Este documento analisa o site Wikinotícias sob a perspectiva do jornalismo de fonte aberta. Os autores observam que, apesar da filosofia colaborativa do portal, as matérias ainda se baseiam fortemente nas fontes da mídia convencional. O texto revisa os conceitos de jornalismo participativo, colaborativo e de fonte aberta, concluindo que este último se encaixa melhor na descrição do modelo adotado pelo Wikinotícias.
Jornalismo colaborativo na internet: como informar sem perder a atração pela ...
Wikinotícias: mídia convencional como fonte determinante para um jornalismo dito colaborativo
1. SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo
VII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo
USP (Universidade de São Paulo), novembro de 2009
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Wikinotícias: mídia convencional como fonte determinante
para um jornalismo dito colaborativo
Sarah Costa Schmidt 1
Diego Ismael de Almeida Silva2
Resumo: O presente trabalho analisa o site aberto de notícias Wikinotícias sob a ótica do con-
ceito de jornalismo colaborativo, observando-se seus conteúdos noticiosos em contraposição à
filosofia de trabalho anunciada no portal aos seus leitores e colaboradores. No ar há quatro anos
e meio, o portal já reúne mais de 5.100 textos colaborativos, o que permitiu compilar uma amos-
tragem evidenciando que a instituição não conseguiu se desprender da mídia institucionalizada
como principal fonte de informações. A questão é aqui debatida a partir de um levantamento
bibliográfico sobre o conceito de jornalismo colaborativo e da observação direta no site analisa-
do.
Palavras-chave: wikinoticias; jornalismo colaborativo; jornalismo de fonte aberta
1. O fenômeno da colaboração no jornalismo: processo em desen-
volvimento
As Tecnologias de Informação e Comunicação, as TICs, compreendidas como a
reunião dos meios audiovisuais, informáticos e comunicacionais trouxeram a possibili-
dade de “[...] criar, armazenar, recuperar e transmitir informação em grande velocidade
e em grande quantidade” (Monteiro e Pinho,2007, p. 107). Entendendo-se que estas
“novas tecnologias da informação não são simplesmente ferramentas a serem aplicadas,
mas processos a serem desenvolvidos” (CASTELLS apud BRAMBILLA, 2005, p. 2), é
1
Estudante de Graduação, 6º semestre do curso de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de
Campinas (PUC-Campinas), email: sarah89_schmidt@yahoo.com.br
2
Graduado em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica
de Campinas (PUC-Campinas).
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necessário pensar que estas tecnologias inseriram novos agentes e impuseram modifica-
ções no processo anterior de produção do jornalismo.
A possibilidade de não jornalistas adquirirem instrumentos capazes de captar e
processar imagens, vídeos e textos de acontecimentos dotados de “valores/notícia”
(WOLF, 2006), e enviar este material captado aos sítios, noticiosos ou não, vem provo-
cando intensos debates no meio acadêmico. Muitos são os pesquisadores que buscam
analisar este fenômeno da colaboração no jornalismo na tentativa de explicar e entender
como se dá esta participação do público no noticiário, visto que, em maior ou menor
escala, “o jornalismo se transforma à medida que o fenômeno colaborativo cresce”
(PALACIOS et. al., 2008, p. 261). Observação semelhante faz Holanda (2007, p.34), ao
afirmar que:
“passa a existir uma organização das fontes em torno de métodos e ferra-
mentas de produção e publicação da informação. Esta posse por parte das
fontes dos meios para veicular as suas mensagens, por si mesmas, é um dos
fatores de transformação do campo jornalístico”.
No entanto, uma das maiores dificuldades está, primeiramente, em nomear este
tipo de jornalismo e conseqüentemente conceituá-lo. É comum considerar jornalismo
colaborativo, participativo e open source (ou fonte aberta) como sinônimos. Porém, tais
adjetivos, isoladamente, não possuem o mesmo significado, e corre-se o risco de se es-
tar considerando como equivalentes as atividades que podem ser diferentes. Então, antes
de se partir para a análise proposta neste trabalho, é preciso definir com qual conceito se
irá trabalhar, na busca de não se utilizar como sinônimas expressões diferentes, visto
que, de acordo com Palacios et. al. (2008, p. 262), “a ampliação de conceitos é benéfica
quando rompe com o uso viciado de palavras, pois permite repensar seus significados
[...]”.
Para Alex Primo e Marcelo Träsel (2006), por exemplo, o termo “webjornalismo
participativo” engloba todos os tipos de manifestação colaborativa por parte do público,
e pode ser conceituado como “práticas desenvolvidas em seções ou na totalidade de um
periódico noticioso na Web, onde a fronteira entre produção e leitura de notícias não
pode ser claramente demarcada ou não existe” (p.10). Ou seja, para os autores, qualquer
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tipo de participação do público no noticiário pode ser classificada como jornalismo par-
ticipativo.
Brambilla (2006), em sua dissertação de mestrado sobre o tema, afirma que “no
noticiário open source, de modo geral, o sujeito que lê pode também escrever notícias,
compartilhando responsabilidades e tendo no envolvimento pessoal sua principal moeda de
troca” (p. 76). A autora escolhe o termo “jornalismo open source” para designar este fenô-
meno da participação do público no noticiário, ressaltando que este tipo de jornalismo tem
sua base na colaboração. Brambilla (2007) chega a utilizar o termo “jornalismo colaborati-
vo” como sinônimo de open source, por entender que o jornalismo de fonte aberta engloba
variados tipos de participação.
No entanto, é importante travar discussão já levantada por Palácios et. al. (2008)
em artigo que estuda as metodologias em pesquisa de jornalismo participativo no Brasil,
quando o autor destaca observações de Foschini e Taddei:
“No site Overmundo [...] o jornalismo participativo é definido como meio
que incluem comentários dos leitores nas matérias e colaborativo está rela-
cionado ao ato de duas ou mais pessoas contribuírem na elaboração de conte-
údos jornalísticos. Por outro lado, jornalismo de fonte aberta incluiria a pos-
sibilidade de qualquer pessoa alterar um conteúdo de uma página web”. (p.
262)
Para os autores, diferentemente de Primo e Träsel (2006) e Brambilla (2006),
cada um dos adjetivos empregados ao jornalismo possui características distintas quanto
ao tipo de envolvimento que o público tem nas “diferentes etapas dos processos de cole-
ta, criação, análise e distribuição de notícias” (PALACIOS et. al., 2008, p. 261). Pen-
samento semelhante possui Holanda (2007), ao propor, na introdução de sua dissertação
de mestrado, que é “necessário, em primeiro lugar, estabelecer a definição de jornalismo
de fonte aberta a ser utilizada, assim como apresentar [...] o conjunto de características
que diferenciam esta prática de outras a ela relacionadas, a exemplo do jornalismo parti-
cipativo [...]” (p. 20). Fica claro, a partir desta afirmação, que Holanda (2007), assim
como Foschini e Taddei, acredita que jornalismo de fonte aberta, participativo e colabo-
rativo são coisas diferentes.
Para o presente texto, esse debate conceitual é importante no sentido de se defi-
nir com qual conceito de jornalismo se irá trabalhar na análise das fontes de informação
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que são utilizadas pelos denominados jornalistas cidadãos no site aberto “Wikinotí-
cias”3. Diante da revisão bibliográfica feita e dos pontos levantados acima, será utiliza-
do para este trabalho o termo “jornalismo de fonte aberta”, como será melhor explicado
a seguir.
2. O jornalismo de fonte aberta (ou open source)
De acordo com Holanda (2007),
“‘Open source’ é traduzido ora como código aberto, ora como fonte aberta. A
expressão se refere ao código fonte de um programa de computador, ou seja,
o programa antes de ser compilado, quando se torna código binário, executá-
vel. O código fonte pode, portanto, ser alterado de modo a produzir diferentes
versões do software” (p. 27)
A filosofia open source prega que “o conhecimento deva ser visto não como
uma mercadoria, mas como um bem coletivo que, portanto, precisa ser compartilhado”
(PRIMO e TRÄSEL, 2006, p. 4). Por isso a regra vigente é a de que é necessário “a
divulgação de qualquer alteração no código fonte dos programas” (BRAMBILLA,
2005, p. 6), para garantir que este código fique sempre aberto a qualquer pessoa que
queira modificá-lo. O sistema operacional Linux é “o principal totem deste movimento”
(PRIMO e TRÄSEL, 2006, p. 5).
Pensando no campo do jornalismo, a analogia é aplicada àqueles sites em que
qualquer usuário pode publicar e modificar as notícias. Catarina Moura (2002, p. 1) foi
uma das primeiras estudiosas a associar a filosofia open source ao jornalismo, quando
avalia que “a eficácia desta filosofia fez com que se questionasse sobre como seria apli-
cá-la em outras áreas, nomeadamente o jornalismo [...] indiciando desde logo uma mu-
dança fundamental no jornalismo como é entendido e praticado”. Moura (2002) analisa
em seu artigo o site Slashdot4, de fonte aberta, dedicado ao universo da informática onde
as matérias são escritas por não jornalistas, que segundo a autora (p. 2) “representa o que
3
http://pt.wikinews.org
4
http://slashdot.org
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muitos consideram o início do jornalismo open source, o que implica, desde logo, per-
mitir que várias pessoas (que não apenas jornalistas) escrevam”.
O jornalismo de fonte aberta, segundo Holanda (2007, p. 20) possui algumas ca-
racterísticas específicas, especialmente por utilizar “a internet como meio de expressão
e como plataforma para as ferramentas e procedimentos que permitem aos seus usuários
o envio de matérias, com as quais é construído o noticiário; assim como a discussão
destas matérias no próprio site; possibilitando inclusive que o público critique-as ou
corrija-as”.
Brambilla (2006) também comenta esta possibilidade que o público pode ter no
jornalismo de fonte aberta de corrigir as matérias, modificando-as sempre que achar
necessário. Diz a autora: “isso se aproxima a afirmar que, neste noticiário, as notícias sem-
pre são beta, ou seja, nunca estarão definitivamente prontas” (p. 81).
Com base nestes três autores que discutem o jornalismo de fonte aberta, Holanda
(2007), Brambilla (2006) e Moura (2002), foi montada a tabela abaixo, visando encon-
trar os pontos de convergência entre eles:
Tabela 1: Características principais do jornalismo de fonte aberta
Autores
Moura (2002) Brambilla (2006) Holanda (2007)
Características
Internet como meio de Sim Sim Sim
expressão
Pode ser escrito por Sim Sim Sim
não jornalistas e sem a
supervisão de um
Notícias sempre abertas Sim Sim -----
para correção
Com o esquema, fica possível compreender que o jornalismo de fonte aberta,
aparentemente, não pode ser observado em meios impressos, por exemplo, visto que a
internet é o seu meio de expressão. Mesmo que veículos impressos possam, por ventura,
aceitar contribuições de leitores, como fotos e textos, este tipo de participação talvez
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precise ter outro tipo de denominação, aí aparecendo termos como jornalismo colabora-
tivo ou participativo. Ou mesmo sites da grande imprensa, que possuem canal que aceita
material captado por leitores, mas onde o usuário não pode modificar ou corrigir a maté-
ria, esta ação dependendo exclusivamente do corpo de jornalistas, também não se encai-
xa no modelo open source.
Esta localização das principais características do jornalismo de fonte aberta é
importante para a análise deste trabalho, visto que o objeto de pesquisa, o site Wikinotí-
cias, enquadra-se nestas características.
3. O Wikinotícias
O site Wikinotícias é a versão em língua portuguesa do Wikinews5, site de notí-
cias livre, onde qualquer pessoa com acesso a um computador ligado à internet pode
publicar textos, fotos e vídeos. Funciona com os mesmos princípios da Wikipédia6, en-
ciclopédia online livre que prega a construção colaborativa de conhecimento. Todos
estes sites são projetos da Fundação Wikimedia, uma “organização beneficente sem fins
lucrativos, dedicada a incentivar a produção, desenvolvimento e distribuição de conteú-
do livre e multilíngüe e a disponibilizar ao público, integralmente, esses projetos [...]”7.
O Wikinotícias iniciou suas atividades no dia 19 de fevereiro de 2005, e as notícias
puderam ser oficialmente enviadas ao site a partir do dia 4 de março do mesmo ano.
Desde então, o sítio já acumula 5.327 notícias8 em português. Com o slogan “a fonte de
notícias livre que todos podem editar” 9, qualquer pessoa pode enviar notícias e inclusi-
ve editar as já publicadas no site sem a necessidade de se cadastrar. Existem até agora
2.914 membros cadastrados no site, dos quais apenas 33 considerados “ativos”, ou seja,
que publicaram algo no período dos últimos 30 dias 10.
O site ainda prega a “neutralidade, o conteúdo livre, e um processo aberto de tomar
decisão”, e promete que será “promovida a idéia do cidadão jornalista, porque acredita-
5
http://www.wikinews.org/
6
http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_principal
7
http://pt.wikipedia.org/wiki/Funda%C3%A7%C3%A3o_Wikimedia
8
Número do dia 08/08/2009
9
http://pt.wikinews.org/wiki/P%C3%A1gina_principal
10
http://pt.wikinews.org/wiki/Especial:Estat%C3%ADsticas
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se que qualquer um pode fazer uma contribuição útil para o cenário que está a se desen-
rolar no mundo ao nosso redor”11.
Observando o site, é possível perceber que ele se enquadra nas três características do
jornalismo de fonte aberta descritas anteriormente, visto que o Wikinotícias, além de
obviamente utilizar-se da internet como forma de expressão, tem por objetivo abrigar
textos escritos por não jornalistas e que possam ser alterados e corrigidos por qualquer
pessoa, a qualquer momento. Portanto pode-se dizer que o Wikinotícias é um site de
jornalismo open source.
Como este trabalho também tem por objetivo observar quais são as fontes mais uti-
lizadas pelos colaboradores do Wikinotícias, é importante avaliar o que o próprio site
prega, quando afirma que sua tendência é “[...] crescer e tornar-se cada vez mais útil
com o passar dos dias”, e que sua “missão” é se tornar uma “fonte de notícias alternati-
va às agências proprietárias atuais como a Associated Press ou a Reuters, isto é, possi-
bilitará que a mídia independente ganhe com uma alimentação de notícias de alta quali-
dade, sem cobrança, a fim de complementar sua própria reportagem” 12.
4. Metodologia
Para se analisar quais são as fontes utilizadas pelo chamado repórter cidadão no
site Wikinotícias utilizou-se de uma metodologia híbrida de pesquisa, que combina a
revisão bibliográfica e a observação direta. A pesquisa bibliográfica, que pode ser con-
siderada como “o primeiro passo de toda pesquisa científica” (LAKATOS e MARCO-
NI, 1992, p.107), foi realizada justamente para se levantar questões acerca das caracte-
rísticas do jornalismo de fonte aberta.
Em seguida, por meio de observação direta, foram analisadas notícias veiculadas
no site Wikinotícias, com amostragem intencional definida escolhendo-se meses com-
postos ao longo dos quatro anos e meio em que o site está no ar, com o objetivo de se
ter um panorama de quais fontes são utilizadas pelos colaboradores do site, desde sua
criação até os dias de hoje, observando-se se houve alguma modificação em relação a
11
http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikinews
12
http://pt.wikinews.org/wiki/Wikinot%C3%ADcias:Miss%C3%A3o
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estas fontes, e se o site já estaria se tornando uma agência de notícias alternativa às a-
gências da mídia tradicional. Para tal, foram compilados conteúdos publicados em doze
dias dentro dos doze meses recorrentes, começando-se pelo mês de abril de 2005 até o
mês de março de 2009. Em cada mês foi observado um dia ímpar, começando-se pelo
dia 1º de abril de 2005 até o dia 23 de março de 2009, objetivando- se desta forma ana-
lisar o período de dias dentro do período de um mês, conforme a tabela a seguir:
Tabela 2: Amostragem de notícias analisadas no Wikinotícias
Mês
Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar
2005 2005 2005 2006 2006 2007 2007 2008 2008 2009 2009 2009
Dia
1 x
3 x
5 x
7 x
9 x
11 x
13 x
15 x
17 x
19 x
21 x
23 x
5. Resultados: fontes são veículos da mídia tradicional
No total, foram analisadas 34 notícias dentro dos doze dias observados. Os dias e
o número de notícias encontradas, respectivamente, são: 1º abril 2005 (4); 3 de maio
2005 (8); 5 junho 2005 (5); 7 julho 2006 (1); 9 agosto 2006 (1); 11 setembro 2007 (0);
13 outubro 2007 (1); 15 novembro 2008 (0); 17 dezembro 2008 (2); 19 janeiro 2009 (5);
21 fevereiro 2009 (4) e 23 março 2009 (3). É interessante observar que o número de
notícias veiculadas por dia oscila bastante, e há dias inclusive em que não há nenhuma
publicação.
Quanto às fontes utilizadas pelos repórteres cidadãos para submeter as matérias,
pode-se observar que em todos os casos são utilizadas conhecidas agências de notícias e
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veículos da grande mídia. Em nenhum caso analisado houve publicação de matéria em
que o colaborador tenha utilizado algum outro tipo de fonte de informação, como pode
se observar a seguir:
Tabela 3: Título das notícias analisadas e fontes utilizadas
Data Título Fontes
01/04/2005 Colômbia investiga suposta ligação entre guerri- RCN
lheiros e a Guarda Nacional da Venezuela
Motorista enche a boca de fezes para enganar o Toronto Sun
bafômetro
RCN (Colômbia) ; Reuters ; Houston
Saúde do papa piora Chronicle; Chicago Tribune; TheBos-
tonChannel.com; BBC; Catholicnews
Viagra pode provocar cegueira, dizem médicos Reuters
03/05/2005 Confirmada primeira observação de um planeta Yahoo! news; CNN news ; European
fora do sistema solar Southtern Obervatory
Coreia do Norte lança míssel em direção ao Japão Caracol Televisión
Dom Quixote traduzido completamente para o Caracol Televisión ; El Tiempo (Colom-
chinês bia)
José Miguel Insulza é o novo secretário da OEA BBC; Organización de los Estados Ame-
ricanos; Caracol Televisión
O navegador Firefox alcança os 50 milhões de Spreadfirefox.com
downloads
Segundo Le Monde, pesquisas indicam vitória do Le Monde
SIM para nova constituição da Europa
Reuters ; BBC News
Violência em Togo após resultados parciais das
eleições
The New York Times; Associated Press
Vítima de dano cerebral se recupera e volta a falar
depois de 10 anos
05/06/2005 Cantor brasileiro Lulu Santos é assaltado O Estado de São Paulo
Líder disse que governo brasileiro não teme as Radiobras
investigações
Agência Senado ; O Estado de São Paulo
No Brasil, senador propõe requerimento para que
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Ministro da Fazenda explique suposta compra de
votos de deputados
O Estado de São Paulo ; Veja
Polícia brasileira investiga supostas doações ao PT
de membros da quadrilha do desmatamento
Revista Época diz que Roberto Jefferson usou Folha de São Paulo; Terra
sorveteiro para ocultar bens pessoais
07/07/2006 Deputado brasileiro quer barrar convocação de Agência Câmara (Brasil)
jogadores "estrangeiros" para a Seleção
09/08/2006 Governo israelense aprova expansão da ofensiva; Folha de S. Paulo; Portugal Diário ; BBC
Hizbollah reage O Estado de S. Paulo; EFE; VOA; Ynet
News
Reuters
11/09/2007 ---------------------- ------------------------
13/10/2007 Gore e grupo da ONU dividem Nobel da Paz Correio da Bahia
15/11/2008 --------------------- --------------------------
17/12/2008 Chuva volta a causar estragos em municípios cata- Agência Brasil
rinenses
Cúpula da América Latina e do Caribe mostra que Agência Brasil
EUA não mandam na região, diz Chávez
19/01/2009 Brasil tem em dezembro de 2008, maior perda de O Globo; Portal G1; DCI- Comércio,
empregos desde maio de 1999 Indústria & Serviços
Federer estreou com êxito na Austrália El País; Australian Open; Reuters
Governador José Serra anuncia Geraldo Alckmin O Globo; Estadão.com.br ; DCI - Comér-
para Secretaria de Desenvolvimento em São Paulo cio, Indústria & Serviços
Israel começa a retirada de tropas da Faixa de Agência Brasil; Globo.com ; Folha Onli-
Gaza ne
Presidente palestino propõe governo de coalizão Agência Brasil
com o Hamas
21/02/2009 Envolvidos no “Caso Freeport” depõem na Justiça Correio da Manhã; Jornal de Notícias ;
em Portugal Diário de Notícias ; Destak.pt ; Expresso ;
Público P; Diário Digital ; Expresso;
Notícias.RTP.PT
Novo governador da Paraíba exonera mil servido-
res Globo.com ; Estadão.com ; Portal G1
Presidente do Equador acusa religiosos e a mídia Agência Eclesia ; ANSA
no país “de por a democracia em perigo” ;Clicabrasilia.com.br
Professor acusado de abuso sexual contra adoles- Correio da Manhã
centes volta dar aulas em Portugal
23/03/2009 Celebridade britânica Jade Goody morre aos 27 El País (España) El Mundo (España);
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anos de câncer cervical Abc.es ; BBC News Online ; IBN Live
Jato da FedEx cai em Tóquio Elpais.com; MSNBC.com ; CNN.com
Reuters.com
Petroleiros brasileiros iniciam greve Agência Brasil; Folha Online; Globo.com
É possível perceber que não há uma regra para quantas fontes cada repórter cida-
dão usa ao publicar uma matéria, havendo casos em que se utiliza apenas uma fonte, e
outros em que chegam a ser consultadas nove fontes diferentes. Em todos os casos, no
entanto, tais fontes citadas são veículos da mídia tradicional. Observou-se que foram
utilizados como fonte, pelos chamados jornalistas cidadãos 54 veículos e agências dife-
rentes. Os veículos que foram utilizados mais de uma vez e quantas vezes apareceram
são, respectivamente: Reuters (6); Agência Brasil (5); BBC (5); O Estado de S. Paulo
(4); Caracol Televisión (3); e RCN, CNN, Folha de S. Paulo, O Globo, Portal G1, DCI,
El País, Globo.com, Folha Online, Correio da Manhã e Estadão.com apareceram duas
vezes.
Considerações finais
Primeiramente, o que se pode constatar é que o cenário em que o público parti-
cipa ativamente dos processos jornalísticos ainda gera muita discussão no meio acadê-
mico. Ainda se busca identificar quais são as características desta participação, bem
como a melhor forma de nomeá-la. É possível até pensar que podem existir gêneros
dentro do chamado jornalismo colaborativo, ou participativo, onde a única característica
comum é a de que existem não jornalistas, leigos no assunto, participando de forma ati-
va, registrando acontecimentos dotados de relevância, e procurando meios de comparti-
lhar esta informação.
Essa manifestação colaborativa encontra então várias formas de se desenvolver,
seja em canais, dentro de sites da grande mídia, específicos para receber material do
público (fotos, vídeos, textos), seja em seções dentro de jornais impressos, onde o pú-
blico pode enviar textos e fotos, por exemplo, até sites totalmente abertos, sem modera-
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ção ou revisão de jornalistas profissionais, onde o próprio público é responsável por
escolher a notícia e publicá-la, como é o caso do objeto analisado Wikinotícias.
Quanto ao objeto de análise, que se propõe a ser um site de jornalismo de fonte
aberta, o que se pode perceber é que, desde que entrou no ar, em 2005, até o presente
momento, as fontes de informação a que os colaboradores recorrem são as grandes a-
gências de notícias e veículos da grande mídia mundial. Ou seja, não são os denomina-
dos repórteres cidadãos quem alimentam o Wikinotícias, mas sim a própria mídia tradi-
cional, copidescada para a versão online. Surge então a questão: qual é a necessidade de
um site desta natureza para o jornalismo? Jimmy Wales (RODA VIVA, 2009), presi-
dente da Wikimedia, fundação responsável pelo Wikinews e por sua versão em portu-
guês, comentou em entrevista ao programa Roda Viva:
“O Wikinews está aí há alguns anos, mas nunca obteve o sucesso da Wiki-
pédia. Há algumas complicações neste tipo de coisa. Na Wikipédia precisa-
mos de fontes de qualidade, artigos acadêmicos, jornais, revistas ou livros.
Mas o jornalismo é inerente a pesquisa original, e para fazer este tipo de
pesquisa depende-se muito mais da reputação pessoal da pessoa que está fa-
zendo aquilo. E este é um dos problemas não só do Wikinews mas do jorna-
lismo cidadão em geral”
Wales reconhece aí um dos grandes problemas do suposto jornalismo praticado pelo
Wikinotícias, se por acaso não se utilizar da mídia como fonte: a credibilidade. Existe aí
um paradoxo: ainda na mesma entrevista, Wales (Idem) afirma, ao responder ao comen-
tário da apresentadora Lilian Witte Fibbe de que o Googlenews13 estava, aparentemente,
dando certo: “Sim, mas tudo o que ele faz é reunir manchetes do jornalismo tradicional.
Não tem nada a ver com as pessoas. Não é um modelo novo, mas uma técnica de busca
para encontrar manchetes”. Porém, ao que parece, o Wikinotícias está funcionando da
mesma forma, publicando apenas o que a grande mídia traz, dependendo única e exclu-
sivamente do que ela produz. A colaboração de não jornalistas no noticiário talvez pre-
cise, ainda, ser repensada e melhor discutida, e assim descobrir sua fórmula.
13
http://news.google.com/
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Referências
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News International. Porto Alegre, 2006. 252 f. Dissertação (Mestrado em Comunicação e In-
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do Sul.
________. Jornalismo colaborativo funciona. Jornalistas da Web, 22 de julho de 2007. Dis-
ponível em: http://www.jornalistasdaweb.com.br/index.php?pag=displayConteudo&idCon-
teudoTipo=2&idConteudo=2121. Consulta em: 04 de março. 2009
HOLANDA, André Fabrício da Cunha. Estratégias de abertura: o jornalismo de fonte aberta
dos casos Indymedia, CMI, Slashdot, Agoravox, Wikinotícias e Wikinews. Salvador, 2007. Dis-
sertação (Pós-Graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas). Faculdade de Comuni-
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LAKATOS, Eva.Maria e MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho científi-
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