O documento apresenta uma breve história dos óculos em 3 partes: 1) Dois painéis de azulejos no Hospital de Santa Marta em Lisboa, datados do século XVII; 2) Uma breve história do Hospital de Santa Marta; 3) A história dos óculos desde a antiguidade até ao século XXI, desde os primeiros registos na China há 2000 anos até aos óculos modernos como os Google Glass.
Historia Breve dos Óculos - A propósito de um painel de Azulejos com Iconografia de Santa Clara
1.
2.
3. 1. Painéis de azulejos com iconografia
de Santa Clara
2. O Hospital de Santa Marta
3. História Breve dos Óculos
3.1. Antes do início
3.2 Os primeiros óculos
3.3 O Avanço da ciência
3.4 O Oriente
3.5 O Século da Velocidade
3.6 O Boom do Pós-Guerra e o
Modernismo
3.7 Um novo milénio
4. 1. Painéis de azulejos com iconografia de Santa Clara
Os dois painéis estão aplicados na antiga portaria do Mosteiro de Santa
Marta (atual Hospital de Santa Marta – CHLC), com iconografia clarissa
relacionada com as religiosas que habitavam o convento.
Não se conhece a sua procedência nem a data de aplicação neste espaço,
um em cada uma das paredes laterais.
5. 1. Painéis de azulejos com iconografia de Santa Clara
A autoria destes painéis tem sido atribuída ao pintor espanhol Gabriel del
Barco nascido em 1648 e que viveu em Lisboa a partir de 1669.
Pouco se sabe da vida e da obra deste artista que começou por ser pintor de
tectos e que só tardiamente se dedicou à pintura de azulejos.
Pensa-se que terá deixado de pintar por volta de 1703.
6. 1.Painéis de azulejos com iconografia de Santa Clara
O tipo de pintura permite datar estas duas composições dos anos
finais do século XVII, época em que se encontrava em construção o
dormitório novo, cujas obras foram dirigidas por João Antunes e nas
quais interveio o ladrilhador Manuel Clemente, em 1699.
7. 1. Painéis de azulejos com iconografia de Santa Clara
O painel representa São
Francisco impondo o hábito a
Santa Clara.
Oferece uma caracterização cuidada
do espaço interior, com o tecto de
caixotões e ladrilhos axadrezados no
pavimento. O tecido do frontal de
altar exibe, também, grande
pormenor.
Em primeiro plano, Santa Clara ajoelhada, recebe o hábito das mãos de
São Francisco, sentado à sua frente, e de um outro religioso. Atrás, o já
mencionado altar, sobre o qual desce, por entre nuvens, a Virgem Maria e
o Menino.
8. 1. Painéis de azulejos com iconografia de Santa Clara
Vários outros religiosos encontram-se representados mais
atrás e, junto a São Francisco, um deles segura um círio.
9. 1. Painéis de azulejos com iconografia de Santa Clara
Entre os vários religiosos
representados, destaca-se a utilização
de óculos, nesta representação do
século XVII.
Os óculos pintados estão de acordo com
as características típicas do século XVII e
não são fidedignos aos existentes no
século XIII.
Óculos em cobre (Alemanha, século XVII).
10. 2. O Hospital de Santa Marta
O Convento de Santa Marta foi
fundado no século XVI, tendo
começado depois a funcionar ao
serviço da saúde. Assim passou a
chamar-se Hospício dos Clérigos
Pobres.
Foi criado para acolher e tratar as vítimas da Grande Peste de Lisboa de 1569,
primeiro como Recolhimento de Santa Marta de Jesus e depois como Convento.
Após o terramoto de 1755, o Convento de Santa Marta foi 1 de 11 entre
os 65 conventos existentes em Lisboa que se mantive habitável.
Sobressaem do seu conjunto, o claustro, a igreja e a Sala do Capítulo,
para além de uma impressionante obra da azulejaria portuguesa
seiscentista e setecentista.
11. 3. História Breve dos Óculos
3.1 Antes do início
Os óculos deverão ter surgido num dia não
registado, algures durante a pré-história, quando
um esquimó com fotofobia induzida pelo intenso
brilho do sol na neve, fez uma fenda num bocado
de osso e atou-o sobre os olhos.
Protetor ocular em osso (Lapónia, século XIX).
Existem relatos provenientes da China de há cerca de 2000 anos que se
referem a óculos de quartzo. Acreditava-se que a visão era melhorada
através de uma força mágica proveniente do mineral.
Antiguidade Clássica
Aristófanes (5 a.C.) na sátira
“As Nuvens” menciona um
“bela pedra, transparente com
a qua se pode atear o fogo”.
Séneca faz referência à
ampliação da luz que passa
numa esfera de vidro com
água.
Plínio relata que o imperador
Nero observava os gladiadores
através da sua esmeralda.
12. 3.2 Os primeiros óculos
3. História Breve dos Óculos
Em 1350 os óculos já eram utilizados
amplamente na Europa. O seu
desenvolvimento pode ser atribuído a
Alexander de Spina que faleceu em 1313.
Outros autores atribuem a sua invenção a
Salvino degli Armati em 1287, que faleceu
em 1317.
A expansão da vida ativa dos
artesãos teve um importante
impacto económico. A sua
contribuição para a primazia
da Europa foi considerável.
É indisputável que os primeiros óculos com fixação
eram utilizados pelos monges italianos em 1295.
Eram essencialmente duas lentes presas com um
rebite. As lentes inventadas eram convexas
convexas para corrigir a presbiopia, só séculos mais
tarde é que surgiram as lentes para longe.
13. 3.3 O Avanço da Ciência
3. História Breve dos Óculos
O aumento da literacia na Europa assistiu à criação de
armações com ponte fixa. Estas evoluções culminaram
com a criação, em Nuremberga (1650), de uma armação
feita de fio de metal.
Só em 1728 é que o
fabricante londrino
Edward Scarlett
recebeu a patente
das hastes.
A produção industrial em escala que se iniciou no
final do século XVIII tornou os óculos menos
dispendiosos e acessíveis à população.
Óculos de Nuremberga (1650)
Em 1784, Benjamin Franklin inventou as lentes bifocais.
John Issac Hawkins cria as lentes trifocais em Londres em 1827.
14. 3.4 O Oriente
3. História Breve dos Óculos
Inicialmente na China, os óculos eram
semelhantes aos óculos de Nuremberga. No
século XVII surgiram almofadas com tiras
para prender às orelhas.
No século XIX volta a ocorrer uma
aproximação aos desenhos ocidentais.
O ideal confuciano de reverência filial associa a idade
à veneração. A utilização de óculos não foi
estigmatizada, o que ocorreu no Ocidente
Os óculos eram tendencialmente maiores e
utilizavam materiais mais nobres.
Óculos Japoneses em marfim e pele
(Século XVIII).
Óculos Chineses em ouro e casca de tartaruga
(Século XVIII e XIX)
15. 3. História Breve dos Óculos
3.5 O Século da Velocidade (1900-1945)
Um dos grandes avanços do século XIX foi a invenção da
celulóide. No século XIX, o bilhar ganhou popularidade e
a população de elefantes mundial já não conseguia
assegurar o marfim necessário à produção de bolas.
Em 1868, Hyatt inventou a celulóide e em 1870 esta
revolucionou o fabrico dos óculos.
Plástico
Capa da Revista Vogue (1939)
Não pode deixar de ser sublinhada a importância da comunicação social e da sociedade
de consumo na expansão da utilização de óculos e diminuição da estigmatização.
16. 3. História Breve dos Óculos
3.5 O Século da Velocidade (1900-1945)
A invenção do carro e do avião vieram criar novas
necessidades. Desta forma, surgiram óculos com função
essencialmente protetora.
A 2ª guerra mundial veio revolucionar o design dos
óculos com a introdução em 1941 pelo U.S. Army Air
Corps do arquétipo de todos os óculos de aviador.
Piloto da US Air Force (1942)
Óculos de Proteção, E.U.A. (1915 e 1918)
O heroísmo atribuído aos pilotos de aviação fez com que os acessórios que
utilizavam, nomeadamente os óculos, se tornassem populares.
17. 3. História Breve dos Óculos
3.6 O Boom do Pós-Guerra e o Modernismo
Com o fim da 2ª guerra mundial, foi possível transferir os
imensos avanços tecnológicos bélicos para aplicações
civis.
Ray-Ban (1954)
Ray-Ban (1960)
França (1950)
Desta forma, a industria de fabrico de óculos aplicou novas técnicas de produção de
óculos e foram criados e experimentados novos materiais e lentes.
18. 3.6 O Boom do Pós-Guerra e o Modernismo
Audrey Hepburn em
How to Steal a Million (1965)
3. História Breve dos Óculos
Óculos Black-and-White op-art, E.U.A. (1965)
Modernismo
Marcello Mastroianni em
La Dolce Vita (1960)
Ray-Ban (1960)
19. 3.7 Um novo milénio
Os óculos continuam a ser um dispositivo médico essencial no tratamento dos
doentes em Oftalmologia.
O desenvolvimento de novos materiais e lentes certamente
continuará neste novo milénio.
Google Glass (2013)
3. História Breve dos Óculos
20. Bibliografia
ALMASQUÉ, Isabel; VELOSO, A. J. Barros - Hospitais Civis de Lisboa: história e azulejos. Lisboa: Inapa,
1996.
ARRINGTON, George; MARTI-IBANEZ, Felix – A History of Ophthalmology. Nova Iorque: MD
Publications, 1959;
LIPOW, Moss – Óculos: Uma História Visual. Colónia: Taschen, 2011;
MARINHO, Lúcia. (31/08/14). Sistema de Referência e Indexação de Azulejo.
http://redeazulejo.fl.ul.pt/pesquisa-az/integrado.aspx?id=980;
MECO, José - Azulejaria Portuguesa. 3ª Edição. Lisboa: Bertrand, 1985;
MECO, José - O Azulejo em Portugal. Publicações Alfa, 1989;
MECO, José - Lisboa Barroca - da Restauração ao Terramoto de 1755 - a talha e o azulejo na valorização
da arquitectura. O Livro de Lisboa. Lisboa: Livros Horizonte. 1994. pp. 313-342;
MECO, José - O pintor de azulejos Gabriel del Barco. História e Sociedade. Lisboa. 6 e 7 (1979/1981), pp.
58-67 e pp. 41-50;
SIMÕES, João Miguel dos Santos - Azulejaria em Portugal no século XVIII. Fundação Calouste
Gulbenkian, 1979.