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Estratégias mercadológicas e práticas de fãs a partir de ficções seriadas1
Maíra Bianchini dos Santos2
Ana Bandeira3
Giovana Santana Carlos4
Resumo
A proposta desta mesa temática é abordar as diferentes perspectivas que envolvem as
narrativas seriadas em relação às estratégias e práticas tanto do mercado como do público
fã, dando-se ênfase para os processos de produção, consumo e distribuição num contexto da
cultura da convergência. Para tanto, serão discutidas as estratégias das redes de TV que
produzem seriados norte-americanos, em especial da HBO, tendo a cultura digital como
cenário para a divulgação, marketing e distribuição de suas séries. Também serão
analisadas as respostas dos fãs frente a estas estratégias e neste contexto, além de suas
práticas de participação e interação enquanto formas de consumo. Por fim, apresentam-se
duas práticas de fãs de cultura pop japonesa, o fansubbing e o scanlation, pelas quais se
pode refletir sobre o fã como um produser – além de consumidor, também um produtor.
Palavras-chave
Consumo; Fã; Narrativas Seriadas; Produser.
Proposta da mesa temática
Este trabalho visa à apresentação e à discussão de diferentes pontos de vista sobre as
narrativas seriadas televisivas no contexto da cultura da convergência (Jenkins, 2008). O
foco nas narrativas seriadas televisivas justifica-se pela popularidade e alcance mundial que
1
Mesa temática apresentada no Eixo 3 – Comunicação Corporativa e Práticas de Consumo Online do VI Simpósio
Nacional da Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura, realizado de 06 a 08 de novembro de 2012.
2
Jornalista e Mestre em Comunicação Midiática pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Coordenadora da
mesa temática. E-mail: mairabianchini@gmail.com
3
Publicitária e Mestre em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). E-
mail: aninhapbandeira@gmail.com
4
Professora do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa. Mestre em Comunicação e Linguagens pela
Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). E-mail: giovanacarlos@hotmail.com.
estas produções
alcançaram desde fins dos anos 1990 e início dos anos 2000, de forma que, atualmente, as
séries de TV figuram entre os produtos de entretenimento que mais instigam o engajamento
do público, o que resulta em um número expressivo de manifestações artísticas e
apropriações de fãs, como fanfictions, fan vídeos, fan art, fansubbing, entre outras. As
diferentes perspectivas a serem discutidas incluem: a produção e a transmissão de séries de
TV, bem como o planejamento e a execução de estratégias de comunicação, no cenário
midiático da cultura ocidental, especificamente dos Estados Unidos; o envolvimento e a
interação dos consumidores com os produtos de entretenimento norte-americanos; e a
configuração das relações de consumo em um cenário midiático contrastante ao ocidental, a
partir de cases provenientes da cultura japonesa.
A circulação de conteúdo por meio de plataformas de mídia de função massiva e
pós-massiva (Lemos; Levy, 2010) e a participação ativa da audiência em redes digitais,
aspectos característicos do contexto midiático atual, representam uma mudança na lógica
comunicacional predominante durante a segunda metade do século XX. O fluxo de
informações centralizado e unidirecional, de ‘um para todos’, agora coexiste com a
circulação aberta e cooperativa de conteúdos e com as emissões descentralizadas realizadas
de ‘todos para todos’. Por esse motivo, torna-se necessária a adequação das mídias de
função massiva ao contexto em que as mídias são integradas, e as possibilidades de
interação do público com o conteúdo disponibilizado pelas empresas de entretenimento são
ampliadas.
Em um primeiro momento da mesa temática, pretende-se discutir de que forma as
redes televisivas, as quais produzem e exibem narrativas seriadas, se utilizam das
potencialidades da internet e das tecnologias de informação e comunicação para adequar
suas práticas ao cenário das redes digitais. Do ponto de vista estratégico, busca-se
compreender de que forma o meio televisivo procura adaptar-se e transformar-se com a
finalidade de persistir no ambiente midiático compartilhado com as novas mídias e
caracterizado por novas práticas de consumo. Parte-se da noção de estratégias
comunicacionais de Pérez (2006), para quem o conceito engloba a pré-elaboração
consciente da comunicação, tendo em vista alguns objetivos pré-estabelecidos, o contexto
político,
econômico, sociocultural e tecnológico em que ocorrem as interações simbólicas e as
possíveis decisões e/ou reações dos públicos consumidores, cujas ações e escolhas podem
favorecer ou prejudicar a realização desses objetivos.
Tendo em vista este aspecto, busca-se refletir sobre as estratégias comunicacionais
das redes televisivas a partir do estudo da rede premium HBO, cuja trajetória é abordada a
partir das considerações de Reeves, Rogers e Epstein (1996, 2002, 2006, 2007) sobre as três
eras da televisão norte-americana – a saber, TV I (de fins dos anos 1940 a meados dos anos
1970), TV II (da metade da década de 1970 ao início dos anos 1990) e TV III (do início dos
anos 1990 até meados dos anos 2000). Pretende-se também discutir as ações estratégicas da
HBO a partir da metade dos anos 2000, quando a emissora passa a atuar levando em
consideração as características e potencialidades do meio digital. As estratégias adotadas
pela HBO durante este período permitem identificar dinâmicas específicas que regem a
televisão na cultura da convergência, as quais indicam a emergência de uma quarta fase da
televisão, a era da TV IV.
Neste momento atual da produção televisiva norte-americana, vive-se um período
fértil em termos de narrativas seriadas. Mesmo ao se considerar somente os seriados, é
possível notar uma grande variedade de temas e de gêneros, com exemplos diversos como
os dramas Mad Men e Breaking Bad, a comédia Modern Family, os musicais Glee e Smash
e até os dramas médicos, como Grey’s Anatomy, sempre presentes na grade de
programação. A diversidade de oferta permite que exista pelo menos uma série com a qual
cada pessoa possa se identificar, fenômeno que ocorre cada vez com mais frequência, como
podemos perceber na intensa cobertura jornalística e amadora sobre estes produtos,
marcada pela multiplicação de blogs sobre séries, assim como na frequente ocorrência de
conversas em reuniões sociais ou no ambiente de trabalho sobre uma série ou seu episódio
mais recente.
Atualmente, também estão disponíveis várias formas possíveis de acompanhar um
seriado: pela TV aberta ou a cabo, por meio de coleções em DVD ou através do download
legal ou ilegal de episódios. E as transformações não ficam apenas no campo da exibição:
novas práticas
foram possibilitadas pela internet e incorporadas no cotidiano dos fãs, como a participação
em discussões em fóruns e comunidades online, a criação de blogs, enciclopédias virtuais
(de colaboração livre) ou sites dedicados a um seriado, o download e a legendagem de
episódios, entre outras. A internet não apenas facilitou o encontro e o contato de grupos que
compartilham as mesmas preferências como também proporcionou o acesso a diversas
informações e conteúdos sobre ídolos e produtos do entretenimento, aspecto que
incrementa a interação e a participação. Conforme Jenkins (2008) ressalta, os fãs de uma
série popular de televisão podem adquirir trechos de diálogos, resumir episódios, debater,
criar suas próprias produções artísticas e distribuir tudo esse conteúdo ao redor do mundo
via internet. Tal envolvimento irá resultar em uma experiência de consumo diferente
daquela característica durante a segunda metade do século XX, e é neste aspecto que a
discussão se concentra na segunda parte desta mesa temática.
No livro Textual Poachers, de 1992, Jenkins já diferenciava o ato de assistir
regularmente a uma série e ser fã dela, ao afirmar que a distinção entre as duas coisas é a
intensidade de envolvimento emocional e intelectual com o seriado, o estabelecimento de
uma espécie de comprometimento com o programa. Hoje, o público possui um rico cenário
no qual pode envolver-se intensamente (e constantemente) com as narrativas seriadas das
quais é fã, pois as redes televisivas investem cada vez mais no relacionamento e na
produção de conteúdo para seus consumidores mais engajados, ao criar extensões das
narrativas em episódios para a internet, desenvolver jogos de realidade alternativa, explicar
pontos complexos nos sites oficiais das séries, entre muitas outras estratégias.
Assim, o consumo de séries não está mais restrito ao meio televisivo e à frequência
semanal, ele transformou-se em uma experiência transmídia e praticamente constante. Para
Brooker (2004), isso significa que o consumo passou a ser mais participativo. Porém, existe
certo grau de tensão entre os fãs e os produtores de suas séries favoritas, a qual é comum e
normalmente intensifica-se quando os fãs consideram que seus desejos não estão sendo
atendidos. Para Jenkins (1992, p. 23), “a resposta dos fãs envolve não simplesmente
fascinação ou adoração, mas também frustração e antagonismo”. E quando uma série
assume um rumo que não é o desejado pelos seus fãs, a cultura participativa entra em cena.
Como resultado,
surgem expressões como a criação de textos próprios, ilustrações (fan fiction, fan arts) e
outras manifestações criativas, nas quais os consumidores desdobram o enredo do seriado
da maneira que consideram ideal.
O engajamento de fãs em relação a essas narrativas seriadas acaba, por muitas
vezes, pondo em questão o clássico padrão comunicacional na qual se opõem produtor, de
um lado, e consumidor do outro. A demanda por produtos e conteúdos midiáticos nem
sempre é correspondida pelo mercado, o que torna o fã, mais do que consumidor, um
produtor e distribuidor, isto é, um produser (Bruns, 2008). No caso do fandom de cultura
pop japonesa, aspecto abordado no terceiro e último momento da mesa temática, isso é
perceptível através das práticas de legendagem de audiovisuais (fansubbing), como as de
desenhos animados, telenovelas e séries, e da tradução e edição de história em quadrinhos
(scanlation). Ao realizar um trabalho que seria de distribuidoras e de editoras, o fã cria uma
realidade própria de produção, consumo e distribuição desses conteúdos, seja pela forma de
colaboração em rede, num contexto de inteligência coletiva (Lévy, 2010); seja pelo tipo
específico de economia que gera ao realizar um trabalho gratuito, chamado por Booth
(2008) de economia digi-gratis; seja pelo consumo diferenciado, uma vez que ao realizar
um trabalho “de fã para fã” alguns conteúdos são alterados para agradar o gosto desse
fandom, ao mesmo tempo em que o recria e o mantém.
Palestra 1 - Aspectos estratégicos das séries de TV norte-americanas no contexto das
redes digitais - Maíra Bianchini
Pretende-se discutir as narrativas televisivas seriadas, no contexto da cultura da
convergência (Jenkins, 2008), a partir da perspectiva estratégica das redes de TV
responsáveis pela produção e transmissão de seriados norte-americanos. Para isso, são
apresentadas as estratégias empregadas pela HBO desde o início dos anos 2000, quando a
emissora passa a considerar o cenário digital para a divulgação, o marketing e a distribuição
de suas séries (Rogers, Epstein e Reeves, 2002; Lotz, 2007). Tais estratégias apontam para
algumas das características da presente configuração televisiva, as quais incluem ações que
incentivam a participação ativa e a conversação entre os espectadores em redes digitais, o
fortalecimento da presença digital própria da emissora e a busca por plataformas
complementares de distribuição de conteúdo e por fontes adicionais de renda no contexto
da Cauda Longa.
Palestra 2 – Interação e cultura participativa no consumo de séries - Ana Paula
Bandeira
As práticas dos fãs de ficção seriada foram transformadas e potencializadas na
cultura digital, e a interação e a participação ocupam um lugar ainda mais importante neste
atual contexto (Jenkins, 1992 e 2008). Busca-se, assim, analisar e discutir as interações e
produções dos fãs enquanto formas de consumo, bem como refletir sobre o papel da cultura
participativa e de práticas como crítica e especulação (Baym, 1998), produção de memes e
paródias, entre outras, para que o consumo de séries passe de semanal e restrito ao meio
televisivo para constante e multiplataforma (Brooker, 2004), resultando em uma
experiência estendida. Considerando que muitas emissoras de TV estão hoje mais focadas
em seus fãs, planejando e desenvolvendo estratégias para mantê-los constantemente
envolvidos com seus produtos, também é importante refletir sobre como os fãs respondem a
estas estratégias e qual sua importância para esses grupos.
Palestra 3 - O fã como produser: consumo e produção de fãs da cultura pop japonesa
através do scanlation e do fansubbing – Giovana Santana Carlos
Pretende-se refletir sobre como práticas de fãs, em específico o scanlation e o
fansubbing sugerem paradigmas comunicacionais distintos de consumo e produção, nas
quais os fãs atuam como produsers. O termo descreve como alguém pode ser ao mesmo
tempo consumidor e produtor de algo, sem haver uma distinta clareza, ou linearidade, entre
essas etapas (Bruns, 2008). No fandom de cultura pop japonesa é nítida a importância do fã
como produser pois, como aponta Jenkins (2008), bens asiáticos chegaram ao Ocidente
tanto por iniciativas das indústrias midiáticas como pelas de fãs. Graças à internet e às
tecnologias digitais, através do scanlation (tradução e edição de HQs) e do fansubbing
(tradução e legendagem de audiovisuais) os fãs se organizam em grupos para realizarem
disponibilizarem os títulos para seus pares, gerando algumas especificidades que serão
analisadas.
Referências bibliográficas
BANDEIRA, Ana Paula. “Don't tell me what I can't do!”: as práticas de consumo e
participação dos fãs de Lost. Dissertação de Mestrado em Comunicação Social, PUCRS,
Fac. de Comunicação Social. Porto Alegre, 2009.
BAYM, Nancy. Talking About Soaps: communicative practices in a computermediated fan
culture. In: HARRIS, Cheryl; ALEXANDER, Alison. Theorizing Fandom: fans, subculture
and Identity. Cresskill: Hampton Press, 1998. p. 111-129
BIANCHINI, Maíra dos Santos. ‘Não é TV’ – Estratégias Comunicacionais da HBO no
Contexto das Redes Digitais. Dissertação de Mestrado em Comunicação Midiática pela
Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, 2011.
BROOKER, Will. Living on Dawson’s Creek: teen viewers, cultural convergence and
television overflow. In: ALLEN, Robert C.; HILL, Annete (eds.). The Television Studies
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______________. Television out of time: watching cult shows on download. In:
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COPPA, Francesca. A Brief History of Media Fandom. In: HELLEKSON, Karen; BUSSE,
Kristina. (eds.) Fan Fiction and Fan Communities in the Age of the Internet. Carolina do
Norte: McFarland, 2006. p. 41-59
EPSTEIN, Michael M.; REEVES, Jimmie L.; ROGERS, Mark C. Surviving ‘The Hit’:
Will The Sopranos Still Sing for HBO? In: LAVERY, David (org). Reading The Sopranos:
Hit TV from HBO. Londres/Nova York: I. B. Tauris, 2006. p. 15-26.
GITLIN, Todd. Mídias Sem Limite: como a torrente de imagens e sons domina nossas
vidas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
JENKINS, Henry. Textual Poachers: television fans & participatory culture. Nova York:
Routledge, 1992.
______________. Fans, Bloggers, and Gamers: exploring participatory culture. Nova
York: New York University Press, 2006.
______________. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2008.
JOHNSON, Derek. The fictional institutions of Lost: world building, reality, and the
economic possibilities of narrative divergence. In: PEARSON, Roberta (ed.). Reading
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LEMOS, André; LÉVY, Pierre. O Futuro da Internet: Em Direção a uma Ciberdemocracia
Planetária. São Paulo: Paulus, 2010.
LOTZ, Amanda. The Television Will Be Revolutionized. Nova York: New York University
Press, 2007.
PÉREZ, Rafael
Alberto. Estrategias de Comunicación. 3ª edição. Barcelona: Editora Ariel, 2006.
REEVES, Jimmie L.; ROGERS, Mark C.; EPSTEIN, Michael M. Quality Control: The
Daily Show, the Peabody and Brand Discipline. In: MCCABE, Janet; AKASS, Kim (orgs).
Quality TV: Contemporary American Television and Beyond. Londres/Nova York: I. B.
Tauris, 2007. p. 79-97.
_____________________________________________________. Rewriting Popularity:
The Cult Files. In: LAVERY, David; HAGUE, Angela; CARTWRIGHT, Marla. Deny All
Knowledge: Reading The X-Files. Nova York: Syracuse University Press, 1996. p. 22-35.
ROGERS, Mark C.; EPSTEIN, Michael M.; REEVES, Jimmie L. The Sopranos as HBO
Brand Equity: The Art of Commerce in the Age of Digital Reproduction. In: LAVERY,
David (org). This Thing of Ours: Investigating The Sopranos. Nova York: Columbia
University Press, 2002, p. 42-57.

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Estratégias mercadológicas e práticas de fãs a partir de ficções seriadas

  • 1. Estratégias mercadológicas e práticas de fãs a partir de ficções seriadas1 Maíra Bianchini dos Santos2 Ana Bandeira3 Giovana Santana Carlos4 Resumo A proposta desta mesa temática é abordar as diferentes perspectivas que envolvem as narrativas seriadas em relação às estratégias e práticas tanto do mercado como do público fã, dando-se ênfase para os processos de produção, consumo e distribuição num contexto da cultura da convergência. Para tanto, serão discutidas as estratégias das redes de TV que produzem seriados norte-americanos, em especial da HBO, tendo a cultura digital como cenário para a divulgação, marketing e distribuição de suas séries. Também serão analisadas as respostas dos fãs frente a estas estratégias e neste contexto, além de suas práticas de participação e interação enquanto formas de consumo. Por fim, apresentam-se duas práticas de fãs de cultura pop japonesa, o fansubbing e o scanlation, pelas quais se pode refletir sobre o fã como um produser – além de consumidor, também um produtor. Palavras-chave Consumo; Fã; Narrativas Seriadas; Produser. Proposta da mesa temática Este trabalho visa à apresentação e à discussão de diferentes pontos de vista sobre as narrativas seriadas televisivas no contexto da cultura da convergência (Jenkins, 2008). O foco nas narrativas seriadas televisivas justifica-se pela popularidade e alcance mundial que 1 Mesa temática apresentada no Eixo 3 – Comunicação Corporativa e Práticas de Consumo Online do VI Simpósio Nacional da Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura, realizado de 06 a 08 de novembro de 2012. 2 Jornalista e Mestre em Comunicação Midiática pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Coordenadora da mesa temática. E-mail: mairabianchini@gmail.com 3 Publicitária e Mestre em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). E- mail: aninhapbandeira@gmail.com 4 Professora do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa. Mestre em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). E-mail: giovanacarlos@hotmail.com.
  • 2. estas produções alcançaram desde fins dos anos 1990 e início dos anos 2000, de forma que, atualmente, as séries de TV figuram entre os produtos de entretenimento que mais instigam o engajamento do público, o que resulta em um número expressivo de manifestações artísticas e apropriações de fãs, como fanfictions, fan vídeos, fan art, fansubbing, entre outras. As diferentes perspectivas a serem discutidas incluem: a produção e a transmissão de séries de TV, bem como o planejamento e a execução de estratégias de comunicação, no cenário midiático da cultura ocidental, especificamente dos Estados Unidos; o envolvimento e a interação dos consumidores com os produtos de entretenimento norte-americanos; e a configuração das relações de consumo em um cenário midiático contrastante ao ocidental, a partir de cases provenientes da cultura japonesa. A circulação de conteúdo por meio de plataformas de mídia de função massiva e pós-massiva (Lemos; Levy, 2010) e a participação ativa da audiência em redes digitais, aspectos característicos do contexto midiático atual, representam uma mudança na lógica comunicacional predominante durante a segunda metade do século XX. O fluxo de informações centralizado e unidirecional, de ‘um para todos’, agora coexiste com a circulação aberta e cooperativa de conteúdos e com as emissões descentralizadas realizadas de ‘todos para todos’. Por esse motivo, torna-se necessária a adequação das mídias de função massiva ao contexto em que as mídias são integradas, e as possibilidades de interação do público com o conteúdo disponibilizado pelas empresas de entretenimento são ampliadas. Em um primeiro momento da mesa temática, pretende-se discutir de que forma as redes televisivas, as quais produzem e exibem narrativas seriadas, se utilizam das potencialidades da internet e das tecnologias de informação e comunicação para adequar suas práticas ao cenário das redes digitais. Do ponto de vista estratégico, busca-se compreender de que forma o meio televisivo procura adaptar-se e transformar-se com a finalidade de persistir no ambiente midiático compartilhado com as novas mídias e caracterizado por novas práticas de consumo. Parte-se da noção de estratégias comunicacionais de Pérez (2006), para quem o conceito engloba a pré-elaboração consciente da comunicação, tendo em vista alguns objetivos pré-estabelecidos, o contexto
  • 3. político, econômico, sociocultural e tecnológico em que ocorrem as interações simbólicas e as possíveis decisões e/ou reações dos públicos consumidores, cujas ações e escolhas podem favorecer ou prejudicar a realização desses objetivos. Tendo em vista este aspecto, busca-se refletir sobre as estratégias comunicacionais das redes televisivas a partir do estudo da rede premium HBO, cuja trajetória é abordada a partir das considerações de Reeves, Rogers e Epstein (1996, 2002, 2006, 2007) sobre as três eras da televisão norte-americana – a saber, TV I (de fins dos anos 1940 a meados dos anos 1970), TV II (da metade da década de 1970 ao início dos anos 1990) e TV III (do início dos anos 1990 até meados dos anos 2000). Pretende-se também discutir as ações estratégicas da HBO a partir da metade dos anos 2000, quando a emissora passa a atuar levando em consideração as características e potencialidades do meio digital. As estratégias adotadas pela HBO durante este período permitem identificar dinâmicas específicas que regem a televisão na cultura da convergência, as quais indicam a emergência de uma quarta fase da televisão, a era da TV IV. Neste momento atual da produção televisiva norte-americana, vive-se um período fértil em termos de narrativas seriadas. Mesmo ao se considerar somente os seriados, é possível notar uma grande variedade de temas e de gêneros, com exemplos diversos como os dramas Mad Men e Breaking Bad, a comédia Modern Family, os musicais Glee e Smash e até os dramas médicos, como Grey’s Anatomy, sempre presentes na grade de programação. A diversidade de oferta permite que exista pelo menos uma série com a qual cada pessoa possa se identificar, fenômeno que ocorre cada vez com mais frequência, como podemos perceber na intensa cobertura jornalística e amadora sobre estes produtos, marcada pela multiplicação de blogs sobre séries, assim como na frequente ocorrência de conversas em reuniões sociais ou no ambiente de trabalho sobre uma série ou seu episódio mais recente. Atualmente, também estão disponíveis várias formas possíveis de acompanhar um seriado: pela TV aberta ou a cabo, por meio de coleções em DVD ou através do download legal ou ilegal de episódios. E as transformações não ficam apenas no campo da exibição:
  • 4. novas práticas foram possibilitadas pela internet e incorporadas no cotidiano dos fãs, como a participação em discussões em fóruns e comunidades online, a criação de blogs, enciclopédias virtuais (de colaboração livre) ou sites dedicados a um seriado, o download e a legendagem de episódios, entre outras. A internet não apenas facilitou o encontro e o contato de grupos que compartilham as mesmas preferências como também proporcionou o acesso a diversas informações e conteúdos sobre ídolos e produtos do entretenimento, aspecto que incrementa a interação e a participação. Conforme Jenkins (2008) ressalta, os fãs de uma série popular de televisão podem adquirir trechos de diálogos, resumir episódios, debater, criar suas próprias produções artísticas e distribuir tudo esse conteúdo ao redor do mundo via internet. Tal envolvimento irá resultar em uma experiência de consumo diferente daquela característica durante a segunda metade do século XX, e é neste aspecto que a discussão se concentra na segunda parte desta mesa temática. No livro Textual Poachers, de 1992, Jenkins já diferenciava o ato de assistir regularmente a uma série e ser fã dela, ao afirmar que a distinção entre as duas coisas é a intensidade de envolvimento emocional e intelectual com o seriado, o estabelecimento de uma espécie de comprometimento com o programa. Hoje, o público possui um rico cenário no qual pode envolver-se intensamente (e constantemente) com as narrativas seriadas das quais é fã, pois as redes televisivas investem cada vez mais no relacionamento e na produção de conteúdo para seus consumidores mais engajados, ao criar extensões das narrativas em episódios para a internet, desenvolver jogos de realidade alternativa, explicar pontos complexos nos sites oficiais das séries, entre muitas outras estratégias. Assim, o consumo de séries não está mais restrito ao meio televisivo e à frequência semanal, ele transformou-se em uma experiência transmídia e praticamente constante. Para Brooker (2004), isso significa que o consumo passou a ser mais participativo. Porém, existe certo grau de tensão entre os fãs e os produtores de suas séries favoritas, a qual é comum e normalmente intensifica-se quando os fãs consideram que seus desejos não estão sendo atendidos. Para Jenkins (1992, p. 23), “a resposta dos fãs envolve não simplesmente fascinação ou adoração, mas também frustração e antagonismo”. E quando uma série assume um rumo que não é o desejado pelos seus fãs, a cultura participativa entra em cena.
  • 5. Como resultado, surgem expressões como a criação de textos próprios, ilustrações (fan fiction, fan arts) e outras manifestações criativas, nas quais os consumidores desdobram o enredo do seriado da maneira que consideram ideal. O engajamento de fãs em relação a essas narrativas seriadas acaba, por muitas vezes, pondo em questão o clássico padrão comunicacional na qual se opõem produtor, de um lado, e consumidor do outro. A demanda por produtos e conteúdos midiáticos nem sempre é correspondida pelo mercado, o que torna o fã, mais do que consumidor, um produtor e distribuidor, isto é, um produser (Bruns, 2008). No caso do fandom de cultura pop japonesa, aspecto abordado no terceiro e último momento da mesa temática, isso é perceptível através das práticas de legendagem de audiovisuais (fansubbing), como as de desenhos animados, telenovelas e séries, e da tradução e edição de história em quadrinhos (scanlation). Ao realizar um trabalho que seria de distribuidoras e de editoras, o fã cria uma realidade própria de produção, consumo e distribuição desses conteúdos, seja pela forma de colaboração em rede, num contexto de inteligência coletiva (Lévy, 2010); seja pelo tipo específico de economia que gera ao realizar um trabalho gratuito, chamado por Booth (2008) de economia digi-gratis; seja pelo consumo diferenciado, uma vez que ao realizar um trabalho “de fã para fã” alguns conteúdos são alterados para agradar o gosto desse fandom, ao mesmo tempo em que o recria e o mantém. Palestra 1 - Aspectos estratégicos das séries de TV norte-americanas no contexto das redes digitais - Maíra Bianchini Pretende-se discutir as narrativas televisivas seriadas, no contexto da cultura da convergência (Jenkins, 2008), a partir da perspectiva estratégica das redes de TV responsáveis pela produção e transmissão de seriados norte-americanos. Para isso, são apresentadas as estratégias empregadas pela HBO desde o início dos anos 2000, quando a emissora passa a considerar o cenário digital para a divulgação, o marketing e a distribuição de suas séries (Rogers, Epstein e Reeves, 2002; Lotz, 2007). Tais estratégias apontam para algumas das características da presente configuração televisiva, as quais incluem ações que incentivam a participação ativa e a conversação entre os espectadores em redes digitais, o fortalecimento da presença digital própria da emissora e a busca por plataformas complementares de distribuição de conteúdo e por fontes adicionais de renda no contexto da Cauda Longa.
  • 6. Palestra 2 – Interação e cultura participativa no consumo de séries - Ana Paula Bandeira As práticas dos fãs de ficção seriada foram transformadas e potencializadas na cultura digital, e a interação e a participação ocupam um lugar ainda mais importante neste atual contexto (Jenkins, 1992 e 2008). Busca-se, assim, analisar e discutir as interações e produções dos fãs enquanto formas de consumo, bem como refletir sobre o papel da cultura participativa e de práticas como crítica e especulação (Baym, 1998), produção de memes e paródias, entre outras, para que o consumo de séries passe de semanal e restrito ao meio televisivo para constante e multiplataforma (Brooker, 2004), resultando em uma experiência estendida. Considerando que muitas emissoras de TV estão hoje mais focadas em seus fãs, planejando e desenvolvendo estratégias para mantê-los constantemente envolvidos com seus produtos, também é importante refletir sobre como os fãs respondem a estas estratégias e qual sua importância para esses grupos. Palestra 3 - O fã como produser: consumo e produção de fãs da cultura pop japonesa através do scanlation e do fansubbing – Giovana Santana Carlos Pretende-se refletir sobre como práticas de fãs, em específico o scanlation e o fansubbing sugerem paradigmas comunicacionais distintos de consumo e produção, nas quais os fãs atuam como produsers. O termo descreve como alguém pode ser ao mesmo tempo consumidor e produtor de algo, sem haver uma distinta clareza, ou linearidade, entre essas etapas (Bruns, 2008). No fandom de cultura pop japonesa é nítida a importância do fã como produser pois, como aponta Jenkins (2008), bens asiáticos chegaram ao Ocidente tanto por iniciativas das indústrias midiáticas como pelas de fãs. Graças à internet e às tecnologias digitais, através do scanlation (tradução e edição de HQs) e do fansubbing (tradução e legendagem de audiovisuais) os fãs se organizam em grupos para realizarem disponibilizarem os títulos para seus pares, gerando algumas especificidades que serão analisadas. Referências bibliográficas BANDEIRA, Ana Paula. “Don't tell me what I can't do!”: as práticas de consumo e participação dos fãs de Lost. Dissertação de Mestrado em Comunicação Social, PUCRS, Fac. de Comunicação Social. Porto Alegre, 2009. BAYM, Nancy. Talking About Soaps: communicative practices in a computermediated fan culture. In: HARRIS, Cheryl; ALEXANDER, Alison. Theorizing Fandom: fans, subculture and Identity. Cresskill: Hampton Press, 1998. p. 111-129 BIANCHINI, Maíra dos Santos. ‘Não é TV’ – Estratégias Comunicacionais da HBO no Contexto das Redes Digitais. Dissertação de Mestrado em Comunicação Midiática pela Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, 2011.
  • 7. BROOKER, Will. Living on Dawson’s Creek: teen viewers, cultural convergence and television overflow. In: ALLEN, Robert C.; HILL, Annete (eds.). The Television Studies Reader. Londres: Routledge, 2004. p. 569-579 ______________. Television out of time: watching cult shows on download. In: PEARSON, Roberta (ed.). Reading LOST: perspectives on a hit television show. Londres: I. B. Tauris, 2008. p. 53-78 BRUNS, Axel. Blogs, wikipedia, second life, and beyond – from production to produsage. Nova York: Peter Lang Publishing, 2008. COPPA, Francesca. A Brief History of Media Fandom. In: HELLEKSON, Karen; BUSSE, Kristina. (eds.) Fan Fiction and Fan Communities in the Age of the Internet. Carolina do Norte: McFarland, 2006. p. 41-59 EPSTEIN, Michael M.; REEVES, Jimmie L.; ROGERS, Mark C. Surviving ‘The Hit’: Will The Sopranos Still Sing for HBO? In: LAVERY, David (org). Reading The Sopranos: Hit TV from HBO. Londres/Nova York: I. B. Tauris, 2006. p. 15-26. GITLIN, Todd. Mídias Sem Limite: como a torrente de imagens e sons domina nossas vidas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. JENKINS, Henry. Textual Poachers: television fans & participatory culture. Nova York: Routledge, 1992. ______________. Fans, Bloggers, and Gamers: exploring participatory culture. Nova York: New York University Press, 2006. ______________. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2008. JOHNSON, Derek. The fictional institutions of Lost: world building, reality, and the economic possibilities of narrative divergence. In: PEARSON, Roberta (ed.). Reading LOST: perspectives on a hit television show. London: I. B. Tauris, 2008. p. 29-52. LEMOS, André; LÉVY, Pierre. O Futuro da Internet: Em Direção a uma Ciberdemocracia Planetária. São Paulo: Paulus, 2010. LOTZ, Amanda. The Television Will Be Revolutionized. Nova York: New York University Press, 2007.
  • 8. PÉREZ, Rafael Alberto. Estrategias de Comunicación. 3ª edição. Barcelona: Editora Ariel, 2006. REEVES, Jimmie L.; ROGERS, Mark C.; EPSTEIN, Michael M. Quality Control: The Daily Show, the Peabody and Brand Discipline. In: MCCABE, Janet; AKASS, Kim (orgs). Quality TV: Contemporary American Television and Beyond. Londres/Nova York: I. B. Tauris, 2007. p. 79-97. _____________________________________________________. Rewriting Popularity: The Cult Files. In: LAVERY, David; HAGUE, Angela; CARTWRIGHT, Marla. Deny All Knowledge: Reading The X-Files. Nova York: Syracuse University Press, 1996. p. 22-35. ROGERS, Mark C.; EPSTEIN, Michael M.; REEVES, Jimmie L. The Sopranos as HBO Brand Equity: The Art of Commerce in the Age of Digital Reproduction. In: LAVERY, David (org). This Thing of Ours: Investigating The Sopranos. Nova York: Columbia University Press, 2002, p. 42-57.