SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 3
Baixar para ler offline
OO PPOOTTEENNCCIIAALL TTRRAANNSSFFOORRMMAADDOORR DDOO PPRREESSEENNTTEE CCOONNVVIIVVIIDDOO
Sobre a alegria da convivência na Avenida Paulista ontem a noite.
Augusto de Franco
19/06/2013
Vocês já viram crianças brincando? Pois é. Elas não ficam calculando para
quê servem suas brincadeiras. Simplesmente fluem, se comprazendo na
fruição da convivência.
Não há um objeto oculto, externo, urdido, planejado, uma engenharia,
uma instrumentalização do tipo: estou fazendo isso para alcançar aquilo.
Quando brincam, estão se apossando do presente, vivendo-o em
plenitude. E se alegram (porque - como cantou o Vinicius no Samba da
Bênção - é melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que
existe, ela é assim como a luz no coração).
Bem... depois as crianças são ensinadas de que isso não leva à nada, que
pessoas responsáveis, sérias, não devem brincar, desperdiçar seu tempo
com bobagens. E aí viramos adultos e não brincamos mais, perdemos a
capacidade de fazer alguma coisa pelo que ela é e nos pomos então a
organizar a nossa vida para alcançar objetivos imaginários e abstratos que
não estão contidos no ato em si.
Quando acontece alguma coisa boa, inédita, nem percebemos o potencial
transformador da novidade que se constelou porque ficamos logo
pensando para onde aquilo vai nos levar, como vai ser o amanhã e o
depois de amanhã. Essa alienação do presente acomete, sobretudo, os
que querem organizar os outros, conduzi-los para algum lugar (que, na
verdade, eles não sabem onde é).
Na Paulista, ontem a noite (18/06), me contou a Guta de Franco,
configurou-se um ambiente parecido com uma TAZ (Zona Autônoma
Temporária do Hakim Bey), mas creio que muitos não perceberam o
potencial revolucionário do que se constelou ali. Em virtude da termos
sido infectados, desde a primeira infância, com a ideia instrumental de
alcançar objetivos (e de organizar os outros), não nos permitimos viver o
que de fato pode mudar o firmware da sociedade de controle. É quase
uma tara, muito comum em militantes (esses seres deformados que
querem conduzir os outros para algum lugar no futuro: que não existe e
não pode existir na medida em que só temos o presente).
Refletindo sobre isso, acho que devemos prestar atenção ao que dizia
aquele judeu marginal de Nazareh e nos tornar crianças outra vez.
Reaprender a brincar.

Mais conteúdo relacionado

Mais de augustodefranco .

A democracia sob ataque terá de ser reinventada
A democracia sob ataque terá de ser reinventadaA democracia sob ataque terá de ser reinventada
A democracia sob ataque terá de ser reinventadaaugustodefranco .
 
Algumas notas sobre os desafios de empreender em rede
Algumas notas sobre os desafios de empreender em redeAlgumas notas sobre os desafios de empreender em rede
Algumas notas sobre os desafios de empreender em redeaugustodefranco .
 
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA augustodefranco .
 
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...augustodefranco .
 
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...augustodefranco .
 
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMAaugustodefranco .
 
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede social
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede socialNunca a humanidade dependeu tanto da rede social
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede socialaugustodefranco .
 
Um sistema estatal de participação social?
Um sistema estatal de participação social?Um sistema estatal de participação social?
Um sistema estatal de participação social?augustodefranco .
 
Quando as eleições conspiram contra a democracia
Quando as eleições conspiram contra a democraciaQuando as eleições conspiram contra a democracia
Quando as eleições conspiram contra a democraciaaugustodefranco .
 
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John DeweyDemocracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Deweyaugustodefranco .
 
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELA
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELARELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELA
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELAaugustodefranco .
 
Diálogo democrático: um manual para practicantes
Diálogo democrático: um manual para practicantesDiálogo democrático: um manual para practicantes
Diálogo democrático: um manual para practicantesaugustodefranco .
 
TEDxLiberdade Augusto de Franco
TEDxLiberdade Augusto de FrancoTEDxLiberdade Augusto de Franco
TEDxLiberdade Augusto de Francoaugustodefranco .
 
UM NOVO CONCEITO DE REVOLUÇÃO
UM NOVO CONCEITO DE REVOLUÇÃOUM NOVO CONCEITO DE REVOLUÇÃO
UM NOVO CONCEITO DE REVOLUÇÃOaugustodefranco .
 

Mais de augustodefranco . (20)

Hiérarchie
Hiérarchie Hiérarchie
Hiérarchie
 
A democracia sob ataque terá de ser reinventada
A democracia sob ataque terá de ser reinventadaA democracia sob ataque terá de ser reinventada
A democracia sob ataque terá de ser reinventada
 
JERARQUIA
JERARQUIAJERARQUIA
JERARQUIA
 
Algumas notas sobre os desafios de empreender em rede
Algumas notas sobre os desafios de empreender em redeAlgumas notas sobre os desafios de empreender em rede
Algumas notas sobre os desafios de empreender em rede
 
AS EMPRESAS DIANTE DA CRISE
AS EMPRESAS DIANTE DA CRISEAS EMPRESAS DIANTE DA CRISE
AS EMPRESAS DIANTE DA CRISE
 
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA
APRENDIZAGEM OU DERIVA ONTOGENICA
 
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...
CONDORCET, Marquês de (1792). Relatório de projeto de decreto sobre a organiz...
 
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...
NIETZSCHE, Friederich (1888). Os "melhoradores" da humanidade, Parte 2 e O qu...
 
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA
100 DIAS DE VERÃO BOOK DO PROGRAMA
 
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede social
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede socialNunca a humanidade dependeu tanto da rede social
Nunca a humanidade dependeu tanto da rede social
 
Um sistema estatal de participação social?
Um sistema estatal de participação social?Um sistema estatal de participação social?
Um sistema estatal de participação social?
 
Quando as eleições conspiram contra a democracia
Quando as eleições conspiram contra a democraciaQuando as eleições conspiram contra a democracia
Quando as eleições conspiram contra a democracia
 
100 DIAS DE VERÃO
100 DIAS DE VERÃO100 DIAS DE VERÃO
100 DIAS DE VERÃO
 
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John DeweyDemocracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey
Democracia cooperativa: escritos políticos escolhidos de John Dewey
 
MULTIVERSIDADE NA ESCOLA
MULTIVERSIDADE NA ESCOLAMULTIVERSIDADE NA ESCOLA
MULTIVERSIDADE NA ESCOLA
 
DEMOCRACIA E REDES SOCIAIS
DEMOCRACIA E REDES SOCIAISDEMOCRACIA E REDES SOCIAIS
DEMOCRACIA E REDES SOCIAIS
 
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELA
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELARELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELA
RELATÓRIO DO HUMAN RIGHTS WATCH SOBRE A VENEZUELA
 
Diálogo democrático: um manual para practicantes
Diálogo democrático: um manual para practicantesDiálogo democrático: um manual para practicantes
Diálogo democrático: um manual para practicantes
 
TEDxLiberdade Augusto de Franco
TEDxLiberdade Augusto de FrancoTEDxLiberdade Augusto de Franco
TEDxLiberdade Augusto de Franco
 
UM NOVO CONCEITO DE REVOLUÇÃO
UM NOVO CONCEITO DE REVOLUÇÃOUM NOVO CONCEITO DE REVOLUÇÃO
UM NOVO CONCEITO DE REVOLUÇÃO
 

O potencial transformador do presente convivido

  • 1. OO PPOOTTEENNCCIIAALL TTRRAANNSSFFOORRMMAADDOORR DDOO PPRREESSEENNTTEE CCOONNVVIIVVIIDDOO Sobre a alegria da convivência na Avenida Paulista ontem a noite. Augusto de Franco 19/06/2013 Vocês já viram crianças brincando? Pois é. Elas não ficam calculando para quê servem suas brincadeiras. Simplesmente fluem, se comprazendo na fruição da convivência.
  • 2. Não há um objeto oculto, externo, urdido, planejado, uma engenharia, uma instrumentalização do tipo: estou fazendo isso para alcançar aquilo. Quando brincam, estão se apossando do presente, vivendo-o em plenitude. E se alegram (porque - como cantou o Vinicius no Samba da Bênção - é melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe, ela é assim como a luz no coração). Bem... depois as crianças são ensinadas de que isso não leva à nada, que pessoas responsáveis, sérias, não devem brincar, desperdiçar seu tempo com bobagens. E aí viramos adultos e não brincamos mais, perdemos a capacidade de fazer alguma coisa pelo que ela é e nos pomos então a organizar a nossa vida para alcançar objetivos imaginários e abstratos que não estão contidos no ato em si. Quando acontece alguma coisa boa, inédita, nem percebemos o potencial transformador da novidade que se constelou porque ficamos logo pensando para onde aquilo vai nos levar, como vai ser o amanhã e o depois de amanhã. Essa alienação do presente acomete, sobretudo, os que querem organizar os outros, conduzi-los para algum lugar (que, na verdade, eles não sabem onde é). Na Paulista, ontem a noite (18/06), me contou a Guta de Franco, configurou-se um ambiente parecido com uma TAZ (Zona Autônoma Temporária do Hakim Bey), mas creio que muitos não perceberam o potencial revolucionário do que se constelou ali. Em virtude da termos sido infectados, desde a primeira infância, com a ideia instrumental de alcançar objetivos (e de organizar os outros), não nos permitimos viver o
  • 3. que de fato pode mudar o firmware da sociedade de controle. É quase uma tara, muito comum em militantes (esses seres deformados que querem conduzir os outros para algum lugar no futuro: que não existe e não pode existir na medida em que só temos o presente). Refletindo sobre isso, acho que devemos prestar atenção ao que dizia aquele judeu marginal de Nazareh e nos tornar crianças outra vez. Reaprender a brincar.