorreria em aproximadamente importante das verrugas sexuais. É relevante
20% dos casos e, em crianças, a maior parte das in- ressaltar que só existe redução da circulação dos
fecções por HPV em mucosas são incidentais. Na vírus (imunidade de rebanho) quando mais de
mucosa oral, infecções persistentes correspondem 80% das mulheres estão vacinadas.
a menos de 10% e, na mucosa genital, menos de No Brasil, ainda que não existam estatísticas a
2%. As mães são as principais transmissoras para respeito, a taxa de indivíduos imunizados é cres-
os recém-nascidos, mas as infecções subsequentes cente, assim como a procura pela vacina em clíni-
são horizontais, adquiridas via saliva ou outros cas privadas. Além disso, são cada vez mais fortes
contatos. “Em crianças, muitas vezes a transmis- os indícios de que a vacina pode começar, em bre-
são do HPV acontece por falta de higiene, quando ve, a ser distribuída pelo poder público em faixa
o adulto cuidador tem o vírus e não realiza uma etária pediátrica. Para os especialistas, esta seria
assepsia correta das mãos, por exemplo”. Entre- uma medida fundamental para que haja diminui-
tanto, a transmissão por via sexual continua sendo ção considerável da infecção pelo HPV. E, quanto
extremamente importante, avalia a infectologista. mais cedo for feita a imunização, melhores e mais
eficazes serão os resultados.
Esse quadro — tanto de transmissão vertical
quanto horizontal para crianças — reforça a ne-
REFERêNCIAS CONSULTADAS
cessidade de prevenção antes mesmo da primeira
relação sexual, para que haja imunização adequa- 1. Vadaparampil ST, Kahn JA, Salmon D, Lee JH, Quinn GP,
Roetzheim R, et al. Missed Clinical Opportunities: Provider
da contra o vírus. “Embora mais raramente, o Recommendations for HPV Vaccination for 11-12 Year Old Girls
HPV pode também causar outros cânceres, como is Limited. Vaccine. 2011;29(47):8634-41.
na região anal e na mucosa orofaríngea. Mas as 2. Syrjänen S. Current concepts on human papillomavirus
verrugas genitais e não genitais causadas pelo infections in children. APMIS. 2010;118:494-509.
HPV são comuns, incluindo nessa categoria as 3. Brotherton JM, Fridman M, May CL, Chappell G, Saville AM,
Gertig DM. Early effect of the HPV vaccination programme on
verrugas de pele e de mucosa oral, nasal, conjun- cervical abnormalities in Victoria, Australia: an ecological study.
tival e da árvore respiratória”, ressalta Luiza. Lancet. 2011;377:2085-92.
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