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WILLIS
                                                                                                                           Bastidores

                                                                                                          Por trás da cena de um grande balé

                                                                                                         Quem assiste ao espetáculo não imagina a 
                                                                                                         correria nos camarins, o estresse nas coxias 
                                                                                                                 e o corre­corre pelas escadas  

Programação                                                                                              Para o espectador o que importa é a cena, desde que 
                           Uma atmosfera misteriosa envolve o segundo ato de Giselle, onde o corpo de 
Regulamento                                                                                              tudo corra a contento. Enquanto ele assiste a um 
                             baile é uma estrela da mesma grandeza que os personagens principais 
Noticiário                                                                                               espetáculo, jamais poderá imaginar a correria de 
                                            (Foto: Vânia Laranjeiros/Divulgação TM)
Leia também:                                                                                             camarins, o estresse das coxias, o corre­corre pelas 
16º Festival de Dança                                                                                    escadas, a mão­de­obra da maquinária, a troca de 
de Joinville ­ 1998                                                                                      roupas, de maquiagem, em suma, todos os itens que 
                                             Giselle, mulher                                             compõem o bakstage ­ ou bastidores ­ de um balé. 

                                             de corpo e alma                                             Algumas vezes esse bakstage chega a invadir o palco 
                                                                                                         mas, desde que não se torne uma coisa 
                                                                                                         escandalosamente flagrante, o público não percebe. 
                            Festival valoriza a dança brasileira e apresenta, pela                       Mas em algumas ocasiões a coxia chega à cena, sem a 
                                                                                                         menor cerimônia. Imaginem o segundo ato de 
                          primeira vez, uma produção completa com a mais nobre                           "Giselle", no reino das diáfanas Willis, onde tudo é um 
                                   companhia do País o Ballet do TMRJ                                    branco e velado mistério, a personagem principal 
                                                                                                         entrar em cena ensangüentada. Ou ainda, um tosco 
                                                                                                         banco de madeira, lá dos idos de 1841, entrar no palco 
                         Começa hoje uma edição do Festival de Dança de Joinville que dá uma             ­ carregado pelos camponeses ­ com uma garrafa de 
                         guinada rumo ao bailarino brasileiro, depois de ter adernado, nos últimos       água mineral e uma lata de refrigerante, que bailarinos 
                         anos, para convidados internacionais, que deixaram a desejar. Todas as          distraídos coloram sobre o mesmo na coxia.
                         atrações especiais ­ espetáculos profissionais que abrem as noites 
                         competitivas ­ são brasileiras, salvo dois partners convidados. Claro que a     E que tal a Princesa Aurora, do balé "A Bela 
                                                                                                         Adormecida", se enrolar na tela do cenário, de tal 
                         alta do dólar tem sua parcela de participação na descoberta de que o            forma que a Fada Lilás, outra personagem, precisa 
                         "produto nacional é bom e barato", é benéfico à dança brasileira.               esquecer a sua postura de fada, descer das pontas e 
                                                                                                         socorrer a colega princesa. Ou ainda um " floquinho 
                         A abertura hoje à noite será feita pelo Ballet do Theatro Municipal, que        de neve" , de "O Quebra­Nozes" ­ deslizar pelo palco 
                                                                                                         com as perneiras pretas de lã que usou para o 
                         apresenta o balé "Giselle", na versão do inglês Peter Wright, que pertence      aquecimento. E se um bailarino perder a sapatilha, que 
                         ao repertório do TM desde 1982. Esta versão é considerada uma das               voa do palco e cai no colo do espectador da primeira 
                         mais perfeitas do mundo e faz parte do repertório das companhias de             fila.
                         Munique, Frankfurt, Stuttgart, Londres entre outras. Os cenários e 
                                                                                                         A história parece piada, mas tudo isso, e muito mais, já 
                         figurinos São do inglês Peter Farmer.
                                                                                                         aconteceu em grandes produções. O bailarino que 
                                                                                                         perdeu a sapatilha foi ninguém menos que Mikhail 
                         Um balé completo, pela primeira vez no palco do festival, com a mais            Baryshnikov em "O Corsário". O "floquinho de neve 
                         importante companhia do país, é um presente para o público, que                 distraído" foi uma estagiária do Teatro Municipal que 
                                                                                                         está, até hoje, desculpando­se. A princesa Aurora 
                         finalmente poderá ver um espetáculo e não apenas competições de dança;          enrolada foi a bela Roberta Marquez, do balé do 
                         e para os participantes, já que a apresentação se constitui numa importante     Teatro Municipal, e sua fada salvadora foi a bailarina 
                         oportunidade pedagógica para quem estuda dança. O novo formato revela           Daniela Cardin. E a Giselle ensangüentada? Também 
                         gratas surpresas, como por exemplo, a importância do Festival de Joinville      existiu e foi Ana Botafogo que, na recente produção 
                                                                                                         do balé, a mesma que o público de Joinville vai assistir 
                         no aprimoramento da dança nacional: quase um terço dos bailarinos que           nessa noite, na correria da troca de roupa entre um ato 
                         vêm dançando pelo TM já competiram no festival.                                 e o outro, arranhou­se, não sabe como, e o sangue 
                                                                                                         aquecido pelo espetáculo começou a escorrer pela 
                                                                                                         roupa da imaculada personagem. Providências rápidas 
                                                       Romantismo                                        de coxia, envolvendo auxílio de massagista e gelo, 
                                                                                                         impediram que Ana voltasse à cena "apunhalada".
                         Giselle. Uma palavra. Um nome de mulher. É a personagem mais popular 
                         da dança e também faz sucesso entre gente que nunca ouviu falar nessa           Esses são apenas acidentes lights e imprevisíveis. 
                         doce e charmosa camponesa que acaba de fazer 158 anos. É um nome                Para que nada mais sério aconteça e para que tudo 
                                                                                                         corra da melhor maneira possível, existe um batalhão a 
                         bonito, feminino e sonoro, para uma personagem que é a encarnação do            postos, trabalhando no bakstage como formiguinhas. 
        A Notícia        ideal romântico, onde se enlouquece e morre de amor. Sua história mística,      Eles garantem aos artistas e ao público, um espetáculo 
       NOTICIÁRIO        imaginativa, sentimental e trágica, criaram uma legião de Giselles ao redor     com a menor margem de erro possível.
Capa                     do mundo, fazendo desse um nome repetido em todas as línguas.
Opinião  
Economia                                                                                                                 Giselle do avesso
Política                 Dentro do universo da dança, há um lema: toda bailarina quer ser Giselle 
País  
                         na vida. Giselle apaixona tanto pelos traços da personagem, tão afeita às       Um balé complexo como "Giselle", com dois atos 
Mundo  
Polícia                                                                                                  absolutamente distintos, não é nada fácil de ser 
                         atitudes peculiares à sensibilidade feminina romântica; quanto pelas            montado e, muito menos de viajar, sair de casa, do 
Geral  
Esporte                  dificuldades que impõe a suas intérpretes. Para acompanhar suas nuances         palco em que foi concebido.
Fórmula 1                emocionais, é necessário qualidades técnicas e delicada capacidade de 
Fórmula Indy
        COLUNAS
                         interpretação. "Giselle" é uma obra­desafio, mas que, em contrapartida, dá      O primeiro ato mostra uma aldeia, com camponeses, 
                         oportunidades ímpares de se evidenciar talento.                                 muitos adereços cênicos, figurinos pesados de corte, 
Alça de Mira                                                                                             cabanas, bancos, flores etc. O segundo é imaterial. 
Informal  
                                                                                                         Uma floresta que cria clima através da iluminação e um 
Moacir Pereira  
Espaço Virtual  
                         Uma das grandes dificuldades em se interpretar a personagem é a                 elenco" branco", quase que exclusivamente feminino 
Cláudio Prisco           transição do primeiro para o segundo ato, quando, após um exaustivo             que precisa estar totalmente parelho e muitas 
                                                                                                         manobras de cena para que o clima mágico aconteça. 
AN Brasília             início em que dança como "ser mortal", tem que se transformar em "ser 
Livre Mercado                                                                                           Pois enquanto a platéia delicia­se e os bailarinos 
Raul Sartori            espiritual". Há uma brusca mudança física e sentimental na personagem. A        esmeram­se para dar o melhor de si, a contra­regragem 
       CADERNOS         primeira bailarina a viver Giselle foi Carlota Grisi. Em Joinville, quem vai    e a produção transpiram tanto quanto os artistas. É um 
Anexo                   encarnar a personagem é Ana Botafogo, uma especialista em fazer a               outro espetáculo que acontece das coxias para dentro. 
Crônicas                                                                                                Vejamos em detalhes.
Cinema                  camponesa, principalmente nessa versão de Peter Wriht.
AN Cidade  
AN Informática                                                                                          Para início de conversa, segundo Sonja Figueiredo, 
AN Veículos             O balé "Giselle" foi criado em 1841, sendo a segunda obra dentro do             coordenadora administrativa do balé ­ que está 
AN Economia             estilo romântico. Antes dele houve "La Sylphide", de 1832. Concebido            acompanhando a montagem em Joinville ­, "não se tira 
AN Tevê                                                                                                 de casa para qualquer palco uma produção como 
       ESPECIAIS
                        com todos os ingredientes do Romantismo, como ingenuidade, pureza, 
                                                                                                        "Giselle", com 52 personagens e, que chega a reunir 
Copa 98  
                        inocência, misticismo e espiritualidade, em "Giselle" têm vez as razões do      em cena, ao mesmo tempo, mais de 40 bailarinos". O 
Grandes Entrevistas     coração, os embates sentimentais. Trata­se de uma tragédia envolta numa         palco do Centro de Eventos Cau Hansen, segundo 
Cruz e Sousa            atmosfera misteriosa e sobrenatural, que está na origem do Movimento            Sonja, preecheu os requisitos técnicos e de espaço 
Joinville 148 anos  
                        Romântico. É uma obra que vem encantando o público há mais de um                para comportar um balé desse porte. Mesmo assim a 
Festival de Dança 
Recicle                                                                                                 coordenadora diz que, como em "Giselle" tem muita 
                        século e meio, e constitui­se num ponto de referência na história da dança.     contra­regragem e tudo precisa ser "vapt­vupt", 
       SERVIÇOS
                                                                                                        vários técnicos experientes do TM vieram 
AN Pergunta  
AN Pesquisa             "Giselle" nasceu a oito mãos: do escritor Theóphile Gautier, do libretista      acompanhando a produção.
Como anunciar           Vernoy de Saint­Georges e da vivência dos coreógrafos Jean Coralli e 
Classificados                                                                                           As armadilhas em "Giselle" são muitas e também muito 
Assinatura              Jules Perrot. A obra reflete uma nova estética e um novo conceito cênico: 
                                                                                                        sutis. Por exemplo: Giselle aparece, no segundo ato, 
Mensagem                o drama­balé, em que elementos do teatro se harmonizam com a dança.             com um véu cobrindo o rosto, existe um tempo certo, 
Edições 1999  
Edições 1998  
                        Sua coreografia, a música e seus figurinos se encaixam de forma                 na música e na coreografia, para a "puxada do véu", 
Edições 1997            absolutamente perfeita. O resultado é um balé suave e ousado, em                que é feita através de um fio de náilon invisível, que 
AN Chat                                                                                                 faz o adereço desaparecer, como num passe de 
Loterias
                        fascinantes contrastes, que contrapõem o primeiro ao segundo ato. De um         mágica. Mas, para que isso aconteça, o contra­regra 
          INFO          lado, o realismo do cotidiano, do outro, seres incorpóreos e imateriais         responsável pelo véu têm de conhecer o balé e a 
Índice                  adejam pelo palco. A música foi composta por Adolphe Adam e a                   música.
Expediente              apresentação em Joinville utiliza uma gravação feita especialmente para o 
Institucional
                        Festival, pela Orquestra Sinfônica do TM, sob regência do maestro Silvio        Também as 30 Willis (incluindo a Rainha Myrtha) têm 
      AN Capital                                                                                        véus, que são retirados após as suas primeiras 
      NOTICIÁRIO        Barbato.                                                                        aparições e que não podem ficar pelas coxias, nem 
Capa                                                                                                    como "um elemento cênico extra e inesperado", no 
Geral                                                                                                   chão do palco. Ainda nesse segundo ato, dois 
Última Página                                                                                           momentos de muita atenção para a contra­regragem, 
        COLUNAS                                                                                         equipe técnica e bailarinos. O primeiro é a entrada das 
Ricardinho Machado                         Morrer de amor numa                                          Willis. Em teatro que tem fosso, elas surgem no palco, 
Fala Mané                                                                                               transportadas pelo elevador. Por vezes, esse elevador 
                                           atmosfera misteriosa                                         não chega bem no prumo e têm Willis tropeçando ou 
                                                                                                        se esforçando para chegar ao nível da cena.
                           O balé Giselle tem dois atos contrastantes. O primeiro, 
                           realista. O segundo, imaterial, caracterizando as obras                      O outro, também nesse momento, é a entrada da 
                                                                                                        fumaça de gelo seco. Como a música está num 
                                         "brancas" do século passado                                    pianíssimo, a cena quase vazia e absolutamente 
                                                                                                        silenciosa, as barras de gelo seco que são jogadas em 
                        O primeiro ato de "Giselle" se passa numa pequena aldeia de camponeses,         baldes de água quente, costumam fazer um barulhão 
                                                                                                        que vasa até a platéia. Sonja conta que a forma 
                        no dia da festa da vindima, o fim da colheita da uva. Giselle é uma jovem       encontrada para solucionar o problema foi 
                        doce e humilde, filha de Berthe. A alegria de seu coração puro, acaba por       absolutamente artesanal. "Colocamos panos no fundo 
                        conquistar o amor de Albrecht, um Duque. Apaixonado, ele se veste de            dos baldes mas, para chegarmos a isso, passamos um 
                                                                                                        bom tempo pensando e experimentando".
                        camponês e faz a corte à moça. Giselle, que acredita tratar­se apenas um 
                        rapaz da vila chamado Loys, apaixona­se por ele. Devido às diferenças 
                                                                                                        Já o primeiro ato é preocupante porque têm uma 
                        sociais e por ser o noivo de Bathilde, a filha do Duque de Courland, esse       carroça, cestos de frutas que não podem despencar 
                        amor jamais se realizará. Mesmo assim Albrecht mantém a farsa,                  pelo palco ­ todas foram costuradas porque só a cola 
                        alimentando as esperanças da encantadora jovem.                                 não resolvia ­ animais mortos (da caçada) e os trajes 
                                                                                                        complicados da corte, ninguém pode esquecer o 
                                                                                                        chapéu, os adereços etc.
                        Entra em cena Hilarion, o jovem guarda­caças da vila, que também está 
                        loucamente apaixonado por Giselle. Ele tenta interromper o idílio,              Têm ainda uma margarida que Giselle desfolha, no 
                        lembrando seu amor por ela. Mas Giselle, apaixonada por Loys, repele            estilo bem­me­quer, mal­me­quer que, pasmem, a 
                        Hilarion, juntando­se alegremente às suas amigas e companheiros.                florzinha já deu muita dor de cabeça aos contra­regras 
                                                                                                        e à própria Giselle. É apenas uma flor, mas é 
                                                                                                        responsável por toda uma cena do balé, e tem de estar 
                        A chegada de uma grande comitiva de caça, encabeçada pelo Duque de              no lugar certo, na hora certa. Pior do que isso, precisa 
                        Courland e sua filha Bathilde, dá a Hilarion a oportunidade para agir.          ser despetalada, mas não pode ser flor natural, porque 
                        Preterido e despeitado, ele desmascara seu rival durante a festa da vindima     as pétalas fariam os bailarinos escorregarem, e essas 
                                                                                                        pétalas precisam ser arrancadas.
                        da aldeia, em que a jovem amada é coroada rainha da colheita. 
                        Surpreendida pela revelação, Giselle procura afogar sua desilusão numa          Antigamente a margarida era de pano, a bailarina 
                        dança frenética. Enlouquece e suicida­se com a espada de Albrecht.              zelosa, dentre mil preparativos que tem para a cena, 
                        Assim, termina a primeira parte.                                                precisava pegar uma tesoura, cortar quase toda a 
                                                                                                        pétala, para que no momento exato ela, sem ter de fazer 
                                                                                                        "uma quebra de braço com a flor", pudesse desfolhá­
                        O segundo ato começa à meia noite, em meio a uma clareira na floresta,          la com naturalidade. Atualmente utilizam flores de 
                        um lugar sinistro, com árvores retorcidas e uma atmosfera de suspiros e         papel, o que torna a operação bem mais simples. Mas 
                        lágrimas. Ali se passa o baile mágico da Willis, espíritos de jovens que        todas as outras flores do balé, e não são poucas, 
                                                                                                        continuam sendo de pano, para que não façam 
                        morreram antes do dia do seu casamento. Para vingar­se, elas se reúnem e        barulho quando são jogadas no solo.
                        obrigam os rapazes que encontram pelo caminho a dançarem até a morte.
                                                                                                        O procedimento dos bailarinos nas coxias, segundo a 
                                                    Ritual das Willis                                   coordenadora Sonja, pode ser "traiçoeiro e perigoso". 
                                                                                                        " Os bailarinos não podem dar mole com o figurino 
                                                                                                        nas coxias". Para que isso não aconteça, sempre fica 
                        Neste lugar, Hilarion está de vigília, na sepultura de Giselle. Surge uma       alguém da equipe técnica policiando as coxias. Senão, 
                        sombra transparente e pálida. É Mirtha, a rainha das Willis. Em seguida         acrescenta Sonja, tem saia que entra em cena antes do 
surgem outras Willis que se agrupam graciosamente em torno dela. Então,       tempo, têm gente que segura na torre de luz para fazer 
                                                                              aquecimento, o que pode dar sombra e desafinar a luz. 
elas tiram Giselle de sua sepultura para iniciá­la em seus ritos. Albrecht 
                                                                              "Parece um jardim da infância", brinca Sonja e conta 
chega trazendo flores e Giselle surge para ele, que tenta pegá­la, mas ela    que os acidentes mais comuns são: bailarinos que 
desaparece e ele sai à sua procura.                                           entram pelas coxias atropelando o regulador, torres de 
                                                                              luz fora do lugar e adereços extra na cena, como 
                                                                              toalhas que o bailarino esqueceu de tirar do pescoço e 
Neste momento, Hilarion é pego pelas Willis. Mirtha, a rainha, ordena que     acabam no chão do palco, garrafas de água e 
ele dance até à exaustão. As Willis começam então uma orgia alegre,           imprevistos na maquinaria.
dirigida por sua rainha triunfante, quando uma delas descobre Albretch e o 
traz para o círculo mágico. Mas no momento em que Mirtha vai tocá­lo,         Também os camarins precisam de atenção. Em 
Giselle se lança na frente de Albretch, protegendo­o com a cruz de seu        "Giselle" existe apenas um intervalo de 15 minutos, 
                                                                              entre um ato e o outro. Nesse tempo, o elenco troca 
túmulo, até o momento em que surge a aurora, quebrando o poder da             todo o figurino, as moças trocam toda a maquiagem 
Willis.                                                                       (do rosto e do corpo) e também o penteado. Isso 
                                                                              enquanto na cena todo o cenário está sendo trocado. 
                                                                              É certo que nos camarins também acontecem 
             Ballet do Theatro Municipal                                      acidentes. Tem sempre a bailarina mais lenta, que 
                                                                              demora mais na troca, tem a que esquece do adereço 
           é a maior companhia brasileira                                     do cabelo, tem a que resolve passar na cantina para 
                                                                              pegar alguma coisa e perde o sinal. Tem ainda o "tutu" 
O Theatro Municipal do Rio de Janeiro, foi fundado em 1909 e passou a         que arrebenta a alça, a sapatilha que some, ou o 
ter uma Escola de Dança em 1927 e um Corpo de Baile oficial, em 1936,         bailarino que se machuca . Em suma, existe todo um 
                                                                              policiamento para que nada disso ocorra.
criado pela bailarina Maria Olenewa. Até então, só pisavam seu palco 
bailarinos estrangeiros, contratados, muitas vezes, por companhias de         Os primeiros bailarinos ganham camarins especiais, 
ópera. Nos seus 63 anos de vida profissional, o Ballet do TM se               com camareira a postos, maquiadores e cabeleireiros. 
desenvolveu junto com a dança do país.                                        Mas o corpo de baile fica no que chamam de 
                                                                              "favelão", os camarins coletivos, onde a conversa rola 
                                                                              solta, brincadeiras e até brigas acontecem. O local é 
Ao longo desse tempo, formou bailarinos de prestígio, um repertório           bem mais vulneráveis a esses pequenos acidentes. É 
importante e se apresentou com grandes estrelas mundiais da dança. E,         com essa turma, normalmente com os mais jovens 
mesmo seguindo a linha clássica, não desconheceu propostas mais               integrantes da companhia, que a equipe do bakstage 
                                                                              está sempre alerta. Afinal ninguém nasce sabendo, 
modernas e inovadoras.                                                        especialmente as sutilezas e complexidades de uma 
                                                                              grande produção como "Giselle".
O Ballet é um dos três corpos estáveis do Theatro Municipal ­ ao lado da 
Orquestra e do Coro ­ com cerca de 80 figuras entre primeiros bailarinos,           O camarim de Ana Botafogo
solistas, corifeus e corpo de baile. Para dar início à companhia, foram 
contratados maîtres de balé e coreógrafos como Vaslav Velchek, Yuko           Ana Botafogo e a personagem Giselle são o que pode 
Lindemberg, Juliana Yanakieva, Tomy Armour e Maryla Gremo.                    se chamar de amigas íntimas de longa data. Nessa 
                                                                              temporada, Ana está completando 22 anos de 
                                                                              interpretações em "Giselle", um dos maiores carros­
Em conseqüência dessa atuação do TM, a dança passou a se desenvolver          chefes da carreira da grande bailarina brasileira. Giselle 
no país. Ainda no seu ano de fundação houve uma primeira temporada do         foi o primeiro grande papel que Ana Botafogo 
balé nacional.                                                                interpretou em sua carreira, quando ainda dançava no 
                                                                              Teatro Guaíra, de Curitiba, em 1977. Foi esse balé que 
                                                                              lançou a bailarina no Brasil, tornando­a conhecida do 
O Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, nestes 63 anos,              grande público.
trabalhou com nomes representativos da dança como Leonide Massine, 
George Skibine, Tatiana Leskowa, Eugenia Feodorova, Milko                     Ana é a bailarina brasileira que mais dançou Giselle na 
Sparambleck, Peter Wriht, entre outros A companhia formou bailarinos          vida. Por outro lado, esse é o balé que Ana mais 
                                                                              dançou na sua carreira tendo, inclusive, interpretado a 
brasileiros de prestígio internacional.                                       peça em Cuba, como artista convidada e sob a 
                                                                              supervisão artística da própria Alicia Alonso.
Para exemplificar, basta lembrar Aldo Lotufo e Bertha Rosanoca ­ uma 
das mais famosas duplas da dança brasileira ­; Márcia Haydée, diretora e      A estrela brasileira conta como "carrega a 
                                                                              personagem", antes porém, adianta que "cada dia é 
estrela máxima do Ballet de Stuttgart, por muitos anos. Nos tempos atuais 
                                                                              diferente do outro, sempre um espetáculo novo". 
foram formadas Ana Botafogo, Cecília Kerche, Nora Esteves, Áurea              Segundo Ana, o grande desgaste em Giselle corre por 
Hammerli e mais toda uma nova geração de bailarinos de primeira linha         conta do lado emocional. "Na cena da loucura , quase 
que está despontando.                                                         ao final do primeiro ato, começa o meu grande 
                                                                              desgaste. Essa cena mexe muito com a bailarina, 
                                                                              desperta sentimentos, sobrecarrega e, daí em diante, 
Companhia essencialmente clássica, o TM também fez história com               'Giselle' é um balé que continua com uma carga muito 
trabalhos inovadores. A começar pelo amplo repertório que o genial            intensa até o último acorde. Termino de dançar 
Leonid Massine deixou para a casa. Na década de 60, Harol Lander              depauperada. Não fisicamente, embora as exigências 
                                                                              técnicas e de estilo sejam também cansativas, mas 
remontou para a companhia carioca "Étude", um trabalho de linhas              emocionalmente", conta Ana.
consideradas modernas, na época. Nos anos 70 e 80 o coreógrafo 
argentino do Theatro Colon, Oscar Araiz, trabalhou bastante para o TM.        No primeiro ato, a bailarina que faz Giselle, fica em 
Deixou um bom legado coregráfico para a casa.                                 cena praticamente o tempo inteiro, tendo só dois 
                                                                              momentos para tomar um ar. O primeiro no pas­de­six e 
                                                                              o segundo quando entra na casa, enquanto a corte 
A destacar as coreografias "Cantabile" e Magnificat". Posteriormente          está em cena. "Mas não canso, Giselle tem muitos 
Norbert Vesak veio ao Brasil coreografar "A Sagração da Primavera"            pequenos saltos, é uma aeróbica de baixo impacto, 
para o TM e Rodrigo Pederneiras ­coreógrafo e fundador do Grupo               mas da cena da loucura em diante é fogo", confessa a 
                                                                              bailarina do alto da sua experiência de 22 anos 
Corpo ­ montou "Concerto" para a companhia carioca. Renato Magalhães 
                                                                              interpretando o papel.
e Gilberto Mota também fizeram importantes trabalhos para o TM, sendo 
que Gilberto foi um dos primeiros coreógrafos modernos a trabalhar para  No segundo ato, a bailarina não entra de imediato, mas 
a casa. Montou "Gabriela", dentre outras coreografias.                   depois que entra, não sai mais de cena. E Ana repete: 
                                                                              "É um ato muito difícil, precisa de muito clima". É 
                                                                              também neste ato que Ana diz acontecerem as 
Nos últimos oito anos o TM tem aberto suas portas para propostas mais         "grandes trombadas cênicas". Nada de grave, apenas 
vanguardistas de coreógrafos brasileiros. Dentre eles destacam­se os          imprevistos normais de um grande balé. "No segundo 
trabalhos de Rodrigo Moreira (prata da casa) e de Deborah Colker.             ato tenho muitas entradas e saídas das coxias. Em 
                                                                              algumas tenho menos de quatro tempos musicais para 
me deslocar de um lado para o outro. Como as 30 
Alguns dos maiores bailarinos do mundo dançaram com o BTM. A                    Willis também tem entradas e saídas, muitas vezes 
ressaltar Margot Fontayn, Rudolf Nureyev, Alícia Markova, Fernando              existem trombadas no fundo do palco", relata Ana.
Bujones, Zhandra Rodriguez, dentre outros.
                                                                                                  Desgaste duplo
O repertório da companhia é composto por inúmeros títulos, entre eles 
estão: "Giselle", "O Lago dos Cisnes", "Les Sylphides", "Don Quixote", "La      Se em cena o balé é desgastante, no camarim não é 
Fille Mal­Gardée", "O Pássaro de Fogo", "Petroushka", "Romeu e Julieta",        diferente. "Tenho um intervalo de 15 minutos para 
                                                                                trocar a roupa, a maquiagem, o cabelo, os acessórios e 
"Coppélia", O "Quebra Nozes", "La Sylphyde", "A Bela Adormecida",               cuidar da minha própria contra­regragem, antes de 
"L'Aprés­midi d'un Faune", "Sagração da Primavera" e                            voltar ao palco para o segundo ato. Para essas tarefas 
"Serenade" (remontagem da obra de George Balanchine).                           Ana tem sempre uma camareira, um maquiador e um 
                                                                                cabeleireiro à disposição. "Não é luxo, é necessidade", 
                                                                                explica a bailarina que na verdade é de poucas 
As montagens de dança do TM, nesses 63 anos, recebeu contribuições de           exigências. "Preciso ficar pronta até sentir que Myrtha 
cenários e figurinos de celebridades como Picasso (em "Le Tricorne"),           (a Rainha das Willis que abre o segundo ato) entrou 
André Derain, Washkevich, Benois, e dos brasileiros Santa Rosa,                 em cena. Quando escuto a música da Myrtha coloco a 
                                                                                roupa e as sapatilhas e estou pronta".
Fernando Pamplona, Arlindo Rodrigues e Joel de Carvalho.
                                                                                Tudo isso deve ser feito sem quebrar o encantamento 
           Dalal Achcar: "Giselle é                                             que possui um artista entre um ato e o outro. O que 
                                                                                quer dizer. Ele não pode se estressar com "problemas 
       um marco cultural para o Festival"                                       internos" ao ponto de sair do personagem. É por esse 
                                                                                motivo que Ana prefere pensar em outra coisa e ter um 
                                                                                profissional competente ao seu lado. "Se ocorrer um 
Dalal Achcar é Presidente da Fundação do Theatro Municipal do Rio de            acidente com a roupa, prefiro ficar tranqüila e deixar o 
Janeiro pela terceira vez, desde fevereiro. Carioca, uma das principais         profissional da área atuar, as coisas costumam andar 
personagens da dança brasileira, deu seus primeiros passos de balé sob          melhor assim", fala a experiente bailarina. Uma das 
orientação de Pierre Klimoff e aperfeiçoou­se em Nova Iorque, Londres e         grandes preocupações de Ana Botafogo é com as 
                                                                                flores que precisa ter em cena. "São três tipos: 
Paris. Com três participações no Festival de Joinville. Uma foi                 Primeiro dois ramos, depois um ramalhete e, por fim, 
homenageada, outra, convidada, trouxe sua companhia profissional, a             uma única flor que ela deixa para Albrecht, no final do 
Associação de Ballet do Rio de Janeiro, para uma apresentação especial.         balé. Ana Botafogo, independente da estrela que é, é 
Agora, traz o Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.                    uma pessoa pouco exigente e muito cuidadosa com os 
                                                                                seus personagens. É ela quem se preocupa com todos 
                                                                                os detalhes. Das fitas das sapatilhas à sua garrafa de 
Para Dalal, a apresentação dessa montagem completa de "Giselle", feita          água. Diz a bailarina que, quando atua como artista 
especialmente para Joinville, é histórica para o Festival, principalmente       convidada, costuma ser "muito mimada pelas 
                                                                                produções".
porque vai dar "outra dimensão ao público e aos jovens que nunca viram 
uma montagem profissional" de um dos balés clássicos mais importantes 
                                                                                A única queixa de Ana Botafogo é não poder dançar 
dançado pela mais importante companhia de balé do Brasil. "Me sinto             com a orquestra aqui em Joinville. Reclama com 
muito feliz em levar "Giselle" a outros brasileiros fora do Rio de Janeiro",    convicção com o endosso do maestro Sílvio Barbato 
confessa Dalal.                                                                 que regeu as récitas de Giselle, no Rio. "Eu me guio 
                                                                                pela batuta do maestro. Adoro olhar para o fosso e 
                                                                                saber que tem uma orquestra lá. Na verdade só vejo a 
Acostumado a assistir apresentações fragmentadas de dança clássica, com         pontinha da batuta, mas é quando a batuta arreia que 
"Giselle" o TMRJ vai proporcionar, segundo Dalal, um congraçamento              sei a hora de colocar o meu pé no chão", explica a 
entre os jovens bailarinos que aspiram uma carreira profissional na dança       bailarina que é considerada por 10, entre 10, como a 
                                                                                mais musical que já pisou o palco do Theatro 
clássica.                                                                       Municipal.

                                 Nureyev                                        Essa é Ana Botafogo, 22 anos de Giselle, 19 como 
                                                                                primeira bailarina do TM e que confessa até hoje: 
                                                                                "Antes de entrar em cena, ainda sinto um friozinho na 
Além disso, Dalal considera também essa apresentação um marco cultural 
                                                                                barriga". (SB)
para Joinville poder assistir "uma das mais bonitas produções do balé 
clássico do mundo". Antes de chegar em Joinville, "Giselle" fez uma 
temporada no Rio de Janeiro com 10 apresentações em que os bailarinos 
foram ovacionados pelo público carioca.                                             Casa da Cultura mostra quatro 
                                                                                             coreografias
Dalal Achcar é responsável, entre muitas outras importantes produções, 
pela primeira visita do bailarino Rudolf Nureyev ao Brasil, em 1967, com          Grupo de Joinville vem participando e 
quem se apresentou ao lado de Margot Fonteyn. Além disso, investiu,              ganhando prêmio nas últimas edições do 
quando esteve à frente do TMRJ, em reformular o repertório da                                   Festival
companhia, com obras consagradas como "Romeu e Julieta", "Coppélia" e 
"Giselle", que o público do Festival de Dança vai aplaudir em pé. E pedir       A Escola Municipal de Ballet da Casa da Cultura de 
para voltar outras vezes.                                                       Joinville vai participar das noites competitivas do 17º 
                                                                                Festival de Dança de Joinville com os seus grupos 
                                                                                Cidade de Joinville e Juvenil, que defenderão duas 
                                                                                coreografias cada um. O Cidade de Joinville concorre 
                                                                                na categoria Avançado I com um Trio Livre, e na 
              Uma obra completa na hora                                         Sênior, com um Solo. O Juvenil, que compete na 
                                                                                Júnior, mostrará um Duo Clássico e um Conjunto 
               certa e no palco adequado                                        Contemporâneo.

                                                                                O grupo Cidade de Joinville, até 1998 denominado 
     Mudança de clima já é nítida desde os preparativos                         Experimental, vai concorrer com uma variação de 
                                                                                clássico de repertório. É uma variação de "Paquita", na 
                                Suzana Braga                                    versão do Kirov, que será interpretada pela bailarina 
                                                                                Raquel Steglich. "É a primeira vez que uma escola de 
                                                                                Joinville participa do festival com uma variação de 
Pela primeira vez, o público de Joinville, ou o que freqüenta o Festival de     clássico de repertório. É inédito dentro da própria 
Dança terá a oportunidade de ver uma obra completa. No caso o balé              Escola de Ballet da Casa da Cultura", destaca a 
Giselle, versão do inglês Peter Writh (segundo Jean Corali e Jules Perrot),     diretora artística do grupo e supervisora da escola, 
cenários do também inglês Peter Farmer,com o elenco do Theatro                  Maria Antonieta Spadari. O Trio Livre vai competir 
                                                                                     com a coreografia "Referência", de Sigrid Nora. Ela foi 
     Municipal do Rio de Janeiro. Nos papéis principais estarão: Ana                 a responsável pela coreografia do filme brasileiro "O 
     Botafogo, como Giselle; Maecelo Misailides, como Albrecht e Renata              Quatrilho" e é a atual diretora da Companhia 
     Versiani, como Myrtha, a Rainha das Willis.                                     Municipal de Caxias do Sul (RS). Representam 
                                                                                     "Referência" as bailarinas Adriana dos Reis, 
                                                                                     Alessandra Hilário e Raquel Steglich. As duas 
     Já era hora. O Festival está atingindo a maior idade, o palco do Centro de      coreografias passaram pela seleção para poderem 
     Eventos está apto para receber uma produção desse porte e o público             participar do festival porque no ano passado o grupo 
     deve, e merece, assistir a um balcé inteiro, com todas as nuances que ele       não obteve colocação.
     pode oferecer, com os encantos proporcionados por uma iluminação 
                                                                                     Em 1997 a equipe, com o nome Experimental, 
     especial ( no caso a criação é de Ruben Conde), a mágica do entra e sai         conquistou o primeiro lugar no Conjunto 
     de cenários, a elegância dos figurinos que caracterizam um estilo ­ em          Contemporâneo com o "Correndo Atrás de Mim", de 
     Giselle o Período Romântico ­ dentre outros tantos detalhes, todos              Mário Nascimento, no Amador II. O Juvenil, formado 
     igualmente ricos. A escolha do balé Giselle, encenado pelo Corpo de Baile       em 1997, já tinha vaga garantida para o Conjunto 
                                                                                     Contemporâneo devido ao segundo lugar que 
     do TMRJ é uma feliz escolha, visto que a peça de 158 anos é um dos              conquistou no ano passado com a coreografia 
     marcos do repertório de qualquer grande companhia do mundo e, no                "Transição". Não foi a primeira conquista. Em 97, na 
     caso, o Ballet do Theatro Municipal, sabe apresentá­la com qualidade            sua primeira participação no festival, obteve também 
     internacional.                                                                  um segundo lugar com "Espelhos da Alma". Neste 
                                                                                     ano, o grupo, formado por 13 bailarinas, apresentará a 
                                                                                     coreografia "Weltlos Fragmentos". Todas elas foram 
                                    Preparativo                                      criadas pelo coreógrafo Marcos Sage, que é também o 
                                                                                     coordenador do grupo Juvenil. No Duo Clássico, as 
                                                                                     bailarinas Luciana Voltolini e Ana Carolina Leimann 
     Antes mesmo da estréia, o palco do Centro de Eventos , já apresentava           apresentam "Dueto para Sílvia".Em dois anos de 
     um clima totalmente diferente do habitual. Transformava­se, graças à            formação, o grupo já obteve nove premiações, duas 
     afinação de refletores, à instalação dos cenários e à preocupação de uma        em Joinville, uma na Bahia, três em São Paulo e mais 
     equipe técnica com detalhes importantes, num palco humanizado, vestido e        uma em Assunção, Paraguai. Em setembro, participa 
                                                                                     do Festival de Dança de Santa Maria (RS).
     pronto a abraçar uma grande obra e uma grande companhia. O público, 
     sem dúvida, perceberá esse " clima novo" de imediato e, melhor do que 
     isso, poderá ver o desenrolar de cena após cena o que vai prmitir uma 
     observação mais detalhada, mais aprimorada, dos bailarinos principais e           A dança está nos muros da cidade
     também do corpo de baile.
                                                                                     Artistas dão cor e forma através do projeto 
                               Uma lição de estilo                                                     Murarte

     No primeiro ato de Giselle, cada cena vai intensificando o clima da             A arte está modificando Joinville. Muros coloridos, 
     tragédia eminente ante a impossibilidade de união da bela e frágil              polêmicos, alteram a paisagem urbana. O projeto 
     camponesa Giselle, como o nobre Albrecht ( disfarçado de camponês               Murarte vem ao encontro do Festival de Dança, 
                                                                                     trazendo artistas de renome nacional para ilustrar 
     Loys), que culmina com a locura e a morte da moça. É muito interessante         ainda mais a sua importância. Vários muros, no centro 
     poder observar o tom dramático que começa a se delinear, mais ou                da cidade, estão sendo pintados por eles, tendo como 
     menos, na metade desse ato, e que recebe o apoio de todo um elenco e            tema principal os bailarinos.
     recursos cênicos específicos, como luz, trajes etc. Mais importante ainda é 
     ver uma bailarina como Ana Borafogo conduzindo sua personagem.                  Na rua Otto Boehm, pode­se encontrar o mais 
                                                                                     polêmico destes murais. Idealizado pelo artista 
                                                                                     plástico Charles Narloch, mostra bailarinos sob a 
     Em determinado momento a bailarina Ana dá passagem para a Ana triz e            perspectiva da sexualidade masculina e feminina. Filho 
     ambas fundem­se, a tal ponto que, é difícil descobrir aonde começa atriz e      da terra, Fúlvio Colin mora atualmente em São Paulo. 
                                                                                     Trabalha com a temática de figuras humanas. 
     termina a bailarina e vice­versa. A partir desta constatação evidencia­se o 
                                                                                     Bailarinas de sua autoria podem ser encontradas em 
     drama/balé que marcou o Romantismo e que caminha até os dias de hoje.           seu painel na rua 15 de Novembro.

     O segundo ato, misterioso e branco, é uma lição de estilo e de época. É         Máscaras e paisagismo urbano. Esse é o tema de 
     nele que caracteriza­se o "balé branco", o reino das Willis, Sílfides e         inspiração de outro artista joinvilense, Luciano da 
                                                                                     Costa Pereira. Seu trabalho pode ser apreciado na rua 
     Ninfas, do Período Romântido. Costuma­se dizer que no segundo ato de            Alexandre Doehler, em frente à entrada do Ielusc.
     Giselle existem quatro grandes estrelas para brilhar: A Giselle, agora pura 
     alma, imaterializada e que deve dançar tão leve quanto um sonho; Myrtha,        Muita cor vermelha para mostrar a excitação dos 
     a Rainha das Willis, altiva e misteriosa; Albrecht que é envolvido por esses    bailarinos chegando. Essa é a tônica do painel pintado 
     seres e o Corpo de baile. Se, por um lado cabe a Giselle, Myrtha,               por Linda Pool. A figura humana estilizada de Linda 
                                                                                     pode ser vista no muro ao lado do Fornão, na rua 
     Albrecht e também Hilarion (o primeiro namorado da camponesa)                   Visconde de Taunay. Marcos Jardim irá pintar 
     defender os papéis principais, com técnica e estilo dificilimos, por outro      tapumes. Sua obra ainda não possui data para ser 
     cabe ao corpo de baile ­ um verdadeiro exército de almas brancas ­              entregue, mas será feita em um muro na rua Blumenau 
     segurar toda a estrutura do ato. Em poucas palavras, o corpo de baile,          com a rua Lages.
     nesse ato é tão importante quanto a Giselle. E, se ele naufraga,muito do 
                                                                                     O Murarte é, segundo Linda Pool, diretora da Casa da 
..   encanto do balé se perde.                                                       Cultura, uma parceria dos artistas plásticos, em relação    ..
                                                                                     ao Festival de Dança. Como a dança não está só no 
                                                                                     Centreventos, os artistas acharam por bem fazer essa 
                                                                                     manifestação. A escolha dos artistas se deu pelo fato 
                                                                                     de serem atuantes e envolvidos com pinturas. Para 
                         Ainda tem ingressos                                         Linda, a cidade é quem ganha com o Murarte, pois 
                                                                                     após o período do Festival, os painéis permanecerão 
                        para a noite de estréia                                      enfeitando­a. Ela apenas lamenta o fato de não haver 
                                                                                     mais muros disponíveis para uma maior manifestação 
      Mais de 100 grupos da América Latina em oito noites de                         artística.

                           competição

     Para quem não adquiriu ingressos, ainda há tempo. Até o início da tarde 
     de ontem, havia mais de mil ingressos para as arquibancadas e ainda era                        AN Manchetes
possível encontrar cadeiras disponíveis. Somente as entradas para as 
poltronas já estão esgotadas.

Os ingressos estão a venda no Centro de Eventos Cau Hansen, em 
Joinville, e no Shopping Mueller de Curitiba (PR). Podem ser reservados 
também pelo telefone (047) 423­0557, das 10 às 22 horas. Nesse caso, o 
pagamento é feito por depósito bancário e a retirada dos bilhetes pode ser 
feita no próprio dia do espetáculo. A iniciativa tem o objetivo de facilitar a 
aquisição de entradas por pessoas de outras cidades do Estado e do País.

O Festival deste ano está dando descontos especiais aos estudantes da 
União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Brasileira dos 
Estudantes Secundaristas (UBES), que apresentarem carteririnhas de 
associados. Os ingressos para a noite de abertura com o TMRJ e para a 
noite especial com três grupos profissionais terão também desconto de 
50% aos participantes do Festival. Mas essa promoção é válida somente 
para as arquibancadas.

Os clientes da Tim Celular, uma das patrocinadoras do Festival deste ano, 
também têm desconto de 50% para até dois ingressos por noite, mediante 
apresentação da conta telefônica de junho. Os bilhetes para a noite de 
abertura custam: R$ 20,00 (cadeira estofada), R$ 10,00 (cadeira plástica) 
e R$ 5,00 para as arquibancadas.

A edição deste ano do Festival de Dança de Joinville, que começa hoje 
com a apresentação de Giselle, com o Ballet do Theatro Municipal do Rio 
de Janeiro, terá 11 noites. Dessas, oito serão competições com a 
participação de 163 grupos e cerca de 4 mil bailarinos de todos os cantos 
do Brasil, além de academias da Argentina e Paraguai, nas modalidades 
ballet clássico, dança contemporânea, jazz, dança de rua, danças 
populares, sapateado, solos, duos e trios livres.




                       Detalhes que o
                     público não conhece
       Montagem completa de "Giselle" exige uma 
    superprodução, com cuidados em cada detalhe. São 
           centenas de profissionais envolvidos

                             Paulo César Ruiz
                      Editor Assistente do ANFestival

Quem conhece a dança clássica apenas através do Festival de Dança de 
Joinville com certeza ainda não tomou pé de alguns detalhes fundamentais 
da montagem de uma grande obra como "Giselle". Por ser um trabalho 
coletivo ­ dentro e fora do palco ­, envolvendo dezenas e, às vezes, 
centenas de profissionais entre equipe técnica e bailarinos, deve haver 
organização.

Não pode deixar correr frouxo. Além da equipe, tem o estoque infinito de 
figurinos, adereços, cuidados, maquiagem, luz, enfim uma obra completa 
de balé clássico não é, como sempre se viu em Joinville, só pas­de­deux, 
pas­de­trois, codas, saltos, fouettés, mas tudo isso junto e mais, muito 
mais. Para organizar essa superprodução é preciso profissionais 
qualificados e experientes que conheçam os meandros do balé. Rojan 
Cavina, da equipe de produção do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, é 
uma dessas profissionais que está em Joinville para cuidar do que pode 
parecer supérfluo: o guarda­roupa do Corpo de Baile. 

"Tenho que saber quem veste o quê, verificar se as roupas estão em 
ordem, se as bailarinas estão bem vestidas, maquiadas adequadamente aos 
personagens que interpretam, se estão penteadas, se os sapatos estão 
limpos", diz Rojan, ex bailarina do Corpo de Baile do Theatro Municipal 
do Rio de Janeiro e mais de meio século de serviços prestados à dança 
brasileira. Ela ingressou, "por concurso", no Municipal em 1946, aos 11 
anos. E está até hoje. Mas ela gosta sempre de frisar: "Na realidade não 
precisa de muita fiscalização, porque as bailarinas são profissionais, mas, 
sobretudo, porque é uma questão de ordem".
O seu trabalho é coordenar esses detalhes para evitar eventualidades, 
imprevistos ou acidentes de percurso no momento em que os bailarinos 
entram no palco. "Eles têm de estar impecáveis", ensina. Por suas 
exigências, ela é chamada, pelas bailarinas e bailarinos do TM, de 
"Sargento Rojan". Por brincadeira, é claro. "Já me agradeceram num 
cartão de Natal. As meninas me imitam. Há uma relação muito próxima 
com as bailarinas. São como minhas filhas. De vez em quando dá uma 
bronca aqui, outra ali, mas na maioria das vezes a relação é carinhosa", 
confessa, lisonjeada, Rojan.

Na medida em que as meninas vão chegando ao palco, ela cuida de cada 
detalhe, e vai acertando os possíveis problemas. O que facilita também o 
trabalho é que Rojan fica com o raspador de solas de sapatilhas, e as 
bailarinas passam e utilizam o equipamento antes de subirem ao palco. Do 
espaço de tempo de sair do camarim e chegar ao palco, dá para perceber 
se tem algum erro. Até nos primeiros bailarinos Rojan dá uma boa 
observada. Claro que há uma deferência pelo fato de ser o primeiro 
bailarino. "Primeiro bailarino não precisa ficar em cima, a garotada que é 
um pouco mais rebelde", diz.

                                  Relógio

Eles são como crianças. Quando distribui o saco de maquiagem, por 
exemplo, se tiver um batom diferente do outro, um esmalte que não é da 
mesma cor que os outros, dá uma crise de ataque de nervos nas bailarinas. 
As casadas não querem tirar a aliança do dedo antes de entrar em cena. 
Teve um caso até de um bailarino, esse mais folgado, que queria entrar 
com relógio de pulso alegando que "não aparece". Pelo tira e não tira, o 
recalcitrante bailarino tirou o relógio do pulso. Antes era terminantemente 
proibido o uso desses objetos em cena. Agora as coisas estão mais 
abertas.

Para se ter uma idéia do nível de conhecimento que Rojan tem do elenco 
do Corpo de Baile basta dizer que ela sabe exatamente a numeração dos 
pés de todas as bailarinas, o número de cada sapatilha, quem tem o 
mesmo corpo e pode usar a mesma roupa que outro, o tipo de sapato que 
as meninas usam para cada espetáculo, o tamanho das meias. Enfim, tem o 
controle sobre tudo. Ela sabe também, por exemplo, os cintos que devem 
combinar com a cor das meias, com as botas, as luvas etc.

"Giselle' não é muito difícil", diz Rojan, "porque o primeiro e o segundo ato 
são bem especificados. Agora, se é uma montagem como "A Bela 
Adormecida", espetáculo que fizeram no ano passado, as coisas são mais 
complicadas". São mais de mil elementos: quatrocentos figurinos, só 
roupas de vestir, mais adereços, sapatos, botas, e isso tudo tem que ser 
muito organizado. Mas, pelo fato de ter dançado todos os grandes balés, 
ela tira de letra.

No primeiro ato de "Giselle", por exemplo, conta Rojan, as bailarinas, que 
interpretam papéis de camponesas têm que estar com uma maquiagem 
bem marcada. No término desse ato, há um intervalo de quinze minutos 
para vestir as garotas, que devem tirar um pouco essa maquiagem, mudar 
a cor do batom e do blush. Mas como elas já estão mais ou menos 
pintadas no primeiro ato, só dá um retoque final para entrar em cena. Com 
olhar de lince e paciência de mãe, ela verifica se as bailarinas e bailarinos 
fizeram, a contento, essas mudanças.

               "É mais fácil ser bailarina
               que ficar atrás da cortina"
Normalmente, há troca de bailarinas para o segundo ato, mas quando a 
companhia está em viagem, as mesmas dançam os dois atos, pois é 
preciso reduzir o elenco. E isso tudo deve ser sincronizado perfeitamente, 
sem falhas. "É muito mais difícil ficar atrás da cortina. É bem mais fácil ser 
bailarina. Porque você vai encontrar no armário sua roupa 
meticulosamente pendurada no cabide, com nome, tudo bem organizado", 
confessa Rojan. Por isso, raramente acontece algum problema na hora de 
entrar em cena.
Em Joinville, Rojan, para resolver qualquer eventualidade que possa 
ocorrer durante a apresentação, divide o trabalho com uma camareira. 
Cada uma fica de um lado do palco. Na hora da contra­regra, observa se 
os véus estão lá, se as flores estão no lugar certo. Segundo Rojan, às 
vezes acontece alguma emergência, como rasgar uma roupa. Mas, como 
sabe o lado que as meninas saem do palco, ela age com rapidez. O 
público nem percebe. O que pode acontecer, às vezes, é um bailarino que 
estava ensaiando esquecer um véu, uma capa, ela tem que correr para 
procurar. Ou então quando o colar da Giselle fica na contra­regra. 

Na opinião de Rojan, o palco do Centro de Eventos Cau Hansen é muito 
bom, tem mobilidade. Ela só tem uma reclamação: "o espaço é muito 
grande, fica muito longe, acho até que as bailarinas tem que reforçar mais a 
maquiagem".



                                  MAJESTADE




   No segundo ato de Giselle, a jovem estrela do corpo de baile do Theatro 
 Municipal do Rio de Janeiro, à direita, interpreta a altiva Myrtha, a rainha das 
                        Willis, em duelo com a heroína
                     Foto: Vânia Laranjeiros/Divulgação TM


                    Renata Versiani,
              a Rainha das Almas Brancas
 Bailarina da nova geração do Theatro Municipal do Rio 
 vem se estacando em grandes papéis, revezando­se com 
            estrelas de primeiríssima grandeza

                                 Suzana Braga

No palco ela ocupa a cena inteira, salta, quase voa, com uma impulsão 
rara para uma mulher. É altiva, voluntariosa, guerreira e maliciosamente 
feminina. Esta é Renata Versiani interpretando Myrtha, a Rainha das Willis. 
Fora de cena, é uma jovem doce, de 22 anos, pele alva, cabelos negros 
encaracolados e olhos azuis que demonstram vivacidade e, acima de tudo, 
determinação.

Renata Versiani é a bailarina da nova geração do Theatro Municipal do 
Rio de Janeiro que mais vem se destacando nesses últimos dois anos e que 
tem dançado quase todos os grandes papéis da companhia, revezando­se 
com estrelas de primeiríssima grandeza, como Ana Botafogo. Renata 
entrou para estagiar no Corpo de Baile aos 14 anos de idade e, aos 15, já 
era bailarina profissional. Logo professores e coreógrafos abriram os olhos 
para o jovem talento e Renata passou a ser escalada para solos e, como 
consequência natural, para primeiros papéis. Dentre eles, a bailarina foi a 
"eleita" para interpretar a personagem principal da "Sagração da 
Primavera" (Stravinsky/Nijinsky), Effie (em "La Sylphide" ) e 
Odette/Odille , em "O Lago dos Cisnes" (Tchaikovsky/ Petipa e Ivanov).

Mas no momento Renata é pura concentração e desafio para com a 
personagem Myrtha, a Rainha das Willis, a qual interpretará no palco do 
Centro de Eventos Cau Hansen, hoje à noite, na estréia do 17º Festival de 
Joinville. Concentração porque sabe de todas as dificuldades do papel e 
quer se apresentar cada vez melhor, especialmente para um público que 
nunca a assistiu. Desafio porque Myrtha é uma personagem destinada a 
uma primeira bailarina e que duela com a heroína Giselle, tendo apenas o 
segundo ato do balé para mostrar tudo o que sabe e o que pode. E neste 
caso, a jovem Versiani terá pela frente nada mais, nada menos, do que 
Ana Botafogo como Giselle.
Mas a moça não se acovarda. "Eu adoro dançar com a Ana, ela me 
estimula, ela é uma bailarina incrível. No segundo ato de Giselle ela me 
olha, ela pede, suplica pela vida do seu amado (Albrecht) Intrepreta de tal 
forma que chega a 'viver' a personagem. Isso me estimula muito e não 
tenho como deixar por menos, encaro a cena e vou 'vivendo' também. 
Afinal o sonho de toda a Myrtha é acabar com a Giselle", brinca Versiani, 
e arremata. "Entretanto se algum dia isso acontecer vou dizer: ­ Sinto muito 
Ana mas é graças a você que a minha Myrtha engoliu a sua Giselle. 
Dançar com a Ana é uma verdadeira aula", explica Renata.

                             Interpretação

A bailarina continua narrando a forma que utiliza para compor a sua 
interpretação. "A Myrtha só entra no segundo ato então, já pronta, vou 
para a coxia assistir a 'cena da loucura' da Giselle. Ela me inspira, me 
enche de energia. É verdade que chego a tremer ­ confessa a jovem ­, mas 
não entro nessa onda. Quando piso na cena o medo ficou na coxia. E 
entro consciente de que naquele território (o das Willis) quem manda sou 
eu. É a Myrtha quem vai determinar a ação do segundo ato", explica 
Versiani e acrescenta mais detalhes enriquecedores para o público. 
"Bailarinos também pensam em cena. De repente passa pela minha cabeça 
um pensamento: Quem é "aquelazinha" ( Giselle) que acabou de entrar no 
meu mundo e já está me afrontando? É assim que seguro a altivez da 
minha personagem. Nessa hora esqueço que estou diante de uma estrela, 
de um corpo de baile completo, das hierarquias , de bailarinos convidados 
ou do que mais vier", completa Renata.

A propósito a jovem estrela disse que nunca sentiu medo ou amarelou ao 
contracenar com astros famosos. "Acho que se me escalam e me colocam 
para contracenar com pessoas desse peso artístico é porque devo estar à 
altura. Não posso me entregar ao medo. Sei que uma estrela como a Ana, 
por exemplo, têm de sustentar todo um balé, todo um corpo de baile. E 
ela sustenta. É admirável porque quanto mais ela vai dando mais o elenco 
vai respondendo. Mas eu também sou responsável por carregar esse balé, 
tenho de dar conta do meu 'exército' de almas brancas e tenho de manter a 
Giselle submissa. Então personagens principais têm de serem cúmplices, 
um vai crescendo com o outro", finaliza.

Esta é a primeira vez que Renata Versiani dança em Joinville. A propósito, 
nunca esteve sequer na cidade. " Me sinto como um ET por nunca ter 
passado por Joinville. As únicas coisas que imagino sobre a cidade é que 
deve fazer muito frio, o que me preocupa, e que respire dança por todos 
os cantos, isso é ótimo".

Conta ainda a bailarina que está um pouco ansiosa para pisar no palco de 
Joinville. "Fazer um primeiro papel na "cidade da dança" é uma grande 
responsabilidade. Estou ciente do peso que o palco de Joinville adquiriu 
com esse festival que se tornou internacional".

A ausência de Renata Versiani nos festivais de Joinville é justificável. "Eu 
nunca participei de nenhum concurso. Posso explicar essa fato porque 
curti muito bem a minha adolescência, eu gostava de aproveitar a vida, de 
passear, de ir para boates, namorar. Em suma, eu não vivi uma 
adolescência de bailarina e, quando me dei conta de que queria me tornar 
uma profissional, já estava com 14 anos, estagiando no Corpo de Baile do 
TM" explica a jovem. Mas se Renata tem toda essa segurança e altivez no 
palco, independente da sua pouca idade, na vida real as coisas não são 
bem assim.

Dividir o camarim com Ana Botafogo, como aconteceu na recente 
temporada do TM, não deixou Renata exatamente à vontade. "Foi muito 
bom, tive conselhos e diria que "aulas" extras, mas ainda fico "grilada". A 
toda a hora perguntava para a Ana se a estava incomodando, deixava o 
chuveiro primeiro para ela, pisava um pouco em ovos. Sim, continua, 
porque quando entrei no Theatro a Ana para mim era uma deusa, nem 
ousava me aproximar. Com o tempo a própria cumplicidade cênica que 
ela me cobrou, acabou por nos aproximar e acabou no dia­adia". 

A jovem sabe que é, de maneira sutil, a "eleita" da superestrela Ana 
Botafogo na safra de novos bailarinos. "É verdade, ela me orienta, me 
protege, sinto que gosta muito de mim. Nos aproximamos na temporada 
    de "O Lago dos Cisnes". As primeiras bailarinas têm muito a ensinar para 
    os jovens e, nessa temporada, a Ana me ensaiava, discutia o papel 
    comigo.

    Mas não foi só a Ana, contei também com a valiosa colaboração de 
    Bertha Rosanova e Cristina Martinelli. Quero essas três como minhas 
    mestras pelo resto da vida", fala com entusiasmo.

    Por sinal, entusiasmo é o que não falta em Renata Versiani. "Eu sou pau 
    pra toda a obra, o que eu quero mesmo é trabalhar, quero dançar e quero 
    e vou ser uma primeira bailarina. Quando chega um professor ou um 
    coreógrafo para montar alguma obra para o Corpo de Baile , lá estou eu 
    na frente. Me coloco na primeira fila, quero aprender, quero comer tudo e 
    um pouco mais, procuro sempre fugir do vício do funcionário público, 
    jamais faço corpo mole ou digo um não. Acho que é por isso que, graças 
    a Deus, dancei tanto nas últimas temporadas", diz feliz.

    Outro desafio que bate diariamente na cabeça de Renata é: "ser uma 
    bailarina conhecida no meu país. Quero dançar fora também, mas primeiro 
    quero dançar muito aqui no Brasil, sou uma nacionalista apaixonada. O 
    ideal seria ser um mix de Ana Botafogo com Cecília Kerche, mas já que 
    não sou nem uma nem a outra quero ser a Renata Versiani". E Renata 
    comenta feliz que atualmente alunas da Escola Estadual de Dança Maria 
    Olenewa (onde fez a sua formação) já a reconhecem e o melhor, "muitas 
    delas já vão me ver dançar e dizem que , quando crescerem, querem ser 
    como a Renata".

    É essa a bailarina de técnica impecável que estará hoje, no palco do 
    Festival de Joinville comandando o 2º ato do balé "Giselle". Renata 
    Versiani que adora dançar num palco grande para que os seus 1m68cm., 
    seus 51 kg, e seus saltos poderosos possam percorrer a vontade o 
    espaço. Uma bailarina forte, de alma romântica, que adora papéis 
    fleamáticos e que promete brilhar. "Tem lugar para todo o mundo na vida, 
    desde que tenha o meu".

                     17º Festival de Dança de Joinville ­ 1999
                                         De 20 a 30 de julho
    Programação
    Regulamento
    Noticiário
    Leia também:
    16º Festival de Dança de Joinville  ­ 1998


                 Copyright © 1998  A Notícia  ­ Todos os direitos reservados  ­ Telefone: 055­047 431 9000  ­ Fax: 055 ­047 431 9100  
                     Rua Caçador, 112 ­ CEP 89203 ­610 ­ Caixa Postal: 2  ­ 89201­972 ­ Joinville  ­ Santa Catarina ­ BRASIL


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  • 1. WILLIS Bastidores Por trás da cena de um grande balé Quem assiste ao espetáculo não imagina a  correria nos camarins, o estresse nas coxias  e o corre­corre pelas escadas   Programação Para o espectador o que importa é a cena, desde que  Uma atmosfera misteriosa envolve o segundo ato de Giselle, onde o corpo de  Regulamento tudo corra a contento. Enquanto ele assiste a um  baile é uma estrela da mesma grandeza que os personagens principais  Noticiário espetáculo, jamais poderá imaginar a correria de  (Foto: Vânia Laranjeiros/Divulgação TM) Leia também: camarins, o estresse das coxias, o corre­corre pelas  16º Festival de Dança  escadas, a mão­de­obra da maquinária, a troca de  de Joinville ­ 1998 roupas, de maquiagem, em suma, todos os itens que  Giselle, mulher compõem o bakstage ­ ou bastidores ­ de um balé.  de corpo e alma Algumas vezes esse bakstage chega a invadir o palco  mas, desde que não se torne uma coisa  escandalosamente flagrante, o público não percebe.  Festival valoriza a dança brasileira e apresenta, pela  Mas em algumas ocasiões a coxia chega à cena, sem a  menor cerimônia. Imaginem o segundo ato de  primeira vez, uma produção completa com a mais nobre  "Giselle", no reino das diáfanas Willis, onde tudo é um  companhia do País o Ballet do TMRJ branco e velado mistério, a personagem principal  entrar em cena ensangüentada. Ou ainda, um tosco  banco de madeira, lá dos idos de 1841, entrar no palco  Começa hoje uma edição do Festival de Dança de Joinville que dá uma  ­ carregado pelos camponeses ­ com uma garrafa de  guinada rumo ao bailarino brasileiro, depois de ter adernado, nos últimos  água mineral e uma lata de refrigerante, que bailarinos  anos, para convidados internacionais, que deixaram a desejar. Todas as  distraídos coloram sobre o mesmo na coxia. atrações especiais ­ espetáculos profissionais que abrem as noites  competitivas ­ são brasileiras, salvo dois partners convidados. Claro que a  E que tal a Princesa Aurora, do balé "A Bela  Adormecida", se enrolar na tela do cenário, de tal  alta do dólar tem sua parcela de participação na descoberta de que o  forma que a Fada Lilás, outra personagem, precisa  "produto nacional é bom e barato", é benéfico à dança brasileira. esquecer a sua postura de fada, descer das pontas e  socorrer a colega princesa. Ou ainda um " floquinho  A abertura hoje à noite será feita pelo Ballet do Theatro Municipal, que  de neve" , de "O Quebra­Nozes" ­ deslizar pelo palco  com as perneiras pretas de lã que usou para o  apresenta o balé "Giselle", na versão do inglês Peter Wright, que pertence  aquecimento. E se um bailarino perder a sapatilha, que  ao repertório do TM desde 1982. Esta versão é considerada uma das  voa do palco e cai no colo do espectador da primeira  mais perfeitas do mundo e faz parte do repertório das companhias de  fila. Munique, Frankfurt, Stuttgart, Londres entre outras. Os cenários e  A história parece piada, mas tudo isso, e muito mais, já  figurinos São do inglês Peter Farmer. aconteceu em grandes produções. O bailarino que  perdeu a sapatilha foi ninguém menos que Mikhail  Um balé completo, pela primeira vez no palco do festival, com a mais  Baryshnikov em "O Corsário". O "floquinho de neve  importante companhia do país, é um presente para o público, que  distraído" foi uma estagiária do Teatro Municipal que  está, até hoje, desculpando­se. A princesa Aurora  finalmente poderá ver um espetáculo e não apenas competições de dança;  enrolada foi a bela Roberta Marquez, do balé do  e para os participantes, já que a apresentação se constitui numa importante  Teatro Municipal, e sua fada salvadora foi a bailarina  oportunidade pedagógica para quem estuda dança. O novo formato revela  Daniela Cardin. E a Giselle ensangüentada? Também  gratas surpresas, como por exemplo, a importância do Festival de Joinville  existiu e foi Ana Botafogo que, na recente produção  do balé, a mesma que o público de Joinville vai assistir  no aprimoramento da dança nacional: quase um terço dos bailarinos que  nessa noite, na correria da troca de roupa entre um ato  vêm dançando pelo TM já competiram no festival. e o outro, arranhou­se, não sabe como, e o sangue  aquecido pelo espetáculo começou a escorrer pela  roupa da imaculada personagem. Providências rápidas  Romantismo de coxia, envolvendo auxílio de massagista e gelo,  impediram que Ana voltasse à cena "apunhalada". Giselle. Uma palavra. Um nome de mulher. É a personagem mais popular  da dança e também faz sucesso entre gente que nunca ouviu falar nessa  Esses são apenas acidentes lights e imprevisíveis.  doce e charmosa camponesa que acaba de fazer 158 anos. É um nome  Para que nada mais sério aconteça e para que tudo  corra da melhor maneira possível, existe um batalhão a  bonito, feminino e sonoro, para uma personagem que é a encarnação do  postos, trabalhando no bakstage como formiguinhas.  A Notícia ideal romântico, onde se enlouquece e morre de amor. Sua história mística,  Eles garantem aos artistas e ao público, um espetáculo   NOTICIÁRIO imaginativa, sentimental e trágica, criaram uma legião de Giselles ao redor  com a menor margem de erro possível. Capa   do mundo, fazendo desse um nome repetido em todas as línguas. Opinião   Economia   Giselle do avesso Política   Dentro do universo da dança, há um lema: toda bailarina quer ser Giselle  País   na vida. Giselle apaixona tanto pelos traços da personagem, tão afeita às  Um balé complexo como "Giselle", com dois atos  Mundo   Polícia   absolutamente distintos, não é nada fácil de ser  atitudes peculiares à sensibilidade feminina romântica; quanto pelas  montado e, muito menos de viajar, sair de casa, do  Geral   Esporte  dificuldades que impõe a suas intérpretes. Para acompanhar suas nuances  palco em que foi concebido. Fórmula 1  emocionais, é necessário qualidades técnicas e delicada capacidade de  Fórmula Indy COLUNAS interpretação. "Giselle" é uma obra­desafio, mas que, em contrapartida, dá  O primeiro ato mostra uma aldeia, com camponeses,  oportunidades ímpares de se evidenciar talento. muitos adereços cênicos, figurinos pesados de corte,  Alça de Mira   cabanas, bancos, flores etc. O segundo é imaterial.  Informal   Uma floresta que cria clima através da iluminação e um  Moacir Pereira   Espaço Virtual   Uma das grandes dificuldades em se interpretar a personagem é a  elenco" branco", quase que exclusivamente feminino  Cláudio Prisco   transição do primeiro para o segundo ato, quando, após um exaustivo  que precisa estar totalmente parelho e muitas  manobras de cena para que o clima mágico aconteça. 
  • 2. AN Brasília   início em que dança como "ser mortal", tem que se transformar em "ser  Livre Mercado   Pois enquanto a platéia delicia­se e os bailarinos  Raul Sartori espiritual". Há uma brusca mudança física e sentimental na personagem. A  esmeram­se para dar o melhor de si, a contra­regragem  CADERNOS primeira bailarina a viver Giselle foi Carlota Grisi. Em Joinville, quem vai  e a produção transpiram tanto quanto os artistas. É um  Anexo   encarnar a personagem é Ana Botafogo, uma especialista em fazer a  outro espetáculo que acontece das coxias para dentro.  Crônicas   Vejamos em detalhes. Cinema   camponesa, principalmente nessa versão de Peter Wriht. AN Cidade   AN Informática   Para início de conversa, segundo Sonja Figueiredo,  AN Veículos   O balé "Giselle" foi criado em 1841, sendo a segunda obra dentro do  coordenadora administrativa do balé ­ que está  AN Economia   estilo romântico. Antes dele houve "La Sylphide", de 1832. Concebido  acompanhando a montagem em Joinville ­, "não se tira  AN Tevê de casa para qualquer palco uma produção como  ESPECIAIS com todos os ingredientes do Romantismo, como ingenuidade, pureza,  "Giselle", com 52 personagens e, que chega a reunir  Copa 98   inocência, misticismo e espiritualidade, em "Giselle" têm vez as razões do  em cena, ao mesmo tempo, mais de 40 bailarinos". O  Grandes Entrevistas   coração, os embates sentimentais. Trata­se de uma tragédia envolta numa  palco do Centro de Eventos Cau Hansen, segundo  Cruz e Sousa   atmosfera misteriosa e sobrenatural, que está na origem do Movimento  Sonja, preecheu os requisitos técnicos e de espaço  Joinville 148 anos   Romântico. É uma obra que vem encantando o público há mais de um  para comportar um balé desse porte. Mesmo assim a  Festival de Dança  Recicle coordenadora diz que, como em "Giselle" tem muita  século e meio, e constitui­se num ponto de referência na história da dança.  contra­regragem e tudo precisa ser "vapt­vupt",  SERVIÇOS vários técnicos experientes do TM vieram  AN Pergunta   AN Pesquisa   "Giselle" nasceu a oito mãos: do escritor Theóphile Gautier, do libretista  acompanhando a produção. Como anunciar   Vernoy de Saint­Georges e da vivência dos coreógrafos Jean Coralli e  Classificados   As armadilhas em "Giselle" são muitas e também muito  Assinatura  Jules Perrot. A obra reflete uma nova estética e um novo conceito cênico:  sutis. Por exemplo: Giselle aparece, no segundo ato,  Mensagem   o drama­balé, em que elementos do teatro se harmonizam com a dança.  com um véu cobrindo o rosto, existe um tempo certo,  Edições 1999   Edições 1998   Sua coreografia, a música e seus figurinos se encaixam de forma  na música e na coreografia, para a "puxada do véu",  Edições 1997   absolutamente perfeita. O resultado é um balé suave e ousado, em  que é feita através de um fio de náilon invisível, que  AN Chat   faz o adereço desaparecer, como num passe de  Loterias fascinantes contrastes, que contrapõem o primeiro ao segundo ato. De um  mágica. Mas, para que isso aconteça, o contra­regra  INFO lado, o realismo do cotidiano, do outro, seres incorpóreos e imateriais  responsável pelo véu têm de conhecer o balé e a  Índice   adejam pelo palco. A música foi composta por Adolphe Adam e a  música. Expediente   apresentação em Joinville utiliza uma gravação feita especialmente para o  Institucional Festival, pela Orquestra Sinfônica do TM, sob regência do maestro Silvio  Também as 30 Willis (incluindo a Rainha Myrtha) têm  AN Capital véus, que são retirados após as suas primeiras  NOTICIÁRIO Barbato. aparições e que não podem ficar pelas coxias, nem  Capa   como "um elemento cênico extra e inesperado", no  Geral   chão do palco. Ainda nesse segundo ato, dois  Última Página momentos de muita atenção para a contra­regragem,  COLUNAS equipe técnica e bailarinos. O primeiro é a entrada das  Ricardinho Machado   Morrer de amor numa Willis. Em teatro que tem fosso, elas surgem no palco,  Fala Mané transportadas pelo elevador. Por vezes, esse elevador  atmosfera misteriosa não chega bem no prumo e têm Willis tropeçando ou  se esforçando para chegar ao nível da cena. O balé Giselle tem dois atos contrastantes. O primeiro,  realista. O segundo, imaterial, caracterizando as obras  O outro, também nesse momento, é a entrada da  fumaça de gelo seco. Como a música está num  "brancas" do século passado pianíssimo, a cena quase vazia e absolutamente  silenciosa, as barras de gelo seco que são jogadas em  O primeiro ato de "Giselle" se passa numa pequena aldeia de camponeses,  baldes de água quente, costumam fazer um barulhão  que vasa até a platéia. Sonja conta que a forma  no dia da festa da vindima, o fim da colheita da uva. Giselle é uma jovem  encontrada para solucionar o problema foi  doce e humilde, filha de Berthe. A alegria de seu coração puro, acaba por  absolutamente artesanal. "Colocamos panos no fundo  conquistar o amor de Albrecht, um Duque. Apaixonado, ele se veste de  dos baldes mas, para chegarmos a isso, passamos um  bom tempo pensando e experimentando". camponês e faz a corte à moça. Giselle, que acredita tratar­se apenas um  rapaz da vila chamado Loys, apaixona­se por ele. Devido às diferenças  Já o primeiro ato é preocupante porque têm uma  sociais e por ser o noivo de Bathilde, a filha do Duque de Courland, esse  carroça, cestos de frutas que não podem despencar  amor jamais se realizará. Mesmo assim Albrecht mantém a farsa,  pelo palco ­ todas foram costuradas porque só a cola  alimentando as esperanças da encantadora jovem. não resolvia ­ animais mortos (da caçada) e os trajes  complicados da corte, ninguém pode esquecer o  chapéu, os adereços etc. Entra em cena Hilarion, o jovem guarda­caças da vila, que também está  loucamente apaixonado por Giselle. Ele tenta interromper o idílio,  Têm ainda uma margarida que Giselle desfolha, no  lembrando seu amor por ela. Mas Giselle, apaixonada por Loys, repele  estilo bem­me­quer, mal­me­quer que, pasmem, a  Hilarion, juntando­se alegremente às suas amigas e companheiros.  florzinha já deu muita dor de cabeça aos contra­regras  e à própria Giselle. É apenas uma flor, mas é  responsável por toda uma cena do balé, e tem de estar  A chegada de uma grande comitiva de caça, encabeçada pelo Duque de  no lugar certo, na hora certa. Pior do que isso, precisa  Courland e sua filha Bathilde, dá a Hilarion a oportunidade para agir.  ser despetalada, mas não pode ser flor natural, porque  Preterido e despeitado, ele desmascara seu rival durante a festa da vindima  as pétalas fariam os bailarinos escorregarem, e essas  pétalas precisam ser arrancadas. da aldeia, em que a jovem amada é coroada rainha da colheita.  Surpreendida pela revelação, Giselle procura afogar sua desilusão numa  Antigamente a margarida era de pano, a bailarina  dança frenética. Enlouquece e suicida­se com a espada de Albrecht.  zelosa, dentre mil preparativos que tem para a cena,  Assim, termina a primeira parte. precisava pegar uma tesoura, cortar quase toda a  pétala, para que no momento exato ela, sem ter de fazer  "uma quebra de braço com a flor", pudesse desfolhá­ O segundo ato começa à meia noite, em meio a uma clareira na floresta,  la com naturalidade. Atualmente utilizam flores de  um lugar sinistro, com árvores retorcidas e uma atmosfera de suspiros e  papel, o que torna a operação bem mais simples. Mas  lágrimas. Ali se passa o baile mágico da Willis, espíritos de jovens que  todas as outras flores do balé, e não são poucas,  continuam sendo de pano, para que não façam  morreram antes do dia do seu casamento. Para vingar­se, elas se reúnem e  barulho quando são jogadas no solo. obrigam os rapazes que encontram pelo caminho a dançarem até a morte. O procedimento dos bailarinos nas coxias, segundo a  Ritual das Willis coordenadora Sonja, pode ser "traiçoeiro e perigoso".  " Os bailarinos não podem dar mole com o figurino  nas coxias". Para que isso não aconteça, sempre fica  Neste lugar, Hilarion está de vigília, na sepultura de Giselle. Surge uma  alguém da equipe técnica policiando as coxias. Senão,  sombra transparente e pálida. É Mirtha, a rainha das Willis. Em seguida  acrescenta Sonja, tem saia que entra em cena antes do 
  • 3. surgem outras Willis que se agrupam graciosamente em torno dela. Então,  tempo, têm gente que segura na torre de luz para fazer  aquecimento, o que pode dar sombra e desafinar a luz.  elas tiram Giselle de sua sepultura para iniciá­la em seus ritos. Albrecht  "Parece um jardim da infância", brinca Sonja e conta  chega trazendo flores e Giselle surge para ele, que tenta pegá­la, mas ela  que os acidentes mais comuns são: bailarinos que  desaparece e ele sai à sua procura. entram pelas coxias atropelando o regulador, torres de  luz fora do lugar e adereços extra na cena, como  toalhas que o bailarino esqueceu de tirar do pescoço e  Neste momento, Hilarion é pego pelas Willis. Mirtha, a rainha, ordena que  acabam no chão do palco, garrafas de água e  ele dance até à exaustão. As Willis começam então uma orgia alegre,  imprevistos na maquinaria. dirigida por sua rainha triunfante, quando uma delas descobre Albretch e o  traz para o círculo mágico. Mas no momento em que Mirtha vai tocá­lo,  Também os camarins precisam de atenção. Em  Giselle se lança na frente de Albretch, protegendo­o com a cruz de seu  "Giselle" existe apenas um intervalo de 15 minutos,  entre um ato e o outro. Nesse tempo, o elenco troca  túmulo, até o momento em que surge a aurora, quebrando o poder da  todo o figurino, as moças trocam toda a maquiagem  Willis. (do rosto e do corpo) e também o penteado. Isso  enquanto na cena todo o cenário está sendo trocado.  É certo que nos camarins também acontecem  Ballet do Theatro Municipal acidentes. Tem sempre a bailarina mais lenta, que  demora mais na troca, tem a que esquece do adereço  é a maior companhia brasileira do cabelo, tem a que resolve passar na cantina para  pegar alguma coisa e perde o sinal. Tem ainda o "tutu"  O Theatro Municipal do Rio de Janeiro, foi fundado em 1909 e passou a  que arrebenta a alça, a sapatilha que some, ou o  ter uma Escola de Dança em 1927 e um Corpo de Baile oficial, em 1936,  bailarino que se machuca . Em suma, existe todo um  policiamento para que nada disso ocorra. criado pela bailarina Maria Olenewa. Até então, só pisavam seu palco  bailarinos estrangeiros, contratados, muitas vezes, por companhias de  Os primeiros bailarinos ganham camarins especiais,  ópera. Nos seus 63 anos de vida profissional, o Ballet do TM se  com camareira a postos, maquiadores e cabeleireiros.  desenvolveu junto com a dança do país. Mas o corpo de baile fica no que chamam de  "favelão", os camarins coletivos, onde a conversa rola  solta, brincadeiras e até brigas acontecem. O local é  Ao longo desse tempo, formou bailarinos de prestígio, um repertório  bem mais vulneráveis a esses pequenos acidentes. É  importante e se apresentou com grandes estrelas mundiais da dança. E,  com essa turma, normalmente com os mais jovens  mesmo seguindo a linha clássica, não desconheceu propostas mais  integrantes da companhia, que a equipe do bakstage  está sempre alerta. Afinal ninguém nasce sabendo,  modernas e inovadoras. especialmente as sutilezas e complexidades de uma  grande produção como "Giselle". O Ballet é um dos três corpos estáveis do Theatro Municipal ­ ao lado da  Orquestra e do Coro ­ com cerca de 80 figuras entre primeiros bailarinos,  O camarim de Ana Botafogo solistas, corifeus e corpo de baile. Para dar início à companhia, foram  contratados maîtres de balé e coreógrafos como Vaslav Velchek, Yuko  Ana Botafogo e a personagem Giselle são o que pode  Lindemberg, Juliana Yanakieva, Tomy Armour e Maryla Gremo. se chamar de amigas íntimas de longa data. Nessa  temporada, Ana está completando 22 anos de  interpretações em "Giselle", um dos maiores carros­ Em conseqüência dessa atuação do TM, a dança passou a se desenvolver  chefes da carreira da grande bailarina brasileira. Giselle  no país. Ainda no seu ano de fundação houve uma primeira temporada do  foi o primeiro grande papel que Ana Botafogo  balé nacional. interpretou em sua carreira, quando ainda dançava no  Teatro Guaíra, de Curitiba, em 1977. Foi esse balé que  lançou a bailarina no Brasil, tornando­a conhecida do  O Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, nestes 63 anos,  grande público. trabalhou com nomes representativos da dança como Leonide Massine,  George Skibine, Tatiana Leskowa, Eugenia Feodorova, Milko  Ana é a bailarina brasileira que mais dançou Giselle na  Sparambleck, Peter Wriht, entre outros A companhia formou bailarinos  vida. Por outro lado, esse é o balé que Ana mais  dançou na sua carreira tendo, inclusive, interpretado a  brasileiros de prestígio internacional. peça em Cuba, como artista convidada e sob a  supervisão artística da própria Alicia Alonso. Para exemplificar, basta lembrar Aldo Lotufo e Bertha Rosanoca ­ uma  das mais famosas duplas da dança brasileira ­; Márcia Haydée, diretora e  A estrela brasileira conta como "carrega a  personagem", antes porém, adianta que "cada dia é  estrela máxima do Ballet de Stuttgart, por muitos anos. Nos tempos atuais  diferente do outro, sempre um espetáculo novo".  foram formadas Ana Botafogo, Cecília Kerche, Nora Esteves, Áurea  Segundo Ana, o grande desgaste em Giselle corre por  Hammerli e mais toda uma nova geração de bailarinos de primeira linha  conta do lado emocional. "Na cena da loucura , quase  que está despontando. ao final do primeiro ato, começa o meu grande  desgaste. Essa cena mexe muito com a bailarina,  desperta sentimentos, sobrecarrega e, daí em diante,  Companhia essencialmente clássica, o TM também fez história com  'Giselle' é um balé que continua com uma carga muito  trabalhos inovadores. A começar pelo amplo repertório que o genial  intensa até o último acorde. Termino de dançar  Leonid Massine deixou para a casa. Na década de 60, Harol Lander  depauperada. Não fisicamente, embora as exigências  técnicas e de estilo sejam também cansativas, mas  remontou para a companhia carioca "Étude", um trabalho de linhas  emocionalmente", conta Ana. consideradas modernas, na época. Nos anos 70 e 80 o coreógrafo  argentino do Theatro Colon, Oscar Araiz, trabalhou bastante para o TM.  No primeiro ato, a bailarina que faz Giselle, fica em  Deixou um bom legado coregráfico para a casa. cena praticamente o tempo inteiro, tendo só dois  momentos para tomar um ar. O primeiro no pas­de­six e  o segundo quando entra na casa, enquanto a corte  A destacar as coreografias "Cantabile" e Magnificat". Posteriormente  está em cena. "Mas não canso, Giselle tem muitos  Norbert Vesak veio ao Brasil coreografar "A Sagração da Primavera"  pequenos saltos, é uma aeróbica de baixo impacto,  para o TM e Rodrigo Pederneiras ­coreógrafo e fundador do Grupo  mas da cena da loucura em diante é fogo", confessa a  bailarina do alto da sua experiência de 22 anos  Corpo ­ montou "Concerto" para a companhia carioca. Renato Magalhães  interpretando o papel. e Gilberto Mota também fizeram importantes trabalhos para o TM, sendo  que Gilberto foi um dos primeiros coreógrafos modernos a trabalhar para  No segundo ato, a bailarina não entra de imediato, mas  a casa. Montou "Gabriela", dentre outras coreografias. depois que entra, não sai mais de cena. E Ana repete:  "É um ato muito difícil, precisa de muito clima". É  também neste ato que Ana diz acontecerem as  Nos últimos oito anos o TM tem aberto suas portas para propostas mais  "grandes trombadas cênicas". Nada de grave, apenas  vanguardistas de coreógrafos brasileiros. Dentre eles destacam­se os  imprevistos normais de um grande balé. "No segundo  trabalhos de Rodrigo Moreira (prata da casa) e de Deborah Colker. ato tenho muitas entradas e saídas das coxias. Em  algumas tenho menos de quatro tempos musicais para 
  • 4. me deslocar de um lado para o outro. Como as 30  Alguns dos maiores bailarinos do mundo dançaram com o BTM. A  Willis também tem entradas e saídas, muitas vezes  ressaltar Margot Fontayn, Rudolf Nureyev, Alícia Markova, Fernando  existem trombadas no fundo do palco", relata Ana. Bujones, Zhandra Rodriguez, dentre outros. Desgaste duplo O repertório da companhia é composto por inúmeros títulos, entre eles  estão: "Giselle", "O Lago dos Cisnes", "Les Sylphides", "Don Quixote", "La  Se em cena o balé é desgastante, no camarim não é  Fille Mal­Gardée", "O Pássaro de Fogo", "Petroushka", "Romeu e Julieta",  diferente. "Tenho um intervalo de 15 minutos para  trocar a roupa, a maquiagem, o cabelo, os acessórios e  "Coppélia", O "Quebra Nozes", "La Sylphyde", "A Bela Adormecida",  cuidar da minha própria contra­regragem, antes de  "L'Aprés­midi d'un Faune", "Sagração da Primavera" e  voltar ao palco para o segundo ato. Para essas tarefas  "Serenade" (remontagem da obra de George Balanchine). Ana tem sempre uma camareira, um maquiador e um  cabeleireiro à disposição. "Não é luxo, é necessidade",  explica a bailarina que na verdade é de poucas  As montagens de dança do TM, nesses 63 anos, recebeu contribuições de  exigências. "Preciso ficar pronta até sentir que Myrtha  cenários e figurinos de celebridades como Picasso (em "Le Tricorne"),  (a Rainha das Willis que abre o segundo ato) entrou  André Derain, Washkevich, Benois, e dos brasileiros Santa Rosa,  em cena. Quando escuto a música da Myrtha coloco a  roupa e as sapatilhas e estou pronta". Fernando Pamplona, Arlindo Rodrigues e Joel de Carvalho. Tudo isso deve ser feito sem quebrar o encantamento  Dalal Achcar: "Giselle é que possui um artista entre um ato e o outro. O que  quer dizer. Ele não pode se estressar com "problemas  um marco cultural para o Festival" internos" ao ponto de sair do personagem. É por esse  motivo que Ana prefere pensar em outra coisa e ter um  profissional competente ao seu lado. "Se ocorrer um  Dalal Achcar é Presidente da Fundação do Theatro Municipal do Rio de  acidente com a roupa, prefiro ficar tranqüila e deixar o  Janeiro pela terceira vez, desde fevereiro. Carioca, uma das principais  profissional da área atuar, as coisas costumam andar  personagens da dança brasileira, deu seus primeiros passos de balé sob  melhor assim", fala a experiente bailarina. Uma das  orientação de Pierre Klimoff e aperfeiçoou­se em Nova Iorque, Londres e  grandes preocupações de Ana Botafogo é com as  flores que precisa ter em cena. "São três tipos:  Paris. Com três participações no Festival de Joinville. Uma foi  Primeiro dois ramos, depois um ramalhete e, por fim,  homenageada, outra, convidada, trouxe sua companhia profissional, a  uma única flor que ela deixa para Albrecht, no final do  Associação de Ballet do Rio de Janeiro, para uma apresentação especial.  balé. Ana Botafogo, independente da estrela que é, é  Agora, traz o Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. uma pessoa pouco exigente e muito cuidadosa com os  seus personagens. É ela quem se preocupa com todos  os detalhes. Das fitas das sapatilhas à sua garrafa de  Para Dalal, a apresentação dessa montagem completa de "Giselle", feita  água. Diz a bailarina que, quando atua como artista  especialmente para Joinville, é histórica para o Festival, principalmente  convidada, costuma ser "muito mimada pelas  produções". porque vai dar "outra dimensão ao público e aos jovens que nunca viram  uma montagem profissional" de um dos balés clássicos mais importantes  A única queixa de Ana Botafogo é não poder dançar  dançado pela mais importante companhia de balé do Brasil. "Me sinto  com a orquestra aqui em Joinville. Reclama com  muito feliz em levar "Giselle" a outros brasileiros fora do Rio de Janeiro",  convicção com o endosso do maestro Sílvio Barbato  confessa Dalal. que regeu as récitas de Giselle, no Rio. "Eu me guio  pela batuta do maestro. Adoro olhar para o fosso e  saber que tem uma orquestra lá. Na verdade só vejo a  Acostumado a assistir apresentações fragmentadas de dança clássica, com  pontinha da batuta, mas é quando a batuta arreia que  "Giselle" o TMRJ vai proporcionar, segundo Dalal, um congraçamento  sei a hora de colocar o meu pé no chão", explica a  entre os jovens bailarinos que aspiram uma carreira profissional na dança  bailarina que é considerada por 10, entre 10, como a  mais musical que já pisou o palco do Theatro  clássica. Municipal. Nureyev Essa é Ana Botafogo, 22 anos de Giselle, 19 como  primeira bailarina do TM e que confessa até hoje:  "Antes de entrar em cena, ainda sinto um friozinho na  Além disso, Dalal considera também essa apresentação um marco cultural  barriga". (SB) para Joinville poder assistir "uma das mais bonitas produções do balé  clássico do mundo". Antes de chegar em Joinville, "Giselle" fez uma  temporada no Rio de Janeiro com 10 apresentações em que os bailarinos  foram ovacionados pelo público carioca. Casa da Cultura mostra quatro  coreografias Dalal Achcar é responsável, entre muitas outras importantes produções,  pela primeira visita do bailarino Rudolf Nureyev ao Brasil, em 1967, com  Grupo de Joinville vem participando e  quem se apresentou ao lado de Margot Fonteyn. Além disso, investiu,  ganhando prêmio nas últimas edições do  quando esteve à frente do TMRJ, em reformular o repertório da  Festival companhia, com obras consagradas como "Romeu e Julieta", "Coppélia" e  "Giselle", que o público do Festival de Dança vai aplaudir em pé. E pedir  A Escola Municipal de Ballet da Casa da Cultura de  para voltar outras vezes. Joinville vai participar das noites competitivas do 17º  Festival de Dança de Joinville com os seus grupos  Cidade de Joinville e Juvenil, que defenderão duas  coreografias cada um. O Cidade de Joinville concorre  na categoria Avançado I com um Trio Livre, e na  Uma obra completa na hora Sênior, com um Solo. O Juvenil, que compete na  Júnior, mostrará um Duo Clássico e um Conjunto  certa e no palco adequado Contemporâneo. O grupo Cidade de Joinville, até 1998 denominado  Mudança de clima já é nítida desde os preparativos Experimental, vai concorrer com uma variação de  clássico de repertório. É uma variação de "Paquita", na  Suzana Braga versão do Kirov, que será interpretada pela bailarina  Raquel Steglich. "É a primeira vez que uma escola de  Joinville participa do festival com uma variação de  Pela primeira vez, o público de Joinville, ou o que freqüenta o Festival de  clássico de repertório. É inédito dentro da própria  Dança terá a oportunidade de ver uma obra completa. No caso o balé  Escola de Ballet da Casa da Cultura", destaca a  Giselle, versão do inglês Peter Writh (segundo Jean Corali e Jules Perrot),  diretora artística do grupo e supervisora da escola, 
  • 5. cenários do também inglês Peter Farmer,com o elenco do Theatro  Maria Antonieta Spadari. O Trio Livre vai competir  com a coreografia "Referência", de Sigrid Nora. Ela foi  Municipal do Rio de Janeiro. Nos papéis principais estarão: Ana  a responsável pela coreografia do filme brasileiro "O  Botafogo, como Giselle; Maecelo Misailides, como Albrecht e Renata  Quatrilho" e é a atual diretora da Companhia  Versiani, como Myrtha, a Rainha das Willis. Municipal de Caxias do Sul (RS). Representam  "Referência" as bailarinas Adriana dos Reis,  Alessandra Hilário e Raquel Steglich. As duas  Já era hora. O Festival está atingindo a maior idade, o palco do Centro de  coreografias passaram pela seleção para poderem  Eventos está apto para receber uma produção desse porte e o público  participar do festival porque no ano passado o grupo  deve, e merece, assistir a um balcé inteiro, com todas as nuances que ele  não obteve colocação. pode oferecer, com os encantos proporcionados por uma iluminação  Em 1997 a equipe, com o nome Experimental,  especial ( no caso a criação é de Ruben Conde), a mágica do entra e sai  conquistou o primeiro lugar no Conjunto  de cenários, a elegância dos figurinos que caracterizam um estilo ­ em  Contemporâneo com o "Correndo Atrás de Mim", de  Giselle o Período Romântico ­ dentre outros tantos detalhes, todos  Mário Nascimento, no Amador II. O Juvenil, formado  igualmente ricos. A escolha do balé Giselle, encenado pelo Corpo de Baile  em 1997, já tinha vaga garantida para o Conjunto  Contemporâneo devido ao segundo lugar que  do TMRJ é uma feliz escolha, visto que a peça de 158 anos é um dos  conquistou no ano passado com a coreografia  marcos do repertório de qualquer grande companhia do mundo e, no  "Transição". Não foi a primeira conquista. Em 97, na  caso, o Ballet do Theatro Municipal, sabe apresentá­la com qualidade  sua primeira participação no festival, obteve também  internacional. um segundo lugar com "Espelhos da Alma". Neste  ano, o grupo, formado por 13 bailarinas, apresentará a  coreografia "Weltlos Fragmentos". Todas elas foram  Preparativo criadas pelo coreógrafo Marcos Sage, que é também o  coordenador do grupo Juvenil. No Duo Clássico, as  bailarinas Luciana Voltolini e Ana Carolina Leimann  Antes mesmo da estréia, o palco do Centro de Eventos , já apresentava  apresentam "Dueto para Sílvia".Em dois anos de  um clima totalmente diferente do habitual. Transformava­se, graças à  formação, o grupo já obteve nove premiações, duas  afinação de refletores, à instalação dos cenários e à preocupação de uma  em Joinville, uma na Bahia, três em São Paulo e mais  equipe técnica com detalhes importantes, num palco humanizado, vestido e  uma em Assunção, Paraguai. Em setembro, participa  do Festival de Dança de Santa Maria (RS). pronto a abraçar uma grande obra e uma grande companhia. O público,  sem dúvida, perceberá esse " clima novo" de imediato e, melhor do que  isso, poderá ver o desenrolar de cena após cena o que vai prmitir uma  observação mais detalhada, mais aprimorada, dos bailarinos principais e  A dança está nos muros da cidade também do corpo de baile. Artistas dão cor e forma através do projeto  Uma lição de estilo Murarte No primeiro ato de Giselle, cada cena vai intensificando o clima da  A arte está modificando Joinville. Muros coloridos,  tragédia eminente ante a impossibilidade de união da bela e frágil  polêmicos, alteram a paisagem urbana. O projeto  camponesa Giselle, como o nobre Albrecht ( disfarçado de camponês  Murarte vem ao encontro do Festival de Dança,  trazendo artistas de renome nacional para ilustrar  Loys), que culmina com a locura e a morte da moça. É muito interessante  ainda mais a sua importância. Vários muros, no centro  poder observar o tom dramático que começa a se delinear, mais ou  da cidade, estão sendo pintados por eles, tendo como  menos, na metade desse ato, e que recebe o apoio de todo um elenco e  tema principal os bailarinos. recursos cênicos específicos, como luz, trajes etc. Mais importante ainda é  ver uma bailarina como Ana Borafogo conduzindo sua personagem. Na rua Otto Boehm, pode­se encontrar o mais  polêmico destes murais. Idealizado pelo artista  plástico Charles Narloch, mostra bailarinos sob a  Em determinado momento a bailarina Ana dá passagem para a Ana triz e  perspectiva da sexualidade masculina e feminina. Filho  ambas fundem­se, a tal ponto que, é difícil descobrir aonde começa atriz e  da terra, Fúlvio Colin mora atualmente em São Paulo.  Trabalha com a temática de figuras humanas.  termina a bailarina e vice­versa. A partir desta constatação evidencia­se o  Bailarinas de sua autoria podem ser encontradas em  drama/balé que marcou o Romantismo e que caminha até os dias de hoje. seu painel na rua 15 de Novembro. O segundo ato, misterioso e branco, é uma lição de estilo e de época. É  Máscaras e paisagismo urbano. Esse é o tema de  nele que caracteriza­se o "balé branco", o reino das Willis, Sílfides e  inspiração de outro artista joinvilense, Luciano da  Costa Pereira. Seu trabalho pode ser apreciado na rua  Ninfas, do Período Romântido. Costuma­se dizer que no segundo ato de  Alexandre Doehler, em frente à entrada do Ielusc. Giselle existem quatro grandes estrelas para brilhar: A Giselle, agora pura  alma, imaterializada e que deve dançar tão leve quanto um sonho; Myrtha,  Muita cor vermelha para mostrar a excitação dos  a Rainha das Willis, altiva e misteriosa; Albrecht que é envolvido por esses  bailarinos chegando. Essa é a tônica do painel pintado  seres e o Corpo de baile. Se, por um lado cabe a Giselle, Myrtha,  por Linda Pool. A figura humana estilizada de Linda  pode ser vista no muro ao lado do Fornão, na rua  Albrecht e também Hilarion (o primeiro namorado da camponesa)  Visconde de Taunay. Marcos Jardim irá pintar  defender os papéis principais, com técnica e estilo dificilimos, por outro  tapumes. Sua obra ainda não possui data para ser  cabe ao corpo de baile ­ um verdadeiro exército de almas brancas ­  entregue, mas será feita em um muro na rua Blumenau  segurar toda a estrutura do ato. Em poucas palavras, o corpo de baile,  com a rua Lages. nesse ato é tão importante quanto a Giselle. E, se ele naufraga,muito do  O Murarte é, segundo Linda Pool, diretora da Casa da  .. encanto do balé se perde. Cultura, uma parceria dos artistas plásticos, em relação  .. ao Festival de Dança. Como a dança não está só no  Centreventos, os artistas acharam por bem fazer essa  manifestação. A escolha dos artistas se deu pelo fato  de serem atuantes e envolvidos com pinturas. Para  Ainda tem ingressos Linda, a cidade é quem ganha com o Murarte, pois  após o período do Festival, os painéis permanecerão  para a noite de estréia enfeitando­a. Ela apenas lamenta o fato de não haver  mais muros disponíveis para uma maior manifestação  Mais de 100 grupos da América Latina em oito noites de  artística. competição Para quem não adquiriu ingressos, ainda há tempo. Até o início da tarde  de ontem, havia mais de mil ingressos para as arquibancadas e ainda era  AN Manchetes
  • 6. possível encontrar cadeiras disponíveis. Somente as entradas para as  poltronas já estão esgotadas. Os ingressos estão a venda no Centro de Eventos Cau Hansen, em  Joinville, e no Shopping Mueller de Curitiba (PR). Podem ser reservados  também pelo telefone (047) 423­0557, das 10 às 22 horas. Nesse caso, o  pagamento é feito por depósito bancário e a retirada dos bilhetes pode ser  feita no próprio dia do espetáculo. A iniciativa tem o objetivo de facilitar a  aquisição de entradas por pessoas de outras cidades do Estado e do País. O Festival deste ano está dando descontos especiais aos estudantes da  União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Brasileira dos  Estudantes Secundaristas (UBES), que apresentarem carteririnhas de  associados. Os ingressos para a noite de abertura com o TMRJ e para a  noite especial com três grupos profissionais terão também desconto de  50% aos participantes do Festival. Mas essa promoção é válida somente  para as arquibancadas. Os clientes da Tim Celular, uma das patrocinadoras do Festival deste ano,  também têm desconto de 50% para até dois ingressos por noite, mediante  apresentação da conta telefônica de junho. Os bilhetes para a noite de  abertura custam: R$ 20,00 (cadeira estofada), R$ 10,00 (cadeira plástica)  e R$ 5,00 para as arquibancadas. A edição deste ano do Festival de Dança de Joinville, que começa hoje  com a apresentação de Giselle, com o Ballet do Theatro Municipal do Rio  de Janeiro, terá 11 noites. Dessas, oito serão competições com a  participação de 163 grupos e cerca de 4 mil bailarinos de todos os cantos  do Brasil, além de academias da Argentina e Paraguai, nas modalidades  ballet clássico, dança contemporânea, jazz, dança de rua, danças  populares, sapateado, solos, duos e trios livres. Detalhes que o público não conhece Montagem completa de "Giselle" exige uma  superprodução, com cuidados em cada detalhe. São  centenas de profissionais envolvidos Paulo César Ruiz Editor Assistente do ANFestival Quem conhece a dança clássica apenas através do Festival de Dança de  Joinville com certeza ainda não tomou pé de alguns detalhes fundamentais  da montagem de uma grande obra como "Giselle". Por ser um trabalho  coletivo ­ dentro e fora do palco ­, envolvendo dezenas e, às vezes,  centenas de profissionais entre equipe técnica e bailarinos, deve haver  organização. Não pode deixar correr frouxo. Além da equipe, tem o estoque infinito de  figurinos, adereços, cuidados, maquiagem, luz, enfim uma obra completa  de balé clássico não é, como sempre se viu em Joinville, só pas­de­deux,  pas­de­trois, codas, saltos, fouettés, mas tudo isso junto e mais, muito  mais. Para organizar essa superprodução é preciso profissionais  qualificados e experientes que conheçam os meandros do balé. Rojan  Cavina, da equipe de produção do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, é  uma dessas profissionais que está em Joinville para cuidar do que pode  parecer supérfluo: o guarda­roupa do Corpo de Baile.  "Tenho que saber quem veste o quê, verificar se as roupas estão em  ordem, se as bailarinas estão bem vestidas, maquiadas adequadamente aos  personagens que interpretam, se estão penteadas, se os sapatos estão  limpos", diz Rojan, ex bailarina do Corpo de Baile do Theatro Municipal  do Rio de Janeiro e mais de meio século de serviços prestados à dança  brasileira. Ela ingressou, "por concurso", no Municipal em 1946, aos 11  anos. E está até hoje. Mas ela gosta sempre de frisar: "Na realidade não  precisa de muita fiscalização, porque as bailarinas são profissionais, mas,  sobretudo, porque é uma questão de ordem".
  • 7. O seu trabalho é coordenar esses detalhes para evitar eventualidades,  imprevistos ou acidentes de percurso no momento em que os bailarinos  entram no palco. "Eles têm de estar impecáveis", ensina. Por suas  exigências, ela é chamada, pelas bailarinas e bailarinos do TM, de  "Sargento Rojan". Por brincadeira, é claro. "Já me agradeceram num  cartão de Natal. As meninas me imitam. Há uma relação muito próxima  com as bailarinas. São como minhas filhas. De vez em quando dá uma  bronca aqui, outra ali, mas na maioria das vezes a relação é carinhosa",  confessa, lisonjeada, Rojan. Na medida em que as meninas vão chegando ao palco, ela cuida de cada  detalhe, e vai acertando os possíveis problemas. O que facilita também o  trabalho é que Rojan fica com o raspador de solas de sapatilhas, e as  bailarinas passam e utilizam o equipamento antes de subirem ao palco. Do  espaço de tempo de sair do camarim e chegar ao palco, dá para perceber  se tem algum erro. Até nos primeiros bailarinos Rojan dá uma boa  observada. Claro que há uma deferência pelo fato de ser o primeiro  bailarino. "Primeiro bailarino não precisa ficar em cima, a garotada que é  um pouco mais rebelde", diz. Relógio Eles são como crianças. Quando distribui o saco de maquiagem, por  exemplo, se tiver um batom diferente do outro, um esmalte que não é da  mesma cor que os outros, dá uma crise de ataque de nervos nas bailarinas.  As casadas não querem tirar a aliança do dedo antes de entrar em cena.  Teve um caso até de um bailarino, esse mais folgado, que queria entrar  com relógio de pulso alegando que "não aparece". Pelo tira e não tira, o  recalcitrante bailarino tirou o relógio do pulso. Antes era terminantemente  proibido o uso desses objetos em cena. Agora as coisas estão mais  abertas. Para se ter uma idéia do nível de conhecimento que Rojan tem do elenco  do Corpo de Baile basta dizer que ela sabe exatamente a numeração dos  pés de todas as bailarinas, o número de cada sapatilha, quem tem o  mesmo corpo e pode usar a mesma roupa que outro, o tipo de sapato que  as meninas usam para cada espetáculo, o tamanho das meias. Enfim, tem o  controle sobre tudo. Ela sabe também, por exemplo, os cintos que devem  combinar com a cor das meias, com as botas, as luvas etc. "Giselle' não é muito difícil", diz Rojan, "porque o primeiro e o segundo ato  são bem especificados. Agora, se é uma montagem como "A Bela  Adormecida", espetáculo que fizeram no ano passado, as coisas são mais  complicadas". São mais de mil elementos: quatrocentos figurinos, só  roupas de vestir, mais adereços, sapatos, botas, e isso tudo tem que ser  muito organizado. Mas, pelo fato de ter dançado todos os grandes balés,  ela tira de letra. No primeiro ato de "Giselle", por exemplo, conta Rojan, as bailarinas, que  interpretam papéis de camponesas têm que estar com uma maquiagem  bem marcada. No término desse ato, há um intervalo de quinze minutos  para vestir as garotas, que devem tirar um pouco essa maquiagem, mudar  a cor do batom e do blush. Mas como elas já estão mais ou menos  pintadas no primeiro ato, só dá um retoque final para entrar em cena. Com  olhar de lince e paciência de mãe, ela verifica se as bailarinas e bailarinos  fizeram, a contento, essas mudanças. "É mais fácil ser bailarina que ficar atrás da cortina" Normalmente, há troca de bailarinas para o segundo ato, mas quando a  companhia está em viagem, as mesmas dançam os dois atos, pois é  preciso reduzir o elenco. E isso tudo deve ser sincronizado perfeitamente,  sem falhas. "É muito mais difícil ficar atrás da cortina. É bem mais fácil ser  bailarina. Porque você vai encontrar no armário sua roupa  meticulosamente pendurada no cabide, com nome, tudo bem organizado",  confessa Rojan. Por isso, raramente acontece algum problema na hora de  entrar em cena.
  • 8. Em Joinville, Rojan, para resolver qualquer eventualidade que possa  ocorrer durante a apresentação, divide o trabalho com uma camareira.  Cada uma fica de um lado do palco. Na hora da contra­regra, observa se  os véus estão lá, se as flores estão no lugar certo. Segundo Rojan, às  vezes acontece alguma emergência, como rasgar uma roupa. Mas, como  sabe o lado que as meninas saem do palco, ela age com rapidez. O  público nem percebe. O que pode acontecer, às vezes, é um bailarino que  estava ensaiando esquecer um véu, uma capa, ela tem que correr para  procurar. Ou então quando o colar da Giselle fica na contra­regra.  Na opinião de Rojan, o palco do Centro de Eventos Cau Hansen é muito  bom, tem mobilidade. Ela só tem uma reclamação: "o espaço é muito  grande, fica muito longe, acho até que as bailarinas tem que reforçar mais a  maquiagem". MAJESTADE No segundo ato de Giselle, a jovem estrela do corpo de baile do Theatro  Municipal do Rio de Janeiro, à direita, interpreta a altiva Myrtha, a rainha das  Willis, em duelo com a heroína Foto: Vânia Laranjeiros/Divulgação TM Renata Versiani, a Rainha das Almas Brancas Bailarina da nova geração do Theatro Municipal do Rio  vem se estacando em grandes papéis, revezando­se com  estrelas de primeiríssima grandeza Suzana Braga No palco ela ocupa a cena inteira, salta, quase voa, com uma impulsão  rara para uma mulher. É altiva, voluntariosa, guerreira e maliciosamente  feminina. Esta é Renata Versiani interpretando Myrtha, a Rainha das Willis.  Fora de cena, é uma jovem doce, de 22 anos, pele alva, cabelos negros  encaracolados e olhos azuis que demonstram vivacidade e, acima de tudo,  determinação. Renata Versiani é a bailarina da nova geração do Theatro Municipal do  Rio de Janeiro que mais vem se destacando nesses últimos dois anos e que  tem dançado quase todos os grandes papéis da companhia, revezando­se  com estrelas de primeiríssima grandeza, como Ana Botafogo. Renata  entrou para estagiar no Corpo de Baile aos 14 anos de idade e, aos 15, já  era bailarina profissional. Logo professores e coreógrafos abriram os olhos  para o jovem talento e Renata passou a ser escalada para solos e, como  consequência natural, para primeiros papéis. Dentre eles, a bailarina foi a  "eleita" para interpretar a personagem principal da "Sagração da  Primavera" (Stravinsky/Nijinsky), Effie (em "La Sylphide" ) e  Odette/Odille , em "O Lago dos Cisnes" (Tchaikovsky/ Petipa e Ivanov). Mas no momento Renata é pura concentração e desafio para com a  personagem Myrtha, a Rainha das Willis, a qual interpretará no palco do  Centro de Eventos Cau Hansen, hoje à noite, na estréia do 17º Festival de  Joinville. Concentração porque sabe de todas as dificuldades do papel e  quer se apresentar cada vez melhor, especialmente para um público que  nunca a assistiu. Desafio porque Myrtha é uma personagem destinada a  uma primeira bailarina e que duela com a heroína Giselle, tendo apenas o  segundo ato do balé para mostrar tudo o que sabe e o que pode. E neste  caso, a jovem Versiani terá pela frente nada mais, nada menos, do que  Ana Botafogo como Giselle.
  • 9. Mas a moça não se acovarda. "Eu adoro dançar com a Ana, ela me  estimula, ela é uma bailarina incrível. No segundo ato de Giselle ela me  olha, ela pede, suplica pela vida do seu amado (Albrecht) Intrepreta de tal  forma que chega a 'viver' a personagem. Isso me estimula muito e não  tenho como deixar por menos, encaro a cena e vou 'vivendo' também.  Afinal o sonho de toda a Myrtha é acabar com a Giselle", brinca Versiani,  e arremata. "Entretanto se algum dia isso acontecer vou dizer: ­ Sinto muito  Ana mas é graças a você que a minha Myrtha engoliu a sua Giselle.  Dançar com a Ana é uma verdadeira aula", explica Renata. Interpretação A bailarina continua narrando a forma que utiliza para compor a sua  interpretação. "A Myrtha só entra no segundo ato então, já pronta, vou  para a coxia assistir a 'cena da loucura' da Giselle. Ela me inspira, me  enche de energia. É verdade que chego a tremer ­ confessa a jovem ­, mas  não entro nessa onda. Quando piso na cena o medo ficou na coxia. E  entro consciente de que naquele território (o das Willis) quem manda sou  eu. É a Myrtha quem vai determinar a ação do segundo ato", explica  Versiani e acrescenta mais detalhes enriquecedores para o público.  "Bailarinos também pensam em cena. De repente passa pela minha cabeça  um pensamento: Quem é "aquelazinha" ( Giselle) que acabou de entrar no  meu mundo e já está me afrontando? É assim que seguro a altivez da  minha personagem. Nessa hora esqueço que estou diante de uma estrela,  de um corpo de baile completo, das hierarquias , de bailarinos convidados  ou do que mais vier", completa Renata. A propósito a jovem estrela disse que nunca sentiu medo ou amarelou ao  contracenar com astros famosos. "Acho que se me escalam e me colocam  para contracenar com pessoas desse peso artístico é porque devo estar à  altura. Não posso me entregar ao medo. Sei que uma estrela como a Ana,  por exemplo, têm de sustentar todo um balé, todo um corpo de baile. E  ela sustenta. É admirável porque quanto mais ela vai dando mais o elenco  vai respondendo. Mas eu também sou responsável por carregar esse balé,  tenho de dar conta do meu 'exército' de almas brancas e tenho de manter a  Giselle submissa. Então personagens principais têm de serem cúmplices,  um vai crescendo com o outro", finaliza. Esta é a primeira vez que Renata Versiani dança em Joinville. A propósito,  nunca esteve sequer na cidade. " Me sinto como um ET por nunca ter  passado por Joinville. As únicas coisas que imagino sobre a cidade é que  deve fazer muito frio, o que me preocupa, e que respire dança por todos  os cantos, isso é ótimo". Conta ainda a bailarina que está um pouco ansiosa para pisar no palco de  Joinville. "Fazer um primeiro papel na "cidade da dança" é uma grande  responsabilidade. Estou ciente do peso que o palco de Joinville adquiriu  com esse festival que se tornou internacional". A ausência de Renata Versiani nos festivais de Joinville é justificável. "Eu  nunca participei de nenhum concurso. Posso explicar essa fato porque  curti muito bem a minha adolescência, eu gostava de aproveitar a vida, de  passear, de ir para boates, namorar. Em suma, eu não vivi uma  adolescência de bailarina e, quando me dei conta de que queria me tornar  uma profissional, já estava com 14 anos, estagiando no Corpo de Baile do  TM" explica a jovem. Mas se Renata tem toda essa segurança e altivez no  palco, independente da sua pouca idade, na vida real as coisas não são  bem assim. Dividir o camarim com Ana Botafogo, como aconteceu na recente  temporada do TM, não deixou Renata exatamente à vontade. "Foi muito  bom, tive conselhos e diria que "aulas" extras, mas ainda fico "grilada". A  toda a hora perguntava para a Ana se a estava incomodando, deixava o  chuveiro primeiro para ela, pisava um pouco em ovos. Sim, continua,  porque quando entrei no Theatro a Ana para mim era uma deusa, nem  ousava me aproximar. Com o tempo a própria cumplicidade cênica que  ela me cobrou, acabou por nos aproximar e acabou no dia­adia".  A jovem sabe que é, de maneira sutil, a "eleita" da superestrela Ana  Botafogo na safra de novos bailarinos. "É verdade, ela me orienta, me 
  • 10. protege, sinto que gosta muito de mim. Nos aproximamos na temporada  de "O Lago dos Cisnes". As primeiras bailarinas têm muito a ensinar para  os jovens e, nessa temporada, a Ana me ensaiava, discutia o papel  comigo. Mas não foi só a Ana, contei também com a valiosa colaboração de  Bertha Rosanova e Cristina Martinelli. Quero essas três como minhas  mestras pelo resto da vida", fala com entusiasmo. Por sinal, entusiasmo é o que não falta em Renata Versiani. "Eu sou pau  pra toda a obra, o que eu quero mesmo é trabalhar, quero dançar e quero  e vou ser uma primeira bailarina. Quando chega um professor ou um  coreógrafo para montar alguma obra para o Corpo de Baile , lá estou eu  na frente. Me coloco na primeira fila, quero aprender, quero comer tudo e  um pouco mais, procuro sempre fugir do vício do funcionário público,  jamais faço corpo mole ou digo um não. Acho que é por isso que, graças  a Deus, dancei tanto nas últimas temporadas", diz feliz. Outro desafio que bate diariamente na cabeça de Renata é: "ser uma  bailarina conhecida no meu país. Quero dançar fora também, mas primeiro  quero dançar muito aqui no Brasil, sou uma nacionalista apaixonada. O  ideal seria ser um mix de Ana Botafogo com Cecília Kerche, mas já que  não sou nem uma nem a outra quero ser a Renata Versiani". E Renata  comenta feliz que atualmente alunas da Escola Estadual de Dança Maria  Olenewa (onde fez a sua formação) já a reconhecem e o melhor, "muitas  delas já vão me ver dançar e dizem que , quando crescerem, querem ser  como a Renata". É essa a bailarina de técnica impecável que estará hoje, no palco do  Festival de Joinville comandando o 2º ato do balé "Giselle". Renata  Versiani que adora dançar num palco grande para que os seus 1m68cm.,  seus 51 kg, e seus saltos poderosos possam percorrer a vontade o  espaço. Uma bailarina forte, de alma romântica, que adora papéis  fleamáticos e que promete brilhar. "Tem lugar para todo o mundo na vida,  desde que tenha o meu". 17º Festival de Dança de Joinville ­ 1999 De 20 a 30 de julho Programação Regulamento Noticiário Leia também: 16º Festival de Dança de Joinville  ­ 1998 Copyright © 1998  A Notícia  ­ Todos os direitos reservados  ­ Telefone: 055­047 431 9000  ­ Fax: 055 ­047 431 9100   Rua Caçador, 112 ­ CEP 89203 ­610 ­ Caixa Postal: 2  ­ 89201­972 ­ Joinville  ­ Santa Catarina ­ BRASIL . .