Uso optimal do território de bacia hidrográfica com fundamentos no conceito de geociências agrárias e ambientais: bacia do Ribeirão entre Ribeiros no Vale do Rio Paracatu
Este documento apresenta um resumo de três frases de uma dissertação de mestrado sobre o uso ótimo do território da bacia hidrográfica do Ribeirão Entre Ribeiros no Vale do Rio Paracatu, Minas Gerais. A dissertação propõe a implantação de corredores ecológico-econômicos para recuperar áreas degradadas e promover o desenvolvimento sustentável da região através da integração entre atividades agrícolas e florestais.
Semelhante a Uso optimal do território de bacia hidrográfica com fundamentos no conceito de geociências agrárias e ambientais: bacia do Ribeirão entre Ribeiros no Vale do Rio Paracatu
Semelhante a Uso optimal do território de bacia hidrográfica com fundamentos no conceito de geociências agrárias e ambientais: bacia do Ribeirão entre Ribeiros no Vale do Rio Paracatu (20)
Uso optimal do território de bacia hidrográfica com fundamentos no conceito de geociências agrárias e ambientais: bacia do Ribeirão entre Ribeiros no Vale do Rio Paracatu
1. i
USO OPTIMAL DO TERRITÓRIO DE BACIA HIDROGRÁFICA
COM FUNDAMENTOS NO CONCEITO DE GEOCIÊNCIAS
AGRÁRIAS E AMBIENTAIS – BACIA DO RIBEIRÃO ENTRE
RIBEIROS NO VALE DO RIO PARACATU.
3. iii
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO
Reitor
João Luiz Martins
Vice-Reitor
Antenor Barbosa Júnior
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
Tanus Jorge Nagem
ESCOLA DE MINAS
Diretor
José Geraldo Arantes de Azevedo Brito
Vice-Diretor
Marco Túlio Ribeiro Evangelista
DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA
Chefe
Selma Maria Fernandes
5. Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 44, 191p.
v
CONTRIBUIÇÕES ÀS CIÊNCIAS DA TERRA – SÉRIE M - VOL. 44
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Nº 256
USO OPTIMAL DO TERRITÓRIO DE BACIA HIDROGRÁFICA COM
FUNDAMENTOS NO CONCEITO DE GEOCIÊNCIAS AGRÁRIAS E
AMBIENTAIS – BACIA DO RIBEIRÃO ENTRE RIBEIROS NO VALE DO
RIO PARACATU.
Lawrence de Andrade Magalhães Gomes
Orientador
Paulo Pereira Martins Júnior
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e Recursos Naturais
do Departamento de Geologia da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto como requisito
parcial à obtenção do Título de Mestre. Área de Concentração: Geologia Ambiental e Conservação de
Recursos Naturais
OURO PRETO
2007
6. Andrade, L.M.G., 2007. Uso Optimal do Território de Bacia Hidrográfica com Fundamentos no Conceito de ....................
vi
Universidade Federal de Ouro Preto – http://www.ufop.br
Escola de Minas - http://www.em.ufop.br
Departamento de Geologia - http://www.degeo.ufop.br/
Programa de Pós-Graduação em Evolução Crustal e Recursos Naturais
Campus Morro do Cruzeiro s/n - Bauxita
35.400-000 Ouro Preto, Minas Gerais
Tel. (31) 3559-1600, Fax: (31) 3559-1606 e-mail: pgrad@degeo.ufop.br
Os direitos de tradução e reprodução reservados.
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autoral.
ISSN 85-230-0108-6
Depósito Legal na Biblioteca Nacional
Edição 1
Catalogação: sisbin@sisbin.ufop.br
G633u Andrade, Lawrence Magalhães Gomes.
Uso optimal do território de bacia hidrográfica com fundamentos no conceito
de geociências agrárias e ambientais [manuscrito]: bacia do Ribeirão entre Ribeiros
no Vale do Rio Paracatu / Lawrence de Andrade Magalhães Gomes.
xxviii, 191 f. : il. color.; grafs.; tabs.; mapas. (Contribuições às ciências
da terra, Série M, v.44, n. 256,)
ISSN: 85-230-0108-6
Orientador: Prof. Dr. Paulo Pereira Martins Júnior.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Ouro Preto. Escola de
Minas. Departamento de Geologia. Programa de Pós-graduação em Evolução
Crustal e Recursos Naturais.
1.Geociências - Teses. 2. Ciências ambientais - Teses. 3. Bacia hidrográfica -
Teses. I. Universidade Federal de Ouro Preto. II. Título.
CDU: 55
7. Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 44, 191p.
vii
“Soluções que não levam em conta
as reações do coração humano
ou são nocivas, ou são simplórias”
Ivan Illich
8. Andrade, L.M.G., 2007. Uso Optimal do Território de Bacia Hidrográfica com Fundamentos no Conceito de ....................
viii
9. Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 44, 191p.
ix
Agradecimentos
Agradeço aos meus pais, minha irmã, e todos os familiares pelo amor, apoio, carinho, força e
compreensão durante essa etapa da minha vida. Sem a ajuda deles nada disso teria sido possível. Amo
vocês!
À Paula, meu amor, por alegrar incomensuravelmente minha vida, pelo companheirismo, afeto, ternura, e
por ser minha fonte de inspiração, e minha luz brilhante nas noites mais escuras.
Um agradecimento especial ao meu orientador, Paulo Martins, pela sugestão do tema da dissertação e por
ser responsável pelo grande salto de conhecimento conseguido no decorrer deste trabalho, tanto do ponto
de vista científico e, sobretudo, humanístico, além do exemplo de determinação, bondade e de existência.
À Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC), Setor de Recursos da Água (SAA), pela
disponibilização de infra-estrutura, pelo apoio institucional e logístico, buscando a interação entre
Universidade e Fundação no desenvolvimento da pesquisa aplicada no estado, através do programa de
pesquisas coordenado pelo orientador.
À equipe e amigos do CETEC, dentre eles Leandro Arb, pelo grande auxílio na produção cartográfica,
Marcos Brito, pela normatização e tratamento final de algumas imagens cartográficas, Danilo Paiva, Vitor
Vieira, Rafael Franca, Cláudio Diniz, Kristoffer, Juan Soria, Daniel Campolina, Jairo Cambraia, Marco
Aurélio, João Álvaro, Marco Antônio e Luis Felipe.
À Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Departamento de Geologia (DEGEO) pela oportunidade
de desenvolver o trabalho de dissertação.
Na UFOP, agradeço aos professores Mariângela Garcia, Frederico Sobreira, Paulo de Tarso, André
Danderfer, pelos ensinamentos e por sempre se prontificaram a comentar e tirar dúvidas durante o
desenvolvimento da dissertação.
Aos funcionários Édson e Aparecida pela cordialidade e prestatividade, além do grande auxílio logístico
fornecido na secretária da Pós-Graduação.
Aos meus colegas do curso de pós-graduação que me acompanharam e ajudaram a vencer as dificuldades
existentes nessa desafiante etapa. Em especial para a Cristina Rocha, pelo apoio, sobretudo, nos trabalhos
de campo, à Milene Domingues, Makênia Oliveira, Ruzimar Tavares, Leonardo Andrade, Carolina,
Josefa, Augusta, Cláudio, Larissa Andrade, Ronal Rafael, Érica e Aline.
10. Andrade, L.M.G., 2007. Uso Optimal do Território de Bacia Hidrográfica com Fundamentos no Conceito de ....................
x
Sou incalculavelmente grato ao carinho, receptividade e cuidados provenientes da Tia Lúcia, Miriam, e
minha prima Natália que me hospedaram em sua casa em Mariana-MG durante o meu percurso e
realização das cadeiras em Ouro Preto.
À Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG): ao Instituto de Geociências (IGC), ao Departamento de
Engenharia Sanitária e Ambiental (DESA) e ao Instituto de Ciências Biológicas (ICB), pela realização de
algumas disciplinas e principalmente aos professores Cristiane Valéria Oliveira, Nilo Nascimento e Leila
Nunes Menegasse que contribuíram enormemente para o aprendizado no mestrado.
À REDEMAT pela possibilidade de cursar a disciplina Epistemologia Fundamentadora, ministrada pelo
Professor e Orientador desta dissertação, Paulo Martins.
Aos amigos, a família que nos foi possível escolher, sejam os de infância, de faculdade ou constituídos no
decorrer da vida: Alexandre, Cibele, Digo, Guilherme, Hellerman, Hugo, Mariana, Sal, Érica, Fernando
Gomes Braga, Fernando César, Marco (Polo), Paulo Roberto Braga, André, Gabriela, Bruna, Lucas,
Allan, Alex, entre outros tantos, pela companhia nos momentos de descontração, pelo apoio de uma
maneira geral e por enriquecerem minha vida.
Um agradecimento especial aos Professores convidados a compor a Banca Examinadora, na qual estão
presentes a Professora Mariângela Garcia Leite, do DEGEO/UFOP, e a Professora Cristiane Valéria
Oliveira, do IGC/UFMG, além é claro do Professor e Orientador Paulo Martins (DEGEO/UFOP). É de
grande satisfação e honra ser avaliado por Professores tão competentes e cordiais.
Por fim, e de suma importância para concretização deste estudo, agradeço ao Fundo Setorial CT-Hidro do
Ministério de Ciência e Tecnologia pelo fornecimento de uma bolsa de estudos, através do CNPq, bem
como pelo financiamento deste ao Projeto de Conservação de Recurso Hídrico no Âmbito da Gestão
Ambiental e Agrícola de Bacia Hidrográfica (CRHA), que teve ainda o apoio financeiro da FINEP, sendo
este Projeto, fundamental e responsável por recursos disponibilizados, principalmente quanto aos
materiais, análises e trabalhos de campo.
Se eu me esqueci de alguém, mil desculpas, mas pode ter certeza que a sua ajuda foi de grande valia e
importância.
OBRIGADO A TODOS.
11. Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 44, 191p.
xi
Sumário
AGRADECIMENTOS.................................................................................................... ...........ix
LISTA DE ILUSTRAÇÕES..................................................................................................... xv
LISTA DE TABELAS.............................................................................................................. xix
LISTA DE QUADROS ............................................................................................................ xxi
LISTA DE ANEXOS.............................................................................................................. xxiii
RESUMO ..................................................................................................................................xxv
ABSTRACT........................................................................................................................... xxvii
CAPÍTULO 1. CONSIDERAÇÕES FUNDAMENTAIS ........................................................ 1
1.1. Introdução e Fundamentação do Problema ................................................................... .........1
1.2. Objetivos ................................................................................................................................ 4
1.3. Localização ............................................................................................................................ 5
1.4. Métodos Utilizados e Propedêutica........................................................................................ 7
CAPÍTULO 2. CORREDORES FLORESTAIS ECOLÓGICO-ECONÔMICOS – UMA
BREVE REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.................................................................................. 11
2.1. Definições Primárias. ........................................................................................................... 12
2.2. Geometria de Corredores. .................................................................................................... 14
2.3. Procedimentos e Técnicas de Plantio para o Resgate de Espaços Florestais ....................... 17
2.3.1. Chuva de Sementes................................................................................................. 17
2.3.2. Dispersão de Sementes............................................................................................ 18
2.3.3. Transposição de Solos............................................................................................. 19
2.4. Algumas Limitações na Implantação de Corredores............................................................ 22
2.5. Processos de Sucessão e Outros Métodos de Nucleação...................................................... 22
2.6. Alguns Comentários Sobre Espécies Invasoras. .................................................................. 30
2.7. Questões Seqüenciais Sobre Viabilidade ............................................................................. 32
2.7.1. Introdução de Espécies de Valor Econômico e Subsistência.................................. 32
2.7.2. Escolha de Espécies Ecológico-Econômicas .......................................................... 36
2.7.3. Aspectos Geomórficos............................................................................................ 36
CAPÍTULO 3. CONCEITOS PARA O DESENVOLVIMENTO ECO-SUSTENTÁVEL
EM ÁREAS RURAIS AGRÍCOLAS E FLORESTAIS............................... 39
3.1. Conceito de Geociências Agrárias e Ambientais. ................................................................ 40
3.2. Ecologia Economia - O Binômio Desejável......................................................................... 40
3.3. Modelos de Conservação de Recursos Hídricos .................................................................. 41
3.4. Modelos de Florestas – As Florestas Ecológico-Econômicas.............................................. 42
3.5. Ordenamento do Território................................................................................................... 44
3.6. Planejamento, Autonomia e Gestão de Bacias Hidrográficas.............................................. 45
12. Andrade, L.M.G., 2007. Uso Optimal do Território de Bacia Hidrográfica com Fundamentos no Conceito de ....................
xii
3.7. Cenários Ambientais e Monitoramento Ambiental Contínuo .............................................. 47
3.8. Unidades Geoambientais...................................................................................................... 49
3.9. Zonas de Recarga de Aqüíferos e Áreas Precisas de Recarga.............................................. 50
3.10. Geovulnerabilidade Ambiental........................................................................................... 51
3.11. Política de Uso Optimal do Solo ........................................................................................ 52
3.12. Produção Rural em Agro-Negócio e em Pequenas Propriedades....................................... 53
3.13. Políticas de Fomento .......................................................................................................... 55
3.14. Mapeamento dos Instrumentos Legais ............................................................................... 55
CAPÍTULO 4. ASPECTOS GERAIS E CARACTERIZAÇÃO DO MEIO FÍSICO DA
BACIA HIDROGRÁFICA EM ESTUDO..................................................... 59
4.1. Geologia Regional................................................................................................................ 59
4.2. Geomorfologia...................................................................................................................... 64
4.3. Pedologia.............................................................................................................................. 68
4.4. Clima .................................................................................................................................... 72
4.5. Rede Hidrográfica ................................................................................................................ 73
4.6. Hidrologia............................................................................................................................. 78
4.7. Hidrogeologia....................................................................................................................... 82
4.8. Aspectos Bióticos................................................................................................................. 83
4.8.1. Cobertura Vegetal ................................................................................................... 83
4.8.2. Fauna....................................................................................................................... 86
4.9. Processo de Ocupação da Região......................................................................................... 89
4.10. Contexto Sócio-Econômico ............................................................................................... 91
CAPÍTULO 5. CENÁRIO ATUAL DA BACIA – PRINCIPAIS
DESCONFORMIDADES ............................................................................... 95
5.1. Desmatamento Extensivo ..................................................................................................... 95
5.2. Problemas Hídricos – Consumo Elevado da Água e Conflitos no Uso da Irrigação,
Contaminação e Ocupação de Zonas de Recarga de Aqüíferos......................................... 106
5.3. Degradação do Solo............................................................................................................ 113
5.4. O Projeto de Colonização Paracatu Entre Ribeiros e a Atual Situação de Grande Parte dos
Agricultores da Bacia......................................................................................................... 116
CAPÍTULO 6. PROPOSTA DE ZONEAMENTO EM UNIDADES GEOAMBIENTAIS
MORFOGEOPEDOLÓGICAS.................................................................... 119
6.1. Unidade 1 – Áreas de Superfície Tabular Elevada............................................................. 124
6.2. Unidade 2 – Áreas de Cristas e Vertentes. ......................................................................... 125
6.3. Unidade 3 – Áreas de Colinas e Vertentes ......................................................................... 126
6.4. Unidade 4 – Áreas Associadas ao Calcário........................................................................ 127
13. Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 44, 191p.
xiii
6.5. Unidade 5 – Áreas de Superfície Tabular Intermediária.................................................... 128
6.6. Unidade 6 – Áreas de Pedimento - Superfície Tabular Rebaixada. ................................... 128
6.7. Unidade 7 – Áreas de Planícies Aluvionares e Hidromorfismo......................................... 129
6.8. Mapa de Unidades Geoambientais da Bacia do Ribeirão Entre Ribeiros. ......................... 130
CAPÍTULO 7. CENÁRIO ALTERNATIVO – A PROPOSIÇÃO DO USO ORDENADO
E OPTIMAL DA BACIA DO RIBEIRÃO ENTRE RIBEIROS .............. 133
7.1. Proposta de Conservação, “Reconstrução” e Integração do Bioma com os Corredores
Florestais Ecológico-Econômicos em Entre Ribeiros. ...................................................... 134
7.2. Outras Medidas de Mitigação para a Situação dos Produtores, Conservação do Solo e da
Água. ................................................................................................................................. 138
7.3. Conclusões. ........................................................................................................................ 142
CAPÍTULO 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 145
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 149
ANEXOS.................................................................................................................................. 155
BANCA EXAMINADORA (Ficha de Aprovação) ............................................................... 191
14. Andrade, L.M.G., 2007. Uso Optimal do Território de Bacia Hidrográfica com Fundamentos no Conceito de ....................
xiv
15. Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 44, 191p.
xv
Lista de Ilustrações
Figura 1.1- Localização da Região em Estudo............................................................................. 6
Figura 2.1- Estrutura e Composição Geral dos Corredores Florestais Ecológico-Econômicos
Propostos para um Cenário em que as Variáveis Físicas e Sociais se Mostrem Favoráveis.. 15
Figura 4.1- Perfil Geológico Esquemático da Região em Estudo.............................................. 61
Figura 4.2- Carta Lito-Estratigráfica da Área da Bacia de Entre Ribeiros................................. 63
Figura 4.3- Carta de Geomorfologia da Área da Bacia de Entre Ribeiros................................. 65
Figura 4.4- Modelo Digital de Elevação do Terreno da Bacia do Ribeirão Entre Ribeiros....... 68
Figura 4.5- Carta de Pedologia da área da bacia de Entre Ribeiros........................................... 69
Figura 4.6- Balanço Hídrico Climatológico da Bacia do Rio Paracatu – 1961-1990 ................ 73
Figura 4.7- Carta da Rede Hidrográfica da Área da Bacia de Entre Ribeiros............................ 74
Figura 4.8- Carta da Rede Hidrográfica da Área da Bacia de Entre Ribeiros sob o Ordenamento
de Canais de Strahler.............................................................................................................. 75
Figura 4.9- Vista do Ribeirão Entre Ribeiros............................................................................. 77
Figura 4.10- Hidrograma Representando a Contribuição de Todas as Sub-Bacias na Vazão
Total do Rio Paracatu............................................................................................................. 79
Figura 4.11- Hidrograma Representando as Vazões Médias Mensais no Médio Paracatu entre
1940 e 1994............................................................................................................................ 80
Figura 4.12- Hidrograma Representando a Contribuição de Todas as Sub-Bacias na Vazão
do Médio Paracatu ................................................................................................................. 80
Figura 4.13- Hidrograma Representando a Contribuição Percentual das Sub-Bacias na Vazão
do Médio Paracatu ................................................................................................................. 81
Figura 4.14- Carta de Aqüíferos da Área da bacia de Entre Ribeiros........................................ 82
Figura 4.15- Exemplo do Ecossistema de Veredas na Bacia do Ribeirão Entre Ribeiros ......... 86
Figura 4.16- Espécie Hydrochaerus hidrochaeris (Capivara) em uma Lagoa Represada da
Bacia ...................................................................................................................................... 88
Figura 5.1- Exemplo de Desmatamento Extensivo Devido à Agricultura Intensiva em Entre
Ribeiros.................................................................................................................................. 97
Figura 5.2- Queimadas e Retirada da Vegetação Nativa para Produção de Carvão. Nesta região
foram observados vários fornos de carvoejamento e usos de moto-serra.............................. 99
16. Andrade, L.M.G., 2007. Uso Optimal do Território de Bacia Hidrográfica com Fundamentos no Conceito de ....................
xvi
Figura 5.3- Exemplo de Retirada da Vegetação do Curso d’Água (Mata Ciliar) para dar Lugar à
Pastagem............................................................................................................................... 102
Figura 5.4- Exemplo de Degradação de um Ambiente Aquático, no caso uma Lagoa Marginal
Represada ............................................................................................................................. 102
Figura 5.5- Uso do solo em Entre Ribeiros. Vegetação e Atividades Antrópicas com destaque
para a “Descontinuidade Floral do Bioma”.......................................................................... 104
Figura 5.6- Exemplo Típico de uma Área Cultivada Irrigada por Pivô Central na Foz do
Ribeirão Entre Ribeiros. A topografia favorece bastante este método de manejo,
entretanto, o uso intenso e a supressão de todo o ecossistema natural comprometem o
tempo de uso, os recursos hídricos e, conseqüentemente, o futuro econômico da
região.................................................................................................................................... 105
Figura 5.7- Exemplo da Magnitude dos Pivôs Centrais em Entre Ribeiros............................. 106
Figura 5.8- Caso Típico de Irrigação por Aspersão com Pivô Central no Vale de Entre Ribeiros
em que Ocorre uma Elevada Perda por Evaporação. Neste caso ainda é possível visualizar
quatro espécies oportunistas da avifauna adaptadas às intervenções antrópicas,
caracterizando uma situação adaptativa ............................................................................... 107
Figura 5.9- Exemplo de um dos Extensos Canais de Irrigação no Vale de Entre Ribeiros. A
exposição demasiada à insolação e às temperaturas elevadas acarreta em grandes perdas de
água por evaporação............................................................................................................. 108
Figura 5.10- Barragem Construída sobre o Ecossistema de Vereda. Percebe-se claramente a
descontinuidade e o comprometimento deste ambiente com a elevação do nível d’água.... 109
Figura 5.11- Represamento de um Ecossistema de Veredas em um Estágio Mais Avançado. 109
Figura 5.12- Exemplo de uma Ocupação Intensiva, Favorecida pelas Características Físicas, em
uma Possível Área de Recarga de Aqüífero na Porção Oeste da Bacia ............................... 110
Figura 5.13- Imagem de Satélite Evidenciando a Magnitude dos Projetos Agrícolas na Foz do
Ribeirão Entre Ribeiros........................................................................................................ 112
Figura 5.14- Erosão Laminar em Área de Agricultura de Sequeiro Abandonada e Tomada pela
Pastagem............................................................................................................................... 115
Figura 5.15- Erosão Laminar em Conseqüência da Retirada da Vegetação Natural e Agravada
pelo Gado ............................................................................................................................. 115
Figura 6.1- Mapa com a Proposta de Unidades Geoambientais da Bacia do Ribeirão Entre
Ribeiros na Escala de 1:250.000 .......................................................................................... 131
Figura 7.1- Proposta de Corredores Florestais Ecológico-Econômicos pelas Linhas de
Cumeadas, sendo esta uma Forma de Replantio entre outras não menos Expressivas, mas
Selecionada em Função das Características Geológicas e Geomórficas Favoráveis, onde os
Desníveis não são tão Acentuados e as Cumeadas, em geral, também são Propícias e Aptas
para a Silvicultura e ao Manejo Agrícola, bem como em Função do Atual Uso ................. 136
17. Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 44, 191p.
xvii
Figura 7.2- Exemplo de um dos Extensos Canais de Irrigação no Vale de Entre Ribeiros que
Necessitam de uma Medida para Diminuir as Enormes Perdas de Água por Evaporação. . 139
18. Andrade, L.M.G., 2007. Uso Optimal do Território de Bacia Hidrográfica com Fundamentos no Conceito de ....................
xviii
19. Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 44, 191p.
xix
Lista de Tabelas
Tabela 5.1- Largura da Faixa Marginal Considerada Área de Preservação Permanente em
Função da Largura dos Cursos d’Água................................................................................ 100
Tabela 5.2- Largura da Faixa Marginal Considerada Área de Preservação Permanente em
Função da Localização das Lagoas Marginais..................................................................... 101
Tabela 6.1- Resultado Simplificado do Cruzamento Entre as Classes de Geomorfologia, Lito-
Estratigrafia e Pedologia ...................................................................................................... 121
Tabela 6.2- Matriz de Correlação Entre as Classes de Geomorfologia, Lito-Estratigrafia e
Pedologia Destacando os Valores Relativos de Incidência em Relação à Área Total da Bacia
do Ribeirão Entre Ribeiros................................................................................................... 122
Tabela 6.3- Matriz de Correlação Entre as Classes de Geomorfologia, Lito-Estratigrafia e
Pedologia Destacando a Associatividade Entre as Classes.................................................. 123
20. Andrade, L.M.G., 2007. Uso Optimal do Território de Bacia Hidrográfica com Fundamentos no Conceito de ....................
xx
21. Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 44, 191p.
xxi
Lista de Quadros
Quadro 4.1- Litoestratigrafia da Bacia de Entre Ribeiros.......................................................... 62
Quadro 4.2- Formas Mórficas da Bacia de Entre-Ribeiros........................................................ 66
Quadro 4.3- Unidades Pedológicas da Bacia de Entre-Ribeiros................................................ 70
Quadro 4.4- Espécies Ameaçadas de Extinção que Foram Catalogadas na Bacia do Ribeirão
Entre Ribeiros ........................................................................................................................ 88
22. Andrade, L.M.G., 2007. Uso Optimal do Território de Bacia Hidrográfica com Fundamentos no Conceito de ....................
xxii
23. Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 44, 191p.
xxiii
Lista de Anexos
Anexo I- Modalidades Cósmicas segundo Martins Jr. (2002) baseado em Dooyeweerd
(1958) .............................................................................................................................. 155
Anexo II- Rodas de Correlação presentes nos Sistema Orci .................................................... 157
Anexo III- Carta de Curvas de Nível da Bacia do Ribeirão Entre Ribeiros............................. 159
Anexo IV- Carta de Altimetria da Bacia do Ribeirão Entre Ribeiros....................................... 161
Anexo V- Lista das Espécies de Fauna Presentes na Bacia por Nome Científico e Popular.... 163
Anexo VI- Tabela com os cálculos de Cobertura Vegetal Atual da Bacia do Ribeirão Entre
Ribeiros................................................................................................................................ 165
Anexo VII- Carta de Fraturas sobre as Unidades Geomorfológicas da Bacia do Ribeirão Entre
Ribeiros................................................................................................................................ 171
Anexo VIII- Síntese da Tabela de cálculos das Matrizes e a denominação de Unidades ........ 173
Anexo IX - Mapa com os pontos visitados nos trabalhos de campo realizados entre Outubro de
2005 e Setembro de 2006..................................................................................................... 181
Anexo X- Síntese das tabelas com as descrições dos pontos visitados nos trabalhos de
campo .................................................................................................................................. 183
24. Andrade, L.M.G., 2007. Uso Optimal do Território de Bacia Hidrográfica com Fundamentos no Conceito de ....................
xxiv
25. Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 44, 191p.
xxv
Resumo
A agricultura oferece um desafio à humanidade não somente no que diz respeito à produção, mas,
sobretudo à não destruição dos sistemas naturais nos quais está inserida e faz parte, a saber, a bacia
hidrográfica e os ecossistemas associados.
Nesse sentido, faz-se necessário adotar e perseguir modos de conjugação da atividade econômica
com a geo-ecologia para um processo de sustentação tanto dos sistemas naturais quanto dos aspectos
econômicos inerentes e desenvolvidos nestas regiões.
A bacia do Ribeirão Entre Ribeiros, pertencente ao Vale do Rio Paracatu, afluente da margem
esquerda no médio curso do Rio São Francisco, ocupada basicamente pela atividade agrícola, é um caso
claro onde uma intervenção abrupta sobre o ambiente natural foi proferida, haja visto que várias condições
geo-ambientais não foram e não têm sido devidamente contempladas e respeitadas.
Os reflexos, em decorrência do intenso e, muitas vezes, inadequado uso, apresentam, atualmente,
um baixo grau de conservação ambiental, com conseqüências sobretudo nos recursos hídricos, na
vegetação e na fauna. Soma-se a isso, o fato de que a maior parte dos produtores rurais da bacia se
encontra, hoje, em uma situação econômica extremamente delicada, fruto de crises conjunturais passadas
e de intensos investimentos e empréstimos que ainda não foram amortizados.
Diante deste quadro, este estudo visou fornecer e projetar, a partir do levantamento sistemático
das características de formação e da avaliação das condições atuais da bacia, algumas medidas e
proposições de solução e mitigação frente aos principais desequilíbrios, no intuito de alcançar um
ordenamento territorial e, conseqüentemente, conferir a possibilidade de usar o terreno de maneira ótima e
inteligente.
Para isso foi realizado um levantamento bibliográfico com ênfase em técnicas de plantio e
conceitos para aplicação de corredores florestais com vistas a compreender e indicar medidas que
conciliem o binômio ecologia-economia.
Após esta etapa, foram avaliadas as principais distorções do uso antrópico na bacia e elaborado
um mapa de utilização do território atual o qual possibilitou verificar o grau de estabilidade e
geovulnerabilidade através do índice de vegetação para as relações entre as formações vegetais e áreas
desmatadas, isto é, tipos de vegetação que ainda permaneceram pelas áreas totais da bacia. Este mostrou
que tal bacia apresenta um quadro preocupante, uma vez que a cobertura natural está na ordem de 31,21%
em relação à sua área total e ainda com tendências a uma maior diminuição.
26. Andrade, L.M.G., 2007. Uso Optimal do Território de Bacia Hidrográfica com Fundamentos no Conceito de ....................
xxvi
O passo seguinte foi a geração de uma proposta de zoneamento através de Unidades
Geoambientais homogêneas, visto que esta permite uma compreensão ampliada e aplicada dos processos e
favorece a gestão territorial. Tal proposta culminou na criação de 7 Unidades tendo como base o
cruzamento das classes de Geomorfologia, Pedologia e Lito-Estratigrafia associado à análise do uso
antrópico do território.
Ao final, apresentou-se um cenário alternativo com propostas de mitigação sob o conceito de
“ecologia-economia” tendo como medida base a introdução de corredores ecológico-econômicos. Assim
foram evidenciados vários benefícios que os mesmos poderiam acarretar à região. Destacou-se ainda que
tal proposição quando aliada às medidas “tradicionais” de conservação, como conservação do solo e da
água, além de um maior subsídio aos produtores, permitem uma ampla possibilidade de alcançar o
ordenamento territorial, bem como resguardar o amplo espectro de suas funções ecológico-econômicas.
Dessa forma, o uso optimal pode ser auferido.
A posse desse estudo e de outros mais específicos, constitui-se a base para se tomar decisões e
para orientar programas de organização e ordenamento do território que sejam compatíveis com a
dinâmica viva do ambiente e a sua organização sistêmica. Além disso, deve-se contar com um processo
contínuo de monitoramento para que se observe a aplicação das medidas desenvolvidas, bem como a
demanda para novas soluções de acordo com a modificação do espaço e ambiente.
Assim, novos estudos serão demandados, novos níveis de decisão serão exigidos, e mais uma vez
será necessária uma visão de diversas abordagens e a interação e integração de diferentes campos do saber
para traduzir, reconstruir e contextualizar a realidade.
27. Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 44, 191p.
xxvii
Abstract
Agriculture not only offers a challenge to the humanity in what concerns to the its production, but,
mostly to the destruction of the natural systems in which it's inserted and it is part of, precisely, the
watershed and the ecosystems associated.
In this sense, it's necessary to adopt and to pursue ways of conjugating the economic activity with
the geo-ecology one reaching the natural systems sustainability as like as the inherent development of
economic aspects in these regions.
The Entre Ribeiros watershed, belonging to the Valley of the River Paracatu, tributary of the left
edge in the River San Francisco's average course, is a visible case example of an abrupt intervention on
the natural environment, since several geo-ambient conditions had not been established and they have not
been duly contemplated and respected.
The repercussion, in result of the intense and, many times, inadequate use of the watershed's area,
is, currently, a low degree of natural environment conservation, with consequences all over the water
resources, the vegetation and the fauna. Adding to this idea it is important to assert that most of the
agricultural producers of the watershed are, today, in extremely delicate economic situation, as a result of
last conjunctural crises and intense investments and loans that had still not been amortized.
Ahead this situation, this study aims to supply and project some measures and propositions of
solutions and mitigations facing the most important territorials' imbalances through systematical research
of the watershed's composition and the evaluation of its recent conditions, achieving, thus, a territorial's
organization and, consequently, making possible the use of territory in a optimal way.
In this context, the first step was a careful bibliographic research with emphasis in plantation
techniques and concepts for application of forest corridors with aim to understand and to indicate
measures that conciliating the binomial ecology-economy.
In the sequence, the main distortions of the human use in the watershed were evaluate and a map
of use of the current territory was elaborate with the aim to verify the geo-vulnerability and stability
degree through the index of vegetation for the relations between the vegetal formations and deforested
areas, that is, types of vegetation that had still remained for the total areas of the watershed. This showed
that the watershed presents a preoccupying situation, once that the natural covering is in the order of
31,21% in relation to the total area and still with trends to a bigger reduction.
28. Andrade, L.M.G., 2007. Uso Optimal do Território de Bacia Hidrográfica com Fundamentos no Conceito de ....................
xxviii
The next step, the conception of a proposal of zoning through homogeneous Geo-ambient Units,
since this allows an extended understanding of the processes and its applications and favors the territory's
management. Such proposal culminated in the creation of 7 Units basing in the crossing of the classrooms
of Geomorphology, Pedology and Estratigraphic-Rocks associated with the analysis of the human use of
the territory.
In the end, an alternative scene with proposals of mitigation under the concept of "ecology-
economy" was presented having as measure base the introduction of ecological-economic corridors. Such
proposal when allied to "the traditional" measures of conservation, as conservation of the soil and the
water, beyond a bigger subsidy to the producers, allows a great possibility to reach the territorial order,
besides protecting the ample specter of its ecological-economic functions, achieving the optimal use.
The ownership of this study and the other most specific ones consisted a base to help on making
decisions and to guide programs of territory's organization and ordainment that are compatible with the
alive dynamics of the environment and its systemic organization. Moreover, a continuous process must be
its monitoring so that the observing of the application of the developed measures, as well as the demand
for new solutions in accordance with the modification of the space and environment can be made.
Thus, new studies will be demanded, new levels of decision will be required, and once more it
will be necessary a vision of diverse approaches and the interaction and integration of different fields of
knowledge to translate, to reconstruct and to contextualize the reality.
29. Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 44, 191p.
CAPÍTULO 1
CONSIDERAÇÕES FUNDAMENTAIS
1.1 – INTRODUÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO DO PROBLEMA.
O início da atividade agrícola é considerado como um dos marcos da história da civilização.
Atualmente o pensamento científico, voltado, por exemplo, a explicar a lógica do sistema econômico,
historicamente organizado pelo homem, vem reduzindo, enquanto paradigma teórico conceitual, a
agricultura a um papel de ramo do setor industrial. Assim há de um lado a lógica econômica da
maximização do lucro configurada, como bem demonstrou Romeiro (1992), pelo desenvolvimento
tecnológico conhecido como "revolução verde". Ressalta-se que esta lógica demanda um desenvolvimento
tal que propicie condições de produção adequadas para viabilizar uma forma de subordinação da atividade
agrícola à industrial. Por outro lado, há uma política ambiental que estabelece restrições a este
desenvolvimento ao fortalecer os mecanismos de participação da sociedade em busca da redução da
degradação do meio natural e social. Baseia-se, fundamentalmente, no processo de reeducação através da
formação de uma nova consciência acompanhada de medidas reguladoras que delimitam os direitos
individuais, em termos do interesse coletivo: interpessoal e intergerações.
Em termos práticos e / ou aplicativos a agricultura se depara com um grande desafio de dupla via:
Atender à humanidade no que diz respeito à produção, principalmente ao se verificar que as projeções
referentes ao aumento populacional mostram valores altamente preocupantes. Todavia, deve,
concomitantemente, preocupar-se em não destruir ou desequilibrar os sistemas naturais e os ecossistemas
nos quais está atividade se desenvolve.
É sabido que toda intervenção em sistemas dos relevos e da circulação de água, no âmbito da
bacia hidrográfica e dos ecossistemas associados, oferece riscos que podem precipitar o ambiente em um
processo irreversível de perda de solos e até mesmo de desertificação. Tais condições, reconhecidas no
campo dos estudos geológicos, leva-nos a adotar e a perseguir modos de conjugação da atividade
econômica com a geo-ecologia para um processo de sustentação, sobretudo, dos sistemas naturais, mas
também dos aspectos econômicos inerentes e desenvolvidos nestas regiões. Dessa forma, é possível
esboçar um modelo regional de uso da terra com fins de desenvolvimento rural integrado a um processo
de gestão geo-ambiental de bacia hidrográfica.
30. Andrade, L.M.G., 2007. Uso Optimal do Território de Bacia Hidrográfica com Fundamentos no Conceito de ....................
2
Diante dessa necessidade, esta dissertação parte em busca do desenvolvimento e aplicação de
técnicas que conciliem o binômio: ecologia-economia, tendo, como exemplo neste caso, a proposta de
implementação de projetos de silvicultura ecológico-econômicos a partir da avaliação das condições
geoambientais que favoreçam os mesmos. Tais projetos aliados às medidas de mitigação “tradicionais”
podem conferir a possibilidade de reorganização da paisagem, com a conservação do meio ambiente e dos
recursos hídricos, bem como fomentar um avanço econômico resguardando, ou sem ameaçar, o equilíbrio
ambiental. Com isso, o terreno para projetos agrícolas pode ser utilizado de uma maneira economicamente
eficiente e ecologicamente sustentável e, desta maneira, auferir o uso optimal.
Este trabalho foi inserido no contexto de um programa de pesquisa do Projeto de Conservação de
Recurso Hídrico no Âmbito da Gestão Ambiental e Agrícola de Bacia Hidrográfica – CRHA (Martins Jr.
et al. 2006) em parceria do Centro Tecnológico de Minas Gerais - CETEC com a Universidade Federal de
Ouro Preto - UFOP aprovado pelo Fundo Setorial CT-Hidro do Ministério de Ciência e Tecnologia.
A área escolhida, como campo de estudos para o desenvolvimento deste projeto, foi a bacia do
Ribeirão Entre Ribeiros, pertencente ao Vale do Rio Paracatu, afluente da margem esquerda no médio
curso do Rio São Francisco, inserida no Projeto CRHA (Martins Jr. et al. 2006).
De acordo com os levantamentos, desenvolvidos no projeto CRHA (Martins Jr. et al. 2006) e
durante esta dissertação, várias condições geo-ambientais não foram e não têm sido devidamente
contempladas e respeitadas nesta bacia, onde existem extensivas plantações do que se denomina “fronte
agrícola”. Os reflexos, em decorrência do intenso e, muitas vezes, inadequado uso, apresentam, hoje, um
baixo grau de conservação ambiental, com conseqüências, sobretudo, nos recursos hídricos, na vegetação
e na fauna.
Nesse contexto, a ausência de diretrizes políticas para a conservação do meio ambiente, no geral, e
na área da bacia de Entre Ribeiros, em particular, agravada pela pequena articulação institucional local,
permitiu que o uso intensivo, a que foi submetida a região, acarretasse na descontinuidade de matas sobre
grandes áreas devido a supressão de grande parte da cobertura vegetal nativa e, conseqüentemente, a
perda, em abundância e diversidade, tanto da vegetação quanto da fauna local. Ademais, é possível
perceber uma deterioração, bem como um comprometimento dos ambientes aquáticos (veredas e lagoas
marginais) e de boa parte da vegetação ciliar, além de possíveis impactos sobre os aqüíferos e logo, o
estabelecimento de conflitos no uso de recursos hídricos. Soma-se a tudo isso, o aparecimento, mesmo que
de forma pontual na bacia, da erosão laminar e em sulcos.
Complementarmente, pode-se constatar como decorrência da ausência de instrumentos de política
ambiental específicos para a região, um reduzido número de áreas com status legal de proteção e
conservação ambiental, não se caracterizando como amostras efetivas da biodiversidade regional.
Além disso, foi verificado que a maior parte dos produtores rurais da bacia se encontra,
atualmente, em uma situação econômica extremamente delicada, fruto de crises conjunturais passadas e
de intensos investimentos / empréstimos que ainda não foram amortizados.
31. Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 44, 191p.
3
Assim, a mudança deste cenário antinômico implica em considerar os diversos aspectos modais
inerentes a área em estudo. Estes têm como base a Teoria das Modalidades Cósmicas (Dooyeweerd, 1958)
identificadas como um “conjunto de coisas e de relações que guardam coerência própria, unidade e que
são perceptíveis de modo distinto de outra modalidade (possuem soberania), embora sendo totalmente
inter-relacionadas” (Martins Jr., 2002).
Destarte, o espectro da realidade é composto por quatorze modalidades descritas abaixo de forma
abrangente: Numérica; Espacial; Cinemática; Física; Biótica; Psico-sensorial; Lógico-analítica; Histórica;
Lingüística; Social; Econômica; Estética; Jurídica; Moral; Pística.
A partir desta breve conceituação epistemológica fundamentada na Teoria das modalidades
Cósmicas e, sendo a bacia hidrográfica sob a lógica das geociências, objeto de estudo da presente
dissertação, pode-se inferir que a mesma se propôs a estudá-la como sujeito da modalidade lógico-
analítica.
Desta maneira, é possível realizar análises da região dentro dos campos das demais modalidades
seguindo suas Leis Típicas e Modais.
Logo, é possível relacionar os diversos problemas ambientais da região às suas respectivas
modalidades cósmicas como pelos exemplos a seguir:
A descontinuidade de matas sobre grandes áreas (supressão de grande parte da cobertura
vegetal nativa) devido a expansão da atividade agrária (Modalidade Biótica versus Modalidade
econômica);
Impactos sobre os corpos d’água como assoreamento e contaminação; diminuição da vegetação
ciliar; pressão sobre as veredas e, sobretudo, conflitos de uso d’água para a agricultura irrigada
(Modalidade Física e/ou Modalidade Biótica e/ou Modalidade Social e/ou Modalidade Econômica);
Impactos sobre aqüíferos e destarte o comprometimento das zonas de recarga, além de uma
possível contaminação por uso excessivo de agrotóxicos (Modalidade Física e/ou Modalidade Biótica e/ou
Modalidade Social e/ou Modalidade Econômica);
Impactos sobre a vegetação e a fauna com a perda em abundância e diversidade (Modalidade
Biótica);
Impactos sobre o solo com o aparecimento da erosão laminar e em sulcos (Modalidade Física);
Reduzido número de áreas com status legal de proteção e conservação ambiental (Modalidade
Jurídica e Modalidade Biótica versus Modalidade Econômica);
Situação econômica extremamente delicada da maioria dos produtores rurais (Modalidade
social e Modalidade Econômica).
Logo, este projeto pretendeu contribuir para um melhor entendimento de vários problemas
existentes no âmbito do espaço agrário, bem como subsidiar informações e questões para futuros estudos.
32. Andrade, L.M.G., 2007. Uso Optimal do Território de Bacia Hidrográfica com Fundamentos no Conceito de ....................
4
1.2 - OBJETIVOS.
Diante do quadro apresentado e tendo como base o conceito de Geociências Agrárias e
Ambientais, uma vez que o mesmo propõe a interação e integração de diversas áreas do conhecimento,
este estudo visou fornecer e projetar, a partir do levantamento sistemático das características de formação
e da avaliação das condições atuais da bacia, algumas medidas e proposições de solução e mitigação frente
aos principais desequilíbrios. O mesmo teve como base uma visão epistemológica e o intuito de gerar um
produto que seja compreensível aos diferentes grupos de atores presentes e atuantes nessa região. A
intenção foi a de alcançar um ordenamento territorial e, conseqüentemente, conceder a possibilidade de
usar o terreno de maneira ótima e inteligente.
A partir de análises regionais na bacia, também foram selecionadas áreas para a inserção de
corredores, para o desenvolvimento do tema de florestamento com as justificativas geo-ambientais
pertinentes.
Ressalta-se que tendo em vista que este espaço possui um caráter topológico, fez-se necessário
considerar o maior número de variáveis inerentes possíveis, além de suas principais inter-relações, assim
como evidenciar orientações atemporais, no que diz respeito aos possíveis usos da região.
Reitera-se também, que a região em estudo abarca um variado espectro de campos do saber e,
dessa forma, um entendimento significativo da mesma só se torna factível se o estudo disciplinar for
conectado a outras disciplinas, emergindo assim os conceitos de pluridisciplinaridade e de
interdisciplinaridade.
Outros objetivos de grande importância podem ser decodificados separadamente, para melhor
entendimento, a saber:
Objetivo geral:
Avaliar as atuais condições geoambientais da bacia do Ribeirão Entre Ribeiros no Vale do Rio
Paracatu e, a partir disto, apresentar um esboço regional, na escala de 1:250.000, com a proposição de
inserção de corredores florestais ecológico-econômicos, bem como indicar ademais correções desejáveis
(ações mitigadoras) para as distorções atualmente existentes nas relações geo-ambientais e agrícolas no
intuito de estabelecer uma proposta para o uso optimal da bacia.
Objetivos específicos:
1- Esboçar uma proposta de zoneamento geoambiental com áreas homogêneas, na escala de
1:250.000, a partir do cruzamento entre as classes de morfotemas x rochas x solos e sob uma análise
fisiográfica.
33. Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 44, 191p.
5
2 - Realizar a extração do índice de vegetação para as relações entre as formações vegetais e áreas
desmatadas, isto é, tipos de vegetação existentes pelas áreas totais da bacia para avaliar as atuais
condições de estabilidade e de geovulnerabilidade.
3 – Apresentar e rever técnicas para a implementação de corredores florestais ecológico-
econômicos como possíveis medidas de reparação e/ou conservação com produção agro-ecológica.
1.3 LOCALIZAÇÃO.
A bacia do Ribeirão Entre Ribeiros, inserida no Vale do Rio Paracatu, localiza-se na porção
noroeste do estado de Minas Gerais, sendo compreendida no quadrilátero formado pelas coordenadas
UTM: 276000 – 373000 e 8175000 – 8090000 e pelas coordenadas geográficas: 46º10'0"W - 47º10'0"W e
16º30'0"S - 17º20'0"S, em uma área de, aproximadamente, 3.900 km², dos quais 100% estão em Minas
Gerais, entre os municípios de Paracatu e Unaí (Martins Jr. et al. 2004), conforme poder ser visto na
figura 1.1.
A área da bacia do Ribeirão Entre Ribeiros, encontra-se nas porções sul e norte dos municípios de
Unaí e Paracatu, respectivamente. O acesso à região é permitido pelas rodovias federal BR-040, que segue
a noroeste para Brasília, bem como pela estadual MG-188, em direção ao norte para Unaí. Ambas passam
pela cidade de Paracatu. Cabe ressaltar ainda, que a bacia apresenta uma malha de estradas vicinais
satisfatória.
34. Andrade, L.M.G., 2007. Uso Optimal do Território de Bacia Hidrográfica com Fundamentos no Conceito de ....................
6
Figura 1.1 – Localização da Região em Estudo. Fonte: Geominas - Forma de apresentação dada pelo autor
35. Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 44, 191p.
7
1.4 – MÉTODOS UTILIZADOS E PROPEDÊUTICA.
Todas as etapas dessa dissertação, desde a escolha do tema, passando pela elaboração de sua
estrutura até as conclusões, foram direcionadas com base em uma abordagem epistemológica (Martins Jr.
2002). A metodologia foi apresentada pelo orientador dessa dissertação, Prof. Dr. Paulo Pereira Martins
Junior, durante o Projeto CRHA (Martins Jr. et al. 2006) e no Mestrado, com a disciplina “Epistemologia
Fundamentadora”.
Inicialmente, foram realizadas pesquisas e revisões bibliográficas sobre o tema
florestamento/reflorestamento através de corredores florestais, com um viés ecológico-econômico. O
intuito foi apresentar e rever algumas medidas para a implementação dos corredores e destacar alguns
condicionantes e benefícios, além da sua aplicabilidade como possíveis medidas de reparação e/ou
conservação com produção agro-ecológica.
Paralelamente, o mesmo processo foi conferido aos conceitos norteadores para o desenvolvimento
eco-sustentável e a sua prática nas Geociências agrárias e ambientais. Nesta fase da pesquisa foram
analisados e introduzidos alguns dos conceitos produzidos durante o Projeto CRHA (Martins Jr. et al.
2006), bem como por outros autores, sendo estes, preponderantes para uma proposta de desenvolvimento
eco-sustentável em áreas rurais, agrícolas e florestais, com ênfase na conjugação do binômio: ecologia e
economia.
Em seguida, partiu-se para a coleta de informações sobre o local de estudo, como o espectro dos
componentes básicos do meio físico (geologia, geomorfologia, solos, clima, drenagem, hidrologia,
hidrogeologia e aspectos bióticos), além de dados históricos, sócio-econômicos, demográficos entre outros
sobre a bacia, obtidos principalmente em CETEC (1981) e Consórcio Magna/Dam/Eyser, Ruralminas,
SEAPA–MG (1998).
Conseqüentemente, ocorreu o levantamento e a preparação das bases cartográficas a serem
utilizadas através de programas de sistema de informação geográfica (SIG). Como não existiam cartas
específicas para a área da bacia, foi necessária a seleção e a extração de alguns temas das cartas regionais
da Bacia do Rio Paracatu em escala de 1:250.000 (geologia, geomorfologia, hidrogeologia e pedologia) e
de 1:100.000 (no caso a carta da rede hidrográfica) que foram atualizadas. Outras imagens foram geradas,
como por exemplo, a elaboração da carta do modelo digital de elevação do terreno, decorrente da
atualização das cartas de altimetria e de curvas de nível, além da carta de ordenamento dos canais da rede
hidrográfica.
36. Andrade, L.M.G., 2007. Uso Optimal do Território de Bacia Hidrográfica com Fundamentos no Conceito de ....................
8
Em um momento seqüente, foi planejado e realizado o primeiro trabalho de campo para o
reconhecimento da área e pontos de interesse, além do registro e referenciação dos principais pontos
através da determinação de suas coordenadas por GPS, bem como para averiguar questões pendentes nas
análises de imagens.
A partir disso, foi possível realizar uma análise mais elaborada do meio físico, através de estudos
ambientais existentes, além de interpretações das imagens (cartas, fotos aéreas, imagens ópticas e
orbitais), possibilitando uma descrição e síntese dos dados da bacia regionalmente.
Essas informações reunidas, aliadas à interpretação dos dados do trabalho de campo, propiciaram,
na etapa seguinte, o início das análises sobre o atual uso da bacia e, a partir disso, foi elaborado um mapa
do uso e ocupação do solo, através do cruzamento entre os mapas produzidos por CETEC (1981), dados
do IEF (1994) e imagens de satélite atuais, para verificar as condições geoambientais das áreas e suas
evidentes distorções e desconformidades vigentes.
Concomitantemente a esta etapa, ocorreu um segundo trabalho de campo para verificação e
constatação dos principais impactos, além de análises de descontinuidade floral territorial e entre maciços
e a pré-escolha dos locais para a inserção de corredores, no intuito de promover uma política geo-
ambiental de florestamento ecológico-econômico. Nesse período, também foram estabelecidos contatos
com algumas associações locais, com o Comitê de Bacia, a Prefeitura de Paracatu e empresas.
Nesse contexto, foram avaliadas as atuais condições de estabilidade e segurança dos locais
estudados em face aos projetos agrícolas e realizada a extração do índice de vegetação para as relações
entre as formações vegetais e áreas desmatadas, isto é, tipos de vegetação existentes pelas áreas totais da
bacia.
Complementarmente, foram coletados e inseridos outros dados secundários sobre os principais
projetos agrícolas presentes na bacia, com o intuito de ilustrar a atual e sensível situação dos produtores,
além de comprovar a magnitude dos processos modificadores.
Posteriormente, foi conferido o cruzamento, através de matrizes de correlação, entre as classes de
morfotemas x rochas x solos, e a partir desta associatividade, bem como de análises sob um enfoque
fisiográfico e interpretações de trabalhos de campo, foi possível estabelecer uma proposta de áreas
homogêneas ou unidades geoambientais com o intuito de auxiliar na gestão territorial.
Como se tratou de um cruzamento entre três variáveis (rochas, formas e solos), onde cada uma
delas abarcava uma série de características, foi considerado o conjunto de correlações e identificadas
particularidades comuns.
37. Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 44, 191p.
9
Esse elenco de correlações, análises e sínteses, permitiu compartimentar a área em unidades
territoriais homogêneas caracterizadas pela convergência de semelhanças dos componentes físicos,
bióticos e de suas dinâmicas, sem deixar de destacar o uso antrópico e suas principais conseqüências.
Dessa maneira foi realizada a Vetorização e os cálculos das áreas das unidades geoambientais e,
conseqüentemente, produziu-se um mapa de Zoneamento Geoambiental na escala de 1:250.000.
Ressalta-se que o capítulo 5, o qual poderia ser integrado ao capítulo 6, não o foi em função de
que alguns dos principais problemas identificados na bacia transpassam as Unidades Geoambientais
definidas.
A continuidade do estudo se deu através da realização do terceiro trabalho de campo para
conferência e constatação dos locais escolhidos para inserção dos corredores e das principais medidas de
mitigação. Além disso, foi realizado um seminário com a população local para discussão e apresentação
de alguns temas referentes à presente dissertação.
Em seguida, partiu-se para a proposta de um novo cenário, através da organização do enfoque
regional para a decisão de florestamento e reflorestamento a partir das áreas escolhidas para inserção dos
corredores com a elaboração de um esboço regional na escala de 1:250.000 e da proposição de soluções
mitigadoras dos problemas regionais existentes nas relações geoambientais e agrícolas.
Conseqüentemente, tem-se uma proposta de uso optimal e ordenado da bacia ancorado nos
conceitos de eco-sustentabilidade e no binômio ecologia-economia.
Dessa forma, a presente dissertação se estrutura apresentando, de início, uma breve revisão
bibliográfica contendo conceitos e técnicas para a introdução de corredores florestais, além do
estabelecimento de alguns de seus fatores positivos e limitantes.
Na seqüência, são apresentados alguns dos conceitos norteadores para o desenvolvimento eco-
sustentável e a sua prática nas Geociências Agrárias e Ambientais.
A partir da contextualização histórica e da definição desses conceitos, partiu-se para uma análise
da bacia hidrográfica em estudo. Em um primeiro momento foram descritos os aspectos físicos, o processo
de ocupação, características sócio-econômicas e outros elementos concernentes, de maneira geral, na
região.
Em seguida, ocorreu a avaliação do cenário atual da bacia evidenciando e dissecando as principais
desconformidades como, por exemplo, a descontinuidade do bioma sobre grandes extensões, os problemas
relacionados à conservação da água e do solo, além das dificuldades econômicas que circundam grande
parte dos produtores.
38. Andrade, L.M.G., 2007. Uso Optimal do Território de Bacia Hidrográfica com Fundamentos no Conceito de ....................
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Levantadas tais desconformidades, os esforços foram direcionados para a busca de soluções
visando uma mudança desta realidade.
Contudo, com o objetivo de subsidiar soluções concernentes às distorções, além da finalidade de
racionalizar a ocupação foi efetuado, primeiramente, um zoneamento, em unidades geoambientais. Este
foi esboçado a partir do cruzamento e associação entre as formas de relevo, as rochas e os solos, bem
como através da análise de processos ambientais bastante semelhantes que acometem cada uma dessas
unidades. A interação entre as variáveis estudadas permitiu dividir a bacia em 7 unidades, definidas como:
(1) Áreas de Superfície Tabular Elevada; (2) Áreas de Cristas e Vertentes; (3) Áreas de Colinas e
Vertentes; (4) Áreas Associadas ao Calcário; (5) Áreas de Superfície Tabular Intermediária; (6) Áreas de
Pedimento - Superfície Tabular Rebaixada; e (7) Áreas de Planícies Aluvionares e Hidromorfismo.
Após o zoneamento, partiu-se de fato, para a análise de medidas de mitigação e correção das
distorções. Nesse contexto, verificou-se a possibilidade da implementação de corredores florestais
ecológico-econômicos como uma proposição bastante coerente. Assim, procurou-se apresentar um cenário
alternativo engendrando soluções ecológico-econômicas aliadas a um conjunto de medidas mitigadoras no
intuito de se aproximar a um uso optimal da bacia.
Por fim, destacam-se as principais conclusões e apresentam-se algumas sugestões para futuros
trabalhos.
Espera-se, também, apresentar e disponibilizar os resultados desta dissertação aos órgãos
administrativos, como as Prefeituras locais (Paracatu e Unaí) e ao Comitê de Bacia do Rio Paracatu, bem
como à Associação dos Produtores para que os mesmos possam rediscutir e repensar o atual uso e, se
possível, intervir na realidade aplicando tais proposições desenvolvidas.
39. Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 44, 191p.
CAPÍTULO 2
CORREDORES FLORESTAIS ECOLÓGICO-ECONÔMICOS – UMA
BREVE REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A grande área territorial brasileira nem sempre tem sido aproveitada racionalmente, embora
disponha de um grande potencial turístico, agropecuário, imobiliário e industrial, dentre outros aspectos
(Costa,1995).
A expansão e modernização da agricultura, por exemplo, apesar de contribuírem
significativamente para o aumento da produção e da produtividade agrícola e pecuária, provocaram grande
redução da cobertura florestal e diminuição da oferta de produtos florestais, causando alterações no
funcionamento dos ecossistemas naturais, especialmente no que se refere ao desequilíbrio no regime das
águas e do clima.
A sociedade brasileira necessita cada vez mais de soluções que permitam a expansão da produção
agrícola e de produtos florestais, associados à preservação ambiental, além de alternativas de emprego e
renda, particularmente para os pequenos e médios produtores rurais (Rodigheri, 1997).
Diante desse panorama, torna-se importante a adoção de medidas que assegurem o aumento da
oferta de produtos agrícolas e florestais, acompanhadas da conservação e recuperação dos solos, da
despoluição da água e da preservação da floresta nativa remanescente.
Nesse contexto, a implementação de corredores florestais passa a ser uma alternativa interessante,
pois visa promover a recuperação da vegetação nativa, ao interligar fragmentos isolados importantes e
prioritários, além de aumentar a conexão entre eles. Garante, também, a manutenção dos recursos hídricos,
o deslocamento de várias espécies da fauna, seja para reprodução, seja para a busca de alimentos, e
promove uma maior propagação das espécies da flora, entre outros benefícios ambientais. Além disso,
visa estimular o desenvolvimento de atividades sustentáveis como a agrossilvicultura que traria ganhos
consideráveis aos produtores (Martins Jr. et al. 2006).
Assim, a seguir são apresentados algumas definições, conceitos e procedimentos para uma futura
implementação de corredores florestais, com ênfase no binômio ecologia-economia.
40. Andrade, L.M.G., 2007. Uso Optimal do Território de Bacia Hidrográfica com Fundamentos no Conceito de ....................
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2.1 – DEFINIÇÕES PRIMÁRIAS
Uma série de definições é necessária para se estabelecer uma linguagem adotada e bem definida
como base de conhecimentos com os quais essa reflexão é desenvolvida. Assim, entende-se por:
(1) Corredores - um sistema florestal cuja geometria apresenta maior comprimento do que a
largura, em geral, e servem para unir maciços florestais e/ou florais próximos ou sobre grandes extensões
do território, como também sobre a totalidade de um bioma, unindo os maciços a corpos d’água e a Matas
Ciliares e a outras florestas.
No Vocabulário Básico de Recursos Naturais e Meio Ambiente do IBGE (2004) o “corredor é um
termo adotado pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), que abrange as porções de
ecossistemas naturais ou semi-naturais que interligam unidades de conservação e outras áreas naturais,
possibilitando o fluxo de genes e o movimento da biota entre elas, facilitando a dispersão de espécies, a
recolonização de áreas degradadas, a preservação das espécies raras e a manutenção de populações que
necessitam, para sua sobrevivência, de áreas maiores do que as disponíveis nas unidades de
conservação”.
Para Dean (1996), a criação de Corredores Florestais implica no uso de uma técnica conhecida
como sistema agroflorestal, que conjuga o plantio de espécies nativas, de interesse também para a fauna,
com cultivos arbóreos e agrícolas de interesse comercial para o homem. Desta forma o fazendeiro está
assegurando uma via de locomoção para os animais e gerando alguma renda adicional, demonstrando mais
uma vez que é perfeitamente possível a conjugação da conservação ambiental com práticas de
desenvolvimento rural.
Por sua vez corredor florestal ecológico-econômico é todo corredor que articula vegetação
natural e plantada, seja com plantas nativas e exóticas de caráter econômico. Outra característica é a
combinação das plantas nativas obedecerem aos aspectos de associações fito-sociológicas e fito-
ecológicas entre as várias espécies na montagem desses corredores (Martins Jr. et al. 2006).
41. Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 44, 191p.
13
(2) Estrutura de corredores - é o conjunto de possibilidades de organização florestal das espécies,
desde o ponto de vista da solução ecológico-econômica, em se combinar espécies nativas, árvores
frutíferas, árvores de madeiras de lei e energéticas, à geometria dos corredores, que deve obedecer a uma
concepção geral que por sua vez deverá obedecer às particularidades de cada situação (Martins Jr. et al.
2006);
(3) Conservação florestal – é a condição de uso da floresta com permanência de sua estrutura e
das redes de relações fito-sociológicas, alteradas, mas não o suficiente para romper relações (Martins Jr. et
al. 2006);
(4) Conservação das relações plantas / solos / água – essa relação tripla é fundamental para a
estabilidade de florestas, savanas, campos, veredas e quaisquer outros tipos de formações vegetais; é o
tipo de relação mais fundamental que suporta a preservação natural dinâmica de quaisquer ecossistemas e
das bacias hidrográficas (Martins Jr. et al. 2006);
(5) Integração da fito-sociologia em florestamento e reflorestamento – a noção de fito-sociologia
implica na associação e inter-relações entre populações de diferentes espécies vegetais cujas
características podem ser de vizinhança espacial, limitada por distanciamentos médios específicos,
proximidade associativa efetiva, favorecimento de relações com o mundo biótico (animal, micro-
organismos, simbiose, etc.) e com o mundo abiótico (relações de sombreamento / luz, temperatura, água,
proteção contra excesso relativo de energia, etc.) (Martins Jr. et al. 2006);
(6) Permacultura – método de implantação de propriedades rurais produtivas em que o binômio da
“conservação ambiental x economia” é associado à “organização da produção” (OP), que se faz por meio
da eficiência termodinâmica, do desenvolvimento de relações ecológicas, da recuperação de terras, da
cooperação sistêmica entre vegetais + vegetais , animais + animais , animais + vegetais , animais +
animais + vegetais (pressupondo-se que “x ” representa um conjunto aberto, formado por x
combinações reais de conexões fauna-flora-solos. A partir da associação desse trinômio à OP é possível
desenvolver um sistema de produção que seja, ao mesmo tempo, estável e, cresça como um sistema
ecológico de produção maturo, no intervalo produtivo ininterrupto de 1 a 50 anos; tal sistema agrega
agricultura, silvicultura e zoocultura em propriedades rurais (Mollisson & Holmgren, 1983); e
(7) Inclusão social – a inclusão social é entendida como o processo de integração do homem em
sua sociedade e desta com o meio natural, de modo a cultivá-lo, com obtenção de renda efetiva, entrada no
mercado, sem contudo, afetar a estabilidade do sistema sob intervenção (Martins Jr. et al. 2006).
42. Andrade, L.M.G., 2007. Uso Optimal do Território de Bacia Hidrográfica com Fundamentos no Conceito de ....................
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2.2 – GEOMETRIAS DE CORREDORES
Por geometrias de corredores, entende-se o conjunto de relações de extensão, largura, estrutura
interna das plantas nativas e exóticas e as relações entre plantas, solos, disponibilidade hídrica, clima,
formas do terreno, altitude, fito-sociologia, e também as técnicas e as questões de seqüência temporal e
sucessão floral (Martins Jr. et al. 2006).
Assim as várias geometrias implicam nos conceitos de espaço euclidiano (extensão, largura,
altitude topográfica) e de espaço topológico de relações (condições geotécnicas, fito-sociologia,
disponibilidade hídrica, clima, relações plantas-água-solos, tipos de solos, formas do terreno, seqüência e
sucessão floral).
As geometrias dos corredores envolvem ainda, especificadas aqui por uma geometria principal,
diversas geometrias variantes que podem surgir em função do substrato rochoso / geomórfico / pedológico
e das variações climáticas e de disponibilidade hídrica em uma massa florestal de extensão sobre dezenas
ou centenas de km.
De acordo com os estudos desenvolvidos em Martins Jr. et al.(2006), o corredor ideal, estrutura-se
de uma faixa central composta de plantas nativas ao bioma e aos ecossistemas locais, respectivamente, e
de três faixas de plantas arbóreas, a serem conjugadas de modo a formarem dois paredões protetores
externos ao longo da faixa central, como uma geometria geral, sem se considerar especificidades locais.
A sucessão de várias espécies econômicas deverá obedecer às condições geo-ambientais
necessárias a sua viabilidade, e implicam idealmente em uma faixa interna, contígua à faixa central de
plantas nativas, margeada por uma faixa de árvores frutíferas. Em seqüência a essa 2ª faixa de frutíferas,
uma 3ª faixa mais externa poderá ser de árvores de madeira de lei, que possuem um tempo de maturação
mais elevado e, conseqüentemente, terão uma retirada mais tardia. Em seqüência a essa 3ª faixa, uma 4ª
faixa mais externa ainda, de plantas de madeiras energéticas como o eucalipto, que se enquadram nesta
borda por possuírem um tempo de retirada mais curto que a anterior, e também arbustíferas como mamona
e pinhão manso, bons exemplares de plantas oleaginosas. Essa configuração geométrica é geral, e terá
tantas variações quanto as condições geo-ambientais do substrato o determinem, no sentido das
viabilidades ecológica e econômica. É preciso se ter em mente que podem ocorrer casos em que não se
poderá obter sucesso algum com plantio de árvores, em função do estado avançado de perda de solos e/ou
de nutrientes, ou ainda em caso de solos estéreis e de contexturas pétreas.
43. Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 44, 191p.
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A figura 2.1 ilustra a composição e estrutura proposta para os corredores florestais ecológico-
econômicos.
Figura 2.1 – Estrutura e composição geral dos corredores florestais ecológico-econômicos propostos para
um cenário em que as variáveis físicas e sociais se mostrem favoráveis.
Fonte: Projeto CRHA (Martins Jr. et al. 2006)
Vale dizer que a largura do corredor e suas respectivas faixas também estão sujeitas às variações
do terreno e substrato, bem como aos interesses econômicos específicos dos proprietários balizados em
planos de viabilidade econômica. Todavia devem buscar salvaguardar uma largura média do eixo central
(composto pelas plantas nativas) estimada em torno de 70 metros, para que a mesma possa cumprir suas
funções conservacionistas.
Todavia, uma situação problemática que poderá ocorrer, até com certa freqüência, em
reconstituição de paisagens com matas nativas, em áreas de extensos desmatamentos, é a relação dos solos
tratados quimicamente com o replantio de plantas nativas. Este assunto necessita de pesquisas para ser
resolvido.
44. Andrade, L.M.G., 2007. Uso Optimal do Território de Bacia Hidrográfica com Fundamentos no Conceito de ....................
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Uma outra questão que se coloca é a do plantio de espécies econômicas, sendo que muitas dessas
podem ser exóticas, em especial as árvores de madeiras energéticas, madeiras de lei, plantas da
farmacopéia e frutíferas. Essas plantas devem, em princípio, serem plantadas segundo a lógica sistêmica
das diversas situações locais e para tanto, deve-se adotar os seguintes princípios gerais:
- oferecer proteção à parte central do corredor, que deve ser constituída de árvores, arbustos,
briófitas e pteridófitas, sendo as plantas mais notáveis de preservação do bioma e de seus ecossistemas
locais, para propiciar interligação da flora e da fauna sobre vastas áreas;
- permitir a estabilidade do substrato com a adequação dos projetos de florestamento,
reflorestamento e de corredores ecológico-econômicos de modo articulado com a realidade geotécnica,
pedológica e geomorfológica dos terrenos.
A proteção esperada para os corredores consiste nas seguintes situações: (1) manutenção das áreas
sensíveis do corredor fora do alcance de animais domésticos (2) evitar, por longo tempo, a freqüência do
homem àquelas partes, ou atuação em sua vizinhança imediata (3) proteção dos percursos territoriais da
fauna nativa (4) escalonamento dos plantios exóticos econômicos como modos de acessos mínimos ao
núcleo do corredor, sobretudo em se tratando de árvores para corte, como é no caso das árvores de
madeiras energéticas e de madeiras de lei e, finalmente, (5) a razão econômica que sustente uma política
regional de bacia hidrográfica e de propriedades rurais para o sucesso de implantação desses corredores.
Eis, portanto, a estrutura básica desse paradigma florestal: os corredores ecológico-econômicos são
construções de curta, média e longas extensões sobre áreas desmatadas, ou em áreas de conexões entre
maciços florestais e entre corredores já existentes, com fins de integrar espécies nativas em reconstituição
de ambientes nativos, protegidos por ambientes mistos voltados para a produção florestal e agroflorestal.
Outra característica bastante relevante na implementação de corredores com esta configuração, diz
respeito à captura de CO2 da atmosfera.
45. Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 44, 191p.
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Nesse sentido, a ordem para os plantios e plantas, já proposta, implica nos seguintes aspectos: (1)
a faixa interna central não contribui de modo notável para captura de CO2 pela tendência a funcionar em
regime após ter se desenvolvido; (2) a faixa de frutíferas contribui muito com a captura de CO2 com
longos tempos de residência do gás nessas plantas, que não são para serem cortadas; quanto aos frutos
esses também retêm em parte o CO2 dado que são consumidos e entram em outros circuitos; (3) a faixa de
madeiras de lei contribui de modo notável por crescer ao longo de mais anos, e ao serem cortadas darem
espaço para novos plantios, e assim refazer-se o processo de retenção do CO2; ademais essas árvores são
para serem aplicadas na construção civil, na indústria moveleira e mesmo na indústria de papel; (4) a faixa
mais externa com árvores e arbustos energéticos retém o CO2 na terra, nos resíduos dos cortes, que viram
húmus, e no ciclo do uso da madeira na forma de carvão vegetal e/ou de óleos combustíveis, em
substituição parcial ao uso de combustíveis fósseis. Esses espectros de possibilidades estabelecem, de fato,
as duas condições fundamentais gerais, que são a adequação geoambiental e a viabilidade ecológico-
econômica (Martins Jr. et al. 2006).
2.3 - PROCEDIMENTOS PARA O RESGATE DE ESPAÇOS FLORESTAIS
Dadas as características geométricas e de composição dos corredores, este estudo passa a enfocar
algumas técnicas e procedimentos de plantio para que os mesmos possam ser implementados no intuito de
resgatar os espaços florestais.
Dessa forma, são descritas, a seguir e de modo sucinto, algumas possibilidades e dentre as quais
estão (1) a chuva de sementes, (2) a dispersão de sementes e (3) a transposição de solo.
2.3.1 - Chuva de Sementes
A chuva de sementes (seed rain), também estudada por Caldato et al. (1996) e Vieira (1996),
representa a quantidade de sementes que chega em determinada superfície do solo, em um tempo
conhecido. Ela é formada pelo conjunto de propágulos que uma comunidade recebe através das diversas
formas de dispersão, propiciando a chegada de sementes que têm a função de colonizar áreas em processo
de sucessão primária ou secundária (Bechara, 2003).
46. Andrade, L.M.G., 2007. Uso Optimal do Território de Bacia Hidrográfica com Fundamentos no Conceito de ....................
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A chuva de sementes é fator chave na dinâmica dos ecossistemas e, portanto, é procedimento
importante quando se almeja a regeneração daqueles. O estudo da chuva de sementes é muito recente e a
literatura disponível ainda restrita. No entanto estudos clássicos de dispersão de sementes são básicos para
seu conhecimento, pois a mesma é resultado das diversas formas e comportamentos de dispersão dentro de
um ecossistema (Reis, 2004).
Conhecendo os mecanismos que propiciam a chegada natural de sementes dentro das
comunidades, é possível tentar reproduzi-los e, assim, transpor uma das principais barreiras da
regeneração natural: a falta de propágulos que possam originar novos indivíduos em uma área após sua
degradação (Reis, 2004). Um procedimento, na utilização de chuva de sementes, para transpor a
dificuldade de obtenção de sementes nativas, é a colocação de coletores de sementes sob a vegetação de
um fragmento preservado, semelhante ao ecossistema original da área a ser “restaurada”, ou estruturado
como um corredor florestal. Recolhendo-se o material dos coletores mensalmente, pelo período de pelo
menos um ano, e colocando-o na área do corredor florestal, realiza-se uma semeadura direta com as
sementes presentes no fragmento preservado. Assim, é possível garantir uma alta biodiversidade e
espécies que intercalam sua produção de sementes ao longo de todo o ano. Isto é muito importante para a
manutenção dos dispersores na área em processo de implantação de um corredor estritamente ecológico
(Reis, 2004).
2.3.2 - Dispersão de Sementes
As plantas necessitam enviar propágulos a locais distantes para evitar condições adversas ao redor
da planta-mãe, como o ataque de inimigos naturais, a intensa competição intra-específica e o
endocruzamento (Janzen, 1970, Connel, 1971). Além disso, a dispersão é uma maneira de aumentar a
probabilidade de encontrar locais com melhores condições para o desenvolvimento da prole (Willson,
1992).
Segundo Pijl (1982), os propágulos podem ser transportados pelo vento (anemocoria), por animais
(endozoocoria, epizoocoria e sinzoocoria), pela água (hidrocoria), por mecanismos explosivos (autocoria),
pela ação da gravidade (barocoria), e por outros vetores como automóveis e maquinários agrícolas.
47. Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 44, 191p.
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Janzen (1970) e Connel (1971) sugerem que as sementes tendem a se concentrar perto da planta-
mãe e se diluem gradativamente, apresentando uma distribuição leptocúrtica (mais “concentrada”). Dentro
de uma comunidade os focos de concentração de sementes são importantes recursos para os consumidores,
tanto para patógenos de plantas adultas como para os consumidores que concentram suas atividades em
regiões de alta concentração desse recurso. Regiões de menor densidade de propágulos são zonas de maior
recrutamento para a planta, devido ao menor ataque de consumidores. Por este motivo, alcançar essas
regiões é extremamente necessário, principalmente para as espécies que não apresentam outras defesas
contra os ataques acima referidos (Janzen, 1970).
A curva de dispersão de cada espécie nem sempre segue essa tendência leptocúrtica, pois depende
de fatores abióticos e bióticos, principalmente do comportamento dos dispersores animais, já que os locais
de chegada de propágulos estão relacionados com as atividades destes animais (Willson, 1992).
2.3.3 - Transposição de Solos
A técnica de transposição de solos auxilia na reestruturação do solo e no estabelecimento de
espécies pioneiras que se encontravam no banco de sementes desta porção de solo transposta. Aliada à
técnica de transposição de chuva de sementes, esta também contribui para o restabelecimento do banco de
sementes da área em recuperação. Restabelecer essa diversidade, garantindo a disponibilidade de recursos
para as populações animais durante o ano todo é aspecto chave para o sucesso desta recuperação. O
método de transposição de solos é o mais atual e completo conceito para recuperação, ou para mitigação
de áreas em vários estágios de alteração (Reis, 2004).
Winterhalder (1996) aplicou esta técnica, que chamou de “plantação de blocos de solo”, na
“restauração” de uma paisagem industrial perturbada em Sudbury – Ontário (Canadá), e comprovou a
eficácia desse método. A transposição criou uma ilha de fertilidade, permitindo dobrar o papel da
nucleação. A transposição de pequenas porções (núcleos) de solo não-degradado representa grandes
probabilidades de recolonização da área com microorganismos, sementes e propágulos de espécies
vegetais pioneiras. O objetivo desta técnica é a reabilitação do solo, componente de grande importância
nos ecossistemas, responsável pela sustentação da vegetação, embora, muitas vezes, pouco enfocado nos
projetos de recuperação.
48. Andrade, L.M.G., 2007. Uso Optimal do Território de Bacia Hidrográfica com Fundamentos no Conceito de ....................
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Com a transposição de solo, reintroduz-se populações de diversas espécies da micro, meso e
macro fauna/flora do solo (microrganismos decompositores, fungos micorrízicos, bactérias nitrificantes,
minhocas, algas, etc.), importantes na ciclagem de nutrientes, reestruturação e fertilização do solo. A
fauna desempenha diversas funções no solo: predação, controle biológico, parasitismo de plantas e
animais, processamento da serrapilheira através de sua fragmentação que aumenta a área de superfície
exposta ao ataque dos microorganismos, distribuição da matéria orgânica, de nutrientes e
microorganismos (transporte da superfície para as camadas mais profundas), alteração das propriedades
físicas do solo pela construção de galerias, ninhos e câmaras e alteração nas taxas de decomposição da
matéria orgânica e de mineralização de nutrientes (Moreira & Siqueira, 2002; Assad, 1997).
A transposição de solo consiste na retirada da camada superficial do horizonte orgânico do solo,
horizonte constituído por material orgânico em propor superior ao especificado para o horizonte mineral
(geralmente a serapilheira mais os primeiros 5 cm de solo) de uma área com sucessão mais avançada. Reis
et al. (2003 apud Martins Jr. et al. 2006) sugerem a utilização de solos de distintos níveis sucessionais
para que seja reposta uma grande diversidade de micro-, meso- e macro-organismos no ecossistema a ser
recuperado.
Quando um “novo” banco de sementes é disposto na área degradada, grande parte das sementes de
espécies pioneiras, que, originalmente estavam enterradas no solo, ficam na superfície e tendem a
germinar, já que em geral são fotoblásticas positivas1
. As sementes que após a transposição continuarem
enterradas e não germinarem, irão compor o novo banco de sementes na área degradada.
No caso de empreendimentos que envolvem a degradação de grandes áreas, a transposição da
camada fértil do solo merece ser planejada no sentido de haver transposição concomitante ao processo de
remoção e degradação. Em hidrelétricas, onde toda a área do lago terá o solo inundado, as áreas
degradadas com a formação de áreas de empréstimo e bota-fora, podem ser cobertas com o solo fértil
disponível na área do futuro lago. Esta ação é parte integrante de um programa de resgate da biota, pois
representa uma forma eficiente de garantir a sobrevivência de muitas populações de micro-, meso- e
macro- organismos que vivem no solo (Martins Jr. et al. 2006).
1
Que apresentam maior capacidade de germinação à luz.
49. Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 44, 191p.
21
A técnica de transposição de solo (Reis et al. 2003 apud Martins Jr. et al. 2006) como agente
nucleador, além de barata, é simples de proceder e tem a vantagem de recompor o solo degradado não
somente com sementes, mas com propágulos e grande diversidade de micro-, meso- e macro- organismos
capazes de dar um novo ritmo sucessional ao ambiente. Para a aplicação desta técnica, deve-se utilizar
camadas de solo de áreas próximas à área que se quer recuperar, buscando refazer a paisagem original.
Estas camadas de solo devem conter sementes de espécies das mais variadas formas de vida (herbáceas,
arbustivas, arbóreas, lianas) e de diferentes estádios sucessionais.
Apesar dos parágrafos anteriores, relacionados ao item Transposição de Solos, se referirem à
recuperação de áreas degradadas, os mencionados procedimentos e técnicas podem perfeitamente serem
adaptados e aplicados à implementação de corredores florestais não somente nessas áreas, mas de uma
maneira geral. Deve-se dar preferência, no processo de transposição, aos períodos onde há maior
abundância de sementes no ecossistema de origem. Estes períodos coincidem com a maturação dos frutos
e podem ser auferidos por estudos de fenologia ou etnoconhecimento local. A fenologia, como já
mencionado no capítulo 5, é o estudo da ocorrência dos fenômenos biológicos repetitivos e das causas de
sua ocorrência em relação às forças seletivas bióticas e abióticas e de sua inter-relação entre as fases
caracterizadas por estes eventos dentro de uma mesma ou em várias espécies (Lieth, 1974). A fenologia
trata de vários ciclos de um vegetal, desde a produção e queda de folhas, a floração e frutificação (Reis,
2004).
No caso da implementação de corredores florestais, utilizando áreas com algum processo de
degradação, deve-se dar preferência à transposição de solos vindos de clareiras em florestas adjacentes. Os
solos de clareiras apresentam um banco de sementes com maior correlação com a vegetação estabelecida
nos respectivos ecossistemas (Reis, 2004). Outro critério que pode ser adotado é a escolha de solos em que
o banco de sementes seja mais abundante, por exemplo, embaixo de árvores frutíferas e de poleiros de
animais. Fragmentos menos impactados também apresentam bancos de sementes mais adequados para
transposição.
A técnica de transposição de solos possibilitará a formação de um número significativo de
diferentes espécies (maior biodiversidade), permitindo uma continuidade dos processos de polinização de
uma maneira mais homogênea ao longo do ano. Isso propicia aos animais polinizadores que se
estabeleçam no ecossistema.
50. Andrade, L.M.G., 2007. Uso Optimal do Território de Bacia Hidrográfica com Fundamentos no Conceito de ....................
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2.4 – ALGUMAS LIMITAÇÕES NA IMPLANTAÇÃO DE CORREDORES
As áreas constituídas de campos rupestres, campos cerrados ou outras vegetações
predominantemente arbustivas, indicam a limitação, principalmente de solos, para o desenvolvimento de
florestas de maior porte (com finalidade econômica e/ou ecológica), de porte intermediário e / ou arbóreo.
Estas limitações não impedem que se façam corredores ligando fragmentos de vegetação rupestre.
Qualquer corredor deve ser implantado com espécies predominantes das áreas adjacentes, se possível,
através da técnica de transposição de solos (Martins Jr. et al. 2006).
É obrigatório que o corredor seja de ecossistema semelhante ao dos fragmentos, para garantir o
fluxo gênico das espécies da flora e fauna. Contudo, esses corredores se tornam inviáveis caso os solos
não sejam adequados para a introdução das espécies ligadas ao ecossistema do fragmento (principalmente
no caso de corredores de grande extensão, que atravessem diferentes ambientes da bacia hidrográfica ou
propriedades). O ecossistema original ou pré-existente nos locais onde passará o corredor indica as
limitações ambientais típicas (solo, clima, declividade, disponibilidade hídrica, etc.) que serão impostas na
implantação de corredores florestais. Contudo, neste caso ainda pode ser possível a utilização de núcleos
de vegetação e/ou poleiros e abrigos artificiais intercalados, perfazendo um caminho possível de ser
percorrido pela fauna (Martins Jr. et al. 2006).
2.5 – PROCESSOS DE SUCESSÃO E OUTROS MÉTODOS DE NUCLEAÇÃO
No processo de sucessão, as espécies componentes da comunidade ao se implantarem e
completarem seu ciclo de vida, modificam as condições físicas e biológicas do ambiente, permitindo que
outros organismos mais exigentes possam colonizá-lo. Há espécies, no entanto, que são capazes de
modificar os ambientes de forma mais acentuada (Martins Jr. et al. 2006).
Ricklefs (1996), denomina-as como espécies facilitadoras, onde facilitação é o processo pelo qual,
numa fase inicial, a espécie altera as condições da comunidade de modo que as outras tenham maior
facilidade de estabelecimento. Hulbert (1971), descreve que cada indivíduo dentro de uma comunidade
pode interagir com cada um dos outros indivíduos que a compartilham. Dentro deste contexto, o autor
propõe o conhecimento das probabilidades de encontros inter-específicos de cada espécie como uma
ferramenta básica para o entendimento da estabilidade de uma comunidade. Para esse autor, as espécies
com maiores probabilidades de encontros inter-específicos são as que mais contribuem para o
aceleramento do ritmo de sucessão de uma comunidade.
51. Contribuições às Ciências da Terra Série M, vol. 44, 191p.
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Yarranton & Morrison (1974), constataram que espécies arbóreas pioneiras ao ocuparem áreas em
processo de formação de solo, geraram pequenos agregados de outras espécies ao seu redor, acelerando,
assim, o processo de sucessão primário. Este aumento do ritmo de colonização, a partir de uma espécie
promotora, foi denominado pelos autores de nucleação. Scarano (2000), usa o termo “planta focal” para
plantas capazes de favorecer a colonização de outras espécies, como a palmeira Allagoptera arenaria
Kuntze e plantas do gênero Clusia L., capazes de propiciar a formação de moitas na restinga, favorecendo
o desenvolvimento de cactáceas e bromeliáceas. Miller (1978), e Winterhalder (1996), sugerem que a
capacidade de nucleação de algumas plantas pioneiras é de fundamental importância para processos de re-
vegetação de áreas degradadas.
Robinson & Handel (1993), aplicaram a teoria da nucleação em “restauração” ambiental e
concluíram que os núcleos promovem o incremento do processo sucessional, introduzindo novos
elementos na paisagem, principalmente, se a introdução dessas espécies somar-se à capacidade de atração
de aves dispersoras. A capacidade nucleadora de indivíduos arbóreos remanescentes em áreas
abandonadas após uso com agricultura ou em pastagens mostrou que os mesmos atraem pássaros e
morcegos que procuram proteção, repouso e alimentos. Estes animais propiciam o transporte de sementes
de espécies mais avançadas na sucessão, contribuindo para o aumento do ritmo sucessional de
comunidades florestais secundárias Guevara et al. (1986). Selecionando 4 árvores do gênero Ficus Tourn.
ex Lin., Guevara & Laborde (1993), registraram a deposição de 8.268 sementes, de 107 espécies vegetais,
no período de 6 meses. Estas quatro figueiras isoladas foram visitadas por 47 espécies de pássaros
frutívoros e 26 não frutívoros durante o período. Zimmermann (2001), observando 4 indivíduos de Trema
micrantha Blume em área urbana, registrou, durante 13 horas de observação, a presença de 18 espécies de
aves que consumiram 767 frutos.
Além dessas aplicações, recomenda-se, ainda, quebrar a dormência de apenas uma parte das
sementes. Aquelas sem tratamento vão formar um banco de sementes, permitindo que ocorra germinação
ao longo dos anos. A formação de um novo e efetivo banco de sementes atua, também, como agente
nucleador de um banco mais diversificado (Austrália, 2001, apud Reis, 2004).
Além dos métodos de nucleação já relacionados, como a transposição de solos e a transposição da
chuva de sementes, deve-se mencionar outros tipos como: [a] poleiros; [b] transposição de galharia; [c]
plantio de mudas em ilhas de alta diversidade e [d] coleta de sementes com manutenção da variabilidade
genética, a seguir descritos, sendo importantes agentes nucleadores.
52. Andrade, L.M.G., 2007. Uso Optimal do Território de Bacia Hidrográfica com Fundamentos no Conceito de ....................
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Poleiros Artificiais: Aves e morcegos são os agentes dispersores de sementes mais efetivos,
principalmente, quando se trata de transporte entre fragmentos de vegetação. Atrair estes animais constitui
numa das formas mais eficientes para propiciar chegada de sementes em áreas degradadas e,
conseqüentemente, acelerar o processo sucessional.
Aves e morcegos utilizam árvores remanescentes em pastagens para proteção, para descanso
durante o vôo entre fragmentos, para residência, para alimentação ou como latrinas (Guevara et al., 1986).
Estas árvores remanescentes formam núcleos de regeneração de alta diversidade na sucessão secundária
inicial devido à intensa chuva de sementes promovida pela defecação, regurgitação ou derrubada de
sementes por aves e morcegos (Reis et al., 2003 apud Martins Jr. et al. 2006).
Mcdonnel & Stiles (1993) instalaram poleiros artificiais em campos abandonados e observaram
que as regiões abaixo dos poleiros se tornaram núcleos de vegetação diversificada devido à deposição de
sementes pelas aves que os utilizavam. Mcclanahan & Wolfe (1993) observaram que poleiros artificiais
atraem aves, que os utilizam para forragear suas presas e para descanso, e trazem consigo sementes de
fragmentos próximos. Reis et al. (2003 apud Martins Jr. et al. 2006) sugerem a implementação destes
poleiros para incrementar a chuva de sementes em locais que se pretende recuperar. Esta chuva irá formar
o novo banco de sementes destes locais.
Além de atrair diversidade de propágulos para a área, os dispersores, que utilizam poleiros, geram
regiões de concentração de recurso, como as descritas por Janzen (1970), atraindo, também, consumidores
para o local.
A escolha de técnicas de recuperação ambiental deve ser norteada pela manutenção dos
dispersores na área, o que dependem, basicamente, desta área oferecer locais de repouso ou abrigo e,
principalmente, apresentar disponibilidade de alimento o ano todo. Para tal finalidade, os poleiros
artificiais podem ser efetivos.
Os poleiros artificiais podem ser pensados de diversas formas para se tornarem um atrativo aos
dispersores dentro de uma área que se pretende recuperar. Os poleiros podem ser secos ou vivos servindo
a diferentes finalidades.