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SOCIEDADE
“O 25 de novembro a Norte aconteceu em
Setembro”
29.12.2016 às 11h25 ! 9
" # $ %
Quando começou o 25 de novembro a Norte? Qual o impacto da rede
bombista? Porque ficaram impunes os seus cérebros? Houve militantes
de esquerda com cruzes pintadas nas portas? Que importância teve o
cerco ao congresso do CDS? O afastamento de Corvacho e a chegada de
25 NOVEMBRO Livro lança um olhar sobre o verão quente no Norte do país
FOTOS ARQUIVO A CAPITAL/IP
&
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D
Pires Veloso ao comando da RMN marcam o princípio do fim de quê?
Num livro raro num militante comunista, Jorge Sarabando procura
respostas em “O 25 de Novembro a Norte”
VALDEMAR CRUZ
o 25 de novembro de 1975 diz-se com frequência constituir o momento
da normalização democrática em Portugal. Quando se fala daquela data
evocam-se os acontecimentos de Lisboa e o modo como na capital se
viveu o culminar de um processo. Esquece-se quase sempre a
circunstância de no Norte e no Centro do país, haver uma outra história para
contar, feita de violências várias, colocação de bombas, mortes, assaltos a sedes de
partidos de esquerda, que continuaram muito para lá daquela data.
Num livro raro num militante comunista, em que faz questão de frisar serem seus
os juízos, bem como a responsabilidade pelas apreciações feitas, Jorge Sarabando,
membro do Comité Central do PCP entre 1988 e 2008, um dos responsáveis pela
Direção da Organização Regional do Porto e da Comissão Nacional para as
Questões da Cultura, faz uma viagem ao processo revolucionário durante o ano de
1975.
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O livro pretende constituir uma visão alternativa do discurso dos vencedores do
25 de novembro?
Sim, dos vencedores de ocasião. Por um lado é a tentativa de reconstituir aquele
período mais criador da Revolução portuguesa, nos seus dois anos iniciais e que
culminou com a promulgação da Constituição da República. Por outro lado é uma
forma de prestar justiça a alguns militares do MFA que tiveram um papel decisivo
neste processo, sendo que muitos deles foram injustiçados.
O 25 de novembro de 1975 é em geral apresentado como o momento da
normalização democrática, mas o livro revela que o último ato da chamada rede
bombista, cuja ação foi essencialmente a Norte, acontece apenas em 1977. Nada
foi assim tão pacífico como parece?
A rede terrorista prosseguiu os seus atentados e até alguns dos mais mortíferos,
com vítimas mortais, aconteceram já depois do 25 de novembro. O último ato é de
abril de 1977, o que perfaz quase dois anos desde a primeira ação do ELP (Exército
de Libertação de Portugal) em Bragança.
Comunista Jorge Sarabando junto ao Quartel General, no Porto
LUCÍLIA MONTEIRO
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Porque é que acontece essa extensão no tempo?
A rede terrorista não ficou satisfeita com o desfecho do 25 de novembro e como
dizia um dos seus chefes, o comandante Alpoim Calvão, de facto houve uma
clarificação militar, mas não uma clarificação política. Para a haver, prosseguiram
os atentados. Foram 566 no total, segundo o levantamento que foi possível fazer a
partir da imprensa e do livro “Dossier Terrorismo”.
Desses 566 atentados, quanto ocorreram até o 25 de novembro?
Sensivelmente metade. Os primeiros seis meses, até o 25 de novembro, englobam
cerca de metade desses atentados e a sua localização foi nos distritos do Norte e
Centro do país. Curiosamente, depois do 25 de novembro, o epicentro deslocou-se
para Lisboa.
Como é que, não obstante tantos atentados, com mortos, muitos feridos, muita
destruição de bens materiais, quase não houve presos?
A justiça tem os seus escaninhos. Um depoimento de um bombista confesso,
Ramiro Moreira, acabou por ser judicialmente anulado. O depoimento foi
publicado na altura no “Diário de Lisboa”. Todavia não teve as consequências
judiciais que a gravidade dos atos cometidos poderia merecer. Basta dizer que um
dos elementos mais citados, o major Mota Freitas, que tinha saído da cadeia pouco
tempo antes, esteve na tribuna de honra do 1º aniversário do 25 de novembro,
junto ao Quartel General, no Porto, convidado pelo seu amigo brigadeiro Pires
Veloso.
O livro segue uma ordem cronológica, e um dos primeiros grandes momentos
citados para dar uma ideia do ambiente que então se vivia, é o cerco ao
congresso do CDS, no Palácio de Cristal. Mantém uma visão muito crítica do
que lá se passou. Corresponde à posição do PCP na época?
O que expresso são as minhas opiniões, que só a mim responsabilizam. Aquilo foi
um ato provocatório, concebido com esse propósito. Isso não quer dizer que todos
aqueles que participaram, e foram milhares, sobretudo jovens, fossem
provocadores. Havia uma genuína rejeição do fascismo. Muitos jovens, sobretudo
de esquerda, até a Juventude Socialista - mais tarde desautorizada pelo PS -
assinaram uma convocatória em conjunto com a LCI, a L.U.A.R,. o Movimento da
Esquerda Socialista e o Partido Revolucionário do Proletariado - Brigadas
Revolucionárias (PRP-BR). Houve várias convocatórias. Por parte do PCP o esforço
foi para que não houvesse lá nenhum militante comunista, e até houve alguns
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militantes que foram destacados para irem lá buscar algum que por lá andasse.
Serviu muito bem os propósitos da direita, que era criar um clima de terra
queimada, de falta de liberdades. A imagem de Portugal que foi dada junto das
chancelarias europeias e norte-americana foi de intranquilidade falta de
liberdades democráticas, traduzida no facto de um partido nascido depois do 25 de
abril - o CDS - não ter condições, sequer para realizar um congresso.
São ações como esta que caucionam o aparecimento de movimentos de direita e
A rede bombista foi particularmente ativa no Norte e no Centro do país
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muito ligados à hierarquia da igreja católica, como o “Maria da Fonte”, que se
reivindicavam como genuínas emanações populares?
Tudo isto ajudava a constituir a ideia de que não havia liberdades democráticas em
Portugal. É o caso da Rádio Renascença, ocupada por alguns dos seus
trabalhadores, ao ponto de os do Porto cortarem com os de Lisboa e tomarem
posição favorável ao Conselho de Administração. Depois há o caso República.
Quando o primeiro-ministro Vasco Gonçalves foi a uma reunião da NATO, a
pergunta que lhe fazem é sobre o caso do jornal República. Tudo isto vai no sentido
de considerar que Portugal estava a viver uma situação anormal, em que as
liberdades democráticas não estavam a ser respeitadas. Um dado curioso é que,
neste processo, o PCP tem sempre as costas muito largas.
Isso explica situações gravíssimas, como o famosos assalto ao Centro de
Trabalho do PCP em Famalicão, ou o cerco ao CT de Aveiro?
Nestas tentativas de assalto começavam sempre por provocar um início de
incêndio, para obrigar as pessoas a sair. Em Aveiro não resultou, mas resultou
noutros sítios. A questão não era apenas o assalto aos Centros de Trabalho. A
verdade é que incendiavam, assaltavam, mas passado algum tempo já estava tudo
reconstruído. Houve coisas bem piores, designadamente em Famalicão, onde
alguns militantes encontraram uma cruz pintada na porta das suas casas. Era um
sinal de destruição ou vingança, por serem comunistas, ou simpatizante. Houve
muitas pessoas que se foram embora. Foram para o sul, porque já não conseguiam
aguentar a pressão, as ameaças sobre as suas vidas. No caso de Aveiro conto a
história de um jovem casal que naquele dia foi ao CT e tinha o carro estacionado à
porta. Pegaram fogo ao carro, num ato cobarde. Passados uns dias houve uma
manifestação em Oliveira do Bairro para tirar da Câmara um dos seus membros, o
Dr. Fernando Peixinho, médico prestigiado, que faleceu há pouco tempo. Nessa
altura, a casa desse casal também foi saqueada. Era isto o povo? É a reflexão que
coloco neste livro. Foi o povo português que se levantou contra o PCP e as forças de
esquerda? Não. Veja-se o chamado Exército de Libertação de Fermentelos, que
andava de terra em terra para retirar de lá os autarcas de esquerda, ou para colocar
fogo aos Centros de Trabalho. Aí sim, houve falta de liberdades democráticas, mas
como as vítimas eram forças de esquerda ou os sindicatos, era descrito como um
levantamento popular. Daí movimentos como “Maria da Fonte”.
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O ataque à sede do PCP em Famalicão foi particularmente violento e um dos
mais graves?
Sim, porque houve duas vítimas mortais.Um dos defensores do CT e uma pessoa
que podemos pensar que estava do lado dos atacantes, embora o disparo, tanto
quanto foi possível reconstituir, tenha sido de um militar do regimento de Braga.
Muitas vezes as forças não estavam preparadas para operações de ordem pública.
Em Aveiro uma das vítimas foi um soldado que estava na equipa do Regimento de
Infantaria que procurava proteger o CT do PCP. Faleceu vítima de uma bala perdida
e durante muitos anos a Comissão Concelhia do PCP de Aveiro organizou uma
romagem à campa desse soldado.
Percebe-se ao longo do livro uma simpatia pelo brigadeiro Eurico Corvacho,
O ataque a sedes de partidos de esquerda era uma constante
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comandante da Região Militar Norte...
O brigadeiro Corvacho foi comandante no período em que foram presos elementos
ligados ao ELP, e em que toda a operação do ELP foi denunciada. Revelou uma
extraordinária coragem, tanto dele, como os militares que estavam na 2ª
Repartição, que fizeram o combate ao que já era o gérmen da rede terrorista. Tudo
foi movido para que fosse destituído, o que veio a acontecer já no princípio de
setembro de 1975 no seguimento do pronunciamento de Tancos. Havia uma
grande simpatia dos trabalhadores e do povo do Porto para com o brigadeiro
Corvacho. Não foi por acaso que um jornalista do Jornal de Notícias, depois seu
diretor, José Saraiva, militante do PS, veio lamentar num artigo no jornal que o PS
se tivesse juntado à conspiração que levou à queda de Corvacho. O 25 de
novembro, no Porto, ocorreu no verão, no início de setembro.
Porquê?
Houve um conjunto de acusações que levaram a que o brigadeiro Corvacho
solicitasse ao Conselho da Revolução, do qual era membro, que fizesse um
inquérito à sua atividade. O inquérito, feito pelo brigadeiro Agostinho Ferreira,
durou duas semanas e ilibou o brigadeiro Corvacho. No final de agosto retomou as
suas funções de comando. É então que ocorre a insubordinação de comandantes de
unidades da Região Militar Norte, que vão colocar-se às ordens do comandante da
Região Militar Centro, o brigadeiro Franco Charais. É uma situação anormal. Isso
só ocorreu porque houve um trabalho de uma parte do Grupo dos Nove sem o qual
essa oficialidade mais conservadora não teria podido ir tão longe.
Insubordinaram-se e não foram punidos por isso. Quando cá chegou o novo
comandante, escolhido numa lista de quatro nomes possíveis indicada pelos
insubordinados, uma das primeiras medidas foi correr com a equipa da 2ª
Repartição, que tinha sido responsável pelo combate à rede terrorista.
É então que entra em cena Pires Veloso?
Assim é. Pires Veloso foi mais longe do que alguns dos seus apoiantes ocasionais
esperavam. Desde logo o conjunto de medidas que de imediato tomou, como a
extinção do quartel CICAP numa operação relâmpago. O facto de transferir 400
espingardas G3 para a PSP. Além de ter criado uma Comissão de Economia, em que
uma das suas primeiras medidas foi pedir o descongelamento das contas
bancárias, que tinham sido congeladas por razões que o Banco de Portugal saberia.
Foram medidas cirúrgicas. Vinham em carteira. Tentou levar o mais longe possível
os saneamentos à esquerda. O 25 de novembro, naquilo que significa de alteração
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de correlação de forças, a Norte já tinha acontecido em setembro.
Tudo isso após um mês de agosto particularmente violento?
Pois foi. A conspiração contra o brigadeiro Corvacho desenrola-se no mês de
agosto, com muitos atentados bombistas. O distrito do Porto esteve sempre no
'top' dos atentados, mas acontecem os assaltos aos centros de trabalhos, às sedes
sindicais, que na verdade têm um pico em julho e agosto. Depois, a ação da rede
terrorista começa a centrar-se mais nos atentados bombistas. Alguns deles são
movidos por um certo ódio à cultura. Houve o atentado contra a cooperativa
Árvore, contra a livraria “Avante!”. Lembro o ataque, com recurso à metralhadora,
à livraria “Víctor”, em Braga, os ataques a algumas coletividades. Gente ligada ao
mundo da cultura teve os seus carros destruídos. Outros foram perseguidos.
E no dia 25 de novembro, também houve violência a Norte?
Na própria noite do 25 de novembro três carros de três destacados democratas do
Porto foram pelos ares.
Manifestação frente à Reitoria da Universidade do Porto
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REVOLUÇÃO BRAGA CT ALPOIM CALVÃO PARTIDOS E MOVIMENTOS FAMALICÃO GOVERNO (SISTEMA)
PIRES VELOSO AGOSTO LISBOA PORTUGAL NORTE 25 DE NOVEMBRO
GUERRA E PAZ / FORÇA ARMADA / EXÉRCITO CENTROS DE TRABALHO ELP JORGE SARABANDO CHILE
REPARTIÇÃO POLÍTICA EUROPA AVEIRO SUV CDS PORTO PS
O que se podia esperar?
Hoje sabemos, através das palavras de Alpoim Calvão, de Paradela de Abreu e de
outros 'heróis' da direita, que estavam preparados grupos capazes de executar
quem quer que fosse. Até onde estavam dispostos a ir, eles próprios o dizem. O
próprio presidente da República, general Costa Gomes, diz num discurso que
'Portugal não será o Chile da Europa'. Viviam-se momentos de grande gravidade.
Naquele contexto e com as suas especificidades, surgem movimentos como os SUV
(Soldados Unidos Vencerão), uma organização nascida no Porto, e que dura apenas
três meses, mas que organizou grandes manifestações. A esquerda, na sua grande
parte, esteve com os SUV, mesmo no dia 27 de novembro, quando os
acontecimentos já se tinham desencadeado. Hoje é fácil dizer que Portugal não foi
o Chile da Europa, mas a história tem este lado perverso. Na altura não se sabia o
que ia acontecer. O sentimento de defesa de uma Revolução que estava a ser
atacada foi o que levou dezenas de milhar de pessoas à rua.
Entrevista publicada na edição do Expresso Diário de 28/12/2015
Palavras-chave
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  • 2. 05/01/16, 15:46Expresso | “O 25 de novembro a Norte aconteceu em Setembro” Página 2 de 11http://expresso.sapo.pt/sociedade/2015-12-29-O-25-de-novembro-a-Norte-aconteceu-em-Setembro D Pires Veloso ao comando da RMN marcam o princípio do fim de quê? Num livro raro num militante comunista, Jorge Sarabando procura respostas em “O 25 de Novembro a Norte” VALDEMAR CRUZ o 25 de novembro de 1975 diz-se com frequência constituir o momento da normalização democrática em Portugal. Quando se fala daquela data evocam-se os acontecimentos de Lisboa e o modo como na capital se viveu o culminar de um processo. Esquece-se quase sempre a circunstância de no Norte e no Centro do país, haver uma outra história para contar, feita de violências várias, colocação de bombas, mortes, assaltos a sedes de partidos de esquerda, que continuaram muito para lá daquela data. Num livro raro num militante comunista, em que faz questão de frisar serem seus os juízos, bem como a responsabilidade pelas apreciações feitas, Jorge Sarabando, membro do Comité Central do PCP entre 1988 e 2008, um dos responsáveis pela Direção da Organização Regional do Porto e da Comissão Nacional para as Questões da Cultura, faz uma viagem ao processo revolucionário durante o ano de 1975.
  • 3. 05/01/16, 15:46Expresso | “O 25 de novembro a Norte aconteceu em Setembro” Página 3 de 11http://expresso.sapo.pt/sociedade/2015-12-29-O-25-de-novembro-a-Norte-aconteceu-em-Setembro O livro pretende constituir uma visão alternativa do discurso dos vencedores do 25 de novembro? Sim, dos vencedores de ocasião. Por um lado é a tentativa de reconstituir aquele período mais criador da Revolução portuguesa, nos seus dois anos iniciais e que culminou com a promulgação da Constituição da República. Por outro lado é uma forma de prestar justiça a alguns militares do MFA que tiveram um papel decisivo neste processo, sendo que muitos deles foram injustiçados. O 25 de novembro de 1975 é em geral apresentado como o momento da normalização democrática, mas o livro revela que o último ato da chamada rede bombista, cuja ação foi essencialmente a Norte, acontece apenas em 1977. Nada foi assim tão pacífico como parece? A rede terrorista prosseguiu os seus atentados e até alguns dos mais mortíferos, com vítimas mortais, aconteceram já depois do 25 de novembro. O último ato é de abril de 1977, o que perfaz quase dois anos desde a primeira ação do ELP (Exército de Libertação de Portugal) em Bragança. Comunista Jorge Sarabando junto ao Quartel General, no Porto LUCÍLIA MONTEIRO
  • 4. 05/01/16, 15:46Expresso | “O 25 de novembro a Norte aconteceu em Setembro” Página 4 de 11http://expresso.sapo.pt/sociedade/2015-12-29-O-25-de-novembro-a-Norte-aconteceu-em-Setembro Porque é que acontece essa extensão no tempo? A rede terrorista não ficou satisfeita com o desfecho do 25 de novembro e como dizia um dos seus chefes, o comandante Alpoim Calvão, de facto houve uma clarificação militar, mas não uma clarificação política. Para a haver, prosseguiram os atentados. Foram 566 no total, segundo o levantamento que foi possível fazer a partir da imprensa e do livro “Dossier Terrorismo”. Desses 566 atentados, quanto ocorreram até o 25 de novembro? Sensivelmente metade. Os primeiros seis meses, até o 25 de novembro, englobam cerca de metade desses atentados e a sua localização foi nos distritos do Norte e Centro do país. Curiosamente, depois do 25 de novembro, o epicentro deslocou-se para Lisboa. Como é que, não obstante tantos atentados, com mortos, muitos feridos, muita destruição de bens materiais, quase não houve presos? A justiça tem os seus escaninhos. Um depoimento de um bombista confesso, Ramiro Moreira, acabou por ser judicialmente anulado. O depoimento foi publicado na altura no “Diário de Lisboa”. Todavia não teve as consequências judiciais que a gravidade dos atos cometidos poderia merecer. Basta dizer que um dos elementos mais citados, o major Mota Freitas, que tinha saído da cadeia pouco tempo antes, esteve na tribuna de honra do 1º aniversário do 25 de novembro, junto ao Quartel General, no Porto, convidado pelo seu amigo brigadeiro Pires Veloso. O livro segue uma ordem cronológica, e um dos primeiros grandes momentos citados para dar uma ideia do ambiente que então se vivia, é o cerco ao congresso do CDS, no Palácio de Cristal. Mantém uma visão muito crítica do que lá se passou. Corresponde à posição do PCP na época? O que expresso são as minhas opiniões, que só a mim responsabilizam. Aquilo foi um ato provocatório, concebido com esse propósito. Isso não quer dizer que todos aqueles que participaram, e foram milhares, sobretudo jovens, fossem provocadores. Havia uma genuína rejeição do fascismo. Muitos jovens, sobretudo de esquerda, até a Juventude Socialista - mais tarde desautorizada pelo PS - assinaram uma convocatória em conjunto com a LCI, a L.U.A.R,. o Movimento da Esquerda Socialista e o Partido Revolucionário do Proletariado - Brigadas Revolucionárias (PRP-BR). Houve várias convocatórias. Por parte do PCP o esforço foi para que não houvesse lá nenhum militante comunista, e até houve alguns
  • 5. 05/01/16, 15:46Expresso | “O 25 de novembro a Norte aconteceu em Setembro” Página 5 de 11http://expresso.sapo.pt/sociedade/2015-12-29-O-25-de-novembro-a-Norte-aconteceu-em-Setembro militantes que foram destacados para irem lá buscar algum que por lá andasse. Serviu muito bem os propósitos da direita, que era criar um clima de terra queimada, de falta de liberdades. A imagem de Portugal que foi dada junto das chancelarias europeias e norte-americana foi de intranquilidade falta de liberdades democráticas, traduzida no facto de um partido nascido depois do 25 de abril - o CDS - não ter condições, sequer para realizar um congresso. São ações como esta que caucionam o aparecimento de movimentos de direita e A rede bombista foi particularmente ativa no Norte e no Centro do país
  • 6. 05/01/16, 15:46Expresso | “O 25 de novembro a Norte aconteceu em Setembro” Página 6 de 11http://expresso.sapo.pt/sociedade/2015-12-29-O-25-de-novembro-a-Norte-aconteceu-em-Setembro muito ligados à hierarquia da igreja católica, como o “Maria da Fonte”, que se reivindicavam como genuínas emanações populares? Tudo isto ajudava a constituir a ideia de que não havia liberdades democráticas em Portugal. É o caso da Rádio Renascença, ocupada por alguns dos seus trabalhadores, ao ponto de os do Porto cortarem com os de Lisboa e tomarem posição favorável ao Conselho de Administração. Depois há o caso República. Quando o primeiro-ministro Vasco Gonçalves foi a uma reunião da NATO, a pergunta que lhe fazem é sobre o caso do jornal República. Tudo isto vai no sentido de considerar que Portugal estava a viver uma situação anormal, em que as liberdades democráticas não estavam a ser respeitadas. Um dado curioso é que, neste processo, o PCP tem sempre as costas muito largas. Isso explica situações gravíssimas, como o famosos assalto ao Centro de Trabalho do PCP em Famalicão, ou o cerco ao CT de Aveiro? Nestas tentativas de assalto começavam sempre por provocar um início de incêndio, para obrigar as pessoas a sair. Em Aveiro não resultou, mas resultou noutros sítios. A questão não era apenas o assalto aos Centros de Trabalho. A verdade é que incendiavam, assaltavam, mas passado algum tempo já estava tudo reconstruído. Houve coisas bem piores, designadamente em Famalicão, onde alguns militantes encontraram uma cruz pintada na porta das suas casas. Era um sinal de destruição ou vingança, por serem comunistas, ou simpatizante. Houve muitas pessoas que se foram embora. Foram para o sul, porque já não conseguiam aguentar a pressão, as ameaças sobre as suas vidas. No caso de Aveiro conto a história de um jovem casal que naquele dia foi ao CT e tinha o carro estacionado à porta. Pegaram fogo ao carro, num ato cobarde. Passados uns dias houve uma manifestação em Oliveira do Bairro para tirar da Câmara um dos seus membros, o Dr. Fernando Peixinho, médico prestigiado, que faleceu há pouco tempo. Nessa altura, a casa desse casal também foi saqueada. Era isto o povo? É a reflexão que coloco neste livro. Foi o povo português que se levantou contra o PCP e as forças de esquerda? Não. Veja-se o chamado Exército de Libertação de Fermentelos, que andava de terra em terra para retirar de lá os autarcas de esquerda, ou para colocar fogo aos Centros de Trabalho. Aí sim, houve falta de liberdades democráticas, mas como as vítimas eram forças de esquerda ou os sindicatos, era descrito como um levantamento popular. Daí movimentos como “Maria da Fonte”.
  • 7. 05/01/16, 15:46Expresso | “O 25 de novembro a Norte aconteceu em Setembro” Página 7 de 11http://expresso.sapo.pt/sociedade/2015-12-29-O-25-de-novembro-a-Norte-aconteceu-em-Setembro O ataque à sede do PCP em Famalicão foi particularmente violento e um dos mais graves? Sim, porque houve duas vítimas mortais.Um dos defensores do CT e uma pessoa que podemos pensar que estava do lado dos atacantes, embora o disparo, tanto quanto foi possível reconstituir, tenha sido de um militar do regimento de Braga. Muitas vezes as forças não estavam preparadas para operações de ordem pública. Em Aveiro uma das vítimas foi um soldado que estava na equipa do Regimento de Infantaria que procurava proteger o CT do PCP. Faleceu vítima de uma bala perdida e durante muitos anos a Comissão Concelhia do PCP de Aveiro organizou uma romagem à campa desse soldado. Percebe-se ao longo do livro uma simpatia pelo brigadeiro Eurico Corvacho, O ataque a sedes de partidos de esquerda era uma constante
  • 8. 05/01/16, 15:46Expresso | “O 25 de novembro a Norte aconteceu em Setembro” Página 8 de 11http://expresso.sapo.pt/sociedade/2015-12-29-O-25-de-novembro-a-Norte-aconteceu-em-Setembro comandante da Região Militar Norte... O brigadeiro Corvacho foi comandante no período em que foram presos elementos ligados ao ELP, e em que toda a operação do ELP foi denunciada. Revelou uma extraordinária coragem, tanto dele, como os militares que estavam na 2ª Repartição, que fizeram o combate ao que já era o gérmen da rede terrorista. Tudo foi movido para que fosse destituído, o que veio a acontecer já no princípio de setembro de 1975 no seguimento do pronunciamento de Tancos. Havia uma grande simpatia dos trabalhadores e do povo do Porto para com o brigadeiro Corvacho. Não foi por acaso que um jornalista do Jornal de Notícias, depois seu diretor, José Saraiva, militante do PS, veio lamentar num artigo no jornal que o PS se tivesse juntado à conspiração que levou à queda de Corvacho. O 25 de novembro, no Porto, ocorreu no verão, no início de setembro. Porquê? Houve um conjunto de acusações que levaram a que o brigadeiro Corvacho solicitasse ao Conselho da Revolução, do qual era membro, que fizesse um inquérito à sua atividade. O inquérito, feito pelo brigadeiro Agostinho Ferreira, durou duas semanas e ilibou o brigadeiro Corvacho. No final de agosto retomou as suas funções de comando. É então que ocorre a insubordinação de comandantes de unidades da Região Militar Norte, que vão colocar-se às ordens do comandante da Região Militar Centro, o brigadeiro Franco Charais. É uma situação anormal. Isso só ocorreu porque houve um trabalho de uma parte do Grupo dos Nove sem o qual essa oficialidade mais conservadora não teria podido ir tão longe. Insubordinaram-se e não foram punidos por isso. Quando cá chegou o novo comandante, escolhido numa lista de quatro nomes possíveis indicada pelos insubordinados, uma das primeiras medidas foi correr com a equipa da 2ª Repartição, que tinha sido responsável pelo combate à rede terrorista. É então que entra em cena Pires Veloso? Assim é. Pires Veloso foi mais longe do que alguns dos seus apoiantes ocasionais esperavam. Desde logo o conjunto de medidas que de imediato tomou, como a extinção do quartel CICAP numa operação relâmpago. O facto de transferir 400 espingardas G3 para a PSP. Além de ter criado uma Comissão de Economia, em que uma das suas primeiras medidas foi pedir o descongelamento das contas bancárias, que tinham sido congeladas por razões que o Banco de Portugal saberia. Foram medidas cirúrgicas. Vinham em carteira. Tentou levar o mais longe possível os saneamentos à esquerda. O 25 de novembro, naquilo que significa de alteração
  • 9. 05/01/16, 15:46Expresso | “O 25 de novembro a Norte aconteceu em Setembro” Página 9 de 11http://expresso.sapo.pt/sociedade/2015-12-29-O-25-de-novembro-a-Norte-aconteceu-em-Setembro de correlação de forças, a Norte já tinha acontecido em setembro. Tudo isso após um mês de agosto particularmente violento? Pois foi. A conspiração contra o brigadeiro Corvacho desenrola-se no mês de agosto, com muitos atentados bombistas. O distrito do Porto esteve sempre no 'top' dos atentados, mas acontecem os assaltos aos centros de trabalhos, às sedes sindicais, que na verdade têm um pico em julho e agosto. Depois, a ação da rede terrorista começa a centrar-se mais nos atentados bombistas. Alguns deles são movidos por um certo ódio à cultura. Houve o atentado contra a cooperativa Árvore, contra a livraria “Avante!”. Lembro o ataque, com recurso à metralhadora, à livraria “Víctor”, em Braga, os ataques a algumas coletividades. Gente ligada ao mundo da cultura teve os seus carros destruídos. Outros foram perseguidos. E no dia 25 de novembro, também houve violência a Norte? Na própria noite do 25 de novembro três carros de três destacados democratas do Porto foram pelos ares. Manifestação frente à Reitoria da Universidade do Porto
  • 10. 05/01/16, 15:46Expresso | “O 25 de novembro a Norte aconteceu em Setembro” Página 10 de 11http://expresso.sapo.pt/sociedade/2015-12-29-O-25-de-novembro-a-Norte-aconteceu-em-Setembro REVOLUÇÃO BRAGA CT ALPOIM CALVÃO PARTIDOS E MOVIMENTOS FAMALICÃO GOVERNO (SISTEMA) PIRES VELOSO AGOSTO LISBOA PORTUGAL NORTE 25 DE NOVEMBRO GUERRA E PAZ / FORÇA ARMADA / EXÉRCITO CENTROS DE TRABALHO ELP JORGE SARABANDO CHILE REPARTIÇÃO POLÍTICA EUROPA AVEIRO SUV CDS PORTO PS O que se podia esperar? Hoje sabemos, através das palavras de Alpoim Calvão, de Paradela de Abreu e de outros 'heróis' da direita, que estavam preparados grupos capazes de executar quem quer que fosse. Até onde estavam dispostos a ir, eles próprios o dizem. O próprio presidente da República, general Costa Gomes, diz num discurso que 'Portugal não será o Chile da Europa'. Viviam-se momentos de grande gravidade. Naquele contexto e com as suas especificidades, surgem movimentos como os SUV (Soldados Unidos Vencerão), uma organização nascida no Porto, e que dura apenas três meses, mas que organizou grandes manifestações. A esquerda, na sua grande parte, esteve com os SUV, mesmo no dia 27 de novembro, quando os acontecimentos já se tinham desencadeado. Hoje é fácil dizer que Portugal não foi o Chile da Europa, mas a história tem este lado perverso. Na altura não se sabia o que ia acontecer. O sentimento de defesa de uma Revolução que estava a ser atacada foi o que levou dezenas de milhar de pessoas à rua. Entrevista publicada na edição do Expresso Diário de 28/12/2015 Palavras-chave " # $ %
  • 11. 05/01/16, 15:46Expresso | “O 25 de novembro a Norte aconteceu em Setembro” Página 11 de 11http://expresso.sapo.pt/sociedade/2015-12-29-O-25-de-novembro-a-Norte-aconteceu-em-Setembro Comentários MAIS ARTIGOS