O documento descreve o processo de planejamento de pastagens para antecipar condições adversas. Ele inclui estimar a demanda de forragem com base na dinâmica do rebanho, projetar a produção de pastagem considerando fatores sazonais, e desenvolver um orçamento forrageiro para identificar possíveis déficits e planejar ações corretivas.
Dimensionamento de piquetes Comunicado-Tecnico-65.pdf
Planejamento de pastagens permite antever condições adversas
1. ANUALPEC 2007
A bola de cristal dos gerentes
O planejamento de pastagens permite antever condições adversas e
realizar em tempo ações necessárias para contorná-las
Quase metade dos 45 a 50 milhões de hectares de revisados para garantir o sucesso do planejamento, ou seja,
pastagens cultivadas no cerrado apresenta algum grau a concretização das metas e dos objetivos.
de degradação, resultado do manejo inadequado da Fatores incontroláveis como clima, custo de insumos,
pastagem. As tecnologias para reversão desse quadro preço de venda e políticas envolvendo o setor precisam
são muitas, geradas por diversas instituições de ser considerados. Os fatores controláveis, geralmente
pesquisa, mas, para mostrar resultado, todas requerem ligados ao sistema de produção, são acompanhados o
um bom planejamento. tempo todo, pois o monitoramento permite aferir os
O planejamento é a função básica da gestão. A falta resultados do plano e identificar prontamente a
de um plano que mantenha em equilíbrio a oferta e a necessidade de uma eventual intervenção.
demanda de forrageira é a causa da degradação das Existem metodologias específicas para o
pastagens. Não raro, proprietários e gerentes planejamento de pastagens, dentre as quais se destaca a
desenvolvem planos com objetivos, metas e linhas de existente no “Comunicado técnico n.º 100”, da Embrapa
ação, mas os mantêm apenas na cabeça. Isso reduz sua Cerrados, de Planaltina (DF). A publicação é de autoria
abrangência e dificulta a avaliação e comparação de dos pesquisadores Luís Gustavo Barioni e Geraldo Bueno
estratégias, bem como a comunicação com os demais Martha Júnior e intitula-se “Manejo para estimar o
envolvidos na produção e na administração. Sem contar tamponamento nutricional para vacas de corte em
que tais planos geralmente não contemplam a previsão sistemas pastoris”.
de ações. Em geral, o planejamento informal consiste
Elaboração do planejamento forrageiro. − O
no “plano do ocorrido”: serve para conhecer o passado,
primeiro passo para a execução do planejamento das
mas não tem a visão do futuro.
pastagens é a quantificação do estoque de forragem. Há
O planejamento formal, em contrapartida, tem as vários modos de se estimar esse valor, seja por métodos
seguintes vantagens: diretos ou indiretos. O método direto é mais trabalhoso,
• Capacidade de utilização de medidas objetivas e porém mais confiável. Tais métodos, contudo, não são
de manipulação de maior quantidade de dados; o objetivo deste artigo.
• Possibilidade de verificação dos dados, erros de Os efeitos da sazonalidade na produção de pastagens
estimativa e falhas lógicas, e aprendizado do sistema são amplamente conhecidos. Segundo vários
de produção; pesquisadores, os capins tropicais concentram 80% de
sua produção no período das águas, restando apenas 20%
• Documentação do histórico técnico-administrativo para o período sem chuvas. O ajuste do planejamento
que auxilia na avaliação de erros e acertos ocorridos exige a estimativa do comportamento da produção desses
no passado; períodos, efeito conhecido como variação estacional.
• Promoção de um foco mais nítido para as decisões, Também é necessário projetar a dinâmica do estoque
evitando exageros na atenção a aspectos e problemas animal. As reses se desenvolvem, mudam de categoria,
isolados, que nem sempre são relevantes. aumentam o consumo e vão para abate. As metas de
O objetivo do planejamento é definir as ações que desempenho do rebanho, bem como os abates e
conduzam o empreendimento a um estado desejado. descartes, compõem a dinâmica do estoque animal, que
Definem-se as metas, que representam o caminho a ser precisa ser conhecida para que se possa estimar a
percorrido para a concretização dos objetivos. demanda de forragem.
A gestão do planejamento compõe-se de análise, Dinâmica do estoque animal. − É necessário
opção e decisão. Tais itens dependem da execução e do conhecer o peso médio das categorias existentes, bem
acompanhamento do plano proposto. São fatores como suas metas de desempenho e evolução do ganho
relacionados com a qualificação e motivação da mão-de- de peso. Pode-se assim presumir também os abates e
obra, e com o comprometimento da gerência. Execução e descartes. Tome-se como exemplo uma propriedade com
monitoramento são interdependentes e são continuamente 380 cabeças de recria e as seguintes metas: idade de
1
2. ANUALPEC 2007
abate de 31 meses, peso de desmame de 180 kg, peso ETM é menor que 0,5, como mostra a Equação 2, na
de abate de 480 kg, e ganho de peso por animal de 0,6 qual o valor de FH serve como fator de correção para a
kg/dia nas águas e 0,3 kg/dia na seca (desempenho produção projetada de forragem.
médio anual de 0,423 kg/dia por animal). A demanda
de forragem é dimensionada para a idade de 1 a 2 anos
da categoria, iniciando em janeiro, com 209 kg de peso FH: (ETR / ETM > 0,5) = 1 Equação 2
vivo, e terminando o ano com peso estimado de 363
kg. Observa-se no Quadro 1 a variação na demanda de A magnitude de produção tem relação com o
pastagem ao longo dos 12 meses. potencial produtivo, o manejo e a fertilidade do capim.
Essa estimativa ressalta a importância do manejo do
Quadro 1 − Demanda de forragem* pastejo. Sua execução e monitoramento propiciarão
em kg/MS/dia nos 12 meses do ano maior eficiência fotossintética, resultando em maior
produtividade. Para o cálculo, pode-se utilizar o valor
Categoria animal Novilhos 1 a 2 anos de produtividade de referência (M), que se refere ao
Janeiro 3.303 potencial produtivo na temperatura ótima, sem
Fevereiro 3.569 deficiência hídrica e com fertilidade do solo típica do
Março 3.863 sistema, conformo se expõe no Quadro 2.
Abril 4.148
Maio 3.436
Junho 3.550
Quadro 2 − Produtividade de referência (M)
Julho 3.668
para diferentes tipos de pastagens
tropicais no Brasil Central
Agosto 3.782
Setembro 3.900 Condição da pastagem M - Produtividade referência
Outubro 5.160 Extensiva 30 – 80
Extensiva de 1.° ano 80 – 150
Novembro 5.455
Consorciada com leguminosas 80 – 150
Dezembro 5.740
1.° ano em sucessão a cultivos adubados 150 – 250
* Considerando o consumo médio de 2,5% do peso vivo nas águas 2.° ano em sucessão a cultivos e adubação intensiva 100 – 180
(período de janeiro a abril e de outubro a dezembro) e de 2% do peso
vivo na seca (de maio a setembro). A produtividade (Pi) será estimada pela Equação 3.
* Eficiência de pastejo: 60% (exigência diária de matéria seca [MS],
considerando 40% como perda de pastagem).
Pi: M x PPRi x FH Equação 3
Variação estacional − O efeito da sazonalidade na
produção das pastagens pode ser estimado por meio da
temperatura e umidade do solo, fatores que estão Elaboração do orçamento forrageiro − O Quadro 3
relacionados com a quantidade e a distribuição das chuvas. mostra um exemplo de orçamento forrageiro. Nesse
exemplo considera-se uma área de 120 hectares
O efeito temperatura é estimado por intermédio da
destinada à categoria animal do Quadro 1. A pastagem
soma térmica do período. É preciso conhecer a
é formada com Braquiária brizanta cultivar Marandu,
temperatura-base (Tb) do capim (temperatura abaixo da
de condição extensiva e de primeiro ano.
qual a produtividade tende a zero), além de sua
temperatura ótima (Tótima – aquela em que a produção Como mostra o orçamento, a massa de forragem
tende a ser máxima) e a temperatura média (T) no disponível declina a partir de agosto, tornando-se
período. Esse valores são aplicados na Equação 1. negativa nos meses seguintes. O fato decorre da menor
produtividade de forragem nesse período e do aumento
da demanda de capim, em razão do maior peso vivo
(projetado) dos animais. As condições desfavoráveis da
T − Tb
PPR = , se T < Tótima * Equação 1 massa de forragem não permitirão o ganho nem a
Tótima − Tb produtividade desejados.
Com o orçamento nas mãos, o gerente pode optar
* Quando a temperatura média mensal for superior a temperatura ótima, pela ação que julgar mais adequada, seja a adubação da
considera-se PPR = 1. pastagem, a venda de animais, a suplementação com
ração de alto consumo ou a divisão dos lotes. Como se
O efeito umidade do solo pode ser previsto pelo vê, o planejamento é a função básica da gestão, pois
balanço hídrico. Este depende da evapotranspiração real permite ao administrador antecipar-se ao fato e ter tempo
(ETR) e da evapotranspiração máxima (ETM). A produção para analisar as tecnologias disponíveis e aplicar as que
de capim se reduz linearmente quando a razão ETR / julgar mais adequadas às condições da propriedade.
2
3. ANUALPEC 2007
Quadro 3 − Exemplo de orçamento forrageiro
Mês Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Temperatura média (°C) 26 24 23 22 21 20 18 20 23 24 24 25
PPR 0,71 0,61 0,50 0,44 0,35 0,28 0,14 0,28 0,55 0,57 0,57 0,64
ETR/ETM (mm) 0,89 0,97 0,93 0,93 0,61 0,05 0,00 0,00 0,00 0,57 0,95 0,97
FH 1 1 1 1 1 0 0 0 0 1 1 1
Pi (kg/MS/ha/dia) 57 49 40 35 29 0 0 0 0 46 46 51
Taxa de desaparecimento (kg/MS/ha/dia) 28 30 32 35 29 30 31 32 33 43 45 48
Massa de forragem (kg/MS/ha) 2.096 2.682 2.919 2.932 2.943 2.044 1.114 156 (832) (741) (724) (628)
Dados: Estimativa inicial de massa de forragem: 1200 kg/MS/ha; temperatura base 16 °C; temperatura ótima 30 °C; produtividade de referência (M) 80
kg/MS/ha/dia.
Josmar Almeida Junior,
zootecnista MSc., tecnopasto@tecnopasto.com,
tecnopasto@hotmail.com,
www.tecnopasto.com
3