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Planejamento Estratégico




Autor
        Edmarson Bacelar Mota




2009
© 2006 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor
dos direitos autorais.




                      M917P Mota, Edmarson Bacelar. / Planejamento Estratégico. / Ed-
                               marson Bacelar Mota. — Curitiba : IESDE Brasil S.A. ,
                            2009.
                            172 p.




                                  ISBN: 85-7638-428-0




                                  1. Planejamento estratégico. 2. Planejamento empresarial. 3. Ad-
                                  ministração de empresas. 4. Cultura Organizacional. 5. Gestão
                                  Empresarial. I. Título.

                                                                                                   CDD 658.4012




                                                  Capa: IESDE Brasil S.A.
                                                  Imagem da capa: IESDE Brasil S.A.




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                                             Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482 • Batel
                                                       80730-200 • Curitiba • PR
                                                            www.iesde.com.br
Sumário
Evolução e cenários – do passado ao futuro.............................................................................7
     A descoberta da agricultura e conseqüências – a primeira onda..................................................................7
     Renascença, máquina de imprensa e conseqüências – a segunda onda. ......................................................9
                                                                                           .
     A Revolução Industrial – dos primórdios ao século XX............................................................................11
     O surgimento do computador e conseqüências – a terceira onda...............................................................12
     A era da informação e do conhecimento....................................................................................................13
                                            .
     Rumo ao futuro – desafios e tendências.....................................................................................................14

Evolução e revolução na Administração I..............................................................................17
     A Administração até o início da era industrial............................................................................................17
     A administração científica – Taylor & Cia. ................................................................................................17
     Administração de pessoas...........................................................................................................................18
     Administração do mercado (marketing).....................................................................................................20
     Administração da produção e qualidade.....................................................................................................21

Evolução e revolução na Administração II.............................................................................29
     Administração do planejamento.................................................................................................................29
     As escolas do planejamento........................................................................................................................30

Estratégia e planejamento estratégico – os referenciais de partida.........................................43
     Cenários e tendências – lidando com o ambiente de negócios...................................................................43
     Pensamento estratégico, planejamento estratégico e plano estratégico......................................................44
     Estratégia e planejamento estratégico – os referenciais de partida............................................................45
                                                                                              .
     Hierarquização e integração do processo estratégico.................................................................................46
     Princípios, missão e visão...........................................................................................................................47

Estruturação............................................................................................................................53
     Etapas do planejamento estratégico............................................................................................................53
     Informação externa – coleta, análise e síntese............................................................................................54
     Informação interna – coleta, análise e síntese............................................................................................55
     Estabelecendo rumos e diretrizes gerais.....................................................................................................56
     Planejando e organizando a condução das etapas do processo..................................................................57
                                                                                 .

Conceitos para refletir I. .........................................................................................................61
                         .
     O escopo das necessidades humanas..........................................................................................................61
     Conhecimento explícito (codificado) e implícito (tácito)...........................................................................64
     Eficiência, eficácia e efetividade................................................................................................................66
                                       .
     Dialética estratégia versus operações (eficácia versus eficiência)..............................................................68
     Matriz de análise de oportunidades............................................................................................................69
     Matriz de análise de ameaças.....................................................................................................................70

Conceitos para refletir II.........................................................................................................73
     O ciclo de vida de produtos........................................................................................................................73
     Difusão da inovação...................................................................................................................................75
Matriz BCG (Boston Consulting Group)...................................................................................................76
                                                          .
     Matriz de Shapiro.......................................................................................................................................79

Conceitos para estruturar I......................................................................................................85
     Brainstorming e variações..........................................................................................................................85
     Análise dos campos de força......................................................................................................................89
     Fatores críticos de sucesso (FCS)...............................................................................................................91
     Matrizes decisórias: TGN, GUT, Q-SORT e Ponderadas...........................................................................92
     Análise SWOT (pontos fortes e fracos, oportunidades e ameaças)............................................................97

Conceitos para estruturar II. .................................................................................................101
                            .
     Posicionamento estratégico (modelo Porter)............................................................................................101
     As cinco forças do ambiente de negócios (modelo Porter)......................................................................102
     O mix de marketing (os 4 Ps)...................................................................................................................105
     Diagrama em árvore.................................................................................................................................106
     O balanced scorecard (BSC)....................................................................................................................108

Planejamento estratégico – etapa I. ...................................................................................... 115
                                  .
     Princípios, missão e visão.........................................................................................................................115
     Cenários....................................................................................................................................................116
     Pesquisa, análise e “auditoria” da informação interna.............................................................................117
                                                                                    .
     Pesquisa, análise e “auditoria” da informação externa.............................................................................117
     Análise do ambiente de negócios e segmentos associados. .....................................................................118
                                                                                           .
     Consolidação das informações e percepções relevantes. .........................................................................118
                                                                                       .
     Principais aspectos e desafios – análise interna........................................................................................118
     Principais aspectos e desafios – análise externa.......................................................................................119

Planejamento estratégico – etapa II......................................................................................123
     Análise SWOT – pontos fortes e fracos, oportunidades e ameaças.........................................................124
                                                                                                 .
     Fatores críticos de sucesso (FCS).............................................................................................................124
     Análise da concorrência (principais concorrentes)...................................................................................124
     Resumo das informações relevantes.........................................................................................................125
     Premissas relevantes.................................................................................................................................126
     Políticas, direcionamentos, finalidades e objetivos gerais........................................................................126

Planejamento estratégico – etapa III.....................................................................................129
     Objetivos de marketing (produtos versus mercados)...............................................................................130
                                                                                  .
     Objetivos diversos (qualidade, RH, tecnologia, produção etc.)................................................................. 131
     Estratégias.................................................................................................................................................131
     Táticas (desdobramentos “setoriais” das estratégias)...............................................................................131
     Projetos – estruturação e orçamento.........................................................................................................132
     Orçamento geral.......................................................................................................................................132
                          .
     Documentação estruturada do planejamento estratégico. ........................................................................132
                                                                                        .
     Divulgação e esclarecimentos..................................................................................................................133
                                               .

Exemplo de planejamento estratégico..................................................................................135
     Introdução.................................................................................................................................................135
     Missão.......................................................................................................................................................135
     Visão.........................................................................................................................................................135
Organograma............................................................................................................................................136
     Cursos e alunos por ano............................................................................................................................136
     Análise do macroambiente.......................................................................................................................137
     Análise do microambiente........................................................................................................................138
     Análise da concorrência. ..........................................................................................................................139
                                      .
     Objetivos...................................................................................................................................................145
     Estratégias.................................................................................................................................................146
     Matriz objetivos versus estratégias...........................................................................................................146
     Ações táticas.............................................................................................................................................148
     Conclusões................................................................................................................................................150

Implementando com sucesso o planejamento estratégico I..................................................153
     Cultura organizacional propícia e consciência da sua necessidade..........................................................153
     Decisão pela sua utilização.......................................................................................................................154
     Envolvimento efetivo da alta administração............................................................................................155
                                                           .
     Metodologia adequada de planejamento estratégico................................................................................155
     Estrutura e recursos para os processos necessários..................................................................................156

Implementando com sucesso o planejamento estratégico II.................................................159
     Disponibilidade ou acessibilidade às informações relevantes..................................................................159
     Domínio dos conceitos e ferramentas básicas..........................................................................................160
     Participação organizada e sistematizada...................................................................................................161
     O ciclo PDCA e o uso efetivo das “lições aprendidas”............................................................................162
     Integrando “sonhos, coisas e pessoas”.....................................................................................................163
                                           .

Referências. ..........................................................................................................................167
           .

Anotações.............................................................................................................................169
         .
Estratégia e
planejamento estratégico –
os referenciais de partida

Cenários e tendências –
lidando com o ambiente de negócios

O
     ambiente de negócios, em especial os aspectos da sociedade intensiva em serviços e tendo
     como maior ativo o conhecimento, apresenta diversas macromudanças (quadro 1) que de-
     vem ser consideradas no momento da elaboração da estratégia e seus desdobramentos.

  Quadro 1 – micromudanças

                       	   Globalização
                       	   Informação
                       	   Tecnologia
                       	   Tamanho e velocidade
                       	   Padronização
                       	   (Des) Regulamentação
                       	   Modelos de gestão
                       	   Nível de conhecimento (pessoas)
                       	   Criatividade e inovação
                       	   Formas de trabalho
                       	   Formas de vínculo/remuneração
                       	   Alianças e parcerias
                       	   Qualidade
                       	   Marketing
                       	   E-commerce
                       	   Organização virtual
                       	   O “tamanho” do estado
                       	   Revolução na educação
                       	   Emergência do terceiro setor
                       	   Especialista versus generalista
                       	   Equipes autogerenciadas
Planejamento Estratégico


                               As estratégias podem e devem ser adaptadas aos aspectos diversos do am-
                         biente de negócios; por exemplo: turbulência ou serenidade, expansão ou estabili-
                         dade, pouca ou muita concorrência, muita ou pouca regulamentação etc.
                               As diversas escolas ou formas de estruturação do processo estratégico nos
                         orientam sobre a forma de agir e a multiplicidade de influências e estilos de condu-
                         ção que podem ocorrer. Esses aspectos são fortemente influenciados pela cultura
                         organizacional, modelo de gestão, lideranças atuantes, ciclo de vida organização
                         e muitos outros fatores.
                               Uma outra questão é pertinente aos cenários. Em um mundo com poucos
                         ambientes de negócios que gozam de relativa estabilidade, o paradigma é a mu-
                         dança e então fica a pergunta – quais as mudanças prováveis? Em quais cenários
                         poderão ocorrer? Quais as características destes cenários e quais são os mais pro-
                         váveis? Como a concorrência poderá se comportar nestes novos ambientes de
                         negócios? As perguntas e dúvidas são muitas e as respostas poucas e incertas.
                               Há na literatura especializada, gerada a partir da década de 1970, livros com
                         diversos enfoques ao tema cenários. As abordagens seguem por diversos cami-
                         nhos, com enfoques objetivos, subjetivos e probabilísticos. Os estrategistas orga-
                         nizacionais não podem realizar a análise do ambiente externo sem incluir o estudo
                         dos possíveis cenários e seus impactos prováveis no ambiente de negócios.



                         Pensamento estratégico, planejamento
                         estratégico e plano estratégico
                               A figura 1 apresenta as diversas fases e peculiaridades relevantes do pro-
                         cesso estratégico: pensamento ou postura estratégica, planejamento estratégico e
                         o plano estratégico (o documento).

                                                      Pensamento estratégico
                                              Postura, Iniciativa, Percepção, Intuição,
                                                    “cultura”, visão, experiência,
                                                liderança, busca do “norte”, timing.

                                                      Planejamento estratégico
                                                    Metodologia, etapas, desafio
                                                 intelectual, participativo, busca do
                                               comprometimento, visão do negócio e
                                               processos, consistência, coerência etc.

                                                              Plano estratégico
                                                          Documento, síntese, boa
                                                        comunicação, conectividade,
                                                         objetividade, sinalizações.
                                             Figura 1
44
Estratégia e planejamento estratégico – os referenciais de partida


       Cada uma destas fases tem suas peculiaridades. É importante destacar o
fato de cada uma delas ser mais restritiva ou seletiva do que a fase anterior; ou
seja, na fase do pensamento estratégico há um processo amplo e aberto, permi-
tindo opções e alternativas diversas; já o planejamento estratégico, usualmente,
segue rituais e apóia-se em formulários e procedimentos estruturados, ferramen-
tas e técnicas para consolidação de informações etc. O plano estratégico é o docu-
mento que oficializa e divulga o que efetivamente foi decidido para ser realizado
pela organização.
      De certo modo, há correlação parcial das diversas fases com os níveis hie-
rárquicos da organização:

      Alta administração ←→ pensamento ou postura estratégica
      Média gerência ←→ planejamento estratégico
      Gerências operacionais ←→ plano estratégico, sua implementação e
                                desdobramento operacionais




Estratégia e planejamento
estratégico – os referenciais de partida
       Para dar partida ao processo estratégico, é necessário que alguns referen-
ciais sejam claramente estabelecidos, tais como os valores organizacionais, pre-
missas, políticas e diretrizes gerais. Esses elementos ajudam a estruturar as linhas
básicas e possíveis da estratégia e o processo de planejamento estratégico. Um
outro aspecto relevante é a compreensão do “negócio em que estamos”.
      O quadro 2 apresenta uma reflexão crítica sobre “o que é o nosso negócio”,
na qual fica muito clara a importância de refletir sobre esse aspecto e ter respostas
claras à respeito; a abordagem do saudoso Peter Drucker é muito objetiva. A outra
afirmativa, de Charles Revson, fundador da Revlon, mostra as percepções de um
negócio da fábrica ao ponto de venda.

      Quadro 2

 Qual é o nosso negócio?
      “A questão é que tão raramente perguntamos ao menos de forma clara e
 direta ou dedicamos um estudo e uma reflexão adequada sobre o assunto, que
 esta pode ser, talvez, a mais importante causa do fracasso dos negócios.”
                                                                          Peter Druker


 Qual é o nosso negócio?
      “Na fábrica produzimos cosméticos, nas lojas vendemos esperança.”
                                                               Charles Revson – Revlon

                                                                                                               45
Planejamento Estratégico


                               O quadro 3 sintetiza a importância de ter respostas claras a diversas refle-
                         xões, de modo a dar clareza aos caminhos que a organização deve seguir e o seu
                         âmbito de atuação.

                                Quadro 3

                                A definição do negócio não é tão óbvia quanto a maioria das pessoas pode
                           pensar.
                                Enquanto buscamos identificar de fato o negócio, incorremos em mui-
                           tas perguntas que precisam ser respondidas antes que nosso fim maior seja
                           atingido.
                                Na verdade, a definição do negócio é a determinação de seu âmbito de
                           atuação.

                               Os quadros 4 e 5 mostram diversas visões de negócio de diversas organiza-
                         ções, destacando como podem ser vistas em formato restrito ou estratégico. Essa
                         diferença, ou melhor dizendo, essa amplitude, pode ser vital para a adoção de
                         referenciais de partida mais adequados.

                                Quadro 4

                                                                                 Arisco?
                                                                                  Atlas?
                                                                                Petrobras?
                                          Qual o negócio da
                                                                                 Estrela?
                                                                               Kopenhagen?
                                                                                Localiza?


                                Quadro 5

                                  Empresa                 Visão restrita            Visão estratégica
                                    Arisco                     temperos                   alimentos
                                     Atlas                     elevadores                 transportes
                                   Petrobras                  combustíveis                 energia
                                    Estrela                   brinquedos                   diversão
                                  Kopenhagen                   chocolates                  presentes
                                   Localiza                aluguel de carros        soluções em transportes




                         Hierarquização e integração
                         do processo estratégico
                              O processo estratégico pode atuar nas diversas dimensões e hierarquias or-
                         ganizacionais. Cada nível tem sua responsabilidade característica, assim como
                         um modus operandi estabelecido para dar mais efetividade aos seus processos.
46
Estratégia e planejamento estratégico – os referenciais de partida


      A figura 2 apresenta o triângulo da mudança, conforme proposto por Mint-
zberg, para traduzir o modo como os diversos tipos de mudança atuam na hierar-
quia organizacional.




      Figura 2

      A mudança radical, grandes guinadas de rumo ou estratégias normalmente
acontecem ou são validadas pelo “topo” organizacional. Dificilmente uma mudan-
ça drástica ou ruptura com padrões estabelecidos poderá ocorrer sem esse apoio.
      A mudança sistemática, aquela que ocorre dentro de padrões ou paradig-
mas estabelecidos ou definidos pelos procedimentos, normalmente ocorre na mé-
dia gerência.
      A mudança orgânica, aquela que caracteriza os movimentos contínuos e
expectativas apoiadas em efeitos “sociais” no contexto da organização, em geral
ocorre mais vigorosamente nas “bases” ou áreas de gerência operacional.



Princípios, missão e visão
      As crenças, valores e princípios (quadro 6) formam um referencial “forte”
para um processo estratégico mais coerente e com maior probabilidade de sucesso.

     Quadro 6

       	 Crenças: desejos, mitos, intenções;
       	 Valores: a “prática”, o “dia-a-dia”;
       	 Princípios: declarações com finalidades “práticas e objetivas”, em ge-
         ral para diversos públicos (stakeholders);
       	 Conectividade com a cultura organizacional?
                                                                                                              47
Planejamento Estratégico


                               Um outro elemento importante é a visão (quadros 7 e 8). Por meio de uma
                         visão estimuladora e apoiada em “venda” e aceitação efetiva, é possível criar a
                         energia emocional e o direcionamento rumo ao futuro. É como se estivéssemos
                         energizando a cultura organizacional rumo a novos desafios estruturais e de mer-
                         cado que compõem um delineamento para os resultados que deverão ser atingidos
                         pelas estratégias.

                                Quadro 7

                                                              Visão
                                 Certa vez, perguntaram a Michelângelo como conseguia fazer esculturas
                           tão belas.
                                 Ele respondeu: “Eu pego um bloco de pedra e a estátua já está dentro; eu
                           só tiro o excesso”.



                                Quadro 8

                                                      Exemplos de visão
                                Martin Luther King:
                                “Eu tenho um sonho [...]”

                                John Kennedy
                                “Até o final desta década levaremos o homem à Lua
                                e o traremos de volta, a salvo.”

                                TAM
                                “Ser a maior e a mais lucrativa
                                empresa de transportes aéreos.”

                                Petrobras 2010 – abril 2003
                                “A Petrobras será uma empresa de energia com forte
                                presença internacional e líder na América Latina, liberdade
                                de atuação de uma corporação internacional e
                                foco na rentabilidade e responsabilidade social.”

                             O quadro 9 conceitua os principais elementos que compõem a missão e po-
                         demos observar no quadro 10 diversos exemplos disso.

                                Quadro 9 – Principais elementos

                                                              Missão
                                Tem característica predominantemente qualitativa e filosófica.
                                Os seguintes aspectos devem ser abordados


48
Estratégia e planejamento estratégico – os referenciais de partida


        	 Objetivos gerais
        	 Definição do negócio
        	 Competência distintiva
        	 Indicações para o futuro o que a organização fará e o que a organiza-
          ção nunca fará


      Quadro 10 – exemplos

      Embrapa
      Gerar, promover e transferir conhecimento e tecnologia para o
      desenvolvimento sustentável dos segmentos agropecuário,
      agroindustrial e florestal, em benefício da sociedade.

      Pronto-socorro de um hospital (EUA)
      Transmitir confiança aos aflitos

      Exército da salvação
      (a mesma desde sua criação, há 180 anos)
      Transformar os rejeitados em cidadãos.

      Os referenciais de partida no processo estratégico envolvem basicamente
conhecer e praticar as diversas etapas e estágios, que são: pensamento estratégico,
planejamento estratégico e plano estratégico. Deve-se incluir também a clareza
sobre os princípios, missão e visão.




      Qual a conectividade entre a gestão do conhecimento e os processos estratégicos nas organizações.


                         O exemplo está dentro de casa
                      Criadora do benchmarking, a matriz da Xerox determinou:
                a filial brasileira é um modelo de eficiência a ser copiado pelo grupo
                                                                                      (BREITINGER, 1996)

       No final do ano passado, uma centena de executivos americanos da Xerox reuniu-se na cidade
 texana de Dallas, nos Estados Unidos, para assistir a uma palestra do presidente da subsidiária bra-
 sileira, o capixaba Carlos Salles. Eles tentavam entender por que a Xerox do Brasil é considerada,
 pelo presidente mundial, o americano Paul Allaire, um modelo de eficiência a ser copiado nas outras
 111 filiais do grupo. Para aqueles que, como o próprio Allaire, tinham mais de vinte anos de casa,
 a pregação de Salles soava extremamente familiar. O jeito brasileiro de fazer negócios nada mais
 é do que a aplicação dos cânones em voga na própria Xerox nos anos 60. De lá para cá, a matriz

                                                                                                              49
Planejamento Estratégico


      experimentou vários modelos e teorias de administração em busca de um caminho para driblar a
      crescente concorrência. O resultado é que a sucessão de doutrinas fez a empresa perder seu foco,
      abrindo espaço para os concorrentes japoneses. No Brasil, porém, a companhia passou ao largo das
      novidades e continuou crescendo. Em 1995, deu um salto. Suas vendas aumentaram 34%, chegando
      a 1,4 bilhão de dólares. “Sempre fugimos dos modismos por aqui”, afirma Salles.
            Durante anos, Salles e seu antecessor, o sueco Gunnar Vikberg, hoje aposentado, fizeram mala-
      barismos para driblar as ordens dos seus chefes baseados em Stamford, Connecticut. Valia tudo, desde
      dizer que iam aplicar os novos mandamentos e simplesmente ignorá-los até inventar dúvidas e mais
      dúvidas, atribuindo a elas a responsabilidade pelo atraso das mudanças. Foi assim, por exemplo, quan-
      do a matriz começou a dar ordens para que a subsidiária abandonasse a estrutura descentralizada de
      filiais para adotar o novo modelo escolhido para os Estados Unidos. A direção brasileira, ao contrário,
      acreditava que a melhor estrutura para a subsidiária era a que já estava em uso, baseada em unidades
      que prestavam atendimento integral aos clientes. “Qualquer mudança só iria atrapalhar”, afirma Salles,
      56 anos, que está no comando da subsidiária desde 1987, época em que a empresa faturava 600 milhões
      de dólares anuais. A decisão foi protelada por tanto tempo que a matriz acabou desistindo. “Hoje ela
      quer adotar o modelo brasileiro, isto é, voltar ao padrão antigo”, diz Salles.

      Rebeldia
            O sinal de que a subsidiária deveria ser copiada pelos americanos não poderia ser mais ex-
      plícito. Em janeiro passado, durante a reunião anual para premiar os melhores resultados, Salles
      arrematou todos os oito troféus de desempenho oferecidos pela matriz. Ganhou o primeiro lugar em
      atendimento aos clientes, marketing, finanças, terceirização, engenharia, satisfação dos emprega-
      dos e desempenho global. E também um prêmio inédito de melhor desempenho em todo o mundo,
      criado especialmente para a operação brasileira. Um detalhe: a matriz da Xerox foi a criadora do
      conceito de benchmarking, que autoriza a cópia sem a menor cerimônia das melhores práticas
      empresariais. A novidade, agora, é que o benchmarking é feito dentro de casa.
            Além dos louros, a subsidiária recebeu outros indicadores de que os olhos da corporação
      estão voltados para cá. Atualmente, há um grupo de dezesseis executivos brasileiros espalhados
      pelo mundo. Entre eles, está Sedat Ozmen, que no Brasil ocupava a diretoria executiva de ma-
      rketing e agora ficará baseado em Londres para cuidar da operação do Oriente Médio e da Áfri-
      ca, em processo de reestruturação. Edmund Burke, outra cria da Xerox brasileira, é o segundo
      homem da área de serviços técnicos da matriz. “Temos mais solicitações de executivos do que
      podemos atender”, afirma Salles.
            A Xerox foi criada nos Estados Unidos no fim dos anos 50, e sua primeira copiadora chegou
      ao mercado em 1959. Foi um furor. A companhia cresceu e começou a estruturar-se em filiais que
      cuidavam de todas as necessidades dos clientes de sua região. A grande virtude desse modelo era
      a descentralização e a flexibilidade. “É muito mais fácil manobrar uma frota de barcos de pesca
      do que um transatlântico”, diz Salles. Isso durou até a década de 70. Na época, o crescimento da
      companhia fez com que os executivos americanos começassem a repensar o modelo. A centrali-
      zação logo ganhou força, sob a alegação de que era necessário cortar custos administrativos. Ou
      seja, a auto-suficiência da frota de barquinhos foi por água abaixo. Uma das conseqüências foi o
      inchaço das estruturas de apoio. Departamentos como o de planejamento estratégico e o de con-
      trole ganharam poder, em detrimento das áreas de operações. Na busca de soluções para a crise,
      executivos de fora passaram a ser contratados para os cargos mais altos, afastando a empresa de
      sua cultura original, que era a de dar preferência ao pessoal interno.

50
Estratégia e planejamento estratégico – os referenciais de partida


       É bem verdade que a Xerox não foi a única a tomar essas decisões. Boa parte do PIB americano
  seguiu pelo mesmo caminho. O resultado dessas mudanças é conhecido. A partir de 1972, quando
  caducou a patente da máquina xerográfica, os japoneses invadiram os Estados Unidos. A reação da
  Xerox mostrou-se equivocada. A empresa passou a concentrar-se em grandes máquinas, produzidas
  para grandes clientes. O erro estratégico custou-lhe a perda da hegemonia no ramo de copiadoras. A
  Xerox começou a perder posições até chegar a deter pouco mais de 20% do mercado americano. Os
  japoneses, por sua vez, conquistavam as grandes companhias a partir das suas pequenas copiadoras.
  “O problema da matriz foi confundir máquinas pequenas com clientes pequenos”, diz Salles. No
  Brasil, ele conseguiu manter a produção dos equipamentos menores, a contragosto dos chefões.
       A rebeldia foi favorecida pelo tamanho reduzido da subsidiária em relação ao resto do mun-
  do. Além disso, a América Latina, nos anos 70 e 80, não era prioridade da corporação. Só depois
  que a filial brasileira chegou ao terceiro lugar em vendas, em 1993, atrás apenas dos Estados
  Unidos e do Japão (cujas receitas, em 1995, foram respectivamente de 7,5 bilhões e 5,2 bilhões de
  dólares), é que começou a merecer um acompanhamento especial. Para chegar a esse tamanho, a
  Xerox do Brasil aproveitou ao máximo a carona do fim da reserva de mercado de equipamentos de
  informática. A companhia passou a oferecer uma variedade maior de produtos para seus clientes.
  Antes, lançava uma nova máquina a cada dois anos. Com a queda da Lei de Informática, chegou
  a quarenta lançamentos em apenas doze meses.
       Além de aumentar a oferta de produtos, a Xerox, dona de 75% do mercado nacional, passou a
  enfatizar o atendimento aos clientes com dois projetos que, hoje, também estão sendo copiados pela
  matriz. Um deles é o Centro de Atendimento ao Cliente, CAC. Dentro de cada filial, um grupo de
  funcionários dá plantão para tirar todas as dúvidas dos usuários. O outro é o projeto Anjos da Guar-
  da. Cada funcionário da filial, mesmo os administrativos, recebe uma carteira de clientes pela qual
  é responsável. Periodicamente, telefona para saber se tudo está bem. Nas demais filiais, por exem-
  plo, o cliente costuma ser atendido por secretárias eletrônicas. “O cliente é um ser humano e tem
  de ser atendido por uma pessoa, e não por máquinas”, diz Salles. Ele próprio não é afeito a lidar
  com engenhocas eletrônicas. Salles atende seu telefone e não usa computador. Escreve sempre à
  mão e sua secretária digita os textos. Não há dúvida de que se trata de um procedimento antiqua-
  do. Principalmente quando praticado por um homem de negócios cuja empresa vende produtos de
  tecnologia digital. Mas foi graças à sua teimosia em não seguir a cartilha administrativa vigente
  que a Xerox do Brasil passou de cópia a benchmarking da matriz.




      Individualmente

1.	   Estruture os princípios, valores, visão e missão que considera mais adequado para sua organi-
      zação.




                                                                                                              51
Planejamento Estratégico


     2.	   Assista ao filme A fuga das galinhas (Chicken run, Nick Park e Peter Lord, EUA 2001, Univer-
           sal Filmes) e observe a ocorrência dos principais conceitos abordados neste capítulo.




           Em grupo
           Discuta o significado e a importância dos conceitos de visão e missão.




           Leitura do livro:
     TIFFANY, Paul; PETERSON, Steven D. Planejamento Estratégico. Rio de Janeiro: Campus, 1998.
     (série para Dummies).




52

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Planejamento estratégico

  • 1. Planejamento Estratégico Autor Edmarson Bacelar Mota 2009
  • 2. © 2006 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. M917P Mota, Edmarson Bacelar. / Planejamento Estratégico. / Ed- marson Bacelar Mota. — Curitiba : IESDE Brasil S.A. , 2009. 172 p. ISBN: 85-7638-428-0 1. Planejamento estratégico. 2. Planejamento empresarial. 3. Ad- ministração de empresas. 4. Cultura Organizacional. 5. Gestão Empresarial. I. Título. CDD 658.4012 Capa: IESDE Brasil S.A. Imagem da capa: IESDE Brasil S.A. Todos os direitos reservados. IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482 • Batel 80730-200 • Curitiba • PR www.iesde.com.br
  • 3. Sumário Evolução e cenários – do passado ao futuro.............................................................................7 A descoberta da agricultura e conseqüências – a primeira onda..................................................................7 Renascença, máquina de imprensa e conseqüências – a segunda onda. ......................................................9 . A Revolução Industrial – dos primórdios ao século XX............................................................................11 O surgimento do computador e conseqüências – a terceira onda...............................................................12 A era da informação e do conhecimento....................................................................................................13 . Rumo ao futuro – desafios e tendências.....................................................................................................14 Evolução e revolução na Administração I..............................................................................17 A Administração até o início da era industrial............................................................................................17 A administração científica – Taylor & Cia. ................................................................................................17 Administração de pessoas...........................................................................................................................18 Administração do mercado (marketing).....................................................................................................20 Administração da produção e qualidade.....................................................................................................21 Evolução e revolução na Administração II.............................................................................29 Administração do planejamento.................................................................................................................29 As escolas do planejamento........................................................................................................................30 Estratégia e planejamento estratégico – os referenciais de partida.........................................43 Cenários e tendências – lidando com o ambiente de negócios...................................................................43 Pensamento estratégico, planejamento estratégico e plano estratégico......................................................44 Estratégia e planejamento estratégico – os referenciais de partida............................................................45 . Hierarquização e integração do processo estratégico.................................................................................46 Princípios, missão e visão...........................................................................................................................47 Estruturação............................................................................................................................53 Etapas do planejamento estratégico............................................................................................................53 Informação externa – coleta, análise e síntese............................................................................................54 Informação interna – coleta, análise e síntese............................................................................................55 Estabelecendo rumos e diretrizes gerais.....................................................................................................56 Planejando e organizando a condução das etapas do processo..................................................................57 . Conceitos para refletir I. .........................................................................................................61 . O escopo das necessidades humanas..........................................................................................................61 Conhecimento explícito (codificado) e implícito (tácito)...........................................................................64 Eficiência, eficácia e efetividade................................................................................................................66 . Dialética estratégia versus operações (eficácia versus eficiência)..............................................................68 Matriz de análise de oportunidades............................................................................................................69 Matriz de análise de ameaças.....................................................................................................................70 Conceitos para refletir II.........................................................................................................73 O ciclo de vida de produtos........................................................................................................................73 Difusão da inovação...................................................................................................................................75
  • 4. Matriz BCG (Boston Consulting Group)...................................................................................................76 . Matriz de Shapiro.......................................................................................................................................79 Conceitos para estruturar I......................................................................................................85 Brainstorming e variações..........................................................................................................................85 Análise dos campos de força......................................................................................................................89 Fatores críticos de sucesso (FCS)...............................................................................................................91 Matrizes decisórias: TGN, GUT, Q-SORT e Ponderadas...........................................................................92 Análise SWOT (pontos fortes e fracos, oportunidades e ameaças)............................................................97 Conceitos para estruturar II. .................................................................................................101 . Posicionamento estratégico (modelo Porter)............................................................................................101 As cinco forças do ambiente de negócios (modelo Porter)......................................................................102 O mix de marketing (os 4 Ps)...................................................................................................................105 Diagrama em árvore.................................................................................................................................106 O balanced scorecard (BSC)....................................................................................................................108 Planejamento estratégico – etapa I. ...................................................................................... 115 . Princípios, missão e visão.........................................................................................................................115 Cenários....................................................................................................................................................116 Pesquisa, análise e “auditoria” da informação interna.............................................................................117 . Pesquisa, análise e “auditoria” da informação externa.............................................................................117 Análise do ambiente de negócios e segmentos associados. .....................................................................118 . Consolidação das informações e percepções relevantes. .........................................................................118 . Principais aspectos e desafios – análise interna........................................................................................118 Principais aspectos e desafios – análise externa.......................................................................................119 Planejamento estratégico – etapa II......................................................................................123 Análise SWOT – pontos fortes e fracos, oportunidades e ameaças.........................................................124 . Fatores críticos de sucesso (FCS).............................................................................................................124 Análise da concorrência (principais concorrentes)...................................................................................124 Resumo das informações relevantes.........................................................................................................125 Premissas relevantes.................................................................................................................................126 Políticas, direcionamentos, finalidades e objetivos gerais........................................................................126 Planejamento estratégico – etapa III.....................................................................................129 Objetivos de marketing (produtos versus mercados)...............................................................................130 . Objetivos diversos (qualidade, RH, tecnologia, produção etc.)................................................................. 131 Estratégias.................................................................................................................................................131 Táticas (desdobramentos “setoriais” das estratégias)...............................................................................131 Projetos – estruturação e orçamento.........................................................................................................132 Orçamento geral.......................................................................................................................................132 . Documentação estruturada do planejamento estratégico. ........................................................................132 . Divulgação e esclarecimentos..................................................................................................................133 . Exemplo de planejamento estratégico..................................................................................135 Introdução.................................................................................................................................................135 Missão.......................................................................................................................................................135 Visão.........................................................................................................................................................135
  • 5. Organograma............................................................................................................................................136 Cursos e alunos por ano............................................................................................................................136 Análise do macroambiente.......................................................................................................................137 Análise do microambiente........................................................................................................................138 Análise da concorrência. ..........................................................................................................................139 . Objetivos...................................................................................................................................................145 Estratégias.................................................................................................................................................146 Matriz objetivos versus estratégias...........................................................................................................146 Ações táticas.............................................................................................................................................148 Conclusões................................................................................................................................................150 Implementando com sucesso o planejamento estratégico I..................................................153 Cultura organizacional propícia e consciência da sua necessidade..........................................................153 Decisão pela sua utilização.......................................................................................................................154 Envolvimento efetivo da alta administração............................................................................................155 . Metodologia adequada de planejamento estratégico................................................................................155 Estrutura e recursos para os processos necessários..................................................................................156 Implementando com sucesso o planejamento estratégico II.................................................159 Disponibilidade ou acessibilidade às informações relevantes..................................................................159 Domínio dos conceitos e ferramentas básicas..........................................................................................160 Participação organizada e sistematizada...................................................................................................161 O ciclo PDCA e o uso efetivo das “lições aprendidas”............................................................................162 Integrando “sonhos, coisas e pessoas”.....................................................................................................163 . Referências. ..........................................................................................................................167 . Anotações.............................................................................................................................169 .
  • 6.
  • 7. Estratégia e planejamento estratégico – os referenciais de partida Cenários e tendências – lidando com o ambiente de negócios O ambiente de negócios, em especial os aspectos da sociedade intensiva em serviços e tendo como maior ativo o conhecimento, apresenta diversas macromudanças (quadro 1) que de- vem ser consideradas no momento da elaboração da estratégia e seus desdobramentos. Quadro 1 – micromudanças Globalização Informação Tecnologia Tamanho e velocidade Padronização (Des) Regulamentação Modelos de gestão Nível de conhecimento (pessoas) Criatividade e inovação Formas de trabalho Formas de vínculo/remuneração Alianças e parcerias Qualidade Marketing E-commerce Organização virtual O “tamanho” do estado Revolução na educação Emergência do terceiro setor Especialista versus generalista Equipes autogerenciadas
  • 8. Planejamento Estratégico As estratégias podem e devem ser adaptadas aos aspectos diversos do am- biente de negócios; por exemplo: turbulência ou serenidade, expansão ou estabili- dade, pouca ou muita concorrência, muita ou pouca regulamentação etc. As diversas escolas ou formas de estruturação do processo estratégico nos orientam sobre a forma de agir e a multiplicidade de influências e estilos de condu- ção que podem ocorrer. Esses aspectos são fortemente influenciados pela cultura organizacional, modelo de gestão, lideranças atuantes, ciclo de vida organização e muitos outros fatores. Uma outra questão é pertinente aos cenários. Em um mundo com poucos ambientes de negócios que gozam de relativa estabilidade, o paradigma é a mu- dança e então fica a pergunta – quais as mudanças prováveis? Em quais cenários poderão ocorrer? Quais as características destes cenários e quais são os mais pro- váveis? Como a concorrência poderá se comportar nestes novos ambientes de negócios? As perguntas e dúvidas são muitas e as respostas poucas e incertas. Há na literatura especializada, gerada a partir da década de 1970, livros com diversos enfoques ao tema cenários. As abordagens seguem por diversos cami- nhos, com enfoques objetivos, subjetivos e probabilísticos. Os estrategistas orga- nizacionais não podem realizar a análise do ambiente externo sem incluir o estudo dos possíveis cenários e seus impactos prováveis no ambiente de negócios. Pensamento estratégico, planejamento estratégico e plano estratégico A figura 1 apresenta as diversas fases e peculiaridades relevantes do pro- cesso estratégico: pensamento ou postura estratégica, planejamento estratégico e o plano estratégico (o documento). Pensamento estratégico Postura, Iniciativa, Percepção, Intuição, “cultura”, visão, experiência, liderança, busca do “norte”, timing. Planejamento estratégico Metodologia, etapas, desafio intelectual, participativo, busca do comprometimento, visão do negócio e processos, consistência, coerência etc. Plano estratégico Documento, síntese, boa comunicação, conectividade, objetividade, sinalizações. Figura 1 44
  • 9. Estratégia e planejamento estratégico – os referenciais de partida Cada uma destas fases tem suas peculiaridades. É importante destacar o fato de cada uma delas ser mais restritiva ou seletiva do que a fase anterior; ou seja, na fase do pensamento estratégico há um processo amplo e aberto, permi- tindo opções e alternativas diversas; já o planejamento estratégico, usualmente, segue rituais e apóia-se em formulários e procedimentos estruturados, ferramen- tas e técnicas para consolidação de informações etc. O plano estratégico é o docu- mento que oficializa e divulga o que efetivamente foi decidido para ser realizado pela organização. De certo modo, há correlação parcial das diversas fases com os níveis hie- rárquicos da organização: Alta administração ←→ pensamento ou postura estratégica Média gerência ←→ planejamento estratégico Gerências operacionais ←→ plano estratégico, sua implementação e desdobramento operacionais Estratégia e planejamento estratégico – os referenciais de partida Para dar partida ao processo estratégico, é necessário que alguns referen- ciais sejam claramente estabelecidos, tais como os valores organizacionais, pre- missas, políticas e diretrizes gerais. Esses elementos ajudam a estruturar as linhas básicas e possíveis da estratégia e o processo de planejamento estratégico. Um outro aspecto relevante é a compreensão do “negócio em que estamos”. O quadro 2 apresenta uma reflexão crítica sobre “o que é o nosso negócio”, na qual fica muito clara a importância de refletir sobre esse aspecto e ter respostas claras à respeito; a abordagem do saudoso Peter Drucker é muito objetiva. A outra afirmativa, de Charles Revson, fundador da Revlon, mostra as percepções de um negócio da fábrica ao ponto de venda. Quadro 2 Qual é o nosso negócio? “A questão é que tão raramente perguntamos ao menos de forma clara e direta ou dedicamos um estudo e uma reflexão adequada sobre o assunto, que esta pode ser, talvez, a mais importante causa do fracasso dos negócios.” Peter Druker Qual é o nosso negócio? “Na fábrica produzimos cosméticos, nas lojas vendemos esperança.” Charles Revson – Revlon 45
  • 10. Planejamento Estratégico O quadro 3 sintetiza a importância de ter respostas claras a diversas refle- xões, de modo a dar clareza aos caminhos que a organização deve seguir e o seu âmbito de atuação. Quadro 3 A definição do negócio não é tão óbvia quanto a maioria das pessoas pode pensar. Enquanto buscamos identificar de fato o negócio, incorremos em mui- tas perguntas que precisam ser respondidas antes que nosso fim maior seja atingido. Na verdade, a definição do negócio é a determinação de seu âmbito de atuação. Os quadros 4 e 5 mostram diversas visões de negócio de diversas organiza- ções, destacando como podem ser vistas em formato restrito ou estratégico. Essa diferença, ou melhor dizendo, essa amplitude, pode ser vital para a adoção de referenciais de partida mais adequados. Quadro 4 Arisco? Atlas? Petrobras? Qual o negócio da Estrela? Kopenhagen? Localiza? Quadro 5 Empresa Visão restrita Visão estratégica Arisco temperos alimentos Atlas elevadores transportes Petrobras combustíveis energia Estrela brinquedos diversão Kopenhagen chocolates presentes Localiza aluguel de carros soluções em transportes Hierarquização e integração do processo estratégico O processo estratégico pode atuar nas diversas dimensões e hierarquias or- ganizacionais. Cada nível tem sua responsabilidade característica, assim como um modus operandi estabelecido para dar mais efetividade aos seus processos. 46
  • 11. Estratégia e planejamento estratégico – os referenciais de partida A figura 2 apresenta o triângulo da mudança, conforme proposto por Mint- zberg, para traduzir o modo como os diversos tipos de mudança atuam na hierar- quia organizacional. Figura 2 A mudança radical, grandes guinadas de rumo ou estratégias normalmente acontecem ou são validadas pelo “topo” organizacional. Dificilmente uma mudan- ça drástica ou ruptura com padrões estabelecidos poderá ocorrer sem esse apoio. A mudança sistemática, aquela que ocorre dentro de padrões ou paradig- mas estabelecidos ou definidos pelos procedimentos, normalmente ocorre na mé- dia gerência. A mudança orgânica, aquela que caracteriza os movimentos contínuos e expectativas apoiadas em efeitos “sociais” no contexto da organização, em geral ocorre mais vigorosamente nas “bases” ou áreas de gerência operacional. Princípios, missão e visão As crenças, valores e princípios (quadro 6) formam um referencial “forte” para um processo estratégico mais coerente e com maior probabilidade de sucesso. Quadro 6 Crenças: desejos, mitos, intenções; Valores: a “prática”, o “dia-a-dia”; Princípios: declarações com finalidades “práticas e objetivas”, em ge- ral para diversos públicos (stakeholders); Conectividade com a cultura organizacional? 47
  • 12. Planejamento Estratégico Um outro elemento importante é a visão (quadros 7 e 8). Por meio de uma visão estimuladora e apoiada em “venda” e aceitação efetiva, é possível criar a energia emocional e o direcionamento rumo ao futuro. É como se estivéssemos energizando a cultura organizacional rumo a novos desafios estruturais e de mer- cado que compõem um delineamento para os resultados que deverão ser atingidos pelas estratégias. Quadro 7 Visão Certa vez, perguntaram a Michelângelo como conseguia fazer esculturas tão belas. Ele respondeu: “Eu pego um bloco de pedra e a estátua já está dentro; eu só tiro o excesso”. Quadro 8 Exemplos de visão Martin Luther King: “Eu tenho um sonho [...]” John Kennedy “Até o final desta década levaremos o homem à Lua e o traremos de volta, a salvo.” TAM “Ser a maior e a mais lucrativa empresa de transportes aéreos.” Petrobras 2010 – abril 2003 “A Petrobras será uma empresa de energia com forte presença internacional e líder na América Latina, liberdade de atuação de uma corporação internacional e foco na rentabilidade e responsabilidade social.” O quadro 9 conceitua os principais elementos que compõem a missão e po- demos observar no quadro 10 diversos exemplos disso. Quadro 9 – Principais elementos Missão Tem característica predominantemente qualitativa e filosófica. Os seguintes aspectos devem ser abordados 48
  • 13. Estratégia e planejamento estratégico – os referenciais de partida Objetivos gerais Definição do negócio Competência distintiva Indicações para o futuro o que a organização fará e o que a organiza- ção nunca fará Quadro 10 – exemplos Embrapa Gerar, promover e transferir conhecimento e tecnologia para o desenvolvimento sustentável dos segmentos agropecuário, agroindustrial e florestal, em benefício da sociedade. Pronto-socorro de um hospital (EUA) Transmitir confiança aos aflitos Exército da salvação (a mesma desde sua criação, há 180 anos) Transformar os rejeitados em cidadãos. Os referenciais de partida no processo estratégico envolvem basicamente conhecer e praticar as diversas etapas e estágios, que são: pensamento estratégico, planejamento estratégico e plano estratégico. Deve-se incluir também a clareza sobre os princípios, missão e visão. Qual a conectividade entre a gestão do conhecimento e os processos estratégicos nas organizações. O exemplo está dentro de casa Criadora do benchmarking, a matriz da Xerox determinou: a filial brasileira é um modelo de eficiência a ser copiado pelo grupo (BREITINGER, 1996) No final do ano passado, uma centena de executivos americanos da Xerox reuniu-se na cidade texana de Dallas, nos Estados Unidos, para assistir a uma palestra do presidente da subsidiária bra- sileira, o capixaba Carlos Salles. Eles tentavam entender por que a Xerox do Brasil é considerada, pelo presidente mundial, o americano Paul Allaire, um modelo de eficiência a ser copiado nas outras 111 filiais do grupo. Para aqueles que, como o próprio Allaire, tinham mais de vinte anos de casa, a pregação de Salles soava extremamente familiar. O jeito brasileiro de fazer negócios nada mais é do que a aplicação dos cânones em voga na própria Xerox nos anos 60. De lá para cá, a matriz 49
  • 14. Planejamento Estratégico experimentou vários modelos e teorias de administração em busca de um caminho para driblar a crescente concorrência. O resultado é que a sucessão de doutrinas fez a empresa perder seu foco, abrindo espaço para os concorrentes japoneses. No Brasil, porém, a companhia passou ao largo das novidades e continuou crescendo. Em 1995, deu um salto. Suas vendas aumentaram 34%, chegando a 1,4 bilhão de dólares. “Sempre fugimos dos modismos por aqui”, afirma Salles. Durante anos, Salles e seu antecessor, o sueco Gunnar Vikberg, hoje aposentado, fizeram mala- barismos para driblar as ordens dos seus chefes baseados em Stamford, Connecticut. Valia tudo, desde dizer que iam aplicar os novos mandamentos e simplesmente ignorá-los até inventar dúvidas e mais dúvidas, atribuindo a elas a responsabilidade pelo atraso das mudanças. Foi assim, por exemplo, quan- do a matriz começou a dar ordens para que a subsidiária abandonasse a estrutura descentralizada de filiais para adotar o novo modelo escolhido para os Estados Unidos. A direção brasileira, ao contrário, acreditava que a melhor estrutura para a subsidiária era a que já estava em uso, baseada em unidades que prestavam atendimento integral aos clientes. “Qualquer mudança só iria atrapalhar”, afirma Salles, 56 anos, que está no comando da subsidiária desde 1987, época em que a empresa faturava 600 milhões de dólares anuais. A decisão foi protelada por tanto tempo que a matriz acabou desistindo. “Hoje ela quer adotar o modelo brasileiro, isto é, voltar ao padrão antigo”, diz Salles. Rebeldia O sinal de que a subsidiária deveria ser copiada pelos americanos não poderia ser mais ex- plícito. Em janeiro passado, durante a reunião anual para premiar os melhores resultados, Salles arrematou todos os oito troféus de desempenho oferecidos pela matriz. Ganhou o primeiro lugar em atendimento aos clientes, marketing, finanças, terceirização, engenharia, satisfação dos emprega- dos e desempenho global. E também um prêmio inédito de melhor desempenho em todo o mundo, criado especialmente para a operação brasileira. Um detalhe: a matriz da Xerox foi a criadora do conceito de benchmarking, que autoriza a cópia sem a menor cerimônia das melhores práticas empresariais. A novidade, agora, é que o benchmarking é feito dentro de casa. Além dos louros, a subsidiária recebeu outros indicadores de que os olhos da corporação estão voltados para cá. Atualmente, há um grupo de dezesseis executivos brasileiros espalhados pelo mundo. Entre eles, está Sedat Ozmen, que no Brasil ocupava a diretoria executiva de ma- rketing e agora ficará baseado em Londres para cuidar da operação do Oriente Médio e da Áfri- ca, em processo de reestruturação. Edmund Burke, outra cria da Xerox brasileira, é o segundo homem da área de serviços técnicos da matriz. “Temos mais solicitações de executivos do que podemos atender”, afirma Salles. A Xerox foi criada nos Estados Unidos no fim dos anos 50, e sua primeira copiadora chegou ao mercado em 1959. Foi um furor. A companhia cresceu e começou a estruturar-se em filiais que cuidavam de todas as necessidades dos clientes de sua região. A grande virtude desse modelo era a descentralização e a flexibilidade. “É muito mais fácil manobrar uma frota de barcos de pesca do que um transatlântico”, diz Salles. Isso durou até a década de 70. Na época, o crescimento da companhia fez com que os executivos americanos começassem a repensar o modelo. A centrali- zação logo ganhou força, sob a alegação de que era necessário cortar custos administrativos. Ou seja, a auto-suficiência da frota de barquinhos foi por água abaixo. Uma das conseqüências foi o inchaço das estruturas de apoio. Departamentos como o de planejamento estratégico e o de con- trole ganharam poder, em detrimento das áreas de operações. Na busca de soluções para a crise, executivos de fora passaram a ser contratados para os cargos mais altos, afastando a empresa de sua cultura original, que era a de dar preferência ao pessoal interno. 50
  • 15. Estratégia e planejamento estratégico – os referenciais de partida É bem verdade que a Xerox não foi a única a tomar essas decisões. Boa parte do PIB americano seguiu pelo mesmo caminho. O resultado dessas mudanças é conhecido. A partir de 1972, quando caducou a patente da máquina xerográfica, os japoneses invadiram os Estados Unidos. A reação da Xerox mostrou-se equivocada. A empresa passou a concentrar-se em grandes máquinas, produzidas para grandes clientes. O erro estratégico custou-lhe a perda da hegemonia no ramo de copiadoras. A Xerox começou a perder posições até chegar a deter pouco mais de 20% do mercado americano. Os japoneses, por sua vez, conquistavam as grandes companhias a partir das suas pequenas copiadoras. “O problema da matriz foi confundir máquinas pequenas com clientes pequenos”, diz Salles. No Brasil, ele conseguiu manter a produção dos equipamentos menores, a contragosto dos chefões. A rebeldia foi favorecida pelo tamanho reduzido da subsidiária em relação ao resto do mun- do. Além disso, a América Latina, nos anos 70 e 80, não era prioridade da corporação. Só depois que a filial brasileira chegou ao terceiro lugar em vendas, em 1993, atrás apenas dos Estados Unidos e do Japão (cujas receitas, em 1995, foram respectivamente de 7,5 bilhões e 5,2 bilhões de dólares), é que começou a merecer um acompanhamento especial. Para chegar a esse tamanho, a Xerox do Brasil aproveitou ao máximo a carona do fim da reserva de mercado de equipamentos de informática. A companhia passou a oferecer uma variedade maior de produtos para seus clientes. Antes, lançava uma nova máquina a cada dois anos. Com a queda da Lei de Informática, chegou a quarenta lançamentos em apenas doze meses. Além de aumentar a oferta de produtos, a Xerox, dona de 75% do mercado nacional, passou a enfatizar o atendimento aos clientes com dois projetos que, hoje, também estão sendo copiados pela matriz. Um deles é o Centro de Atendimento ao Cliente, CAC. Dentro de cada filial, um grupo de funcionários dá plantão para tirar todas as dúvidas dos usuários. O outro é o projeto Anjos da Guar- da. Cada funcionário da filial, mesmo os administrativos, recebe uma carteira de clientes pela qual é responsável. Periodicamente, telefona para saber se tudo está bem. Nas demais filiais, por exem- plo, o cliente costuma ser atendido por secretárias eletrônicas. “O cliente é um ser humano e tem de ser atendido por uma pessoa, e não por máquinas”, diz Salles. Ele próprio não é afeito a lidar com engenhocas eletrônicas. Salles atende seu telefone e não usa computador. Escreve sempre à mão e sua secretária digita os textos. Não há dúvida de que se trata de um procedimento antiqua- do. Principalmente quando praticado por um homem de negócios cuja empresa vende produtos de tecnologia digital. Mas foi graças à sua teimosia em não seguir a cartilha administrativa vigente que a Xerox do Brasil passou de cópia a benchmarking da matriz. Individualmente 1. Estruture os princípios, valores, visão e missão que considera mais adequado para sua organi- zação. 51
  • 16. Planejamento Estratégico 2. Assista ao filme A fuga das galinhas (Chicken run, Nick Park e Peter Lord, EUA 2001, Univer- sal Filmes) e observe a ocorrência dos principais conceitos abordados neste capítulo. Em grupo Discuta o significado e a importância dos conceitos de visão e missão. Leitura do livro: TIFFANY, Paul; PETERSON, Steven D. Planejamento Estratégico. Rio de Janeiro: Campus, 1998. (série para Dummies). 52