O documento discute as oportunidades e desafios da televisão digital no Brasil e Portugal comparativamente. Sergio Denicoli argumenta que a televisão aberta ainda é útil para eventos de grande audiência, mas serviços como Netflix oferecem mais escolha ao espectador. Ele também diz que a televisão precisa se envolver melhor com os telespectadores e criar comunidades em torno dos programas.
TV aberta, paga e streaming: a transformação digital da televisão
1.
2. Pergunta 1
e-Plan: Em sua tese, lê-se na Conclusão “O país
(Portugal) não aproveitou a tecnologia disponível para
proporcionar às pessoas uma televisão em sinal aberto de
qualidade equiparável aos serviços de TV por subscrição,
mesmo havendo plenas condições para tal.” Comente um
pouco sobre a diferença e oportunidades da TV Digital
brasileira e portuguesa. Qual seria o modelo de
aproveitamento a ser seguido?
3. Sergio Denicoli: “Na verdade essa tese foi feita em 2012. De
lá pra cá, muita coisa mudou. A gente tem, por exemplo, o
fenômeno da Netflix, que é uma televisão com uma outra
proposta, que através da internet, possibilita ao telespectador
optar pela programação, assistir a hora que ele quiser. Mas,
de qualquer forma, eu acho que a TV aberta ainda funciona,
principalmente, na cobertura de eventos importantes como as
Olimpíadas, grandes acontecimentos, grandes catástrofes,
eventos jornalísticos que chamam muito a atenção das
pessoas.”
4. Pergunta 2
e-Plan: Como você acredita que a televisão pode lucrar
com as novas mídias? Existe um modelo de negócio
integrado?
5. Sergio Denicoli: “Não existe uma metodologia que consiga abarcar
tanto o conteúdo offline, mas existe um conteúdo online muito ativo que é
onde as comunidades, que estão emocionalmente ligadas aquele
produto, vão interagir, vão falar e vão expor aquele produto pro mal ou
pro bem. Então eu acho que a televisão entrou numa fase agora muito
delicada, a concorrência da internet com a televisão como conhecemos,
ou pelo menos como nós concebemos até os anos 90 mais ou menos,
ela acabou completamente. As emissoras não estão entendendo que é
necessário envolver melhor o telespectador e criar comunidades
para que interaja com os programas que são exibidos.”
6. Pergunta 3
e-Plan: TV paga x Novos canais On Demand. Qual é o
caminho que a TV Paga deve percorrer para não ficar para
trás nessa corrida por conteúdo exclusivo? Como a TV
pode se destacar no digital, com tanta informação
circulando ao mesmo tempo?
7. Sergio Denicoli: “O Netflix, por exemplo, oferece os serviços e os produtos que você pode
escolher a hora que vê e como vê. Existe uma grade e dentro daquela grade, escolhe o que é
melhor para você, o que lhe agrada mais. Ao mesmo tempo, o Netflix começa a produzir
conteúdo exclusivo, então ele começa a avançar por um mercado que era muito da televisão e
as TVs pagas se restringiam simplesmente em transmitir conteúdo de terceiros. Hoje não, ela já
se aventura em produzir conteúdo também. O modelo de financiamento do negócio Netflix pode
ser muito variado. A base principal é a assinatura e acaba por ser um pouco mais barato que as
TVs pagas, digamos, tradicionais. Porque a transmissão dele (Netflix) é mais barata. Você criar
uma rede de cabos de fibra optica em um país como o Brasil é caro, então a transmissão vai ser
cara. Agora, pela internet a transmissão é muito mais barata, o número de pessoas empregadas
vai ser muito menor, então o negócio é completamente diferente. Eu acho muito difícil o
mercado de televisão paga tradicional, digamos assim, sobreviver a concorrência de serviços
On Demand como acontece com o caso da Netflix, o Youtube agora também tá entrando nesse
serviço. Nos Estados Unidos isso já funciona bem e agora vai espalhar pelo mundo, acho que é
um modelo que está falido. Não investiria em um modelo de TV paga nos moldes antigos. ”
8. Pergunta 4
e-Plan: Você acha que no futuro a internet vai superar em
absoluto o alcance da TV?
9. Sergio Denicoli: “Existe toda uma teoria que fala da economia da atenção. Hoje em
dia, despertar a atenção de alguém é muito difícil. Nós temos muita informação e pouca
comunicação. Então nesse contexto, a atenção se torna uma moeda, ela é rara. Quem
consegue chamar a atenção tem um fator monetário muito grande. As televisões elas
são veículos de massa, emitindo para milhares de pessoas. Só que ao mesmo tempo elas
sofrem concorrência de um veículo que não é de massa mas um meio que é a internet,
onde nós buscamos o que nós queremos, interagimos com o que nós queremos. Imagina
uma pessoa que é fã de uma série, ela não se limita apenas em assistir a série, ela quer
muitas vezes construir a imagem da série, reescrever aquela série, ela se adapta com os
personagens, ela se apaixona pelos personagens e a televisão não segue isso. A questão
da atenção na televisão ainda está muito difusa, a televisão ainda não entendeu que ela
tem que criar comunidades em torno daqueles programas. Só assim ela vai conseguir
entrar nessa nova era, fazer essa transferência para a área digital. ”
11. Sergio Denicoli: “Acho que as duas coisas trabalham lado a lado. Nesse mundo
de Arcas de Noé, a televisão é apenas uma arca. Ela concorre com muita
informação, então ela tem que criar um modelo diferenciado de financiamento ou
vai falir. Hoje nós estamos vendo as emissoras de TV, até mesmo a imprensa
pode entrar nesse barco, sustentadas muitas vezes pelo poder público, por
anúncios que têm o poder público. Esses meios de massa são naturalmente a
esfera principal de noticiar o que acontece na esfera pública como os governos e
o estado, então elas muitas vezes pressionam esses governos em troca de
publicidade. As empresas estão entendendo que investir na televisão nem sempre
é lucrativo como investir na internet. Quantas vezes uma campanha na televisão
não é assistida? Ela passa em branco. É tanto comercial na televisão que tudo
passa muito rápido. Então nesse mundo de informação, se a TV não se
reinventar ela vai se perder. ”
13. Sergio Denicoli: “Eu acho que esse TSU é tipo um Airbnb, digamos assim, das
redes sociais. É um Uber das redes sociais. É muito interessante o modelo de
negócio que divide o lucro, é um capitalismo muito novo. O Marx dizia que o
capitalismo era autofágico, que as pessoas iam concentrar tanta renda que ele ia
se autodestruir, que não ia ter muita gente para consumir. O capitalismo chegou
em um ponto que ele precisa se reinventar para sobreviver e está se
reinventando com uma divisão maior. Mas, é preciso dividir os lucros e essas
redes que estão agindo dessa forma onde todo mundo ganha financeiramente,
são os modelos que estão acontecendo mais, estão ganhando mais adeptos. E
ela tem incomodado tanto o Facebook que o Mark (Facebook) bloqueou a
divulgação dos links do TSU. É muito mais interessante para os usuários dispor
daquelas facilidades e além de ser um produto da rede social. Ela tem potencial
para desbancar o Facebook. ”