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Observe!BOLETIM INFORMATIVO DO NEOA – JBS
ANO VI – NÚMERO 7 – JULHO DE 2015
Prezados leitores,
E chegamos ao tão esperado mês em que comemoramos 6 anos de
formação do NEOA-JBS! E também o mês do Simpósio Catarinense de
Astronomia que será realizado no IFSC – Campus Araranguá, sob a
organização do CA² – Clube de Astronomia de Araranguá. O clube
apropriadamente escolheu o slogan “Astronomia acima de tudo”. Um dos
pontos altos do Simpósio é a entrega do Prêmio Brazilício. Façam planos
para participar do Simpósio Catarinense de Astronomia! As inscrições on-
line devem ser feitas até o dia 5 de julho, através do website:
https://sites.google.com/site/ifscastronomia/iv-sca. Aproveitem esta edição
do Boletim Observe! e tenham todos uma boa leitura!
Alexandre Amorim
Coordenação de Observações do NEOA-JBS
AGENDA ASTRONÔMICA – CÉU DO MÊS
Julho de 2015
Mercúrio é visível ao amanhecer durante a primeira quinzena do mês.
Vênus e Júpiter são visíveis ao anoitecer. Saturno é visível durante a noite
até as 03:00 da madrugada. Netuno é visível após as 21:00. Urano é visível
durante a madrugada. Marte ainda tem sua visibilidade prejudicada devido
a sua conjunção com o Sol ocorrida em 14 de junho. A luz cinérea da Lua
é visível ao amanhecer entre os dias 10 e 14 e ao anoitecer entre os dias 17
e 23. A seguir temos o mapa do céu válido para o dia 15 de julho às 20:00
Horário de Brasília. (©CartasCelestes.com)
2
Dia Hora Evento – Fonte: AAC 2015
1 6 Vênus 0,4° ao sul de Júpiter
1 23 Lua Cheia
5 16 Lua no perigeu
6 17 Terra no afélio
6 3 Netuno 3° ao sul da Lua
6 13 Plutão em oposição
8 17 Quarto Minguante
9 0 Urano 0,7° ao norte da Lua
9 10 Vênus em máximo brilho
12 15 Aldebarã 0,9° ao sul da Lua
14 sonda New Horizons sobrevoa Plutão
15 2 Mercúrio 6° ao norte da Lua
15 4 Marte 6° ao norte da Lua
3
15 22 Lua Nova
16 1 Mercúrio 0,1° ao sul de Marte
16 16 Mercúrio no periélio
18 11 Júpiter 4° ao norte da Lua
18 21 Vênus 0,4° ao norte da Lua
19 4 Vênus 3° ao sul de Regulus
21 7 Lua no apogeu
23 2 Ceres mais próximo da Terra (1,93 ua)
23 16 Mercúrio em conjunção superior
24 0 Quarto Crescente
25 5 Ceres em oposição
25 6 Vênus estacionário
26 6 Saturno 2° ao sul da Lua
26 8 Urano estacionário
28 Máxima atividade dos Piscis Austrinídeos
29 18 Marte 6° ao sul de Pollux
30 Máxima atividade dos alfa-Capricornídeos
30 Máxima atividade dos delta-Aquarídeos do Sul
31 3 Vênus 6° ao sul de Regulus
31 7 Lua Cheia (2ª do mês)
Vênus e Júpiter em conjunção
A última semana de junho é brindada com uma bela conjunção planetária
envolvendo Vênus e Júpiter logo após o pôr do Sol. Já durante a tarde do
dia 30 de junho os dois astros estão situados cerca de 22 minutos de arco
um do outro. Isto permite que sejam visualizados no mesmo campo de
visão de um instrumento com aumento da ordem de 30 a 50 vezes, tais
como o Galileoscope 50mm f/10 ou o FirstScope 76mm f/4. O observador
deve notar a diferença de coloração entre os dois planetas bem como sua
fração de disco iluminado: enquanto que Vênus se apresenta com um disco
34% iluminado, destacando sua fase, Júpiter é visto todo iluminado. Isto se
deve a posição dos dois planetas em suas respectivas órbitas quando vistos
aqui da Terra. No anoitecer de 30 de junho os satélites de Júpiter estão
configurados desta forma: à oeste do planeta situam-se Io (I), Europa (II) e
Calisto (IV), enquanto que à leste está Ganimedes (III). A rigor a
separação mínima entre Vênus e Júpiter, 0,33 graus, tem lugar às 00:48
EBT do dia 1º de julho, porém neste instante os dois astros se encontram
abaixo do nosso horizonte. A conjunção em longitude ocorre às 04:50
EBT, mas também com os astros abaixo do nosso horizonte. No anoitecer
do dia 1º de julho, Vênus e Júpiter ainda são visualizados no mesmo
4
campo de visão de um simples telescópio, porém já afastados em cerca de
0,5 graus. Na noite de 1º de julho apenas três satélites galileanos estão
situados à leste de Júpiter, a saber: Io, Europa e Ganimedes.
Figura 1: Vênus e Júpiter em 30 de junho de 2015 ao anoitecer. Simulação em escala.
No anoitecer dos dias 17 e 18 de julho a Lua aparece em cena para
completar a conjunção, permitindo ótimas visualizações e fotografias.
Além da Lua, a conjunção envolve também o Cometa C/2014 Q1 Pan-
STARRS e a estrela Regulus, da constelação do Leão. É possível que o
Cometa Pan-STARRS esteja na 7ª magnitude, sendo um alvo difícil para
ser observado durante o crepúsculo, necessitando de instrumentos com
abertura superior a 80 milímetros. Por outro lado a conjunção serve para
mostrar as diferentes distâncias de cada astro envolvido, vejamos:
- a Lua está situada cerca de 400 mil km ou apenas 1,3 segundos-luz;
- Vênus situa-se cerca de 109 milhões de km ou 3,2 minutos-luz;
- o Cometa Pan-STARRS está a 177 milhões de km ou 9,8 minutos-luz;
- Júpiter está cerca de 934 milhões de km ou 52 minutos-luz; e, por fim,
- Regulus está a 730 trilhões de km ou 77 anos-luz.
Excetuando o Cometa C/2014 Q1, a próxima conjunção envolvendo Lua,
Vênus, Júpiter e Regulus ocorrerá em junho e julho de 2039. (AA)
5
Terra no afélio
Segundo informação do Anuário Astronômico Catarinense 2015, no
próximo dia 6 de julho a Terra se encontra em seu afélio, isto é, no ponto
mais afastado de sua órbita em torno do Sol. Às 16:40 EBT a Terra situa-
se a 1,0167 ua do Sol (152 milhões de km). Uma atividade observacional
sugerida é fotografar o Sol usando instrumentos apropriados e, usando as
mesmas configurações, comparar com a imagem do Sol obtida no dia do
periélio em 4 de janeiro de 2015 ou mesmo no próximo periélio em 2 de
janeiro de 2016. Mais informações se encontram na edição do Boletim
Observe! Julho de 2014. (AA)
Comparação entre os diâmetros aparentes do Sol quando a Terra está no afélio
(3/jul/2014) e no último periélio (4/jan/2015).
Ocultações lunares de julho
O Anuário Astronômico Catarinense 2015 nos informa que no presente
mês dispomos de pelo menos três ocultações lunares desafiadoras
envolvendo estrelas relativamente brilhantes, embora possuam magnitudes
visuais entre 3 e 4. No entanto uma das ocultações ocorre à luz do dia.
6
Será possível detectar uma estrela de 4ª magnitude em plena luz do dia?
Vejamos as condições de cada ocultação prevista para este mês:
12 de julho às 09:17 EBT – ocultação de delta Tauri (magnitude 3,8) à luz
do dia. A princípio instrumentos com abertura superior a 100 milímetros
são capazes de detectar estrelas de 4ª magnitude à luz do dia desde que as
condições atmosféricas sejam propícias. A estrela se situa a 44° de altura
no instante considerado. Em 15 de agosto de 2010 conseguimos detectar a
estrela zeta CMa (magnitude 3,0) à luz do dia com um refrator de 70mm.
26 de julho à 01:53 EBT – ocultação de gamma Librae (magnitude 3,9): a
Lua está 69% iluminada nesta madrugada e o desaparecimento ocorre no
lado escuro, situações que a princípio indicam uma boa visibilidade da
ocultação. Porém o problema é a altura da estrela, apenas 3,4° no horizonte
oeste.
31 de julho à 01:49 EBT – ocultação de beta Capricorni (magnitude 3,1):
eventos envolvendo estrelas múltiplas, como o caso de β Cap sempre são
interessantes para acompanhar. Além disso, a estrela é mais brilhante que
as anteriores. Mas para dar um toque de dificuldade, a Lua se encontra em
sua fase cheia. A rigor a Lua está 99,8% iluminada, de modo que um
finíssimo limbo escuro provavelmente concorre para que a estrela
desapareça antes de “tocar” a parte iluminada. Por falar em Lua Cheia, em
julho teremos duas, como descrevemos no próximo artigo. (AA)
Duas Luas Cheias no mesmo mês
Os leitores devem se lembrar da expressão “Lua Azul” e sua relação com a
ocorrência de duas Luas Cheias num mesmo mês do calendário
gregoriano. Neste mês de julho temos a ocorrência do fenômeno, isto é,
duas Luas Cheias no mesmo mês. No Anuário Astronômico Catarinense
2015, página 38, colocamos a expressão “Lua Azul*”. Sim, com um
asterisco, pois sabiam que esta relação surgiu de uma interpretação
equivocada? Segundo Philip Hiscock, a relação “Lua Azul” e “2ª Lua
Cheia no mês” surgiu primeiramente em trechos da revista Sky &
Telescope, edições de Julho de 1943 e Março de 1946. Donald W. Olson e
Roger W. Sinnot verificaram que os autores daqueles trechos,
respectivamente L. J. Lafleur e J. Hugh Pruett, se equivocaram ao
7
interpretar o termo “Blue Moon” que apareceu na edição do Maine
Farmers’ Almanac para o ano de 1937. O Boletim Observe! já seguiu esta
mesma onda de denominar a 2ª Lua Cheia do mesmo mês de “Lua Azul”,
como vemos nas edições de Junho de 2011 e Agosto de 2012. Porém, após
uma leitura cuidadosa no trabalho de Philip Hiscock entendemos que não
existe razão para continuar tal denominação uma vez que o conceito surgiu
de um equívoco de interpretação. De fato em publicações astronômicas
populares anteriores à década de 1940 não encontramos nada relacionando
“Lua Azul” e “2ª Lua Cheia no mesmo mês”. Além disso, o termo só
circulou com mais ênfase na comunidade dos astrônomos amadores na
década de 1980 após o programa de rádio Star Date de Deborah Byrd
(janeiro de 1980) e pela mídia em geral em maio de 1988. Seguindo a
tendência norte-americana, a mídia brasileira incorporou a expressão “Lua
Azul” às duas Luas Cheias no mesmo mês, como lemos na edição de 1º de
junho de 1988 do Jornal do Brasil. Até astrônomos profissionais pegaram
carona no equívoco, como foi o caso de Ronaldo Mourão ao escrever seus
artigos sobre Lua Azul no Jornal do Brasil, 31 de dezembro de 1990 e nos
Anuários de Astronomia de 1999 e 2004 bem como na edição de 1987 do
Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica. Por outro lado, o
Anuário de Astronomia de 1990, publicado no final de 1989, apenas fala
sobre “Duas Luas Cheias no mesmo mês” sem mencionar “Lua Azul”.
Embora possa parecer inonfesivo, a comunidade astronômica não deve
prontamente se deixar seduzir por uma informação de origem popular
travestida de folclore antigo. É necessário examinar as fontes da
informação e não seguir o sensacionalismo midiático. Um caso bem
recente é o termo “lua sangrenta” ou “lua de sangue”, cuja relação com
eclipses lunares foi sugeria por ministros cristãos tais como John Hagee e
Mark Biltz. Que a segunda Lua Cheia do mês é uma curiosidade
astronômica e calendar, não há dúvida, mas apreciem o fenômeno com
moderação. (AA)
Referências:
AMORIM, Margarete J. Observação da “Lua Azul” na Praia do Campeche. Boletim
Observe! v. 3, n. 10, out. 2012.
HISCOCK, Philip. Once in a blue moon. Sky & Telescope, v. 97, n. 3, p. 52-55, mar.
1999.
OLSON, Donald W. e SINNOTT, Roger W. Blue-moon mystery solved?. Sky &
Telescope, v. 97, n. 3, p. 55, mar. 1999.
8
Planetas-anões em oposição
Neste mês de julho as atenções estão voltadas para o sobrevôo da sonda
New Horizons pelo sistema de Plutão no dia 14. Sim, apesar de ser um
planeta-anão, Plutão possui pelo menos 5 satélites, embora o maior deles,
Caronte, tenha massa suficiente para deslocar o baricentro para um ponto
exterior à superfície de Plutão. Esta é uma das peculiaridades que
permeiam esta região do sistema solar. Será que a sonda revelará novos
corpos orbitando a região de Plutão, além de Caronte, Nix, Hidra, Cérbero
e Estige? Daqui da Terra é possível discernir visualmente Plutão através de
instrumentos com abertura superior a 200 milímetros. Sua oposição ocorre
no dia 6. Mesmo assim, o objeto se apresenta como um astro de 14ª
magnitude. Será que é tão difícil, assim, observarmos um planeta-anão? A
resposta é não! Após a nova classificação aprovada pela União
Astronômica Internacional, Ceres foi conduzido à categoria de planeta-
anão. Diferente de Plutão, Ceres é observável através de binóculos. E neste
mês de julho ele está favoravelmente situado no céu do hemisfério sul,
uma vez que sua oposição ocorre no dia 25, atravessando as constelações
de Capricórnio, Microscópio e Sagitário. Abaixo temos um mapa para
localização e estimativa de brilho de Ceres durante o mês de julho.
9
Desde o último mês de março Ceres é visitado pela sonda Dawn, que tem
revelado surpresas na superfície deste planeta-anão. Uma delas é a
existência de regiões brilhantes no interior de uma cratera de 80 km.
Apenas para registrar, na noite de 10-11 de julho Ceres passa apenas 0,1
graus à noroeste da estrela variável R Microscopi. (AA)
Atenção às crateras lunares em julho
Usando as previsões disponíveis no website do Dr. Anthony Cook, seguem
algumas datas para observação de crateras que terão suas condições de
iluminação similares àquelas em que foram observadas por astrônomos
brasileiros em ocasiões anteriores. (AA)
2015-Jul-09, 06:01-07:55 TU, Ilum.=45%
Tycho, 2006 Jan 22 às 06:34-06:36 TU, observada por Fábio Carvalho
(Assis/SP) usando refletor de 25 cm f/6. Névoa de coloração
esverdeada observada visualmente por dois minutos na borda W da
cratera.
2015-Jul-26, 01:56-02:30 TU, Ilum.=68%
Platão, 1980 Abr 24 às 23:35 TU, observada por Marco Petek (Porto
Alegre/RS) usando um refrator de 7,5 pol. O centro de Platão
estava brilhante e opaco, com aspecto similar à Linnè.
Temos outra oportunidade para detectar o início da iluminação no interior
da cratera de Ptolomeu. Com base em nossas observações feitas em 2014
notamos que este fenômeno ocorre quando a Colongitude se situa entre 1,4
e 1,8 graus, aparecendo aquela “bruma luminescente” relatada por Travnik
e Vianna em 1970, quando eles mantiveram vigília na Lua durante a
missão da Apollo XIII. Uma próxima data para reobservar este fenômeno
será na noite de 23 de julho de 2015, entre 18:35 e 18:46 EBT (21:35 e
21:46 TU), quando o valor da Colongitude também será igual a 1,4 graus.
O evento ocorre durante a sessão de observações no primeiro dia do IV
Simpósio Catarinense de Astronomia em Araranguá. Esperamos que o céu
esteja em ótimas condições de visibilidade, uma vez que a Lua estará
próxima de sua culminação. (AA).
Referências:
COOK, Anthony. Repeat illumination only or illumination/libration. Disponível
em http://users.aber.ac.uk/atc/tlp_future/tlp.htm. Acesso em 11 jun. 2015.
10
Cometa C/2013 US10 Catalina
Segundo informações do Anuário Astronômico Catarinense 2015, “este
cometa foi descoberto em 31 de outubro de 2013 pela equipe do programa
de busca Catalina, usando o telescópio Schmidt de 0,68m + CCD. Na
ocasião o objeto estava na 19ª magnitude e com aspecto asteroidal, tanto
que foi catalogado inicialmente como sendo o asteroide 2013 US10”. O
cometa não terá uma boa aparição, pois durante o periélio em novembro de
2015 praticamente estará em conjunção com o Sol. No hemisfério sul sua
visibilidade começou em meados de junho de 2015 quando foi estimado na
10ª magnitude e se situando na constelação do Escultor durante toda a
madrugada. Em 1º de maio de 2015 o observador Marco Goiato
(Araçatuba/SP) estimou o cometa em magnitude 12,2. Na última semana
de julho o astro deve atingir a 8ª magnitude e visível durante toda a noite
na constelação de Tucano, próximo da estrela γ Tucanae. Após a
conjunção com o Sol durante o mês de novembro, o cometa reaparece no
céu matutino a partir da primeira semana de dezembro de 2015 como um
astro de 5ª magnitude, deslocando-se da constelação de Libra para Virgem.
Em meados de janeiro de 2016 o cometa encerra sua breve aparição
matutina, porém ainda brilhando na 6ª magnitude. Abaixo temos um mapa
com a trajetória aparente do cometa durante o mês de julho. As posições
são válidas para a meia-noite local de cada data. (AA)
11
Cometa C/2014 Q1 Pan-STARRS
Segundo informações do Anuário Astronômico Catarinense 2015, “este
cometa foi descoberto pelo Consórcio Pan-STARRS (Haleakala,
Hawaii/EUA) em 16 de agosto de 2014 por meio do telescópio Ritchey-
Chretien de 1,8m + CCD. Os elementos orbitais mostram que o astro deve
alcançar a 4ª magnitude por ocasião do seu periélio em 6 de julho de 2015
quando estará distante do Sol em apenas 0,31 ua. No entanto a baixa
elongação impedirá a observação do cometa nesta ocasião”. Portanto, não
devemos nos deixar levar pelo valor da magnitude total achando que o
astro seria visível a olho nu. Além disso, os poucos registros visuais feitos
durante o mês de junho indicam que o cometa está com brilho mais fraco
do que as efemérides iniciais. Talvez o cometa não ultrapasse a 6ª
magnitude conforme simulação de Seichii Yoshida. Após a conjunção com
o Sol o cometa reaparece no céu vespertino em meados de julho, no limite
das constelações de Câncer e Leão, brilhando provavelmente na 7ª
magnitude (ou na 5ª magnitude?). Conforme anunciamos na página 4, este
cometa estará em conjunção com a Lua, Vênus, Júpiter e Régulus durante
o anoitecer dos dias 18 e 19 de julho. O astro encerra seu período de
visibilidade na segunda semana de agosto na constelação da Taça, cerca de
8 graus a nordeste da estrela ξ Hya, quando retorna à 10ª magnitude. A
seguir apresentamos um mapa com a trajetória aparente do cometa. As
posições planetárias são válidas para o dia 19 de julho de 2015. (AA)
12
Estrelas variáveis em atividade
Alguém pode pensar que não há muita graça em acompanhar, noite após
noite, a variação de brilho de algumas estrelas. Talvez pelo fato das
estrelas variáveis não se apresentarem visualmente atraentes tais como
uma nebulosa, aglomerado estelar ou mesmo os planetas mais brilhantes
do sistema solar. No entanto a observação de estrelas variáveis revela ser
um dos registros mais fáceis de serem feitos e com resultados em curto
prazo. Um exemplo são as estrelas cataclísmicas tais como a recente Nova
Sagittarii 2015 Nº 2. Trouxemos informações iniciais deste objeto na
edição de Abril de 2015 do Boletim Observe! (páginas 10-11), inclusive
um mapa para localização e estimativa de seu brilho. Desde meados de
março de 2015 a estrela apresentou variações entre a 4ª e 6ª magnitudes.
Porém em meados de junho seu brilho caiu rapidamente, sendo estimada
na 11ª magnitude no momento em que redigimos este texto (24 de junho).
Ao lado temos a curva de luz
desta estrela, conforme
dados enviados por 5
observadores (A. Amorim,
Adair Cardozo, Lucas
Camargo, Marco Goiato e
Willian Souza), em que
notamos nitidamente a queda
de brilho. Segundo Klaus-
Peter Schröder et alli, a
estrela segue um com-
portamento típico da Nova Herculis 1934 (DQ Herculis)1
. Além disso,
estes pesquisadores calculam que a Nova Sagittarii 2015 #2 esteja distante
cerca de 5 mil anos-luz de nosso sistema solar (~1,6 kiloparsec). A queda
de brilho está relacionada com a formação de nuvens de poeira nos
arredores do sistema binário. Se a N Sgr 2015 #2 seguir, de fato, o
comportamento da estrela DQ Her, espera-se que após atingir um brilho
mais fraco o objeto apresente novo abrilhantamento, e, a partir de então,
uma lenta diminuição de brilho. Ou será que a estrela seguirá uma curva de
luz similar à Nova Scorpii 2007 (V1280 Sco)? Somente as observações
nos responderão estas questões. Para isso preparamos um novo mapa com
1
«Dennoch blieb diese Nova im Kontinuumslicht lange auf einem vergleichsweise hellen Niveau.
Selbst einen Monat nach ihrer Entdeckung war sie erst um eine Größenklasse schwächer geworden,
wenn man von Lichteinbrüchen absieht, die für Novae vom DQ-Herculis-Typ typisch sind. »
13
estrelas de comparação até magnitude 12,9 a fim de verificarmos a
evolução do brilho da Nova Sagittarii 2015 #2.
Outra estrela em atividade é AG Pegasi. Trata-se de uma estrela simbiótica
que desde meados de junho de 2015 se encontra em outburst. A última (e
primeira vez) que tal estrela apresentou este salto de brilho foi na década
de 1860-1870. Estimativas mais recentes mostram que esta estrela se
encontra na 7ª magnitude, sendo observável através de binóculos.
Preparamos o mapa abaixo, com a orientação invertida, facilitando a
14
visualização a partir do hemisfério sul. O observador deve notar a posição
da estrela em relação à Enif, epsilon Pegasi. (AA)
Referências
SCHRÖDER, Klaus-Peter et all. Nova Sgr 2015 No. 2 – eine sehr langsame und
ungewöhnliche Nova. Sterne und Weltraum. Julho 2015.
WAAGEN, Elizabeth O. AAVSO Alert Notice 521: very rare outburst of the
symbiotic variable AG Peg. Disponível em: http://www.aavso.org/aavso-alert-
notice-521. Acesso em 24 jun. 2015.
15
NEOA-JBS comemora o “Dia do Mourão”
Em dezembro de 2013 a Coordenação de
Observações do NEOA-JBS originou o
evento "Dia do Mourão" cujo objetivo
básico é celebrar um dos maiores
astrônomos brasileiros de todos os
tempos. No final de julho de 2014 fomos
surpreendidos pela perda deste grande astrônomo. Recentemente em 25 de
maio de 2015 quando completaria 80 anos, Mourão foi outra vez lembrado
através de uma atividade organizada pelo NEOA-JBS assim definida:
Às 17:35 a apresentação introdutória Por
que lembrar “Ronaldo Mourão”? fez
uma breve consideração sobre as razões
para mantermos a memória astronômica
brasileira através das obras de Ronaldo
Mourão. Às 17:50 Marcos Neves
apresentou o tema Mourão e o Museu de
Astronomia e mostrou em slides o Museu
de Astronomia e Ciências Afins (MAst),
localizado na antiga sede do Observatório
Nacional, no Rio de Janeiro. Mourão foi
um dos idealizadores e a unidade é
vinculada ao Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI). O acervo
é composto por cerca de 2000 objetos
científicos e tecnológicos que foram, em
sua maioria, fabricados entre os séculos
XIX e XX. Às 18:05 Adair Cardozo
apresentou a palestra Mourão e seus surpreendentes artigos – “Ciências
& Artes” que expôs vários livros publicados por Ronaldo Mourão. Ele
publicou cerca de 100 livros e mais de mil
ensaios em revistas e jornais, sendo suas
principais contribuições realizadas no
campo das estrelas duplas, cometas e
asteroides. Adair também leu uma poesia
de Manuel Bandeira sobre o planeta
Vênus publicada no livro “Astronomia e
Poesia”. Neste livro, Mourão transcreve
16
uma série de poesias, de diferentes autores, sobre temas astronômicos e
após cada poesia ele dá a explicação astronômica sobre os fenômenos. É
um livro poético e científico, o que o torna bastante agradável! Por fim, às
18:20, Alexandre Amorim palestrou sobre Aitken 14: uma estrela na vida
de Mourão e mostrou que a estrela catalogada como Aitken 14 já era
identificada como dupla. Porém Ronaldo Mourão descobriu o que seria
uma terceira componente “invisível” em 1969, enganosamente anunciada
pela reportagem da revista Veja como a descoberta de um planeta em torno
das duas estrelas.
A homenagem abordou igualmente as descobertas feitas por este grande
astrônomo. O evento foi realizado na sala 117 do Bloco Central do IFSC –
Campus Florianópolis e terminaria com uma sessão de observação
astronômica da Lua, dos planetas Vênus, Júpiter e Saturno. O céu nublado
impediu a observação. Nosso respeito ao grande mestre da Astronomia!
Margarete Jacques Amorim
Exposição de Arqueoastronomia e Astronomia Cultural
Anualmente, entre os dias 18 e 24 de
junho, é comemorada a Semana
Municipal de Arqueoastronomia em
Florianópolis. O objetivo desta come-
moração é ressaltar a importância da
preservação de sítios arqueológicos
cujas construções provavelmente
tiveram sua motivação inicial nas
observações astronômicas (solstícios
e equinócios). Para comemorar a
Semana de Arqueoastronomia o Núcleo de Estudo e Observação
Astronômica “José Brazilício de Souza” – NEOA-JBS organizou a
exposição que aborda o tema da Arqueoastronomia no Brasil,
reproduzindo em maquetes dois sítios arqueoastronômicos (o da Pedra do
Frade, na Barra da Lagoa e o do Gravatá) encontrados na parte leste da
Ilha de Santa Catarina. Nesta edição também apresentamos o tema
“Astronomia Cultural” focada nos grupos indígenas em território
brasileiro, mostrando como estes grupos dão importância à observação do
céu e como estes conhecimentos servem de referencial para o
entendimento do estudo arqueoastronômico desenvolvido no Brasil. A
17
exposição, autoexplicativa, permaneceu no hall de entrada, nos dias 16 a
19 de junho de 2015, em horário de funcionamento da instituição. Ainda
no dia 19 de junho, como parte das comemorações, fizemos uma sessão de
observação no pátio interno do IFSC para ver a conjunção entre Lua,
Vênus e Júpiter, também observação telescópica dos planetas Vênus,
Júpiter e Saturno e observação telescópica da Lua.
Quem esteve na Estação NEOA para nossas observações lembra que por
volta das 18:18 EBT (21:18 TU) observamos a ocultação de uma
pequenina estrela pela Lua. Tratava-se da estrela catalogada como SAO
97912 de magnitude 8,1. Coube à
aluna Natália Sampaio observar o
desaparecimento da estrela (sendo sua
primeira observação deste tipo de
fenômeno). O reaparecimento ocor-
reria às 19:27, porém não detectamos
a estrela neste horário, pois ela já
estava baixa no horizonte, cerca de 12
graus, e o reaparecimento se deu no
limbo iluminado da Lua, dificultando
a detecção da estrela de 8ª magnitude. Essa foi uma das raras noites de céu
limpo durante o mês de junho. A bela conjunção entre Lua, Vênus e
Júpiter maravilhava a todos. Júpiter era nítido através do telescópio,
víamos a faixa equatorial norte com bastante facilidade. As luas galileanas
estavam alinhadas horizontalmente, segundo orientação do nosso campo
de visão, e Calisto se encontrava mais afastada das outras. É, pois,
intrigante saber que existem diversos planetas gigantes semelhantes a
Júpiter em órbita de algumas estrelas em todo universo. Há muito que
observar e aprender! Todos estão cordialmente convidados para nossas
próximas sessões de observação. Mantenham-se atentos ao Boletim
Observe!
Margarete Jacques Amorim
18
Monitoramento de meteoros em Chapecó/SC
No dia 17 de maio, iniciou suas
atividades no Brasil uma nova rede de
monitoramento de meteoros, a EXOSS:
Exploring the Southern Sky for new
Meteors Radiants (Explorando o Céu
Austral para novos Radiantes de Meteoros). A EXOSS é uma organização
sem fins lucrativos que tem como finalidade o estudo de meteoros com
metodologia científica: suas origens, natureza e caracterização de suas
órbitas. Os associados da EXOSS possuem a proatividade como forte
característica pessoal, onde a união forma no grupo o espírito de
colaboração, com todos aprendendo e crescendo juntos, respeitando a
equipe como um todo e não individualmente. Entendemos que nosso
trabalho voluntário pode contribuir com a sociedade, firmando parcerias
com instituições públicas e privadas de estudo e pesquisa, para fornecer
dados de qualidade através do compromisso com a eficiência na operação
da rede.
Assim, a EXOSS tem como objetivos:
 Registrar meteoros e desenvolver estudos astrométricos e astrofísicos;
 Catalogar novos radiantes do hemisfério sul;
 Colaborar com instituições de ensino e pesquisas contribuindo com a
sociedade;
 Incentivar a produção de artigos científicos.
A rede é formada por estações de monitoramento e seus operadores, as
mesmas estão equipadas com computadores, câmeras CCTV e lentes. As
câmeras estão instaladas nos Estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro,
Santa Catarina e São Paulo. A EXOSS possui, também, um website
exclusivo para o acompanhamento ao vivo das estações de captura de
meteoros. Além das imagens das capturas, é possível também acompanhar
as câmeras em tempo real, nas estações que possuem a função ativa,
através do link: http://live.exoss.org.
EMC/SC: Em Santa Catarina, na cidade de Chapecó, esta em atividade a
Estação de Monitoramento de Meteoros Chapecó (EMC/SC) desde janeiro
de 2015, mas associada à EXOSS em maio deste ano, sendo operada por
19
Diego de Bastiani, utilizando uma
Câmera PY-SH361, lente Varifocal
F/1.0 da TECVOZ e FOV 60º, sendo
um equipamento mais sensível e a
lente com abertura maior, permitindo
a entrada de mais luz. A câmera está
apontada para o azimute 102º e altura
38,6º. Desde o início de 2015 a EMC-
SC registrou 392 meteoros, sendo 48
no período de 20 de maio a 20 de
junho. Para registro dos dados, as
estações da EXOSS utilizam o software Ufocapture. O que este programa
faz é detectar qualquer tipo de movimento de um objeto no céu podendo
ser meteoros, aviões, satélites, entre outros. Sempre que algo se move no
campo de visão da câmera, é gravado um arquivo de vídeo e imagem do
objeto detectado. Para análise dos meteoros capturados é utilizado o
programa Ufo Analyzer, que através de parâmetros definidos apresenta a
magnitude do objeto e sua trajetória. Também indica se o meteoro é
esporádico ou está associado a algum radiante meteórico catalogado.
Bólido capturado em 03/06/2015 às
07:08:42 TU. Provavelmente associado à
chuva dos Microscopídeos de Maio. A
estrela próxima ao centro é β Ceti.
Meteoro capturado em 20/05/2015 às
06:08:41 TU. Pela trajetória e ocasião em
que foi detectado, possivelmente é um
componente dos eta-Aquarídeos.
Por ser o primeiro ano de experiência e aprendizagem com a estação, 2015
é um ano de grandes desafios, buscando cada vez mais o entendimento do
céu e a contribuição com astronomia, auxiliando na catalogação e novas
descobertas na área de meteoros. Mais informações sobre a Rede EXOSS
estão disponíveis no website http://www.exoss.org.
Diego de Bastiani
20
NEOA visita a Escola Adotiva Liberato
Nos dias 22 de maio e 18 de junho
de 2015, estivemos na Escola
Adotiva Liberato, na Costeira do
Pirajubaé (Florianópolis), a partir
das 17:00, realizando observações
com os alunos da turma 41 do 4º
ano do Ensino Fundamental. Neste
ano de 2015 eles escolheram como
tema de pesquisa o “Espaço
Sideral”. De acordo com a
professora Melize Daniel, no dia 21
de março, quando eles apresentaram seu tema de pesquisa, levaram
cartazes, registros e o defenderam muito bem. O NEOA-JBS ajuda a
complementar esta atividade dois meses depois com observações do céu
por meio de instrumentos portáteis como pequenas lunetas de fácil
montagem e tripé fotográfico. Na segunda data, 18 de junho, apesar do
frio, vários alunos estavam presentes. Interessante foi o comentário de uma
aluna sobre a descoberta de um planeta cor-de-rosa do tamanho de Júpiter.
Provavelmente ela estava se referindo à descoberta feita pelo Observatório
Subaru, localizado no Hawai, EUA. Segundo a mídia, o corpo celeste
descoberto por meio de imagens, denominado GJ 504b, possui cor
magenta (rosa forte), sendo quatro vezes maior do que o planeta Júpiter.
No entanto, quando consultamos o artigo original sobre essa descoberta
notamos que os autores não são categóricos em afirmar que o planeta é
cor-de-rosa, embora
mencionem diversas
propriedades físicas,
temperatura, possi-
vel idade e compo-
sição da atmosfera
desse planeta que
orbita uma estrela
parecida com o Sol
na constelação da
Virgem. Na ocasião
lembramos a jovem
aluna que por vezes
21
novas pesquisas podem apresentar um cenário diferente, de modo que não
é prudente aceitar de imediato as declarações da mídia sobre descobertas
astronômicas.
Desse contato com as crianças na fase de 8 a 10 anos notamos o
entusiasmo e curiosidade que possuem em relação à Astronomia, inclusive
algumas meninas anotam as observações e fazem um relatório para
posteriormente postar em seus blogs. Estaremos novamente na Escola
Adotiva Liberato na manhã de sexta-feira, 10 de julho, realizando novas
observações e palestras. Os professores da Escola estão de parabéns pelo
incentivo que dão aos alunos!
Margarete Jacques Amorim
A grande polêmica dos canais em Marte
O que levou astrônomos de renome a ver uma rede de alinhamentos em
Marte sugerindo obra de uma civilização? Desde sua existência nesse
planeta, o homem não quer viver só. Odeia a solidão. Com o tempo,
ampliou essa solidão para muito além da Terra, para os astros do universo,
algo que perdura até hoje. Após a invenção da luneta pelo óptico alemão,
naturalizado holandês, Hans Lippershey (1587-1619) e o seu emprego pela
primeira vez no estudo do céu por Galileu Galilei (1564-1642) em 1609,
passamos a construir instrumentos cada vez maiores no afã de conhecer
melhor os outros planetas e descobrir neles algum vestígio de vida. E o
melhor candidato revelou-se ser Marte, o Planeta Vermelho. A escolha era
óbvia: a duração do dia muito parecido com o
nosso (24h 37m 23s), também a inclinação de 24°
46’ do equador em relação à órbita (No caso da
Terra esta inclinação é 23° 27’) determinando
estações do ano, duas alvas calotas polares e haver
satélites como a Terra. Isso motivou o início de
uma polêmica centenária que começou na verdade
em 1860, aqui no Brasil, com o astrônomo
Emmanuel Liais (1826-1900) contratado por D.
Pedro II para dirigir o Imperial Observatório do Rio
de Janeiro. Ele argumentava que as manchas
escuras vistas em Marte eram resultado da presença de vegetação. Contudo
foi na grande aproximação de 1877 com o astrônomo italiano Giovanni
Virginio Schiaparelli (1835-1910), então diretor do Observatório de Brera,
22
que um fato novo surgiria. A aproximação de 1877 no dia 5 de setembro
colocou Marte há “apenas” 56.550.000 km da Terra. Observando o
planeta com uma luneta Merz de 22 cm, anunciou a descoberta de sulcos e
acidentes retilíneos em sua superfície. Chamou as manchas escuras de
“mares” e outras de “estreitos” e “canais”, este último indicando que
poderia ser tanto uma configuração natural do terreno como uma
construção artificial. O estopim estava aceso. Restava apenas outros
astrônomos confirmarem os canais e encontrar os habitantes de
Marte! Como as calotas polares desaparecem quase por completo no
verão marciano, para muitos estava claro que, para um relevo árido e
desértico, esses canais eram obra de uma civilização agonizante que os
construíram para, a partir dos pólos, irrigar o planeta. O assunto começou a
tomar tal dimensão, que o governo italiano presenteou Schiaparelli com a
grande luneta de 49 cm da firma alemã “Merz-Repsold”.
Enquanto o italiano limitou-se a relatar
“canali” como interpretação puramente
hipotética, Camille Flammarion (1842-1925)
conclui com entusiasmo: “Essa rede singular
de linhas retas, de milhares de quilômetros de
comprimento só pode ser uma obra de arte;
prova a existência, em Marte, de criaturas
racionais, de extraordinária capacidade
produtiva e inteligência muito superior a
nossa”. Inflamado pela opinião de
Flammarion, Schiaparelli deixaria também se
envolver por ela. Flammarion dispunha em
seu Observatório de Juvisy de uma excelente
luneta com objetiva de 24 cm de diâmetro
construída por Bardou. Juvisy não
era somente um observatório, mas
um centro de cultura com vasta
biblioteca e convergência de
astrônomos e intelectuais da
época. D. Pedro II astrônomo
amador, era um desses intelectuais
e foi convidado de Flammarion
para inaugurar o Observatório de
Juvisy em 1887. Era difícil não se
deixar envolver pelo fascínio que
23
tal hipótese exercia. E, de fato, ela foi rapidamente adotada pela
opinião pública. A partir daí, rios de tinta e toneladas de papel foram
consumidos contagiando escritores e astrônomos. Muitos não
concordavam com essa teoria argumentando serem os traços retilíneos uns
alinhamentos ilusórios tendendo a geometrizar-se pela distância. Estava
inaugurado o ciclo de acirrados debates entre canalistas x
anticanalistas. A idéia alimentada por Flammarion apaixona um
milionário diplomata californiano, Percival Lowell (1855-1916) que
resolve abandonar a carreira para construir em uma zona semidesértica do
Arizona, a 2.300 m de altitude, o Observatório Flagstaff, o seu “Castelo de
Marte”, instalando uma luneta de 49 cm e mais tarde uma outra de 61 cm,
fabricada por Alvan Clark (1832-1897). Ele dedicou sua fortuna e 15 anos
de vida a esse projeto. Em 1895 em seu livro “Marte”, elabora um
planisfério e atesta a presença de 184 canais! Em 1896 ele escreve: “Marte
era verdejante; hoje é um deserto. Os marcianos lutam contra essa
fatalidade”. Em 1906 em seu livro “Marte e seus Canais” indica que eles
haviam sido construídos por seres inteligentes formando uma extensa rede
de distribuição. No livro ele atesta a presença de mais canais em um
planisfério realizado em 1905. Em seus livros “Mars as the Abode of Life”
(1908) e “The Evolution of Worlds” (1909), ele confirma a existência de
mais canais e para ele não há duvida: esses canais são retilíneos demais e
só podem ser artificiais, construídos pelos marcianos para lutar contra uma
devastadora seca. Finalmente surgiam nossos irmãos do espaço!
[continua]
Nelson Alberto Soares Travnik
Observatório Astronômico de Piracicaba
24
A história do Mount Marilyn
O marco inicial, porém não oficial, do primeiro pouso lunar tripulado
James Lovell, o protagonista da história – o
astronauta da NASA James (Jim) Lovell, foto
ao lado, é um veterano de 4 voos espaciais.
Suas realizações ajudaram a pavimentar o
caminho para o primeiro pouso tripulado na
superfície lunar (missão Apollo 11, em 20 de
julho de 1969). Primeiramente, ele voou na
missão Gemini 7, juntamente com o astronauta
Frank Borman, em 1965. Também voou, juntamente com o astronauta
Buzz Aldrin, na missão Gemini 12, em 1966. Em 1968, James Lovell foi o
piloto do módulo de comando da missão Apollo 8, primeira nave tripulada
que circundou a Lua. Mais tarde, em 1970, comandaria a missão Apollo
13, cujo tanque de oxigênio explodiria durante
o voo para a Lua, destruindo um painel inteiro
do módulo de serviço, colocando a tripulação
em risco e fazendo com que a missão não
pudesse ser cumprida, mas os astronautas
conseguiriam voltar em segurança para a Terra,
com a ajuda das cabeças pensantes da base de
comando da missão em Houston.
A missão Apollo 8, onde a história começou – Na época dos preparativos
para a viagem da missão Apollo 8 à Lua, em 1968, a tripulação composta
pelos astronautas James Lovell, Bill Andrers e Frank Borman estudavam
mapas lunares, objetivando maior familiaridade com as formações
existentes na superfície lunar, para facilitar a navegação na área escolhida
para a futura primeira alunissagem tripulada, que seria executada no ano
seguinte pela missão Apollo 11. Na região definida para o pioneiro pouso
da Apollo 11 (Mare Tranquilitatis), a espaçonave Apollo 8 de Lovell
deveria sobrevoar com mais atenção visual e detalhamento de registros. A
missão Apollo 8 foi muito especial. Nessa oportunidade, os astronautas
executaram 10 órbitas em torno da Lua em 20 horas. Foi a primeira vez
que um ser humano viu diretamente a face oculta da Lua, que foi
fotografada pela primeira vez em 1959, pela sonda robótica soviética Luna
3. Também foi a primeira vez que um ser humano viu o “nascimento” da
Terra sobre o horizonte da Lua.
25
Missão Apollo 8 – a primeira vez que um ser humano viu o “nascimento” da Terra
sobre o horizonte da Lua em dezembro de 1968 (© NASA)
A tripulação da missão Apollo 8. Lovell, Andrers e Borman (© NASA)
O estudo dos mapas e a escolha de um ponto de referência para a
navegação – Num desses estudos de mapas lunares, James Lovell notou a
existência de uma pequena, porém destacada montanha com forma
triangular, provido de alta taxa de albedo (reflexão de luz), localizado na
orla sudeste do Mare Tranquilitatis, nas coordenadas selenográficas:
latitude 1,15o
N e longitude 40,00o
E. Lovell percebeu que essa
diferenciada formação poderia ser útil para servir como uma referência
visual durante a navegação nos voos orbitais, quando estivessem se
26
aproximando para analisar a região definida para receber o primeiro pouso
tripulado. Naquela época, Jim Lovell pôde verificar que a referida
formação, caracterizada como um pequeno triângulo branco, não
apresentava nome definido pela União Astronômica Internacional (UAI),
entidade responsável por nominar formações do Sistema Solar, ou seja,
não havia referência nos mapas lunares. Com isso, Lovell disse para seus
companheiros da missão Apollo 8, Bill e Frank: “eu acho que vou batizar
essa montanha de Mount Marilyn”. O nome foi escolhido por Lovell para
homenagear sua esposa, Marilyn Gerlach.
Mapa "Lunar Chart (LAC) Series", folha No. 61, da região do Mount Marilyn,
confeccionado em fevereiro de 1963 pela Aeronautical Chart Information
Center/NASA.
Mount Marilyn: referência visual para futuras missões Apollo – A partir
daí, o nome Mount Marilyn foi usado como uma espécie de ponto inicial,
ou ponto de referência do voo da Apollo 8 de Lovell, e também para
verificar se esse marco seria bom para que as futuras tripulações da Apollo
10 e Apollo 11 pudessem utilizá-lo para iniciar as suas aproximações
finais do local escolhido para a futura alunissagem tripulada. Assim, o
Mount Marilyn passou a figurar em todas as anotações e nos mapas
utilizados pelos astronautas. [continua]
Ricardo Vaz Tolentino
Vaz Tolentino Observatório Lunar
27
Relatório de observação (maio - junho de 2015)
[Dados até 24 de junho de 2015]
Sol – manchas solares: recebemos 13 registros de A. Amorim e 9 registros enviados
por Diego de Bastiani. Abaixo temos o gráfico do número de Wolf desde janeiro de
2010.
Estrelas variáveis – A. Amorim fez 139 estimativas de 31 estrelas.
Cometa – C/2015 G2: A. Amorim fez 8 registros.
Cronometragens – A. Amorim realizou 5 cronometragens do trânsito do disco da
Lua Cheia na noite de 2-3 de junho de 2015.
Ocultação – Natália S. R. e Silva (Florianópolis/SC) observou a ocultação da estrela
SAO 97912 pela Lua na noite de 19 de junho de 2015 através do CPC-800 (203mm
f/10). A cronometragem foi
feita por A. Amorim
anotando instante do desa-
parecimento às 21:17:51,8
TU.
Imagem – ao lado temos
comparação entre a Lua
Crescente de apogeu com a
Lua Minguante de perigeu
conforme instruções do
Boletim Observe! Junho e
2015. A imagem do dia 24
de junho foi obtida com o
céu parcialmente nublado.
28
EVENTOS e PALESTRAS
Observação do Nascer da Segunda Lua Cheia
Atividade do NEOA-JBS que será realizada na sexta-feira, dia 31 de julho
de 2015 na Praia da Armação do Pântano do Sul. Mais informações no
website: http://www.geocities.ws/costeira1/neoa.
1º de julho: Observação pública em Chapecó/SC
A Associação Apontador de Estrelas acompanhará a conjunção entre
Vênus e Júpiter no dia 1º de julho a partir das 18:30 no Calçadão do
Centro de Chapecó. Website: http://apontadordeestrelas.blogspot.com.br.
23-24 de julho: IV Simpósio Catarinense de Astronomia
Inscrições devem ser feitas até o dia 5 de julho, através do website:
https://sites.google.com/site/ifscastronomia/iv-sca.
5-7 de setembro: 12º Encontro Paranaense de Astronomia
A 12ª edição do EPAST ocorre na cidade de Ponta Grossa/PR. Será a
terceira vez que a cidade sedia este evento.
Observe! é o boletim informativo do Núcleo de Estudo e Observação
Astronômica “José Brazilício de Souza”, editado por Alexandre Amorim com
colaboração de demais integrantes do NEOA-JBS. Colaboraram nesta edição:
Alexandre Amorim, Diego de Bastiani, Margarete J. Amorim, Nelson Travnik
e Ricardo Tolentino. Sua distribuição é gratuita aos integrantes e participantes
do NEOA-JBS. Observe! é publicado mensalmente e obtido através dos
seguintes meios:
Formato eletrônico: envie email para marcos@ifsc.edu.br com cópia para
costeira1@gmail.com .
Associe-se ao NEOA-JBS através do Yahoogroups! e tenha acesso a todas as
edições do Observe! Acesse o website http://costeira1.rg10.net
Formato impresso: obtido na sede do NEOA-JBS, Instituto Federal de Santa
Catarina, Avenida Mauro Ramos, 950, Florianópolis/SC. Fone: (48) 3221-
0635, contato: Prof. Marcos Neves.

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Boletim informativo do NEOA-JBS de julho de 2015

  • 1. Observe!BOLETIM INFORMATIVO DO NEOA – JBS ANO VI – NÚMERO 7 – JULHO DE 2015 Prezados leitores, E chegamos ao tão esperado mês em que comemoramos 6 anos de formação do NEOA-JBS! E também o mês do Simpósio Catarinense de Astronomia que será realizado no IFSC – Campus Araranguá, sob a organização do CA² – Clube de Astronomia de Araranguá. O clube apropriadamente escolheu o slogan “Astronomia acima de tudo”. Um dos pontos altos do Simpósio é a entrega do Prêmio Brazilício. Façam planos para participar do Simpósio Catarinense de Astronomia! As inscrições on- line devem ser feitas até o dia 5 de julho, através do website: https://sites.google.com/site/ifscastronomia/iv-sca. Aproveitem esta edição do Boletim Observe! e tenham todos uma boa leitura! Alexandre Amorim Coordenação de Observações do NEOA-JBS AGENDA ASTRONÔMICA – CÉU DO MÊS Julho de 2015 Mercúrio é visível ao amanhecer durante a primeira quinzena do mês. Vênus e Júpiter são visíveis ao anoitecer. Saturno é visível durante a noite até as 03:00 da madrugada. Netuno é visível após as 21:00. Urano é visível durante a madrugada. Marte ainda tem sua visibilidade prejudicada devido a sua conjunção com o Sol ocorrida em 14 de junho. A luz cinérea da Lua é visível ao amanhecer entre os dias 10 e 14 e ao anoitecer entre os dias 17 e 23. A seguir temos o mapa do céu válido para o dia 15 de julho às 20:00 Horário de Brasília. (©CartasCelestes.com)
  • 2. 2 Dia Hora Evento – Fonte: AAC 2015 1 6 Vênus 0,4° ao sul de Júpiter 1 23 Lua Cheia 5 16 Lua no perigeu 6 17 Terra no afélio 6 3 Netuno 3° ao sul da Lua 6 13 Plutão em oposição 8 17 Quarto Minguante 9 0 Urano 0,7° ao norte da Lua 9 10 Vênus em máximo brilho 12 15 Aldebarã 0,9° ao sul da Lua 14 sonda New Horizons sobrevoa Plutão 15 2 Mercúrio 6° ao norte da Lua 15 4 Marte 6° ao norte da Lua
  • 3. 3 15 22 Lua Nova 16 1 Mercúrio 0,1° ao sul de Marte 16 16 Mercúrio no periélio 18 11 Júpiter 4° ao norte da Lua 18 21 Vênus 0,4° ao norte da Lua 19 4 Vênus 3° ao sul de Regulus 21 7 Lua no apogeu 23 2 Ceres mais próximo da Terra (1,93 ua) 23 16 Mercúrio em conjunção superior 24 0 Quarto Crescente 25 5 Ceres em oposição 25 6 Vênus estacionário 26 6 Saturno 2° ao sul da Lua 26 8 Urano estacionário 28 Máxima atividade dos Piscis Austrinídeos 29 18 Marte 6° ao sul de Pollux 30 Máxima atividade dos alfa-Capricornídeos 30 Máxima atividade dos delta-Aquarídeos do Sul 31 3 Vênus 6° ao sul de Regulus 31 7 Lua Cheia (2ª do mês) Vênus e Júpiter em conjunção A última semana de junho é brindada com uma bela conjunção planetária envolvendo Vênus e Júpiter logo após o pôr do Sol. Já durante a tarde do dia 30 de junho os dois astros estão situados cerca de 22 minutos de arco um do outro. Isto permite que sejam visualizados no mesmo campo de visão de um instrumento com aumento da ordem de 30 a 50 vezes, tais como o Galileoscope 50mm f/10 ou o FirstScope 76mm f/4. O observador deve notar a diferença de coloração entre os dois planetas bem como sua fração de disco iluminado: enquanto que Vênus se apresenta com um disco 34% iluminado, destacando sua fase, Júpiter é visto todo iluminado. Isto se deve a posição dos dois planetas em suas respectivas órbitas quando vistos aqui da Terra. No anoitecer de 30 de junho os satélites de Júpiter estão configurados desta forma: à oeste do planeta situam-se Io (I), Europa (II) e Calisto (IV), enquanto que à leste está Ganimedes (III). A rigor a separação mínima entre Vênus e Júpiter, 0,33 graus, tem lugar às 00:48 EBT do dia 1º de julho, porém neste instante os dois astros se encontram abaixo do nosso horizonte. A conjunção em longitude ocorre às 04:50 EBT, mas também com os astros abaixo do nosso horizonte. No anoitecer do dia 1º de julho, Vênus e Júpiter ainda são visualizados no mesmo
  • 4. 4 campo de visão de um simples telescópio, porém já afastados em cerca de 0,5 graus. Na noite de 1º de julho apenas três satélites galileanos estão situados à leste de Júpiter, a saber: Io, Europa e Ganimedes. Figura 1: Vênus e Júpiter em 30 de junho de 2015 ao anoitecer. Simulação em escala. No anoitecer dos dias 17 e 18 de julho a Lua aparece em cena para completar a conjunção, permitindo ótimas visualizações e fotografias. Além da Lua, a conjunção envolve também o Cometa C/2014 Q1 Pan- STARRS e a estrela Regulus, da constelação do Leão. É possível que o Cometa Pan-STARRS esteja na 7ª magnitude, sendo um alvo difícil para ser observado durante o crepúsculo, necessitando de instrumentos com abertura superior a 80 milímetros. Por outro lado a conjunção serve para mostrar as diferentes distâncias de cada astro envolvido, vejamos: - a Lua está situada cerca de 400 mil km ou apenas 1,3 segundos-luz; - Vênus situa-se cerca de 109 milhões de km ou 3,2 minutos-luz; - o Cometa Pan-STARRS está a 177 milhões de km ou 9,8 minutos-luz; - Júpiter está cerca de 934 milhões de km ou 52 minutos-luz; e, por fim, - Regulus está a 730 trilhões de km ou 77 anos-luz. Excetuando o Cometa C/2014 Q1, a próxima conjunção envolvendo Lua, Vênus, Júpiter e Regulus ocorrerá em junho e julho de 2039. (AA)
  • 5. 5 Terra no afélio Segundo informação do Anuário Astronômico Catarinense 2015, no próximo dia 6 de julho a Terra se encontra em seu afélio, isto é, no ponto mais afastado de sua órbita em torno do Sol. Às 16:40 EBT a Terra situa- se a 1,0167 ua do Sol (152 milhões de km). Uma atividade observacional sugerida é fotografar o Sol usando instrumentos apropriados e, usando as mesmas configurações, comparar com a imagem do Sol obtida no dia do periélio em 4 de janeiro de 2015 ou mesmo no próximo periélio em 2 de janeiro de 2016. Mais informações se encontram na edição do Boletim Observe! Julho de 2014. (AA) Comparação entre os diâmetros aparentes do Sol quando a Terra está no afélio (3/jul/2014) e no último periélio (4/jan/2015). Ocultações lunares de julho O Anuário Astronômico Catarinense 2015 nos informa que no presente mês dispomos de pelo menos três ocultações lunares desafiadoras envolvendo estrelas relativamente brilhantes, embora possuam magnitudes visuais entre 3 e 4. No entanto uma das ocultações ocorre à luz do dia.
  • 6. 6 Será possível detectar uma estrela de 4ª magnitude em plena luz do dia? Vejamos as condições de cada ocultação prevista para este mês: 12 de julho às 09:17 EBT – ocultação de delta Tauri (magnitude 3,8) à luz do dia. A princípio instrumentos com abertura superior a 100 milímetros são capazes de detectar estrelas de 4ª magnitude à luz do dia desde que as condições atmosféricas sejam propícias. A estrela se situa a 44° de altura no instante considerado. Em 15 de agosto de 2010 conseguimos detectar a estrela zeta CMa (magnitude 3,0) à luz do dia com um refrator de 70mm. 26 de julho à 01:53 EBT – ocultação de gamma Librae (magnitude 3,9): a Lua está 69% iluminada nesta madrugada e o desaparecimento ocorre no lado escuro, situações que a princípio indicam uma boa visibilidade da ocultação. Porém o problema é a altura da estrela, apenas 3,4° no horizonte oeste. 31 de julho à 01:49 EBT – ocultação de beta Capricorni (magnitude 3,1): eventos envolvendo estrelas múltiplas, como o caso de β Cap sempre são interessantes para acompanhar. Além disso, a estrela é mais brilhante que as anteriores. Mas para dar um toque de dificuldade, a Lua se encontra em sua fase cheia. A rigor a Lua está 99,8% iluminada, de modo que um finíssimo limbo escuro provavelmente concorre para que a estrela desapareça antes de “tocar” a parte iluminada. Por falar em Lua Cheia, em julho teremos duas, como descrevemos no próximo artigo. (AA) Duas Luas Cheias no mesmo mês Os leitores devem se lembrar da expressão “Lua Azul” e sua relação com a ocorrência de duas Luas Cheias num mesmo mês do calendário gregoriano. Neste mês de julho temos a ocorrência do fenômeno, isto é, duas Luas Cheias no mesmo mês. No Anuário Astronômico Catarinense 2015, página 38, colocamos a expressão “Lua Azul*”. Sim, com um asterisco, pois sabiam que esta relação surgiu de uma interpretação equivocada? Segundo Philip Hiscock, a relação “Lua Azul” e “2ª Lua Cheia no mês” surgiu primeiramente em trechos da revista Sky & Telescope, edições de Julho de 1943 e Março de 1946. Donald W. Olson e Roger W. Sinnot verificaram que os autores daqueles trechos, respectivamente L. J. Lafleur e J. Hugh Pruett, se equivocaram ao
  • 7. 7 interpretar o termo “Blue Moon” que apareceu na edição do Maine Farmers’ Almanac para o ano de 1937. O Boletim Observe! já seguiu esta mesma onda de denominar a 2ª Lua Cheia do mesmo mês de “Lua Azul”, como vemos nas edições de Junho de 2011 e Agosto de 2012. Porém, após uma leitura cuidadosa no trabalho de Philip Hiscock entendemos que não existe razão para continuar tal denominação uma vez que o conceito surgiu de um equívoco de interpretação. De fato em publicações astronômicas populares anteriores à década de 1940 não encontramos nada relacionando “Lua Azul” e “2ª Lua Cheia no mesmo mês”. Além disso, o termo só circulou com mais ênfase na comunidade dos astrônomos amadores na década de 1980 após o programa de rádio Star Date de Deborah Byrd (janeiro de 1980) e pela mídia em geral em maio de 1988. Seguindo a tendência norte-americana, a mídia brasileira incorporou a expressão “Lua Azul” às duas Luas Cheias no mesmo mês, como lemos na edição de 1º de junho de 1988 do Jornal do Brasil. Até astrônomos profissionais pegaram carona no equívoco, como foi o caso de Ronaldo Mourão ao escrever seus artigos sobre Lua Azul no Jornal do Brasil, 31 de dezembro de 1990 e nos Anuários de Astronomia de 1999 e 2004 bem como na edição de 1987 do Dicionário Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica. Por outro lado, o Anuário de Astronomia de 1990, publicado no final de 1989, apenas fala sobre “Duas Luas Cheias no mesmo mês” sem mencionar “Lua Azul”. Embora possa parecer inonfesivo, a comunidade astronômica não deve prontamente se deixar seduzir por uma informação de origem popular travestida de folclore antigo. É necessário examinar as fontes da informação e não seguir o sensacionalismo midiático. Um caso bem recente é o termo “lua sangrenta” ou “lua de sangue”, cuja relação com eclipses lunares foi sugeria por ministros cristãos tais como John Hagee e Mark Biltz. Que a segunda Lua Cheia do mês é uma curiosidade astronômica e calendar, não há dúvida, mas apreciem o fenômeno com moderação. (AA) Referências: AMORIM, Margarete J. Observação da “Lua Azul” na Praia do Campeche. Boletim Observe! v. 3, n. 10, out. 2012. HISCOCK, Philip. Once in a blue moon. Sky & Telescope, v. 97, n. 3, p. 52-55, mar. 1999. OLSON, Donald W. e SINNOTT, Roger W. Blue-moon mystery solved?. Sky & Telescope, v. 97, n. 3, p. 55, mar. 1999.
  • 8. 8 Planetas-anões em oposição Neste mês de julho as atenções estão voltadas para o sobrevôo da sonda New Horizons pelo sistema de Plutão no dia 14. Sim, apesar de ser um planeta-anão, Plutão possui pelo menos 5 satélites, embora o maior deles, Caronte, tenha massa suficiente para deslocar o baricentro para um ponto exterior à superfície de Plutão. Esta é uma das peculiaridades que permeiam esta região do sistema solar. Será que a sonda revelará novos corpos orbitando a região de Plutão, além de Caronte, Nix, Hidra, Cérbero e Estige? Daqui da Terra é possível discernir visualmente Plutão através de instrumentos com abertura superior a 200 milímetros. Sua oposição ocorre no dia 6. Mesmo assim, o objeto se apresenta como um astro de 14ª magnitude. Será que é tão difícil, assim, observarmos um planeta-anão? A resposta é não! Após a nova classificação aprovada pela União Astronômica Internacional, Ceres foi conduzido à categoria de planeta- anão. Diferente de Plutão, Ceres é observável através de binóculos. E neste mês de julho ele está favoravelmente situado no céu do hemisfério sul, uma vez que sua oposição ocorre no dia 25, atravessando as constelações de Capricórnio, Microscópio e Sagitário. Abaixo temos um mapa para localização e estimativa de brilho de Ceres durante o mês de julho.
  • 9. 9 Desde o último mês de março Ceres é visitado pela sonda Dawn, que tem revelado surpresas na superfície deste planeta-anão. Uma delas é a existência de regiões brilhantes no interior de uma cratera de 80 km. Apenas para registrar, na noite de 10-11 de julho Ceres passa apenas 0,1 graus à noroeste da estrela variável R Microscopi. (AA) Atenção às crateras lunares em julho Usando as previsões disponíveis no website do Dr. Anthony Cook, seguem algumas datas para observação de crateras que terão suas condições de iluminação similares àquelas em que foram observadas por astrônomos brasileiros em ocasiões anteriores. (AA) 2015-Jul-09, 06:01-07:55 TU, Ilum.=45% Tycho, 2006 Jan 22 às 06:34-06:36 TU, observada por Fábio Carvalho (Assis/SP) usando refletor de 25 cm f/6. Névoa de coloração esverdeada observada visualmente por dois minutos na borda W da cratera. 2015-Jul-26, 01:56-02:30 TU, Ilum.=68% Platão, 1980 Abr 24 às 23:35 TU, observada por Marco Petek (Porto Alegre/RS) usando um refrator de 7,5 pol. O centro de Platão estava brilhante e opaco, com aspecto similar à Linnè. Temos outra oportunidade para detectar o início da iluminação no interior da cratera de Ptolomeu. Com base em nossas observações feitas em 2014 notamos que este fenômeno ocorre quando a Colongitude se situa entre 1,4 e 1,8 graus, aparecendo aquela “bruma luminescente” relatada por Travnik e Vianna em 1970, quando eles mantiveram vigília na Lua durante a missão da Apollo XIII. Uma próxima data para reobservar este fenômeno será na noite de 23 de julho de 2015, entre 18:35 e 18:46 EBT (21:35 e 21:46 TU), quando o valor da Colongitude também será igual a 1,4 graus. O evento ocorre durante a sessão de observações no primeiro dia do IV Simpósio Catarinense de Astronomia em Araranguá. Esperamos que o céu esteja em ótimas condições de visibilidade, uma vez que a Lua estará próxima de sua culminação. (AA). Referências: COOK, Anthony. Repeat illumination only or illumination/libration. Disponível em http://users.aber.ac.uk/atc/tlp_future/tlp.htm. Acesso em 11 jun. 2015.
  • 10. 10 Cometa C/2013 US10 Catalina Segundo informações do Anuário Astronômico Catarinense 2015, “este cometa foi descoberto em 31 de outubro de 2013 pela equipe do programa de busca Catalina, usando o telescópio Schmidt de 0,68m + CCD. Na ocasião o objeto estava na 19ª magnitude e com aspecto asteroidal, tanto que foi catalogado inicialmente como sendo o asteroide 2013 US10”. O cometa não terá uma boa aparição, pois durante o periélio em novembro de 2015 praticamente estará em conjunção com o Sol. No hemisfério sul sua visibilidade começou em meados de junho de 2015 quando foi estimado na 10ª magnitude e se situando na constelação do Escultor durante toda a madrugada. Em 1º de maio de 2015 o observador Marco Goiato (Araçatuba/SP) estimou o cometa em magnitude 12,2. Na última semana de julho o astro deve atingir a 8ª magnitude e visível durante toda a noite na constelação de Tucano, próximo da estrela γ Tucanae. Após a conjunção com o Sol durante o mês de novembro, o cometa reaparece no céu matutino a partir da primeira semana de dezembro de 2015 como um astro de 5ª magnitude, deslocando-se da constelação de Libra para Virgem. Em meados de janeiro de 2016 o cometa encerra sua breve aparição matutina, porém ainda brilhando na 6ª magnitude. Abaixo temos um mapa com a trajetória aparente do cometa durante o mês de julho. As posições são válidas para a meia-noite local de cada data. (AA)
  • 11. 11 Cometa C/2014 Q1 Pan-STARRS Segundo informações do Anuário Astronômico Catarinense 2015, “este cometa foi descoberto pelo Consórcio Pan-STARRS (Haleakala, Hawaii/EUA) em 16 de agosto de 2014 por meio do telescópio Ritchey- Chretien de 1,8m + CCD. Os elementos orbitais mostram que o astro deve alcançar a 4ª magnitude por ocasião do seu periélio em 6 de julho de 2015 quando estará distante do Sol em apenas 0,31 ua. No entanto a baixa elongação impedirá a observação do cometa nesta ocasião”. Portanto, não devemos nos deixar levar pelo valor da magnitude total achando que o astro seria visível a olho nu. Além disso, os poucos registros visuais feitos durante o mês de junho indicam que o cometa está com brilho mais fraco do que as efemérides iniciais. Talvez o cometa não ultrapasse a 6ª magnitude conforme simulação de Seichii Yoshida. Após a conjunção com o Sol o cometa reaparece no céu vespertino em meados de julho, no limite das constelações de Câncer e Leão, brilhando provavelmente na 7ª magnitude (ou na 5ª magnitude?). Conforme anunciamos na página 4, este cometa estará em conjunção com a Lua, Vênus, Júpiter e Régulus durante o anoitecer dos dias 18 e 19 de julho. O astro encerra seu período de visibilidade na segunda semana de agosto na constelação da Taça, cerca de 8 graus a nordeste da estrela ξ Hya, quando retorna à 10ª magnitude. A seguir apresentamos um mapa com a trajetória aparente do cometa. As posições planetárias são válidas para o dia 19 de julho de 2015. (AA)
  • 12. 12 Estrelas variáveis em atividade Alguém pode pensar que não há muita graça em acompanhar, noite após noite, a variação de brilho de algumas estrelas. Talvez pelo fato das estrelas variáveis não se apresentarem visualmente atraentes tais como uma nebulosa, aglomerado estelar ou mesmo os planetas mais brilhantes do sistema solar. No entanto a observação de estrelas variáveis revela ser um dos registros mais fáceis de serem feitos e com resultados em curto prazo. Um exemplo são as estrelas cataclísmicas tais como a recente Nova Sagittarii 2015 Nº 2. Trouxemos informações iniciais deste objeto na edição de Abril de 2015 do Boletim Observe! (páginas 10-11), inclusive um mapa para localização e estimativa de seu brilho. Desde meados de março de 2015 a estrela apresentou variações entre a 4ª e 6ª magnitudes. Porém em meados de junho seu brilho caiu rapidamente, sendo estimada na 11ª magnitude no momento em que redigimos este texto (24 de junho). Ao lado temos a curva de luz desta estrela, conforme dados enviados por 5 observadores (A. Amorim, Adair Cardozo, Lucas Camargo, Marco Goiato e Willian Souza), em que notamos nitidamente a queda de brilho. Segundo Klaus- Peter Schröder et alli, a estrela segue um com- portamento típico da Nova Herculis 1934 (DQ Herculis)1 . Além disso, estes pesquisadores calculam que a Nova Sagittarii 2015 #2 esteja distante cerca de 5 mil anos-luz de nosso sistema solar (~1,6 kiloparsec). A queda de brilho está relacionada com a formação de nuvens de poeira nos arredores do sistema binário. Se a N Sgr 2015 #2 seguir, de fato, o comportamento da estrela DQ Her, espera-se que após atingir um brilho mais fraco o objeto apresente novo abrilhantamento, e, a partir de então, uma lenta diminuição de brilho. Ou será que a estrela seguirá uma curva de luz similar à Nova Scorpii 2007 (V1280 Sco)? Somente as observações nos responderão estas questões. Para isso preparamos um novo mapa com 1 «Dennoch blieb diese Nova im Kontinuumslicht lange auf einem vergleichsweise hellen Niveau. Selbst einen Monat nach ihrer Entdeckung war sie erst um eine Größenklasse schwächer geworden, wenn man von Lichteinbrüchen absieht, die für Novae vom DQ-Herculis-Typ typisch sind. »
  • 13. 13 estrelas de comparação até magnitude 12,9 a fim de verificarmos a evolução do brilho da Nova Sagittarii 2015 #2. Outra estrela em atividade é AG Pegasi. Trata-se de uma estrela simbiótica que desde meados de junho de 2015 se encontra em outburst. A última (e primeira vez) que tal estrela apresentou este salto de brilho foi na década de 1860-1870. Estimativas mais recentes mostram que esta estrela se encontra na 7ª magnitude, sendo observável através de binóculos. Preparamos o mapa abaixo, com a orientação invertida, facilitando a
  • 14. 14 visualização a partir do hemisfério sul. O observador deve notar a posição da estrela em relação à Enif, epsilon Pegasi. (AA) Referências SCHRÖDER, Klaus-Peter et all. Nova Sgr 2015 No. 2 – eine sehr langsame und ungewöhnliche Nova. Sterne und Weltraum. Julho 2015. WAAGEN, Elizabeth O. AAVSO Alert Notice 521: very rare outburst of the symbiotic variable AG Peg. Disponível em: http://www.aavso.org/aavso-alert- notice-521. Acesso em 24 jun. 2015.
  • 15. 15 NEOA-JBS comemora o “Dia do Mourão” Em dezembro de 2013 a Coordenação de Observações do NEOA-JBS originou o evento "Dia do Mourão" cujo objetivo básico é celebrar um dos maiores astrônomos brasileiros de todos os tempos. No final de julho de 2014 fomos surpreendidos pela perda deste grande astrônomo. Recentemente em 25 de maio de 2015 quando completaria 80 anos, Mourão foi outra vez lembrado através de uma atividade organizada pelo NEOA-JBS assim definida: Às 17:35 a apresentação introdutória Por que lembrar “Ronaldo Mourão”? fez uma breve consideração sobre as razões para mantermos a memória astronômica brasileira através das obras de Ronaldo Mourão. Às 17:50 Marcos Neves apresentou o tema Mourão e o Museu de Astronomia e mostrou em slides o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAst), localizado na antiga sede do Observatório Nacional, no Rio de Janeiro. Mourão foi um dos idealizadores e a unidade é vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O acervo é composto por cerca de 2000 objetos científicos e tecnológicos que foram, em sua maioria, fabricados entre os séculos XIX e XX. Às 18:05 Adair Cardozo apresentou a palestra Mourão e seus surpreendentes artigos – “Ciências & Artes” que expôs vários livros publicados por Ronaldo Mourão. Ele publicou cerca de 100 livros e mais de mil ensaios em revistas e jornais, sendo suas principais contribuições realizadas no campo das estrelas duplas, cometas e asteroides. Adair também leu uma poesia de Manuel Bandeira sobre o planeta Vênus publicada no livro “Astronomia e Poesia”. Neste livro, Mourão transcreve
  • 16. 16 uma série de poesias, de diferentes autores, sobre temas astronômicos e após cada poesia ele dá a explicação astronômica sobre os fenômenos. É um livro poético e científico, o que o torna bastante agradável! Por fim, às 18:20, Alexandre Amorim palestrou sobre Aitken 14: uma estrela na vida de Mourão e mostrou que a estrela catalogada como Aitken 14 já era identificada como dupla. Porém Ronaldo Mourão descobriu o que seria uma terceira componente “invisível” em 1969, enganosamente anunciada pela reportagem da revista Veja como a descoberta de um planeta em torno das duas estrelas. A homenagem abordou igualmente as descobertas feitas por este grande astrônomo. O evento foi realizado na sala 117 do Bloco Central do IFSC – Campus Florianópolis e terminaria com uma sessão de observação astronômica da Lua, dos planetas Vênus, Júpiter e Saturno. O céu nublado impediu a observação. Nosso respeito ao grande mestre da Astronomia! Margarete Jacques Amorim Exposição de Arqueoastronomia e Astronomia Cultural Anualmente, entre os dias 18 e 24 de junho, é comemorada a Semana Municipal de Arqueoastronomia em Florianópolis. O objetivo desta come- moração é ressaltar a importância da preservação de sítios arqueológicos cujas construções provavelmente tiveram sua motivação inicial nas observações astronômicas (solstícios e equinócios). Para comemorar a Semana de Arqueoastronomia o Núcleo de Estudo e Observação Astronômica “José Brazilício de Souza” – NEOA-JBS organizou a exposição que aborda o tema da Arqueoastronomia no Brasil, reproduzindo em maquetes dois sítios arqueoastronômicos (o da Pedra do Frade, na Barra da Lagoa e o do Gravatá) encontrados na parte leste da Ilha de Santa Catarina. Nesta edição também apresentamos o tema “Astronomia Cultural” focada nos grupos indígenas em território brasileiro, mostrando como estes grupos dão importância à observação do céu e como estes conhecimentos servem de referencial para o entendimento do estudo arqueoastronômico desenvolvido no Brasil. A
  • 17. 17 exposição, autoexplicativa, permaneceu no hall de entrada, nos dias 16 a 19 de junho de 2015, em horário de funcionamento da instituição. Ainda no dia 19 de junho, como parte das comemorações, fizemos uma sessão de observação no pátio interno do IFSC para ver a conjunção entre Lua, Vênus e Júpiter, também observação telescópica dos planetas Vênus, Júpiter e Saturno e observação telescópica da Lua. Quem esteve na Estação NEOA para nossas observações lembra que por volta das 18:18 EBT (21:18 TU) observamos a ocultação de uma pequenina estrela pela Lua. Tratava-se da estrela catalogada como SAO 97912 de magnitude 8,1. Coube à aluna Natália Sampaio observar o desaparecimento da estrela (sendo sua primeira observação deste tipo de fenômeno). O reaparecimento ocor- reria às 19:27, porém não detectamos a estrela neste horário, pois ela já estava baixa no horizonte, cerca de 12 graus, e o reaparecimento se deu no limbo iluminado da Lua, dificultando a detecção da estrela de 8ª magnitude. Essa foi uma das raras noites de céu limpo durante o mês de junho. A bela conjunção entre Lua, Vênus e Júpiter maravilhava a todos. Júpiter era nítido através do telescópio, víamos a faixa equatorial norte com bastante facilidade. As luas galileanas estavam alinhadas horizontalmente, segundo orientação do nosso campo de visão, e Calisto se encontrava mais afastada das outras. É, pois, intrigante saber que existem diversos planetas gigantes semelhantes a Júpiter em órbita de algumas estrelas em todo universo. Há muito que observar e aprender! Todos estão cordialmente convidados para nossas próximas sessões de observação. Mantenham-se atentos ao Boletim Observe! Margarete Jacques Amorim
  • 18. 18 Monitoramento de meteoros em Chapecó/SC No dia 17 de maio, iniciou suas atividades no Brasil uma nova rede de monitoramento de meteoros, a EXOSS: Exploring the Southern Sky for new Meteors Radiants (Explorando o Céu Austral para novos Radiantes de Meteoros). A EXOSS é uma organização sem fins lucrativos que tem como finalidade o estudo de meteoros com metodologia científica: suas origens, natureza e caracterização de suas órbitas. Os associados da EXOSS possuem a proatividade como forte característica pessoal, onde a união forma no grupo o espírito de colaboração, com todos aprendendo e crescendo juntos, respeitando a equipe como um todo e não individualmente. Entendemos que nosso trabalho voluntário pode contribuir com a sociedade, firmando parcerias com instituições públicas e privadas de estudo e pesquisa, para fornecer dados de qualidade através do compromisso com a eficiência na operação da rede. Assim, a EXOSS tem como objetivos:  Registrar meteoros e desenvolver estudos astrométricos e astrofísicos;  Catalogar novos radiantes do hemisfério sul;  Colaborar com instituições de ensino e pesquisas contribuindo com a sociedade;  Incentivar a produção de artigos científicos. A rede é formada por estações de monitoramento e seus operadores, as mesmas estão equipadas com computadores, câmeras CCTV e lentes. As câmeras estão instaladas nos Estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo. A EXOSS possui, também, um website exclusivo para o acompanhamento ao vivo das estações de captura de meteoros. Além das imagens das capturas, é possível também acompanhar as câmeras em tempo real, nas estações que possuem a função ativa, através do link: http://live.exoss.org. EMC/SC: Em Santa Catarina, na cidade de Chapecó, esta em atividade a Estação de Monitoramento de Meteoros Chapecó (EMC/SC) desde janeiro de 2015, mas associada à EXOSS em maio deste ano, sendo operada por
  • 19. 19 Diego de Bastiani, utilizando uma Câmera PY-SH361, lente Varifocal F/1.0 da TECVOZ e FOV 60º, sendo um equipamento mais sensível e a lente com abertura maior, permitindo a entrada de mais luz. A câmera está apontada para o azimute 102º e altura 38,6º. Desde o início de 2015 a EMC- SC registrou 392 meteoros, sendo 48 no período de 20 de maio a 20 de junho. Para registro dos dados, as estações da EXOSS utilizam o software Ufocapture. O que este programa faz é detectar qualquer tipo de movimento de um objeto no céu podendo ser meteoros, aviões, satélites, entre outros. Sempre que algo se move no campo de visão da câmera, é gravado um arquivo de vídeo e imagem do objeto detectado. Para análise dos meteoros capturados é utilizado o programa Ufo Analyzer, que através de parâmetros definidos apresenta a magnitude do objeto e sua trajetória. Também indica se o meteoro é esporádico ou está associado a algum radiante meteórico catalogado. Bólido capturado em 03/06/2015 às 07:08:42 TU. Provavelmente associado à chuva dos Microscopídeos de Maio. A estrela próxima ao centro é β Ceti. Meteoro capturado em 20/05/2015 às 06:08:41 TU. Pela trajetória e ocasião em que foi detectado, possivelmente é um componente dos eta-Aquarídeos. Por ser o primeiro ano de experiência e aprendizagem com a estação, 2015 é um ano de grandes desafios, buscando cada vez mais o entendimento do céu e a contribuição com astronomia, auxiliando na catalogação e novas descobertas na área de meteoros. Mais informações sobre a Rede EXOSS estão disponíveis no website http://www.exoss.org. Diego de Bastiani
  • 20. 20 NEOA visita a Escola Adotiva Liberato Nos dias 22 de maio e 18 de junho de 2015, estivemos na Escola Adotiva Liberato, na Costeira do Pirajubaé (Florianópolis), a partir das 17:00, realizando observações com os alunos da turma 41 do 4º ano do Ensino Fundamental. Neste ano de 2015 eles escolheram como tema de pesquisa o “Espaço Sideral”. De acordo com a professora Melize Daniel, no dia 21 de março, quando eles apresentaram seu tema de pesquisa, levaram cartazes, registros e o defenderam muito bem. O NEOA-JBS ajuda a complementar esta atividade dois meses depois com observações do céu por meio de instrumentos portáteis como pequenas lunetas de fácil montagem e tripé fotográfico. Na segunda data, 18 de junho, apesar do frio, vários alunos estavam presentes. Interessante foi o comentário de uma aluna sobre a descoberta de um planeta cor-de-rosa do tamanho de Júpiter. Provavelmente ela estava se referindo à descoberta feita pelo Observatório Subaru, localizado no Hawai, EUA. Segundo a mídia, o corpo celeste descoberto por meio de imagens, denominado GJ 504b, possui cor magenta (rosa forte), sendo quatro vezes maior do que o planeta Júpiter. No entanto, quando consultamos o artigo original sobre essa descoberta notamos que os autores não são categóricos em afirmar que o planeta é cor-de-rosa, embora mencionem diversas propriedades físicas, temperatura, possi- vel idade e compo- sição da atmosfera desse planeta que orbita uma estrela parecida com o Sol na constelação da Virgem. Na ocasião lembramos a jovem aluna que por vezes
  • 21. 21 novas pesquisas podem apresentar um cenário diferente, de modo que não é prudente aceitar de imediato as declarações da mídia sobre descobertas astronômicas. Desse contato com as crianças na fase de 8 a 10 anos notamos o entusiasmo e curiosidade que possuem em relação à Astronomia, inclusive algumas meninas anotam as observações e fazem um relatório para posteriormente postar em seus blogs. Estaremos novamente na Escola Adotiva Liberato na manhã de sexta-feira, 10 de julho, realizando novas observações e palestras. Os professores da Escola estão de parabéns pelo incentivo que dão aos alunos! Margarete Jacques Amorim A grande polêmica dos canais em Marte O que levou astrônomos de renome a ver uma rede de alinhamentos em Marte sugerindo obra de uma civilização? Desde sua existência nesse planeta, o homem não quer viver só. Odeia a solidão. Com o tempo, ampliou essa solidão para muito além da Terra, para os astros do universo, algo que perdura até hoje. Após a invenção da luneta pelo óptico alemão, naturalizado holandês, Hans Lippershey (1587-1619) e o seu emprego pela primeira vez no estudo do céu por Galileu Galilei (1564-1642) em 1609, passamos a construir instrumentos cada vez maiores no afã de conhecer melhor os outros planetas e descobrir neles algum vestígio de vida. E o melhor candidato revelou-se ser Marte, o Planeta Vermelho. A escolha era óbvia: a duração do dia muito parecido com o nosso (24h 37m 23s), também a inclinação de 24° 46’ do equador em relação à órbita (No caso da Terra esta inclinação é 23° 27’) determinando estações do ano, duas alvas calotas polares e haver satélites como a Terra. Isso motivou o início de uma polêmica centenária que começou na verdade em 1860, aqui no Brasil, com o astrônomo Emmanuel Liais (1826-1900) contratado por D. Pedro II para dirigir o Imperial Observatório do Rio de Janeiro. Ele argumentava que as manchas escuras vistas em Marte eram resultado da presença de vegetação. Contudo foi na grande aproximação de 1877 com o astrônomo italiano Giovanni Virginio Schiaparelli (1835-1910), então diretor do Observatório de Brera,
  • 22. 22 que um fato novo surgiria. A aproximação de 1877 no dia 5 de setembro colocou Marte há “apenas” 56.550.000 km da Terra. Observando o planeta com uma luneta Merz de 22 cm, anunciou a descoberta de sulcos e acidentes retilíneos em sua superfície. Chamou as manchas escuras de “mares” e outras de “estreitos” e “canais”, este último indicando que poderia ser tanto uma configuração natural do terreno como uma construção artificial. O estopim estava aceso. Restava apenas outros astrônomos confirmarem os canais e encontrar os habitantes de Marte! Como as calotas polares desaparecem quase por completo no verão marciano, para muitos estava claro que, para um relevo árido e desértico, esses canais eram obra de uma civilização agonizante que os construíram para, a partir dos pólos, irrigar o planeta. O assunto começou a tomar tal dimensão, que o governo italiano presenteou Schiaparelli com a grande luneta de 49 cm da firma alemã “Merz-Repsold”. Enquanto o italiano limitou-se a relatar “canali” como interpretação puramente hipotética, Camille Flammarion (1842-1925) conclui com entusiasmo: “Essa rede singular de linhas retas, de milhares de quilômetros de comprimento só pode ser uma obra de arte; prova a existência, em Marte, de criaturas racionais, de extraordinária capacidade produtiva e inteligência muito superior a nossa”. Inflamado pela opinião de Flammarion, Schiaparelli deixaria também se envolver por ela. Flammarion dispunha em seu Observatório de Juvisy de uma excelente luneta com objetiva de 24 cm de diâmetro construída por Bardou. Juvisy não era somente um observatório, mas um centro de cultura com vasta biblioteca e convergência de astrônomos e intelectuais da época. D. Pedro II astrônomo amador, era um desses intelectuais e foi convidado de Flammarion para inaugurar o Observatório de Juvisy em 1887. Era difícil não se deixar envolver pelo fascínio que
  • 23. 23 tal hipótese exercia. E, de fato, ela foi rapidamente adotada pela opinião pública. A partir daí, rios de tinta e toneladas de papel foram consumidos contagiando escritores e astrônomos. Muitos não concordavam com essa teoria argumentando serem os traços retilíneos uns alinhamentos ilusórios tendendo a geometrizar-se pela distância. Estava inaugurado o ciclo de acirrados debates entre canalistas x anticanalistas. A idéia alimentada por Flammarion apaixona um milionário diplomata californiano, Percival Lowell (1855-1916) que resolve abandonar a carreira para construir em uma zona semidesértica do Arizona, a 2.300 m de altitude, o Observatório Flagstaff, o seu “Castelo de Marte”, instalando uma luneta de 49 cm e mais tarde uma outra de 61 cm, fabricada por Alvan Clark (1832-1897). Ele dedicou sua fortuna e 15 anos de vida a esse projeto. Em 1895 em seu livro “Marte”, elabora um planisfério e atesta a presença de 184 canais! Em 1896 ele escreve: “Marte era verdejante; hoje é um deserto. Os marcianos lutam contra essa fatalidade”. Em 1906 em seu livro “Marte e seus Canais” indica que eles haviam sido construídos por seres inteligentes formando uma extensa rede de distribuição. No livro ele atesta a presença de mais canais em um planisfério realizado em 1905. Em seus livros “Mars as the Abode of Life” (1908) e “The Evolution of Worlds” (1909), ele confirma a existência de mais canais e para ele não há duvida: esses canais são retilíneos demais e só podem ser artificiais, construídos pelos marcianos para lutar contra uma devastadora seca. Finalmente surgiam nossos irmãos do espaço! [continua] Nelson Alberto Soares Travnik Observatório Astronômico de Piracicaba
  • 24. 24 A história do Mount Marilyn O marco inicial, porém não oficial, do primeiro pouso lunar tripulado James Lovell, o protagonista da história – o astronauta da NASA James (Jim) Lovell, foto ao lado, é um veterano de 4 voos espaciais. Suas realizações ajudaram a pavimentar o caminho para o primeiro pouso tripulado na superfície lunar (missão Apollo 11, em 20 de julho de 1969). Primeiramente, ele voou na missão Gemini 7, juntamente com o astronauta Frank Borman, em 1965. Também voou, juntamente com o astronauta Buzz Aldrin, na missão Gemini 12, em 1966. Em 1968, James Lovell foi o piloto do módulo de comando da missão Apollo 8, primeira nave tripulada que circundou a Lua. Mais tarde, em 1970, comandaria a missão Apollo 13, cujo tanque de oxigênio explodiria durante o voo para a Lua, destruindo um painel inteiro do módulo de serviço, colocando a tripulação em risco e fazendo com que a missão não pudesse ser cumprida, mas os astronautas conseguiriam voltar em segurança para a Terra, com a ajuda das cabeças pensantes da base de comando da missão em Houston. A missão Apollo 8, onde a história começou – Na época dos preparativos para a viagem da missão Apollo 8 à Lua, em 1968, a tripulação composta pelos astronautas James Lovell, Bill Andrers e Frank Borman estudavam mapas lunares, objetivando maior familiaridade com as formações existentes na superfície lunar, para facilitar a navegação na área escolhida para a futura primeira alunissagem tripulada, que seria executada no ano seguinte pela missão Apollo 11. Na região definida para o pioneiro pouso da Apollo 11 (Mare Tranquilitatis), a espaçonave Apollo 8 de Lovell deveria sobrevoar com mais atenção visual e detalhamento de registros. A missão Apollo 8 foi muito especial. Nessa oportunidade, os astronautas executaram 10 órbitas em torno da Lua em 20 horas. Foi a primeira vez que um ser humano viu diretamente a face oculta da Lua, que foi fotografada pela primeira vez em 1959, pela sonda robótica soviética Luna 3. Também foi a primeira vez que um ser humano viu o “nascimento” da Terra sobre o horizonte da Lua.
  • 25. 25 Missão Apollo 8 – a primeira vez que um ser humano viu o “nascimento” da Terra sobre o horizonte da Lua em dezembro de 1968 (© NASA) A tripulação da missão Apollo 8. Lovell, Andrers e Borman (© NASA) O estudo dos mapas e a escolha de um ponto de referência para a navegação – Num desses estudos de mapas lunares, James Lovell notou a existência de uma pequena, porém destacada montanha com forma triangular, provido de alta taxa de albedo (reflexão de luz), localizado na orla sudeste do Mare Tranquilitatis, nas coordenadas selenográficas: latitude 1,15o N e longitude 40,00o E. Lovell percebeu que essa diferenciada formação poderia ser útil para servir como uma referência visual durante a navegação nos voos orbitais, quando estivessem se
  • 26. 26 aproximando para analisar a região definida para receber o primeiro pouso tripulado. Naquela época, Jim Lovell pôde verificar que a referida formação, caracterizada como um pequeno triângulo branco, não apresentava nome definido pela União Astronômica Internacional (UAI), entidade responsável por nominar formações do Sistema Solar, ou seja, não havia referência nos mapas lunares. Com isso, Lovell disse para seus companheiros da missão Apollo 8, Bill e Frank: “eu acho que vou batizar essa montanha de Mount Marilyn”. O nome foi escolhido por Lovell para homenagear sua esposa, Marilyn Gerlach. Mapa "Lunar Chart (LAC) Series", folha No. 61, da região do Mount Marilyn, confeccionado em fevereiro de 1963 pela Aeronautical Chart Information Center/NASA. Mount Marilyn: referência visual para futuras missões Apollo – A partir daí, o nome Mount Marilyn foi usado como uma espécie de ponto inicial, ou ponto de referência do voo da Apollo 8 de Lovell, e também para verificar se esse marco seria bom para que as futuras tripulações da Apollo 10 e Apollo 11 pudessem utilizá-lo para iniciar as suas aproximações finais do local escolhido para a futura alunissagem tripulada. Assim, o Mount Marilyn passou a figurar em todas as anotações e nos mapas utilizados pelos astronautas. [continua] Ricardo Vaz Tolentino Vaz Tolentino Observatório Lunar
  • 27. 27 Relatório de observação (maio - junho de 2015) [Dados até 24 de junho de 2015] Sol – manchas solares: recebemos 13 registros de A. Amorim e 9 registros enviados por Diego de Bastiani. Abaixo temos o gráfico do número de Wolf desde janeiro de 2010. Estrelas variáveis – A. Amorim fez 139 estimativas de 31 estrelas. Cometa – C/2015 G2: A. Amorim fez 8 registros. Cronometragens – A. Amorim realizou 5 cronometragens do trânsito do disco da Lua Cheia na noite de 2-3 de junho de 2015. Ocultação – Natália S. R. e Silva (Florianópolis/SC) observou a ocultação da estrela SAO 97912 pela Lua na noite de 19 de junho de 2015 através do CPC-800 (203mm f/10). A cronometragem foi feita por A. Amorim anotando instante do desa- parecimento às 21:17:51,8 TU. Imagem – ao lado temos comparação entre a Lua Crescente de apogeu com a Lua Minguante de perigeu conforme instruções do Boletim Observe! Junho e 2015. A imagem do dia 24 de junho foi obtida com o céu parcialmente nublado.
  • 28. 28 EVENTOS e PALESTRAS Observação do Nascer da Segunda Lua Cheia Atividade do NEOA-JBS que será realizada na sexta-feira, dia 31 de julho de 2015 na Praia da Armação do Pântano do Sul. Mais informações no website: http://www.geocities.ws/costeira1/neoa. 1º de julho: Observação pública em Chapecó/SC A Associação Apontador de Estrelas acompanhará a conjunção entre Vênus e Júpiter no dia 1º de julho a partir das 18:30 no Calçadão do Centro de Chapecó. Website: http://apontadordeestrelas.blogspot.com.br. 23-24 de julho: IV Simpósio Catarinense de Astronomia Inscrições devem ser feitas até o dia 5 de julho, através do website: https://sites.google.com/site/ifscastronomia/iv-sca. 5-7 de setembro: 12º Encontro Paranaense de Astronomia A 12ª edição do EPAST ocorre na cidade de Ponta Grossa/PR. Será a terceira vez que a cidade sedia este evento. Observe! é o boletim informativo do Núcleo de Estudo e Observação Astronômica “José Brazilício de Souza”, editado por Alexandre Amorim com colaboração de demais integrantes do NEOA-JBS. Colaboraram nesta edição: Alexandre Amorim, Diego de Bastiani, Margarete J. Amorim, Nelson Travnik e Ricardo Tolentino. Sua distribuição é gratuita aos integrantes e participantes do NEOA-JBS. Observe! é publicado mensalmente e obtido através dos seguintes meios: Formato eletrônico: envie email para marcos@ifsc.edu.br com cópia para costeira1@gmail.com . Associe-se ao NEOA-JBS através do Yahoogroups! e tenha acesso a todas as edições do Observe! Acesse o website http://costeira1.rg10.net Formato impresso: obtido na sede do NEOA-JBS, Instituto Federal de Santa Catarina, Avenida Mauro Ramos, 950, Florianópolis/SC. Fone: (48) 3221- 0635, contato: Prof. Marcos Neves.