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ou a má reputação
de um estulto em polvorosa
caco ishak
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2006 © Caco Ishak
ISHAK, Caco
Dos versos fandangos ou a má reputação de um estulto em
polvorosa/ Caco Ishak/ Rio de Janeiro: 7Letras, 2006.
ISBN 85-7577-299-6
1. Literatura Brasileira - poesia. I. Título
CDD 869.1B
Produção editorial
Debora Fleck
Isadora Travassos
Jorge Viveiros de Castro
Marília Garcia
Valeska de Aguirre
Ilustrações
Leonardo Menescal
Viveiros de Castro Editora Ltda.
R. Jardim Botânico 600 sl. 307
Rio de Janeiro RJ CEP 22461-000
t. [55 21] 2540-0076
editora@7letras.com.br
www.7letras.com.br
2006
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
SUMÁRIO
II. ENCRUZILHADA
# 2 ................................................................................ 13
# 4 ................................................................................ 14
# 6 ................................................................................ 15
# 7 ................................................................................ 16
# 9 ................................................................................ 18
# 13 .............................................................................. 19
# 15 .............................................................................. 21
# 21 .............................................................................. 22
# 27 .............................................................................. 23
# 40 e tantos ................................................................. 24
# 66 .............................................................................. 26
# 72 .............................................................................. 27
# 81 .............................................................................. 28
# 87 .............................................................................. 29
# 108 ............................................................................ 30
# 111 ............................................................................ 31
# 948 ............................................................................ 32
SMOKER .......................................................................... 33
I. PUBIS ANGELICAL
ainabacada .................................................................... 37
impressões que ficam..................................................... 38
brona’parq .................................................................... 39
soneto da timidez ou a tristeza
da certeza ................................................................ 40
buzz me asap ................................................................. 41
vividez........................................................................... 42
homens brancos não sabem voar ................................... 43
heart beat ...................................................................... 44
o comum de um lugar calado ........................................ 46
melindrosos .................................................................. 47
tolerância ...................................................................... 49
SUMÁRIO
III. LANÇOS PATAMARES LANÇOS
revelação ....................................................................... 53
reflexo ........................................................................... 55
das três coisas que todo homem deve fazer antes de se
matar ...................................................................... 56
papel em branco............................................................ 57
desfaireuoliariza isso, mulher ......................................... 58
panos ............................................................................ 60
bandido mármore ......................................................... 61
V. SOUNORA LAUDI
teu meu amor................................................................ 65
angulosos & paragofingos ............................................. 67
botafora neoconcreto
(posproposta agalope).............................................. 68
IV. VÍCIOS & ATROFIAS ..................................................... 69
n.o.f.f.a.a....................................................................... 71
fogos & artifícios........................................................... 72
petisco no anzol ............................................................ 73
trompa ausente ............................................................. 74
pertences ....................................................................... 76
barinaite........................................................................ 77
carambolas & prevaricações
(cabíveis de veto) ..................................................... 79
desperto dolores das dores do parto ............................... 81
trem pagão .................................................................... 82
estrelas e quetais – a mais claudicante
das rosas psicoativas................................................. 83
a
maria luiza salheb vieitas guimarães ishak
ou simplesmente
malu
o amor só convém aos que não são capazes de
suportar a pressão psíquica. pois amar é nadar
contra uma correnteza de mijo com dois barris
cheios de merda amarrados nas costas.
CHARLES BUKOWSKI
II. encruzilhada
[13]
# 2
culparam-me por causa de resquícios
paguei pelo não apagado
um grão de tequila por um mar de garrafas
desejos queimam o céu da boca
despelam as palavras
moro com a mãe de minha filha
e não me sinto menos homem por isso
[14]
# 4
todos temos tempo
quando
é para falarmos de nós mesmos
demônios não têm hora
e nem precisam prestar satisfações
julgam-me por minha vida
conjugal aparente
demônios nunca dormem
e nem mentem
[15]
# 6
provei do nexo do pecado
mistérios não
desinteressam ninguém
à espera do telefone
que não tem número pra tocar
e nem razão pra isso
[16]
# 7
por uma vez
somente
gostaria de ser mais amado
que deus
ter uma mãe que fosse
só minha
e não apenas
mais uma filha
de deus
que
para ficar a sós
com deus
não me desse
adeus
já me deu
a deus
o que já tinha
e isto basta
uma mãe
como a mãe
de deus
[17]
que me ouvisse
como ouve a deus
que me falasse
como fala a deus
que me visse
como seu filho
e não
apenas
mais um
filho de deus
[18]
# 9
a apreensão de teus
primeiros
gritos
pesavam meus olhos
na cama
minha lamúria
acordou a casa inteira
meu receio
era
dormir sozinho
agora
ninguém mais
dorme
[19]
# 13
presenteio todos
com meu
amadurecimento desorganizado
se comecei cedo
e cresci pendurado em árvores
comendo as goiabas que roubava
nem foi
sempre
tão assim
eu
muitas das vezes
me fiz poeta
e
deixei que
rasgassem
as roupas que
trajava
agora
faço
e
desfaço
[20]
sou assim
e
vaca assada
e
ninguém
tem
nada a ver
com
isso
amanhã
me organizo
e
penso em
permitir
que o sol
nasça
o
piegas
também
tem
sua classe
[21]
# 15
o fiasco de reflexos ensaiados
oscila e ecoa nu
fundo de uma garrafa
de teor sorvido por tantas
quantas possuíssem taças e esputos
e vigor para tanto
esparramamos
de boa vontade
aproximações ocasionais
para ridicarmos o desperdiçado
a soluços de argúcia
[22]
# 21
minha liberdade é a de uma bandeira
tremulando em suas certezas
o pouco de vento que
para se fazer disposta
foi capaz de tomar
às resoluções de seu ânimo
na imposição de uma alçada acorde
distrações inibem a segurança do mastro
como coincidências reagem
ao clamor do inaudito
[23]
# 27
de volta ao luto dos sentidos
ao fundamentalismo da palavra
e à ditadura da memória
que imploram e fazem as vezes de venetas
degradam os discursos de estações recentes
e escapam por entre as falanges da carência
quanto mais se prolonga a fuga
mais o rato come o gato
e faz morrer o fim do dia
[24]
# 40 e tantos
se gostava?
sim, um pouco
como assim
como não?
era levado por peixes
caminhava sobre o mar
e construía
pouco a pouco
dia a dia
o inabitável
pouco a pouco
pedaço a pedaço
desconstruíam-me
a mão que dava
comia a outra
bebia vinho tinto
para acompanhar
[25]
enxotara-me (sic) de sua vida
como quem enxota (sic)
os olhos da
paisagem
lenta e
softly
úmida e
(palavra francesa que tenha a ver com sexo)
quem fui um dia
eu
ora recorda
e pensa que
sim, um pouco
até que gostava
era levado por peixes
e entoavam cantos
no entanto
lambuzava-me a boca
e cuspia o mel fora
não importava a ordem
fracassos eram apenas
incertezas
[26]
# 66
rotinas capotam a cento e trinta por hora
expelindo estilhaços de uma vidraça embaçada
para além da poeira que já não se assenta mais
apraz-me a rota de atalhos e aleatórios
outrasinas lhe abastecem
e não dobram os joelhos
nem precisam saltar
sorrateiramente
de marcha em marcha
[27]
# 72
recomendações conduzidas
na toada de um sapateado que se bifurca na
memória
de espasmos e abandonos
a cada aproximação tentada
terminam por consentir
que a repulsa ao colo
sufoque os argumentos de um veio
que transborda a reconciliação
a sangria segue sendo
dos artifícios
o de maior diligência
na cura das enfermidades do humor
[28]
# 81
invejo a culpa de um casal adúltero
como quem dorme de costas viradas
para o sabor do pão
bater no peito
de nada adianta
se
por amor à vida
vícios e suculências
deixam de me aproximar da morte
come-se o miolo antes de mais nada
besuntado na euforia de um apreço
a casca é apenas o avesso
e todas as suas peculiaridades
[29]
# 87
criou-se o dispersivo em paragens estreitas
soaram o alarde
que
compreendido tardio
alastrou a clarividência
sacio-me em buracos fundos
e falhos e plúmbeos
onde de um tudo se encontra
e crianças são abandonadas
serei o pai de todas elas
[30]
# 108
anseios engendram seu próprio desfecho
sacrificam o excesso de zelo
e cravam no ventre a ausência
de casos esquecidos logo em seguida ao parto
firmando-se na desobediência
da cria que lhes sucede
selecionamos as perdas que nos selecionarão as
memórias
calados, silenciamos o remorso
não a falta de termos nos calado
[31]
# 111
fui dar um passeio descalço
fui
mas voltei
e cuidei de repensar
os passos que daria
[32]
# 948
não me surpreendo com o descaso das paredes
enquanto percorria seus sulcos
fora sempre por demais volátil
e pouco preciso no pouso
seu juízo não acompanhava os dividendos de
minha argúcia
nos passeios que faziam por receios de anônimos
até então
não havia dado sinal algum
de minha inclinação para o embuste
e obrigava-me a jantar calado
o amargo aguado de um prato moroso
preparado na apreensão das horas em alerta
que antecediam a clausura dos sentidos
excessos medicavam o sossego
[33]
smoker
dia desses ao folhear o jornal
ou revista ou fazer
as compras no supermercado de madrugada
simulando as entradas
e extremidades curvas
a mão esmagando a raiva
contra a buzina do santana
enquanto salivava
o azeite que sobrara
noO
fundo do prato
quebrado a pauladas
noO
afã finalmente dito
de uma lembrança vadia
ouvi que se repetem os termos
qual a palavra sussurra
exposar-me-ei antes que amanheça
I. pubis angelical*
[37]
ainabacada
percebe que não tenho nojo
propriamente dito
de gente
pelo contrário
dela me alimento
chupo todo o caldo
pra depois jogar o bagaço fora
não sem antes dar aquela mordiscada
o que não me agrada é o preparo
embora a cada dia mais me apeteça
os sabores e os cheiros de tua receita
[38]
impressões que ficam
terceiras são as impressões que ficam?,
ladinas ao corpo feito sangue
desprovido d´alma e rechaçado
posto ao crivo fátuo de um passado
que a uns tantos olhos se fez infame
sem malícias ter que se proclamem
revolta em carne assim tão constrita
que do resplendor que em ti alcança
– qual já o fez em momentos segundos
quando de anseios alimentada –
faz meu o só teu papel de rogada
e no corrente se curva ao mundo
do qual bradou na infância os absurdos
lançando a própria mão em cobrança
que em tempos outros jamais faria
e, no entanto, cala e se retrata
para que das impressões primeiras
se faça a conjunção derradeira
da adversidade que nos maltrata
firmando-se a perfeita cantata,
ainda terceiras continuariam?
[39]
brona’parq
ah, essa filha da glória
que de tanto que do amor fala
zoando primogênitos e/ou caçulas
dando pegas em mães de amigos meus
me fez te imaginar de loira
o cinza do sovaco nas dobras caindo dos braços
voz de macho enrouquecido de marlboro e gabriela
grelo esturricado e sem maquilagem no rosto
pra depois ir embora
num arrasta saia maroto
levando os guardanapos
sussurrados ao pé da mesa
enquanto ainda éramos somente dois desconhecidos
e tudo era mera coreografia
entreolhada por detrás dos panos
no intervalo entre uma talagada
e a impressão deixada num tablete de margarina
[40]
soneto da timidez ou a tristeza
da certeza
o pecado do tímido é não
fazer com que seus possíveis pecados
venham a nascer; de pronto enforcados
pelo desfundado medo de um não
ao tímido, então, será reservado
seu próprio não-ser, triste encarnação
pois na tristeza da certeza estão
os poucos gozos de um viver frustrado
imputar-lhe culpa por seus não-atos
não viria a ser por óbvio fardo injusto?
eis que pela memória do pecado
torna-se de sua tristeza o culpado
paga pela tal certeza alto custo
na timidez há solidão de fato
[41]
buzz me asap
o aro branco das tuas lentes
questionado ao canto de um frango caipira
traduz meus nervosismos
matuta e realiza
a chamada à fronte
temporariamente desregulada
estávamos em manutenção
beg your pardon
é que não entendi de fato
ainda assim sugiro
a pretensão de te ter full-time
e também ou todos os dias
se possível
numa das tardes descompromissadas
à disposição depois de um primeiro encontro
verdade é que não se controla uma tal maturidade
nem se apreendem seus circuitos internos
enquanto se guarda a expectativa
de que de algo podem adiantar as investidas
de uma marca sorvida no canto da boca que escorria
seus ciúmes e tragos e descontroles
[42]
vividez
defronta a vida e oculta o pranto aos tolos
pois são tíbios e, de entender teu choro
tão vívido, por não serem capazes
denunciariam-te aos guardiões do acalanto
que com afagos fariam do que em ti trazes
de fruição sedenta mero quebranto
a si granjeariam inusual malogro
a ti prestariam baldado consolo
luta sem descanso pela ventura
da qual te privaram madrugada ainda
e no caso de com quaisquer agruras
deparares-te, embora esteja a esmo
vivifica-me – pois vida em ti abunda –
que eu te amparo em tua busca por ti mesma
[43]
homens brancos não sabem voar
sambei uma moda de viola
como quem se atira de peito aberto
contra um ventilador de teto em movimento
mas ela fez que nem sabia
deu um gole no grapete
tirou seus sapatos de salto alto (pra depois voltar atrás
com a mão na consciência. porém, era tarde demais.
havia se propagado no vácuo como nos
bons filmes de ficção científica)
e foi ao centro do salão
abandonando pelo caminho
uma a uma
as jujubas que levava consigo num saco de pão
dormido na noite da última grande comemoração
que havíamos promovido juntos no quintal
[do vizinho
devoraram tudo
que não deixaram nem o pescoço
e cheiraram o açúcar antes que se espalhasse
[com o vento
[44]
heart beat
se durmo pensando em ti
e o mesmo me acontece ao tomar um banho
[quente
perdoa-me pelos pudores que ainda tenho de
[o fazer à mesa do jantar
“quero caber no teu abraço”
não cabendo eu adapto
e nem te levo pro lado negro da força por isso
“tô sem tubinho preto pra te abusar”
sai então logo correndo
que sou homem-bomba
relógio
“ia te pedir pra tirar umas fotos minhas quando lá”
não só as fotos, beibe
na paris de jim morrison
até que topo viver de amor
ainda tenho a casa dos meus pais pra morar
“uma coleira de veludo vermelho e um sapato de
[salto fino
[45]
já não é mais paixão
é fúria”
e repito:
que merda é essa de purple haze arranhando
[no toca-discos?
[46]
o comum de um lugar calado
explica-me o porém daquela noite
não vivida enquanto espera de nossas
vidas, caso vividas elas fossem
porquanto, mortas, trouxessem-nos mortas
para um dia que nunca o fora, para
o nosso acaso, as esperas absortas
em nosso caso dado cara-tapas
em nossas vidas não vividas, mortas
seria o comum de um lugar calado
no fundo de teus olhos que diriam
me arranha e bate, assoa e espera e ensaboa
porém disseram-me infortúnios à toa
os quais, não fosses tu, aceitaria
quanto ainda estou, mas nem tão calado
[47]
melindrosos
caso perguntarem
de minha parte
digas tu que assim seja ou não
os riscos aceitarei
de um passado que se faz presente
errante sempre
e sem razão
fosse eu poeta
caso perguntassem
acredita
por vezes foragido
por entre outras taras passeei
desapercebido
enquanto me esperavas
e não sabendo que conosco errava
assim às tantas perdurei
melindroso em meus erros
entretanto
sim eu sabia
soltem as feras
eu errei
[48]
em bocas outras te beijei
e acariciei teus cabelos
de outras moças mas tão teus
e montava peça a peça
olho a olho, pêlo e púbis
o estorvo que hoje é meu
nem só meu
nosso portanto
nada posso te assegurar
e nem te peço
o risco é nosso e
em verdade
bem mais teu do que o é meu
e que assim seja tudo em nossa aposta
caso aceites
melindrosa
o que
não sabias
mas já era teu
ou quase meu
[49]
tolerância
interpreta-me no borrão do teu paquete
enquanto durmo respingando
gotículas de bafo quente em teu cangote
e vê se não presta
tanta atenção assim na placa
da entrada que diz
sem lubrificante (implora com a ponta do dedão
curvada em meio às pregas do meu holocausto)
favor perturbar por motivos
estritamente sexuais
apenas (quem sabe
interrogação)
posto
que
sim
mui cretino
rogo
sem
saber
[50]
ronco plenipotente em cores
espúrias e
um cálice de balalaika
garrafas inteiras e pronto-socorro municipal
[na veia
uma mulata
capô de fusca
vinho tinto barato
banho-de-cheiro-do-ver-o-
peso e altura
raimunda
maisumpouco
em
miúdostoleras
ou
nemparatanto
até que entornaria do teu pranto
assim pois num prelúdio
desnudo e escorrido
desculpa se gozei
III. lanços patamares lanços
[53]
revelação
é de ponta a ponta dum refrão – talvez um
pouco antes; tanto depois (depende tudo de
[quem compartilha
a fossa e ora) – que se faz um filho maduro
e se despe da razão e da tolice que é vida e de si
e das fluorescentes de quatro e noventa e nove que
[deverão ser trocadas
a cada nova visita da sogra e da tevê muda
[ligada na mtv
e se reconhece o equívoco que um dia fora a
[salvação imolada por causa de um
pecado reproduzido e imola a si próprio e se
[desconhece num
ventre vazio e tenta de geração em geração
reverter a culpa calada na marra
o sol já não queimava mais seus tradicionais
[vermelho e fulvo
e suas bolhas na pele cujos prazeres armazenados
[no instante do estouro –
esta liberdade coceira que aprisiona durante a fuga
[– faziam-se sentir em tons de anil
e se calou a culpa revertida em marra
[54]
te espero sentado nas ruínas de minha paciência
para vestir-te a túnica que cosi dos resíduos
[de minha teimosia
e da qual te despirás no tempo do esboço de uma
apropriação
e o sol só será teu
quando e mais quem queiras
pois coleções de discos e o remoto da cabo
no longer will be mine
[55]
reflexo
reconheço-me em tuas palavras
mas em mim não me reconheço
e nem por isto me esmoreço
pois do viço com que falavas
contra os grilhões de tua alma escrava
deste ânimo não mais padeço
mas não que a ele eu seja adverso
somente aceito o que me aldrava
sem batalhas em vão travadas
muitas foram desde o começo
as baixas que até desconheço o
quanto ainda de mim lutava
quando da ruína proclamada
pelo que hoje sou, o avesso
do que outrora fora, um confesso
abordoado a minhas palavras
[56]
das três coisas que todo homem deve
fazer antes de se matar
escrevera o livro
nem sequer o folhearam
foi um fracasso de público
antes mesmo de sua publicação
plantara a semente
arrancaram o broto
e lá a raiz deixaram
para que apodrecesse com as intenções
fizera enfim o filho
e o abortaram
mataram-me em lida
antes que autorizado estivesse pelos que não
[se apagam
a encontrar-me eunuco nesta armação
[57]
papel em branco
ah, papel em branco, se soubesses o quanto
invejo a ti por teu vazio sem compromissos
sem dissabores, nem maiores sacrifícios
linhas sempre sóbrias que o, sobre ti, quebrantam
cá, comigo, no remoto o vazio desponta
intruso; ele, sem certo prumo, intransigente
no fechar das porta e cortinas de meu ventre
facheiro em frente à frágil idade que encontra
que não seja isto, no entanto, um impedimento
de no conforto do teu seio eu repousar
desse teu vazio fazendo meu recomeço
mas que venha minha cobiça a ser teu provento
desprovido que há muito estou de mais apreço
deste meu vazio fazendo teu perdurar
[58]
desfaireuoliariza isso, mulher
I.
comecei uma frase
e tentei terminá-la sem antes
passar pelo miolo
antecipei-me mais do que devia
e me faltaram os predicados
II.
passo por sérios apuros
faz alguns dias
gostaria de acreditar que logo passa
mas estou cansado de
piadistas infames
uma vaca nasce para ser vaca
cresce mamando sua vocação desde cedo
e rumina seus prazeres faça sol ou neblina
[59]
III.
nas horas que me sobram
recobro o hábito e
descasco o maço
que durante o
dia fumara
e mais
iria
ei
com agá
de muito macho
IV.
espumas inda provocar
iria fosse por dinheiro
mas do culto se ausentar
um absurdo que ninguém
seja só
vícios e espentelhos
não vou mais beber do teu paquete
[60]
panos
para quem sofria de paixonite semi-anal
patológica e crônica
mui jocoso vem se fazendo o seu destino
ao arrumar dores de um amor verdadeiro
e incestuoso
trepadas
tenho aos montes
na fita
um sorriso em branco
nada que compense o sono tranqüilo
emaranhado nos cabelos do peito
[61]
bandido mármore
desarregimentado por neoplasias fanfarronas
que desacreditam bem ou mal
as intenções mesmo fajutas de um equilibrista
[do alto
dum fio de cobre pavimentado
na calçada em frente ao pronto-socorro municipal
vírgula
desarregimentei
me
despropositada
me
n
te
e veio a voz do padre
que disse
ainda esperançoso
estamos em obra
(estarias deveras, meu filho?)
desculpe o transtorno
ou indo
simplesmente
direto ao sap da concórdia
[62]
cosi-me de renda barata
pra desfiar-me aos poucos
e não me encabulo ao cobrar os olhos pelo
espetáculo
mancebia
permito-me não
vos abandonar
à mercê da vã
sobriedade
apague-se luz
aos verossímeis
mundanos fatos
da tenra idade
vista-nos de vil
fazenda ante
tal aurora da
leviandade
transcorramos-nos
por estes rumos
deveras turvos
da mocidade
corta. fim do ato iii.
v. sounora laudi
[65]
teu meu amor
meu nome chamas
teu homem vou
tua voz proclama
tua cama estou
m´a fomespanta
tua santa flor
teu fluxengana
meu teu pudor
meu teu teu meu
meu teu
teu meu meu teu
meu teu
teu meu
teu mi
meu ti
meu ti
teumeste
fora um dia o pudor
temor
rancor
a dor
amor
[66]
meu
temor
teu
meu
meu teu
amor
[67]
angulosos & paragofingos
das
protúberes
em
anátemas
castas
foi-se o cago
pelo ralo
e pós-ploft
veio o huf
[68]
botafora neoconcreto
(posproposta agalope)
esta
va er
rado
não sei t
rabal
h
ar
sob
pressão
arranha o c
éu castra-vento
IV. vícios & atrofias
[71]
n.o.f.f.a.a.
queres ver o tosco, meu chapa?
a bisca nasceu já madrugando
as fichas sempre caem quando as expectativas
acabam
nunca o uno útil ao agradável
soou-me tão perfeito aos ouvidos
embora tenha de com isso
arcar com o necessário
[72]
fogos & artifícios
em relações como esta
em que cada um tenta se sobrepor ao outro
palavras desmontam preponderâncias
auto-afirmações nos tais diálogos entre surdos
vazios fragmentados tentam completar o todo
com os pedaços que não mais lhes completam
e o passado comprova o impossível
enquanto a remissão é conduzida
em nome dos mortos
eterno retorno de quem está sempre
disposto
a pagar com os tormentos alheios
não funciona
discussões dantes eram cavalgadas
[73]
petisco no anzol
conheço bem a batuta que te rege
sou do tempo do walkman
e das ombreiras da mãe
chantageio as palavras que nos ladeiam
gargarejo meus defeitos
e faço empalidecer
os anônimos que me batem à porta
r
a
be
co´em
ra
bo
de
ar
r
a
i
a
[74]
trompa ausente
o estarmos-juntos se traduz em maior distância
do que os dias que nos separam
embora passem calados
por cômodos inabitados
senão pela possibilidade do vir-ser sussurros
e por selos abertos através das paredes
nesta cidade sou apenas um nome
não homem, nem palavra ou patrono
moro de favor numa casa em construção
não posso ser teu sem ter de ti
o que outros tomaram como de direito
serei o bandido a te fazer vislumbrar o ouro
e saquearei de volta o convívio roubado
pela sagacidade de mocinhos empreiteiros
contra cujos testemunhos nada poderia
pois bandidos têm honra
que nos separem, então
eles, que mal sabem o significado de uma marca
o furor de uma identidade nulificada
que, no entanto, não precisa mendigar por
farelos assertivos
como foi de costume na farsa primeira
[75]
pois no outro extremo da distância
há de ter sempre quem espere pelos brados
e paredes não mais terão razão de ser
[76]
pertences
a sorrisos não pertencem decisões
decisões sugerem espasmos
impelir o filho crescido ventre adentro
e esperar pela hora marcada no saguão de
[embarque
atrasando-se nos vãos da lembrança
de um acaso em nada cabal
um sorriso é gana que hesita
e ainda teme os impropérios de uma recaída
faz força
mas não suporta o parto
range os gritos de repudia que lhe cairão os braços
e evita as dores de uma só vigília
sobrancelhas apenas prolongam o dito
cortadas, não emitem opinião
[77]
barinaite
meu argumento é tua tosse
ajuda a expelir os nós
que amordaçam o pálido ventre
dos calçados de um só terço privado
rebate o obscuro de teu corte
embora não sussurre afazeres
nem alivie assaduras
como quem adula a glande
mont
a
nota
´v
el
gr
aça e
can
d
ura
,de
sacrílrgos
[78]
corria intrépido pelas alamedas de arruânia
em busca de um covil perfeito
não se foram
nem se protuberanciaram
diante de olhos que lhes aterravam
eram normais e adversos às tendências influentes
acobertaram-me em calmarias di-vagantes
e chafurdei com olinah
agora
resigno-me a sentir o odor
das vaginuladas
[79]
carambolas & prevaricações
(cabíveis de veto)
despelado qual um hamster
saído da alcova
não obstante os carrapatos
acumulados pelo caminho
fora três casas endireitado
degrau abaixo
despejado na mesa fria
preparada para minha chegada
num festival de teratismos
como coadjuvante da atenção central sem panis
[aparente
recebo as alfinetadas
cabeças de baixa-temente
refletindo o brio dos teus olhos semi-cerrados
fosforeço porém nossos constrastes
de nada adiantam tuas rugas forçadas
nem se sustentam
se tanto te deslumbram
e põem a perder o há muito de cada experimento
[80]
perdoa os impropérios
só não posso mais ser
o azul de metileno que
ora fascina ora
consente com a morte de bastardos em nome ou
[falta de causas maiores
baforadas entre precauções e desgostos em meu
[cangote
não posso conceber um deus que não saiba dançar
beegees
ou
darkness
nem tente
los cios de madre helena
e os dois ou dez outros bagos que lhe acompanham
[dentro e fora da verdade
[81]
desperto dolores das dores do parto
tomba-latas regido por decretos de sanja
demarco território com as penitências não
[cumpridas
vagabundo de coração e mal-passados
causo prejuízo aos rodízios
e buffets onde satisfaço minha gula
confessei-me incapaz para os pedágios e bloqueios
deixados para trás com a voz de prisão
[82]
trem pagão
pôde não ter parecido tanto
mas retirei todo o mofo da casa
que se acumulava fazia anos
em jarras de barro e pentes de madeira
dependurados dos vãos entre um tijolo e outro
a aliviar as queimaduras do corpo
incendiei as paredes
preservando as polaroids da oficina
para quem mais quisesse rasgar o peito
e postergar o juízo alquebrado
de quem já não tem mais um álibi à disposição
e transita incandescente de uma estação a outra
[83]
estrelas e quetais – a mais claudicante
das rosas psicoativas
lapsos de esteios
por mais que não encontrem seu encaixe
em viagens permeadas pelo fastio de
[um tom comum
seguem suas rotas originais
na incerteza de que estarão
esporeando o vento
aleatoriamente
cala-se o estampido de uma fuga
prolongando-a despida e úmida
de porta em porta
como quem colhe o centeio bravio
que se atira ao sabor amargo e entorpecido
de uma desventura
tão distante quanto a partida
contrariamos a tradição de nossos cabrestos
e ela nos contradiz
do meio de suas pernas
agradeço a meus pais, minhas irmãs, minha exposa –
eterna trocadilha –, aos bebuns e a alonso, meu professor
de literatura pré-vestibular, quem me disse com
muitas de todas as letras que minha poesia
era uma merda. não sei se concordo. ao menos,
bosta bóia.
dos versos fandangos ou a má reputação
de um estulto em polvorosa foi impresso sobre
pólen bold 90g/m2
e cartão papirus 250 g/m2
na gráfica imprinta em agosto de 2006 para a
viveiros de castro editora ltda.

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dos versos fandangos ou a má reputação de um estulto em polvorosa

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  • 3.
  • 4. caco ishak dos versos fandangos ou a má reputação de um estulto em polvorosa
  • 5. 2006 © Caco Ishak ISHAK, Caco Dos versos fandangos ou a má reputação de um estulto em polvorosa/ Caco Ishak/ Rio de Janeiro: 7Letras, 2006. ISBN 85-7577-299-6 1. Literatura Brasileira - poesia. I. Título CDD 869.1B Produção editorial Debora Fleck Isadora Travassos Jorge Viveiros de Castro Marília Garcia Valeska de Aguirre Ilustrações Leonardo Menescal Viveiros de Castro Editora Ltda. R. Jardim Botânico 600 sl. 307 Rio de Janeiro RJ CEP 22461-000 t. [55 21] 2540-0076 editora@7letras.com.br www.7letras.com.br 2006 CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
  • 6. SUMÁRIO II. ENCRUZILHADA # 2 ................................................................................ 13 # 4 ................................................................................ 14 # 6 ................................................................................ 15 # 7 ................................................................................ 16 # 9 ................................................................................ 18 # 13 .............................................................................. 19 # 15 .............................................................................. 21 # 21 .............................................................................. 22 # 27 .............................................................................. 23 # 40 e tantos ................................................................. 24 # 66 .............................................................................. 26 # 72 .............................................................................. 27 # 81 .............................................................................. 28 # 87 .............................................................................. 29 # 108 ............................................................................ 30 # 111 ............................................................................ 31 # 948 ............................................................................ 32 SMOKER .......................................................................... 33 I. PUBIS ANGELICAL ainabacada .................................................................... 37 impressões que ficam..................................................... 38 brona’parq .................................................................... 39 soneto da timidez ou a tristeza da certeza ................................................................ 40 buzz me asap ................................................................. 41 vividez........................................................................... 42 homens brancos não sabem voar ................................... 43 heart beat ...................................................................... 44 o comum de um lugar calado ........................................ 46 melindrosos .................................................................. 47 tolerância ...................................................................... 49 SUMÁRIO
  • 7. III. LANÇOS PATAMARES LANÇOS revelação ....................................................................... 53 reflexo ........................................................................... 55 das três coisas que todo homem deve fazer antes de se matar ...................................................................... 56 papel em branco............................................................ 57 desfaireuoliariza isso, mulher ......................................... 58 panos ............................................................................ 60 bandido mármore ......................................................... 61 V. SOUNORA LAUDI teu meu amor................................................................ 65 angulosos & paragofingos ............................................. 67 botafora neoconcreto (posproposta agalope).............................................. 68 IV. VÍCIOS & ATROFIAS ..................................................... 69 n.o.f.f.a.a....................................................................... 71 fogos & artifícios........................................................... 72 petisco no anzol ............................................................ 73 trompa ausente ............................................................. 74 pertences ....................................................................... 76 barinaite........................................................................ 77 carambolas & prevaricações (cabíveis de veto) ..................................................... 79 desperto dolores das dores do parto ............................... 81 trem pagão .................................................................... 82 estrelas e quetais – a mais claudicante das rosas psicoativas................................................. 83
  • 8. a maria luiza salheb vieitas guimarães ishak ou simplesmente malu
  • 9.
  • 10. o amor só convém aos que não são capazes de suportar a pressão psíquica. pois amar é nadar contra uma correnteza de mijo com dois barris cheios de merda amarrados nas costas. CHARLES BUKOWSKI
  • 11.
  • 13.
  • 14. [13] # 2 culparam-me por causa de resquícios paguei pelo não apagado um grão de tequila por um mar de garrafas desejos queimam o céu da boca despelam as palavras moro com a mãe de minha filha e não me sinto menos homem por isso
  • 15. [14] # 4 todos temos tempo quando é para falarmos de nós mesmos demônios não têm hora e nem precisam prestar satisfações julgam-me por minha vida conjugal aparente demônios nunca dormem e nem mentem
  • 16. [15] # 6 provei do nexo do pecado mistérios não desinteressam ninguém à espera do telefone que não tem número pra tocar e nem razão pra isso
  • 17. [16] # 7 por uma vez somente gostaria de ser mais amado que deus ter uma mãe que fosse só minha e não apenas mais uma filha de deus que para ficar a sós com deus não me desse adeus já me deu a deus o que já tinha e isto basta uma mãe como a mãe de deus
  • 18. [17] que me ouvisse como ouve a deus que me falasse como fala a deus que me visse como seu filho e não apenas mais um filho de deus
  • 19. [18] # 9 a apreensão de teus primeiros gritos pesavam meus olhos na cama minha lamúria acordou a casa inteira meu receio era dormir sozinho agora ninguém mais dorme
  • 20. [19] # 13 presenteio todos com meu amadurecimento desorganizado se comecei cedo e cresci pendurado em árvores comendo as goiabas que roubava nem foi sempre tão assim eu muitas das vezes me fiz poeta e deixei que rasgassem as roupas que trajava agora faço e desfaço
  • 21. [20] sou assim e vaca assada e ninguém tem nada a ver com isso amanhã me organizo e penso em permitir que o sol nasça o piegas também tem sua classe
  • 22. [21] # 15 o fiasco de reflexos ensaiados oscila e ecoa nu fundo de uma garrafa de teor sorvido por tantas quantas possuíssem taças e esputos e vigor para tanto esparramamos de boa vontade aproximações ocasionais para ridicarmos o desperdiçado a soluços de argúcia
  • 23. [22] # 21 minha liberdade é a de uma bandeira tremulando em suas certezas o pouco de vento que para se fazer disposta foi capaz de tomar às resoluções de seu ânimo na imposição de uma alçada acorde distrações inibem a segurança do mastro como coincidências reagem ao clamor do inaudito
  • 24. [23] # 27 de volta ao luto dos sentidos ao fundamentalismo da palavra e à ditadura da memória que imploram e fazem as vezes de venetas degradam os discursos de estações recentes e escapam por entre as falanges da carência quanto mais se prolonga a fuga mais o rato come o gato e faz morrer o fim do dia
  • 25. [24] # 40 e tantos se gostava? sim, um pouco como assim como não? era levado por peixes caminhava sobre o mar e construía pouco a pouco dia a dia o inabitável pouco a pouco pedaço a pedaço desconstruíam-me a mão que dava comia a outra bebia vinho tinto para acompanhar
  • 26. [25] enxotara-me (sic) de sua vida como quem enxota (sic) os olhos da paisagem lenta e softly úmida e (palavra francesa que tenha a ver com sexo) quem fui um dia eu ora recorda e pensa que sim, um pouco até que gostava era levado por peixes e entoavam cantos no entanto lambuzava-me a boca e cuspia o mel fora não importava a ordem fracassos eram apenas incertezas
  • 27. [26] # 66 rotinas capotam a cento e trinta por hora expelindo estilhaços de uma vidraça embaçada para além da poeira que já não se assenta mais apraz-me a rota de atalhos e aleatórios outrasinas lhe abastecem e não dobram os joelhos nem precisam saltar sorrateiramente de marcha em marcha
  • 28. [27] # 72 recomendações conduzidas na toada de um sapateado que se bifurca na memória de espasmos e abandonos a cada aproximação tentada terminam por consentir que a repulsa ao colo sufoque os argumentos de um veio que transborda a reconciliação a sangria segue sendo dos artifícios o de maior diligência na cura das enfermidades do humor
  • 29. [28] # 81 invejo a culpa de um casal adúltero como quem dorme de costas viradas para o sabor do pão bater no peito de nada adianta se por amor à vida vícios e suculências deixam de me aproximar da morte come-se o miolo antes de mais nada besuntado na euforia de um apreço a casca é apenas o avesso e todas as suas peculiaridades
  • 30. [29] # 87 criou-se o dispersivo em paragens estreitas soaram o alarde que compreendido tardio alastrou a clarividência sacio-me em buracos fundos e falhos e plúmbeos onde de um tudo se encontra e crianças são abandonadas serei o pai de todas elas
  • 31. [30] # 108 anseios engendram seu próprio desfecho sacrificam o excesso de zelo e cravam no ventre a ausência de casos esquecidos logo em seguida ao parto firmando-se na desobediência da cria que lhes sucede selecionamos as perdas que nos selecionarão as memórias calados, silenciamos o remorso não a falta de termos nos calado
  • 32. [31] # 111 fui dar um passeio descalço fui mas voltei e cuidei de repensar os passos que daria
  • 33. [32] # 948 não me surpreendo com o descaso das paredes enquanto percorria seus sulcos fora sempre por demais volátil e pouco preciso no pouso seu juízo não acompanhava os dividendos de minha argúcia nos passeios que faziam por receios de anônimos até então não havia dado sinal algum de minha inclinação para o embuste e obrigava-me a jantar calado o amargo aguado de um prato moroso preparado na apreensão das horas em alerta que antecediam a clausura dos sentidos excessos medicavam o sossego
  • 34. [33] smoker dia desses ao folhear o jornal ou revista ou fazer as compras no supermercado de madrugada simulando as entradas e extremidades curvas a mão esmagando a raiva contra a buzina do santana enquanto salivava o azeite que sobrara noO fundo do prato quebrado a pauladas noO afã finalmente dito de uma lembrança vadia ouvi que se repetem os termos qual a palavra sussurra exposar-me-ei antes que amanheça
  • 35.
  • 37.
  • 38. [37] ainabacada percebe que não tenho nojo propriamente dito de gente pelo contrário dela me alimento chupo todo o caldo pra depois jogar o bagaço fora não sem antes dar aquela mordiscada o que não me agrada é o preparo embora a cada dia mais me apeteça os sabores e os cheiros de tua receita
  • 39. [38] impressões que ficam terceiras são as impressões que ficam?, ladinas ao corpo feito sangue desprovido d´alma e rechaçado posto ao crivo fátuo de um passado que a uns tantos olhos se fez infame sem malícias ter que se proclamem revolta em carne assim tão constrita que do resplendor que em ti alcança – qual já o fez em momentos segundos quando de anseios alimentada – faz meu o só teu papel de rogada e no corrente se curva ao mundo do qual bradou na infância os absurdos lançando a própria mão em cobrança que em tempos outros jamais faria e, no entanto, cala e se retrata para que das impressões primeiras se faça a conjunção derradeira da adversidade que nos maltrata firmando-se a perfeita cantata, ainda terceiras continuariam?
  • 40. [39] brona’parq ah, essa filha da glória que de tanto que do amor fala zoando primogênitos e/ou caçulas dando pegas em mães de amigos meus me fez te imaginar de loira o cinza do sovaco nas dobras caindo dos braços voz de macho enrouquecido de marlboro e gabriela grelo esturricado e sem maquilagem no rosto pra depois ir embora num arrasta saia maroto levando os guardanapos sussurrados ao pé da mesa enquanto ainda éramos somente dois desconhecidos e tudo era mera coreografia entreolhada por detrás dos panos no intervalo entre uma talagada e a impressão deixada num tablete de margarina
  • 41. [40] soneto da timidez ou a tristeza da certeza o pecado do tímido é não fazer com que seus possíveis pecados venham a nascer; de pronto enforcados pelo desfundado medo de um não ao tímido, então, será reservado seu próprio não-ser, triste encarnação pois na tristeza da certeza estão os poucos gozos de um viver frustrado imputar-lhe culpa por seus não-atos não viria a ser por óbvio fardo injusto? eis que pela memória do pecado torna-se de sua tristeza o culpado paga pela tal certeza alto custo na timidez há solidão de fato
  • 42. [41] buzz me asap o aro branco das tuas lentes questionado ao canto de um frango caipira traduz meus nervosismos matuta e realiza a chamada à fronte temporariamente desregulada estávamos em manutenção beg your pardon é que não entendi de fato ainda assim sugiro a pretensão de te ter full-time e também ou todos os dias se possível numa das tardes descompromissadas à disposição depois de um primeiro encontro verdade é que não se controla uma tal maturidade nem se apreendem seus circuitos internos enquanto se guarda a expectativa de que de algo podem adiantar as investidas de uma marca sorvida no canto da boca que escorria seus ciúmes e tragos e descontroles
  • 43. [42] vividez defronta a vida e oculta o pranto aos tolos pois são tíbios e, de entender teu choro tão vívido, por não serem capazes denunciariam-te aos guardiões do acalanto que com afagos fariam do que em ti trazes de fruição sedenta mero quebranto a si granjeariam inusual malogro a ti prestariam baldado consolo luta sem descanso pela ventura da qual te privaram madrugada ainda e no caso de com quaisquer agruras deparares-te, embora esteja a esmo vivifica-me – pois vida em ti abunda – que eu te amparo em tua busca por ti mesma
  • 44. [43] homens brancos não sabem voar sambei uma moda de viola como quem se atira de peito aberto contra um ventilador de teto em movimento mas ela fez que nem sabia deu um gole no grapete tirou seus sapatos de salto alto (pra depois voltar atrás com a mão na consciência. porém, era tarde demais. havia se propagado no vácuo como nos bons filmes de ficção científica) e foi ao centro do salão abandonando pelo caminho uma a uma as jujubas que levava consigo num saco de pão dormido na noite da última grande comemoração que havíamos promovido juntos no quintal [do vizinho devoraram tudo que não deixaram nem o pescoço e cheiraram o açúcar antes que se espalhasse [com o vento
  • 45. [44] heart beat se durmo pensando em ti e o mesmo me acontece ao tomar um banho [quente perdoa-me pelos pudores que ainda tenho de [o fazer à mesa do jantar “quero caber no teu abraço” não cabendo eu adapto e nem te levo pro lado negro da força por isso “tô sem tubinho preto pra te abusar” sai então logo correndo que sou homem-bomba relógio “ia te pedir pra tirar umas fotos minhas quando lá” não só as fotos, beibe na paris de jim morrison até que topo viver de amor ainda tenho a casa dos meus pais pra morar “uma coleira de veludo vermelho e um sapato de [salto fino
  • 46. [45] já não é mais paixão é fúria” e repito: que merda é essa de purple haze arranhando [no toca-discos?
  • 47. [46] o comum de um lugar calado explica-me o porém daquela noite não vivida enquanto espera de nossas vidas, caso vividas elas fossem porquanto, mortas, trouxessem-nos mortas para um dia que nunca o fora, para o nosso acaso, as esperas absortas em nosso caso dado cara-tapas em nossas vidas não vividas, mortas seria o comum de um lugar calado no fundo de teus olhos que diriam me arranha e bate, assoa e espera e ensaboa porém disseram-me infortúnios à toa os quais, não fosses tu, aceitaria quanto ainda estou, mas nem tão calado
  • 48. [47] melindrosos caso perguntarem de minha parte digas tu que assim seja ou não os riscos aceitarei de um passado que se faz presente errante sempre e sem razão fosse eu poeta caso perguntassem acredita por vezes foragido por entre outras taras passeei desapercebido enquanto me esperavas e não sabendo que conosco errava assim às tantas perdurei melindroso em meus erros entretanto sim eu sabia soltem as feras eu errei
  • 49. [48] em bocas outras te beijei e acariciei teus cabelos de outras moças mas tão teus e montava peça a peça olho a olho, pêlo e púbis o estorvo que hoje é meu nem só meu nosso portanto nada posso te assegurar e nem te peço o risco é nosso e em verdade bem mais teu do que o é meu e que assim seja tudo em nossa aposta caso aceites melindrosa o que não sabias mas já era teu ou quase meu
  • 50. [49] tolerância interpreta-me no borrão do teu paquete enquanto durmo respingando gotículas de bafo quente em teu cangote e vê se não presta tanta atenção assim na placa da entrada que diz sem lubrificante (implora com a ponta do dedão curvada em meio às pregas do meu holocausto) favor perturbar por motivos estritamente sexuais apenas (quem sabe interrogação) posto que sim mui cretino rogo sem saber
  • 51. [50] ronco plenipotente em cores espúrias e um cálice de balalaika garrafas inteiras e pronto-socorro municipal [na veia uma mulata capô de fusca vinho tinto barato banho-de-cheiro-do-ver-o- peso e altura raimunda maisumpouco em miúdostoleras ou nemparatanto até que entornaria do teu pranto assim pois num prelúdio desnudo e escorrido desculpa se gozei
  • 53.
  • 54. [53] revelação é de ponta a ponta dum refrão – talvez um pouco antes; tanto depois (depende tudo de [quem compartilha a fossa e ora) – que se faz um filho maduro e se despe da razão e da tolice que é vida e de si e das fluorescentes de quatro e noventa e nove que [deverão ser trocadas a cada nova visita da sogra e da tevê muda [ligada na mtv e se reconhece o equívoco que um dia fora a [salvação imolada por causa de um pecado reproduzido e imola a si próprio e se [desconhece num ventre vazio e tenta de geração em geração reverter a culpa calada na marra o sol já não queimava mais seus tradicionais [vermelho e fulvo e suas bolhas na pele cujos prazeres armazenados [no instante do estouro – esta liberdade coceira que aprisiona durante a fuga [– faziam-se sentir em tons de anil e se calou a culpa revertida em marra
  • 55. [54] te espero sentado nas ruínas de minha paciência para vestir-te a túnica que cosi dos resíduos [de minha teimosia e da qual te despirás no tempo do esboço de uma apropriação e o sol só será teu quando e mais quem queiras pois coleções de discos e o remoto da cabo no longer will be mine
  • 56. [55] reflexo reconheço-me em tuas palavras mas em mim não me reconheço e nem por isto me esmoreço pois do viço com que falavas contra os grilhões de tua alma escrava deste ânimo não mais padeço mas não que a ele eu seja adverso somente aceito o que me aldrava sem batalhas em vão travadas muitas foram desde o começo as baixas que até desconheço o quanto ainda de mim lutava quando da ruína proclamada pelo que hoje sou, o avesso do que outrora fora, um confesso abordoado a minhas palavras
  • 57. [56] das três coisas que todo homem deve fazer antes de se matar escrevera o livro nem sequer o folhearam foi um fracasso de público antes mesmo de sua publicação plantara a semente arrancaram o broto e lá a raiz deixaram para que apodrecesse com as intenções fizera enfim o filho e o abortaram mataram-me em lida antes que autorizado estivesse pelos que não [se apagam a encontrar-me eunuco nesta armação
  • 58. [57] papel em branco ah, papel em branco, se soubesses o quanto invejo a ti por teu vazio sem compromissos sem dissabores, nem maiores sacrifícios linhas sempre sóbrias que o, sobre ti, quebrantam cá, comigo, no remoto o vazio desponta intruso; ele, sem certo prumo, intransigente no fechar das porta e cortinas de meu ventre facheiro em frente à frágil idade que encontra que não seja isto, no entanto, um impedimento de no conforto do teu seio eu repousar desse teu vazio fazendo meu recomeço mas que venha minha cobiça a ser teu provento desprovido que há muito estou de mais apreço deste meu vazio fazendo teu perdurar
  • 59. [58] desfaireuoliariza isso, mulher I. comecei uma frase e tentei terminá-la sem antes passar pelo miolo antecipei-me mais do que devia e me faltaram os predicados II. passo por sérios apuros faz alguns dias gostaria de acreditar que logo passa mas estou cansado de piadistas infames uma vaca nasce para ser vaca cresce mamando sua vocação desde cedo e rumina seus prazeres faça sol ou neblina
  • 60. [59] III. nas horas que me sobram recobro o hábito e descasco o maço que durante o dia fumara e mais iria ei com agá de muito macho IV. espumas inda provocar iria fosse por dinheiro mas do culto se ausentar um absurdo que ninguém seja só vícios e espentelhos não vou mais beber do teu paquete
  • 61. [60] panos para quem sofria de paixonite semi-anal patológica e crônica mui jocoso vem se fazendo o seu destino ao arrumar dores de um amor verdadeiro e incestuoso trepadas tenho aos montes na fita um sorriso em branco nada que compense o sono tranqüilo emaranhado nos cabelos do peito
  • 62. [61] bandido mármore desarregimentado por neoplasias fanfarronas que desacreditam bem ou mal as intenções mesmo fajutas de um equilibrista [do alto dum fio de cobre pavimentado na calçada em frente ao pronto-socorro municipal vírgula desarregimentei me despropositada me n te e veio a voz do padre que disse ainda esperançoso estamos em obra (estarias deveras, meu filho?) desculpe o transtorno ou indo simplesmente direto ao sap da concórdia
  • 63. [62] cosi-me de renda barata pra desfiar-me aos poucos e não me encabulo ao cobrar os olhos pelo espetáculo mancebia permito-me não vos abandonar à mercê da vã sobriedade apague-se luz aos verossímeis mundanos fatos da tenra idade vista-nos de vil fazenda ante tal aurora da leviandade transcorramos-nos por estes rumos deveras turvos da mocidade corta. fim do ato iii.
  • 65.
  • 66. [65] teu meu amor meu nome chamas teu homem vou tua voz proclama tua cama estou m´a fomespanta tua santa flor teu fluxengana meu teu pudor meu teu teu meu meu teu teu meu meu teu meu teu teu meu teu mi meu ti meu ti teumeste fora um dia o pudor temor rancor a dor amor
  • 69. [68] botafora neoconcreto (posproposta agalope) esta va er rado não sei t rabal h ar sob pressão arranha o c éu castra-vento
  • 70. IV. vícios & atrofias
  • 71.
  • 72. [71] n.o.f.f.a.a. queres ver o tosco, meu chapa? a bisca nasceu já madrugando as fichas sempre caem quando as expectativas acabam nunca o uno útil ao agradável soou-me tão perfeito aos ouvidos embora tenha de com isso arcar com o necessário
  • 73. [72] fogos & artifícios em relações como esta em que cada um tenta se sobrepor ao outro palavras desmontam preponderâncias auto-afirmações nos tais diálogos entre surdos vazios fragmentados tentam completar o todo com os pedaços que não mais lhes completam e o passado comprova o impossível enquanto a remissão é conduzida em nome dos mortos eterno retorno de quem está sempre disposto a pagar com os tormentos alheios não funciona discussões dantes eram cavalgadas
  • 74. [73] petisco no anzol conheço bem a batuta que te rege sou do tempo do walkman e das ombreiras da mãe chantageio as palavras que nos ladeiam gargarejo meus defeitos e faço empalidecer os anônimos que me batem à porta r a be co´em ra bo de ar r a i a
  • 75. [74] trompa ausente o estarmos-juntos se traduz em maior distância do que os dias que nos separam embora passem calados por cômodos inabitados senão pela possibilidade do vir-ser sussurros e por selos abertos através das paredes nesta cidade sou apenas um nome não homem, nem palavra ou patrono moro de favor numa casa em construção não posso ser teu sem ter de ti o que outros tomaram como de direito serei o bandido a te fazer vislumbrar o ouro e saquearei de volta o convívio roubado pela sagacidade de mocinhos empreiteiros contra cujos testemunhos nada poderia pois bandidos têm honra que nos separem, então eles, que mal sabem o significado de uma marca o furor de uma identidade nulificada que, no entanto, não precisa mendigar por farelos assertivos como foi de costume na farsa primeira
  • 76. [75] pois no outro extremo da distância há de ter sempre quem espere pelos brados e paredes não mais terão razão de ser
  • 77. [76] pertences a sorrisos não pertencem decisões decisões sugerem espasmos impelir o filho crescido ventre adentro e esperar pela hora marcada no saguão de [embarque atrasando-se nos vãos da lembrança de um acaso em nada cabal um sorriso é gana que hesita e ainda teme os impropérios de uma recaída faz força mas não suporta o parto range os gritos de repudia que lhe cairão os braços e evita as dores de uma só vigília sobrancelhas apenas prolongam o dito cortadas, não emitem opinião
  • 78. [77] barinaite meu argumento é tua tosse ajuda a expelir os nós que amordaçam o pálido ventre dos calçados de um só terço privado rebate o obscuro de teu corte embora não sussurre afazeres nem alivie assaduras como quem adula a glande mont a nota ´v el gr aça e can d ura ,de sacrílrgos
  • 79. [78] corria intrépido pelas alamedas de arruânia em busca de um covil perfeito não se foram nem se protuberanciaram diante de olhos que lhes aterravam eram normais e adversos às tendências influentes acobertaram-me em calmarias di-vagantes e chafurdei com olinah agora resigno-me a sentir o odor das vaginuladas
  • 80. [79] carambolas & prevaricações (cabíveis de veto) despelado qual um hamster saído da alcova não obstante os carrapatos acumulados pelo caminho fora três casas endireitado degrau abaixo despejado na mesa fria preparada para minha chegada num festival de teratismos como coadjuvante da atenção central sem panis [aparente recebo as alfinetadas cabeças de baixa-temente refletindo o brio dos teus olhos semi-cerrados fosforeço porém nossos constrastes de nada adiantam tuas rugas forçadas nem se sustentam se tanto te deslumbram e põem a perder o há muito de cada experimento
  • 81. [80] perdoa os impropérios só não posso mais ser o azul de metileno que ora fascina ora consente com a morte de bastardos em nome ou [falta de causas maiores baforadas entre precauções e desgostos em meu [cangote não posso conceber um deus que não saiba dançar beegees ou darkness nem tente los cios de madre helena e os dois ou dez outros bagos que lhe acompanham [dentro e fora da verdade
  • 82. [81] desperto dolores das dores do parto tomba-latas regido por decretos de sanja demarco território com as penitências não [cumpridas vagabundo de coração e mal-passados causo prejuízo aos rodízios e buffets onde satisfaço minha gula confessei-me incapaz para os pedágios e bloqueios deixados para trás com a voz de prisão
  • 83. [82] trem pagão pôde não ter parecido tanto mas retirei todo o mofo da casa que se acumulava fazia anos em jarras de barro e pentes de madeira dependurados dos vãos entre um tijolo e outro a aliviar as queimaduras do corpo incendiei as paredes preservando as polaroids da oficina para quem mais quisesse rasgar o peito e postergar o juízo alquebrado de quem já não tem mais um álibi à disposição e transita incandescente de uma estação a outra
  • 84. [83] estrelas e quetais – a mais claudicante das rosas psicoativas lapsos de esteios por mais que não encontrem seu encaixe em viagens permeadas pelo fastio de [um tom comum seguem suas rotas originais na incerteza de que estarão esporeando o vento aleatoriamente cala-se o estampido de uma fuga prolongando-a despida e úmida de porta em porta como quem colhe o centeio bravio que se atira ao sabor amargo e entorpecido de uma desventura tão distante quanto a partida contrariamos a tradição de nossos cabrestos e ela nos contradiz do meio de suas pernas
  • 85.
  • 86. agradeço a meus pais, minhas irmãs, minha exposa – eterna trocadilha –, aos bebuns e a alonso, meu professor de literatura pré-vestibular, quem me disse com muitas de todas as letras que minha poesia era uma merda. não sei se concordo. ao menos, bosta bóia.
  • 87.
  • 88.
  • 89. dos versos fandangos ou a má reputação de um estulto em polvorosa foi impresso sobre pólen bold 90g/m2 e cartão papirus 250 g/m2 na gráfica imprinta em agosto de 2006 para a viveiros de castro editora ltda.