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40
renováveis no Brasil
Durante o ano de 2015, enquanto a economia
encolhia 3,8%, o mercado de energia eólica bra-
sileiro cresceu 45% (em capacidade instalada),
um dos maiores crescimentos mundiais do
setor, e atingiu a 10.ª posição mundial de capaci-
dade instalada com 8,715 GW (Portugal possui
hoje 5,0 GW instalados).
No setor da energia solar fotovoltaica, os
3,2 GWp de projetos já contratados no mercado
regulado,colocam também o Brasil como um dos
maiores mercados emergentes desta fonte (Por-
tugal possui cerca de 530 MWp, incluindo micro-
geração, enquanto que a Austrália, com a 10.ª
maior capacidade instalada,contava com 5 GWp).
Só em 2015, o total de investimento prove-
niente do setor terá sido superior a R$ 24,8 mil
milhões (€5,8 mil milhões para taxas de dezem-
bro de 2015) e os empregos gerados de pelo
menos 40 mil.
Para um setor que praticamente inexistia no
país há sete anos, este foi um trajeto de sucesso
que, ainda que não isento de erros, contou com
o alinhamento da vontade política com a con-
fiança empresarial nacional e estrangeira e os vas-
tos recursos naturais que o país possui.
Porém, inevitavelmente, o momento político e
económico que atravessa o país, atinge também
o setor, ao qual se somam naturais ineficiências
de um mercado ainda jovem.
A falta de liquidez do mercado nacional tem
deixado diversos promotores a braços com
muitas dificuldades em financiar os seus proje-
tos, mesmo junto do Banco Nacional de Desen-
volvimento Económico e Social (BNDES), cam-
peão do financiamento deste tipo de projetos.
Durante o ano de 2015 foram notórias estas difi-
culdades tendo havido um abrandamento signifi-
cativo no ritmo de instalações.
Alguns promotores encontram-se já em
sérias dificuldades em função dos custos gera-
dos pelos atrasos e multas por atraso no início
de operação. O acesso à dívida externa é, na
prática, inviá­vel, dada a situação de risco cam-
bial, o rating de crédito do país e de muitas das
suas empresas.
Especificamente no caso solar fotovoltaico,
nesta fase totalmente dependente de tecnolo-
gia importada, o mercado reconhece hoje um
sério risco de falta de cumprimento de proje-
tos contratados no primeiro leilão, de outubro
de 2014. Dos projetos aí contratados, apenas
a ENEL Green Power permanece dentro dos
planos de implantação.
Em consequência, os principais fabricantes
de módulos fotovoltaicos têm adiado a decisão
de entrada no país aguardando um período de
maior definição política e económica.
Mas mesmo os projetos com financiamentos
assegurados e em construção, sofrem com o
momento do país.Atrasos nas linhas de transmis-
são, nomeadamente as concessionadas e à falida
Abengoa, são particularmente preocupantes.
Como se tudo isto não bastasse, a eólica
parece agora enfrentar uma concorrência de
outras fontes, como as Pequenas Centrais
Hídricas, que não via há anos. No único leilão
realizado este ano, em finais de abril, nenhum
projeto eólico conseguiu contratar a sua ener-
gia, algo que nunca tinha sucedido desde 2009.
Finalmente, as distribuidoras pretendem apro-
veitar este momento de estagnação económica
para abrandar o ritmo de contratação de uma
nova energia, procurando fazer face à situação
financeira débil em que a maioria se encontra.
Contudo, o momento atual do mercado traz
também oportunidades.
De facto, o ano de 2015 foi caraterizado por
um grande fenómeno de concentração por aqui-
sições de empresas e projetos. Esse movimento
foi particularmente intenso da parte de promo-
tores e fundos estrangeiros, que aproveitaram
ainda as taxas de câmbio favoráveis e a vantagem
no acesso a capital externo,praticamente vedado
a promotores brasileiros.
Empresas e fundos internacionais de referên-
cia no setor, como a francesa EDF-EN, a belga
Tractebel/Engie, a norueguesa Statkraft, a espa-
nhola Cubico ou a canadiana Brookfield entra-
ram ou reforçaram significativamente a sua pre-
sença no mercado brasileiro durante 2015 e
esta será uma tendência que se manterá ainda
por 2016 e 2017.
O Brasil pode ser hoje considerado um dos maiores mercados mundiais do setor
das energias renováveis.
o momento atual do setor
brasileiro de energias renováveis
Ricardo André Guedes
Diretor Geral MEGAJOULE do Brasil
Diretor Técnico Grupo MEGAJOULE
Diretor para o setor da Energia da Câmara Brasil-Portugal (Ceará)
Todos no Brasil esperam com ansiedade o virar da última página
do processo de impeachment da Presidente Dilma Rouseff para que,
no ano e meio de função do seu governo de transição, MichelTemer
possa adotar as medidas necessárias para inverter o ciclo de recessão
económica atual. O seu governo parece ter a confiança da sociedade
e, acima de tudo, do tecido económico que espera que em 2018 o
Brasil possa finalmente retomar ao crescimento económico.
O plano decenal proposto pela EPE aponta que, até 2024, a capa-
cidade eólica instalada deve ser alargada até 24 GW, representando
entre 1 a 2 GW por ano. Já para o setor fotovoltaico propõe um
aumento até 7 GWp, ao qual se podem adicionar os 4,5 GWp de
geração distribuída estimados pela Agência Nacional de Energia Elé-
trica (ANEEL), e que deverão representar entre 1 a 1,5 GW instala-
dos anualmente.
O mercado parece responder a este desafio. Para o 2.º Leilão de
Energia de Reserva de 2016, cujo registo de projetos terminou no dia
1 de julho, foram registados um número record de 799 projetos eóli-
cos e 393 fotovoltaicos, num total de 33,2 GW.
Para cumprir estes objetivos,tão exigentes como necessários,o Bra-
sil necessita sustentar o setor de energia eólica que conseguiu gerar ao
longo dos últimos 6 anos e criar um novo setor para a indústria foto-
voltaica. Isto apenas será conseguido se o governo de Michel Temer
e as autoridades conseguirem transmitir aos mercados e investido-
res, com destaque para os que olham de fora para o Brasil, horizontes
estáveis de regulamentação e contratação para o setor.
O ano de 2015 foi caraterizado por um grande
fenómeno de concentração por aquisições de empresas
e projetos. Esse movimento foi particularmente
intenso da parte de promotores e fundos estrangeiros,
que aproveitaram ainda as taxas de câmbio favoráveis
e a vantagem no acesso a capital externo, praticamente
vedado a promotores brasileiros.
PUB.
Sobre o autor
Ricardo André Guedes é consultor e executivo do setor de
energia renováveis desde 2000.Atualmente é Diretor da filial
brasileira da consultora MEGAJOULE bem como Diretor
Técnico do grupo consultor e Diretor para a área da Energia
da Câmara Brasil-Portugal do Estado do Ceará.

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  • 1. 40 renováveis no Brasil Durante o ano de 2015, enquanto a economia encolhia 3,8%, o mercado de energia eólica bra- sileiro cresceu 45% (em capacidade instalada), um dos maiores crescimentos mundiais do setor, e atingiu a 10.ª posição mundial de capaci- dade instalada com 8,715 GW (Portugal possui hoje 5,0 GW instalados). No setor da energia solar fotovoltaica, os 3,2 GWp de projetos já contratados no mercado regulado,colocam também o Brasil como um dos maiores mercados emergentes desta fonte (Por- tugal possui cerca de 530 MWp, incluindo micro- geração, enquanto que a Austrália, com a 10.ª maior capacidade instalada,contava com 5 GWp). Só em 2015, o total de investimento prove- niente do setor terá sido superior a R$ 24,8 mil milhões (€5,8 mil milhões para taxas de dezem- bro de 2015) e os empregos gerados de pelo menos 40 mil. Para um setor que praticamente inexistia no país há sete anos, este foi um trajeto de sucesso que, ainda que não isento de erros, contou com o alinhamento da vontade política com a con- fiança empresarial nacional e estrangeira e os vas- tos recursos naturais que o país possui. Porém, inevitavelmente, o momento político e económico que atravessa o país, atinge também o setor, ao qual se somam naturais ineficiências de um mercado ainda jovem. A falta de liquidez do mercado nacional tem deixado diversos promotores a braços com muitas dificuldades em financiar os seus proje- tos, mesmo junto do Banco Nacional de Desen- volvimento Económico e Social (BNDES), cam- peão do financiamento deste tipo de projetos. Durante o ano de 2015 foram notórias estas difi- culdades tendo havido um abrandamento signifi- cativo no ritmo de instalações. Alguns promotores encontram-se já em sérias dificuldades em função dos custos gera- dos pelos atrasos e multas por atraso no início de operação. O acesso à dívida externa é, na prática, inviá­vel, dada a situação de risco cam- bial, o rating de crédito do país e de muitas das suas empresas. Especificamente no caso solar fotovoltaico, nesta fase totalmente dependente de tecnolo- gia importada, o mercado reconhece hoje um sério risco de falta de cumprimento de proje- tos contratados no primeiro leilão, de outubro de 2014. Dos projetos aí contratados, apenas a ENEL Green Power permanece dentro dos planos de implantação. Em consequência, os principais fabricantes de módulos fotovoltaicos têm adiado a decisão de entrada no país aguardando um período de maior definição política e económica. Mas mesmo os projetos com financiamentos assegurados e em construção, sofrem com o momento do país.Atrasos nas linhas de transmis- são, nomeadamente as concessionadas e à falida Abengoa, são particularmente preocupantes. Como se tudo isto não bastasse, a eólica parece agora enfrentar uma concorrência de outras fontes, como as Pequenas Centrais Hídricas, que não via há anos. No único leilão realizado este ano, em finais de abril, nenhum projeto eólico conseguiu contratar a sua ener- gia, algo que nunca tinha sucedido desde 2009. Finalmente, as distribuidoras pretendem apro- veitar este momento de estagnação económica para abrandar o ritmo de contratação de uma nova energia, procurando fazer face à situação financeira débil em que a maioria se encontra. Contudo, o momento atual do mercado traz também oportunidades. De facto, o ano de 2015 foi caraterizado por um grande fenómeno de concentração por aqui- sições de empresas e projetos. Esse movimento foi particularmente intenso da parte de promo- tores e fundos estrangeiros, que aproveitaram ainda as taxas de câmbio favoráveis e a vantagem no acesso a capital externo,praticamente vedado a promotores brasileiros. Empresas e fundos internacionais de referên- cia no setor, como a francesa EDF-EN, a belga Tractebel/Engie, a norueguesa Statkraft, a espa- nhola Cubico ou a canadiana Brookfield entra- ram ou reforçaram significativamente a sua pre- sença no mercado brasileiro durante 2015 e esta será uma tendência que se manterá ainda por 2016 e 2017. O Brasil pode ser hoje considerado um dos maiores mercados mundiais do setor das energias renováveis. o momento atual do setor brasileiro de energias renováveis Ricardo André Guedes Diretor Geral MEGAJOULE do Brasil Diretor Técnico Grupo MEGAJOULE Diretor para o setor da Energia da Câmara Brasil-Portugal (Ceará)
  • 2. Todos no Brasil esperam com ansiedade o virar da última página do processo de impeachment da Presidente Dilma Rouseff para que, no ano e meio de função do seu governo de transição, MichelTemer possa adotar as medidas necessárias para inverter o ciclo de recessão económica atual. O seu governo parece ter a confiança da sociedade e, acima de tudo, do tecido económico que espera que em 2018 o Brasil possa finalmente retomar ao crescimento económico. O plano decenal proposto pela EPE aponta que, até 2024, a capa- cidade eólica instalada deve ser alargada até 24 GW, representando entre 1 a 2 GW por ano. Já para o setor fotovoltaico propõe um aumento até 7 GWp, ao qual se podem adicionar os 4,5 GWp de geração distribuída estimados pela Agência Nacional de Energia Elé- trica (ANEEL), e que deverão representar entre 1 a 1,5 GW instala- dos anualmente. O mercado parece responder a este desafio. Para o 2.º Leilão de Energia de Reserva de 2016, cujo registo de projetos terminou no dia 1 de julho, foram registados um número record de 799 projetos eóli- cos e 393 fotovoltaicos, num total de 33,2 GW. Para cumprir estes objetivos,tão exigentes como necessários,o Bra- sil necessita sustentar o setor de energia eólica que conseguiu gerar ao longo dos últimos 6 anos e criar um novo setor para a indústria foto- voltaica. Isto apenas será conseguido se o governo de Michel Temer e as autoridades conseguirem transmitir aos mercados e investido- res, com destaque para os que olham de fora para o Brasil, horizontes estáveis de regulamentação e contratação para o setor. O ano de 2015 foi caraterizado por um grande fenómeno de concentração por aquisições de empresas e projetos. Esse movimento foi particularmente intenso da parte de promotores e fundos estrangeiros, que aproveitaram ainda as taxas de câmbio favoráveis e a vantagem no acesso a capital externo, praticamente vedado a promotores brasileiros. PUB. Sobre o autor Ricardo André Guedes é consultor e executivo do setor de energia renováveis desde 2000.Atualmente é Diretor da filial brasileira da consultora MEGAJOULE bem como Diretor Técnico do grupo consultor e Diretor para a área da Energia da Câmara Brasil-Portugal do Estado do Ceará.