Este documento discute as mudanças modernas na religião afro-brasileira, criticando o uso excessivo de elementos de moda e estilo em detrimento das tradições. Critica o fato de que caboclos são retratados de forma irrealista e estereotipada, agindo como pessoas comuns e não como entidades espirituais. A autora argumenta que essas mudanças estão desrespeitando e enfraquecendo a religião e sua importância cultural.
1. JANEIRO 2014
ANO 1, NÚMERO 1
Rapidinhas
Pomba-gira, frescão,
frescando: mulher de
tromba, pintadíssima,
de
salto
alto,
maquiagem, peruca, é
o
que
mesmo!?
Travesti, lógico, artigo
de Gay Pride. Pelo
amor de Dadá, egun é
que faz isso! Enfeitar o
pavão só pra mostrar o
rabo, não é coisa de
Catiça, muito menos
de Exú! Eu hein,
laroyê, marmoteiros!
Oxóssi ou Osama Bin
Laden? Pois é, cantam
por aí a pedra de que
Oxóssi mata gente,
PQP! Desde quando
energia
pura
da
natureza se presta a
fazer o mal!? Ô povo
ignóbil, que ainda fica
jogando o nome do
orixá na lama e da
nossa religião – o que é
pior ainda!
Cestas básicas do
Governo que é para as
comunidades
de
terreiro, cadê!? Bora
fazer uma auditoria!?
Melhor não, né, deixa
como está, pois senão
vai tirar o lucro de
muita gente!
Por enquanto é só,
jaburu! Que Bàbá nos
livre dos cumburucus!
Até mais!
Macumba Moderna
por “Mama África”
CABOCLO fala no celular, exige cerveja gelada e a
marca é importante, senão "dona pata" arria.
Caboclo fala gíria, dirige carro e tem ciúmes do
namorado(a), esposo(a). Caboclo usa salto alto,
maquiagem, vai ao shopping e ao motel, caboclo
tem relações sexuais, pois precisa deixar sua
semente... é mole?
Caboclo simplesmente é show, desfila e troca de
roupas muitas vezes, discute o aumento da gasolina
e reclama da Dilma, sim, a Dilma presidente, a
maioria gostava mais do FCH, tinha mais estilo,
dizem. Caboclo desgostoso vai pro bar ou pra
boate, depende do momento e da caça...
Enfim, caboclo não é mestiço, é postiço: silicone,
unhas, cílios, e otras coisitas más...
Por fim, caboclo, desce e arrasa com tudo, inclusive com a fé.
Caboclo é um luxo, moderno, sem crises ou preconceito, caboclo é gente
boa, tem até o cartão Yamada, tem Facebook e está nas paradas... Caboclo
fala inglês, espanhol e francês, estão aprendendo a falar chinês, também
japonês uns já manjam...
Ah, ia esquecendo, caboclo adora assistir programas que falam de crimes,
apostam no bicho e adoram jogar na Mega Sena acumulada, jogam praga no
Márcio Rabelo, por não serem sorteados no Carimbó da Sorte, afirmam ser
uma grande mutreta. Vejam só, torcem divididamente pro Paysandú, Remo e
Tuna e um outro pequeno grupo de caboclos se dividem entre o Águia e o
Cametá.
Na macumba moderna é assim, nem quero falar na grande família que surgiu
oriunda de várias partes do continente asiático, pasmem: de Légua e de Zé
Pelintra — fiquei emocionada de ouvir a estória deles, sem palavras e
dispensa qualquer comentário.
Não sei onde iremos parar com esta modernidade toda, se pelo menos tudo
isso resolvesse os tantos casos de intolerância, racismo e discriminação, vá
lá, mas só tem servido pra achincalhar e avacalhar com uma tradição rica e
bela e desqualificar os fundamentos, os caboclos.
Realidade triste, mas a pura verdade do que acontece na maioria dos
terreiros do Pará. O que relatei aqui é uma prévia, em nome dos caboclos,
em nome dos Orixás, Inkices e Voduns, nem se fala! Como dizia Zenaldo: “Ah,
deixa pra lá!”.
ABANTO Belém – Boletim das marmotas do povo de santo – janeiro 2014 – ano 1 – n. 1 – página
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2. Angola ou Argola?
por “Boca de Jambú”
ABANTO
NELES!
A tradição não está
perdida, só anda
apenas
maquiada
demais. Não é raro
encontrar
candomblecistas que
se dizem angolenses
usando orelhinhas no
pano
de
cabeça,
dizendo que Inkise
tem dia de semana,
vestindo branco dia
de sexta-feira, como
se Oxalá fosse o
mesmo que Lembá —
valha-me Nzambi!
Andam
nagoizando
demais o candomblé
de Angola, pois é
muito fácil imitar o
outro do que buscar a
raiz — se é que tem
raiz!
Usar pano de chita
em inkises, vixe! É
coisa rara de se ver.
O luxo, a avareza e o
exibicionismo
tomaram conta da
maioria do jamberesu
—
viva
a
tal
globalização!
E há quem reze
Sekece quando está
incorporado
com
caboclo
—
meu
Senhor, onde é que
vamos parar com
isso!
Já não se sabe mais o
que
Angola
de
verdade ou Angola
enfeitada, cheia de
argola.
Eu
hein!
Banda gira!? Gira aê!
Macumba Moderna 2
por “Mama África”
EITA que é um monte de gente inventando coisas!... Ninguém sabe
mais quem é quem.
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Hierarquia é coisa ultrapassada, que não se usa mais, aliás, pra quê
se todos e todas são iguais?
Caboclo e cabocla vai às compras, ah... e dormem, dirigem carro,
falam ao celular e otras coisitas más... E o pior que têm muita gente
que aplaude isso!
Sobre os caboclos(as) ciumentos(as), esses são um número a parte.
Fico perplexa com tanta marmotagem.
A Família de Légua segue a risca um dos mandamentos: crescei e
multiplicai, nunca vi tanta palhaçada, um monte de invencionice.
abantobelem2014@
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abantobelem2014
Não sei até onde vai tudo isso, só sei que estas e tantas outras
situações fazem com que minha religião seja apedrejada,
desrespeitada, achincalhada, por conta de um monte de
marmoteiros(as) que não tem cuspe nenhum, nem água de visagem
na cabeça e se promovem com suas sandices.
Enquanto uns poucos trabalham pra que a religião se fortaleça e seja
respeitada, outros avacalham com tudo, principalmente com a
tradição e a maioria se cala, pois quem falar a verdade, agora
merece castigo. Dorme aí com este barulho!
ABANTO Belém – Boletim das marmotas do povo de santo – janeiro 2014 – ano 1 – n. 1 – página
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