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Saber viver
22 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, terça-feira, 17 de novembro de 2009
                                                                                                                                                                                                              Editora: Ana Paula Macedo //
                                                                                                                                                                                                                  anapaula.df@dabr.com.br
                                                                                                                                                                                                     3214-1195 • 3214-1172 / fax: 3214-1155




Estudo internacional aponta que os castigos físicos, mesmo de forma moderada, podem prejudicar o desenvolvimento da
criança, afetando a autoestima e a criatividade. Especialistas dizem ser fundamental insistir no caminho do diálogo
                                                                              Viola Júnior/Esp. CB/D.A Press




Educar
                                                                                                                                                                                                        Projeto parado
                                                                                                                                                                                                        na Câmara
                                                                                                                                                                                                            De acordo com o Relatório
                                                                                                                                                                                                        sobre o castigo corporal e os di-
                                                                                                                                                                                                        reitos humanos de crianças e
                                                                                                                                                                                                        adolescentes 2009, da Comissão
                                                                                                                                                                                                        Interamericana de Direitos Hu-




sem
                                                                                                                                                                                                        manos (CIDH), apenas 24 países
                                                                                                                                                                                                        em todo o mundo possuem leis
                                                                                                                                                                                                        que proíbem o castigo físico e
                                                                                                                                                                                                        humilhante, entre eles o Uru-
                                                                                                                                                                                                        guai e a Venezuela. Outros paí-
                                                                                                                                                                                                        ses, como o Canadá e a Nicará-
                                                                                                                                                                                                        gua, mantêm iniciativas de leis
                                                                                                                                                                                                        para a proibição do castigo físico
                                                                                                                                                                                                        e da violência doméstica contra




bater
                                                                                                                                                                                                        crianças, que podem ser aprova-
                                                                                                                                                                                                        das nos próximos anos.
                                                                                                                                                                                                            No Brasil, o Projeto de Lei
                                                                                                                                                                                                        2654/03 pretende alterar arti-
                                                                                                                                                                                                        gos do Estatuto da Criança e do
                                                                              Cássia às vezes recorre à palmada, mas condena o exagero: “Você está educando e não descontando a raiva”                  Adolescente (ECA) e do Código
                                                                                                                                                                                                        Civil para tornar crime a puni-
                                                                                                                                                                                                        ção corporal de qualquer inten-
                                                                                                                                                                                                        sidade contra menores de 18
        apa, beliscão ou chinelada.    the Children. De acordo com a ofi-                                            Para ela o limite é o primeiro     outros, as manifestações voltam-                anos. O projeto, que ficou co-

T       A maioria dos pais já teve
        que apelar para castigos fí-
        sicos na hora de impor li-
mites aos filhos. Entretanto, uma
                                       cial para a América Latina e o Ca-
                                       ribe da entidade, Márcia Oliveira,
                                       a medida pode transmitir mensa-
                                       gens de violência. “Qualquer tipo
                                                                                                                  tapa. “Se você passa para a segun-
                                                                                                                  da ou a terceira palmada, é por-
                                                                                                                  que já está extrapolando. É preci-
                                                                                                                  so lembrar que você está educan-
                                                                                                                                                        se principalmente para o próprio
                                                                                                                                                        indivíduo, como a baixa estima, a
                                                                                                                                                        excessiva passividade e a timidez
                                                                                                                                                        exagerada”, explica Leslie.
                                                                                                                                                                                                        nhecido como “Lei da Palma-
                                                                                                                                                                                                        da”, foi aprovado na Câmara dos
                                                                                                                                                                                                        Deputados pelas Comissões de
                                                                                                                                                                                                        Educação e Cultura (CEC), Se-
pesquisa da Comissão Interame-         de atitude violenta transmite uma                                          do e não descontando a raiva na           Para elas, a grande falha desse             guridade Social e Família (CS-
ricana de Direitos Humanos (CI-        mensagem errada. Quando a                                                  criança”, diz Cássia, garantindo      modelo está no fato de que ele                  SF) e de Constituição e Justiça e
DH) divulgada recentemente con-        criança vê os pais resolvendo as                                           que só recorre a esse método          não proporciona a construção da                 de Cidadania (CCJC).
dena o uso da força como forma         questões com um tapa ou uma                                                quando já tentou resolver o pro-      capacidade de sentir culpa. “A                      Com as decisões, o texto po-
de educação. Intitulado Relatório      chinelada, ela entende que essa é                                          blema através do diálogo. “Quan-      criança não aprende a se respon-                deria seguir direto para análise
sobre o castigo corporal e os direi-   uma maneira válida de lidar com                                            do eles me deixam muito nervo-        sabilizar pelos próprios atos, pois             do Senado, mas os deputados
tos humanos de crianças e adoles-      conflitos e carrega isso para outras                                       sa, peço que nem cheguem perto,       este aprendizado pressupõe que                  Neucimar Fraga (PR-ES) e Jair
centes 2009, o estudo afirma que,      áreas de vida”, explica.                                                   para evitar que eu perca a cabeça     o indivíduo possa vivenciar a ex-               Bolsonaro (PP-RJ) entraram
mesmo de forma moderada, me-               Márcia lembra ainda que, em            O discurso de que               e extrapole”, completa.               periência de ter provocado um                   com recursos pedindo que a
didas desse tipo podem ser preju-      alguns casos, o uso da força po-           bater é necessário                                                    dano e, a partir daí, sinta a neces-            proposta também seja analisa-
diciais para o desenvolvimento         de diminuir a criatividade e a cu-                                         Marcas psicológicas                   sidade e as possibilidades de re-               da em plenário da Casa. Assim,
das crianças. Segundo os especia-      riosidade das crianças. “Explorar
                                                                                  é egoísta, já que                                                     pará-lo”, completa a promotora.                 desde 2006 o projeto está para-
listas, os malefícios do castigo vão   o desconhecido é muito impor-              faz bem apenas                      A assistente social Ludimila de       Marina Praia, mãe de João, 6                do, aguardando a análise dessas
desde a diminuição da criativida-      tante para o desenvolvimento               para o adulto,                  Ávila Pacheco e a promotora de        anos, concorda com as especialis-               solicitações. Autora da propos-
de até a baixa da autoestima.          social e motor de qualquer crian-                                          Justiça de Defesa da Infância e da    tas e diz que a palmada deve ser                ta, a deputada Maria do Rosário
    O coordenador no Brasil do         ça. Se ela fica curiosa, mexe em           que não precisa                 Juventude do Ministério Público       evitada. Segundo ela, é necessário              (PT-RS) pretende apresentar
Programa de Cidadania Adoles-          algo que não deve e acaba apa-             dedicar muito                   do Distrito Federal e Territórios     ter em mente a diferença entre o                novo projeto de lei e tentar fazer
cente do Fundo das Nações Uni-         nhando por isso, logo se sentirá                                           (MPDFT), Leslie Marques de Car-       adulto e a criança. “Nós não po-                com que ele tramite em caráter
das para a Infância (Unicef), Ma-      desestimulada a pesquisar e des-           mais tempo                      valho, engrossam o time de espe-      demos esquecer que somos mui-                   conclusivo, ou seja, sem preci-
rio Volpi, acredita que os castigos    cobrir o novo, pois teme apa-              e esforço                       cialistas que condenam os casti-      to mais fortes que eles. Depen-                 sar ser votado no plenário da
físicos são uma forma de violên-       nhar novamente. Isso é uma for-            conversando                     gos físicos. “Eles nem sempre dei-    dendo da situação, bater pode ser               Casa. “Em todas as comissões,
cia doméstica. “O castigo físico,      ma de impedir o desenvolvi-                                                xam marcas no corpo, mas, sem         uma covardia”, diz. Sobre o filho,              ele foi aprovado por unanimi-
mesmo em pequena escala, gera          mento pleno”, analisa.                     com a criança”                  dúvida, deixam marcas psicoló-        ela afirma que nunca precisou us-               dade. Agora, vamos incorporar
impactos negativos na autoesti-            Mesmo concordando que o                                                gicas na pessoa. Essas marcas po-     ar esse recurso. “Desde pequeno                 sugestões que foram dadas du-
ma e na autonomia da criança”,         método pode trazer prejuízos,              Mario Volpi,                    dem se manifestar de várias ma-       eu sempre procurei conversar e                  rante esse tempo e apresentar
diz. Para ele, a solução está no       muitos pais acreditam que,                 coordenador no Brasil do        neiras, tanto na infância e adoles-   explicar. Talvez até por isso ele se-           uma nova proposta”, comenta a
diálogo. “O discurso de que bater      eventualmente, um tapa pode                Programa de Cidadania           cência, quanto na fase adulta”,       ja tão calmo. Nunca precisei bater              parlamentar.
é necessário é egoísta, já que faz     ser saudável. Essa é a opinião de          Adolescente do Unicef           aponta a assistente social.           e espero nunca precisar.”                           Segundo Maria do Rosário,
bem apenas para o adulto, que          Cássia Pacheco, mãe de Victória,                                               Segundo a promotora da in-                                                        que é pedagoga e especialista
não precisa dedicar muito mais         10 anos, e Augusto, 7. Ela acredi-                                         fância, existem várias formas de                                                      em violência doméstica pelo La-
tempo e esforço conversando            ta que em alguma situações a                                               manifestação desses prejuízos.        www.correiobraziliense.com.br                   boratório de Estudo da Criança
com a criança. Batendo, ele acha       palmada pode servir para que os                                            Em alguns casos, os castigos for-                                                     da Universidade de São Paulo
uma solução muito mais rápida e        filhos percebam a gravidade de                                             mam indivíduos que estabelecem                                                        (USP), não existem no projeto
falsamente eficaz”, completa.          seus atos. “Eventualmente, eu                                              relações conflituosas com a socie-                                                    medidas de intervenção fami-
    Outra organização que atesta       acredito que ela tem o seu lugar.                                          dade. “Essas relações podem ser a     Leia a íntegra do relatório (em espanhol);      liar. “O objetivo é conscientizar a
os malefícios dos castigos físicos     O que as pessoas precisam ter                                              delinquência, o transtorno men-       ouça entrevistas com a deputada Maria do        população do quão prejudicial
para os pequenos é a organização       em mente é que há certos limi-                                             tal e alguns tipos de compulsivi-      Rosário e com Mario Volpi, do Unicef; e        pode ser educar com o uso da
não governamental sueca Save           tes”, afirma a mãe.                                                        dade — como o uso de drogas. Em           participe de enquete sobre o tema           violência”, completa.

Marcelo Ferreira/CB/D.A Press




  Marina sempre buscou conversar
  com o filho João: “Nunca
  precisei bater e espero nunca precisar”




                                                                              CMYK

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Educar sem Bater

  • 1. CMYK Saber viver 22 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, terça-feira, 17 de novembro de 2009 Editora: Ana Paula Macedo // anapaula.df@dabr.com.br 3214-1195 • 3214-1172 / fax: 3214-1155 Estudo internacional aponta que os castigos físicos, mesmo de forma moderada, podem prejudicar o desenvolvimento da criança, afetando a autoestima e a criatividade. Especialistas dizem ser fundamental insistir no caminho do diálogo Viola Júnior/Esp. CB/D.A Press Educar Projeto parado na Câmara De acordo com o Relatório sobre o castigo corporal e os di- reitos humanos de crianças e adolescentes 2009, da Comissão Interamericana de Direitos Hu- sem manos (CIDH), apenas 24 países em todo o mundo possuem leis que proíbem o castigo físico e humilhante, entre eles o Uru- guai e a Venezuela. Outros paí- ses, como o Canadá e a Nicará- gua, mantêm iniciativas de leis para a proibição do castigo físico e da violência doméstica contra bater crianças, que podem ser aprova- das nos próximos anos. No Brasil, o Projeto de Lei 2654/03 pretende alterar arti- gos do Estatuto da Criança e do Cássia às vezes recorre à palmada, mas condena o exagero: “Você está educando e não descontando a raiva” Adolescente (ECA) e do Código Civil para tornar crime a puni- ção corporal de qualquer inten- sidade contra menores de 18 apa, beliscão ou chinelada. the Children. De acordo com a ofi- Para ela o limite é o primeiro outros, as manifestações voltam- anos. O projeto, que ficou co- T A maioria dos pais já teve que apelar para castigos fí- sicos na hora de impor li- mites aos filhos. Entretanto, uma cial para a América Latina e o Ca- ribe da entidade, Márcia Oliveira, a medida pode transmitir mensa- gens de violência. “Qualquer tipo tapa. “Se você passa para a segun- da ou a terceira palmada, é por- que já está extrapolando. É preci- so lembrar que você está educan- se principalmente para o próprio indivíduo, como a baixa estima, a excessiva passividade e a timidez exagerada”, explica Leslie. nhecido como “Lei da Palma- da”, foi aprovado na Câmara dos Deputados pelas Comissões de Educação e Cultura (CEC), Se- pesquisa da Comissão Interame- de atitude violenta transmite uma do e não descontando a raiva na Para elas, a grande falha desse guridade Social e Família (CS- ricana de Direitos Humanos (CI- mensagem errada. Quando a criança”, diz Cássia, garantindo modelo está no fato de que ele SF) e de Constituição e Justiça e DH) divulgada recentemente con- criança vê os pais resolvendo as que só recorre a esse método não proporciona a construção da de Cidadania (CCJC). dena o uso da força como forma questões com um tapa ou uma quando já tentou resolver o pro- capacidade de sentir culpa. “A Com as decisões, o texto po- de educação. Intitulado Relatório chinelada, ela entende que essa é blema através do diálogo. “Quan- criança não aprende a se respon- deria seguir direto para análise sobre o castigo corporal e os direi- uma maneira válida de lidar com do eles me deixam muito nervo- sabilizar pelos próprios atos, pois do Senado, mas os deputados tos humanos de crianças e adoles- conflitos e carrega isso para outras sa, peço que nem cheguem perto, este aprendizado pressupõe que Neucimar Fraga (PR-ES) e Jair centes 2009, o estudo afirma que, áreas de vida”, explica. para evitar que eu perca a cabeça o indivíduo possa vivenciar a ex- Bolsonaro (PP-RJ) entraram mesmo de forma moderada, me- Márcia lembra ainda que, em O discurso de que e extrapole”, completa. periência de ter provocado um com recursos pedindo que a didas desse tipo podem ser preju- alguns casos, o uso da força po- bater é necessário dano e, a partir daí, sinta a neces- proposta também seja analisa- diciais para o desenvolvimento de diminuir a criatividade e a cu- Marcas psicológicas sidade e as possibilidades de re- da em plenário da Casa. Assim, das crianças. Segundo os especia- riosidade das crianças. “Explorar é egoísta, já que pará-lo”, completa a promotora. desde 2006 o projeto está para- listas, os malefícios do castigo vão o desconhecido é muito impor- faz bem apenas A assistente social Ludimila de Marina Praia, mãe de João, 6 do, aguardando a análise dessas desde a diminuição da criativida- tante para o desenvolvimento para o adulto, Ávila Pacheco e a promotora de anos, concorda com as especialis- solicitações. Autora da propos- de até a baixa da autoestima. social e motor de qualquer crian- Justiça de Defesa da Infância e da tas e diz que a palmada deve ser ta, a deputada Maria do Rosário O coordenador no Brasil do ça. Se ela fica curiosa, mexe em que não precisa Juventude do Ministério Público evitada. Segundo ela, é necessário (PT-RS) pretende apresentar Programa de Cidadania Adoles- algo que não deve e acaba apa- dedicar muito do Distrito Federal e Territórios ter em mente a diferença entre o novo projeto de lei e tentar fazer cente do Fundo das Nações Uni- nhando por isso, logo se sentirá (MPDFT), Leslie Marques de Car- adulto e a criança. “Nós não po- com que ele tramite em caráter das para a Infância (Unicef), Ma- desestimulada a pesquisar e des- mais tempo valho, engrossam o time de espe- demos esquecer que somos mui- conclusivo, ou seja, sem preci- rio Volpi, acredita que os castigos cobrir o novo, pois teme apa- e esforço cialistas que condenam os casti- to mais fortes que eles. Depen- sar ser votado no plenário da físicos são uma forma de violên- nhar novamente. Isso é uma for- conversando gos físicos. “Eles nem sempre dei- dendo da situação, bater pode ser Casa. “Em todas as comissões, cia doméstica. “O castigo físico, ma de impedir o desenvolvi- xam marcas no corpo, mas, sem uma covardia”, diz. Sobre o filho, ele foi aprovado por unanimi- mesmo em pequena escala, gera mento pleno”, analisa. com a criança” dúvida, deixam marcas psicoló- ela afirma que nunca precisou us- dade. Agora, vamos incorporar impactos negativos na autoesti- Mesmo concordando que o gicas na pessoa. Essas marcas po- ar esse recurso. “Desde pequeno sugestões que foram dadas du- ma e na autonomia da criança”, método pode trazer prejuízos, Mario Volpi, dem se manifestar de várias ma- eu sempre procurei conversar e rante esse tempo e apresentar diz. Para ele, a solução está no muitos pais acreditam que, coordenador no Brasil do neiras, tanto na infância e adoles- explicar. Talvez até por isso ele se- uma nova proposta”, comenta a diálogo. “O discurso de que bater eventualmente, um tapa pode Programa de Cidadania cência, quanto na fase adulta”, ja tão calmo. Nunca precisei bater parlamentar. é necessário é egoísta, já que faz ser saudável. Essa é a opinião de Adolescente do Unicef aponta a assistente social. e espero nunca precisar.” Segundo Maria do Rosário, bem apenas para o adulto, que Cássia Pacheco, mãe de Victória, Segundo a promotora da in- que é pedagoga e especialista não precisa dedicar muito mais 10 anos, e Augusto, 7. Ela acredi- fância, existem várias formas de em violência doméstica pelo La- tempo e esforço conversando ta que em alguma situações a manifestação desses prejuízos. www.correiobraziliense.com.br boratório de Estudo da Criança com a criança. Batendo, ele acha palmada pode servir para que os Em alguns casos, os castigos for- da Universidade de São Paulo uma solução muito mais rápida e filhos percebam a gravidade de mam indivíduos que estabelecem (USP), não existem no projeto falsamente eficaz”, completa. seus atos. “Eventualmente, eu relações conflituosas com a socie- medidas de intervenção fami- Outra organização que atesta acredito que ela tem o seu lugar. dade. “Essas relações podem ser a Leia a íntegra do relatório (em espanhol); liar. “O objetivo é conscientizar a os malefícios dos castigos físicos O que as pessoas precisam ter delinquência, o transtorno men- ouça entrevistas com a deputada Maria do população do quão prejudicial para os pequenos é a organização em mente é que há certos limi- tal e alguns tipos de compulsivi- Rosário e com Mario Volpi, do Unicef; e pode ser educar com o uso da não governamental sueca Save tes”, afirma a mãe. dade — como o uso de drogas. Em participe de enquete sobre o tema violência”, completa. Marcelo Ferreira/CB/D.A Press Marina sempre buscou conversar com o filho João: “Nunca precisei bater e espero nunca precisar” CMYK