Este documento é um resumo do primeiro capítulo de um livro sobre uma guerra futura entre forças governamentais e igualitárias. Nele, as tropas estão evacuando Londres antes de um ataque nuclear iminente. Eles escoltam os líderes mundiais para a segurança, mas encontram resistência de dentro de suas próprias fileiras quando um soldado trai o grupo.
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O sol fraco do amanhecer só aumentou a sensação de frio daque-
les dias gélidos. É como se o calor da sua luz não fosse capaz de
atravessar a massa de ar frio, esnobando de nossa esperança de al-
gum aquecimento, enquanto a superfície branca de neve por to-
dos os lados cegava nossos olhos. Não sabíamos nós que o calor
viria... mas como não o ansiávamos.
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A Batalha de Londres
parte 1
Minhas mãos parecem estar congeladas debaixo das luvas. En-
quanto esfrego-as, arfo fazendo com que uma fumaça branca saia
da minha boca. Ao meu lado esquerdo erguesse o Palácio de
Westminster, mantendo sua imponência mesmo depois de ser ar-
ruinado pela guerra. O Big Ben está em silêncio há pelo menos
cinco anos, desde que os ataques a Londres aumentaram, matan-
do milhares e obrigando muitos a deixarem a cidade. Os poucos
que ficaram vivem sob constante ameaça.
Eu e meu esquadrão estamos acampados há dois dias em cima da
Westminster Bridge, servindo como apoio à segurança dos prin-
cipais chefes de estado, reunidos no Palácio de Buckingham. En-
quanto eles buscam uma saída, nós os guardamos, na crença de
que são os últimos que podem colocar ordem no nosso mundo
despedaçado.
Há relatos de que a União Africana, a Oceania e a península Ará-
bica foram os últimos a cair perante os Igualistas, virando terras
de ninguém, tendo suas cidades convertidas em grandes desertos
e a população que não se rendeu à aliança inimiga certamente pe-
receu por suas armas. Se alguém conseguiu escapar, logo morrerá
de fome ou doença se não encontrar refúgio.
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A Europa e República Russo-Asiática receberam milhões de refu-
giados nos últimos anos, mas seus sistemas nunca estiveram tão
instáveis.
– Bom dia, senhor. Acabei de receber uma transmissão da
base em Belfast – o soldado alto e robusto está parado na
minha frente, enrolado em um grosso sobre-tudo militar
esverdeado. Seu nome é Ethan, um nato inglês que sem-
pre perde o olhar em sua cidade destruída.
– E então? – pergunto.
– Edimburgo foi bombardeada na madrugada, eram três da
manhã. Os Igualistas não deixaram pedra sobre pedra.
Nenhum sobrevivente.
– Ataque nuclear?
Ethan assente e diz:
– Belfast nos avisou que estão vindo para cá... Londres é
próximo alvo. Temos uma hora.
– Além de Belfast só há nós e Newport aqui.
– Belfast está levantando acampamento e enviando seus re-
fugiados para o continente europeu, senhor.
Encaro-o enquanto me levanto do pedaço de concreto e ferra-
gens em que estava sentado.
– Entendi. Contate o apoio aéreo e avise Buckingham. Lon-
dres deve ser evacuada imediatamente. Repasse a ordem
para as outras tropas na cidade, eles devem enviar os refu-
giados para Newport, lá existem navios e aviões que po-
dem comportar todos, além da Archer Corp estar pres-
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tando ajuda humanitária.
– E quanto a nós?
– Nossa designação é Buckingham, temos de conduzir os
chefes de estado em segurança até a base em Kensington e
de lá para o continente, só a guarda do palácio não dará
conta. Vamos agir. Toque o alerta nuclear. Protocolo 66.
Ethan balança a cabeça em consentimento e volta para o seu ca-
minhão-base. Em poucos minutos várias sirenes tocam pela cida-
de. Em instantes as ruas se enchem de civis, a grande maioria
dentro de pijamas, enrolados em qualquer agasalho que encontra-
ram pelo meio do caminho; pais com filhos nos braços seguem a
multidão que já está sendo escoltado pelos outros esquadrões
para as estações de metrô. As últimas batalhas deram uma boa di-
nâmica de fuga aos londrinos, todos já sabem para onde ir.
Os alertas e motores de caminhões despertam o último dos meus
soldados que ainda cochilava escorado no guard-rail da ponte – o
jovem apelidado de Lince, sobrevivente da batalha que culminou
na queda da República das Américas. Ele sempre está com uma
câmera nas mãos, dizendo que quando a humanidade conseguir
alcançar a certa medida de equilíbrio de antes da guerra, seus ví-
deos e fotos contarão a nossa história aos sobreviventes.
Uma figura alta e forte, de pele morena, caminha ao meu encon-
tro, vinda da saída da ponte próxima à London Eye; uma metra-
lhadora está pendurada em seus ombros enquanto ela fala com al-
guém por meio de um aparelho de rádio.
– Bom dia, senhor – ela chega a mim. – Sua ordem de eva-
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cuação está sendo executada com êxito. Os outros esqua-
drões estimam que em vinte e cinco minutos não restará
mais nenhum civil na cidade.
– Ótimo. Raven, nosso comboio seguirá para Buckingham
em dez minutos, preciso que você e seus atiradores subor-
dinados cuidem de nossa retaguarda.
– Cuidaremos, senhor – ela confirma acenando a cabeça
raspada.
Os demais soldados a quem confio postos de liderança se aproxi-
mam de nós. Ethan diz que Buckingham nos espera e que New-
port aguarda a chegada dos refugiados londrinos.
– Senhor, Edimburgo caiu, Belfast está levantando acampa-
mento, estamos evacuando Londres para Newport, creio
que pela base de lá ter suficientes meios de transporte
para o continente... – os olhos de Lince, que ouvia a con-
versa há pouca distância, me interrogam.
– Sim, estamos executando o Protocolo 66 – respondo.
– Perdemos o Reino Unido também, senhor? – Victor, um
dos soldados cedidos pela Rússia, pergunta.
– Não – balanço a cabeça. – O Reino Unido está ali – apon-
to para as últimas filas de civis descendo a Parliament
Street. – São eles que não podemos perder. Liguem os ca-
minhões! Todos para dentro deles, chegaremos em
Buckingham em sete minutos! Armas prontas! Protocolo
66 para o Reino Unido em execução!
A fumaça negra dos escapamentos se contrasta com a paisagem
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branca da nave acumulada. Nossos cinco caminhões partem; es-
tou sentado na carroceria do primeiro, com Lince ao meu lado di-
reito e Victor na minha frente. Junto a nós estão mais sete ho-
mens.
No segundo caminhão está Ethan e o equipamento de comunica-
ção, comida, barracas, armas e roupas. No último caminhão, este
com a carroceria totalmente aberta, estão os dez melhores atira-
dores do nosso grupo, liderados por Raven.
Ao passarmos em frente a Torre do Relógio, me lembro do som
do badalo do Big Ben – quem sabe um dia o ouviremos mais uma
vez? Após um cruzamento o Palácio de Westminster fica para
trás.
– Senhor, não quer gravar uma mensagem para quando vol-
tarmos para casa? – Lince aponta a câmera para mim.
– Está com saudade de casa, franzino? – Victor pergunta
com seu sotaque puxado.
– A casa para onde eu queria voltar não existe mais, mas
vou me acostumar com o lugar novo que arrumaram para
mim, acho que iremos para Paris – ele aponta a câmera
para Victor.
– Quer uma mensagem? – pergunto, fazendo-o focar em
mim novamente. – Voltar para casa significa que essa
guerra miserável acabou, então, o que eu tenho a dizer é
isso: não baguncem tudo outra vez, infelizes!
– É isso aí, infelizes, está dando muito trabalho arrumar
tudo! – Lince vira a câmera para si mesmo.
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Assim que entramos na Birdcage Walk os disparos de cinco tiros
ecoam pelas ruas adjacentes, que deveriam estar desertas. Troco
olhares com Victor, que esboça um semblante preocupado.
– Problemas entre os refugiados? – diz ele.
– Não, Raven disse ainda há pouco que estava tudo indo
bem.
– Foram tiros para cima – acrescenta Lince.
Grito para o motorista parar o caminhão, o que acaba parando
todo o comboio. Desço com arma na mão e esgueiro-me pela rua.
Raven e sua equipe estão de pé na carroceria, vasculhando as es-
quinas e prédios com olhares atentos.
– Ethan, alguma mensagem? – me aproximo da janela do
caminhão em que ele está.
– Não, senhor.
– Tente contato com qualquer esquadrão próximo a nós e
avise Kensington dos disparos.
Dou mais dois passos à frente. Olhando para trás vejo a ponte e a
calha seca do Tamsa, que foi desviado há alguns anos, mas não há
nenhuma pessoa naquela direção. O mesmo acontece quando
olho para frente.
É melhor continuar.
Pulo para cima da carroceria e me sento onde estava antes. Ouço
uma série de três “bipes” e ergo minha face a Victor, a origem do
ruído.
Passos – há soldados descendo dos outros caminhões.
Esboço um debochado sorriso quando Victor se levanta e mira