O poema descreve a relação entre um velho e seu neto. O velho sente que o neto agora o despreza por sua idade avançada, esquecendo que ele o criou e cuidou dele quando criança. O velho aconselha o neto a não desprezar os idosos, pois um dia ele também envelhecerá.
2. Você já foi criançaVocê já foi criança
um dia... mas os anosum dia... mas os anos
se dobraram ese dobraram e
fizeram de você umfizeram de você um
jovem, quase umjovem, quase um
adulto...adulto...
E agora você me olhaE agora você me olha
com certo desprezocom certo desprezo
só porque muitossó porque muitos
anos se dobraramanos se dobraram
para mim e hoje eupara mim e hoje eu
sou um velho...sou um velho...
3. Você observa minhasVocê observa minhas
mãos trêmulas emãos trêmulas e
encarquilhadas e seencarquilhadas e se
esquece que foram asesquece que foram as
primeiras a acariciarprimeiras a acariciar
as suas, inseguras naas suas, inseguras na
infância.infância.
Critica os meus passosCritica os meus passos
lentos, vacilantes,lentos, vacilantes,
esquecendo-se de queesquecendo-se de que
foram eles queforam eles que
orientaram seusorientaram seus
primeiros passos.primeiros passos.
4. Reclama quando lheReclama quando lhe
peço para ler umapeço para ler uma
palavra que meuspalavra que meus
olhos já nãoolhos já não
conseguemconseguem
vislumbrar comvislumbrar com
precisão, esquecidoprecisão, esquecido
das várias palavrasdas várias palavras
que eu repetique eu repeti
inúmeras vezesinúmeras vezes
para que vocêpara que você
aprendesse a falar.aprendesse a falar.
5. Fala da lentidão dasFala da lentidão das
minhas decisões,minhas decisões,
esquecendo-se deesquecendo-se de
que suas primeirasque suas primeiras
decisões foram pordecisões foram por
elas balizadas.elas balizadas. DizDiz
que eu sou um velhoque eu sou um velho
desatualizado, masdesatualizado, mas
eu confesso queeu confesso que
pensei muito poucopensei muito pouco
em mim, para fazerem mim, para fazer
de você um homemde você um homem
de bem.de bem.
6. Reclama da minhaReclama da minha
saúde debilitada,saúde debilitada,
mas creia muitomas creia muito
trabalho foi precisotrabalho foi preciso
para garantir a sua.para garantir a sua.
Ri quando nãoRi quando não
pronunciopronuncio
corretamente umacorretamente uma
palavra, mas eu lhepalavra, mas eu lhe
afirmo que esqueciafirmo que esqueci
de mim mesmo,de mim mesmo,
para que vocêpara que você
pudesse cursar umapudesse cursar uma
Universidade.Universidade.
7. Diz que não possuoDiz que não possuo
argumentosargumentos
convincentes emconvincentes em
nossos rarosnossos raros
diálogos, todavia,diálogos, todavia,
muitas foram asmuitas foram as
vezes que advogueivezes que advoguei
em seu favor nasem seu favor nas
situações difíceis emsituações difíceis em
que se envolvia.que se envolvia.
Hoje você cresceu...Hoje você cresceu...
É um moço robustoÉ um moço robusto
e a juventude lhee a juventude lhe
empolga as horas...empolga as horas...
8. Esqueceu sua infância,Esqueceu sua infância,
seus primeiros passos,seus primeiros passos,
suas primeiras palavras,suas primeiras palavras,
seus primeiros sorrisos...seus primeiros sorrisos...
Mas acredite tudo issoMas acredite tudo isso
está bem vivo naestá bem vivo na
memória deste velhomemória deste velho
cansado, em cujo peitocansado, em cujo peito
ainda pulsa o mesmoainda pulsa o mesmo
coração amoroso decoração amoroso de
outrora...outrora...
É verdade que o tempoÉ verdade que o tempo
passou, mas eu nem mepassou, mas eu nem me
dei conta...dei conta...
9. Só notei naqueleSó notei naquele
dia... naquele dia emdia... naquele dia em
que você me chamouque você me chamou
de velho pelade velho pela
primeira vez, e euprimeira vez, e eu
olhei no espelho...olhei no espelho...
Lá estava um velhoLá estava um velho
de cabelos brancos,de cabelos brancos,
vincos profundos navincos profundos na
face e certo ar deface e certo ar de
sabedoria que nasabedoria que na
imagem de ontemimagem de ontem
não existia.não existia.
10. Por isso eu lhe digoPor isso eu lhe digo
meu jovem, que omeu jovem, que o
tempo é implacável, etempo é implacável, e
um dia você tambémum dia você também
contemplará o espelhocontemplará o espelho
e perceberá que ae perceberá que a
imagem nele refletidaimagem nele refletida
não é mais a que hojenão é mais a que hoje
você admira...você admira...
Mas você sentirá queMas você sentirá que
em seu peito oem seu peito o
coração ainda pulsacoração ainda pulsa
no mesmo compasso...no mesmo compasso...
11. Que o afeto que vocêQue o afeto que você
cultivou não secultivou não se
desvaneceu...desvaneceu...
Que as emoçõesQue as emoções
vividas ainda podemvividas ainda podem
ser sentidas comoser sentidas como
nos velhos tempos...nos velhos tempos...
Que as palavrasQue as palavras
amargas ainda lheamargas ainda lhe
ferem com a mesmaferem com a mesma
intensidade...intensidade...
12. E que apesar dos longosE que apesar dos longos
invernos suportados,invernos suportados,
você não ficou friovocê não ficou frio
diante da indiferençadiante da indiferença
dos seres que embaloudos seres que embalou
na infância...na infância...
Por isso que eu lhePor isso que eu lhe
aconselho, meu filho:aconselho, meu filho:
Não ria nem blasfemeNão ria nem blasfeme
do estado em que eudo estado em que eu
estou eu já fui o queestou eu já fui o que
você é, e você será o quevocê é, e você será o que
eu sou...eu sou...
13. Aquele que desprezaAquele que despreza
seus velhos, é comoseus velhos, é como
galho que deixa ogalho que deixa o
tronco que o sustentatronco que o sustenta
tombar sem apoio.tombar sem apoio.
A ingratidão para comA ingratidão para com
os que nosos que nos
sustentaram nasustentaram na
infância é semente deinfância é semente de
amargura lançada noamargura lançada no
solo, para colheitasolo, para colheita
futura.futura.
14. Assim, façamosAssim, façamos
aos nossosaos nossos
velhos o quevelhos o que
gostaríamos quegostaríamos que
nos fizessemnos fizessem
quando a nossaquando a nossa
idade já estiveridade já estiver
bastantebastante
avançada.avançada.