Reportagem sobre Foz do Iguaçu que fiz para o Caderno de Turismo do Jornal da Tarde há dez anos. Destaque para a abordagem da natureza e da história da região.
Foz do Iguaçu: 1 milhão de visitantes por ano nas Cataratas
1. FOZ DO IGUAÇU É UM DOS PRINCIPAIS DESTINOS
TURÍSTICOS DO MUNDO: 1 MILHÃO DE VISITANTES POR
ANO
Foz do Iguaçu
tem atrações para férias
de qualquer tamanho
A uma hora e meia de avião de São Paulo, a cidade de Foz de
Iguaçu, no Paraná, possui o parque nacional que ao mesmo
tempo é o mais bem conservado e o mais explorado pelo turismo
em todo o País: o Parque Nacional de Iguaçu, que está
começando uma reforma orçada em R$ 30 milhões e abriga uma
das sete maravilhas do mundo, as Cataratas do Iguaçu, com 2,7
quilômetros de largura e 275 saltos, alguns com mais de 80
metros de altura.
Para revitalizar o turismo no parque, a reforma deverá
acrescentar novas passarelas e belvederes sobre as cataratas aos
quase 2 quilômetros existentes, inclusive construindo um centro
de convivência ao lado das quedas e um teleférico que se desloca
na altura da copa das árvores da última reserva de Mata
Atlântica subtropical brasileira ainda bem-conservada.
Essa cidade ecológica de amplas ruas e avenidas surgiu como vila
militar em 1889, mas só cresceu com a construção das pontes que a
ligaram à Ciudad del Este, no Paraguai, e a Puerto Iguazú, na
Argentina. Em 1960, o município tinha 22.228 habitantes, 7.407
deles na cidade. Dez anos depois, a população já subira para 34 mil
habitantes. Mas foram o turismo atraído pelas cataratas e a
construção da Hidrelétrica de Itaipu, nos anos 70, que deram
impulso ao vertiginoso crescimento da cidade.
Hoje, passados 30 anos, Foz tem 260 mil habitantes e centenas
de bons hotéis, num total de 25 mil leitos, que atendem 770 mil
visitantes por ano (nos anos 80, por causa principalmente das
compras no Paraguai, desfavoráveis no câmbio atual, esse
número passava de 1 milhão). As atividades turísticas
2. movimentam US$ 120 milhões anualmente (40% do PIB da
cidade).
A grandeza das cataratas, que já tinha sido louvada pelo
explorador espanhol Alvar Núñes Cabeça de Vaca, o primeiro
europeu a avistá-las, em 1542, inspirou o engenheiro André
Rebouças, no século 19, a sugerir a transformação do local num
parque, nos moldes do Parque de Yellowstone, nos EUA, o primeiro
do mundo, criado em 1872.
Na virada para o século 20, as cataratas pertenciam a uma fazenda
particular, mas já eram destino de excursões de alguns privilegiados.
Em 1916, Santos Dumont, já laureado como pai da aviação, visitou
o local e iniciou uma campanha pela desapropriação das cataratas e
pela criação de um parque. No mesmo ano, o governo do Estado
desapropriou a área, doando-a para a União em 1938, quando foi
criado o Parque Nacional de Iguaçu, o segundo do País (o primeiro
foi o de Itatiaia, no Rio de Janeiro, criado em 1937).
Em 1986, quando a cidade vivia seu boom, incentivada pela
proximidade do porto livre de Ciudad del Este, no Paraguai, e dos
cassinos paraguaios e da vizinha cidade argentina de Puerto Iguazú,
as cataratas foram tombadas pela Unesco como Patrimônio Natural
da Humanidade, consagrando-se como destino turístico
internacional.
Na verdade, 80% das cataratas, situadas na parte direita do rio, que
nessa área forma um leque, pertencem à Argentina. Só estão em
território brasileiro cerca de 20% das quedas, do lado esquerdo do
rio, a partir do meio da Garganta do Diabo. As quedas brasileiras
impressionam pelo grande volume de água, que se concentra na
garganta, mas é o lado argentino, visto do Brasil, que proporciona o
maior espetáculo, com um horizonte de cachoeiras.
Passada a febre das quinquilharias e eletrônicos trazidas de Ciudad
del Este, a segunda maior do Paraguai e o terceiro centro comercial
do mundo, atrás apenas de Hong Kong e Miami, são as cataratas que
hoje mantém estável o movimento turístico de Foz do Iguaçu, que
está no roteiros de excursões de praticamente todas as agências do
mundo. A cidade tem hotéis, restaurantes e operadoras de turismo
3. para todo tipo de bolso – mas, como sua grande atração é mesmo a
natureza, é bom organizar os roteiros tendo em vista o tempo
disponível, que pode ser de um fim de semana a mais de um mês
com atrações diariamente renovadas, num raio de 250 quilômetros
de Foz do Iguaçu, em estradas brasileiras, argentinas e paraguaias.
“Um fim de semana em Foz do Iguaçu é pouco, não dá para ver
todas as principais atrações”, considera a guia Nair Areias, a Nuxa,
portuguesa de Angola que escolheu a cidade para viver. Ela cita
alguns roteiros imperdíveis: “Recomendo dois passeios com trilhas e
barcos (nos parques brasileiro e argentino, que permitem ver os dois
lados das cataratas), uma visita ao Parque das Aves e outra a Itaipu,
com seu Ecomuseu. Só isso exige três dias. Se a pessoa quiser ir
fazer compras no Paraguai ou na Argentina, já vou avisando que isso
vai tomar um tempo precioso.”
Nuxa recomenda começar o passeio pelo lado brasileiro, gastando
umas duas a três horas para percorrer os quase 2 quilômetros de
passarelas e belvederes, com destaque para o belvedere do Salto
Floriano, um dos maiores da Garganta do Diabo, que tem até
elevador, o que permite o acesso dos deficientes físicos. O uso de
capa de chuva é recomendável por causa da névoa constante.
O passeio do Macuco, que conjuga caminhadas por trilha na
floresta e passeio num bote inflável e leva os turistas diretamente
para debaixo da Garganta do Diabo completa o passeio pelo lado
brasileiro – e o dia praticamente, deixando a noite livre para visitar
Ciudad del Este ou algum cassino.
Sem muitos excessos, porque a visita ao lado argentino, no dia
seguinte, deve começar cedo: a quantidade de trilhas e passarelas é
maior (cerca de 4 km só de passarelas), sendo também recomendado
fazer a versão argentina do Passeio do Macuco, que lá chama-se
Gran Aventura e inclui trilhas e passeio de bote inflável pelo lado
argentino e pela Ilha de San Martín, coberta por floresta úmida.
As trilhas argentinas, onde fica a maior parte das cachoeiras, são
melhores e mais bem pavimentadas, permitindo inclusive acesso de
deficientes em cadeiras de rodas. As passarelas estão incrustadas em
áreas maiores, permitindo maior contato com a natureza
4. Tudo isso deve ser feito de manhã, até o começo da tarde (é
possível almoçar ou lanchar na administração do parque argentino,
com R$ 2 valendo 1 peso) para dar tempo de desfrutar de outra
atração do parque: o rapel em árvores e cachoeiras chamado Passeio
Forest. O parque argentino está sendo privatizado e deverá ser
ampliado, com instalação de uma trenzinho que percorre as
cachoeiras. Com isso, abriu-se também espaço para pequenas
empresas de ecoturismo, como a Aguas Grandes, de um grupo
de jovens argentinos da província de Missiones que faz o Passeio
Forest, realizado por bem-treinada equipe de especialistas no
assunto, sempre atentos para a segurança.
O dia agitado pode terminar em algum restaurante de Puerto
Iguazú, cidade duramente afetada pela crise argentina, que
exibe diversos esqueletos de construções de hotel abandonados,
mas que tem interessantes atrações e deverá revitalizar-se com a
expansão do parque. Mas a moçada de Foz do Iguaçu costuma
mesmo jantar ou terminar a noite no Bar do Capitão,
atualmente o mais agitado da cidade.
O dia seguinte também começa cedo, com uma visita ao Parque
das Aves, que fica em Foz do Iguaçu, na estrada que leva ao parque
das cataratas. Com uma deslumbrante coleção de coloridas aves
tropicais, como tucanos e araras, esse é o segundo maior viveiro do
mundo, só superado por um de Cingapura. Passando por portas
duplas, os turistas entram e saem por diferentes gaiolas gigantes, que
abrigam diferentes bandos de pássaros.
Natureza e tecnologia: o restante do dia fica por conta da visita à
Hidrelétrica de Itaipu, a maior do mundo, e seu Ecomuseu. Além das
barragens e megaturbinas dessa usina monumental, o turista deve
conhecer o museu, que reúne peças arqueológicas e até uma grande
estufa de plantas. Os interessados podem conhecer também a estufa
onde são feitos estudos e reproduzidas árvores da região e o viveiro
onde são reabilitados animais feridos.
E Nuxa garante que ainda é pouco: o dia foi embora e ainda há
muita coisa para ver e fazer em Foz do Iguaçu, como o vôo
panorâmico de helicóptero e as visitas a praias do Rio Iguaçu e ao
5. encontro com o Rio Paraná, onde está o Marco das Três Fronteiras,
além da prática de esportes náuticos no Lago de Itaipu...
“Você concorda que dá para ficar aqui uma semana só para ver
essas atrações com mais calma?”, pergunta Nuxa. Quem dispuser de
um mês de férias para passear na região, num raio de 250
quilômetros, encontrará muitas opções de turismo aventura e contato
com a natureza e a história, garante ela.
Seguindo pelo lado paraguaio, é possível visitar, por exemplo, a
colônia suíça de Puerto Bertoni, que tem um pequeno museu de
História Natural, o Salto Monday, a 20 km da fronteira com o Brasil,
ruínas das Missões Jesuíticas e diversas aldeias indígenas.
Se a opção for pelas estradas argentinas, chega-se às Minas de
Wanda, de cristais e pedras preciosas e semipreciosas, e aos Saltos
Moconã, Encantado, Berrondo, Krisiuk, La Bonita, além de aldeias
indígenas e das ruínas das Missiones argentinas que se estendem até
a altura do Rio Grande do Sul, remetendo ao tempo de Cabeça de
Vaca. O conjunto das ruínas das Missões também é Patrimônio
Cultural da Humanidade segundo a Unesco.
Hotel é camarote para ver as cachoeiras
Conferimos como é um fim de semana no Tropical das Cataratas
Hotel e Resort, em Foz do Iguaçu, Paraná, o mais famoso complexo
hoteleiro brasileiro no exterior por causa da localização privilegiada:
ele fica num promontório que avança sobre nada mais nada menos
que uma das sete maravilhas do mundo natural: as Cataratas do
Iguaçu, tombadas pela Unesco em 1986 como Patrimônio Natural da
Humanidade, um verdadeiro monumento com 275 saltos de 70
metros de altura em média que se estende por 2,7 quilômetros. Outro
privilégio: o hotel é o único dentro do Parque Nacional do Iguaçu,
criado em 1939, uma das maiores reservas florestais da América do
Sul, com 185 mil hectares de floresta subtropical atlântica bem
conservada, onde podem ser vistos de perto animais como tucanos e
6. quatis – fáceis de encontrar aos bandos até nos jardins e sacadas do
hotel.
Para ir passear nos cerca de 2 quilômetros de trilhas e passarelas do
parque nacional que mergulham no lado brasileiro das cachoeiras,
chegando inclusive na beira úmida e nevoenta de um dos maiores
saltos de todo o conjunto, o Salto Floriano, no abismo da Garganta
do Diabo, basta caminhar à frente do hotel. Idosos e deficientes
podem ir de elevador quase diretamente ao belvedere construído
sobre o abismo e banhado pelas águas do Floriano.
O prédio do hotel, concebido nos anos 50 com 47 apartamentos
para ser também um cassino, recria com elegâcia o estilo colonial
brasileiro com sacadas e grandes janelas avistando as matas e as
cataratas. Várias vezes ampliado, hoje tem 200 apartamentos, mas
manteve e realçou o estilo neocolonial que lhe dá um ar de palacete
europeu. Tem até uma torre com vista privilegiada para as cataratas.
Fica bem no meio do parque, a 25 km da cidade e a 15 km do
aeroporto.
Cerca de 90% dos hóspedes são estrangeiros por causa da grande
divulgação das cataratas no exterior: elas estão entre os três
principais destinos turísticos do Brasil nos pacotes das agências de
viagem de todo o mundo, junto com Rio de Janeiro e Salvador.
A construção do prédio, iniciada em 1954, foi logo abandonada por
causa das dificuldades de acesso: na época não existiam a Estrada
das Cataratas nem vôos regulares para Foz do Iguaçu. O primeiro
prédio, feito pela empresa Hotéis Bianchi, foi terminado em 1959,
na expectativa da legalização do jogo no Brasil, o que não ocorreu.
A administração do hotel foi nesse mesmo ano passada para a Real
Tur Hoteleira, ligada à Real Transportes Aéreos.
Foi o primeiro hotel da Rede Tropical, marca que surgiu em 1967,
quando a Varig adquiriu o controle acionário da Real Tur Hoteleira
e passou a fazer os contratos de arrendamento do prédio com a
União, que é sua proprietária, pois está situado num parque nacional.
Atualmente ele está arrendado por R$ 19.500 por mês, mais 10%
dos lucros mensais. Hoje, incluindo o Hotel das Cataratas, a rede
tem seis conceituados hotéis, distribuídos nos principais destinos
7. turísticos do País: Amazonas (Manaus), Paraíba (Tambaú), Bahia
(Salvador), São Paulo (o Tropical Planalto Hotel, no Centro) e
Minas Gerais (Araxá).
O Hotel Tropical das Cataratas tem 2 suítes presidenciais com sala
e dois quartos cada uma, 3 suítes nobres, 4 suítes júnior, 42
apartamentos de luxo, 52 apartamentos de tipo superior e 97
apartamentos standard. Muitos apartamentos têm banheira, algumas
com hidromassagem, uma ótima pedida para relaxar depois de uma
caminhada. Todos os apartamentos têm ar condicionado, cofre,
frigobar, telefone, tevê a cabo, serviço de mensagens e room service
24 horas.
Por causa da distribuição do prédio, existem apartamentos de todas
as categorias com vistas para as cataratas, embora o visual de
qualquer janela do prédio seja agradável, por causa dos jardins que o
cercam e da mata que cobre o horizonte.
A força das cataratas é tanta que as grandes janelas vibram e
precisam ser escoradas com cunhas de madeira. A vibração aumenta
quando chove, por causa do vento e do maior volume de água.
O prédio também tem uma grande sala com lareira, salão de jogos,
sala de internet, restaurante internacional e churrascaria com música
ao vivo, lojas, jardins, piscina, bosque, playground, quadras de tênis
e vôlei e um campo de futebol no meio da floresta.
Um dos hotéis de luxo brasileiros mais visitado por turistas de todo
o mundo, o Tropical das Cataratas tem tradição de hospedar reis,
príncipes (como a princesa Diana e o rei Juan Carlos da Espanha) e
caravanas de estrangeiros. É também bem menos caro do que
parece, pois os pacotes das agências de viagem chegam a diminuir
pela metade o preço das diárias afixado na recepção (Veja Nosso
Guia, na página...)
A cada dia, uma bandeira de um país é hasteada, homenageando a
procedência do maior grupo de turistas naquele momento
hospedados. À noite, os cassinos da Argentina e do Paraguai buscam
e trazem gratuitamente os hóspedes que quiserem jogar.
O hotel está intimamente ligado ao parque nacional, que, além de
ser o mais lucrativo do País, é o mais bem organizado. Uma das
8. maiores fontes de arrecadação de impostos em Foz do Iguaçu, foi
esse hotel que divulgou internacionalmente a beleza das cataratas,
tornando-as um dos principais destinos de quem quer conhecer o
Brasil. O hotel ajuda a conservar o parque e também reconstruiu as
rampas, passarelas e belvederes sobre as cachoeiras, destruídos
numa enchente em 1990.
A nova rede de tratamento de esgoto do Tropical das Cataratas, que
está para ser inaugurada, confere-lhe o ISO 14.000, referente a
empresas que não poluem o meio ambiente. O esgoto é filtrado e
seus elementos tóxicos são desativados em grandes tanques
biológicos subterrâneos (que ficam embaixo de um jardim), antes de
ele ser devolvido ao rio como água tratada. Esses biodigestores são
constituídos por camadas de pedras picadas (brita), em cuja
superfície se instalam bactérias capazes de digerir óleo e outros
produtos químicos, como água sanitária. O projeto desenvolvido
pelo Tropical das Cataratas tem capacidade para tratar o esgoto de
uma cidade de 30 mil habitantes e já está sendo considerado um
modelo.
Os hóspedes recebem uma carteirinha que lhes permite sair do
parque e voltar sem precisar pagar o ingresso. No próprio hotel
existe uma operadora de turismo que agenda excursões pelo lado
brasileiro das cachoeiras (passarelas e passeio do Macuco, com
trilha e botes infláveis sob as quedas), pelo lado argentino
(passarelas argentinas e Gran Aventura, com trilha e botes
pecorrendo o lado argentino das quedas, além de atividades radicais
como rapel em árvores e cachoeiras) e até passeio de helicóptero que
permite deslumbrantes e reveladoras visões do conjunto das
cachoeiras.
Os hóspedes também participam de atividades culturais como
conferências nos auditórios abordando a flora e a fauna das florestas
subtropicais atlânticas. Nas noites de lua cheia, o hotel promove,
com apoio do Ibama e da Polícia Florestal, que faz a segurança dos
grupos, passeios de lanterna pelas passarelas das cachoeiras. A
principal atração é justamente a lua, refletida nos abismos e no
espelho de água do rio, responsável por um dos mais belos
9. espetáculos da natureza à noite: os redondos arco-íris lunares que se
formam por causa da grande quantidade de gotículas de água no ar e
se refletem junto com a lua nas águas do Iguaçu.
À noite, a não ser nessas excursões, não é permitido andar no
parque, para evitar risco de ataque de animais. A estrada que entra
no parque também fica fechada para evitar que eles sejam
atropelados. Veados e até onças comumente cruzam a estrada nesse
período.
Por todo o parque, o contato com a natureza, as plantas e os
animais é constante. Embora a tentação seja grande, pois os quatis
que invadem os corredores externos do hotel chegam a puxar a barra
das calças dos turistas claramente pedindo alimento, os funcionários
do hotel e do parque explicam que não devemos dar nossa comida a
eles, pois isso quebra sua dieta de frutos, minhocas e insetos e acaba
fazendo-os atacar turistas para roubar doces e pipocas.
Parque é refúgio
da vida no continente
Ao longo de milhões de anos, as condições geográficas e
climáticas foram variando e criaram nos continentes fluxos de
migração de formas de vida que em alguns poucos pontos ficaram
preservadas de cataclismas, repovoando o continente depois. Os 185
mil hectares do Parque Nacional de Foz de Iguaçu, no oeste do
Paraná, são um desses refúgios, tão representativos para as florestas
como os mangues da Juréia, no litoral de São Paulo e Paraná, o são
para a vida marinha. O fato de estar num “corredor de vida”, vizinho
de áreas protegidas e pouco povoadas também no Paraguai e na
Argentina, faz do parque um museu vivo da flora e da fauna do
continente sul-americano.
Há cerca de 200 milhões de anos, a região era um inferno: esteve
por oito vezes coberta de lavas vulcânicas expelidas perto de
Curitiba. Há cerca de 120 milhões de anos, essas placas de basalto
10. endurecido acabaram curvando-se e rachando, formando uma falha
geológica na altura do Rio Paraná. Provavelmente uma onda de
terremotos se sucedeu, até que a falha, que avança pela Argentina, se
estabilizasse – embora ainda hoje se manifeste mais a oeste do
continente, como se pôde perceber este ano pelo terremoto numa
região quase deserta da Argentina, que foi sentido em São Paulo.
Os movimentos sísmicos alteraram a posição da rachadura por
onde o Rio Iguaçu espraiado se despeja, deslocando-a cerca de 25
quilômetros até a posição atual. Hoje o rio, que se alarga 4
quilômetros antes das quedas, aperta-se logo depois num estreito
cânion de 100 metros, com mais de 20 metros de profundidade que
ele mesmo esculpiu.
Toda essa movimentação, entretanto, é muito antiga, e têm
permitido condições muito favoráveis para a vida há pelo menos 100
milhões de anos, o que explica a grande quantidade de achados
arqueológicos e fósseis na região.
Foz do Iguaçu é também o local de afloramento da maior reserva
de água subterrânea de água doce do mundo, o Aquífero de Bauru,
que se estende desde São Paulo. A presença de grandes rios, como o
Iguaçu e o Paraná, além de inúmeros menores, garante água o ano
todo. A baixa altitude (170 metros) e a posição no interior do
continente garantem grandes contrastes de temperatura, constituindo
o clima subtropical chuvoso sem estação seca que deu condições ao
surgimento da floresta subtropical atlântica, adaptada a um inverno
mais rigoroso.
Situada num refúgio e num corredor biológico do continente, essa
floresta caracteriza-se pelo grande número de espécies que perdem
as folhas na estação fria (50% de suas árvores) e por grandes áreas
de coníferas, como os pinheiros-do-paraná.
As árvores, menores que as das florestas tropicais e equatoriais,
como a Amazônica, incluem espécies da Mata Atlântica, como a
embaúba e as palmeiras, além do jaracatiá e de várias espécies de
fícus, inclusive mata-paus (árvores que crescem sobre outras e as
sufocam), e cipós, como o escada-de-macaco, além de muitas
epífitas, como orquídeas (destacando-se a Miltonia flavescens, de
11. flores amarelas, endêmica do local), bromélias (como o gravatá e o
cravo-do-ar), filodendros (espécie de costelas-de-adão) e cactos de
floresta, como flores-de-maio, flores-de-outubro e damas-da-noite.
Essa é a única forma de adaptação dos cactos a ambientes úmidos,
pois suas raízes apodrecem se forem encharcadas e só sobrevivem
como aéreas, obrigando a planta a subir nas árvores.
A flor-de-outubro com flores em forma de estrela hoje vendida em
floriculturas de todo o mundo é nativa dessa região, onde hoje é rara,
embora tenha sido disseminada pelo homem e não corra risco de
extinção.
Por causa dos grandes rios, um mosaico de espécies de
ecossistemas diferentes abrigou-se no parque, desde plantas da Mata
Atlântica até espécies do Cerrado, como o açoita-cavalo e o
branquilho, passando pelas laranjeiras-do-mato, que se asselvajaram
a partir de laranjais trazidos da Pérsia pelos colonizadores
portugueses e que hoje nascem espontaneamente naquela área,
remetendo à sua versão mais azeda e primitiva (os frutos doces
vendidos atualmente nos mercados eram praticamente
desconhecidos na Antiguidade e no Renascimento, pois resultam de
um sem-número de cruzamentos e enxertias feitos pelo homem e só
foram disseminados com a mecanização do campo, a partir do
século passado). Também há muitas espécies nativas de bambu,
algumas capazes de fornecer mais álcool que a cana-de-açúcar.
A fauna, variadíssima, inclui mais de 340 espécies de aves, como
o macuco, o socó-boi-escuro, o gavião-de-cabeça-cinza, o gavião
pomba-grande, além de espécies migratórias como o falcãoperegrino, o maçarico-de-perna-amarela e a andorinha-do-sul.
Destacam-se os tucanos, com seus bicos coloridos, que ao longo de
milênios ou milhões de anos atravessaram os corredores biológicos
do País para lá chegar, e os guachos, que fazem ninhos pendurados
em palmeiras perto das casas das pessoas para fugir dos tucanos, que
lhes comem os ovos, mas têm medo de se aproximar de gente. Nas
reentrâncias de pedra debaixo das cachoeiras vive um pequeno
pássaro endêmico: o andorinhão-do-penhasco, que só existe lá e
poderia ser extinto se as cataratas fossem iluminadas à noite.
12. Esse passarinho marrom que parece uma andorinha faz os ninhos
debaixo da cachoeira porque tem uma saliva pegajosa com a qual
“cola” gravetos na rocha. Voador incansável, o andorinhão-dopenhasco não pára um só momento: está sempre caçando insetos e
até aranhas em suas teias. Embora o bico seja pequeno, sua boca é
enorme, desproporcional à cabeça quando aberta. Entre essas aves
que vivem onde as águas despencam, até a cópula é feita em pleno
vôo.
Os mamíferos são representados por mais de 40 espécies de
morcego, onças-pintadas, jaguatiricas, macacos-pregos, quatis,
catetos, queixadas, mucuras-de-quatro-olhos, antas, guaribas,
cachorros-vinagre, veados, lontras, ariranhas. Isso sem falar nas
mais de 60 espécies de répteis (jacarés, lagartos, serpentes) e
quelônios (tartarugas), nem nas 12 espécies de anfíbios, 18 de peixes
e milhares de insetos (entre eles, mais de 700 borboletas) que
ocorrem na região.
Quem visita o Parque Nacional da Argentina e gosta de ler
espanhol deve comprar, na lanchonete do parque, o livro Iguazú –
Las Leyes de la Selva, de Santiago G. de la Veja, ilustrado por
Gustavo R. Carrizo. No formato de uma revista Seleções, a obra,
muito bem impressa em quatro cores, divulga conceitos de botânica
e zoologia como se fosse um livro de aventuras. Custa barato: 8
pesos, que correspondem a R$ 16.
Brasil tem três
maravilhas do mundo
O Brasil tem três maravilhas do mundo e duas ficam uma pertinho
da outra: as Cataratas do Iguaçu, tombadas como patrimônio do
mundo pela Unesco e consideradas uma das sete maravilhas do
mundo natural; e a Hidrelétrica de Itaipu, tida como uma das sete
maravilhas do mundo moderno. A terceira maravilha brasileira que
também se destaca no mundo natural é a Baía da Guanabara. Seu
13. inesquecível desenho das montanhas no horizonte continua a
despertar emoções, apesar dos maus-tratos humanos.
A lista das maravilhas do mundo natural, feita por grandes
exploradores e viajantes, tem gerado polêmicas e não foi
definitivamente estabelecida. A lista mais divulgada inclui as
cataratas brasileiras, por muitos consideradas mais belas que suas
congêneres. Eis o ranking:
. o Monte Everest, na fronteira do Nepal com o Tibete,
. as Cataratas do Iguaçu, na fronteira entre o Brasil e a Argentina,
. o Grand Canyon do Rio Colorado, nos EUA,
. a Grande Barreira de Coral, na Austrália,
. as cavernas da França, como Lascaux, e da Espanha, como
Altamira, com suas pinturas pré-históricas,
. o Vulcão Paricutin, no México,
. a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.
Mesmo nas encliclopédias, entretanto, essa lista varia, e as três
grandes cataratas do mundo se revezam, com americanos preferindo
as suas Cataratas do Niágara (na divisa entre Estados Unidos e
Canadá) e africanos inclinando-se pelas de Vitória (na fronteira
entre Zâmbia e o Zimbábue) no lugar de Foz do Iguaçu. Mas a guia
Nuxa e o turista norte-americano Herbert David, que conhecem as
três, são unânimes: Foz é mais bonita. (Niágara é mais retilínea e
está descaracterizada por muitas intervenções, inclusive iluminação
noturna. E as Cataratas de Vitória, formadas pelo Rio Zimbábue,
um dos melhores do mundo para rafting, são menores: 1.700
metros).
Nuxa ressalva que, embora essas três cataratas sejam as maiores
em extensão, elas não são as mais altas, não ultrapassando a média
de 80 metros. A cachoeira mais alta do mundo, conta Nuxa, é o
Salto Angel, na Venezuela, que tem 979 metros. Fica no Parque
Nacional de Caraima.
Já o ranking das sete maravilhas do mundo moderno inclui apenas
as grandes obras de engenharia e a lista foi feita pela Associação
Norte-Americana de Engenheiros Civis (ASCE) por encomenda da
revista Popular Mechanics, que a publicou em dezembro de 1995.
14. As sete maravilhas da engenharia mundial continuam sendo
. a Hidrelétrica de Itaipu, a maior do mundo, na divisa do Paraná
com o Paraguai,
. a Ponte Golden Gate, em San Francisco (EUA),
. o Canal do Panamá, na América Central, ligando os Oceanos
Atlântico e Pacífico,
. o Eurotúnel, que liga a Inglaterra à França por baixo do Canal da
Mancha,
. os diques do Mar do Norte (Holanda), que contêm as águas do mar,
. o Edifício Empire State, em Nova York (EUA) e
. a Torre da Canadian National, em Toronto (Canadá).
Essas listas imitam o primeiro Guiness Book de grandiosidades,
feito pelo escritor grego Antípatros, no ano 240 antes de Cristo, na
cidade de Sídon, então Fenícia e hoje Líbano. Ele fez a lista das sete
maravilhas do mundo antigo que correu o mundo, só considerando
obras humanas de arte e engenharia:
. as Pirâmides de Gizé, no Egito, construídas em 2000 aC.,
. os Jardins Suspensos da Babilônia, erigidos em 1000 aC., na
Mesopotâmia como uma série de patamares ajardinados,
. A estátua de Zeus feita pelo escultor ateniense Fídias em 430 aC.,
na cidade grega de Olímpia,
. o Templo de Ártemis na cidade grega de Éfeso (corresponde à
deusa romana Diana),
. o Mausoléu de Halicarnasso, na Ásia Menor, túmulo do rei
Mausolo, da Anatólia,
. o Colosso de Rodes, gigantesca estátua de bronze construída no
porto da cidade grega de Rodes para comemorar o fim do cerco
militar a que a ilha esteve submetida por volta de 305 aC.,
. o Farol de Alexandria, no Egito, construído em 280 aC., por ordem
do rei Ptolomeu II.
HISTÓRIA DE FOZ DO IGUAÇU
Cabeça de Vaca: o
explorador que descobriu
15. as grandes cataratas
Elas já eram conhecidas havia milênios pelos índios do Sul do
Brasil, principalmente pelos guaranis, que as chamavam Iguaçu, isto
é, a grande água. Mas o primeiro europeu a avistar as Cataratas do
Iguaçu foi um dos maiores aventureiros da História: o explorador
espanhol Alvar Núñes Cabeza de Vaca (1490-1557), contemporâneo
de Cabral. Quase desconhecido no Brasil, e até em Foz do Iguaçu,
Cabeça de Vaca é mais conhecido no Paraguai, na Argentina (onde
dá nome a um dos 275 saltos das cataratas) e, principalmente, nos
Estados Unidos, pois esteve por lá oito longos anos antes de vir para
a América do Sul.
Tem ganhado constante atualidade nos EUA, onde é tema de
filmes, museus e sites na Internet, principalmente por causa de sua
experiência como feiticeiro indígena e precursor dos movimentos
pacifistas e da antropologia moderna.
Cabeça de Vaca era filho de nobres de Jerez de la Frontera, na
Espanha. A família ganhou esse estranho nome porque Martin
Alhaja, seu ancestral, sinalizou, em 1212, nas batalhas de Navas de
Tolosa, contra os árabes que então ocupavam a Península Ibérica,
uma passagem para as tropas com uma cabeça de vaca. Por isso
Jerez de la Frontera, a pequena vila fortificada perto de Sevilha que
traz em seu nome a lembrança de que um dia esteve entre o mundo
cristão e o árabe, é hoje cidade irmã de Foz do Iguaçu.
Mas a grande aventura de nosso herói começou em 1527, quando
ele veio para a América como tesoureiro de uma expedição para a
Flórida em busca de ouro. As cinco caravelas com 600 homens
chegaram à América Central, quando 150 homens desertaram. Dois
meses depois, quase todos os outros morriam no Golfo do México,
onde as últimas caravelas naufragaram numa tempestade perto do
Rio Mississipi, o que valeu para Cabeça de Vaca o apelido de El
Tormentoso. Os poucos que chegaram às praias foram atacados por
índios antropófagos.
Só Cabeça de Vaca e mais três tripulantes sobreviveram. Cabeça de
Vaca acabou escravo de um sábio pajé e, ao longo dos longos oito
16. anos em que esteve perambulando pelos EUA, do Texas até Sinaloa,
aprendeu muitas de suas artes e chegou a tornar-se curandeiro
também, sendo-lhe atribuída a ressurreição de uma jovem índia, o
que lhe valeu fiéis seguidores nativos.
Cabeça de Vaca, o conquistador conquistado, apaixonou-se pela
cultura dos índios e teria sido apenas mais um deles se não tivesse
sido resgatado pelos espanhóis em 1536, que o remeteram para a
Cidade do México, de onde voltaria para a Espanha em 1540.
Continuou ainda com a mesma idéia fixa que o acompanhava
quando perambulava nu e descalço pelas savanas americanas:
encontrar o Eldorado, a cidade de ouro.
Em 1541, conseguiu convencer a Corte espanhola a financiar-lhe
uma nova aventura nas Américas. Chefiou uma expedição de três
naves e 400 homens pelo Rio da Prata e pelo Paraguai, tornando-se
governador dessa região de 1542 a 1544. Foi nessa época, mais
precisamente em fevereiro de 1542, que Cabeça de Vaca
“descobriu” Foz do Iguaçu: descendo o Rio Iguaçu ao atravessar o
Estado do Paraná, sua expedição quase caiu nas cataratas, que foram
percebidas a tempo por causa do ruído estrondoso. Cabeça de Vaca
batizou-as de Saltos de Santa Maria.
Em pouco tempo, porém, sua postura diferente em relação aos
indígenas – foi um dos precursores das políticas de não-violência, ao
defender a integração pacífica – e as alianças que fazia com as tribos
acabaram indispondo-o com a Corte.
Acabou preso e levado de volta para a Espanha, onde também
despertava dúvidas na Santa Inquisição, o que lamentavelmente o
teria feito calar sobre sua experiência como xamã indígena. Em
1546, foi desterrado para Orã, até que o rei Felipe II o anistiou,
nomeando-o membro de um supremo tribunal em Sevilha, distrito a
que até hoje está subordinada a pequena Jerez de la Frontera. Lá
morreu em 1559, quando era prior de um convento.
Escreveu dois livros, contando sua experiência nos Estados Unidos,
na América Central e na América do Sul, que no Brasil foram
reunidos num só volume: Naufrágios e Comentários.
17. Itaipu: monumento
da engenharia moderna
é atração turística
Itaipu (“pedra que canta”, em guarani), a maior hidrelétrica do
mundo, é injustamente mais elogiada pelas mídias estrangeiras do
que pela brasileira. Aqui pesam contra ela as acusações de ter
destruído as Sete Quedas do Rio Paraná, um conjunto de dezenas de
cachoeiras espetacular, embora menos grandioso do que as Cataratas
do Iguaçu, que ficou submerso no grande lago de 1.350 quilômetros
quadrados contendo 29 bilhões de metros cúbicos de água, cuja
força aciona as turbinas de suas 18 unidades geradoras, cada uma
pesando 3.300 toneladas e capaz de gerar 12.600 mW – o
correspondente ao consumo de Estados como a Califórnia, nos
EUA. Dos 1.350 quilômetros quadrados ocupados pela represa, 770
mil km2 estão do lado brasileiro e 580 mil km2 estão do lado
paraguaio. Para construir a represa, que usou 15 vezes mais concreto
que o Eurotúnel, foi necessário mudar o curso do sétimo rio do
mundo, o Paraná, na fronteira entre o Brasil e o Paraguai, e remover
mais de 55 milhões de metros cúbicos de rocha.
O fato é que, passados mais de vinte anos de sua construção, a
grande produção de energia proporcionada pela hidrelétrica revelouse necessária para o País e hoje se pensa que seria até burrice ter tal
disponibilidade de água e não aproveitá-la. Hoje Itaipu fornece 25%
da energia consumida pelo Brasil e 80% da usada pelo Paraguai. O
sacrifício das Sete Quedas em nome do progresso é um pouco
aliviado pela existência de outros grandes espetáculos do mesmo
nível ainda praticamente não descobertos pela indústria turística, em
rios como o próprio Iguaçu. A 220 km de Foz do Iguaçu (80 deles
em estrada de terra), esse rio outra vez se abre em espetaculares
conjuntos de cataratas, tão extensas como as de Foz, embora menos
altas: são as Cataratas de Iucumã, na altura de Santa Catarina, na
fronteira com o Paraguai (as agências de turismo de Foz do Iguaçu
18. promovem excursões de turismo-aventura para esse local, ainda
inóspito).
O grandioso reservatório de Itaipu, que não tem a forma
tradicional de um lago, mas a de uma ramificada espinha de peixe
constituída por um trecho de vários km do Paraná e seus afluentes,
também submergiu propriedades, casas e vilas – e os moradores nem
sempre ficaram contentes com as novas terras oferecidas como
ressarcimento.
O fato é que a empresa Itaipu até hoje acompanha a vida daquelas
comunidades ribeirinhas e lhes ofereceu muito mais oportunidades
econômicas do que teriam sem a represa.
Para atender à população local e minimizar o impacto ambiental da
represa, Itaipu desenvolveu inúmeros projetos comunitários na
região, como trabalhos de conservação do solo, fornecimento de
água para irrigação, reservatórios comunitários e programas de
reciclagem de embalagens, além de ter criado o Ecomuseu (na
verdade um parque temático, com diversas atrações, como
importante acervo arqueológico, geológico, cultural, botânico e
faunístico da região) e importantes centros de pesquisa e referência
sobre a fauna e a flora locais.
Um deles é o Centro de Educação Ambiental, que divulga os
conceitos do uso sustentado da natureza nas escolas e entre a
população local. Outra iniciativa da hidrelétrica, a dos refúgios
reflorestados formados na faixa de proteção da represa, que ocupam
108.886 hectares, permitiu a volta de animais que já estavam quase
extintos na região antes da represa, por causa da atividade agrícola.
O centro de produção de mudas para reflorestamento já
reintroduziu 17 milhões de mudas de árvores nativas na região e tem
feito importantes pesquisas, como a da adaptação e introdução de
árvores que fornecem madeira de boa qualidade e crescem rápido.
Isso sem falar no criadouro de animais silvestres, que conseguiu
reproduzir em cativeiro animais hoje raros na região, que lá estão
sendo reintroduzidos.
O criadouro, que resgatou mais de 30 mil animais das áreas que
foram inundadas, atualmente reproduz animais nativos para
19. repovoamento da área e em 10 anos já multiplicou em cativeiro 347
animais de 29 espécies. Já chegou a ser notícia no exterior quando
seus técnicos e cientistas reconstituíram o bico quebrado de um
tucano usando novos e resistentes materiais feitos a partir de
mamona. Pesquisadores de Itaipu, do CNPq, do Ibama, da
Universidade Federal do Paraná e do Zoológico de Curitiba
conseguiram reproduzir em cativeiro espécies raras como o gato-domato-pequeno, o gato-maracajá, a jaguatirica e o veado-bororó (o
menor do Brasil com 45 cm de altura e 73 cm de comprimento), nas
margens brasileiras da represa. Nas margens paraguaias, excelentes
resultados estão sendo obtidos na reprodução do cachorro-do-matovinagre e do cervo-do-pantanal. São todos animais ameaçados de
extinção, assim como a anta, o jacaré-do-papo-amarelo e a araracanindé (que não era mais vista no Paraná desde 1986 e da qual já
nasceram oito exemplares em cativeiro para repovoamento).
Como resultado dessa ação continuada desde os anos 70 e do
fechamento das comportas, em 1982, a quantidade de espécies de
peixes presentes no Rio Paraná antes da represa aumentou de 113
espécies para 179. Hoje esse lago apresenta o melhor rendimento
para a pesca comercial em todo o Rio Paraná. Se antes da usina
havia apenas 113 pescadores cadastrados na região, hoje eles são
mais de 500, sem contar os ribeirinhos que são pescadores
esporádicos. Por ano, eles obtêm do rio cerca de 1.550 toneladas de
peixes como armado (chega a 8 quilos), corvina (2 quilos), mapará
(1 quilo), curimbatá (2 quilos), dourado (30 quilos), além de peixes
pequenos como cascudo e mandi.
Nas margens brasileiras da represa, foram identificadas 44
espécies de mamíferos e 305 de aves. No lado paraguaio, onde as
matas ainda não tinham sido tão devastadas pela atividade agrícola,
encontraram-se 62 espécies de mamíferos e 409 de aves. Espécies
raras ainda são vistas nessas florestas, como a onça-pintada, o
veado-bororó e o gavião-real, a maior ave de rapina da América do
Sul, depois do condor dos Andes e do urubu-rei.
Mais de 10 milhões de pessoas, de 70 países, já visitaram a
hidrelétrica que virou até tema de ópera feita por Phillip Glass. Os
20. interessados têm três opções de visita a Itaipu: a turística, que
permite vista externa panorâmica dos 8 km de extensão da usina,
com paradas em dois mirantes, a especial, que dá acesso às partes
externas e internas da usina, com paradas nos mirantes e no Edifício
de Produção, e a técnica, dirigida a engenheiros e estudantes, que
permite chegar até o eixo de uma turbina.
Além de fomentar a pesca, a criação do grande reservatório
também estimulou o turismo, as atividades de lazer e os esportes
náuticos na região, que tem oito praias (Sete lagoas, Santa
Terezinha, São Miguel, Santa Helena, Itaipulândia, Missal, Porto
Mendes e Pato Bragado) e várias bases para canoagem, pesca e jetski.
Natureza explode
em cores no Parque das Aves
Uma das grandes atrações de Foz do Iguaçu é o Parque das Aves –
Foz Tropicana, que fica na Avenida das Cataratas, a 300 metros da
entrada do Parque Nacional. Lá existem diversos viveiros
interligados que permitem o visitante percorrer uma trilha de mais
de mil metros dentro da mata nativa em contato direto com mais de
800 aves brasileiras e cerca de cem estrangeiras, pertencentes a 150
espécies.
A trilha segue por diferentes viveiros, separados por portas duplas,
permitindo estar com as aves em seus hábitats.
O Parque das Aves tem ainda borboletário, viveiro de beija-flores e
um setor de répteis, onde cobras e jacarés ficam a poucos metros
dods visitantes. O passeio todo dura cerca de uma hora e o parque
tem estacionamento, lanchonete e loja de souvenirs.
Quem quer um pouco mais de adrenalina e está disposto a viver
emoções fortes em contato com a natureza, entretanto, deve
aventurar-se ainda mais pelas atrações da região e fazer o Passeio do
Macuco, administrado há 13 anos pela empresa de navegação Ilha
do Sol.
21. Em carretas abertas puxadas por veículos 4x4, os visitantes
percorrem três quilômetros de mata fechada, acompanhados
por guias bilíngues e com paradas para observação de plantas e
animais. Depois andam 600 metros a pé numa trilha que conduz à
cachoeira chamada Salto do Macuco até chegar a um pequeno porto,
onde começa a Segunda fase da aventura, desta vez a bordo de um
barco inflável bimotor, que sobe corredeiras e chega à base das
cataratas. Um banho de aventuras, do qual todo mundo sai ensopado
(mesmo que use capa de chuva) e feliz, com as emoções dessa
montanha-russa aquática que passa literalmente por debaixo das
cataratas.
Outra opção é o Passeio Gran Aventura, no Parque Nacional da
Argentina, que também inclui trilhas, passarelas em dois níveis
diferentes da cachoeira e passeio em bote inflável pelo lado
argentino das cataratas, muito mais extenso que o brasileiro.
É justamente no lado argentino que se pode fazer um dos passeios
mais radicais da viagem: o Passeio Forest, que, numa área de
árvores centenárias da floresta, utiliza uma plataforma construída no
tronco de uma grande canafístula de mais de 20 metros de altura e
situada no alto de um morro como base de rapel: suspenso numa
corda, o turista “sobrevoa” os níveis superiores da floresta e têm
uma visão de como é viver em cima das árvores, como os macacos.
Mas o Forest não termina por aí, ao som dos gritos dos que
despencam das árvores num teleférico sem carrinho: outro
emocionante rapel é feito numa cachoeira da região.
Além da segurança dos turistas, os organizadores dessas aventuras
cuidam de um detalhe fundamental: o fornecimento de repelente
capaz de espantar as miríades de mosquitos que de uma hora para
outra aparecem na mata fechada.
Parque privatizado
Orçadas em R$ 30 milhões, as obras de revitalização do Parque
Nacional de Iguaçu, que tiveram início há poucos dias, estão sendo
22. feitas pela empresa Cataratas do Iguaçu, formado pelo Consórcio
Satis, que venceu a licitação feita em 1998, e deverão ser entregues
em duas etapas.
A primeira, prevista para ficar pronta em setembro, inclui a
construção do novo Centro de Visitantes do parque, que terá 3 mil
metros quadrados e terá posto de informações turísticas,
ambulatório, sala de projeção, espaço pra exposições, correio, posto
telefônico, banco, lanchonete e bilheterias. O ingresso ao parque
também deverá sofrer reajuste e irá dos atuais R$ 6 para cerca de R$
8.
Para evitar atropelamentos de animais, a entrada de carros no
parque deverá ser proibida também de dia (hoje a estrada só fica
fechada à noite). Os visitantes deverão deixar os carros num amplo
estacionamento com capacidade para 700 carros que está sendo
construído na entrada e serão levados até as cataratas por uma linha
de ônibus do parque.
Também faz parte da primeira etapa do projeto, orçada em R$ 10
milhões, a construção de um grande centro de convivência ao lado
das cataratas, com mirante e espaço para apresentações de música e
teatro. É nessa área que o Hotel Tropical das Cataratas está
programando um espetáculo musical no próximo Réveillon, que
marca a passagem do milênio.
A segunda fase, que deverá ser concluída em julho de 2001, prevê
a construção do Edifício Ambiental, a 3 km da entrada do parque –
um prédio de sete andares dedicado à educação ambiental. A
construção de dois novos mirantes e de um centro de exposições
também está prevista. O elevador que dá acesso ao mirante do Salto
Floriano também será reformado e irá até o andar de baixo, o que
facilitará o acesso dos deficientes.
Além da revitalização do parque, a Hidrelétrica de Itaipu também
passará por reformas que a tornarão ainda mais interessante. Estão
previstos a construção de um elevador panorâmico, um simulador de
viagens virtuais e um teleférico, além de um show noturno de luz e
som parecido com o que é apresentado nas pirâmides do Egito. O
espetáculo será montado na barragem e no vertedouro da usina e
23. contará com 50 canhões de luz. O espetáculo deve estrear em maio
de 2001, quando a usina completa 27 anos, e terá duração de 20
minutos. Para ver o show, os visitantes deverão pagar ingressos
entre R$ 10 e R$ 15.
A visita à hidrelétrica, que atualmente é grátis, também passará a
ser cobrada a partir de dezembro, segundo previsões da empresa. O
ingresso deve custar em torno de R$ 5.
SERVIÇO – DADOS NÃO ATUALIZADOS
Pacotes aéreos:
CVC San Martin
Viagens Costa
Pacote Rodoviário: ônibus com ar-condicionado, hospedagem em
hotel três-estrelas, visita às cataratas e à Hidrelétrica de Itaipu,
compras no Paraguai e um almoço - Pluma, tel. 0800-416565
ONDE FICAR
Hotel Tropical das Cataratas, Rodovia das Cataratas (Br 469), km
28, Parque Nacional do Iguaçu, tel. (0—45) 521-7000, e-mail
gegctr@tropicalhotel.com.br, home page www.tropicalhotel.com.br.
Hotel Bourbon Iguassu, Rodovia das Cataratas, km 2,5, tel (0—445)
523-1313, e-mail hbnigu@fnn.net, home page www.bourbon.com.br.
Hotel Colonial, tel. (0—45) 523-3136.
Hotel Foz do Iguaçu, Av. Brasil, 97, tel. (0—45) 523-4455, e-mail
hotelfozdoiguaçu@foznet.com.br.
ONDE COMER
Capitão Bar, Av. Jorge Schimmelpfeng, 288, Centro, tel. (0—45)
572-1512, home page www.capitaobar.com.br., bar e casual dinner,
coquetéis, petiscos, grelhados e sanduíches.
24. Zaragoza, Rua Quintino Bocaiúva, 882, Centro, tel. (0—45) 5743084, home page www.fnn.net/zaragoza, peixes, frutos do mar, carnes,
massas e aves. Especializado em comida espanhola.
Restaurante Itaipu, no Hotel Tropical das Cataratas, cozinha
internacional e churrascaria, self service e à la carte, Br 469, km 28,
Parque Nacional do Iguaçu, tel. (0—45) 521-7000.
As Portugálias, Av. das Cataratas, 569, cozinha portuguesa, tel. (0—
45) 572-3927.
PASSEIOS
Brasil
Turismo receptivo: Caribe Turismo, guichês no Aeroporto de Foz,
no centro da cidade e em hotéis como o das Cataratas, promove
excursões no Brasil e na Argentina, onde tem filial, a IGR, tel. em
Foz (0—45) 523-1230.
Parque Nacional do Iguaçu: Rodovia BR-469, km 11, Foz do
Iguaçu, tel. (0—45) 574-1697. Centro de Visitantes, museu,
lanchonetes, passeios monitorados pelas trilhas e Macuco Safári.
Das 8h00 às 18h00, ingressos a R$ 6.
Informações turísticas: Iguassu Convention & Visitors Bureau, tel.
(0—45) 523-0233, Av. Juscelino Kubitscheck, 469, sala 202, tel (0
—45) 523-0233, e-mail icvb@foznet.com.br, home page www.iguassu.com.br.
Macuco Safári de Barco: Rodovia das Cataratas, km 25, dentro do
Parque Nacional, de terça a domingo, das 9h às 17h30, segundasfeiras, de 13h30 às 17h30. As saídas são de 15 em 15 minutos e o
passeio dura cerca de duas horas. O barco tem capacidade para 27
pessoas e o passeio custa US$ 33. E-mail:
macucosafari@foznet.com.br. Home page:
www.macucosafari.com.br.
Parque das Aves: Rodovia das Cataratas, km 11, a 300 metros da
entrada do Parque Nacional. Ingressos a 16. Tel.: (0—45) 523-1007,
e-mail: birdparkfoz@foznet.com.br, home page: www.foztropicana.com.br.
25. Hidrelétrica de Itaipu: Avenida Tancredo Neves, 6.702, tel. (0—45)
520-6999, E-mail: rp@itaipu.gov.br, Home page: www.itaipu.gov.br.
Ecomuseu de Itaipu: Av. Tancredo Neves, 6.001, tel. (0—45) 5205817, E-mail: ecomuseu@itaipu.gov.br.
Passeio de helicóptero: Helisul Táxi Aéreo: Rodovia das Cataratas,
km 16,5, tel. (0—45) 523-8422, e-mail: helisul@foz.net. Vôos
panorâmicos a partir de US$ 60 por pessoa (10 minutos, mínimo de
tres passageiros).
Argentina
Parque Nacional Iguazú, Ruta Nacional, km 12, cobra US$ 5 o
ingresso mais cerca de US$ 3 por carro que entra no parque.
Cataratas argentinas: quatro passeios diferentes que incluem trilhas,
passarelas e barco que mergulha nas quedas (batismo nas cataratas) Iguazú Jungle Explorer, tel. (0—54) 421-600 (guichê do Hotel
Sheraton, no lado argentino). E-mail: iguazu@imsatl.com (sede da empresa,
no Parque Nacional Iguazú), preço: R$ 60 (33 dólares)
Rapel na floresta: Passeio Forest (rapel em árvores e cachoeira no
meio da mata) - Aguas Grandes, tel. (0--54) 757-31140 e (0--54)
757-21104, Calle Mariano Moreno, número 58, Puerto Iguazu,
Missiones, Argentina, preço: R$ 60 por pessoa (30 pesos). Os guias
entendem português e se comunicam bem com os turistas.