3. Era uma vez a Maria Benguela, que era uma menina preta, tão preta
como o café, preta, preta como a tinta da china. Preta e bonita como a
noite mais escura.
4. Era uma vez o Pascoal, que era um menino branco, tão branco como a cal
da parede. Branco como as pombas tão brancas. Como as chaminés das
casas pintadas de novo.
5. O Pascoal não tinha muitos amigos com quem pudesse brincar. Tinha
bonecos de trapo, que a mãe cosia, com restinhos de pano que
costumava arranjar.
6. Maria Benguela tinha alguns amigos. Mas já eram crescidos e iam
trabalhar. Mas o que ela queria era uma amigo como ela. Assim
pequenino, com quem pudesse brincar. Mas onde encontrar?
7. Um dia o Pascoal, cansado de brincar com meninos de pano que não
sabiam falar, atirou-os para o canto e foi procurar. Queria um amigo de
verdade!!!
8. E Maria Benguela de olhos tão pretos, como o carvão da lareira que faz
o pau para escrever, pôs-se à porta de casa, à espreita com os olhos
esperando, talvez, um amigo encontrar.
9. Calhou a mãe do Pascoal precisar de café para o jantar e pedir ao seu
filho que descesse a rua, olhasse os sinais e o fosse comprar. Um kilo
devia bastar.
10. E quando descia a rua Pascoal parou. Uma menina de tranças, mais
tranças, trancinhas virou a cabeça e com ele falou.
11. Que pele tão branca tu tens da côr dos meus dentes e das palmas das
mãos que batem contentes. E que bonita és tu da côr do café que vou
agora comprar, da côr dos caracóis dos meus cabelos, da côr das
meninas de todos os olhos. E Pascoal deixou-se estar a brincar com a
amiga que acabara de encontrar.
12. Foi quando se lembrou do recado que a mãe lhe mandara fazer. Pegou
Benguela pela mão e saiu a correr.
13. Mas já não comprou café porque a loja fechara. Mas Maria Benguela, da
cabeça cheia de tranças e tranças, trançinhas tirou uma ideia.
14. Então, Pascoal chegou a casa e disse: “Não trouxe o café que tu me
pediste, mas trouxe uma amiga que é da côr do café e tão linda que é,
não é?”. E a mãe sorriu. E a Benguela sorriu. E o Pascoal sorriu.
Finalmente tinha uma amiga com quem brincar. Uma amiga de
verdade… e que tranças, trançinhas…
Finalmente tinha uma amiga com quem brincar. Uma amiga de verdade…
e que tranças, trançinhas…
15. Depois disto tudo, Benguela seguiu para casa a pensar… Agora já
tinha um amigo, da sua idade, com quem podia crescer, falar e brincar.
Era um menino branco como os seus dentes, como o cantinho dos
olhos, como as palmas das mãos e como o açúcar doçinho que estava
no meio do bolo que a sua mãe acabara de cozinhar.