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Janeiro/Fevereiro 2010 Edição1
     Janeiro 2010 Número 0 Número 0 Edição1




                ECO da Voz di Paz
cu

          
                                                     Boletim Informativo
                                                      Boletim Informativo




                                      Auscultação da Diáspora




                                                               Editorial………….. p.4

                                                               Auscultação da
                                                               Diáspora em
                                                               Lisboa…………….. p.4
         Artigos de interesse especial:
                                                               Depoimento
         • Programa Pesquisa‐Acção «Voz di Paz» ...p.2         «Em nome da
                                                               Paz»………………… p.6
         • Vozes da Diáspora – 1ª Escuta                       Documentário
            Voz di Paz ………………………….…………………..p.5                 «Voz di Povo»… p.8
          
                                                               Ecos de Paz……… p.12
         • Conferência «Os conflitos na Guiné‐Bissau: 
            da génese às soluções possíveis ………….…p.11
ECO da Voz di Paz       Boletim Informativo
                                                                                                       Página 3


                                 Programa Pesquisa-Acção «Voz di Paz»
                                                                                            Fafali Koudawo
                                 Iniciativa «Voz di Paz» (VdP): o
      Fases do Programa          que é e o que pretende?                 implementação técnica; Espaços
         «Voz di Paz»            O que tolhe a instauração de uma        Regionais de Diálogo integrados por
                                 paz duradoira na Guiné-Bissau? Como     grupos de cidadãos escolhidos em
 1) Diálogo sobre as causas      aproximar os Guineenses desavindos      função do seu comprometimento ao
 de conflitos que permita        por anos de inextricáveis contendas?    serviço da paz, da sua influência e
 realizar uma profunda e         Como promover e enraizar uma            sua experiência na resolução de
 alargada auscultação das        cultura de paz ao serviço da            conflitos.   Estes     respondem     a
 populações      sobre   os      cidadania e do desenvolvimento?         exigências     de     idoneidade     e
 obstáculos à paz; O pro-
                                 Estas     questões   alicerçam     a    representatividade da diversidade
 duto desta fase é a
 definição      de     uma       intervenção     do   Programa    de     nacional,        actuando        como
 genealogia e geografia dos      Pesquisa-Acção para a Consolidação      embaixadores da paz, servindo de
 conflitos no país;              da Paz, denominado Voz di Paz.          elo de ligação com as populações na
                                                                         base, com vista ao enraizamento
 2)   Consultas sobre as         Objectivos e estruturas:                durável do processo de consolidação
 soluções apropriadas às         O balanço catastrófico da evolução      da     paz.     Enquanto     inovação
 causas     de   conflitos       do país depois da guerra civil de       concebida por Voz di Paz, o Espaço
 identificadas;
                                 1998-99 é um dos motivos da criação     Regional de Diálogo é o motor da
                                 do programa, que tira a sua             apropriação de Voz di Paz pelas
 3) Apoio à implemen-
 tação das soluções de paz
                                 pertinência da urgente necessidade      populações. A Voz di Paz recorre
 consensualmente                 de instaurar um diálogo alargado        também a Grupos multidisciplinares
 delineadas pelo processo        entre os guineenses, pois os maiores    de     trabalho,    integrados     por
 participativo.                  conflitos nos últimos anos foram        especialistas e pessoas recurso.
                                 engendrados pelo défice de diálogo.
      Processo actual            Assim, entre outros objectivos, a Voz   Princípios e abordagem:
                                 di Paz visa:                            A Voz di Paz recorre a uma
Depois da criação de espaços
regionais de diálogo em
                                 - Criar um quadro de diálogo            abordagem largamente participativa
2007, a Voz di Paz ouviu os      nacional e desenvolver um processo      baseada      em      três     princípios
Guineenses em 2008 e 2009        inclusivo para identificar as causas    fundamentais:      a     inclusividade,
sobre os obstáculos à paz e      profundas de conflitos recorrentes no   entendida como a garantia da não
identificou as temáticas mais    país;                                   exclusão de nenhuma componente
candentes de conflitos.          -    Contribuir   para    reduzir   a   nacional, como forma de promover e
O diálogo procede para a
realização de um consenso
                                 degradação das relações entre           assegurar a participação dos actores
nacional sobre o produto das     comunidades, regiões e actores          sócio-políticos e económicos-chaves,
escutas, pois falar com os       sócio-políticos;                        das populações em geral e de todas
guineenses de todos os           - Contribuir para criar um ambiente     as regiões, fazendo atenção à sua
bordos e em todos os lugares     propício à prevenção e gestão de        especificidade nos conflitos e na
é o objectivo da Voz di Paz.     conflitos;                              construção de soluções pacíficas; a
Ouvir falar os guineenses é o
                                 - Reforçar as capacidades locais e      pesquisa participativa, orientada
método escolhido pela VdP
para penetrar nos cantos         nacionais de diálogo para reduzir os    para a resolução de conflitos, como
mais recônditos dos ditos e      riscos de conflitos e estimular a       base de um processo de reflexão
não ditos da sociedade           procura     de   soluções    duráveis   para a edificação de uma paz
guineense. Fazer falar os        baseadas na pesquisa participativa;     durável      fundada       no     pleno
guineenses por si, entre si      - Desenvolver lições e ferramentas      conhecimento das causas, dos
sobretudo,     sem    receio,    práticas para a consolidação da paz
reservas, nem tabus, é a via
                                                                         actores e das soluções adaptadas às
trilhada pela Voz di Paz para
                                 na Guiné-Bissau e na subregião.         realidades nacionais; a apropriação
instaurar      um     diálogo                                            nacional promovida como um
conducente ao reencontro         Para levar a cabo a sua tarefa, a Voz   processo de internalização da
pacífico dos corações e sua      di Paz dotou-se das seguintes           identificação dos problemas, da
adesão aos ideais de uma         estruturas: Comité de Orientação,       construção      de     soluções,      da
cultura de paz no país.          órgão investido da missão de dar uma    implementação       das     estratégias
                                 caução política e moral; Comité de      conducentes ao aprofundamento da
                                 Pilotagem, concebida como célula de     cultura de paz.
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                                                                ECO da Voz di Paz     Boletim Informativo




               EDITORIAL                    Auscultação da Diáspora em Lisboa
                                            Fafali Koudawo e Filomena Tipote
           «ECO DA VOZ DI POVO»
                                                A iniciativa de realizar            da diáspora radicada em
  A palavra está no centro do processo                                              Portugal. Em terceiro lugar,
  de consolidação da paz promovida              sessões de escuta na diáspora
                                                em Novembro de 2009 nasceu          associar ao processo de
  pela Voz di Paz. Palavra dita, que                                                consolidação da paz os
  pode aliviar o peso dos problemas             do encontro, da contingência
                                                e da necessidade. Primeiro a        guineenses radicados em
  geradores de conflitos. Palavra
  ouvida      que      pode      dissipar       necessidade de escutar todos        Portugal     tornou-se     uma
  incompreensões       nutridoras      de       os guineenses em virtude do         necessidade para pôr fim ao
  contendas. Palavra trocada que                princípio de inclusividade que      sentimento de isolamento
  pode amenizar relações azedadas               visa associar ao processo de        desta     mais      importante
  por um défice de diálogo. A                   consolidação da paz todas as        comunidade guineense além
  centralidade da palavra faz da Voz
                                                partes de eventuais conflitos,      fronteiras cujos membros
  di Paz uma caixa de ressonância.                                                  dizem “Nós fazemos acender
  Ressonância       das      frustrações                                            muitos fogões na Guiné, mas
  acumuladas ao longo de décadas por                                                nunca somos tidos nem
  populações que pouco tiveram
                                                                                    achados na discussão dos
  direito à palavra livre. Ressonância
  dos anseios de gente que espera
                                                                                    assuntos nacionais, nem nas
  falar, com as suas próprias palavras,                                             eleições cujo rosto mudaria
  do seu passado, presente e futuro,                                                com a nossa participação.”
  evocando      seus     problemas      e                                           No entanto, ouvir a comu-
  perspectivando      suas     soluções.                                            nidade      guineense       em
  Ressonância da voz do povo. Assim,                                                Portugal     não      respondia
  a Voz di Paz não é nada mais do que                                               apenas a uma vontade de
  o eco da Voz di Povo. Ela não                                                     debelar um sentimento de
  pretende ser a voz do povo, pois              Auscultação da diáspora em Lisboa   isolamento. Este exercício
  este é dono da sua própria fala que
                                                e todos os cidadãos em todas        permitia valorizar o poten-
  é    soberana.     Ela    aspira    ser
  humildemente, mas fielmente, um               as    partes    do    conjunto      cial de construção da paz de
  eco, na nobre acepção de repetição            nacional ponderando critérios       uma comunidade que tem
  idêntica do som da fala do povo.              como a idade, o género, a           entre outras vantagens, uma
  Para este fim, a Voz di Paz, que faz          etnia, a religião, a profissão,     dupla      experiência      das
  largamente      apelo    aos     meios        a categoria sócio-profissional      realidades     guineenses     e
  audiovisuais na sua metodologia,
                                                etc.    Este    esforço    para     portuguesas;      Um      olhar
  cria este novo órgão para levar longe                                             distanciado     e     objectivo
  a voz do povo. O seu nome,
                                                promover     a    inclusividade
                                                ficaria incompleto se não           sobre       os       problemas
  predestinado, é Eco. Eco, como                                                    nacionais; Uma capacidade
  retorno fiel da fala do povo. Eco             tivesse sido estendido à
                                                diáspora     guineense      que     de contribuir na procura de
  como expansão em novos horizontes
  das ondas de paz originadas pelo              cresce numericamente e de-          soluções originais graças a
  povo. Eco como repercussão dos                sempenha um papel cada vez          uma vivência enriquecida
  actos de paz, portadores de                   mais importante na vida da          pela      experiência        da
  sementes de um futuro manso. O                nação. Em segundo lugar veio        emigração; Uma vontade de
  Eco da Voz di Paz será porta-voz da           a contingência. Ela impul-          mudar um país natal cujas
  Voz do Povo. Aquela Voz que
                                                sionou a concretização dos          turbulências      e     imagem
  aproxima os guineenses, os faz                                                    internacional têm sido um
  comungar nos ideais da paz, e ressoa
                                                primeiros passos da aplicação
                                                do princípio da inclusividade       pesadelo para as comu-
  aos ouvidos dos seus amigos como                                                  nidades     radicadas     além
  uma     renovada      mensagem       de       na diáspora. Numa estada de
                                                uma delegação da Voz di Paz         fronteiras; Um desejo de ser
  irmandade.
                                                em Lisboa, os contactos             útil na mudança positiva do
              Fafali Koudawo                    mantidos     com     elementos      país para possibilitar um
                                                muito activos na comunidade         regresso mais fácil e mais
             Director Pesquisa                  guineense tornaram possível a       feliz à Guiné-Bissau.
               «Voz di Paz»                     concretização rápida de uma
                                                primeira iniciativa de escuta
                                                                                                     
ECO da Voz di Paz       Boletim Informativo
                                                                                                               Página 5


                               Vozes da Diáspora – 1ª Escuta Voz di Paz
                                                                            Fafali Koudawo e Filomena Tipote

                                               mundo está numa era que coloca       senhor     Amândio     Fernandes
                                               maior ênfase a estes factores        disse-nos: “Estamos a sofrer na
                                               tidos como os verdadeiros            diáspora mas guardamos o
                                               sustentos do desenvolvimento;        nosso muito orgulho... Embora,
                                               - A não valorização das potencia-    na Guiné-Bissau não somos
                                               lidades naturais que são os          tidos nem achados, fazemos
                                               trunfos do país; A má governação     acender muitos fogões.” A
                                               que é julgada crónica e              degradação e mesmo a inversão
         Sr. Amândio Fernandes                 responsável pela má rentabi-         dos valores foram criticadas
                                               lização dos recursos humanos e       pelo     senhor    Victor    Hugo
                                               naturais;                            Teixeira, que declarou que “O
                                                                                    grande mal da Guiné é o
                                               - A pobreza considerada como         ilusionismo,      a       ambição
                                               um escândalo gerado pela má          desmedida. O guineense quer
                                               governação e espelhado pelo          ser rico a todo o custo sem
                                               lastimoso estado das infra-          fazer nada.” O amiguismo e o
                                               estruturas do país, o alastra-       nepotismo tão vilipendiados
                                               mento da fome etc.;                  pelos auscultados e sintetizado
                                               - A impunidade como fruto da         por Aladje Balde na partícula
    Auscultação da diáspora – Bairro                                                “de”: “Na Guiné-Bissau tudo
                                               má governação e geradora da
          Padre Cruz, Lisboa                                                        funciona à volta do “de”: amigo
                                               recorrente violência; A corrup-
                                               ção, enquanto uma das vertentes      de, filho de, cunhado de,
                                               da má governação e causa de          militante de... A competência
                                               pobreza;                             não é valorizada. Ela importa
                                                                                    pouco.”         Todas        estas
                                               - A herança da luta de libertação    características que fazem a
                                               nacional como factor da cultura      natureza atípica do país foram
                                               de violência e de instabilidade      somadas no ditado: “A Guiné-
                                               política sustentada pela classe      Bissau é o único país onde o
                                               militar;                             macaco sobe o limoeiro”,
                                               - A etnicidade, o tribalismo e o     referido pelo senhor Ernesto
          Sr. Aladje Baldé                                                          Correia     Seabra,    ironizando
                                               regionalismo como causas do
                                               enfraquecimento da nação;            sobre a falta de autoridade do
                                                                                    Estado cujas espinhas (leis) já
A voz da diáspora é plural como                - A cidadania fundada na
                                                                                    não chegam a impedir as
as     suas    origens    sociais,             participação   e    na     respon-
                                                                                    barbaridades      de     cidadãos
habilitações, experiências na                  sabilização como garantes da
                                                                                    indelicados.
Guiné      e    da     emigração,              boa governação; a emigração
motivações, tendências políticas,              como oportunidade de procurar        Na hierarquização das maiores
perspectivas de vida etc. As                   uma vida melhor, mas também          causas de conflitos na Guiné-
vozes da diáspora ouvidas no dia               visto como sofrimento induzido       Bissau,      os    participantes
28 de Novembro de 2009 em                      pela ausência e as vicissitudes da   destacaram o enfraquecimento
Lisboa tiveram tonalidades várias              vida do desterrado no meio de        do Estado e a má governação, a
sobre as realidades nacionais                  desafios de um mundo adverso e       pobreza, a má administração da
lidas através do prisma do tempo               também como incerteza face aos       justiça,    a   corrupção,     a
que passou e da distância que                  reptos do regresso à terra natal.    instabilidade     política     e
separa. Os temas mais abordados                                                     institucional, a herança mal
                                               Entre as declarações recolhidas,
pelos intervenientes foram:                                                         gerida da luta de libertação
                                               destacamos      as     seguintes:
                                                                                    nacional e a erosão dos valores
- A insuficiente valorização do                Referindo-se à vida de emigrante
                                                                                    positivos.
conhecimento e da competência                  que se sente injustamente
na Guiné-Bissau enquanto o                     excluído do convívio nacional, o
                                                                                                        
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Depoimento do jornalista guineense Waldir Araújo,
um dos organizadores da 1ª iniciativa «Voz di Paz»
em Lisboa
                        «Em nome da Paz»
Desde o primeiro contacto, o       guineense em Portugal e não só,
assunto despertou a minha          que se afirmam marginalizados em
atenção. O Programa Voz di         termos    de    participação   em
Paz, depois de um longo            assuntos relacionados com o país.
período    de    pesquisa   no     Diria mesmo que ao longo dos
terreno, nas mais longínquas       anos, a diáspora guineense tem
regiões e tabankas da Guiné-       vindo a sentir-se como que “posta
Bissau,    pretendia     agora,    de lado” pelos decisores políticos
escutar a voz dos que estão        e pela esfera influente em torno
fora do país, na diáspora,         da
sobre a mesma questão: razões                                                      Waldir Araújo,
que estarão na génese dos                                                        jornalista e escritor
conflitos no país e possíveis
soluções. O meu colega de                                                  Privilégio de fazer parte da
profissão e amigo pessoal                                                  Comissão Organizadora de um
Helmer Araújo fez-me saber                                                 encontro que durante dois
que o Professor Fafali Koudawo                                             dias – 27 e 28 de Novembro
e a drª Filomena Tipote                                                    de 2009 - escutou as
estariam interessados em falar                                             preocupações, a dor, a
connosco para nos apresentar                                               angústia e a esperança dos
o projecto e informar das                                                  que, embora fora do país,
                                                 Helmer Araújo
intenções       quanto        à                                            vivem e acompanham atenta-
organização de um eventual         da qual gravita o poder que tem         mente cada pulsar da sua
encontro com a comunidade          gerido os destinos da Guiné-Bissau      pátria.
guineense em Portugal.             nos últimos tempos. Ademais, a
                                   possibilidade de divulgar um            Tive a oportunidade de
O primeiro encontro prendeu-       trabalho de pesquisa de fundo e         constatar o interesse com que
me logo ao projecto. A             através do qual tomar consciência       os guineenses em Portugal
iniciativa, liderada por estas     do que pensa o povo guineense           acompanharam                 o
duas personalidades a quem         sobre as razões dos constantes          participativo        encontro.
reconheço      grande    mérito,   conflitos que tem atrasado o país,      Encontro durante o qual
despertou a minha atenção por      pareceram-me motivos mais do            tiveram oportunidade de,
vários     motivos.    Primeiro,   que suficientes para motivar o          viva voz, dar o seu parecer, o
porque      enquanto    cidadão    meu envolvimento no encontro            seu contributo sobre o tema
guineense na diáspora entendo      que se realizou em Lisboa. Tive o       em causa. E ficou também
que a distância nunca poder                                                explícita a intenção de
ser vista como motivo de                                                   acompanhar      os    próximos
abstenção ou discriminação de                                              passos    deste    ousado    e
alguém que queira tomar parte                                              louvado Programa que quis
em projectos ou programas                                                  escutar quem quase nunca
que têm como objectivo                                                     tem oportunidade de se fazer
encontrar soluções, apontar                                                ouvir.
rumos para um futuro airoso                                                Porque todos, fora ou dentro,
que todos almejam para o seu                                               fazemos parte deste povo
país. Outrossim, enquanto                                                  cuja voz não se pode calar.
jornalista, não raras vezes                                                Em nome da paz.
escutei     os    lamentos   de
                                       Auscultação da Diáspora em Lisboa
elementos da comunidade                                                                         
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Conferência «Os conflitos na Guiné-Bissau:
da génese às soluções possíveis»
                                             Bissau: da génese às soluções
      Que conflitos...
                                             possíveis”.     Esta      sessão
      Que soluções?                          congregou      estudiosos     da
 São vários os caminhos para                 Guiné-Bissau e de Portugal,
 responder à lancinante inter-               cidadãos      guineenses       e
 rogação sobre as causas da                  descendentes, assim como
 crónica intranquilidade na Guiné-           parceiros e amigos da Guiné-
 Bissau. A Voz di Paz privilegia a           Bissau. Os debates, por vezes
 escuta directa de todos os                  acesos, foram estimulados por
 actores, da base ao topo. Mas, ela          palestras    proferidas    pelos
 recorre também a fóruns de                  professores universitários -
 reflexão e debate.                          Eduardo Costa Dias, Fafali
                                             Koudawo e Álvaro Nóbrega,
 Neste sentido, o primeiro evento
                                             quadros guineenses activos em
 protagonizado pela Voz di Paz em
                                             Portugal - Romualda Fernandes
 Lisboa foi uma conferência
                                             e João Conduto Júnior - que
 intitulada: “Conflitos na Guiné-
                                             deram outros contributos para
                                             as discussões, moderadas por
                                             António Pacheco, Rosalie Dias
                                             Fernandes e Mamadu Ba.
                                             Esta conferência, realizada
                                             com o apoio financeiro do
                                             Ministério     de      Negócios
                                             Estrangeiros    da    Finlândia,
                                             contou ainda com a parceria
                                             da Câmara Municipal de
                                             Lisboa. Estiveram presentes na
                                             abertura     diversas     perso-
                                             nalidades, com destaque para
                                             Domingos     Simões     Pereira,
                                             Secretário Executivo da CPLP e
                                             Constantino Lopes, Embai-
                                             xador da Guiné-Bissau em
                                             Portugal.


                                             Documentário «Voz di Povo»
                    

                                         recolhendo vozes das populações        intranquilidade que afecta as
                                         dos mais recônditos lugares do         populações. Nada escapou à
                                         país. Trata-se da soma de              perspicácia do povo que se
                                         imagens e vozes verdadeiras,           exprimiu ao longo dos 9 meses de
                                         directas e simples, de pessoas         auscultação    concentrados     no
                                         autênticas na expressão diversi-       documentário. Os guineenses da
                                         ficada das suas realidades e           diáspora comungaram os senti-
                                         experiências. O documentário           mentos que escoavam de palavras
                                         serviu de ponto de entrada na          ditas com paixão, tristeza, ânimo,
                                         auscultação da diáspora em             desilusão, esperança, alegria,
A Voz di Povo é um documentário          Lisboa a 28 de Novembro de 2009,       indignação, lucidez, nostalgia,
de 52 minutos, extraído de mais          provocando reacções contrastadas       pesar, frustração, humor... mas
de 300 horas de gravações                à medida que se ouviam os teste-       sempre com um olhar posto no
realizadas em 2008 na Guiné,             munhos dos diversos tipos de           futuro que se espera de paz.
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                                                              ECO da Voz di Paz     Boletim Informativo




           QUESTÕES:
                                     Ecos de Paz            Joacine Katar Moreira

  O que lhe motivou a estar          Os Ecos de Paz são vozes dos filhos     tenham voz sobre o destino do
  presente na Conferência e          da Guiné-Bissau que querem chegar       país. A metodologia participativa
  Auscultação organizada pela        à terra amada, à terra sagrada da       do Programa de pesquisa-acção
  Voz di Paz (VdP) em Lisboa?
                                     sua maternidade.                        Voz di Paz, sendo inclusiva, incita
  Em que medida pensa que a          Os Guineenses auscultados na            à partilha de ideias, à discussão de
  VdP pode efectivamente             diáspora (Portugal) não perderam a      pontos de vista, e põe em causa
  contribuir para a consolidação     oportunidade de se expressarem          receios antigos e novos medos que
  da paz na Guiné-Bissau?
                                     sobre aquilo que mais afecta as suas    ameaçam a paz no país.
  Concorda com os obstáculos à       vivências e a sua experança num         Temos nesta edição, testemunhos
  paz identificados pela VdP         futuro de Paz: a Guiné-Bissau, o seu    de guineeses que reflectem, tanto
  aquando da auscultação dos         país natal, a sua fonte de              quanto as sentem, as experiências,
  guineenses na Guiné?
                                     referência.   Porque     todos   nós    por vezes dolorosas, que o país
  Quais são para si os três          sabemos de onde viemos, mais do         atravessa. A Esperança é porém
  principais obstáculos à paz na     que para onde vamos.                    um sinal comum em todas as
  Guiné-Bissau?                      A situação de instabilidade que tem     palavras, em todos os desejos de
  É importante a auscultação da      marcado a história recente do país,     regresso. Regresso este por demais
  diáspora? Porquê?                  exige que a participação tenha          adiado mas sempre presente nos
                                     lugar, que os cidadãos guineenses       seus quotidianos.

      «O Encontro de Lisboa proporcionou um espaço de reflexão séria e fecunda»

 «Encontrava-me em Lisboa para                 indicados pelo projecto a partir da
 participar em provas académicas e             auscultação     na     Guiné-Bissau,
 como já ouvira falar do Voz di Paz,           revelam um quadro complexo de
 aquando do anúncio da sua criação,            questões intrincadas. A auscultação
 não quis perder a oportunidade de             revela, ainda, que a população, no
 um contacto mais directo com o                campo e na cidade, tem um
 projecto e com a equipa. Em matéria           conhecimento profundo dos males
 de consolidação da paz na Guiné-              de que padece a sociedade
 Bissau, penso que o VdP representa,           guineense. O Encontro de Lisboa
 de momento, o único projecto                  proporcionou um espaço de reflexão
 efectivamente pensado, estruturado,           séria e fecunda, uma oportunidade
 empreendido e cujos resultados                singular para a diáspora de juntar a
 constituem já matéria para reflexão           sua Voz a este projecto em prol da
 fundamentada. Os obstáculos à Paz,                                                               Zaida Pereira
                                               consolidação da paz na Guiné.»
                                                                                             Professora universitária

«O excesso de impunidade é preocupante, as perseguições e a indisciplina»

                                   «Acho importante participar e ouvir      questão da justiça, ou melhor da
                                   tudo o que se refere ao meu país         injustiça. O excesso de impunidade
                                   Guiné-Bissau. O Programa Voz di Paz      é preocupante, as perseguições e a
                                   é um contributo muito importante         indisciplina,   assim     como    a
                                   para o que de bom podemos fazer          honestidade que não existe no seio
                                   pelo país e eu dei o meu depoimento      do governo. O governo deve deixar
                                   porque quero fazer parte da              de ser refém das Forças Armadas. A
                                   solução. Louvei desde logo esta          diáspora deve contribuir com toda a
                                   iniciativa e o desenvolvimento do        força porque é um elemento
                                   Programa. O principal obstáculo          constituinte do povo da Guiné-
                                   para a consolidação da paz no país,      Bissau e a sua ausência no processo
                                   e também o mais falado pelos             de auscultação dos guineenses
  Ernesto Seabra, 49 anos,         guineenses nas auscultações é a          significaria o fracasso total deste
   Operador de máquinas                                                     trabalho.»
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           «O governo deve fazer da diáspora uma aliada»

 «Com a «Voz di Paz» consegue-se                   A falta de separação dos poderes
 ouvir efectivamente o povo guineense              político, militar e judicial e o
 e isso é muito importante para se                 analfabetismo são dois grandes
 entender do que realmente se queixa               obstáculos à paz. Outra questão
 e o que procura o povo. É um passo                que me parece muito importante
 para consolidação da paz. Concordo                é a necessidade urgente de
 com os obstáculos identificados pelas             saneamento básico na Guiné-
 auscultações. Penso que cada um                   Bissau.
 deve ocupar o seu lugar e cada um                 A auscultação da diáspora é viável
 deve organizar o seu trabalho e o                 se tivermos o direito ao voto. O
 trabalho ao qual foi submetido,                   governo deve fazer da diáspora
 deixando as outras pastas serem                   uma aliada. A diáspora e o mundo
 lideradas por quem de direito: deve               precisam de sinais mais concretos
 haver    limites  e    controlo    na             da estabilidade do país para poder          Kadidja Monteiro,
 governação.                                       dar respostas.»                             29 anos, jornalista

  «A problemática herança da luta armada, as décadas de deficiente governação
   e a pobreza»

                                          «O que me motivou a estar             aponto os seguintes: A pro-
                                          presente foi o dever de cidadania     blemática herança da luta armada,
                                          e a inquestionável qualidade da       as    décadas     de    deficiente
                                          equipa da Voz di Paz.                 governação e a pobreza.
                                          O programa Voz di Paz, sendo          A auscultação da diáspora é
                                          uma auscultação com amostra que       importante,      sem      dúvida!
                                          revela o sentimento de todos os       Infelizmente, a parte melhor
                                          guineenses, e não só: em todos os     esclarecida     da     sociedade
                                          lugares do território; vai com        guineense encontra-se fora do
                                          certeza contribuir em grande          território nacional, e apesar de
                                          medida, para a consolidação da        tudo, participa de forma intensa,
                                          paz    no   país.   Quanto     aos    no dinamismo económico do
                                          obstáculos à paz na Guiné-Bissau,     país.»
          Flaviano Mindela,
       42 anos, artista plástico

                          «O documentário “Voz di Povo" superou as minhas expectativas»
                                           «Sempre acreditei na vontade dos      O Programa Voz di Paz é
                                           guineenses em mudar o cenário         importante se continuar a
                                           crítico dos últimos anos e sempre     envolver as diferentes franjas
                                           confiei que um dia iríamos            sociais guineenses na procura de
                                           contornar a situação com esforço      soluções    para    resolver    os
                                           de todos os guineenses e amigos       problemas e promovendo a
                                           da Guiné-Bissau. Por isso tenho       cultura    de    diálogo     como
                                           participado sempre que possível       mecanismo essencial para a
                                           em todas as actividades ligadas ao    identificação e resolução das
                                           meu país. O documentário “Voz di      questões que nos unem. A
                                           Povo"     superou    as    minhas     diáspora guineense é parte da
                                           expectativas, pois pude constatar     solução ou até do problema,
                                           os verdadeiros percursos para         atendendo à ligação com o país e
         Telmo Correia, 31 anos,           conseguirmos uma Guiné-Bissau         influência      sobre       vários
      Estudante de Engenharia Civil        que sempre sonhamos. jjjjjjj          aspectos.»
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                                                           ECO da Voz di Paz      Boletim Informativo



«Trata-se de um assunto que interessa aos guineenses, visto
que mantemos um laço forte com as nossas origens»
                                  «Estive presente na conferência         a qualidade única de dar expressão
                                  devido ao interesse pelo trabalho       ao diversificado tecido social que
                                  que está a ser desenvolvido no          compõe o país. Na minha opinião, os
                                  âmbito deste programa, e perceber       principais obstáculos são a ausência
                                  como posso participar no mesmo.         de um sistema judicial eficiente,
                                  Trata-se de um assunto que              falta de seriedade na esfera
                                  interessa aos guineenses, visto que     governamental do país, e falta de
                                  mantemos um laço forte com as           sentido de responsabilidade cívica.
                                  nossas origens. O entendimento dos
                                  problemas      que     impedem      o    A diáspora, embora muitas vezes
                                  desenvolvimento da Guiné-Bissau é       não tenha uma voz activa, está
                                  importante na medida em que tendo       interessada num regresso ao país.
                                  um diagnóstico preciso, torna-se         Daí que exista todo o interesse em
                                  mais fácil resolver estas questões.     contribuir positivamente com a
                                  O Programa Voz di Paz tem ainda         experiência e perspectiva que
          Adelina Barbosa Cunha                                           adquiriu vivendo no exterior.»
            60 anos, doméstica

    «A auscultação da diáspora é importante, mas falta o voto»

«Participei por concordar com a            auscultação são na sua maioria
Metodologia da Voz di Paz. Os              partilhada pelos guineenses na
espaços regionais de diálogo               Guiné e na diáspora. O que tem
podem ser uma forma de                     de nos preocupar neste momento
estabilidade para os conflitos             é    encontrarmos     forma     de
existentes na Guiné-Bissau, na             contornar estes obstáculos de
medida em que criam uma                    forma sustentada e pacífica. A
estrutura próxima das bases. É             auscultação    da    diáspora    é
uma ferramenta que o próprio               importante, mas falta o voto. A
governo não tem. O ideal seria             diáspora     deve    ser     parte
que a VdP e os espaços regionais           integrante    da    política.    A
de       diálogo     trabalhassem          instabilidade é que tem impedido
juntamente com o governo no                muitos guineenses de regressar
propósito da consolidação da Paz.          ao país.»                                     Honurmel Menezes, 35 anos,
Os obstáculos identificados na                                                            gestor do desenvolvimento

                     «Este programa vem apelar ao bom senso dos guineenses»
«O que me motivou a estar                   com os       obstáculos à paz
presente nas conferências da Voz            identificados pela Voz di Paz, mas
di paz foi mais no sentido de que           acho     importante     referir   a
sempre acreditei que a melhor               discriminação social existente na
forma de resolver qualquer tipo             Guiné entre os meninos que são
de conflito é falando dos                   de praça e os que vêm do interior
problemas que se encontram na               do país. Os principais obstáculos à
base do mesmo conflito. O                   paz são: injustiça, insegurança e
programa Voz di paz pode                    falta de transparência na gestão
contribuir para a consolidação da           do      dinheiro     público.     É
paz chamando à responsabilidade             fundamental a auscultação da
os principais actores destes                diáspora porque nós também
problemas. Este programa vem                contribuímos para o desen-
                                                                                                Eddy Santos
apelar ao bom senso dos                     volvimento do nosso país, em                    estudante de Direito
guineenses. No geral, concordo              todas as áreas.»
Página 3 de 8
ECO da Voz di Paz    Boletim Informativo




      Auscultação da Diáspora em Lisboa




                                                   Escreva para a
                                                   ECO da Voz di Paz      envie-
                                    nos as suas notícias, sugestões, comentários
                                        e fotografias diversas para o correio
                                         electrónico vozdipaz@gmail.com
                                     Contamos com a sua participação!



 FICHA TÉCNICA: Eco da Voz di Paz – Boletim Informativo Proprietário: Voz di Paz Iniciativa para a
 Consolidação da Paz Coordenador: Fafali Koudawo Editora: Joacine Katar Moreira Redactores: Fafali
 Koudawo; Filomena Tipote; Joacine Katar Moreira; Waldir Araújo Concepção gráfica e fotocomposição:
 Joacine Katar Moreira Número: 0 Data: Janeiro/Fevereiro 2010 Local: Guiné-Bissau Periodicidade: Mensal -
 versão electrónica; bimestral - versão impressa Tiragem: 1500 exemplares

                                           Parceiro: Interpeace
                         Financiado pelo Governo da Finlândia

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Ec oda vozdipazn0

  • 1. Janeiro/Fevereiro 2010 Edição1 Janeiro 2010 Número 0 Número 0 Edição1 ECO da Voz di Paz cu     Boletim Informativo Boletim Informativo Auscultação da Diáspora Editorial………….. p.4 Auscultação da Diáspora em Lisboa…………….. p.4 Artigos de interesse especial: Depoimento • Programa Pesquisa‐Acção «Voz di Paz» ...p.2 «Em nome da   Paz»………………… p.6 • Vozes da Diáspora – 1ª Escuta  Documentário    Voz di Paz ………………………….…………………..p.5  «Voz di Povo»… p.8   Ecos de Paz……… p.12 • Conferência «Os conflitos na Guiné‐Bissau:     da génese às soluções possíveis ………….…p.11
  • 2.
  • 3. ECO da Voz di Paz Boletim Informativo Página 3 Programa Pesquisa-Acção «Voz di Paz» Fafali Koudawo Iniciativa «Voz di Paz» (VdP): o Fases do Programa que é e o que pretende? implementação técnica; Espaços «Voz di Paz» O que tolhe a instauração de uma Regionais de Diálogo integrados por paz duradoira na Guiné-Bissau? Como grupos de cidadãos escolhidos em 1) Diálogo sobre as causas aproximar os Guineenses desavindos função do seu comprometimento ao de conflitos que permita por anos de inextricáveis contendas? serviço da paz, da sua influência e realizar uma profunda e Como promover e enraizar uma sua experiência na resolução de alargada auscultação das cultura de paz ao serviço da conflitos. Estes respondem a populações sobre os cidadania e do desenvolvimento? exigências de idoneidade e obstáculos à paz; O pro- Estas questões alicerçam a representatividade da diversidade duto desta fase é a definição de uma intervenção do Programa de nacional, actuando como genealogia e geografia dos Pesquisa-Acção para a Consolidação embaixadores da paz, servindo de conflitos no país; da Paz, denominado Voz di Paz. elo de ligação com as populações na base, com vista ao enraizamento 2) Consultas sobre as Objectivos e estruturas: durável do processo de consolidação soluções apropriadas às O balanço catastrófico da evolução da paz. Enquanto inovação causas de conflitos do país depois da guerra civil de concebida por Voz di Paz, o Espaço identificadas; 1998-99 é um dos motivos da criação Regional de Diálogo é o motor da do programa, que tira a sua apropriação de Voz di Paz pelas 3) Apoio à implemen- tação das soluções de paz pertinência da urgente necessidade populações. A Voz di Paz recorre consensualmente de instaurar um diálogo alargado também a Grupos multidisciplinares delineadas pelo processo entre os guineenses, pois os maiores de trabalho, integrados por participativo. conflitos nos últimos anos foram especialistas e pessoas recurso. engendrados pelo défice de diálogo. Processo actual Assim, entre outros objectivos, a Voz Princípios e abordagem: di Paz visa: A Voz di Paz recorre a uma Depois da criação de espaços regionais de diálogo em - Criar um quadro de diálogo abordagem largamente participativa 2007, a Voz di Paz ouviu os nacional e desenvolver um processo baseada em três princípios Guineenses em 2008 e 2009 inclusivo para identificar as causas fundamentais: a inclusividade, sobre os obstáculos à paz e profundas de conflitos recorrentes no entendida como a garantia da não identificou as temáticas mais país; exclusão de nenhuma componente candentes de conflitos. - Contribuir para reduzir a nacional, como forma de promover e O diálogo procede para a realização de um consenso degradação das relações entre assegurar a participação dos actores nacional sobre o produto das comunidades, regiões e actores sócio-políticos e económicos-chaves, escutas, pois falar com os sócio-políticos; das populações em geral e de todas guineenses de todos os - Contribuir para criar um ambiente as regiões, fazendo atenção à sua bordos e em todos os lugares propício à prevenção e gestão de especificidade nos conflitos e na é o objectivo da Voz di Paz. conflitos; construção de soluções pacíficas; a Ouvir falar os guineenses é o - Reforçar as capacidades locais e pesquisa participativa, orientada método escolhido pela VdP para penetrar nos cantos nacionais de diálogo para reduzir os para a resolução de conflitos, como mais recônditos dos ditos e riscos de conflitos e estimular a base de um processo de reflexão não ditos da sociedade procura de soluções duráveis para a edificação de uma paz guineense. Fazer falar os baseadas na pesquisa participativa; durável fundada no pleno guineenses por si, entre si - Desenvolver lições e ferramentas conhecimento das causas, dos sobretudo, sem receio, práticas para a consolidação da paz reservas, nem tabus, é a via actores e das soluções adaptadas às trilhada pela Voz di Paz para na Guiné-Bissau e na subregião. realidades nacionais; a apropriação instaurar um diálogo nacional promovida como um conducente ao reencontro Para levar a cabo a sua tarefa, a Voz processo de internalização da pacífico dos corações e sua di Paz dotou-se das seguintes identificação dos problemas, da adesão aos ideais de uma estruturas: Comité de Orientação, construção de soluções, da cultura de paz no país. órgão investido da missão de dar uma implementação das estratégias caução política e moral; Comité de conducentes ao aprofundamento da Pilotagem, concebida como célula de cultura de paz.
  • 4. Página 4 ECO da Voz di Paz Boletim Informativo EDITORIAL Auscultação da Diáspora em Lisboa Fafali Koudawo e Filomena Tipote «ECO DA VOZ DI POVO» A iniciativa de realizar da diáspora radicada em A palavra está no centro do processo Portugal. Em terceiro lugar, de consolidação da paz promovida sessões de escuta na diáspora em Novembro de 2009 nasceu associar ao processo de pela Voz di Paz. Palavra dita, que consolidação da paz os pode aliviar o peso dos problemas do encontro, da contingência e da necessidade. Primeiro a guineenses radicados em geradores de conflitos. Palavra ouvida que pode dissipar necessidade de escutar todos Portugal tornou-se uma incompreensões nutridoras de os guineenses em virtude do necessidade para pôr fim ao contendas. Palavra trocada que princípio de inclusividade que sentimento de isolamento pode amenizar relações azedadas visa associar ao processo de desta mais importante por um défice de diálogo. A consolidação da paz todas as comunidade guineense além centralidade da palavra faz da Voz partes de eventuais conflitos, fronteiras cujos membros di Paz uma caixa de ressonância. dizem “Nós fazemos acender Ressonância das frustrações   muitos fogões na Guiné, mas acumuladas ao longo de décadas por nunca somos tidos nem populações que pouco tiveram achados na discussão dos direito à palavra livre. Ressonância dos anseios de gente que espera assuntos nacionais, nem nas falar, com as suas próprias palavras, eleições cujo rosto mudaria do seu passado, presente e futuro, com a nossa participação.” evocando seus problemas e No entanto, ouvir a comu- perspectivando suas soluções. nidade guineense em Ressonância da voz do povo. Assim, Portugal não respondia a Voz di Paz não é nada mais do que apenas a uma vontade de o eco da Voz di Povo. Ela não debelar um sentimento de pretende ser a voz do povo, pois Auscultação da diáspora em Lisboa isolamento. Este exercício este é dono da sua própria fala que e todos os cidadãos em todas permitia valorizar o poten- é soberana. Ela aspira ser humildemente, mas fielmente, um as partes do conjunto cial de construção da paz de eco, na nobre acepção de repetição nacional ponderando critérios uma comunidade que tem idêntica do som da fala do povo. como a idade, o género, a entre outras vantagens, uma Para este fim, a Voz di Paz, que faz etnia, a religião, a profissão, dupla experiência das largamente apelo aos meios a categoria sócio-profissional realidades guineenses e audiovisuais na sua metodologia, etc. Este esforço para portuguesas; Um olhar cria este novo órgão para levar longe distanciado e objectivo a voz do povo. O seu nome, promover a inclusividade ficaria incompleto se não sobre os problemas predestinado, é Eco. Eco, como nacionais; Uma capacidade retorno fiel da fala do povo. Eco tivesse sido estendido à diáspora guineense que de contribuir na procura de como expansão em novos horizontes das ondas de paz originadas pelo cresce numericamente e de- soluções originais graças a povo. Eco como repercussão dos sempenha um papel cada vez uma vivência enriquecida actos de paz, portadores de mais importante na vida da pela experiência da sementes de um futuro manso. O nação. Em segundo lugar veio emigração; Uma vontade de Eco da Voz di Paz será porta-voz da a contingência. Ela impul- mudar um país natal cujas Voz do Povo. Aquela Voz que sionou a concretização dos turbulências e imagem aproxima os guineenses, os faz internacional têm sido um comungar nos ideais da paz, e ressoa primeiros passos da aplicação do princípio da inclusividade pesadelo para as comu- aos ouvidos dos seus amigos como nidades radicadas além uma renovada mensagem de na diáspora. Numa estada de uma delegação da Voz di Paz fronteiras; Um desejo de ser irmandade. em Lisboa, os contactos útil na mudança positiva do Fafali Koudawo mantidos com elementos país para possibilitar um muito activos na comunidade regresso mais fácil e mais Director Pesquisa guineense tornaram possível a feliz à Guiné-Bissau. «Voz di Paz» concretização rápida de uma primeira iniciativa de escuta    
  • 5. ECO da Voz di Paz Boletim Informativo Página 5 Vozes da Diáspora – 1ª Escuta Voz di Paz Fafali Koudawo e Filomena Tipote mundo está numa era que coloca senhor Amândio Fernandes maior ênfase a estes factores disse-nos: “Estamos a sofrer na tidos como os verdadeiros diáspora mas guardamos o sustentos do desenvolvimento; nosso muito orgulho... Embora, - A não valorização das potencia- na Guiné-Bissau não somos lidades naturais que são os tidos nem achados, fazemos trunfos do país; A má governação acender muitos fogões.” A que é julgada crónica e degradação e mesmo a inversão Sr. Amândio Fernandes responsável pela má rentabi- dos valores foram criticadas lização dos recursos humanos e pelo senhor Victor Hugo naturais; Teixeira, que declarou que “O grande mal da Guiné é o - A pobreza considerada como ilusionismo, a ambição um escândalo gerado pela má desmedida. O guineense quer governação e espelhado pelo ser rico a todo o custo sem lastimoso estado das infra- fazer nada.” O amiguismo e o estruturas do país, o alastra- nepotismo tão vilipendiados mento da fome etc.; pelos auscultados e sintetizado - A impunidade como fruto da por Aladje Balde na partícula Auscultação da diáspora – Bairro “de”: “Na Guiné-Bissau tudo má governação e geradora da Padre Cruz, Lisboa funciona à volta do “de”: amigo recorrente violência; A corrup- ção, enquanto uma das vertentes de, filho de, cunhado de, da má governação e causa de militante de... A competência pobreza; não é valorizada. Ela importa pouco.” Todas estas - A herança da luta de libertação características que fazem a nacional como factor da cultura natureza atípica do país foram de violência e de instabilidade somadas no ditado: “A Guiné- política sustentada pela classe Bissau é o único país onde o militar; macaco sobe o limoeiro”, - A etnicidade, o tribalismo e o referido pelo senhor Ernesto Sr. Aladje Baldé Correia Seabra, ironizando regionalismo como causas do enfraquecimento da nação; sobre a falta de autoridade do Estado cujas espinhas (leis) já A voz da diáspora é plural como - A cidadania fundada na não chegam a impedir as as suas origens sociais, participação e na respon- barbaridades de cidadãos habilitações, experiências na sabilização como garantes da indelicados. Guiné e da emigração, boa governação; a emigração motivações, tendências políticas, como oportunidade de procurar Na hierarquização das maiores perspectivas de vida etc. As uma vida melhor, mas também causas de conflitos na Guiné- vozes da diáspora ouvidas no dia visto como sofrimento induzido Bissau, os participantes 28 de Novembro de 2009 em pela ausência e as vicissitudes da destacaram o enfraquecimento Lisboa tiveram tonalidades várias vida do desterrado no meio de do Estado e a má governação, a sobre as realidades nacionais desafios de um mundo adverso e pobreza, a má administração da lidas através do prisma do tempo também como incerteza face aos justiça, a corrupção, a que passou e da distância que reptos do regresso à terra natal. instabilidade política e separa. Os temas mais abordados institucional, a herança mal Entre as declarações recolhidas, pelos intervenientes foram: gerida da luta de libertação destacamos as seguintes: nacional e a erosão dos valores - A insuficiente valorização do Referindo-se à vida de emigrante positivos. conhecimento e da competência que se sente injustamente na Guiné-Bissau enquanto o excluído do convívio nacional, o      
  • 6. Página 6 ECO da Voz di Paz Boletim Informativo Depoimento do jornalista guineense Waldir Araújo, um dos organizadores da 1ª iniciativa «Voz di Paz» em Lisboa «Em nome da Paz» Desde o primeiro contacto, o guineense em Portugal e não só, assunto despertou a minha que se afirmam marginalizados em atenção. O Programa Voz di termos de participação em Paz, depois de um longo assuntos relacionados com o país. período de pesquisa no Diria mesmo que ao longo dos terreno, nas mais longínquas anos, a diáspora guineense tem regiões e tabankas da Guiné- vindo a sentir-se como que “posta Bissau, pretendia agora, de lado” pelos decisores políticos escutar a voz dos que estão e pela esfera influente em torno fora do país, na diáspora, da sobre a mesma questão: razões Waldir Araújo, que estarão na génese dos jornalista e escritor conflitos no país e possíveis soluções. O meu colega de Privilégio de fazer parte da profissão e amigo pessoal Comissão Organizadora de um Helmer Araújo fez-me saber encontro que durante dois que o Professor Fafali Koudawo dias – 27 e 28 de Novembro e a drª Filomena Tipote de 2009 - escutou as estariam interessados em falar preocupações, a dor, a connosco para nos apresentar angústia e a esperança dos o projecto e informar das que, embora fora do país, Helmer Araújo intenções quanto à vivem e acompanham atenta- organização de um eventual da qual gravita o poder que tem mente cada pulsar da sua encontro com a comunidade gerido os destinos da Guiné-Bissau pátria. guineense em Portugal. nos últimos tempos. Ademais, a possibilidade de divulgar um Tive a oportunidade de O primeiro encontro prendeu- trabalho de pesquisa de fundo e constatar o interesse com que me logo ao projecto. A através do qual tomar consciência os guineenses em Portugal iniciativa, liderada por estas do que pensa o povo guineense acompanharam o duas personalidades a quem sobre as razões dos constantes participativo encontro. reconheço grande mérito, conflitos que tem atrasado o país, Encontro durante o qual despertou a minha atenção por pareceram-me motivos mais do tiveram oportunidade de, vários motivos. Primeiro, que suficientes para motivar o viva voz, dar o seu parecer, o porque enquanto cidadão meu envolvimento no encontro seu contributo sobre o tema guineense na diáspora entendo que se realizou em Lisboa. Tive o em causa. E ficou também que a distância nunca poder explícita a intenção de ser vista como motivo de acompanhar os próximos abstenção ou discriminação de passos deste ousado e alguém que queira tomar parte louvado Programa que quis em projectos ou programas escutar quem quase nunca que têm como objectivo tem oportunidade de se fazer encontrar soluções, apontar ouvir. rumos para um futuro airoso Porque todos, fora ou dentro, que todos almejam para o seu fazemos parte deste povo país. Outrossim, enquanto cuja voz não se pode calar. jornalista, não raras vezes Em nome da paz. escutei os lamentos de Auscultação da Diáspora em Lisboa elementos da comunidade    
  • 7. ECO da Voz di Paz Boletim Informativo Página 7 Álbum da Auscultação em Lisboa
  • 8. Página 8 ECO da Voz di Paz B l ti I f ti Álbum da Auscultação em Lisboa
  • 9. ECO da Voz di Paz B l ti I f ti Página 9 Álbum da Auscultação em Lisboa
  • 10. Página 10 ECO da Voz di Paz Boletim Informativo Álbum da Auscultação em Lisboa
  • 11. ECO da Voz di Paz Boletim Informativo Página 11 Conferência «Os conflitos na Guiné-Bissau: da génese às soluções possíveis» Bissau: da génese às soluções Que conflitos... possíveis”. Esta sessão Que soluções? congregou estudiosos da São vários os caminhos para Guiné-Bissau e de Portugal, responder à lancinante inter- cidadãos guineenses e rogação sobre as causas da descendentes, assim como crónica intranquilidade na Guiné- parceiros e amigos da Guiné- Bissau. A Voz di Paz privilegia a Bissau. Os debates, por vezes escuta directa de todos os acesos, foram estimulados por actores, da base ao topo. Mas, ela palestras proferidas pelos recorre também a fóruns de professores universitários - reflexão e debate. Eduardo Costa Dias, Fafali Koudawo e Álvaro Nóbrega, Neste sentido, o primeiro evento quadros guineenses activos em protagonizado pela Voz di Paz em Portugal - Romualda Fernandes Lisboa foi uma conferência e João Conduto Júnior - que intitulada: “Conflitos na Guiné- deram outros contributos para as discussões, moderadas por António Pacheco, Rosalie Dias Fernandes e Mamadu Ba. Esta conferência, realizada com o apoio financeiro do Ministério de Negócios Estrangeiros da Finlândia, contou ainda com a parceria da Câmara Municipal de Lisboa. Estiveram presentes na abertura diversas perso- nalidades, com destaque para Domingos Simões Pereira, Secretário Executivo da CPLP e Constantino Lopes, Embai- xador da Guiné-Bissau em Portugal. Documentário «Voz di Povo»       recolhendo vozes das populações intranquilidade que afecta as dos mais recônditos lugares do populações. Nada escapou à país. Trata-se da soma de perspicácia do povo que se imagens e vozes verdadeiras, exprimiu ao longo dos 9 meses de directas e simples, de pessoas auscultação concentrados no autênticas na expressão diversi- documentário. Os guineenses da ficada das suas realidades e diáspora comungaram os senti- experiências. O documentário mentos que escoavam de palavras serviu de ponto de entrada na ditas com paixão, tristeza, ânimo, auscultação da diáspora em desilusão, esperança, alegria, A Voz di Povo é um documentário Lisboa a 28 de Novembro de 2009, indignação, lucidez, nostalgia, de 52 minutos, extraído de mais provocando reacções contrastadas pesar, frustração, humor... mas de 300 horas de gravações à medida que se ouviam os teste- sempre com um olhar posto no realizadas em 2008 na Guiné, munhos dos diversos tipos de futuro que se espera de paz.
  • 12. Página 12 ECO da Voz di Paz Boletim Informativo QUESTÕES: Ecos de Paz Joacine Katar Moreira O que lhe motivou a estar Os Ecos de Paz são vozes dos filhos tenham voz sobre o destino do presente na Conferência e da Guiné-Bissau que querem chegar país. A metodologia participativa Auscultação organizada pela à terra amada, à terra sagrada da do Programa de pesquisa-acção Voz di Paz (VdP) em Lisboa? sua maternidade. Voz di Paz, sendo inclusiva, incita Em que medida pensa que a Os Guineenses auscultados na à partilha de ideias, à discussão de VdP pode efectivamente diáspora (Portugal) não perderam a pontos de vista, e põe em causa contribuir para a consolidação oportunidade de se expressarem receios antigos e novos medos que da paz na Guiné-Bissau? sobre aquilo que mais afecta as suas ameaçam a paz no país. Concorda com os obstáculos à vivências e a sua experança num Temos nesta edição, testemunhos paz identificados pela VdP futuro de Paz: a Guiné-Bissau, o seu de guineeses que reflectem, tanto aquando da auscultação dos país natal, a sua fonte de quanto as sentem, as experiências, guineenses na Guiné? referência. Porque todos nós por vezes dolorosas, que o país Quais são para si os três sabemos de onde viemos, mais do atravessa. A Esperança é porém principais obstáculos à paz na que para onde vamos. um sinal comum em todas as Guiné-Bissau? A situação de instabilidade que tem palavras, em todos os desejos de É importante a auscultação da marcado a história recente do país, regresso. Regresso este por demais diáspora? Porquê? exige que a participação tenha adiado mas sempre presente nos lugar, que os cidadãos guineenses seus quotidianos. «O Encontro de Lisboa proporcionou um espaço de reflexão séria e fecunda» «Encontrava-me em Lisboa para indicados pelo projecto a partir da participar em provas académicas e auscultação na Guiné-Bissau, como já ouvira falar do Voz di Paz, revelam um quadro complexo de aquando do anúncio da sua criação, questões intrincadas. A auscultação não quis perder a oportunidade de revela, ainda, que a população, no um contacto mais directo com o campo e na cidade, tem um projecto e com a equipa. Em matéria conhecimento profundo dos males de consolidação da paz na Guiné- de que padece a sociedade Bissau, penso que o VdP representa, guineense. O Encontro de Lisboa de momento, o único projecto proporcionou um espaço de reflexão efectivamente pensado, estruturado, séria e fecunda, uma oportunidade empreendido e cujos resultados singular para a diáspora de juntar a constituem já matéria para reflexão sua Voz a este projecto em prol da fundamentada. Os obstáculos à Paz, Zaida Pereira consolidação da paz na Guiné.» Professora universitária «O excesso de impunidade é preocupante, as perseguições e a indisciplina» «Acho importante participar e ouvir questão da justiça, ou melhor da tudo o que se refere ao meu país injustiça. O excesso de impunidade Guiné-Bissau. O Programa Voz di Paz é preocupante, as perseguições e a é um contributo muito importante indisciplina, assim como a para o que de bom podemos fazer honestidade que não existe no seio pelo país e eu dei o meu depoimento do governo. O governo deve deixar porque quero fazer parte da de ser refém das Forças Armadas. A solução. Louvei desde logo esta diáspora deve contribuir com toda a iniciativa e o desenvolvimento do força porque é um elemento Programa. O principal obstáculo constituinte do povo da Guiné- para a consolidação da paz no país, Bissau e a sua ausência no processo e também o mais falado pelos de auscultação dos guineenses Ernesto Seabra, 49 anos, guineenses nas auscultações é a significaria o fracasso total deste Operador de máquinas trabalho.»
  • 13. ECO da Voz di Paz Boletim Informativo Página 13 «O governo deve fazer da diáspora uma aliada» «Com a «Voz di Paz» consegue-se A falta de separação dos poderes ouvir efectivamente o povo guineense político, militar e judicial e o e isso é muito importante para se analfabetismo são dois grandes entender do que realmente se queixa obstáculos à paz. Outra questão e o que procura o povo. É um passo que me parece muito importante para consolidação da paz. Concordo é a necessidade urgente de com os obstáculos identificados pelas saneamento básico na Guiné- auscultações. Penso que cada um Bissau. deve ocupar o seu lugar e cada um A auscultação da diáspora é viável deve organizar o seu trabalho e o se tivermos o direito ao voto. O trabalho ao qual foi submetido, governo deve fazer da diáspora deixando as outras pastas serem uma aliada. A diáspora e o mundo lideradas por quem de direito: deve precisam de sinais mais concretos haver limites e controlo na da estabilidade do país para poder Kadidja Monteiro, governação. dar respostas.» 29 anos, jornalista «A problemática herança da luta armada, as décadas de deficiente governação e a pobreza» «O que me motivou a estar aponto os seguintes: A pro- presente foi o dever de cidadania blemática herança da luta armada, e a inquestionável qualidade da as décadas de deficiente equipa da Voz di Paz. governação e a pobreza. O programa Voz di Paz, sendo A auscultação da diáspora é uma auscultação com amostra que importante, sem dúvida! revela o sentimento de todos os Infelizmente, a parte melhor guineenses, e não só: em todos os esclarecida da sociedade lugares do território; vai com guineense encontra-se fora do certeza contribuir em grande território nacional, e apesar de medida, para a consolidação da tudo, participa de forma intensa, paz no país. Quanto aos no dinamismo económico do obstáculos à paz na Guiné-Bissau, país.» Flaviano Mindela, 42 anos, artista plástico       «O documentário “Voz di Povo" superou as minhas expectativas» «Sempre acreditei na vontade dos O Programa Voz di Paz é guineenses em mudar o cenário importante se continuar a crítico dos últimos anos e sempre envolver as diferentes franjas confiei que um dia iríamos sociais guineenses na procura de contornar a situação com esforço soluções para resolver os de todos os guineenses e amigos problemas e promovendo a da Guiné-Bissau. Por isso tenho cultura de diálogo como participado sempre que possível mecanismo essencial para a em todas as actividades ligadas ao identificação e resolução das meu país. O documentário “Voz di questões que nos unem. A Povo" superou as minhas diáspora guineense é parte da expectativas, pois pude constatar solução ou até do problema, os verdadeiros percursos para atendendo à ligação com o país e Telmo Correia, 31 anos, conseguirmos uma Guiné-Bissau influência sobre vários Estudante de Engenharia Civil que sempre sonhamos. jjjjjjj aspectos.»
  • 14. Página 14 ECO da Voz di Paz Boletim Informativo «Trata-se de um assunto que interessa aos guineenses, visto que mantemos um laço forte com as nossas origens» «Estive presente na conferência a qualidade única de dar expressão devido ao interesse pelo trabalho ao diversificado tecido social que que está a ser desenvolvido no compõe o país. Na minha opinião, os âmbito deste programa, e perceber principais obstáculos são a ausência como posso participar no mesmo. de um sistema judicial eficiente, Trata-se de um assunto que falta de seriedade na esfera interessa aos guineenses, visto que governamental do país, e falta de mantemos um laço forte com as sentido de responsabilidade cívica. nossas origens. O entendimento dos problemas que impedem o A diáspora, embora muitas vezes desenvolvimento da Guiné-Bissau é não tenha uma voz activa, está importante na medida em que tendo interessada num regresso ao país. um diagnóstico preciso, torna-se Daí que exista todo o interesse em mais fácil resolver estas questões. contribuir positivamente com a O Programa Voz di Paz tem ainda experiência e perspectiva que Adelina Barbosa Cunha adquiriu vivendo no exterior.» 60 anos, doméstica «A auscultação da diáspora é importante, mas falta o voto» «Participei por concordar com a auscultação são na sua maioria Metodologia da Voz di Paz. Os partilhada pelos guineenses na espaços regionais de diálogo Guiné e na diáspora. O que tem podem ser uma forma de de nos preocupar neste momento estabilidade para os conflitos é encontrarmos forma de existentes na Guiné-Bissau, na contornar estes obstáculos de medida em que criam uma forma sustentada e pacífica. A estrutura próxima das bases. É auscultação da diáspora é uma ferramenta que o próprio importante, mas falta o voto. A governo não tem. O ideal seria diáspora deve ser parte que a VdP e os espaços regionais integrante da política. A de diálogo trabalhassem instabilidade é que tem impedido juntamente com o governo no muitos guineenses de regressar propósito da consolidação da Paz. ao país.» Honurmel Menezes, 35 anos, Os obstáculos identificados na gestor do desenvolvimento       «Este programa vem apelar ao bom senso dos guineenses» «O que me motivou a estar com os obstáculos à paz presente nas conferências da Voz identificados pela Voz di Paz, mas di paz foi mais no sentido de que acho importante referir a sempre acreditei que a melhor discriminação social existente na forma de resolver qualquer tipo Guiné entre os meninos que são de conflito é falando dos de praça e os que vêm do interior problemas que se encontram na do país. Os principais obstáculos à base do mesmo conflito. O paz são: injustiça, insegurança e programa Voz di paz pode falta de transparência na gestão contribuir para a consolidação da do dinheiro público. É paz chamando à responsabilidade fundamental a auscultação da os principais actores destes diáspora porque nós também problemas. Este programa vem contribuímos para o desen- Eddy Santos apelar ao bom senso dos volvimento do nosso país, em estudante de Direito guineenses. No geral, concordo todas as áreas.»
  • 16. ECO da Voz di Paz Boletim Informativo Auscultação da Diáspora em Lisboa Escreva para a       ECO da Voz di Paz envie- nos as suas notícias, sugestões, comentários e fotografias diversas para o correio electrónico vozdipaz@gmail.com Contamos com a sua participação! FICHA TÉCNICA: Eco da Voz di Paz – Boletim Informativo Proprietário: Voz di Paz Iniciativa para a Consolidação da Paz Coordenador: Fafali Koudawo Editora: Joacine Katar Moreira Redactores: Fafali Koudawo; Filomena Tipote; Joacine Katar Moreira; Waldir Araújo Concepção gráfica e fotocomposição: Joacine Katar Moreira Número: 0 Data: Janeiro/Fevereiro 2010 Local: Guiné-Bissau Periodicidade: Mensal - versão electrónica; bimestral - versão impressa Tiragem: 1500 exemplares Parceiro: Interpeace Financiado pelo Governo da Finlândia