Goiânia foi planejada como uma cidade modelo no estilo dos jardins, mas o crescimento populacional descontrolado prejudicou o planejamento original. Apesar de esforços atuais para preservar aspectos históricos, como a Avenida Goiás, ainda é necessário mais ações de planejamento de longo prazo para tornar a cidade mais sustentável e justa socialmente.
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Goiânia uma cidade planejada que deve ser repensada
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
DISCIPLINA: Noçoes de Arquitetura e Urbanismo
Professora: Simone Gonçalves Sales Assunção
Texto produzido pela Professora Ninfa de Melo Canedo
Goiânia uma cidade planejada que deve ser repensada.
Goiânia é a capital e maior cidade do estado de Goiás, e segunda cidade mais populosa do Centro-Oeste
do Brasil. Localiza-se no Planalto Central, 209 quilômetros a sudoeste da capital federal, Brasília.
A cidade possui cerca de 1,24 milhão de habitantes, sendo o 12º município mais populoso do Brasil. A
Região Metropolitana de Goiânia possui 2.007.868 habitantes, o que a torna a décima primeira região
metropolitana mais populosa do Brasil.
A 6 de julho, Pedro Ludovico baixou um decreto encarregando o urbanista Atílio Corrêia Lima,
representante da firma carioca P. Antunes Ribeiro e Cia, da elaboração do projeto, mediante o
pagamento de Cr$ 55.000,00. Formado na Suíça e na França, de onde acabara de voltar, o urbanista
Armando de Godoy assina em 1.935 o plano diretor da nova capital.
Um projeto estilo monumental, baseado nos mesmos princípios adotados em Versailles, Kalrsruhe e
Washington. O plano tinha como referência o projeto original da cidade, idealizado em 1.933, por outro
urbanista, Atílio Corrêia Lima, também autor do projeto de prédios importantes, como o Palácio das
Esmeraldas.
centro administrativo em construção na
Praça Cívica (foto de 1963)
Foi um grande falatório: desvario dos
modernistas planejarem uma cidade para 15
mil habitantes, quando a antiga capital, dois
séculos depois de fundada, contava com
apenas 9 mil moradores. Topografia,
zoneamento e sistema de tráfego são os
fatores que norteiam o arrojado projeto.
Goiânia foi planejada como uma cidade
radiocêntrica, cujo pólo de irradiação era uma
Praça, hoje denominada de Praça Cívica, onde
também se localizaria um centro
administrativo.
O seu traçado radiocêntrico, além de permitir
uma visibilidade maior e mais estratégica do
Palácio - pois as grandes comemorações cívicas
deveriam dar-se ali - facultaria, por intermédio
das avenidas ali iniciadas, todas com traçado
retilíneo, o acesso aos setores habitacionais e
comerciais.
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Expansão urbana (1940-atualidade)
Av. Goiás, 1942
No plano urbanístico original, previu-se a divisão
de Goiânia em zonas e subzonas de atividades,
parques com a finalidade de preservar as matas
ciliares, zonas de esportes e divertimentos, zona
universitária, espaços de lazer e divertimento;
além disso, os prédios foram projetados de
acordo com a arquitetura Art Déco devendo
possuir fachadas limpas, retilíneas, funcionais e
claras.
Boa parte das primeiras edificações de grande
porte do centro de Goiânia foi construída no
estilo art déco, entre as décadas de 1940 e 1950,
e constituem um acervo significativo do ponto
de vista da história da arquitetura brasileira. Por
esta razão, em 2003, partes do núcleo central de
Goiânia - bem como do bairro de Campinas -
foram incorporadas oficialmente ao patrimônio
histórico e artístico nacional brasileiro.
Desde sua fundação, Goiânia tem sido alvo de
um grande crescimento demográfico e de uma
significativa expansão urbana. Em 1950, a cidade
já superava as expectativas demográficas da
época da sua construção, ultrapassando a cifra
dos 50.000 habitantes, o que já começou a
causar certo desconforto pelo excesso de
veículos e pessoas em suas ruas.
Com a transferência do Distrito Federal para
terras então pertencentes ao Estado de Goiás, a
inauguração de Brasília como capital federal e
distante apenas 180 km de Goiânia, a explosão
demográfica e a expansão urbana que até então
vinham ocorrendo foram tão impulsionadas que
se tornaram vertiginosas. Em 1980, a população
da cidade já era estimada em cerca de 700 mil
pessoas. Desde então, no geral, tanto o
crescimento demográfico quanto a expansão da
área urbana do município de Goiânia se têm
feito num ritmo mais lento que outrora.
Ainda assim, certas regiões do município,
nomeadamente as zonas Noroeste e Sudoeste,
apresentaram, entre os anos 1991-2000, taxas
de crescimento populacional anual bastante
expressivas (9% e 14,5%, respectivamente). O
resultado de tais processos vem sendo a
periferização do espaço urbano de Goiânia -
fenômeno para o qual têm contribuído também
os altíssimos índices de crescimento
populacional de alguns municípios da região
metropolitana.
É de se notar que a qualidade de vida e a
urbanização, planejada para a nova capital
estadual, foram prejudicadas pelo crescimento
demográfico e expansão urbana em razão do
que foi citado no parágrafo anterior. Os novos
bairros surgidos na periferia de Goiânia jamais
desfrutaram dos ideais urbanísticos e da
qualidade de vida projetada para seus
moradores, da mesma forma que as cidades
satélites de Brasília jamais gozaram dos ideais
urbanísticos de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa.
Como conseqüência do crescimento
demográfico e urbano que se tornou
descontrolado, tanto devido ao rápido
crescimento econômico quanto a outros fatores,
dentre eles a transferência da capital federal e a
migração da zona rural para a urbana ocorrida
em todo o país, o trânsito de Goiânia ficou
seriamente prejudicado.
Evolução demográfica da cidade de Goiânia
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Com a aprovação da Região Metropolitana de
Goiânia, através da lei complementar nº 027,
foi criada também a Região de
Desenvolvimento Integrado de Goiânia, na
forma de uma microrregião composta por sete
municípios: Bela Vista, Bonfinópolis, Braz
Abrantes, Caturaí, Inhumas, Nova Veneza e
Terezópolis de Goiás. Todos os parâmetros de
funcionamento e atribuições dessa região estão
em discussão pelo Governo e definidos em lei
ordinária.
A principal característica que diferencia a
Região Metropolitana de Goiânia da Região de
Desenvolvimento Integrado de Goiânia é
quanto às normas sobre uso e parcelamento do
solo: na área metropolitana essas questões
ficam sob a anuência prévia do Conselho de
Desenvolvimento da Região Metropolitana de
Goiânia, ou seja, do órgão metropolitano
gestor. Para isso foi criada na lei complementar
que normatiza a Região Metropolitana de
Goiânia a Câmara Temática para uso e
parcelamento do solo, que funciona em caráter
permanente, para analisar e estudar todas as
questões ligadas ao assunto, com participação
ativa da sociedade organizada.
Cresimento exagerado como consequência do êxodo rural ocorrido em todo o paìs
Uma leitura crítica do processo de urbanização brasileira permite identificar quatro fases: urbanização
suportável (até meados dos anos 60, quando as cidades ainda ofereciam qualidade de vida e havia
ampla oferta de postos de trabalho no setor industrial, na agricultura e no comércio); urbanização
problemática, nos anos 60-70, quando se intensifica o processo migratório, ocorrendo à inflexão rural-
urbano; urbanização caótica, no período 70-80, quando se constata uma queda brutal na qualidade de
vida da população que vivia nas médias e grandes cidades, apesar da generalização dos planos de
desenvolvimento; e, por fim, nos anos 90, urbanização explosiva, resultado da ausência de políticas
urbanas consistentes e duradouras nas fases anteriores, mas também de um novo estilo de vida urbana
adotado pelas classes altas e médias, que se materializa num processo crescente de fragmentação
social.
Por urbanização explosiva entende-se não só o crescimento acelerado e concentrado da população em
poucas cidades, mas as conseqüências que esse crescimento provoca nas estruturas urbanas,
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deteriorando em escala crescente as condições de vida de uma parte significativa da população e
aumentando o fosso social. Percebe-se uma “involução” nas condições de vida nas grandes e médias
cidades brasileiras, que se agravam com a redução dos postos de trabalho e com o aumento da violência
e da criminalidade.
A ausência do planejamento científico, orientador de ações de curto, médio e longo prazo, facilitou a
ação da “mão invisível do mercado” que, por sua vez, produziu espaços segregados, tanto para os
pobres quanto para os ricos.
A mão invisível do mercado detonou a concepção de “cidade misturada”, distanciando cada vez mais o
pobre do rico, social e espacialmente. Como conseqüência, as médias e grandes cidades brasileiras têm-
se transformado em verdadeiras prisões domiciliares, na medida em que circular pelas ruas e avenidas,
freqüentar praças e jardins depois que o sol se põe exige coragem dos que se atrevem a espairecer.
De um lado, as classes média e alta, com todo o conforto que a modernidade lhes oferece, estão cada
vez mais se auto-segregando, se autoprotegendo atrás de muros altos, cercas elétricas, cães amestrados
e violentos, seguranças particulares. Ao construir verdadeiras fortalezas que 5 denomìno de “cidadelas
medievais modernas”, os chamados condomínios horizontais fechados, apartam-se da cidade.
Diante de tudo isso, lamentavelmente, ao planejamento não se tem permitido fazer nada no sentido de
reverter essa situação, porque a lógica do mercado, aliada com injunções políticas interesseiras, não
permitem. Nas décadas de 80 e 90 prevalece o “planejamento de projeto”, desarticulado, sem
concatenação com um projeto mais amplo. Esse tipo de planejamento enseja e revigora o “balcão de
negócio”, as relações de compadrio.
Goiânia foi planejada para ser uma cidade jardim, cuja proposta inicial permite uma perfeita convivência
entre o cidadão e o meio ambiente. Quando o homem é considerado como parte integrante da natureza
¾ e isto está subsumido na concepção original da capital do Estado de Goiás ¾ e por alguma forma esta
relação é alterada, a cidade devolve aos seus habitantes, às vezes em forma de solidão, às vezes em
forma de violência, as agressões que contra ela são praticadas. A cidade que é edificada para o carro,
dificilmente terá como prioridade o homem.
A cidade construída para o homem, jamais terá o carro como prioridade. Uma capital, como Goiânia,
concebida para uma convivência planejada e harmoniosa entre ambos, nunca aceitará impune, a
predominância de um sobre o outro. Felizmente, a atual administração municipal, dentro de um
processo de revitalização do Centro de Goiânia, toma algumas medidas para resgatar parte da história
arquitetônica da capital. Os ambulantes foram retirados da Avenida Goiás e nela foram construídos
jardins na tentativa de restaurar o cenário de Boulevard, além do que, segundo consta, também serão
plantadas 1.065 novas espécies nativas do cerrado. Isto já é um bom início.
É necessário que outras medidas continuem sendo tomadas para que Goiânia – uma cidade erigida sob
a égide de um batismo cultural, e construída para que os seus habitantes tivessem uma vida salubre,
próspera e feliz, possa permitir que todos tenham o direito de usufruir das condições ambientais e de
progresso planejados, fundamentos alegados para a mudança da antiga capital.
Apesar de ainda não ter decolado, parece existir a possibilidade de se pensar o país a médio e longo
prazo, ou seja, de se resgatar o planejamento estruturante, tanto para as cidades como para as áreas
metropolitanas e para a economia em geral.
Nesta perspectiva, espera-se que no plano estadual e municipal o planejamento de visão larga passe a
ser um instrumento necessário e indispensável para se alcançar objetivos concretos de justiça social, de
desenvolvimento sustentável.
Quem sabe o ar das cidades poderá ser mais respirável, e as cidades poderão ser portadoras de
esperança, porque os gestores públicos substituirão as medidas improvisadas e intempestivas por ações
de curto, médio e longo prazo, planejadas, pensadas, participadas.