2. 1ª ESTAÇÃO
JESUS É CONDENADO À MORTE
Leitura
Pilatos disse: «Eis o homem!»
Assim que O viram, os sumos-
sacerdotes e os guardas gritaram:
«Crucifica-O! Crucifica-O!» Tornou
Pilatos a dizer: «tomai-O vós e
crucificai-O, que eu não encontro
n’Ele culpa alguma». Responderam
os judeus: «Nós temos uma Lei, e
segundo a nossa Lei deve morrer,
porque se fez Filho de Deus». (Jo
19,5-7)
Meditação
Toda a via dolorosa começa com
uma condenação. E a injustiça não
cessa de atormentar-nos e de
dilacerar mesmo as grandes almas. Jesus porém não lhe está sujeito: Ele toma
sobre Si a condenação.
A não-violência encontra aqui a sua razão de ser. Mas a escolha de Jesus é
muito mais que a simples não-violência.
A condenação de Jesus continua, e pesa ainda num mundo que continua
hipócrita e perito em condenar justos e santos.
Não basta oferecer a outra face. É preciso reagir com mais amor ao ódio que
temos à nossa volta – e dentro de nós.
Oração
Jesus, dá-nos a força
De aceitar cargas pesadas
Sem nos deixar esmagar;
De não odiarmos
De não nos escravizarmos
De não nos vingarmos.
Jesus, que eu não seja
Juiz impiedoso de quem erra.
E quem não erra?
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3. 2ª ESTAÇÃO
JESUS TOMA A CRUZ AOS OMBROS
Leitura
Dirigindo-Se depois a todos, disse:
«Se alguém quer vir após Mim,
negue-se a si mesmo, tome a sua
cruz, dia após dia, e siga-Me» (Lc
9,23)
Meditação
Toda a condenação é uma cruz.
Dilacera a alma. E o espírito geme,
mais que o corpo. Há condenações
que humilham, quando a verdade é
escondida pela hipocrisia de leis
complacentes. E Jesus caminhava
para o Calvário.
Qualquer cruz nos condena ao
sofrimento, e nós somos
condenados por um mal profundo.
Um mal que podemos vencer pegando com Cristo na cruz. Jesus não nos tirou a
cruz: deu-nos, não só o exemplo, mas também a capacidade de a levar.
Oração
Jesus, tomaste às costas o madeiro
E nele estava eu também,
Estávamos todos.
Levas-nos, não ao túmulo
Mas à ressurreição.
Embora nós sintamos
Ainda o peso da cruz,
Tu estás connosco
e isso basta para prosseguirmos.
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4. 3ª ESTAÇÃO
JESUS CAI PELA PRIMEIRA VEZ
Leitura
Ele tomou sobre si as nossas
doenças, carregou as nossas
dores; nós o considerávamos
como um castigado, ferido por
Deus e humilhado. (Is 53,4)
Meditação
Todos caem. Cada um tem o
seu limite de resistência. Mas
poucos caem como Jesus: Ele
cai sob o peso da cruz, e essa
cruz é nossa.
Cai porque quer conhecer
todas as humilhações, até a de
cair por terra, ao nível dos homens.
Por vezes, cair não é sinal de fraqueza mas de qualquer coisa que esmaga e
oprime até ao limite do suportável. A terra é também sinal de humildade.
Quem cai – e todos caem – deve fazer-se discípulo.
Oração
A tua queda, Jesus,
Diante de todos,
Perante o riso da multidão
Ou o silêncio dos cobardes
É humildade que desconcerta
O meu orgulho.
Dá-me, ó Cristo,
A graça de Te sentir a meu lado
Quando me vejo por terra.
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5. 4ª ESTAÇÃO
JESUS ENCONTRA A SUA MÃE
Leitura
Simeão abençoou-os e disse a
Maria, Sua Mãe: «Eis que este
menino vai ser causa de queda e
elevação de muitos em Israel e
para ser sinal de contradição;
uma espada trespassará a tua
alma a fim de se revelarem os
pensamentos de muitos
corações». (Lc 2,34-35)
Meditação
Dois olhares que se cruzam. Em
silêncio, que é o encontro mais
autêntico. Jesus desejou este
encontro, e Maria ainda mais que
seu Filho. Em toda a via dolorosa
há sempre um encontro de
graça.
E a Senhora está presente com o seu olhar silencioso.
Há vias dolorosas nas quais é difícil encontrar uma mãe, e os filhos agonizam.
Jesus deixou uma mãe para que ninguém tenha de se sentir órfão. Uma mãe de
esperança.
Oração
Jesus, Tua mãe fitou-te
E no seu olhar
Estava todo o perdão que pedimos
Pelas nossas ofensas
Pelas nossas recusas.
E com o Teu silêncio, Cristo,
Respondeste prosseguindo o caminho da cruz.
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6. 5ª ESTAÇÃO
JESUS É AJUDADO PELO CIRINEU
Leitura
Quando O iam
conduzindo, lançaram
mão de um certo Simão
de Cirene, que voltava
do campo, e carregaram-
no com a cruz, para a
levar atrás de Jesus. (Lc
23,26)
Meditação
Até Jesus quis um
instante de alívio, talvez
para dar ao homem de Cirene a alegria do bom samaritano. Só um instante,
porque não se deve abusar da bondade alheia… E Cristo retoma a cruz, para se
fazer Ele cireneu e bom samaritano para sempre, dando-nos mais que o alívio
de um instante.
Jesus quer-nos cireneus, atentos e sensíveis, sem fazermos pesar a nossa
caridade. E caridade não é fazermos nós o que é dever dos outros fazer.
Caridade é ensinar cada um a andar pelas suas próprias pernas.
Oração
Também Tu, Jesus,
Te permitiste um momento de pausa
Para poderes chegar à cruz.
Existe em nós a tentação, às vezes,
De nos abandonarmos, de nos deixarmos ir, de pararmos,
De fazermos de cada pausa uma meta.
Jesus, que também eu encontre um cireneu
Para ser cireneu dos outros com mais fé.
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7. 6ª ESTAÇÃO
JESUS ENCONTRA VERÓNICA
Leitura
Cresceu na sua presença como
um rebento, como raiz em terra
árida, sem figura nem esplendor
que pudesse atrair o nosso
olhar, nem formosura capaz de
nos deleitar. (Is 53,2)
Meditação
Outro encontro, e de profundo
diálogo. Entre a exaustão dum
Deus de rosto desfigurado e a
bondade dum grande coração de
mulher. E Cristo oferece-lhe o
seu rosto, o Seu olhar, e deixa-o
na História até ao fim dos tempos.
O rosto de Cristo é o rosto de todos os homens, e quem mais sofre mais está
presente nele. Um rosto que está na natureza de todos, mesmo dos que nos
são antipáticos ou nos querem mal.
Porque não ver nele o convite de Cristo ao perdão?
Oração
Jesus, foi-te agradável
O doce lenço
Que Te acariciou o rosto,
E o Teu olhar
Impresso na história de cada homem
É de conforto no caminho que nos resta
Até à ressurreição.
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8. 7ª ESTAÇÃO
JESUS CAI PELA SEGUNDA VEZ
Leitura
Foi castigado pelos nossos
crimes, esmagado pelas nossas
iniquidades; o castigo que nos
salva pesou sobre Ele, fomos
curados na Suas chagas.
Todos nós andávamos
desgarrados como ovelhas, cada
um seguia o seu caminho; o
Senhor carregou sobre Ele a
iniquidade de todos nós. (Is 53,5-
6)
Meditação
Sim, Jesus volta a cair, porque a
estrada da cruz não tem fim, nem tão-pouco o cansaço.
Não basta um bom cireneu para carregar todo o peso. Cristo quis nossa cruz, e
quer levá-la até à morte. Nem as quedas conseguirão detê-Lo.
As quedas repetem-se, porque o homem é egoísta e não quer saber da
conversão. Haverá sempre uma injustiça que pesa, haverá sempre uma graça
que salva. O importante é olhar em frente, sempre, mesmo quando se está
caído por terra.
Oração
Jesus, voltar a ver-Te caído por terra
É sentir em mim o peso
Deste meu cansaço
Em trabalhar pelo Teu reino.
Cansamo-nos de esperar.
Mas Tu caíste para ficares à minha altura
Convidando-me a avançar.
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9. 8ª ESTAÇÃO
JESUS E AS SANTAS MULHERES
Leitura
Seguiam-n’O uma grande massa
de povo e umas mulheres que se
lamentavam e choravam por Ele.
Jesus voltou-se para elas e disse-
lhes: «Filhas de Jerusalém, não
choreis por mim. Chorai antes por
vós mesmas e pelos vossos filhos,
pois dias virão em que se dirá:
“Felizes as estéreis, os ventres
que não geraram e os peitos que
não amamentaram!”. Hão de
então dizer aos montes: “Caí
sobre nós!” E às colinas: “Cobri-
nos!” Porque se tratam assim a
madeira verde, o que acontecerá
à seca?» (Lc 23, 27-31).
Meditação
Desta vez Cristo quebra o silêncio com uma censura. Não é Ele que deve ser
lamentado, o Seu sofrimento, a Sua solidão. Cristo que sofre é uma censura à
indiferença com que deixamos crucificar a justiça e os direitos dos povos,
limitando-nos a murmurar o nosso desacordo.
Pôr-se em questão em busca da verdadeira identidade do homem é um dever
quotidiano pessoal e colectivo. Uma questão, isto é, que nos faça ultrapassar
esquemas rígidos, vistas curtas, preconceitos ideológicos.
Oração
A tua censura às santas mulheres, ó Cristo
Atinge-nos a todos.
No fundo, agrada-nos viver
De saudades confortáveis
E lágrimas vazias:
Por isso somos terreno tão seco e duro
À semente da Tua palavra, Jesus.
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10. 9ª ESTAÇÃO
JESUS CAI PELA TERCEIRA VEZ
Leitura
Salvai-me, ó Deus, porque as águas
quase me submergem.
Estou-me afundando no abismo
profundo, onde não há ponto de
apoio; entrei no abismo de águas
profundas e já as vagas me cobrem.
Estou exausto de tanto gritar,
enrouqueceu a minha garganta,
cansaram-se os meus olhos à espera
do meu Deus. (SI 69, 2-4).
Meditação
Jesus cai mais vezes? Ser-nos-á
sempre impossível sabê-lo. Mas
também pouco importa.
Jesus caiu, e volta a cair porque a nossa obstinação é grande. E levanta-Se pela
terceira vez porque o amor não se detém perante nenhum obstáculo, nenhum
cansaço.
Cada via dolorosa é uma estrada de incontáveis quedas.
A esperança incita-nos a prosseguir, mesmo quando o sol desaparece.
Oração
Não é tanto a Tua queda, ó Cristo,
Que fere o meu sentir humano
Quanto a minha imobilidade
Perante a queda silenciosa de espíritos desalentados,
De almas exaustas.
E Tu, Jesus, voltas a erguer-Te
E contigo a minha esperança
De recomeçar outra vez.
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11. 10ª ESTAÇÃO
JESUS É DESPOJADO DAS SUAS VESTES
Leitura
Foi maltratado e resignou-
se. Não abriu a boca, como
cordeiro levado ao
matadouro, como ovelha
emudecida nas mãos do
tosquiador. (Is 53,7).
Meditação
O condenado não tem
direito a nada. A própria
vida já não lhe pertence.
De que serve agora uma
peça de roupa? A cruz não suporta o supérfluo. Quer tudo. Qualquer
humilhação cabe nesta lógica do dom total.
Começamos a ser realmente pobres quando libertamos do supérfluo o coração
e as mãos. Claro que as humilhações não deixarão nunca de nos ferir.
Oração
Jesus, sem vestes
Sem formalidades
Sem estruturas
Assim no fundo me atrais,
Abraçando a cruz
pobre em tudo
rico apenas de amor universal.
Amar-Te assim na Tua dádiva total
Sem sombras
É a graça que quero.
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12. 11ª ESTAÇÃO
JESUS É PREGADO NA CRUZ
Leitura
Quando chegaram ao lugar
chamado Calvário,
crucificaram-no a Ele e aos
malfeitores, um à direita e
outro à esquerda. Jesus dizia:
«Perdoa-lhes, ó Pai, porque não
sabem o que fazem». Depois
deitaram sortes para dividirem
entre si as Suas vestes (Lc 23,
33-34).
Meditação
Bastam três ou quatro pregos e
Jesus fica imobilizado, preso a
duas traves de madeira.
Mas o amor não se prende. Da cruz descem palavras de paz, de perdão,
abalando profundamente o homem, e infinitos raios de graça divina iluminando
os corações. Esse é o crucifixo eterno.
Ser totalmente pobre: estar nu sobre uma cruz e ter no coração infinita
capacidade de paz e de perdão. Ainda hoje há demasiadas cruzes de ouro em
que nenhum coração palpita.
Oração
Jesus, és ainda hoje o Crucificado.
E eu estou aqui a contemplar-Te
Vendo o Teu coração bater por mim também,
Ouvindo-Te dizer: «Vê como te amo!
E tu?»…
E eu, ó Crucificado,
Eu contemplo-Te e rezo: «Perdoa-me!».
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13. 12ª ESTAÇÃO
JESUS MORRE NA CRUZ
Leitura
Por volta da hora sexta as
trevas cobriram toda a terra,
até à hora nona, por o Sol se
ter Eclipsado.
O véu do Templo rasgou-se ao
meio, e Jesus exclamou, dando
um grande grito: «Pai, nas Tuas
mãos entrego o meu espírito».
Dito isto, expirou. (Lc 23, 44-
46).
Meditação
A morte é uma cruz que
sangra. É o mistério. O medo
que tudo seja um engano. Até
os espíritos eleitos sentem
esse medo, e só uma grande fé
leva à esperança.
Também Jesus morre, e quem poderia imaginar um Deus que morresse?
É preciso fé, muita fé, para ter esperança num amanhã melhor, e a morte
afasta-se. Mas por pouco.
A cruz é Jesus Cristo morto para ressuscitar. A cruz, qualquer cruz, é iluminada
por essa glória divina.
Oração
Na Tua morte, ó Crucificado,
Há já toda uma nova humanidade
Que está para nascer.
E do peito trespassado sai a Tua Igreja,
Mãe de todos os vivos.
O amor terá sempre a última palavra
Ainda que todo o ódio deste pobre mundo
Crucifique milhões de seres humanos.
Tu, ó Cristo, garantes-nos a vida.
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14. 13ª ESTAÇÃO
JESUS É DESCIDO DA CRUZ
Leitura
Depois disto, José de Arimateia,
que era discípulo de Jesus, ainda
que ocultamente por medo dos
judeus, pediu a Pilatos para levar
o corpo de Jesus. Pilatos
permitiu-lho. Veio, pois, e tirou o
corpo (Jo 19,38).
Meditação
Jesus é despregado da cruz. Sim,
duma trave de madeira. E só
dessa trave de madeira, porque
toda a cruz se torna de hoje em
diante uma cruz de salvação e
ninguém poderá separá-la de
Cristo. Cristo não se deixa
apartar do nosso sofrimento.
Por muito duro que seja tomar a cruz e aceitá-la, é consolador saber que ela é
parte da cruz de Cristo. Nenhuma cruz está separada da cruz de Cristo, e por
isso todo o sofrimento é redentor.
Oração
Ó Crucificado,
Tu não inventaste nenhuma cruz
E pensá-lo é desalento e dúvida.
Entenda-se, porém:
Tu inventaste a cruz da salvação
Da qual nasce toda a força,
Toda a capacidade de suportar as cruzes humanas.
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15. 14ª ESTAÇÃO
JESUS É COLOCADO NO SEPULCRO
Leitura
Respondeu-lhes Ele: «Chegou a
hora de ser glorificado o Filho do
Homem. Em verdade, em verdade
vos digo: se o grão de trigo, caindo
na terra, não morrer, fica ele só;
mas se morrer dá muito fruto» (Jo
12, 23-24).
Meditação
Como qualquer homem que morre,
assim Cristo deposto num sepulcro.
Também a semente precisa de ser
lançada à terra para renascer e dar
fruto. Tal como o meu sofrimento.
Um pouco derrota. De morte. E
depois a Primavera. Um novo dia
despontará sobre tantos hojes que
parecem de morte.
Há sempre um amanhã para tudo. Até para tanto sofrimento e tanta injustiça
que oprimem este mundo de forma asfixiante. Ninguém poderá aniquilar o
Espírito de vida e de liberdade.
Oração
Ó Jesus:
Tu sabes como somos fracos
E prontos a desesperar de tudo.
Mas o dia de hoje é já Teu,
E o de amanhã ainda mais.
É preciso acreditar num Deus vivo
E tudo, mas tudo,
Cedo ou tarde ressuscitará,
Mesmo o meu sofrimento de hoje.
Eu creio, ó Cristo!
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16. REFERÊNCIAS
[Texto]: Modelo de via Sacra proposto pela Diocese de Aveiro
http://www.diocese-aveiro.pt/noticia_detalhe.asp?id=317
[Imagem Capa]: “Jesus carrega a Cruz” (1526), Lorenzo Lotto
[Imagem Pág. 1]: “Ecce Homo” (1606), Caravaggio
[Imagem Pág. 2]: “Cristo Carregando a Cruz” (1580s), El Greco
[Imagem Pág. 3]: “Cristo Carregando a Cruz” (1737-38), Giovanni Battista Tiepolo
[Imagem Pág. 4]: “Jesus Encontra sua Mãe no Caminho para o Calvário” (1516-17), Raphael
[Imagem Pág. 5]: “Simão de Cirene e Cristo” (1565), Titian
[Imagem Pág. 6]: “O encontro de Jesus e Verónica” (séc. XVI), Carlo Caliari
[Imagem Pág. 9]: “Cristo Carregando a Cruz” (1480s), Hieronymus Bosch
[Imagem Pág. 10]: “Jesus é despido de suas roupas” (1448-53), Fra Angelico
[Imagem Pág. 11]: “Jesus é Crucificado” (1908), William Brassey Hole
[Imagem Pág. 12]: “Cristo Crucificado” (1632), Diego Velázquez
[Imagem Pág. 13]: “Descida da Cruz” (1515), Giovanni Bellini
[Imagem Pág. 14]: “O Sepultamento de Cristo” (1602-03), Caravaggio
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