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 CONTRIBUIÇÕES EPISTEMOLÓGICAS
 DO “EMBODIMENT” NA ERGONOMIA
 COGNITIVA E NAS TEORIAS DA AÇÃO


                                                            Gilbert Cardoso Bouyer (UFOP)
                                                                       gilbertcb@uol.com.br
                                                             Giovanni Costa Santos (UFOP)
                                                                        learn10@uol.com.br
                                                            Gustavo Ferreira Mello (UFOP)
                                                                       mjbirro@terra.com.br



Este texto relata que a ergonomia, em seus estudos sobre as indústrias
de processos contínuos (IPC), alcançou algo bem semelhante ao que
neste texto denominaremos por “embodiment” ao analisar a
linguagem dos operadores e até mesmo os verboss que são utilizados
na interação lingüística destes com a área. Nas atividades de
abstração estão presentes, de modo enfático, verbos que traduzem o
“embodiment” e os “image-schemata”, como “sentir, visualizar,
checar, observar, perceber, manobrar, mexer, operar”. O que se
verifica é que a “atividade intelectual” do operador, ao contrário
daquela do engenheiro, apóia-se, em larga escala, no “embodiment”:
sua incorporação no contexto do trabalho, sua ação situada, seu
trabalho sustentado pela mobilização de esquemas incorporados
(“embodied-schemata”) e metáforas ou padrões recorrentes (“image-
schemata”) aos quais correlacionam-se mapas neurais de base cortical
(córtex cerebral responsável pela atividade sensório-motora) baseadas
nas experiências sensorial e perceptual, ambas           corporalmente
adquiridas em sua vivência direta na área. Esta experiência, histórica,
hoje permite controlar de modo eficaz e eficiente o processo produtivo,
devido à ação incorporada ou “embodied action”, via “embodiment”
dado na história de incorporação de “corpo e mente” na atividade de
trabalho. Afasta-se tal abordagem da noção de representação mental
para ceder espaço à de atuação/incorporação (“embodiment”).

Palavras-chaves: cognição; ação; mente incorporada
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1. Introdução
Desde que a Ergonomia Francesa propôs que o homem em atividade de trabalho não se
resume a um sistema de estímulos e respostas e que, também, não pode ter seu
comportamento explicado inteiramente pelas leis das ciências biológicas e físicas de modo
isolado (fisiologia do trabalho, antropometria, etc), abriu-se um espaço para a compreensão
mais ampla das características antropológicas do homem em atividade.
Mas, qualquer que seja a abordagem ergonômica que se busque avaliar, de uma maneira ou de
outra, ela faz referência ao que neste texto denominamos por “embodiment”.
Nos trabalhos de Wisner (1987), a discussão da interseção entre as cargas física, psíquica e
cognitiva da atividade tem, perpassando em sua essência, a questão do “embodiment”: Que
corpo é este que atua e, ao atuar – no sentido de atuação: agir numa situação de trabalho
como agente situado, acoplado na atividade, sob os efeitos da incorporação ao contexto
(“embodiment”) que absorve e afeta os fenômenos da cognição (neste enfoque, atrelados ao
conceito de ação conforme Johnson  Rohrer (2006)) em atividade de trabalho; gera
fenômenos que entrelaçam as dimensões física, psíquica e cognitiva do ser em atividade?
Quem está a exercer uma atividade de trabalho não está a envolver, a si mesmo, em
complexos processos que agem no corpo, na mente, no espírito? É agindo que se cria a rede
de fenômenos que “surgem” e desaparecem sem deixar rastro, como que um mundo criado na
ação, pela ação e “reluzente” apenas enquanto dura a ação. Em diversos trabalhos, sem que se
denominem os conceitos e filosofias do corpo que age, os autores já fazem referência ao
“embodiment”.
“Embodiment”, na Ergonomia, remete aos cheiros, ruídos, vibração, cor, temperatura, sinal...
são todos elementos que apenas os “embodied-schemata” (JOHNSON, 1990) podem tratar;
elementos que requerem uma espécie de competência incorporada para serem “processados” –
visto que na realidade eles não são e jamais foram “processados” mas sim incorporados e re-
criados na interioridade dos operadores, em ação, em atuação. Na atividade de trabalho.
O que existe de encadeamento lógico e representacionista na ação possui uma base
incorporada e experiencial. Em particular, essa base se aloja na forma de “image-schemata”
que contêm inferências e conferem racionalidade / inteligibilidade à ação. Ou seja, há uma
estrutura interna atuante no trabalho que pode ser traduzida em algo mais formal mas que, na
realidade, não deixa de ser uma estrutura incorporada de ação que possibilita toda atividade de
abstração necessária ao processo de trabalho, inclusive o entendimento das próprias relações
formais sobre conceitos e proposições: a “dimensão conceitual do modelo operatório”
(RABARDEL  PASTRÉ, 2005, p. 103). Os esquemas incorporados são a chave para que
este nível conceitual se torne inteligível aos agentes e permita um ajustamento da ação
conforme a situação de trabalho. O esquema mais geral que permite ao operador lidar com
variadas classes de situações está apoiado sobre uma base perceptivo-gestual de ajustamento
da ação (RABARDEL  PASTRÉ, 2005, p. 102-106).
A compreensão conceitual ou a abstração do operador ocorre como uma metáfora da
compreensão do próprio movimento deste no trabalho (JOHNSON  ROHRER, 2006) – Os
conceitos e proposições na mente são como que metáforas de movimentos e atos provenientes
do corpo que atua no processo de trabalho. Esta espécie de sistema metafórico muito bem
explicado por Johnson  Rohrer (2006) e por Johnson (1990) projeta-se na linguagem e na
ação do trabalho enquanto meios de raciocinar, de planificar a ação e de gerar compreensão



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para inúmeras situações no trabalho. A compreensão de uma proposição no trabalho envolve
estar situado, contextualmente, atuante (incorporado, en-agido) em um espaço definido. Estar
atuante, “ser-no-mundo”, “estar-na-ação”, sob certos limites dados na materialidade de tempo
(temporalidade do processo de produção) e do espaço (no qual se desencadeiam os atos, os
gestos do corpo físico e os modos operatórios). Os esquemas que operam nesta atuação-
incorporação o fazem de modo a tornar o mundo da produção (ou o “mundo de cada um”
(RABARDEL  PASTRÉ, 2005, pág. 102), que contém a organização da ação como
estrutura da situação e como fruto da experiência) passível de inteligibilidade e compreensão;
passível, também, de intercompreensão com outros agentes aí acoplados, situados e atuantes
numa mesma rede, também, de intersubjetividade e “cognição compartilhada”.
2. O problema de pesquisa
Essas “categorias conceituais”, ou conceitos pragmáticos para a ação em um “modèle
opératif”, que permitem articular as propriedades da ação – invariância e adaptabilidade – de
modo a torná-la eficaz (RABARDEL  PASTRÉ, 2005, pág. 102-103) são, sob determinado
ponto de vista, “categorias metafóricas” ou comportamentos solicitados a todo momento na
ação. O operador compreende o processo de produção por meio dessas metáforas em sua
experiência diária. Daí surgem as possibilidades de um encadeamento baseado na lógica das
proposições, das cadeias simbólicas e representações.
O que nos diz a via empírica da realidade quanto ao modelo da representação mental? O
mesmo que nos tem dito a via teórica e epistemológica. As “Dimensões do Embodiment”
(ROHRER, 2006) estão presentes no controle do processo contínuo – A presença do corpo e
dos esquemas incorporados de ação, em atuação, são o que configuram a “representação” para
o controle de processo. E o respaldo teórico, epistemológico e filosófico para esta abordagem
do universo empírico de uma “ausência de representação” é tão ampla que Peschl (2000)
prefere utilizar o termo “representação sem representação” para se referir ao processo de
“conhecer” e de gerar conhecimento como mecanismos de transformação sensoriomotora no
córtex cerebral. Longe da representação como algo “desincorporado”, este autor diz que a
“representação” não é determinada pelo ambiente mas pela organização, estrutura e restrições
referentes a um sistema sensoriomotor embebido num dado contexto social e cultural e
simultaneamente encarnado no corpo por via dos esquemas e metáforas de ação o “embodied-
schemas” (JOHNSON, 1990).
Ora, mas no lugar da representação, tem-se as construções incorporadas resultantes de
esquemas incorporados construídos pela história de inserção de “corpo presente” num dado
processo de trabalho. Estas construções funcionam, quando numa necessidade de atividade
mental, atividade abstrata, tomada de decisão, construção e ou “planificação da ação”, como
“metáforas” ou “imagens metafóricas” que se apóiam na experiência com o mundo físico da
ação para, daí, tornarem-se construções para o mundo abstrato da representação: O que na
literatura recebe o nome de “Image Schemata” (ROHRER, 2005; ROHRER, 2006;
JOHNSON, 1990; JOHNSON  ROHRER, 2006).
“Nós, humanos, pensamos com atos e nós agimos como modo (meio) de construir pensamento
(“representação”) – Cognição é ação” (JOHNSON  ROHRER, 2006).
O mesmo vem sendo comprovado na inteligência artificial, na qual os robôs inteligentes
necessitam “agir com o corpo de robô para poderem pensar” (ZIEMKE, 2002).
Os “image-schemas” são efetivados como padrões de ativação em mapas neurais topológicos
do sistema nervoso. Um mapa neural contém padrões de ativação sensoriomotora ou “image-



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schemas”. As capacidades conhecidas como funções psíquicas superiores – significação,
compreensão, imaginação, pensamento proposicional e o sentido de “self” – são todas
construídas sobre a base incorporada de estruturas experienciais. Há uma capacidade em
tomar a informação recebida pela modalidade sensorial e convertê-la em mapas neurais e
“image-schemas”.
“Abstract representations” não são inerentemente espelhos de objetos e coisas externas, mas
são os moldes compostos por estruturas perceptivas e sensoriomotoras que tomam o lugar da
representação: Moldes incorporados e temporalmente situados (história de atuação)
denominados por “image schemas”. É freqüente a transmissão de informação do sistema
visual para o sistema sensoriomotor, e tudo passa a ser convertido num mapeamento
topológico, em mapas neurais; eles são padrões sensoriomotores da experiência, os quais são
instaurados e coordenados entre outros mapas neurais unimodais. Cada experiência
sensoriomotora pode se converter em seu próprio mapa neural incorporado.
3. Os método de análise do problema
Foi empregada a Análise Ergonômica do Trabalho (WISNER, 1987), em paralelo às análises
propostas por Peschl (2000), Rohrer (2005), Johnson (1990), Johnson  Rohrer (2006) e
Rohrer (2005). Estas últimas são análises no campo da linguagem, sobretudo das estruturas
semânticas aí presentes. São métodos que instruem sobre como avaliar a linguagem dos
agentes e, mediante análise do uso de verbos, enunciados, estruturas semânticas e articulações
destas com as ações adotadas, identificar e caracterizar a presença dos “embodied-schemata”
e dos “image-schemata” como elementos estruturantes e determinantes da atividade abstrata,
da própria linguagem, das funções cognitivas-psíquicas superiores e, no presente caso, das
atividades abstratas e cognitivas relacionadas ao controle de processo nas indústrias de
processo contínuo.
Não se trata de afirmar que se deva analisar o substrato material do cérebro e suas leis visto
que estes não explicam o fenômeno da “representação sem representação” (PESCHL, 2000).
O “embodiment” está na interseção entre o universo biológico e o universo social e, por isso,
as análises envolveram tanto o domínio biológico (mapas mentais corticais incorporados
disparados pelas demandas das situações específicas de trabalho) quanto o domínio social e
histórico (a vivência incorporada na área e os intercâmbios com outros atores da produção).
O corpo é uma entidade que atua em dois mundos distintos: O mundo social e o mundo
biológico, e um esquema incorporado foi analisado nestes dois mundos, como uma unidade
que se forma na ontogênese do organismo, o que implica em modificações nas estruturas
biológicas que interagem no universo social ora investigado em detalhe.
As análises da atuação do agente envolveram avaliar seu corpo no trabalho não como um
aparelho biológico, mas como um corpo também interligado com o mundo social e
intersubjetivo; um corpo que é, de fato, o mediador entre o universo biológico e o universo
social; corpo que se desdobra pelas vias dos esquemas nele armazenados para a ação eficaz.
O “embodiment” vai justamente solicitar o caráter mais multidisciplinar da Ergonomia,
lembrando que nas palavras do próprio Wisner, em seu texto sobre epistemologia, “ela é,
principalmente, multidisciplinar. Ela cobre um largo espectro de conhecimentos; agrupa o
engenheiro, o fisiologista, o médico, o psicólogo. É uma disciplina de síntese, convocada
para fornecer as bases de ação em um campo, onde a parte ocupada pelos fatores não
controlados ou não controláveis é importante” (WISNER, 2004).
Ora, mas na medida em que estas disciplinas evoluem, que avançam em seu trajeto histórico



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de desenvolvimento epistemológico, de amadurecimento científico, coube, aos métodos de
análises ora descritos, inserirem-se no universo metodológico da Ergonomia, absorver estas
evoluções das disciplinas que a nutrem e, junto com elas, construir um novo modo de
observar, de analisar e de compreender a atividade de trabalho cognitiva e a ação humana
nesta atividade.
A ciência cognitiva vem amadurecendo de modo vertiginoso na recente história do
conhecimento humano. Como não incorporar, na Ergonomia, e no presente trabalho de
pesquisa, as evoluções metodológicas e epistemológicas daí decorrentes, visto ser a
Ergonomia Cognitiva uma disciplina que deve, segundo Wisner (2004), nutrir-se das ciências,
i.e. ciências cognitivas? Se as ciências cognitivas adquiriram evolução tal que, hoje,
contestam a existência de uma suposta representação enquanto espelhamento do mundo
objetivo pelo sistema nervoso, coube às análises do presente trabalho trazer para a Ergonomia
Cognitiva os métodos e teorias que já comprovadamente foram eficazes em desmistificar a
idéia de representação mental. Pelo uso deles, caiu por terra a idéia de existência de
representações mentais cartesianas construídas, pelos operadores, como espelhamento do
mundo pela cognição em atividade.
Ao invés da representação, os métodos da ciência cognitiva ora empregados na análise da
linguagem dos operadores, e de sua ação, levaram ao encontro da atuação, da mente
incorporada e dos esquemas-imagem e/ou esquemas incorporados. Na Ergonomia Cognitiva,
muitos pesquisadores já vinham percebendo as incoerências da representação e elucidando o
modelo da atuação sem, entretanto, disporem de uma bagagem conceitual e teórica que os
permitisse melhor compreender o que, de fato, se passa no centro de um “processo de
representação mental” na atividade de trabalho.
4. Dados, análises e discussões
Quanto ao controle de processo contínuo, observemos o que diz um operador de destilação de
petróleo:
“Ninguém sabe o que se passa dentro desta torre de destilação. Isso aí é um buraco negro. Eu
não penso, eu simplesmente faço e faço com o que eu sei, e não sei como, que é o certo e que
dá certo. (...) Não entendo nada deste negócio e olha que estou aqui já faz mais de 15 anos.
(...)Ninguém entende nada desta torre. Ela é um mistério. (...) O que eu faço aqui na sala de
controle deve fazer acontecer alguma coisa lá fora, mas eu não sei o que. (...) Eu só sei que
quando passo no ônibus e vejo a torre da janelinha, eu penso: não sei como eu ainda não
explodi esse negócio sem querer porque eu não sei nem o que é isso daí” (Operador de
refinaria de petróleo).
Eis a “representação” que o operador elabora quando em atividade de controle automatizado
de processo contínuo de destilação de petróleo numa refinaria.
O operador não representa o processo e não o controla por representação. Na realidade, a
“inteligência” que controla o processo não está no sistema nervoso do operador da Indústria
de Processo Contínuo (IPC), mas sim no corpo que vivenciou a experiência da “área” e no
corpo que, a todo momento, se mantém em contato com a área. Neste trabalho de pesquisa, os
dados indicam que os operadores que “sofreram na carne a experiência de trabalharem como
peões da área” (fala de um operador que controla a IPC por sistema automatizado) possuem
“representações” de qualidade superior às “representações” dos operadores que começaram
diretamente na “sala de controle” da IPC. Vejamos:
Os que possuem “image-schemata”, “embodied-schemata” ontogeneticamente corporificados



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pela história de contato com a planta, pela “aculturação” e “socialização” ao universo
concreto da planta e puderam “incorporar” o processo produtivo em seus corpos na forma de
esquemas para ação ou esquemas incorporados – estes operadores possuem uma “embodied-
competency” ou competência incorporada que torna sua ação mais eficiente que a ação dos
colegas que iniciaram a experiência trabalho diretamente no painel de controle ou no sistema
automatizado atualmente em uso.
Quais diferenças esta pesquisa detectou? Os agentes que estiveram incorporados na planta: a)
Planificam a ação (LEPLAT, 1997, 1999) com mais eficiência; b) controlam o processo com
menor variação e com menos oscilações; c) mantêm o processo por um tempo maior dentro
dos níveis esperados de normalidade quando comparados como os operadores que jamais
trabalharam na área; d) tomam decisões mais eficazes; e) gastam menos tempo nesta tomada
de decisão; f) possuem um vocabulário repleto de imagens metafóricas herdadas do tempo
que trabalhavam na área (“image-schemata” – (JOHNSON, 1990; ROHRER, 2005), as quais
permitem uma “intercompreensão” (ZARIFIAN, 1999) mais ágil, rápida e eficiente com os
demais atores da produção e um estabelecimento de comunicação que é bem mais eficaz na
solução de problemas inesperados, imprevistos, eventos, panes, quebras, desvios de
normalidade do processo, desvios e variações na qualidade da matéria-prima, etc); g)
conseguem retornar o processo aos parâmetros de normalidade com maior rapidez e facilidade
que os demais; h) solucionam problemas com maior rapidez e sem necessidade de re-
correções; i) Demonstram menos conhecimento teórico, menor atividade de abstração e de
raciocínio analítico e estratégias e planificação de ações muito pouco baseadas em regras
(visto que os outros operadores, cuja história se iniciou no “controle” do processo, apegam-se
mais às normas e procedimentos prescritos da IPC...).
É como se o corpo do operador, seus músculos, seus nervos e estruturas aferentes e sensoriais
se estendessem por toda a planta, por meio de recursos diferenciados de comunicação extra-
sala de controle, os quais, de fato, tornam o operador como um “corpo estendido e situado”
sobre a refinaria, sobre a fábrica de cimento, sobre a usina – corpo que reconstrói e reorganiza
os sinais do processo a todo momento e os reformula numa função de re-enquadramento
segundo sua estrutura e sua organização interna formada por esquemas incorporados para a
ação e “image-schemata” adquiridos em sua história de área, história carnal na planta. Vem
desta história de carne, de seus elementos concretos, o que agora o observador imagina tratar-
se puramente de raciocínios, imagens e estratégias mentais para a ação eficaz sobre o
processo. Eis a representação.
Incrível é observar como “mapas tão precisos” e representações “tão fortes” possam ocorrer
sem a participação do corpo que experimenta, no “mundo da carne”, a atividade de trabalho.
A ciência cognitiva atual mostra que a “representação” é o resultado de uma atuação, de uma
história de inserção da carne, do corpo, num processo de trabalho específico, numa atividade
específica, permitindo o desenvolvimento de esquemas incorporados que, estes sim, ao invés
das “representações” puramente idealistas e abstratas, permitem “abrigar cada vez mais a
realidade e melhorar a qualidade e a adequação dos cursos de ação”, conforme os trechos da
citação anterior. Ao invés de “representações para a ação”, é mais coerente com o novo
paradigma das ciências cognitivas falar de “esquemas incorporados para a ação” ou
“embodied-schemata” (JOHNSON, 1990).
Engenheiro e operador atuam em domínios operacionais distintos ou diferentes ontologias da
realidade. Não usam os mesmos índices, visto que o operador se apóia mais largamente em
seus “embodied-schemata” que o engenheiro não possui e talvez não adquira jamais. Se a



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análise ergonômica da atividade é a análise do sistema homem-tarefa, que homem é este que
age na atividade? Um homem ideal, processador de informação, no qual o corpo não
participa do saber ou um homem dotado de um saber incorporado?
O que significa “deixar sua marca” no trabalho senão materializar, nele, algo de si, algo de
sua estrutura interna, de sua função-incorporação? O que torna um objeto significativo para
um operador; o que torna a ação dotada de sentido é o “embodiment”, não a representação, e a
Ergonomia afirma isso, a todo momento, embora não o explicite em termos conceituais e
teóricos específicos:
Ao que encontramos a resposta justamente na investigação das estruturas de junção entre o
fisiológico e o psicológico, ou os “embodied-schemata” que permitem compreender com mais
clareza o funcionamento do sistema de trabalho em sua interioridade, a interioridade que a
Ergonomia busca adentrar em seus estudos e investigações sobre o homem em atividade de
trabalho.
Uma questão intrigante que surge é sobre a validade do “embodiment” nas indústrias de
processos contínuos (IPC’s) e nas indústrias de produção discreta ou mesmo nos processos de
serviços. Ora, uma visão tão abrangente não pode jamais ser enquadrada em algum modo
específico de processo de produção, visto que ela refere-se à ontogênese mesma do
trabalhador num recorte de algo que é fomentado, gerado, pela própria atividade de trabalho
em suas estruturas cognitivas, psíquicas, incorporadas – seus esquemas... Os “embodied-
schemas”.
Quanto às milhares de variáveis que o controle de processo coloca sob o controle cognitivo do
operador, jamais seria possível com elas lidar sem que houvesse, também, a ativação dos
“embodied-schemata” que, em vários casos, são resultantes ontogeneticamente da vivência de
atividade de trabalho na “área” (chão de fábrica) e não no painel de controle. Por que os
operadores que iniciaram sua história no “chão-de-fábrica” possuem uma capacidade de
abstração e de elaboração de estratégias para a planificação da ação de modo mais eficiente e
mais eficaz que os operadores que iniciaram diretamente no painel de controle?
A resposta é dada na noção de “embodiment” e na noção histórica de aquisição de esquemas
incorporados que moldam a competência incorporada do agente de processo contínuo.
Alguém pode questionar que ele não se movimenta no processo, logo, tudo o que foi dito
sobre o movimento do corpo perde sentido para os operadores de controle das IPC. Ledo
engano. O movimento é aquele armazenado na história do operador, armazenado e ativado
por esquemas que permanecem vivos num outro tempo, numa outra duração que a todo
momento faz emergir os movimentos do tempo de “área”, do tempo de “chão de fábrica”.
As “milhares de variáveis que se inter-relacionam e evoluem no tempo”, com elas não seria
possível planificar a ação e elaborar uma estratégia de intervenção no sistema automatizado
de controle sem que se incluir, na discussão, a noção de atuação. A noção de representação
falha ontológica e epistemologicamente (e também filosoficamente...) na explicação do
“como” o operador coordena, em sua dimensão de atividade mental, essas milhares de
variáveis no controle do processo.
As abordagens de habilidades e competências para controle de processo em IPC’s, cruciais
para a Ergonomia Cognitiva e para a Teoria da Ação, estariam “mancas” se não estivessem
respaldadas pelo novo paradigma das Ciências da Cognição: O paradigma da “Mente
Incorporada” (“Embodied Mind”...). O “embodiment” tem andado junto com a Ergonomia, de
modo tênue e discreto, e agora pode-se, sob o respaldo das ciências da cognição, explicitar



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isso e estender o seu alcance epistemológico e ontológico para diversos trabalhos práticos.
Não é representando a matéria que o homem a experimenta ou vivencia o mundo material,
mas é comungando com a matéria, sendo matéria, estando matéria que o homem pode criar,
sonhar, imaginar, abstrair... O único modo de abstrair-se do mundo é estando nele pela
matéria:
“Este modelo operativo não constitui necessariamente uma representação no sentido que é
habitualmente dado a este termo, ou seja, uma figuração consciente da situação”
(RABARDEL  PASTRÉ, 2005, pág. 104, trad. nossa).
Nos processos contínuos, em especial no processo de controle de refinarias de petróleo, a
configuração das telas para diferentes situações de ação (que reduz a sobrecarga de memória
de curto prazo, favorecendo o diagnóstico das panes) envolve conhecer este trabalho que,
hoje, as ciências cognitivas demonstram envolver o “pensar com o corpo”.
Boa parte de sua “elaboração mental” eficiente e eficaz vem do corpo e da mente que
experimentaram o processo no tempo do painel analógico e mesmo as duras rotinas do
trabalho da área. Os operadores por aí “instrumentalizados”, (na acepção de
instrumentalização conferida por Rabardel (1995) e por Rabardel  Pastré (2005) enquanto o
que permite a ação eficaz por um sujeito capaz e por intermédio de seu corpo) são mais
competentes que os operadores iniciados no controle digital. Por que?
Ora, as ciências cognitivas respondem com clareza a esta questão. Que tipo de instrumentos
dispõem os operadores que realizam as “ melhores representações” e que controlam o
processo com mais eficiência e eficácia? São os intrumentos incorporados conhecidos como
“embodied-schemata” e “image-schemata”.
Um “mapa mental” não surge do nada, mas sim com base no “image schemata” (JOHNSON,
1990) que possui uma base neural como uma ativação dinâmica de padrões que ligam-se ao
córtex sensoriomotor (ROHRER, 2005). Ou seja, a linguagem e o pensamento abstrato, no
controle de processo contínuo dependem de uma “neurological body-part” do córtex
sensoriomotor que asseguram a compreensão semântica do processo como uma espécie de
metáfora do corpo em ação (“embodied-image”). Áreas integradas do córtex sensoriomotor
desempenham importante função de produção de funções esquemáticas ou “image-schemata”.
5. Considerações finais
Se o controle de processo é algo esquemático e abstrato, não há no processo mental aí
envolvido nada que seja puramente mental. O corpo se faz presente a todo momento, pelas
regiões do cérebro que controlam funções sensoriomotoras. As atividades cognitivas
conhecidas como funções superiores, inclusive a linguagem (VYGOTSKY, 2004) são
funções, na atividade de trabalho, apoiadas nas experiências sensoriomotoras do corpo. As
atividades de abstração do processo de controle automatizado de uma planta industrial
envolvem processos mentais fomentados pela atividade espacial, visual e tátil do corpo que
passou pela experiência carnal do processo.
Até as expressões lingüísticas dos operadores, os seus jargões (“boneco de neve”, “chiado da
virada do material”, “rio vermelho correndo solto...”, etc.) são expressões que evidenciam
“padrões dinâmicos de experiência corporal recorrente” (JOHNSON, 1990; ROHRER, 2005)
denominados por estes autores de “image schemata”. Estes esquemas metafóricos talhados
ontogeneticamente pela experiência corporal na atividade mental são profundamente
arraigados na experiência incorporada dos operadores (agentes).



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Um esquema-imagem é um padrão recorrente que confere estabilidade às ações dos
operadores, oriundos do universo incorporado de percepção e sensório-motricidade. Esses
padrões emergem como estruturas de significação vindas mesmo de um nível primário de
movimentos do corpo no espaço, da manipulação de objetos e das interações perceptivas no
mundo material. Portanto, a atividade de “controle”, altamente abstrata e imaterial, está
assentada numa base incorporada dada pela estrutura dos “image-schemata”.
A experiência que os origina vem da experiência de modalidade tátil-perceptiva, com um
conteúdo físico que vai ser o sustentáculo da atividade mental abstrata de caráter não tátil, não
físico, não perceptivo, não-proposicional (JOHNSON  ROHRER, 2006).
Ora, vem dos ergonomistas mesmos a comprovação destes fatos presentes no cotidiano dos
processos contínuos de controle automatizado. Ainda Duarte  Santos afirmam-no, ao
demonstrarem que os operadores acabavam tendo de conhecer o sistema não por uma
abstração fornecida nos cursos e treinamentos, mas sim por tentativa e erro.
Um operador elabora mapas organizados com base na fase cortical, em sua capacidade
sensoriomotora. Operadores abstraem da experiência concreta e lidam com símbolos no
sistema de controle de uma IPC devido a estes padrões recorrentes organizados como
experiências visuais, auditivas e sensoriomotoras. Estes mapas conferem coerência e mantêm
em equilíbrio as funções psíquicas superiores necessárias ao controle do processo por meio de
símbolos abstratos.
“Seus corpos estão em suas mentes, no sentido em que os mapas sensoriomotores fornecem a
base para a atividade de conceitualização e raciocínio (...) imaginação e razão são
constituídas por estes padrões de ativação dados nestes mapas neurais” (JOHNSON 
ROHRER, 2006).
Mapas incorporados e fabricados pela ação do corpo em atividade de trabalho.
Eles são a prova viva das estruturas não-representacionais de significação, compreensão e
raciocínio. Estes mapas incorporados são a base material, corporificada, para a experiência no
mundo. Eles são indissociáveis da experiência sensoriomotora no mundo. Ainda, conforme os
autores:
“a palavra representação está baseada numa analogia filosófica incorreta, assim como a
idéia de linguagem do pensamento pela qual o estado mental se liga ao mundo como uma
palavra supostamente se representa um objeto ou estado do mundo” (JOHNSON 
ROHRER, 2006).
Os “image-schemas” são então parte do modo não representacional do operador lidar com a
atividade. Estruturas do tipo “image-schemas” são a base do entendimento de todos os
aspectos da atividade perceptiva e motora nos diferentes processos de trabalho.
Referências
JOHNSON, M. The body in the mind: bodily basics of meaning, imagination and reason. Chicago: Chicago
University Press, 1990.
JOHNSON, M.  ROHRER, T. We are live creatures: embodiment, american pragmatism and the cognitive
organism In: ZLATEV, J.; ZIEMKE, T.; FRANK, R.  RENÉ, D. (Eds.). Body, Language and Mind . Berlin:
Mouton de Gruyter, 2006.
LEPLAT, J. Regards sur l’activité en situation de travail. Paris: PUF, 1997.
LEPLAT, J. L’Analyse du travail en psychologie ergonomique. Paris: Octares, 1999.




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PESCHL, M. Understanding representation in the cognitive science. New York: Kluwer Academic, 2000.
RABARDEL, P. Les activités avec instruments. Paris: A. Colin, 1995.
RABARDEL, P.  PASTRÉ, P. Modèles du sujet pour la concepcion. Paris: Octares, 2005.
ROHRER, T. Image Schemata in the Brain In: HAMPE, B.  GRADY, J. (Eds.). From perception to
meaning: image schemas in cognitive linguistics. Berlin: Mouton de Gruyter, 2005.
ROHRER, T. The body in space: dimensions of embodiment In: ZLATEV, J.; ZIEMKE, T.; FRANK, R. 
RENÉ, D. (Eds.). Body, Language and Mind . Berlin: Mouton de Gruyter, 2006.
VYGOTSKY, L. Teoria e método em psicologia. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
WISNER, A. Por dentro do trabalho; ergonomia: método e técnica. São Paulo: FTD-Oboré, 1987.
WISNER, A. Questões epistemológicas em ergonomia e em análise do trabalho. In: DANIELLOU, F. (Org). A
Ergonomia em busca de seus princípios. São Paulo: Edgard Blücher, 2004.
ZARIFIAN, P. Objectiv Compétence. Paris: Liasons, 1999.
ZIEMKE, T. Robosemiotics and embodied enactive cognition. Skövde: DCC-University of Skövde, 2002.




                                                                                                                                                        10

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Contribuições epistemológicasdo e mbodiment na ergonomia cognitiva

  • 1. £'''¡$'2) £©'©$ £ ¡£¡©§¥¡£¡  4 ) 6 5 4 0 3 # 1 0 ) ( % # % # # ! ¨ ¤ ¨ ¨ ¨ ¦ ¤¤ ¢   FAF hEY FAtsAtyBARptyxwS FeFAbc¥Fcts@ R¥FFApFFS Ag FfBeFcbBFVS FIRWVTRBFIG FD ABA97 8 Y G E q Gr@ 8ri P i 8 Sr8v C X u S a ` GC D 8r E 8C q S i S D h E Y Q P d S a ` P Y C X G 8 U S Q 8 P H E C 8 @ 8 Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 CONTRIBUIÇÕES EPISTEMOLÓGICAS DO “EMBODIMENT” NA ERGONOMIA COGNITIVA E NAS TEORIAS DA AÇÃO Gilbert Cardoso Bouyer (UFOP) gilbertcb@uol.com.br Giovanni Costa Santos (UFOP) learn10@uol.com.br Gustavo Ferreira Mello (UFOP) mjbirro@terra.com.br Este texto relata que a ergonomia, em seus estudos sobre as indústrias de processos contínuos (IPC), alcançou algo bem semelhante ao que neste texto denominaremos por “embodiment” ao analisar a linguagem dos operadores e até mesmo os verboss que são utilizados na interação lingüística destes com a área. Nas atividades de abstração estão presentes, de modo enfático, verbos que traduzem o “embodiment” e os “image-schemata”, como “sentir, visualizar, checar, observar, perceber, manobrar, mexer, operar”. O que se verifica é que a “atividade intelectual” do operador, ao contrário daquela do engenheiro, apóia-se, em larga escala, no “embodiment”: sua incorporação no contexto do trabalho, sua ação situada, seu trabalho sustentado pela mobilização de esquemas incorporados (“embodied-schemata”) e metáforas ou padrões recorrentes (“image- schemata”) aos quais correlacionam-se mapas neurais de base cortical (córtex cerebral responsável pela atividade sensório-motora) baseadas nas experiências sensorial e perceptual, ambas corporalmente adquiridas em sua vivência direta na área. Esta experiência, histórica, hoje permite controlar de modo eficaz e eficiente o processo produtivo, devido à ação incorporada ou “embodied action”, via “embodiment” dado na história de incorporação de “corpo e mente” na atividade de trabalho. Afasta-se tal abordagem da noção de representação mental para ceder espaço à de atuação/incorporação (“embodiment”). Palavras-chaves: cognição; ação; mente incorporada
  • 2. ©k§‰‰§…T‰f7 ‰©‰‰V‰‰FT‰p'e‰ƒ©e$§’e‰©¡V…ƒ©©€ h 7 j i • h d g – • e d 7 ™ — – ˜ — – – • ” “ † ˆ‚ ‡ “ † ˆ ‘  † ˆ ‡ † „ ‚‚  € W~c ‚q{ cw¥tw¥xcsyx… ˆyw cbW~u~r Ww¥yn ym cW~Wcw ~ W€ccc~~WcWw W£yBt£Wu'r cp scw9l m { r q „ r…n m…ƒ t ƒ m w m‡ o z † w } | o p m… q o „ w ƒ w p ‚ q { v t  w } | t { o z r m xw v m t s q o m n m Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 1. Introdução Desde que a Ergonomia Francesa propôs que o homem em atividade de trabalho não se resume a um sistema de estímulos e respostas e que, também, não pode ter seu comportamento explicado inteiramente pelas leis das ciências biológicas e físicas de modo isolado (fisiologia do trabalho, antropometria, etc), abriu-se um espaço para a compreensão mais ampla das características antropológicas do homem em atividade. Mas, qualquer que seja a abordagem ergonômica que se busque avaliar, de uma maneira ou de outra, ela faz referência ao que neste texto denominamos por “embodiment”. Nos trabalhos de Wisner (1987), a discussão da interseção entre as cargas física, psíquica e cognitiva da atividade tem, perpassando em sua essência, a questão do “embodiment”: Que corpo é este que atua e, ao atuar – no sentido de atuação: agir numa situação de trabalho como agente situado, acoplado na atividade, sob os efeitos da incorporação ao contexto (“embodiment”) que absorve e afeta os fenômenos da cognição (neste enfoque, atrelados ao conceito de ação conforme Johnson Rohrer (2006)) em atividade de trabalho; gera fenômenos que entrelaçam as dimensões física, psíquica e cognitiva do ser em atividade? Quem está a exercer uma atividade de trabalho não está a envolver, a si mesmo, em complexos processos que agem no corpo, na mente, no espírito? É agindo que se cria a rede de fenômenos que “surgem” e desaparecem sem deixar rastro, como que um mundo criado na ação, pela ação e “reluzente” apenas enquanto dura a ação. Em diversos trabalhos, sem que se denominem os conceitos e filosofias do corpo que age, os autores já fazem referência ao “embodiment”. “Embodiment”, na Ergonomia, remete aos cheiros, ruídos, vibração, cor, temperatura, sinal... são todos elementos que apenas os “embodied-schemata” (JOHNSON, 1990) podem tratar; elementos que requerem uma espécie de competência incorporada para serem “processados” – visto que na realidade eles não são e jamais foram “processados” mas sim incorporados e re- criados na interioridade dos operadores, em ação, em atuação. Na atividade de trabalho. O que existe de encadeamento lógico e representacionista na ação possui uma base incorporada e experiencial. Em particular, essa base se aloja na forma de “image-schemata” que contêm inferências e conferem racionalidade / inteligibilidade à ação. Ou seja, há uma estrutura interna atuante no trabalho que pode ser traduzida em algo mais formal mas que, na realidade, não deixa de ser uma estrutura incorporada de ação que possibilita toda atividade de abstração necessária ao processo de trabalho, inclusive o entendimento das próprias relações formais sobre conceitos e proposições: a “dimensão conceitual do modelo operatório” (RABARDEL PASTRÉ, 2005, p. 103). Os esquemas incorporados são a chave para que este nível conceitual se torne inteligível aos agentes e permita um ajustamento da ação conforme a situação de trabalho. O esquema mais geral que permite ao operador lidar com variadas classes de situações está apoiado sobre uma base perceptivo-gestual de ajustamento da ação (RABARDEL PASTRÉ, 2005, p. 102-106). A compreensão conceitual ou a abstração do operador ocorre como uma metáfora da compreensão do próprio movimento deste no trabalho (JOHNSON ROHRER, 2006) – Os conceitos e proposições na mente são como que metáforas de movimentos e atos provenientes do corpo que atua no processo de trabalho. Esta espécie de sistema metafórico muito bem explicado por Johnson Rohrer (2006) e por Johnson (1990) projeta-se na linguagem e na ação do trabalho enquanto meios de raciocinar, de planificar a ação e de gerar compreensão 2
  • 3. ©k§‰‰§…T‰f7 ‰©‰‰V‰‰FT‰p'e‰ƒ©e$§’e‰©¡V…ƒ©©€ h 7 j i • h d g – • e d 7 ™ — – ˜ — – – • ” “ † ˆ‚ ‡ “ † ˆ ‘  † ˆ ‡ † „ ‚‚  € W~c ‚q{ cw¥tw¥xcsyx… ˆyw cbW~u~r Ww¥yn ym cW~Wcw ~ W€ccc~~WcWw W£yBt£Wu'r cp scw9l m { r q „ r…n m…ƒ t ƒ m w m‡ o z † w } | o p m… q o „ w ƒ w p ‚ q { v t  w } | t { o z r m xw v m t s q o m n m Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 para inúmeras situações no trabalho. A compreensão de uma proposição no trabalho envolve estar situado, contextualmente, atuante (incorporado, en-agido) em um espaço definido. Estar atuante, “ser-no-mundo”, “estar-na-ação”, sob certos limites dados na materialidade de tempo (temporalidade do processo de produção) e do espaço (no qual se desencadeiam os atos, os gestos do corpo físico e os modos operatórios). Os esquemas que operam nesta atuação- incorporação o fazem de modo a tornar o mundo da produção (ou o “mundo de cada um” (RABARDEL PASTRÉ, 2005, pág. 102), que contém a organização da ação como estrutura da situação e como fruto da experiência) passível de inteligibilidade e compreensão; passível, também, de intercompreensão com outros agentes aí acoplados, situados e atuantes numa mesma rede, também, de intersubjetividade e “cognição compartilhada”. 2. O problema de pesquisa Essas “categorias conceituais”, ou conceitos pragmáticos para a ação em um “modèle opératif”, que permitem articular as propriedades da ação – invariância e adaptabilidade – de modo a torná-la eficaz (RABARDEL PASTRÉ, 2005, pág. 102-103) são, sob determinado ponto de vista, “categorias metafóricas” ou comportamentos solicitados a todo momento na ação. O operador compreende o processo de produção por meio dessas metáforas em sua experiência diária. Daí surgem as possibilidades de um encadeamento baseado na lógica das proposições, das cadeias simbólicas e representações. O que nos diz a via empírica da realidade quanto ao modelo da representação mental? O mesmo que nos tem dito a via teórica e epistemológica. As “Dimensões do Embodiment” (ROHRER, 2006) estão presentes no controle do processo contínuo – A presença do corpo e dos esquemas incorporados de ação, em atuação, são o que configuram a “representação” para o controle de processo. E o respaldo teórico, epistemológico e filosófico para esta abordagem do universo empírico de uma “ausência de representação” é tão ampla que Peschl (2000) prefere utilizar o termo “representação sem representação” para se referir ao processo de “conhecer” e de gerar conhecimento como mecanismos de transformação sensoriomotora no córtex cerebral. Longe da representação como algo “desincorporado”, este autor diz que a “representação” não é determinada pelo ambiente mas pela organização, estrutura e restrições referentes a um sistema sensoriomotor embebido num dado contexto social e cultural e simultaneamente encarnado no corpo por via dos esquemas e metáforas de ação o “embodied- schemas” (JOHNSON, 1990). Ora, mas no lugar da representação, tem-se as construções incorporadas resultantes de esquemas incorporados construídos pela história de inserção de “corpo presente” num dado processo de trabalho. Estas construções funcionam, quando numa necessidade de atividade mental, atividade abstrata, tomada de decisão, construção e ou “planificação da ação”, como “metáforas” ou “imagens metafóricas” que se apóiam na experiência com o mundo físico da ação para, daí, tornarem-se construções para o mundo abstrato da representação: O que na literatura recebe o nome de “Image Schemata” (ROHRER, 2005; ROHRER, 2006; JOHNSON, 1990; JOHNSON ROHRER, 2006). “Nós, humanos, pensamos com atos e nós agimos como modo (meio) de construir pensamento (“representação”) – Cognição é ação” (JOHNSON ROHRER, 2006). O mesmo vem sendo comprovado na inteligência artificial, na qual os robôs inteligentes necessitam “agir com o corpo de robô para poderem pensar” (ZIEMKE, 2002). Os “image-schemas” são efetivados como padrões de ativação em mapas neurais topológicos do sistema nervoso. Um mapa neural contém padrões de ativação sensoriomotora ou “image- 3
  • 4. ©k§‰‰§…T‰f7 ‰©‰‰V‰‰FT‰p'e‰ƒ©e$§’e‰©¡V…ƒ©©€ h 7 j i • h d g – • e d 7 ™ — – ˜ — – – • ” “ † ˆ‚ ‡ “ † ˆ ‘  † ˆ ‡ † „ ‚‚  € W~c ‚q{ cw¥tw¥xcsyx… ˆyw cbW~u~r Ww¥yn ym cW~Wcw ~ W€ccc~~WcWw W£yBt£Wu'r cp scw9l m { r q „ r…n m…ƒ t ƒ m w m‡ o z † w } | o p m… q o „ w ƒ w p ‚ q { v t  w } | t { o z r m xw v m t s q o m n m Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 schemas”. As capacidades conhecidas como funções psíquicas superiores – significação, compreensão, imaginação, pensamento proposicional e o sentido de “self” – são todas construídas sobre a base incorporada de estruturas experienciais. Há uma capacidade em tomar a informação recebida pela modalidade sensorial e convertê-la em mapas neurais e “image-schemas”. “Abstract representations” não são inerentemente espelhos de objetos e coisas externas, mas são os moldes compostos por estruturas perceptivas e sensoriomotoras que tomam o lugar da representação: Moldes incorporados e temporalmente situados (história de atuação) denominados por “image schemas”. É freqüente a transmissão de informação do sistema visual para o sistema sensoriomotor, e tudo passa a ser convertido num mapeamento topológico, em mapas neurais; eles são padrões sensoriomotores da experiência, os quais são instaurados e coordenados entre outros mapas neurais unimodais. Cada experiência sensoriomotora pode se converter em seu próprio mapa neural incorporado. 3. Os método de análise do problema Foi empregada a Análise Ergonômica do Trabalho (WISNER, 1987), em paralelo às análises propostas por Peschl (2000), Rohrer (2005), Johnson (1990), Johnson Rohrer (2006) e Rohrer (2005). Estas últimas são análises no campo da linguagem, sobretudo das estruturas semânticas aí presentes. São métodos que instruem sobre como avaliar a linguagem dos agentes e, mediante análise do uso de verbos, enunciados, estruturas semânticas e articulações destas com as ações adotadas, identificar e caracterizar a presença dos “embodied-schemata” e dos “image-schemata” como elementos estruturantes e determinantes da atividade abstrata, da própria linguagem, das funções cognitivas-psíquicas superiores e, no presente caso, das atividades abstratas e cognitivas relacionadas ao controle de processo nas indústrias de processo contínuo. Não se trata de afirmar que se deva analisar o substrato material do cérebro e suas leis visto que estes não explicam o fenômeno da “representação sem representação” (PESCHL, 2000). O “embodiment” está na interseção entre o universo biológico e o universo social e, por isso, as análises envolveram tanto o domínio biológico (mapas mentais corticais incorporados disparados pelas demandas das situações específicas de trabalho) quanto o domínio social e histórico (a vivência incorporada na área e os intercâmbios com outros atores da produção). O corpo é uma entidade que atua em dois mundos distintos: O mundo social e o mundo biológico, e um esquema incorporado foi analisado nestes dois mundos, como uma unidade que se forma na ontogênese do organismo, o que implica em modificações nas estruturas biológicas que interagem no universo social ora investigado em detalhe. As análises da atuação do agente envolveram avaliar seu corpo no trabalho não como um aparelho biológico, mas como um corpo também interligado com o mundo social e intersubjetivo; um corpo que é, de fato, o mediador entre o universo biológico e o universo social; corpo que se desdobra pelas vias dos esquemas nele armazenados para a ação eficaz. O “embodiment” vai justamente solicitar o caráter mais multidisciplinar da Ergonomia, lembrando que nas palavras do próprio Wisner, em seu texto sobre epistemologia, “ela é, principalmente, multidisciplinar. Ela cobre um largo espectro de conhecimentos; agrupa o engenheiro, o fisiologista, o médico, o psicólogo. É uma disciplina de síntese, convocada para fornecer as bases de ação em um campo, onde a parte ocupada pelos fatores não controlados ou não controláveis é importante” (WISNER, 2004). Ora, mas na medida em que estas disciplinas evoluem, que avançam em seu trajeto histórico 4
  • 5. ©k§‰‰§…T‰f7 ‰©‰‰V‰‰FT‰p'e‰ƒ©e$§’e‰©¡V…ƒ©©€ h 7 j i • h d g – • e d 7 ™ — – ˜ — – – • ” “ † ˆ‚ ‡ “ † ˆ ‘  † ˆ ‡ † „ ‚‚  € W~c ‚q{ cw¥tw¥xcsyx… ˆyw cbW~u~r Ww¥yn ym cW~Wcw ~ W€ccc~~WcWw W£yBt£Wu'r cp scw9l m { r q „ r…n m…ƒ t ƒ m w m‡ o z † w } | o p m… q o „ w ƒ w p ‚ q { v t  w } | t { o z r m xw v m t s q o m n m Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 de desenvolvimento epistemológico, de amadurecimento científico, coube, aos métodos de análises ora descritos, inserirem-se no universo metodológico da Ergonomia, absorver estas evoluções das disciplinas que a nutrem e, junto com elas, construir um novo modo de observar, de analisar e de compreender a atividade de trabalho cognitiva e a ação humana nesta atividade. A ciência cognitiva vem amadurecendo de modo vertiginoso na recente história do conhecimento humano. Como não incorporar, na Ergonomia, e no presente trabalho de pesquisa, as evoluções metodológicas e epistemológicas daí decorrentes, visto ser a Ergonomia Cognitiva uma disciplina que deve, segundo Wisner (2004), nutrir-se das ciências, i.e. ciências cognitivas? Se as ciências cognitivas adquiriram evolução tal que, hoje, contestam a existência de uma suposta representação enquanto espelhamento do mundo objetivo pelo sistema nervoso, coube às análises do presente trabalho trazer para a Ergonomia Cognitiva os métodos e teorias que já comprovadamente foram eficazes em desmistificar a idéia de representação mental. Pelo uso deles, caiu por terra a idéia de existência de representações mentais cartesianas construídas, pelos operadores, como espelhamento do mundo pela cognição em atividade. Ao invés da representação, os métodos da ciência cognitiva ora empregados na análise da linguagem dos operadores, e de sua ação, levaram ao encontro da atuação, da mente incorporada e dos esquemas-imagem e/ou esquemas incorporados. Na Ergonomia Cognitiva, muitos pesquisadores já vinham percebendo as incoerências da representação e elucidando o modelo da atuação sem, entretanto, disporem de uma bagagem conceitual e teórica que os permitisse melhor compreender o que, de fato, se passa no centro de um “processo de representação mental” na atividade de trabalho. 4. Dados, análises e discussões Quanto ao controle de processo contínuo, observemos o que diz um operador de destilação de petróleo: “Ninguém sabe o que se passa dentro desta torre de destilação. Isso aí é um buraco negro. Eu não penso, eu simplesmente faço e faço com o que eu sei, e não sei como, que é o certo e que dá certo. (...) Não entendo nada deste negócio e olha que estou aqui já faz mais de 15 anos. (...)Ninguém entende nada desta torre. Ela é um mistério. (...) O que eu faço aqui na sala de controle deve fazer acontecer alguma coisa lá fora, mas eu não sei o que. (...) Eu só sei que quando passo no ônibus e vejo a torre da janelinha, eu penso: não sei como eu ainda não explodi esse negócio sem querer porque eu não sei nem o que é isso daí” (Operador de refinaria de petróleo). Eis a “representação” que o operador elabora quando em atividade de controle automatizado de processo contínuo de destilação de petróleo numa refinaria. O operador não representa o processo e não o controla por representação. Na realidade, a “inteligência” que controla o processo não está no sistema nervoso do operador da Indústria de Processo Contínuo (IPC), mas sim no corpo que vivenciou a experiência da “área” e no corpo que, a todo momento, se mantém em contato com a área. Neste trabalho de pesquisa, os dados indicam que os operadores que “sofreram na carne a experiência de trabalharem como peões da área” (fala de um operador que controla a IPC por sistema automatizado) possuem “representações” de qualidade superior às “representações” dos operadores que começaram diretamente na “sala de controle” da IPC. Vejamos: Os que possuem “image-schemata”, “embodied-schemata” ontogeneticamente corporificados 5
  • 6. ©k§‰‰§…T‰f7 ‰©‰‰V‰‰FT‰p'e‰ƒ©e$§’e‰©¡V…ƒ©©€ h 7 j i • h d g – • e d 7 ™ — – ˜ — – – • ” “ † ˆ‚ ‡ “ † ˆ ‘  † ˆ ‡ † „ ‚‚  € W~c ‚q{ cw¥tw¥xcsyx… ˆyw cbW~u~r Ww¥yn ym cW~Wcw ~ W€ccc~~WcWw W£yBt£Wu'r cp scw9l m { r q „ r…n m…ƒ t ƒ m w m‡ o z † w } | o p m… q o „ w ƒ w p ‚ q { v t  w } | t { o z r m xw v m t s q o m n m Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 pela história de contato com a planta, pela “aculturação” e “socialização” ao universo concreto da planta e puderam “incorporar” o processo produtivo em seus corpos na forma de esquemas para ação ou esquemas incorporados – estes operadores possuem uma “embodied- competency” ou competência incorporada que torna sua ação mais eficiente que a ação dos colegas que iniciaram a experiência trabalho diretamente no painel de controle ou no sistema automatizado atualmente em uso. Quais diferenças esta pesquisa detectou? Os agentes que estiveram incorporados na planta: a) Planificam a ação (LEPLAT, 1997, 1999) com mais eficiência; b) controlam o processo com menor variação e com menos oscilações; c) mantêm o processo por um tempo maior dentro dos níveis esperados de normalidade quando comparados como os operadores que jamais trabalharam na área; d) tomam decisões mais eficazes; e) gastam menos tempo nesta tomada de decisão; f) possuem um vocabulário repleto de imagens metafóricas herdadas do tempo que trabalhavam na área (“image-schemata” – (JOHNSON, 1990; ROHRER, 2005), as quais permitem uma “intercompreensão” (ZARIFIAN, 1999) mais ágil, rápida e eficiente com os demais atores da produção e um estabelecimento de comunicação que é bem mais eficaz na solução de problemas inesperados, imprevistos, eventos, panes, quebras, desvios de normalidade do processo, desvios e variações na qualidade da matéria-prima, etc); g) conseguem retornar o processo aos parâmetros de normalidade com maior rapidez e facilidade que os demais; h) solucionam problemas com maior rapidez e sem necessidade de re- correções; i) Demonstram menos conhecimento teórico, menor atividade de abstração e de raciocínio analítico e estratégias e planificação de ações muito pouco baseadas em regras (visto que os outros operadores, cuja história se iniciou no “controle” do processo, apegam-se mais às normas e procedimentos prescritos da IPC...). É como se o corpo do operador, seus músculos, seus nervos e estruturas aferentes e sensoriais se estendessem por toda a planta, por meio de recursos diferenciados de comunicação extra- sala de controle, os quais, de fato, tornam o operador como um “corpo estendido e situado” sobre a refinaria, sobre a fábrica de cimento, sobre a usina – corpo que reconstrói e reorganiza os sinais do processo a todo momento e os reformula numa função de re-enquadramento segundo sua estrutura e sua organização interna formada por esquemas incorporados para a ação e “image-schemata” adquiridos em sua história de área, história carnal na planta. Vem desta história de carne, de seus elementos concretos, o que agora o observador imagina tratar- se puramente de raciocínios, imagens e estratégias mentais para a ação eficaz sobre o processo. Eis a representação. Incrível é observar como “mapas tão precisos” e representações “tão fortes” possam ocorrer sem a participação do corpo que experimenta, no “mundo da carne”, a atividade de trabalho. A ciência cognitiva atual mostra que a “representação” é o resultado de uma atuação, de uma história de inserção da carne, do corpo, num processo de trabalho específico, numa atividade específica, permitindo o desenvolvimento de esquemas incorporados que, estes sim, ao invés das “representações” puramente idealistas e abstratas, permitem “abrigar cada vez mais a realidade e melhorar a qualidade e a adequação dos cursos de ação”, conforme os trechos da citação anterior. Ao invés de “representações para a ação”, é mais coerente com o novo paradigma das ciências cognitivas falar de “esquemas incorporados para a ação” ou “embodied-schemata” (JOHNSON, 1990). Engenheiro e operador atuam em domínios operacionais distintos ou diferentes ontologias da realidade. Não usam os mesmos índices, visto que o operador se apóia mais largamente em seus “embodied-schemata” que o engenheiro não possui e talvez não adquira jamais. Se a 6
  • 7. ©k§‰‰§…T‰f7 ‰©‰‰V‰‰FT‰p'e‰ƒ©e$§’e‰©¡V…ƒ©©€ h 7 j i • h d g – • e d 7 ™ — – ˜ — – – • ” “ † ˆ‚ ‡ “ † ˆ ‘  † ˆ ‡ † „ ‚‚  € W~c ‚q{ cw¥tw¥xcsyx… ˆyw cbW~u~r Ww¥yn ym cW~Wcw ~ W€ccc~~WcWw W£yBt£Wu'r cp scw9l m { r q „ r…n m…ƒ t ƒ m w m‡ o z † w } | o p m… q o „ w ƒ w p ‚ q { v t  w } | t { o z r m xw v m t s q o m n m Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 análise ergonômica da atividade é a análise do sistema homem-tarefa, que homem é este que age na atividade? Um homem ideal, processador de informação, no qual o corpo não participa do saber ou um homem dotado de um saber incorporado? O que significa “deixar sua marca” no trabalho senão materializar, nele, algo de si, algo de sua estrutura interna, de sua função-incorporação? O que torna um objeto significativo para um operador; o que torna a ação dotada de sentido é o “embodiment”, não a representação, e a Ergonomia afirma isso, a todo momento, embora não o explicite em termos conceituais e teóricos específicos: Ao que encontramos a resposta justamente na investigação das estruturas de junção entre o fisiológico e o psicológico, ou os “embodied-schemata” que permitem compreender com mais clareza o funcionamento do sistema de trabalho em sua interioridade, a interioridade que a Ergonomia busca adentrar em seus estudos e investigações sobre o homem em atividade de trabalho. Uma questão intrigante que surge é sobre a validade do “embodiment” nas indústrias de processos contínuos (IPC’s) e nas indústrias de produção discreta ou mesmo nos processos de serviços. Ora, uma visão tão abrangente não pode jamais ser enquadrada em algum modo específico de processo de produção, visto que ela refere-se à ontogênese mesma do trabalhador num recorte de algo que é fomentado, gerado, pela própria atividade de trabalho em suas estruturas cognitivas, psíquicas, incorporadas – seus esquemas... Os “embodied- schemas”. Quanto às milhares de variáveis que o controle de processo coloca sob o controle cognitivo do operador, jamais seria possível com elas lidar sem que houvesse, também, a ativação dos “embodied-schemata” que, em vários casos, são resultantes ontogeneticamente da vivência de atividade de trabalho na “área” (chão de fábrica) e não no painel de controle. Por que os operadores que iniciaram sua história no “chão-de-fábrica” possuem uma capacidade de abstração e de elaboração de estratégias para a planificação da ação de modo mais eficiente e mais eficaz que os operadores que iniciaram diretamente no painel de controle? A resposta é dada na noção de “embodiment” e na noção histórica de aquisição de esquemas incorporados que moldam a competência incorporada do agente de processo contínuo. Alguém pode questionar que ele não se movimenta no processo, logo, tudo o que foi dito sobre o movimento do corpo perde sentido para os operadores de controle das IPC. Ledo engano. O movimento é aquele armazenado na história do operador, armazenado e ativado por esquemas que permanecem vivos num outro tempo, numa outra duração que a todo momento faz emergir os movimentos do tempo de “área”, do tempo de “chão de fábrica”. As “milhares de variáveis que se inter-relacionam e evoluem no tempo”, com elas não seria possível planificar a ação e elaborar uma estratégia de intervenção no sistema automatizado de controle sem que se incluir, na discussão, a noção de atuação. A noção de representação falha ontológica e epistemologicamente (e também filosoficamente...) na explicação do “como” o operador coordena, em sua dimensão de atividade mental, essas milhares de variáveis no controle do processo. As abordagens de habilidades e competências para controle de processo em IPC’s, cruciais para a Ergonomia Cognitiva e para a Teoria da Ação, estariam “mancas” se não estivessem respaldadas pelo novo paradigma das Ciências da Cognição: O paradigma da “Mente Incorporada” (“Embodied Mind”...). O “embodiment” tem andado junto com a Ergonomia, de modo tênue e discreto, e agora pode-se, sob o respaldo das ciências da cognição, explicitar 7
  • 8. ©k§‰‰§…T‰f7 ‰©‰‰V‰‰FT‰p'e‰ƒ©e$§’e‰©¡V…ƒ©©€ h 7 j i • h d g – • e d 7 ™ — – ˜ — – – • ” “ † ˆ‚ ‡ “ † ˆ ‘  † ˆ ‡ † „ ‚‚  € W~c ‚q{ cw¥tw¥xcsyx… ˆyw cbW~u~r Ww¥yn ym cW~Wcw ~ W€ccc~~WcWw W£yBt£Wu'r cp scw9l m { r q „ r…n m…ƒ t ƒ m w m‡ o z † w } | o p m… q o „ w ƒ w p ‚ q { v t  w } | t { o z r m xw v m t s q o m n m Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 isso e estender o seu alcance epistemológico e ontológico para diversos trabalhos práticos. Não é representando a matéria que o homem a experimenta ou vivencia o mundo material, mas é comungando com a matéria, sendo matéria, estando matéria que o homem pode criar, sonhar, imaginar, abstrair... O único modo de abstrair-se do mundo é estando nele pela matéria: “Este modelo operativo não constitui necessariamente uma representação no sentido que é habitualmente dado a este termo, ou seja, uma figuração consciente da situação” (RABARDEL PASTRÉ, 2005, pág. 104, trad. nossa). Nos processos contínuos, em especial no processo de controle de refinarias de petróleo, a configuração das telas para diferentes situações de ação (que reduz a sobrecarga de memória de curto prazo, favorecendo o diagnóstico das panes) envolve conhecer este trabalho que, hoje, as ciências cognitivas demonstram envolver o “pensar com o corpo”. Boa parte de sua “elaboração mental” eficiente e eficaz vem do corpo e da mente que experimentaram o processo no tempo do painel analógico e mesmo as duras rotinas do trabalho da área. Os operadores por aí “instrumentalizados”, (na acepção de instrumentalização conferida por Rabardel (1995) e por Rabardel Pastré (2005) enquanto o que permite a ação eficaz por um sujeito capaz e por intermédio de seu corpo) são mais competentes que os operadores iniciados no controle digital. Por que? Ora, as ciências cognitivas respondem com clareza a esta questão. Que tipo de instrumentos dispõem os operadores que realizam as “ melhores representações” e que controlam o processo com mais eficiência e eficácia? São os intrumentos incorporados conhecidos como “embodied-schemata” e “image-schemata”. Um “mapa mental” não surge do nada, mas sim com base no “image schemata” (JOHNSON, 1990) que possui uma base neural como uma ativação dinâmica de padrões que ligam-se ao córtex sensoriomotor (ROHRER, 2005). Ou seja, a linguagem e o pensamento abstrato, no controle de processo contínuo dependem de uma “neurological body-part” do córtex sensoriomotor que asseguram a compreensão semântica do processo como uma espécie de metáfora do corpo em ação (“embodied-image”). Áreas integradas do córtex sensoriomotor desempenham importante função de produção de funções esquemáticas ou “image-schemata”. 5. Considerações finais Se o controle de processo é algo esquemático e abstrato, não há no processo mental aí envolvido nada que seja puramente mental. O corpo se faz presente a todo momento, pelas regiões do cérebro que controlam funções sensoriomotoras. As atividades cognitivas conhecidas como funções superiores, inclusive a linguagem (VYGOTSKY, 2004) são funções, na atividade de trabalho, apoiadas nas experiências sensoriomotoras do corpo. As atividades de abstração do processo de controle automatizado de uma planta industrial envolvem processos mentais fomentados pela atividade espacial, visual e tátil do corpo que passou pela experiência carnal do processo. Até as expressões lingüísticas dos operadores, os seus jargões (“boneco de neve”, “chiado da virada do material”, “rio vermelho correndo solto...”, etc.) são expressões que evidenciam “padrões dinâmicos de experiência corporal recorrente” (JOHNSON, 1990; ROHRER, 2005) denominados por estes autores de “image schemata”. Estes esquemas metafóricos talhados ontogeneticamente pela experiência corporal na atividade mental são profundamente arraigados na experiência incorporada dos operadores (agentes). 8
  • 9. ©k§‰‰§…T‰f7 ‰©‰‰V‰‰FT‰p'e‰ƒ©e$§’e‰©¡V…ƒ©©€ h 7 j i • h d g – • e d 7 ™ — – ˜ — – – • ” “ † ˆ‚ ‡ “ † ˆ ‘  † ˆ ‡ † „ ‚‚  € W~c ‚q{ cw¥tw¥xcsyx… ˆyw cbW~u~r Ww¥yn ym cW~Wcw ~ W€ccc~~WcWw W£yBt£Wu'r cp scw9l m { r q „ r…n m…ƒ t ƒ m w m‡ o z † w } | o p m… q o „ w ƒ w p ‚ q { v t  w } | t { o z r m xw v m t s q o m n m Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 Um esquema-imagem é um padrão recorrente que confere estabilidade às ações dos operadores, oriundos do universo incorporado de percepção e sensório-motricidade. Esses padrões emergem como estruturas de significação vindas mesmo de um nível primário de movimentos do corpo no espaço, da manipulação de objetos e das interações perceptivas no mundo material. Portanto, a atividade de “controle”, altamente abstrata e imaterial, está assentada numa base incorporada dada pela estrutura dos “image-schemata”. A experiência que os origina vem da experiência de modalidade tátil-perceptiva, com um conteúdo físico que vai ser o sustentáculo da atividade mental abstrata de caráter não tátil, não físico, não perceptivo, não-proposicional (JOHNSON ROHRER, 2006). Ora, vem dos ergonomistas mesmos a comprovação destes fatos presentes no cotidiano dos processos contínuos de controle automatizado. Ainda Duarte Santos afirmam-no, ao demonstrarem que os operadores acabavam tendo de conhecer o sistema não por uma abstração fornecida nos cursos e treinamentos, mas sim por tentativa e erro. Um operador elabora mapas organizados com base na fase cortical, em sua capacidade sensoriomotora. Operadores abstraem da experiência concreta e lidam com símbolos no sistema de controle de uma IPC devido a estes padrões recorrentes organizados como experiências visuais, auditivas e sensoriomotoras. Estes mapas conferem coerência e mantêm em equilíbrio as funções psíquicas superiores necessárias ao controle do processo por meio de símbolos abstratos. “Seus corpos estão em suas mentes, no sentido em que os mapas sensoriomotores fornecem a base para a atividade de conceitualização e raciocínio (...) imaginação e razão são constituídas por estes padrões de ativação dados nestes mapas neurais” (JOHNSON ROHRER, 2006). Mapas incorporados e fabricados pela ação do corpo em atividade de trabalho. Eles são a prova viva das estruturas não-representacionais de significação, compreensão e raciocínio. Estes mapas incorporados são a base material, corporificada, para a experiência no mundo. Eles são indissociáveis da experiência sensoriomotora no mundo. Ainda, conforme os autores: “a palavra representação está baseada numa analogia filosófica incorreta, assim como a idéia de linguagem do pensamento pela qual o estado mental se liga ao mundo como uma palavra supostamente se representa um objeto ou estado do mundo” (JOHNSON ROHRER, 2006). Os “image-schemas” são então parte do modo não representacional do operador lidar com a atividade. Estruturas do tipo “image-schemas” são a base do entendimento de todos os aspectos da atividade perceptiva e motora nos diferentes processos de trabalho. Referências JOHNSON, M. The body in the mind: bodily basics of meaning, imagination and reason. Chicago: Chicago University Press, 1990. JOHNSON, M. ROHRER, T. We are live creatures: embodiment, american pragmatism and the cognitive organism In: ZLATEV, J.; ZIEMKE, T.; FRANK, R. RENÉ, D. (Eds.). Body, Language and Mind . Berlin: Mouton de Gruyter, 2006. LEPLAT, J. Regards sur l’activité en situation de travail. Paris: PUF, 1997. LEPLAT, J. L’Analyse du travail en psychologie ergonomique. Paris: Octares, 1999. 9
  • 10. ©k§‰‰§…T‰f7 ‰©‰‰V‰‰FT‰p'e‰ƒ©e$§’e‰©¡V…ƒ©©€ h 7 j i • h d g – • e d 7 ™ — – ˜ — – – • ” “ † ˆ‚ ‡ “ † ˆ ‘  † ˆ ‡ † „ ‚‚  € W~c ‚q{ cw¥tw¥xcsyx… ˆyw cbW~u~r Ww¥yn ym cW~Wcw ~ W€ccc~~WcWw W£yBt£Wu'r cp scw9l m { r q „ r…n m…ƒ t ƒ m w m‡ o z † w } | o p m… q o „ w ƒ w p ‚ q { v t  w } | t { o z r m xw v m t s q o m n m Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 09 a 11 de outubro de 2007 PESCHL, M. Understanding representation in the cognitive science. New York: Kluwer Academic, 2000. RABARDEL, P. Les activités avec instruments. Paris: A. Colin, 1995. RABARDEL, P. PASTRÉ, P. Modèles du sujet pour la concepcion. Paris: Octares, 2005. ROHRER, T. Image Schemata in the Brain In: HAMPE, B. GRADY, J. (Eds.). From perception to meaning: image schemas in cognitive linguistics. Berlin: Mouton de Gruyter, 2005. ROHRER, T. The body in space: dimensions of embodiment In: ZLATEV, J.; ZIEMKE, T.; FRANK, R. RENÉ, D. (Eds.). Body, Language and Mind . Berlin: Mouton de Gruyter, 2006. VYGOTSKY, L. Teoria e método em psicologia. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. WISNER, A. Por dentro do trabalho; ergonomia: método e técnica. São Paulo: FTD-Oboré, 1987. WISNER, A. Questões epistemológicas em ergonomia e em análise do trabalho. In: DANIELLOU, F. (Org). A Ergonomia em busca de seus princípios. São Paulo: Edgard Blücher, 2004. ZARIFIAN, P. Objectiv Compétence. Paris: Liasons, 1999. ZIEMKE, T. Robosemiotics and embodied enactive cognition. Skövde: DCC-University of Skövde, 2002. 10