Primeira edição do diário português “PÚBLICO” com grafismo renovado (11.02.2007).
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1. Seg 12 Fev Edição Lisboa
The Blues DVD ¤7.95
Segunda-feira 12 Fevereiro 2007 Segundo de oito volumes
Ano XVII, nº 6163
Portugal: 0,90€ (IVA incluído) da colecção produzida por
Espanha: 2,00€ (IVA incluído)
Director: José Manuel Fernandes
Martin Scorsese. Amanhã
Directores adjuntos: Nuno Pacheco e Manuel Carvalho
Cinema Barack Obama
Eastwood Quem é o homem
que quer mudar
a América
YouTube
Tem lixo e tem
arte, como
encontrar os
melhores videos?
Sim59% Não41% Abs56%
Balanço ‘independente’
MAI fez ajuste
directo ilegal de
estudo dos fogos
Agora sim
a O Ministério da Administração In-
terna contratou através de um ajuste
directo no valor de 375,7 mil euros a
empresa que fez “pela primeira vez”
o balanço “independente” das opera-
ções de combate aos incêndios flores-
tais do ano passado. Três juristas que
analisaram o despacho do secretário
de Estado consideram que o mesmo
é ilegal. c Nacional, 20/21
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ENRIC VIVES-RUBIO
a“Sim” obteve mais um milhão de
votos do que no referendo de 1998
aAbstenção acima de 50 por cento
não torna o voto vinculativo
aPS promete alterar depressa a lei e
combater o aborto clandestino
¬ Desta vez o “sim” à despenalização tes, que imprimiu ao PS uma posição
do aborto venceu. Numa noite que foi sem equívocos a favor do “sim”. Do
curta no apuramento de resultados, lado perdedor, surgem na linha da
confirmaram-se as expectativas for- frente a Igreja católica e Marcelo Re-
madas pelas sondagens. O “sim” ficou belo de Sousa, na sua qualidade de
Eleições em França
muito próximo dos 60 por cento dos
votantes, num referendo que voltou a
“pai” político de um referendo que,
pela segunda vez, não conseguiu atrair Ségolène Royal
não atrair a metade de eleitores que a
lei exige para que se torne vinculativo.
mais de metade dos eleitores.
A análise do mapa de resultados propõe pacto
De qualquer forma, houve imediato
consenso entre vencedores e vencidos
confirma um país dividido ao meio,
com o Sul a favor do “sim” e grande de esquerda
em considerar que a abstenção não é parte do Norte a votar “não”.
um obstáculo à passagem a lei do re- Deste referendo fica ainda a novi- a Ségolène Royal, a candidata socia-
sultado da consulta popular. dade da participação dos movimentos lista que aspira a ser a primeira mulher
O Partido Socialista compromete- cívicos, cuja mobilização, de ambos os Presidente de França, anunciou ontem
se a tratar o tema com carácter de lados, animou uma campanha onde um plano em 100 pontos que assinala
urgência em sede parlamentar. Nos os partidos não foram os principais uma clara mudança de política à es-
vencedores da noite surge, de forma protagonistas. Agora a palavra é-lhes querda. Prometeu maior intervenção
incontornável e destacada, José Sócra- devolvida na Assembleia. do Estado na economia e um modelo
de redistribuição ainda mais generoso,
tentando demarcar-se do liberalismo
Tudo sobre a noite do referendo c páginas 2 a 17 de Nicolas Sarkozy. c Mundo, 24
2. 2 • Público • Segunda-feira 12 Fevereiro 2007
Destaque
Referendo 2007 Despenalização da interrupção voluntária da gravidez
NUNO FERREIRA SANTOS
Uma onda de felicidade inundou ontem o Hotel Altis, em Lisboa
“Sim” vence
dez semanas deverão ser indiciadas
São José Almeida
em Óbidos, mas deverão receber o
É importante que Portugal
a À segunda, foi. A lei que despenaliza consenso do PSD. combata o aborto clandestino
o aborto a pedido da mulher até às dez Ontem, Marques Mendes, um dos
em passo firme para uma
com maioria
semanas, em estabelecimento legal- perdedores da noite, deixou claro
mente autorizado, vai ser submetida que não se oporá ao veredicto das sociedade mais aberta
a votação final global com carácter de urnas e que a despenalização é para
urgência, depois de ontem 59 por cen- seguir em frente no Parlamento, onde José Socrates ontem à noite
expressiva
to dos votantes se terem exprimido nas o PSD, aliás, deverá repetir a liberdade
urnas a favor do “sim”. A abstenção, de voto. É também provável que os so- me da despenalização na campanha,
na ordem dos 56,4 por cento, faz com cialistas venham a acordar com o PSD marcando a diferença de forma abissal
que o resultado do referendo não seja os contornos da regulamentação. Um para a atitude de António Guterres, em
e PS promete
vinculativo, pois não votaram metade consenso de centro, suficientemente 1998, que cedeu então o referendo ao
mais um dos eleitores. Mas, ontem à abrangente, para que a lei resista à líder do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa,
noite, todas as forças políticas foram contestação e à polémica que o CDS e bloqueando a acção do PS em relação
consensuais a aceitar a inevitabilidade o movimento Plataforma Não Obriga- à campanha e acabando mesmo por
aprovação
política da aprovação da lei. Até por- da já prometeram. afirmar que era partidário do “não”.
que esse foi o compromisso assumido Mas se esta é uma vitória de Sócrates
pelo primeiro-ministro e líder do PS, Vitória pessoal de Sócrates ela é igualmente a solução do último
José Sócrates, ainda antes da campa- Se esta é uma vitória do PS, ela é, compromisso com os partidos mais
urgente da lei
nha, no Congresso do PS, que se reali- sobretudo, a vitória do próprio José à esquerda e particularmente com
zou em Novembro, em Santarém. Sócrates. Não só pela forma pessoa- o BE que Sócrates transportava con-
A certeza da celeridade na finali- líssima como assumiu esta causa:ins- sigo desde a sua eleição como secre-
zação do processo legislativo sobre creveu-a no programa eleitoral e no tário-geral, a receber a herança do
a despenalização é garantida pelos programa do Governo e insistiu na guterrismo neste dossier. Agora, está
socialistas e foi ontem afirmado pe- repetição do referendo. Mas também liberto de compromissos com o Bloco
lo primeiro-ministro, José Sócrates. pela forma como deu a cara em no- de Esquerda.
Com carácter de urgência, seguir-
se-á a posterior regulamentação da A força dos cidadãos
lei. Ontem, o primeiro-ministro não Os números finais A vitória do “sim” foi também uma
adiantou pormenores sobre a solução vitória do BE. Desde o início da dis-
a adoptar, apenas deu dois sinais: vai cussão sobre a repetição do referendo,
seguir soluções em vigor noutros paí- 2238053 pelo “Sim” ou seja, praticamente desde a anterior
Sócrates obteve uma vitória ses e garantirá um período de reflexão Com mais quase um milhão de consulta popular, que o BE tem sido
à mulher que quer abortar. A próxima votos do que em 1998, graças a categórico na defesa da necessidade
pessoal. Mas a vitória foi também intervenção de Sócrates sobre o assun- uma maior mobilização, o “Sim” de não fugir a esta etapa de legitima-
to deverá ser feita depois de amanhã, ganhou agora por 18,5 pontos. ção popular da lei. Ontem, Francisco
da ideia de que a participação cívica em Óbidos, o palco escolhido pelo PS Louçã não deixou de puxar pelos seus
para, numas jornadas parlamentares, 1539078 pelo “Não” louros de ganhador, marcando a dife-
é possível. Segue-se a aprovação dar ao primeiro-ministro espaço para A diminuição da abstenção rença de atitude em relação ao PCP.
cantar vitória neste referendo. ainda permitiu que, mesmo Isto porque os comunistas entraram
final da lei e a sua regulamentação, As decisões que Sócrates venha a perdendo, o “Não” recolhesse na campanha do “sim” com tudo, mas
tomar sobre o tipo de regulamenta- este ano mais 200 mil votos. nunca deixaram de afirmar a sua opo-
com carácter de urgência ção da lei da despenalização até às sição absoluta ao facto de o PS ter op-
3. Público • Segunda-feira 12 Fevereiro 2007 • 3
O movimento do “Não” mostrou profissionalismo mesmo na derrota
MIGUEL MADEIRA
tado por repetir o referendo.
O resultado de ontem foi ainda uma
clara vitória dos movimentos de cida-
Presidente ao votar
Cavaco desaconselha
O dia seguinte à escolha dos portugueses
dãos. Quer do lado do “não” quer do
lado do “sim” surgiram, pela primeira precipitação sobre
vez, em momentos de decisão nas ur- Lei do Referendo deveriam ocupar os legisladores deixará de se colocar é a da
nas, grupos de cidadãos organizados Editorial é, depois de alterado o artigo do objecção de consciência dos
em torno de uma causa. Pelo lado Com níveis de abstenção Código Penal, de tirar partido médicos. Em França, quando a lei
do “não” e prometendo não desistir superiores a 50 por cento, o da nova realidade para que o foi introduzida, o tema gerou uma
– Isilda Pegado e Pinheiro Torres foram referendo não foi vinculativo. E número de abortos, agora legais, crise e quase levou à dissolução
peremptórios – a Plataforma Não Obri- embora o número de votantes não aumente, antes diminua. da respectiva Ordem. Ora num
gada mostrou uma capacidade de mo- tenha sido superior ao anterior A experiência de outros países país onde os médicos têm de
bilização e um profissionalismo que referendo, foi inferior ao da mostra que se pode evoluir em seguir um Código Deontológico
foi inédito e que, até certo ponto, consulta sobre regionalização. direcções diferentes e isso tem que nem contempla as situações
aumenta o peso da sua derrota. Esta situação volta a avivar o muito a ver, por exemplo, com a despenalizadas desde 1984, são
Do lado do “sim” o Movimento Res- debate sobre a necessidade ou prevalência de problemas como a de prever problemas na aplicação
José Manuel Fernandes
ponsabilidade e Cidadania, como prin- não de rever a Lei do Referendo. gravidez adolescente ou o défice em concreto da nova legislação,
cipal agrupamento, era o outro grande Isto porque, face ao carácter a Os eleitores deram, desta vez, de informação sobre planeamento sobretudo nos serviços públicos.
vencedor da noite. E isso foi visível na vinculativo voltar a ser nulo, uma maioria confortável ao “sim”. familiar tanto nos serviços de Aqui aconselha-se prudência
onda de felicidade que irrompeu no discute-se o interesse da O que significa que a Assembleia saúde ou entre as comunidades e persuasão, assim como a
Hotel Altis, em Lisboa, quando foram claúsula legal de vinculação. da República pode, como foi pior integradas. A experiência utilização do sector privado.
anunciadas as projecções. Em 1998, esta discussão foi prometido pela maioria dos de países que têm lidado com A quarta questão remete para
Agregando personalidades de várias lançada durante a campanha partidos, modificar o artigo do situações mais complexas indica as sempre adiadas promessas
áreas da esquerda, algumas até então por figuras como Jorge Sampaio, Código Penal que criminalizava a que estes problemas não se de ter políticas que contrariem
em ruptura, este movimento, ainda que defendeu que a lei poderia interrupção da gravidez a não ser resolvem apenas nas escolas ou a tendência dos portugueses
que com contornos absolutamente ser alterada. Ontem, o actual em circunstâncias excepcionais. no consultório médico, antes para terem cada vez menos
amadores em alguns aspectos orga- Presidente da República, Por isso, o dia seguinte à escolha promovendo uma cultura de filhos. Não há qualquer relação
nizacionais, revelou uma dinâmica Cavaco Silva, desaconselhou dos portugueses é também o dia responsabilidade nas relações de directa entre a liberdade dada
inédita na sociedade civil portuguesa qualquer alteração legislativa em que os eleitores devolvem aos onde possa resultar uma gravidez. à mulher para interromper
em torno de causas políticas. Daí que precipitada: “É matéria que seus representantes o direito e o Estude-se, neste domínio, o uma gravidez e a necessidade
uma das incógnitas para o “day after” deve ser analisada, mas não me dever de legislar olhando para o exemplo inglês. que o país tem de que nasçam
do referendo seja a de saber o que vai parece que, com tanta facilidade futuro e tendo em conta os sinais A segunda questão que a mais crianças, pois ninguém é
acontecer a esta nova onda de parti- ou rapidez se possa pôr de parte saídos da campanha. lei ou a sua regulamentação responsável por carregar sozinho
cipação cívica. o instrumento do referendo.” Na verdade é bom estar deveriam prever é a conveniência um peso que cabe a todos. Há,
Falando depois de votar, Cavaco consciente que os problemas não da interrupção voluntária da contudo, necessidade de, agora
acrescentou, segundo a Lusa: acabam no momento em que gravidez poder ser antecedida por que desapareceu da agenda um
Uma das incógnitas do “Talvez seja matéria para a for revisto o famoso artigo do uma consulta de aconselhamento. tema que impedia a discussão
Assembleia meditar, mas pode Código Penal. Podem acabar as Por incrível que pareça, há de outros, tratar de melhorar as
“day after” do referendo ser precipitado pôr já de lado a investigações e os julgamentos, parteiras clandestinas que já o condições para uma maternidade
passa por saber o que vai possibilidade de os portugueses mas não desaparece o país e o faziam, mesmo podendo perder e uma paternidade responsáveis
se pronunciarem directamente” povo que, tendo até agora uma lei nessa conversa uma cliente. e adaptadas às exigências da vida
acontecer a esta nova onda sobre temas “consideradas idêntica à espanhola, aplicavam- Práticas deste tipo são regra em neste início do século XXI. Aí
importantes” para o país. na de forma bem distinta. muitos países europeus. convinha olhar para, por exemplo,
de participação cívica A primeira questão de que se A terceira questão que não os países nórdicos.
4. 4 • Público • Segunda-feira 12 Fevereiro 2007
Destaque
Referendo 2007 Um país que continua dividido entre Norte e Sul
2007
Sondagem pós-referendo
Homens foram mais pelo
“sim” do que as mulheres
Foram os homens, e particulares ou estar
não as mulheres, os que longe do local de voto. O
mais terão contribuído tema de o referendo não
para a vitória do lhe interessar ou manter-
“sim” no referendo de -se indeciso sobre como
ontem, revela uma votar foi referido por um
sondagem telefónica da quarto dos entrevistados.
Intercampus para a TVI e Apesar de nova baixa
o Rádio Clube Português participação eleitoral,
a cujos dados o PÚBLICO esta sondagem detectou
teve acesso. Este dado, o interesse dos eleitores
coincidente com o de para se pronunciarem
algumas sondagens em referendo sobre a
realizadas antes das eutanásia, a liberalização
eleições, é em parte do consumo de drogas
explicado por o número leves, a reintrodução
de mulheres com mais da pena de morte, o
55 anos ser superior ao casamento homossexual
número de homens e os e a adopção de crianças
eleitores mais idosos por homossexuais.
tenderem a votar “não” Este estudo foi
enquanto os mais novos realizado ontem pela
se inclinaram, de forma Intercampus para a
quase esmagadora, TVI e o Rádio Clube
para o “sim”. Os eleitores Português. O universo
com filhos, os casados, é constituído pela
os que vivem em união população portuguesa
de facto e os viúvos eleitoralmente
também se inclinaram recenseada, de ambos
proporcionalmente os sexos, residente em
menos para o “sim” do Portugal, com mais de 18
que os solteiros e os anos. A informação foi
separados ou divorciados. recolhida através de 1043
Entre os inquiridos entrevistas telefónicas
pela Intercampus para a residência dos
que admitiram não inquiridos. A margem
ter votado, os motivos de erro associada é de
mais vezes invocados 3,0%, com um nível de
foram impedimentos confiança de 95%.
1998
5.
6. 6 • Público • Segunda-feira 12 Fevereiro 2007
Destaque
Referendo 2007 Legislação será inspirada nas “boas práticas” de países desenvolvidos
DANIEL ROCHA
José Socrates entrou com uma expressão fechada na sede do PS e não se mostrou nunca muito emotivo
José Sócrates sem euforias não revela
para já como a lei vai ser aplicada
O líder do PS falou pelas 21h na da direita e dos movimentos do “não”, por dizer, ladeada por representantes
Primeiro-ministro sede socialista, em Lisboa, uma hora José Sócrates disse que a vitória do de todos os movimentos. “Os resulta-
garante que discussão depois de as televisões terem avan- “sim” mostra que o seu envolvimento dos são um sinal inequívoco para que
çado com a “vitória inequívoca” do na campanha foi justificado. “Este re- a Assembleia da República legisle de
no Parlamento vai ser “sim”. O ambiente ao longo da noite sultado veio-nos dar razão”, afirmou, acordo com a vontade dos portugue-
feita “de imediato” no Largo do Rato foi sempre sereno, sugerindo que quase nove anos depois ses”, afirmou, sublinhando depois que
sem manifestações de entusiasmo da última votação sobre a interrupção “a partir de agora, as mulheres vão ser
nem multidões, tendo estado apenas voluntária da gravidez era necessário tratadas com o respeito e a dignidade
Ricardo Dias Felner
reunido o núcleo duro de militantes voltar a auscultar a população. que merecem desde sempre e amanhã
a Era a grande dúvida da noite, após do Governo e do PS. vamos arregaçar as mangas e come-
saber-se o resultado do referendo, mas O secretário-geral socialista entrou çar a trabalhar para que este sonho
o primeiro-ministro e secretário-geral na sala de imprensa com a expressão se concretize.”
do PS não quis adiantar pormenores. fechada que normalmente usa nas in- Abraços, lágrimas As ovações interromperam por
Sobre a forma como irá ser aplicada a tervenções como primeiro-ministro. e champanhe num O “sim” fez a festa diversas vezes a breve declaração e
lei, José Sócrates apenas disse que ha- Nunca hostilizando os derrotados da soaram mais fortes quando a médica
verá um período de reflexão, para que noite, Sócrates louvou a “participação “dia muito feliz para a concentrados junto aos televisores, li- deu voz a um sentimento que todos
“a opção da mulher seja mais reflec- significativamente superior” compara- democracia” bertaram a tensão acumulada ao longo ali partilhavam: “Hoje é um dia muito
tida e ponderada”. Quanto ao resto, tivamente com o referendo de 1998, de todo o dia e insuflada pelas notícias feliz para a democracia”.
limitou-se a sublinhar que serão tidas repetiu que “em democracia o refe- da parca afluência às urnas. “Ao fim A festa foi dos movimentos cívicos,
Maria José Oliveira
em conta as “boas práticas” de outros rendo é sempre vinculativo”, elogiou destes anos todos...”, dizia uma acti- mas também houve elogios para o
países desenvolvidos. o “debate aberto” e garantiu que não a Gritos de “vitória, vitória”, bandei- vista, comovida, enquanto olhava para “empenho” dos membros dos parti-
Em causa estão, por exemplo, o mo- esteve em causa “derrotar ninguém”, ras verdes e brancas no ar e um longo os ecrãs de televisão. dos. Acorreram ao Altis Vasco Rato,
delo de financiamento das interrup- nem se tratou de um “confronto entre aplauso acompanhado de gritos de ale- Seguiram-se abraços e beijos, abri- Leonor Coutinho, Helena Pinto, Sónia
ções voluntárias da gravidez e a for- partidos”. gria. Quando as estações de televisão ram-se garrafas de champanhe, algu- Fertuzinhos e Pedro Nuno Santos. Ape-
ma como será feito o aconselhamento Quanto à discussão da lei, o secretá- anunciaram a antevisão dos resultados mas mulheres que lutam há anos pela sar do contentamento partilhado por
médico, dois tópicos muito debatidos rio-geral sublinhou que a Assembleia do segundo referendo sobre a inter- despenalização da IVG — como Maria militantes e activistas e do consenso
durante a campanha — e duas questões da República começará a trabalhar o rupção voluntária da gravidez (IVG), Antónia Palla, Ana Sara Brito, Lígia sobre a vitória do “sim”, as leituras so-
que, no entender do primeiro-minis- diploma “de imediato” e que as três às 20h em ponto, a sala do Hotel Altis, Amâncio ou Manuela Tavares — não bre a taxa de abstenção dividiam-se.
tro, são para já secundárias. O “mais deputadas da bancada do PS que fize- em Lisboa, irrompeu em alegria. esconderam a comoção. Choraram e De um lado estavam os movimentos,
importante”, reforçou Sócrates, é que ram campanha pelo “não” serão sub- Centenas de activistas de cinco mo- cantaram em coro “vitória, vitória”. defensores de uma análise profunda
Portugal combata o aborto clandesti- metidas à disciplina de voto imposta vimentos cívicos pelo “sim” ( Jovens Das projecções para a primeira de- dos resultados; do outro, os membros
no “na linha do que fizeram os países pelo grupo parlamentar. pelo Sim, Cidadania e Responsabili- claração da noite, feita pela médica dos partidos, despreocupados com a
mais desenvolvidos”, em “passo firme Por fim, naquilo que pareceu uma dade pelo Sim, Em Movimento pelo Maria José Alves, o salto foi rápido. abstenção e optando antes por relevar
para uma sociedade mais aberta”. reacção às críticas feitas pelos partidos Sim, Médicos pela Escolha e Voto Sim), “Boa noite, o sim ganhou”, começou o aumento da votação face a 1998.
7. Público • Segunda-feira 12 Fevereiro 2007 • 7
Marques Mendes respeita o ‘sim’ mas põe
condições à aprovação do novo diploma
Rostos tristes entre os apoiantes do “não” só mesmo até às dez semanas”, dizia
ENRIC VIVES-RUBIO
Sede do PSD sem festa alguém. Mas a frase mais repetida
nem lamentos e com era outra: “Só já faltam oito anos”.
Muitos queriam um novo referendo.
mais jornalistas que Pinheiro Torres, da associação Juntos
militantes pela Vida, era um deles: “Quando as
circunstâncias políticas o permitirem,
tentaremos revogar esta lei”.
Leonete Botelho
A noite decorreu sem sobressaltos.
a No PSD, tudo se passou como há Aplausos para o discurso de Pegado.
oito anos atrás... só que ao contrário. Apupos para o discurso de Sócrates. O
O partido deu liberdade de voto, tal mau perder revelou-se uma única vez,
como em 1998; o líder fez campanha quando alguém subiu o volume para
pelo “não”, como na altura fez Marcelo ouvir o discurso do primeiro-ministro.
Rebelo de Sousa; a sede do partido não Pedro Líbano Monteiro, mandatário fi-
se preparou para ser palco de festas. nanceiro, mandou silenciar o socialista
Mas desta vez venceu o “sim”, para ao mesmo tempo que dizia “eu não o
a felicidade exuberante de Assunção convidei”. Uma mulher atirou: “a tua
Esteves, a vice-presidente “laranja” mãe era uma grande mulher, senão
que passeou ontem pela S. Caetano à não estavas aqui...”
Lapa como gata pelas brasas. Já a passagem de algumas perso-
Foi esta coerência que o presidente nalidades pouco agitou a sede. Zita
do partido sublinhou ontem à noite, Seabra, ex-comunista e deputada do
40 minutos depois de conhecidas as PSD, Ribeiro e Castro, presidente do
projecções da noite referendária: a CDS, e Braga da Cruz, reitor da Uni-
consulta popular voltou a não ser “ju- versidade Católica, passaram quase
ridicamente vinculativa” mas, apesar despercebidos.
disso, a vontade da maioria “deve ser
respeitada”. “É um imperativo de coe-
rência, adoptar o mesmo princípio de Movimentos do “não”
há oito anos, quando venceu o não”, prometem luta para
declarou Mendes.
Estava traçado o rumo do maior hoje, amanhã e daqui
partido da oposição na legislação a oito anos
que se segue, mas não sem avisos à
maioria. Num “apelo ao Parlamento”,
Nuno Sá Lourenço
Mendes lembrou que a votação mos-
tra “um país dividido” e que é preciso a Vencidos mas não derrotados. A
“evitar clivagens e radicalismos”. Por noite da Plataforma Não Obrigada e
isso, defende que a nova lei deve ser movimento Diz que Não decorreu
marcada por “critérios de prudência ontem sem grandes dramas e com
e equilíbrio”. promessas de contestação à mudan-
Concretamente, aponta duas exi- ça do Código Penal.
gências, que poderão ser condições Durante a noite, na baixa lisboeta,
para aprovar a lei: a obrigatoriedade poucas eram as expressões abatidas
do período de aconselhamento da mesmo depois de se ter tornado ób-
mulher inclinada a abortar e dar “um via a vitória não vinculativa do “sim”.
sinal claro de compromisso do Estado Entre os activistas discutia-se o que fa-
no apoio a uma política de prevenção zer, a partir de agora, para contrariar
e ataque às causas” do aborto. Ou seja, a despenalização.
apoiar as mulheres grávidas em situ- Isilda Pegado, uma das figuras da
ação de carência e as instituições de Plataforma, assumia a batalha já para
defesa da vida, especificou. os próximos dias. “Se se mantiverem
Mendes fez ainda uma menção ao estes resultados, 75 por cento dos
“excelente exemplo de cidadania” de portugueses não disseram sim à alte-
muitos movimentos cívicos que se ração da actual lei.” Pegado questiona
organizaram para a campanha e re- a autoridade para mudar a lei sem a
cusou qualquer derrota pessoal por ter participação de mais de 50 por cento
participado na campanha pelo “não”. dos eleitores. “É um estudo que tem de
“Num referendo que não é partidário, ser feito pelos constitucionalistas. E o
não há resultados políticos”, frisou. Presidente da República vai ter de ana-
Pela sua parte, fez “o que devia”, de- lisar a questão se promulgar a lei.”
fendeu aquilo em que acredita. Na sala, os activistas davam largas
De resto, a sede do partido foi mais aos seus piores receios. “Temos que
dos jornalistas que dos filiados. A en- estar atentos se os abortos vão ser
tourage chegou já após as 19h: Marques
Mendes e o vice-presidente Azevedo
Soares quase juntos; Miguel Macedo, o
porta-voz, subiu os degraus dois a dois,
cinco minutos depois. Juntaram-se a
outros três dirigentes e por lá ficaram,
longe dos olhares dos jornalistas.
A grande sala de visitas, preparada
com quatro pequenos televisores e um
ecrã gigante, foi grande demais para
a dúzia de militantes que acorreram à
sede. E durante as cerca de duas horas
em que por lá andou gente o ambiente
não foi nem de festa nem de enterro:
simplesmente não houve ambiente. Mendes destacou a cidadania
8. 8 • Público • Segunda-feira 12 Fevereiro 2007
Destaque
Referendo 2007 A noite da votação nas sedes dos partidos
Esquerda
RUI GAUDENCIO
comemora e
direita promete
continuar a luta
penhamento e da contribuição dados
PCP O partido que não pela acção e campanha que o partido
queria o referendo desenvolveu”. O fait divers da noite
na Soeiro Pereira Gomes foi a vitória
realçou o seu contributo esmagadora do “sim” em Pirescoxe,
na vitória do “sim” a freguesia operária de Santa Iria de
Azóia que viu nascer o secretário-geral
do PCP – mil eleitores votaram “sim” e
Diana Ralha
apenas 169 optaram pelo “não”.
a Na sede do partido que se bate há Os comunistas, que, no passado,
mais anos pela despenalização da apresentaram uma proposta legislativa
interrupção voluntária da gravidez e que despenalizava o aborto até às 12
que, no entanto, se opôs à realização semanas, admitem recuar até às dez.
de um segundo referendo, não se ouvi- “A pergunta era muito concreta. Inde-
ram palmas ou ovações aos primeiros pendentemente de considerarmos que
segundos das oito da noite, quando se podia dar um passo mais adiante,
divulgadas as primeiras projecções. este já é um passo muito grande que
Com uma casa cheia de jornalistas e irá resolver a maioria das situações”,
com muito poucos militantes presen- afirmou o secretário-geral do PCP.
tes – que optaram por se concentrar e
festejar aos resultados na sede do mo-
vimento cívico pelo “sim” – , o secretá- CDS Sócrates
rio-geral do PCP, Jerónimo de Sousa,
exigiu “a rápida concretização do pro- responsabilizado por
cesso legislativo que contribua para uma das “páginas tristes
não prolongar o tempo perdido”.
Para Jerónimo de Sousa, houve ape- da História portuguesa”
nas um vencedor no referendo sobre a
despenalização da interrupção volun-
Isabel Leiria
tária da gravidez: a mulher portugue-
sa. “Que ninguém erga a taça. Esta é a Pela manhã, José Ribeiro e Castro,
uma vitória das mulheres.” líder do único partido com assento
Vitória à parte, o secretário-geral parlamentar a defender oficialmente
não deixou passar em branco, na sua o “não” no referendo de ontem, dizia
declaração, feita perto das 21h, “a com- esperar “ter razões para estar contente
provada inadequação do recurso à fi- ao fim do dia”. Conhecidos os resulta-
gura do referendo em matéria que a dos, já na sede do CDS-PP, no Largo do
Assembleia da República não só podia, Caldas, os sentimentos eram, afinal, de
como devia, ter assumido”. “Não era “mágoa, serenidade e determinação”,
preciso o referendo”, afirmou, acu- admitia o próprio. Mas com a certeza
sando o Governo PS e o BE de terem de que o partido votará “contra as leis Ribeiro e Castro não escondeu a
adiado a resolução do problema por de liberalização do aborto” e que pug- sua mágua pela derrota do “não”
mais dois anos. nará, “no futuro, pela sua alteração”. Se
A abstenção também foi alvo de o CDS-PP voltar ao Governo, é isso que pública”, passando pelo “abuso de em- em direcção ao “século XXI”. pressivo na alegria. A declaração da
interpretação por parte de Jerónimo fará, reforçou Ribeiro e Castro. presas especializadas no aborto, que “Agora é tempo de olhar para o médica Maria José Alves, em nome dos
de Sousa: “A grande maioria dos por- Com um cartaz rosa e branco por exploram um negócio de violência so- futuro”, convidou o coordenador do movimentos cívicos que fizeram cam-
tugueses que não votou fê-lo porque trás, onde se via uma impressão di- bre a vulnerabilidade da mulher, com partido, Francisco Louçã, apelando “a panha pelo “sim”, foi recebida com
a Assembleia tinha legitimidade para gital e um feto no meio e o lema Ne- o financiamento do Estado”. todos que agora se juntem à imensa uma ruidosa salva de palmas. Ribei-
legislar”. nhuma vida é de mais, o líder popular Uma hora antes, João Vacas, da co- maioria que decidirá” a regulamenta- ro e Castro foi o único que conseguiu
O contributo do partido no resulta- afirmou peremptoriamente que o missão política, afirmara que o nível ção da lei, que deve, nomeadamente, tirar o sorriso da cara de Louçã, que
do de um referendo que o PCP sempre primeiro-ministro “ficará responsável de abstenção mostrou “que esta não “impedir que a objecção de cons- abanava a cabeça enquanto criticava o
considerou desnecessário foi, porém, por uma das páginas tristes da História era uma questão essencial para os por- ciência obstaculize” o cumprimento “descaramento” do líder do CDS-PP.
realçado pelo seu secretário-geral: “Os portuguesa”. Porque, com a vitória do tugueses” e que se tinha aberto “uma da despenalização do aborto até às Feita a declaração da noite pelo co-
resultados obtidos em zonas de maior “sim” e a subsequente “liberalização fractura artificial na sociedade”. dez semanas pelo Serviço Nacional ordenador do partido – ainda houve
afluência do PCP são expressão do em- total do aborto até às 10 semanas de de Saúde. “Nos próximos dias, po- quem pedisse a palavra para “uma
gestação”, “Portugal desacertou o pas- deremos entrar finalmente no século mulher”, mas Ana Drago diria que “a
so com a História”, justificou. BE Louçã convida XXI e na Europa em que queremos vitória é de todos” –, o eurodeputado
Acompanhado por vários dirigen- “todos” a contribuírem estar”, vincou. Miguel Portas depressa pôs em marcha
tes do partido, que se mantiveram à A tensão foi muita antes de anun- uma comitiva de gente e de bandeiras
entrada da sala de imprensa e apenas para regulamentar a lei ciadas as sondagens, com os princi- verdes com a palavra “sim”, em direc-
pontualmente aplaudiram a interven- pais dirigentes do BE a, volta e meia, ção ao Hotel Altis, a umas centenas de
ção, Ribeiro e Castro reafirmou a con- escaparem para uma salinha mais metros, onde se reuniam os movimen-
Sofia Branco
vicção de que a alteração da legislação recatada. tos pela despenalização. Porque a “vi-
“fere a matriz humanista da História” e a “Hoje é o primeiro dia do resto da Oito minutos para as oito e um tória não é dos partidos políticos, mas
consagra “uma dupla violência: sobre tua vida.” A voz de Sérgio Godinho militante anunciava que, apuradas dos cidadãos”, reconheceu Louçã.
o filho e sobre a mulher, mãe”. saía assim das colunas de som após a 1979 freguesias, o “sim” acabava de Fazendo ouvidos moucos a quem
O CDS promete, no entanto, escru- intervenção de Francisco Louçã. An- ultrapassar o “não”. “Agora é sempre lhe pedia para desacelerar o passo e
tinar tudo o que vai seguir-se: desde tes, tinha cantado que “a vida é feita de a subir”, animava. animado com as buzinadelas de apoio
o “conteúdo e a constitucionalidade pequenos nadas”. Mas, ontem à noite, Conhecidas as projecções, os olhos vindas dos carros que por ali circula-
das leis e regulamentos que a maioria para os militantes do Bloco de Esquer- estiveram sempre postos no grande vam, Miguel Portas estugava o passo,
socialista e o Governo se preparam pa- da reunidos numa sala do hotel Sofitel, ecrã, que ia saltando de canal em comentando: “Esta [vitória] sabe-me
Jerónimo esteve discreto ra adoptar”, às “prioridades de saúde em Lisboa, o país deu um grande passo canal. Francisco Louçã era o mais ex- bem, demos o litro”.
9. Público • Segunda-feira 12 Fevereiro 2007 • 9
A festa do “não” e a não-festa do “sim”
frente, na vetusta Associação — estão na rua a fumar. “Este
NUNO FERREIRA SANTOS
Reportagem Comercial de Lisboa, com o seu mês tivemos várias vitórias. Cada
interior apalaçado de mármore pessoa que convencemos de
e alabastro, o “não” montou a que o aborto é um mal foi uma
Kathleen Gomes
sua sede em noite de referendo. vitória”, diz José Maria Duque.
Houve champanhe mas o Com banca no átrio de entrada, “A vida não acabou hoje. O mais
para quem quiser adquirir, certo é sairmos daqui e irmo-nos
“sim” não saiu à rua. E o ainda, o merchandising do “não” divertir”.
“não” montou a sede na — os bonecos de plástico de um E quando sairão daqui?
Baixa de Lisboa, um bom embrião com 10/12 semanas “Quando a festa acabar.”
lugar para celebrar vitórias custam um euro. Já passa da nove da noite e no
São 19h30 e dentro de meia Hotel Altis há uma garrafa de
hora tudo isto terá desaparecido. champanhe vazia num cinzeiro.
a A Rua das Portas de Santo Dentro de meia hora, a SIC Sorrisos, abraços. Uma mulher
Antão, em Lisboa, é um bom lugar antecipa a vitória do “sim”, com brinca com uma criança: “Estás
para celebrar vitórias. Porta- imagens em directo — esfuziantes contente, é? Mas tu não votaste...”
sim, porta-não há néons, as luzes — da respectiva sede. Os defensores do “sim” começam
competem entre si. O silêncio é absoluto na a sair para a rua, de bandeiras
Há famílias a sair da sessão da Associação Comercial de Lisboa. verdes ao ombro. Meia dúzia de
tarde do Música no Coração de La Mas não foi isso que as jovens gritam “votámos sim!” à
Féria, no Politeama, ao mesmo televisões mostraram. Quando porta do hotel — show off para as
tempo que a fila se adensa no as câmaras se ligaram e Isilda O show off à saída do Hotel Altis câmaras dos fotógrafos.
Coliseu dos Recreios onde, daqui Pegado disse “boa noite a todos”, O Marquês de Pombal, rotunda
a nada, haverá concerto dos Nine a sala rompeu em palmas. está a passar aqui? “Sim”, diz ele. voto de Santos-o-Velho para aqui, de celebrações eleitorais e
Inch Nails — que rapazes de rímel “A noite ainda é uma criança”, “Também somos contra.” Ela: depois da contagem ter dado a futebolísticas, é já ali ao lado, mas
esperavam ver em Portugal há diz alguém. Um jornalista da TVI “Bela sala, a de lá de cima.” vitória ao “sim” na sua freguesia. não há programa de festa.
mais tempo do que o anterior fala com o filho, por telemóvel: De vez em quando, o “não” Não que isso o desanimasse: “Não “Isto não é propriamente
referendo. “Não perca a esperança...” festeja — quando os resultados achei que fosse representativo do uma coisa de apitar...”, justifica
É uma improvável vizinhança Um casal de turistas belgas vem na Madeira são divulgados, por país”. Daniel Oliveira, dirigente do
para os movimentos de apoio ver as vistas. Descem a escadaria, exemplo — e os festejos ouvem-se Ele e os amigos — todos do Bloco de Esquerda e porta-voz do
ao “não” — mas ninguém lançam um último olhar aos na rua. Bernardo Gomes de Castro movimento Diz Que Não, com movimento Voto Sim. “Cada um
escolhe os vizinhos. Mesmo em altos-relevos. Sabem o que se veio directamente da mesa de idades entre os 23 e os 18 anos festejará como quiser.”
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10. 10 • Público • Segunda-feira 12 Fevereiro 2007
Destaque
Referendo 2007 Os dias diferentes de um pároco e de um ginecologista-obstetra
A consciência é um santuário íntimo,
mas o padre Geraldo quer educá-la
PEDRO CUNHA
Reportagem
Bárbara Wong
É um homem carinhoso
para com os seus fiéis, mas
pouco compreensivo para
com os que votam “sim”.
a À porta da igreja de São Pedro,
dentro das muralhas de Óbidos,
entre os avisos da catequese e da
Cáritas, há uma página com um
poema: “A criança que queria
nascer”. Diz: “Era tão pequeno, que
ninguém o via” (...) “foi sacrificado,
enquanto dormia/ esterilizado, com
toda a mestria” (...) “Negaram-lhe
tudo, o destino inteiro/ porque os
abortistas nasceram primeiro”. Não
está assinado.
Lá dentro, num outro placard, o
mesmo poema. Na missa do meio-
dia, o padre Paulo Geraldo, de 43
anos, não fala sobre “abortistas”
nem sobre o aborto. É dia de ir às
urnas e o sacerdote não quer fazer
campanha. A única vez que se refere
ao assunto é por entre os habituais
avisos semanais: vai haver um retiro
quaresmal, uma peregrinação a
Fátima, um curso bíblico, estão
abertas as inscrições para a
preparação para o crisma e já agora
“hoje é dia de voto... Construam um
mundo melhor, mais justo e mais O padre Geraldo diz que os padres que são a favor do “sim” fazem-no de um modo um pouco tonto
humano”, apela.
Três horas antes, na Igreja de gesto hora e meia depois, na igreja publicamente que votariam “sim”. de produtores e comerciantes de decidir se queriam ser esclarecidas
Nossa Senhora do Rosário, na de São Pedro de Óbidos, onde “Neste ponto a doutrina da Igreja fruta; outras mais urbanas. Durante sobre o tema, só três o pediram.
Usseira, uma povoação agrícola aproveita para desejar os parabéns a não admite outra perspectiva [que o tempo da campanha, só houve “A Igreja diz que a consciência
a poucos quilómetros de Óbidos uma paroquiana. No final da missa, não seja contra o aborto]”. E os um domingo em que aproveitou a é um santuário íntimo, ao qual se
a deixa praticamente a mesma vem até à porta da rua, para se padres que são a favor da mudança homília para falar contra o aborto, deve obedecer, mesmo que não se
mensagem. Nem mais uma palavra despedir de todos e desejar uma boa da lei? “Dizem-no em nome pessoal, diz. “Parece que querem encontrar conduza pelos ditames da Igreja.
sobre o tema. É já no carro e durante semana. de uma maneira um bocado tonta e outras formas de desengravidar. Mas o nosso dever é educar as
a curta viagem de Usseira para o Este é o mesmo homem que se que não é para levar a sério.” A única possibilidade é a consciências”. É o que o padre
Vau, perto da Lagoa de Óbidos, que revela pouco compreensivo para A comunidade de Óbidos tem maternidade”, resume. Nesse tempo, Geraldo vai fazer, agora que o “sim”
fala sobre o aborto: “A posição da com os católicos que declararam sete paróquias, umas mais rurais, as paróquias tiveram liberdade para ganhou.
Igreja é clara. O porta-voz, que é
o Papa, está farto de falar sobre o
tema. Antes de se pôr esta questão
já o Concílio Vaticano II, há 40
anos, chamou ao aborto um crime
O médico que fez “dezenas” de abortos e festejou o “sim”
horrendo”.
várias na fachada. Um edifício “consultas normais de ginecologia”, o cytotec não resulta ou já não
Alexandra Lucas Coelho
“Não é para levar a sério” nobre do centro da cidade, cheio de fizesse em condições seguras o que a pode ser tomado, faz aspirações.
O padre Geraldo é um homem Num prédio nobre de Lisboa, consultórios. lei penalizava. Um aborto que implique a pequena
amoroso e atencioso para com os Não é o cliché da clandestinidade Respeitando “os colegas que cirurgia (raspagem ou aspiração)
seus paroquianos. “Vim para fazer
A., que é estrangeiro, tem e A. não é uma parteira. É consideram que a prática abortiva pode custar até 500 euros, incluindo
desta gente a minha família. Foi por atendido portuguesas entre ginecologista-obstetra desde 1976, e não entra na profissão”, A. encara consulta e ecografia. O seu “limite
isso que não me casei”, justifica. os 25 e os 40 anos concluiu a especialidade com uma “a interrupção voluntária da pessoal” são as 24 semanas, a partir
Está em Óbidos há quatro meses, tese sobre as consequências do gravidez como parte do espectro das quais “há uma viabilidade do
antes estivera dez anos em Colares, a 20h05. Uma campainha desata aborto clandestino. Isto, num país O médico feto” e “o feto já pode sentir algo”.
perto de Sintra, para onde seguirá a tocar no bolso de A. “Si, si, da União Europeia, onde exerceu os espanhol diz Sala a sala, A. mostra um
depois do almoço, para votar. ganhámos, estou mui contento”, primeiros dez anos. Quando a actual que a saúde consultório equipado para tudo isto.
É com um sorriso que acolhe atende ele, já à porta do consultório, lei espanhola sobre o aborto foi pública não é só De resto, a equipa é pequena, “uma
as malandrices que os pequenos com metade do casaco vestido. “Si, aprovada, em 1986, mudou-se para da competência secretária e duas assistentes”, uma
acólitos fazem em cima do altar. agora vou para o Altis.” Juntar-se aos Espanha, onde teve uma clínica até do Estado, mas delas com formação de enfermagem.
O mesmo sorriso com que afaga o portugueses que votaram “sim”. A. 2000. dos médicos Mas a maioria das consultas,
rosto da velhinha que se arrasta até não votou porque não é português. Foi então que se instalou em envolvidos afirma, são consultas normais de
à sacristia para, com saudades da De resto, o referendo dizia-lhe muito Lisboa. Por razões pessoais (uma profissional”. ginecologia. “O meu consultório não
voz do marido que partiu, pedir ao directamente respeito. É o seu separação) e porque cada vez mais Nesta mesma sala, recebeu nos depende de cobrar mais ou menos
sacerdote que reze por ele. nome que está escrito na placa deste médicos e enfermeiros espanhóis últimos quatro anos mulheres pelos abortos.” Além disso, crê,
Durante a missa, por entre os consultório-clínica no centro de encontravam trabalho em Portugal, “sobretudo de classe média alta”, continuará a haver uma faixa de
ritos, o padre Geraldo desce do altar Lisboa onde desde 2003 “dezenas de mas não só. “Não escondo que entre os 25 e os 40 anos. Nos casos mulheres a preferir a discrição das
para dar o abraço da paz aos fiéis mulheres” já abortaram. fui um observador interessado do de gravidez até 6/8 semanas, receita clínicas privadas.
que se sentam nos primeiros bancos Ginecologia-obstetrícia-ecografia- referendo anterior. Uma decepção.” um fármaco abortivo, o cytotec, A sua satisfação com a vitória do
da paróquia de Nossa Senhora da planeamento familiar, anuncia a Havia espaço em Lisboa para depois do qual pode ou não ser “sim” é total, garante. “Uma boa
Piedade do Vau. Repete o mesmo placa, a maior e mais vistosa entre uma pequena clínica que, além das necessária uma raspagem. Quando notícia, sem dúvidas.”
11.
12. 12 • Público • Segunda-feira 12 Fevereiro 2007
Destaque
Concelho a concelho “Sim” ganhou terreno ao “não” com ajuda de abstenção mais baixa
1988 2007 1988 2007 1988 2007 1988 2007 1988 2007
Sim Não Sim Não Abs. Sim Não Sim Não Abs. Sim Não Sim Não Abs. Sim Não Sim Não Abs. Sim Não Sim Não Abs.
Águeda 43,67 56,33 55,68 44,32 61,67 Aljustrel 83,57 16,43 90,41 9,59 52,26 Amares 13,81 86,19 28,46 71,54 55,14 Alfândega da Fé 25,95 74,05 41,06 58,94 60,33 Belmonte 52,45 47,55 69,36 30,64 62,34
Albergaria-a-Velha 33,38 66,62 44,01 55,99 59,86 Almodôvar 66,74 33,26 76,00 24,00 70,73 Barcelos 16,60 83,40 32,58 67,42 48,39 Bragança 32,77 67,23 47,13 52,87 66,67 Castelo Branco 58,09 41,91 68,03 31,97 57,42
Anadia 40,41 59,59 51,01 48,99 61,44 Alvito 75,71 24,29 78,88 21,12 62,01 Braga 32,40 67,60 47,98 52,02 51,36 Carrazeda de Ansiães 26,94 73,06 41,78 58,22 66,91 Covilhã 54,05 45,95 67,25 32,75 57,85
Arouca 13,31 86,69 22,84 77,16 54,84 Barrancos 62,41 37,59 68,26 31,74 69,15 Cabeceiras de Basto 15,02 84,98 37,53 62,47 64,17 Freixo de Espada à Cinta 31,69 68,31 47,87 52,13 69,69 Fundão 48,07 51,93 62,98 37,02 60,74
Aveiro 46,77 53,23 53,93 46,07 56,57 Beja 77,76 22,24 83,18 16,82 54,70 Celorico de Basto 11,89 88,11 28,15 71,85 61,49 Macedo de Cavaleiros 13,21 86,79 28,72 71,28 62,77 Idanha-a-Nova 45,83 54,17 63,16 36,84 66,46
Castelo de Paiva 20,79 79,21 37,04 62,96 63,97 Castro Verde 81,65 18,35 86,84 13,16 58,15 Esposende 15,74 84,26 31,84 68,16 51,66 Miranda do Douro 28,77 71,23 44,74 55,26 64,17 Oleiros 19,16 80,84 35,58 64,42 62,96
Espinho 44,24 55,76 52,52 47,48 52,31 Cuba 72,55 27,45 83,00 17,00 64,22 Fafe 25,67 74,33 49,42 50,58 60,51 Mirandela 29,45 70,55 41,64 58,36 62,96 Penamacor 32,59 67,41 53,09 46,91 67,30
Estarreja 32,10 67,90 43,75 56,25 60,88 Ferreira do Alentejo 87,26 12,74 89,66 10,34 55,03 Guimarães 27,87 72,13 47,71 52,29 53,26 Mogadouro 22,29 77,71 35,75 64,25 66,25 Proença-a-Nova 23,72 76,28 38,70 61,30 54,98
Santa Maria da Feira 25,05 74,95 40,34 59,66 55,68 Mértola 81,64 18,36 85,77 14,23 62,99 Póvoa de Lanhoso 14,88 85,12 30,14 69,86 58,39 Torre de Moncorvo 30,16 69,84 43,35 56,65 65,44 Sertã 27,18 72,82 46,96 53,04 63,32
Ílhavo 37,53 62,47 49,49 50,51 61,11 Moura 72,43 27,57 80,55 19,45 68,55 Terras de Bouro 11,58 88,42 27,24 72,76 58,79 Vila Flor 30,53 69,47 44,38 55,62 62,82 Vila de Rei 14,23 85,77 29,87 70,13 44,83
Mealhada 63,79 36,21 71,92 28,08 63,16 Odemira 79,20 20,80 84,54 15,46 59,12 Vieira do Minho 14,70 85,30 28,54 71,46 63,93 Vimioso 19,44 80,56 35,02 64,98 69,96 Vila Velha de Rodão 68,83 31,17 78,15 21,85 61,50
Murtosa 19,69 80,31 29,52 70,48 64,81 Ourique 74,41 25,59 78,20 21,80 68,68 Vila Nova de Famalicão 25,92 74,08 45,59 54,41 51,77 Vinhais 24,08 75,92 41,20 58,80 73,12
Oliveira de Azeméis 24,46 75,54 39,05 60,95 55,93 Serpa 78,04 21,96 83,08 16,92 60,63 Vila Verde 10,50 89,50 25,02 74,98 55,86
Oliveira do Bairro 26,35 73,65 36,37 63,63 59,37 Vidigueira 76,99 23,01 84,33 15,67 61,92 Vizela - - 49,83 50,17 57,59
Ovar 38,62 61,38 50,55 49,45 57,03
De braço dado com o número Em 1998, o “não” ganhou com
S. João da Madeira 41,14 58,86 51,39 48,61 56,13 É o distrito mais jovem do país, mas de votantes, o “sim” registou uma vantagem de cerca de cinco
Sever do Vouga 24,65 75,35 35,09 64,91 55,45 Aljustrel foi dos concelhos mais em Braga a vitória continuou a ser no distrito de Bragança um por cento. Ontem, o desfecho foi
Vagos 18,29 81,71 27,85 72,15 58,76
Vale de Cambra 20,20 79,80 32,21 67,79 54,45
empenhados na causa do “sim” do “não”, que ontem registou 58,8 crescimento assinalável. De um diferente: o “sim” registou 61,63 por
de todo o país: a abstenção ficou- por cento contra os 41,2 por cento a total de 26,3 por cento registado cento dos votos, enquanto o “não”
Seis concelhos do distrito de se “apenas” pelos 52,3 por cento, favor do “sim”. Mas o “não” perdeu em 1998, os defensores da se ficou pelos 38,37%. Em 1998,
Aveiro – Águeda, Anadia, Aveiro, e 90,4 por cento dos votantes margem relativamente a 1998, ano despenalização do aborto saltaram recorde-se, o “não” tinha obtido 52,8
Espinho, Ovar e S. João da Madeira aljustrelenses optaram pelo “sim”. O em que registou vitória estrondosa agora para os 41 por cento, num por cento dos votos, contra os 47,2
– transferiram-se do “não” para o panorama foi semelhante no resto com 77,3 por cento, muito acima dos universo de votantes que disparou por cento do “sim”. A abstenção
“sim”, juntando-se deste modo à do distrito. Com excepção do mais 22,78 por cento do “sim”. A afluência dos 28,6 para os 34,36 por cento. diminuiu ligeiramente, tendo o
Mealhada, único que em 1998 tinha pequeno município do continente, às urnas subiu de 39,5 por cento Ainda assim, esta subida não foi referendo de ontem registado uma
votado o favor da despenalização. Barrancos (onde o “sim” teve 68,3 registados em 1998 para os 46,4 suficiente para pôr em causa o participação de 40,53 por cento, na
Este concelho melhorou, aliás, o por cento), em todo o lado o “sim” registados ontem. Na soma dos 14 triunfo do “não” que, apesar de soma das 160 freguesias. Há nove
seu “score” (de 63,8 para 71, 9%). Em ganhou com mais de 75 por cento. concelhos do distrito, dividido em uma queda dos 73,8 para os 59 por anos, os votantes não foram além
Ílhavo, o “não” (50,5%) rivalizou com Apesar de Beja ter hoje menos oito 515 freguesias, ressalta Vila Verde cento, registou uma vantagem de dos 28,81 O concelho de Vila de Rei,
o “sim” (49,4%) e Arouca continua mil eleitores inscritos que em 1998, pela adesão ao “não”, que teve 18 pontos percentuais. No quadro onde a escassa natalidade se sente
à frente no “não”, embora com o número total de votantes cresceu 74,98 por cento dos votos. Em 1998, distrital, foi em Freixo-de-Espada- com particular acutilância, foi o
algum recuo: desceu de 86,7 para – foram mais 21 mil que há oito Vizela ainda não existia enquanto -à-Cinta que o “sim” teve mais força que registou maior percentagem de
77,1%, tendência que se verificou anos. E esse acréscimo foi quase concelho, mas, neste referendo, (47,87 por cento), quedando-se votos “não”: 70,13. Do lado do “sim”,
na generalidade dos restantes dez todo para o “sim”. O “não” teve destaca-se por ter registado a maior Vimioso como o mais importante Vila Velha do Ródão foi o concelho
concelhos. A participação subiu de apenas 8641 votos – ainda assim, percentagem de votos a favor do reduto do “não”, com 64,98 por com a mais alta percentagem de
37,4% para 45,5 % dos inscritos. F.F. mais 1500 que em 1998. P.R. aborto: 49, 8 por cento. N.F. cento dos votos. N.S. votos: 78,15 por cento. N.F.
1988 2007 1988 2007 1988 2007 1988 2007 1988 2007
Sim Não Sim Não Abs. Sim Não Sim Não Abs. Sim Não Sim Não Abs. Sim Não Sim Não Abs. Sim Não Sim Não Abs.
Arganil 45,04 54,96 54,68 45,32 63,44 Alandroal 77,89 22,11 82,71 17,29 62,24 Albufeira 72,11 27,89 76,48 23,52 61,58 Aguiar da Beira 18,04 81,96 34,01 65,99 63,97 Alcobaça 48,01 51,99 57,39 42,61 53,53
Cantanhede 36,39 63,61 47,81 52,19 61,33 Arraiolos 80,31 19,69 83,09 16,91 53,28 Alcoutim 68,85 31,15 73,81 26,19 72,68 Almeida 30,76 69,24 47,61 52,39 62,44 Alvaiázere 22,13 77,87 36,33 63,67 62,76
Coimbra 60,18 39,82 66,83 33,17 54,45 Borba 74,40 25,60 82,61 17,39 54,40 Alzejur 77,16 22,84 80,53 19,47 61,59 Celorico da Beira 28,76 71,24 45,87 54,13 65,28 Ansião 26,83 73,17 42,05 57,95 59,98
Condeixa a Nova 52,64 47,36 67,01 32,99 55,12 Estremoz 71,13 28,87 73,78 26,22 60,74 Castro Marim 68,58 31,42 73,98 26,02 66,50 Fig. Castelo Rodrigo 35,76 64,24 53,96 46,04 67,80 Batalha 30,99 69,01 45,97 54,03 47,73
Figueira da Foz 69,22 30,78 74,95 25,05 62,10 Évora 71,17 28,83 76,81 23,19 53,40 Faro 73,38 26,62 75,71 24,29 55,39 Fornos de Algodres 23,54 76,46 42,50 57,50 60,40 Bombarral 47,07 52,93 59,97 40,03 59,89
Góis 43,25 56,75 63,05 36,95 65,07 Montemor-o-Novo 77,92 22,08 82,63 17,37 50,74 Lagoa 65,86 34,14 69,97 30,03 60,18 Gouveia 38,96 61,04 52,79 47,21 66,09 Caldas da Rainha 57,25 42,75 61,86 38,14 58,00
Lousã 48,73 51,27 63,77 36,23 56,17 Mora 72,23 27,77 77,13 22,87 61,61 Lagos 72,97 27,03 75,49 24,51 56,74 Guarda 37,03 62,97 53,90 46,10 55,53 Castanheira de Pêra 58,22 41,78 68,51 31,49 66,26
Mira 28,01 71,99 40,69 59,31 61,00 Mourão 57,88 42,12 71,95 28,05 67,54 Loulé 71,21 28,79 73,78 26,22 63,80 Manteigas 35,29 64,71 52,33 47,67 64,58 Figueiró dos Vinhos 33,14 66,86 46,52 53,48 63,28
Miranda do Corvo 44,45 55,55 62,50 37,50 61,72 Portel 71,84 28,16 80,78 19,22 66,77 Monchique 35,16 64,84 51,34 48,66 60,52 Meda 19,60 80,40 36,96 63,04 62,85 Leiria 43,67 56,33 54,78 45,22 50,92
Montemor-o-Velho 55,94 44,06 65,41 34,59 66,27 Redondo 74,27 25,73 78,90 21,10 65,71 Olhão 69,08 30,92 69,80 30,20 65,36 Pinhel 24,90 75,10 41,84 58,16 64,25 Marinha Grande 82,37 17,63 83,26 16,74 50,5
Oliveira do Hospital 32,40 67,60 50,85 49,15 65,13 Reguengos Monsaraz 56,29 43,71 71,18 28,82 66,01 Portimão 68,56 31,44 72,03 27,97 58,12 Sabugal 23,43 76,57 41,03 58,97 62,59 Nazaré 67,29 32,71 74,83 25,17 63,65
Pampilhosa da Serra 20,37 79,63 44,27 55,73 64,12 Vendas Novas 78,83 21,17 81,28 18,72 53,28 S. Brás de Alportel 67,42 32,58 72,54 27,46 62,94 Seia 29,47 70,53 44,25 55,75 59,73 Óbidos 57,57 42,43 67,22 32,78 63,08
Penacova 43,65 56,35 55,67 44,33 65,51 Viana do Alentejo 78,03 21,97 83,11 16,89 58,51 Silves 69,71 30,29 76,77 23,23 63,34 Trancoso 22,09 77,91 40,57 59,43 64,00 Pedrógão Grande 33,94 66,06 50,63 49,37 67,95
Penela 28,12 71,88 48,03 51,97 66,58 Vila Viçosa 69,97 30,03 75,24 24,76 58,25 Tavira 69,42 30,58 72,43 27,57 64,31 Vila Nova de Foz-Côa 31,53 68,47 45,32 54,68 63,97 Peniche 56,39 43,61 64,33 35,67 61,96
Soure 54,83 45,17 65,32 34,68 60,62 Vila do Bispo 76,21 23,79 80,98 19,02 59,66 Pombal 37,87 62,13 51,93 48,07 63,59
Tábua 41,22 58,78 56,06 43,94 66,74 Vila Real de St. António 69,42 30,58 74,98 25,02 64,25 Porto de Mós 35,61 64,39 51,90 48,10 52,45
Vila Nova de Poiares 52,72 47,28 66,92 33,08 70,48 Há oito anos, os eborenses haviam O “não” voltou a ganhar na Guarda,
votado em massa “sim”; o cenário Só o concelho de Monchique havia mas agora com 53,1 por cento dos A Batalha é um caso raro neste
No referendo de 1998, o “sim” já repetiu-se em 2007, com o “sim” votado “não” em todo o Algarve em votos, muito longe dos 70,1 por referendo: mais de metade dos seus
ganhara em Coimbra, mas com a aumentar ainda mais a sua 1998. Desta vez, até na serra o “sim” cento que conquistara no referendo eleitores foi votar – a abstenção
apenas 52,9 dos votos – uma vitória vantagem. Em todos os concelhos triunfou – teve 51,3 por cento. No anterior. Em 1998, os partidários ficou-se pelos 47,7 por cento. No
tangencial, se comparada com os do distrito, o “sim” à pergunta resto do distrito de Faro, registou- da despenalização haviam mesmo conjunto do distrito houve uma
expressivos 63 por cento que ontem colocada neste referendo teve pelo se uma vitória a toda a linha do perdido em todos os 14 concelhos clara inversão de tendência: o
responderam afirmativamente à menos 71 por cento dos votos. A “sim”, com pelo menos 70 por cento do distrito, e a sua melhor votação “não” ganhara em 1998 com 51,8
pergunta que lhes foi colocada. E, abstenção registou uma redução dos votos expressos em todos os não ultrapassara os 39 por cento, por cento, desta vez ganhou o “sim”
ao contrário de 1998, quando o “sim” extraordinária – de 73,3 por cento concelhos. Faro já havia dado uma obtidos em Gouveia, um dos quatro com 58,3. Leiria foi dos distritos
venceu muito à custa dos centros em 1998 para 57 por cento este ano. ampla vitória ao “sim” em 1998, mas únicos concelhos – juntamente mais divididos: os resultados
urbanos de Coimbra, Figueira da Isso resultou em mais votos, tanto a margem de vitória cresceu este com a Guarda, Manteigas e variaram entre os 83,3 por cento
Foz e Montemor-o-Velho, tendo sido para o “sim” como para o “não”, mas ano quatro pontos percentuais. Figueira de Castelo Rodrigo –, onde do “sim” na Marinha Grande e os
minoritário em 11 dos 17 concelhos sobretudo para o “sim”. Na capital Como no resto do país, o factor mais o “sim” ontem venceu. Apesar da 63,7 do “não” em Alvaiázere. Mas a
do distrito, desta vez o “não” só de distrito, a abstenção ficou-se importante nos resultados globais campanha local do movimento tendência geral é reflectida pelos
ficou à frente em Cantanhede, Mira, pelos 53,4 por cento, enquanto o foi a abstenção: só 22,4 por cento “Guarda’a Vida”, os defensores resultados na capital de distrito: no
Pampilhosa da Serra e Penela. Tal “sim” triunfou com 76,8 por cento dos eleitores algarvios tinham do “não” desceram 17 por cento município de Leiria, o “sim” havia
como em 1998, o “sim” obteve o seu dos votos expressos. Em todo o ido às urnas em 1998. Desta vez, relativamente a 1998, uma queda perdido há oito anos por 13 pontos
melhor resultado – 74,9 por cento distrito, apenas 13311 eborenses diminuiu: 38,8 por cento deram-se muito superior à da média percentuais, e desta vez ganhou
– na Figueira da Foz. L.M.Q. votaram “não”. P.R. ao trabalho de ir votar. P.R. nacional. L.M.Q. por nove pontos. P.R.